Jornalismo Ontem e hoje - Portal da Prefeitura da Cidade do Rio de ...
Jornalismo Ontem e hoje - Portal da Prefeitura da Cidade do Rio de ...
Jornalismo Ontem e hoje - Portal da Prefeitura da Cidade do Rio de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
22 Ca<strong>de</strong>rnos <strong>da</strong> Comunicação<br />
mo <strong>de</strong> TV. Os jornais per<strong>de</strong>ram a característica <strong>de</strong> “anuncia<strong>do</strong>res”<br />
<strong>de</strong> fato, mas continuam se comportan<strong>do</strong> como tais. Exemplo, a meu<br />
ver, <strong>de</strong>finitivo: o papa morreu, em 2005, por volta <strong>de</strong> 16 horas <strong>de</strong><br />
um sába<strong>do</strong>. Rádios, TVs, internet, anunciaram a morte nesse exato<br />
momento, mais ou menos 14 horas antes <strong>de</strong> os jornais começarem<br />
a circular. No entanto, as manchetes <strong>do</strong>s jornais, no dia seguinte,<br />
eram to<strong>da</strong>s variações em torno <strong>de</strong> “O papa morreu”.<br />
Minha primeira reportagem como envia<strong>do</strong> especial se <strong>de</strong>u logo<br />
após o golpe <strong>de</strong> 1964. Trabalhava na sucursal paulista <strong>do</strong> jornal<br />
carioca Correio <strong>da</strong> Manhã. A <strong>do</strong>na <strong>do</strong> jornal, <strong>do</strong>na Nyomar Moniz<br />
Sodré Bittencourt, era amiga <strong>da</strong> pintora Djanira, que foi presa por<br />
autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s militares para ser logo liberta<strong>da</strong>. O jornal me man<strong>do</strong>u<br />
para Paraty, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>zinha on<strong>de</strong> Djanira se refugiara após ser solta.<br />
Entrevistei-a na casa <strong>da</strong> praia, que, no entanto, não tinha telefone.<br />
Para transmitir o texto para o <strong>Rio</strong>, tive que ir a outra casa, na<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, na qual havia telefone, mas não havia luz. Tive que pôr o<br />
telefone no parapeito <strong>da</strong> janela, para po<strong>de</strong>r ler o meu texto (redigi<strong>do</strong><br />
à mão) à luz <strong>do</strong> poste <strong>da</strong> rua. Para falar com o <strong>Rio</strong>, era preciso a<br />
intervenção <strong>da</strong> telefonista (DDD, nem pensar).<br />
Fui len<strong>do</strong> o meu texto, rechea<strong>do</strong> <strong>de</strong> palavras como “ditadura”,<br />
“tortura”, “direitos humanos”, termos que ninguém tinha coragem<br />
<strong>de</strong> usar em público naqueles tempos (início <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1964). Foi<br />
juntan<strong>do</strong> gente sob a janela. O fotógrafo me apressava: “Vamos<br />
embora, que vão pren<strong>de</strong>r a gente”. Não pren<strong>de</strong>ram, talvez, porque<br />
a notícia <strong>do</strong> golpe <strong>de</strong> 1964 provavelmente nem chegara ain<strong>da</strong> à<br />
remota Paraty.<br />
Saltemos agora para 1991, primeira Guerra<br />
<strong>do</strong> Golfo. Fui escala<strong>do</strong> para cobri-la com<br />
base em Jerusalém. Havia a inevitável censura<br />
militar israelense, como é <strong>de</strong> praxe em<br />
guerras. Mas, em vez <strong>de</strong> ficar gritan<strong>do</strong> textos<br />
ao telefone, enviava-os <strong>do</strong> conforto <strong>do</strong> meu<br />
miolo.p65 22<br />
18/5/2006, 14:28