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LITERATURA BRASILEIRA II - Universidade Castelo Branco

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46<br />

vens e a esquerda. Entre os principais dramaturgos<br />

destacam-se Oduvaldo Vianna Filho, Gianfrancesco<br />

Guarnieri, Dias Gomes, Millôr Fernandes e Maria<br />

Clara Machado.<br />

João Cabral de Melo Neto<br />

Diplomata nascido em Recife, João Cabral (1920-<br />

1999) tornou-se o último grande poeta do modernis-<br />

A Educação Pela Pedra<br />

Uma educação pela pedra: por lições;<br />

para aprender da pedra, frequentá-la;<br />

captar sua voz inenfática, impessoal<br />

(pela dicção ela começa as aulas).<br />

A lição de moral, sua resistência fria<br />

ao que fl ui e a fl uir, a ser maleada;<br />

a de poética, sua carnadura concreta;<br />

a de economia, seu adensar-se compacta:<br />

lições da pedra (de fora para dentro,<br />

cartilha muda), para quem soletrá-la.<br />

*<br />

Outra educação pela pedra: no Sertão<br />

de dentro para fora, e pré-didática).<br />

No Sertão a pedra não sabe lecionar,<br />

e se lecionasse não ensinaria nada;<br />

lá não se aprende a pedra: lá a pedra,<br />

uma pedra de nascença, entranha a alma.<br />

Guimarães Rosa<br />

Médico do interior mineiro, João Guimarães Rosa<br />

(1908-1967) ingressou na carreira diplomática em<br />

1943, em parte devido a seu grande interesse e domínio<br />

de línguas. Assistindo à Segunda Guerra na Alemanha,<br />

serviu ainda em Bogotá e em Paris. De volta ao Brasil,<br />

continua sua carreira pública. Falece três dias após sua<br />

admissão na Academia Brasileira de Letras.<br />

A produção de Guimarães Rosa é composta basicamente<br />

de narrativas, nos três tipos consolidados pela<br />

literatura moderna: o conto, a novela e o romance. Sua<br />

temática universal faz do homem do sertão um herói<br />

de tintas épicas ao mesmo tempo em que lida com as<br />

forças mágicas da natureza, inclusive em seus aspec-<br />

mo, com uma obra poética marcada pelo exercício<br />

contínuo de limpeza da linguagem, de diminuição<br />

quase até o apagamento do “eu” (instância discursiva<br />

considerada fundamental pela lírica tradicional), de<br />

negação do acessório e do sentimental, nunca, porém,<br />

caindo num vazio poético. Pelo contrário, sua retórica<br />

seca, árida, construída a partir de uma escrita “arquitetônica”,<br />

de engenheiro, deixa revelar a condição<br />

humana, a paisagem, a preocupação social.<br />

Tecendo a Manhã<br />

1<br />

Um galo sozinho não tece uma manhã:<br />

ele precisará sempre de outros galos.<br />

De um que apanhe esse grito que ele<br />

e o lance a outro; de um outro galo<br />

que apanhe o grito de um galo antes<br />

e o lance a outro; e de outros galos<br />

que com muitos outros galos se cruzem<br />

os fi os de sol de seus gritos de galo,<br />

para que a manhã, desde uma teia tênue,<br />

se vá tecendo, entre todos os galos.<br />

2<br />

E se encorpando em tela, entre todos,<br />

se erguendo tenda, onde entrem todos,<br />

se entretendendo para todos, no toldo<br />

(a manhã) que plana livre de armação.<br />

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo<br />

que, tecido, se eleva por si: luz balão.<br />

tos maléfi cos, e os meandros do destino. Escapa sua<br />

representação à cartilha naturalista do regionalismo<br />

consagrado, e o romance opera na chave do mitopoético,<br />

numa mistura de modernidade e velhas tradições<br />

narrativas. Esse universo fi ccional é construído a partir<br />

de uma original recriação lingüística, que vai muito<br />

além da representação do falar sertanejo e assimila<br />

contribuições vernáculas de várias línguas, além do<br />

português. Rosa rearruma processos fono-morfológicos<br />

através de neologismos, de derivações personalíssimas,<br />

levando a prosa poética a níveis estilísticos não<br />

igualados. Além de Grande sertão: veredas (1956), sua<br />

obra-prima, são representativas as novelas contidas em<br />

Sagarana (1946) e Corpo de Baile (1956), além dos<br />

contos presentes em Primeiras Estórias (1962), Tutaméia:<br />

Terceiras Estórias (67), Estas Estórias (69).

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