cadeias produtivas de base agrária e desenvolvimento regional
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CADEIAS PRODUTIVAS DE BASE AGRÁRIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: O CASO DA<br />
REGIÃO DO BAIXO TOCANTINS<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
RESUMO<br />
Jochen Dürr *<br />
Francisco <strong>de</strong> Assis Costa **<br />
A região do Baixo-Tocantins, por sua gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> agroecológica nas áreas <strong>de</strong> várzea e<br />
<strong>de</strong> terra firme, sofre impactos importantes da construção da barragem <strong>de</strong> Tucuruí. Um Plano Popular<br />
<strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável (PPDS-Jus) para a região foi elaborado e recomendou agregar “Estudos<br />
Detalhados das Ca<strong>de</strong>ias Produtivas”. Neste artigo apresentam-se os primeiros resultados <strong>de</strong>ssa pesquisa<br />
realizada através <strong>de</strong> um convênio entre a Eletronorte, a Agência <strong>de</strong> Desenvolvimento da Amazônia<br />
(ADA) e o Núcleo <strong>de</strong> Altos Estudos Amazônicos (NAEA). Foram incluídas 34 <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong> <strong>produtivas</strong> (agrícolas,<br />
extrativistas, pesqueiras e ma<strong>de</strong>ireiras) que formam a <strong>base</strong> da economia rural e, portanto do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>regional</strong> dos nove municípios que participam no PPDS-Jus (Abaetetuba, Baião,<br />
Barcarena, Cametá, Igarapé-Miri, Limoeiro do Ajurú, Mocajuba, Moju e Oeiras do Pará). A construção<br />
das <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong> se <strong>base</strong>ia em Matrizes <strong>de</strong> Insumo-Produto (MIP), e a análise dos resultados é feita<br />
comparando as diferentes <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong> a respeito do valor <strong>de</strong> produção, da agregação <strong>de</strong> valor, das margens<br />
<strong>de</strong> comercialização, do <strong>de</strong>stino da <strong>de</strong>manda final, da importância dos setores nos níveis local, estadual,<br />
nacional e internacional e dos efeitos <strong>de</strong> enca<strong>de</strong>amento dos diferentes setores. Baseado nisso, discutemse<br />
estratégias para o <strong>de</strong>senvolvimento da região.<br />
Palavras-chave: Ca<strong>de</strong>ias <strong>produtivas</strong>. Desenvolvimento Regional. Região do Baixo Tocantins.<br />
* Economista Agrícola, M.Sc; Pesquisador do Serviço Alemão <strong>de</strong> Cooperação Técnica e Social (DED). Bonn-Alemanha.<br />
E-mail: jochen.duerr@<strong>de</strong>d.<strong>de</strong><br />
** Ph.D. em Economia pela Freie Universität – Berlin-Alemanha; Professor e Pesquisador Associado do<br />
Núcleo <strong>de</strong> Altos Estudos Amazônicos da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pará (NAEA/UFPA). Belém-PA.<br />
E-mail: francisco_<strong>de</strong>_assis_costa@yahoo.com.br<br />
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PRODUCTIVE CHAINS OF AGRARIAN BASE AND REGIONAL DEVELOPMENT: THE CASE OF<br />
THE REGION OF THE LOWER TOCANTINS<br />
ABSTRACT<br />
The region of the Lower Tocantins River, with his great agro-ecological diversity, suffers important<br />
impacts due to the construction of the Tucuruí dam. A Popular Plan for Sustainable Development<br />
(PPDS-Jus) has been <strong>de</strong>veloped for the region, which recommends the aggregation of “Detailed Studies<br />
of Value Chains”. In this article, we present the first results of these studies which were carried out<br />
un<strong>de</strong>r a convention between Electronorte, the Amazonian Development Agency (ADA) and the<br />
Department of Higher Amazonian Studies (NAEA). We inclu<strong>de</strong>d 34 value chains (of agriculture,<br />
extractivism, fisheries and timber industry) that form the basis of the rural economy and hence for the<br />
<strong>regional</strong> <strong>de</strong>velopment of the nine municipalities which take part in the PPDS-Jus (Abaetetuba, Baião,<br />
Barcarena, Cametá, Igarapé-Miri, Limoeiro do Ajurú, Mocajuba, Mojú e Oeiras do Pará). The construction<br />
of the chains is <strong>base</strong>d on Input-Output Matrices, and the analysis of the results is carried out by<br />
comparing the different chains with respect to their value of production, value ad<strong>de</strong>d, mark-ups, final<br />
<strong>de</strong>mand <strong>de</strong>stiny, and importance of the sectors in the local, fe<strong>de</strong>ral state and (inter-) national level,<br />
including their forward and backward linkages. Based on this, strategies for the <strong>de</strong>velopment of the<br />
region are discussed.<br />
Keywords: Productive Chains. Regional Development. Lower Tocantins River.<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 56
1 INTRODUÇÃO<br />
A Região do Baixo Tocantins, polarizada<br />
pelos aglomerados urbanos <strong>de</strong> Cametá e<br />
Abaetetuba, com um hinterland <strong>de</strong> nove<br />
municípios da mesorregião Nor<strong>de</strong>ste Paraense,<br />
sofre impactos importantes da construção da<br />
barragem <strong>de</strong> Tucuruí, sobre o que a Eletronorte<br />
tem obrigações contratuais <strong>de</strong> compensação.<br />
Com efeito, a Empresa, em conjunto com<br />
instituições <strong>de</strong> ensino e pesquisa, os movimento<br />
sociais e prefeituras locais, estabeleceu um<br />
<strong>de</strong>bate sobre o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>regional</strong> e<br />
sustentável a montante e a jusante da UHE<br />
Tucuruí, o qual resultou num documento<br />
intitulado o Planejamento Popular <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Sustentável da Região a<br />
Jusante da UHE Tucuruí (PPDS-Jus), que indica<br />
uma estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local. Propõese,<br />
como eixo central <strong>de</strong> mudanças positivas, um<br />
processo <strong>de</strong> reestruturação e diversificação da<br />
<strong>base</strong> produtiva, para o que se enten<strong>de</strong> necessário<br />
remover os pontos <strong>de</strong> estrangulamento que<br />
possam inviabilizar o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
micror<strong>regional</strong>. Recomendou-se então, a<br />
agregação <strong>de</strong> “Estudos Detalhados das Ca<strong>de</strong>ias<br />
Produtivas da Região” para que se visualize, com<br />
o <strong>de</strong>talhamento necessário, o potencial e os<br />
limites para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>regional</strong>. Este<br />
artigo é um dos resultados 1 da pesquisa realizada<br />
através <strong>de</strong> um convenio entre a Eletronorte com<br />
a Agência <strong>de</strong> Desenvolvimento da Amazônia<br />
(ADA) e o Núcleo <strong>de</strong> Altos Estudos Amazônicos<br />
(NAEA) da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pará (UFPA),<br />
em 2004.<br />
A análise das <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong> <strong>produtivas</strong> e do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>regional</strong> incluiu os nove<br />
municípios que participam no PPDS-Jus<br />
(Abaetetuba, Baião, Barcarena, Cametá, Igarapé-<br />
Miri, Limoeiro do Ajurú, Mocajuba, Mojú e Oeiras<br />
do Pará). Esses municípios representam o aqui<br />
chamado sistema local (ou <strong>regional</strong>) 2 , que é<br />
contrastado com o sistema estadual (Estado do<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
Pará) e (inter-) nacional. As inter-relações entre<br />
os nove municípios não são analisadas neste<br />
trabalho, porque a região é relativamente<br />
homogênea e os limites municipais não têm<br />
gran<strong>de</strong> importância para o comércio <strong>regional</strong>.<br />
Pesquisou-se 34 produtos da agricultura, do<br />
extrativismo vegetal, da pesca e da produção<br />
ma<strong>de</strong>ireira, que representam a <strong>base</strong> da produção<br />
primária da região. Essas <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong> <strong>produtivas</strong>, além<br />
<strong>de</strong> fornecerem informações sobre cada produto<br />
individual, servem também como <strong>base</strong> para uma<br />
análise da economia <strong>regional</strong> <strong>de</strong> <strong>base</strong> <strong>agrária</strong>.<br />
Utilizam-se matrizes <strong>de</strong> insumo-produto, que<br />
permitem aplicar o conhecido mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Insumo-<br />
Produto do tipo Leontief (HADDAD, 1996;<br />
LEONTIEF, 1983; MIERNYK, 1974; RICHARDSON,<br />
1972).<br />
A relação entre esse mo<strong>de</strong>lo com o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>regional</strong> é direta, uma vez que<br />
o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>regional</strong> a partir<br />
<strong>de</strong> pólos locais pressupõe a compreensão do fluxo<br />
completo dos enca<strong>de</strong>amentos inter-setoriais que<br />
as ativida<strong>de</strong>s <strong>produtivas</strong> estabelecem com os<br />
setores a montante e a jusante, e das dinâmicas<br />
que são produzidas com o incremento da<br />
<strong>de</strong>manda dos produtos. Os linkages são mais<br />
fortes à medida que os agrupamentos produtivos<br />
se formarem em áreas geograficamente<br />
<strong>de</strong>terminadas. Neste aspecto, a metodologia do<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> insumo-produto é geralmente<br />
empregada para representar as situações globais<br />
<strong>de</strong>ssa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações inter-setoriais para uma<br />
economia <strong>regional</strong>.<br />
O artigo é composto <strong>de</strong> cinco partes, além<br />
<strong>de</strong>sta introdução. Inicialmente, explica-se a<br />
metodologia da pesquisa. Em segundo,<br />
apresenta-se <strong>de</strong> forma breve a região do Baixo<br />
Tocantins e seus principais sistemas <strong>de</strong> culturas<br />
e ativida<strong>de</strong>s que fazem a <strong>base</strong> produtiva. Num<br />
terceiro momento, analisam-se as duas <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong><br />
57
mais importantes da região, o açaí e a pimentado-reino.<br />
Na quarta parte, apresentam-se as<br />
diferentes <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong> em uma análise comparativa<br />
2 METODOLOGIA<br />
A metodologia <strong>de</strong>sta pesquisa foi<br />
<strong>de</strong>senvolvida no Grupo <strong>de</strong> Trabalho “Agricultura<br />
Familiar e Extrativismo na Amazônia”,<br />
coor<strong>de</strong>nado pelo professor Francisco <strong>de</strong> Assis<br />
Costa, do NAEA, <strong>de</strong>ntro da cooperação com o<br />
Serviço Alemão <strong>de</strong> Cooperação Técnica e Social -<br />
DED (COSTA, 2002; COSTA, 2006).<br />
Na pesquisa <strong>de</strong> campo partiu-se dos<br />
maiores compradores, que muitas vezes<br />
representam um tipo <strong>de</strong> gargalo na ca<strong>de</strong>ia<br />
produtiva. Desse primeiro ponto, evoluiu-se ao<br />
longo da ca<strong>de</strong>ia produtiva, a jusante e a montante<br />
dos agentes principais, até chegar ao agente que<br />
compra do produtor, <strong>de</strong> um lado, e do que ven<strong>de</strong><br />
para o consumidor, por outro. Nesse processo, um<br />
cross-checking foi incluído, obtendo-se<br />
informações dos ven<strong>de</strong>dores e dos compradores<br />
intermediários sobre a mesma transação. Mas,<br />
caso necessário, a metodologia permite também<br />
obter informações sobre um agente mercantil,<br />
mesmo sem entrevistá-lo (entrevistando os elos<br />
a jusante e a montante <strong>de</strong>le). Em geral, não é<br />
possível pesquisar todos os pequenos<br />
comerciantes que ven<strong>de</strong>m para um tipo <strong>de</strong> agente<br />
aglutinador (p.ex. um atacadista, uma<br />
agroindústria). Nesse caso, é suficiente ter uma<br />
amostra, consi<strong>de</strong>rando as transações dos<br />
comerciantes <strong>de</strong>sconhecidos como uma média<br />
das transações dos agentes mercantis e<br />
industriais entrevistados.<br />
Na ca<strong>de</strong>ia produtiva <strong>de</strong> certo produto, a<br />
quantida<strong>de</strong> total das compras <strong>de</strong> cada tipo <strong>de</strong><br />
agente mercantil (p.ex. atravessadores) e <strong>de</strong> cada<br />
setor (p.ex. indústria <strong>de</strong> beneficiamento) <strong>de</strong>ve ser<br />
igual à quantida<strong>de</strong> total das vendas da categoria.<br />
e global, para, ao final, discutir algumas<br />
conclusões a respeito a uma orientação das<br />
políticas públicas no contexto do PPDS-Jus.<br />
Daqui segue a premissa básica do mo<strong>de</strong>lo: a<br />
quantida<strong>de</strong> total produzida pelos agricultores<br />
<strong>de</strong>ve ser igual à quantida<strong>de</strong> comprada pelos<br />
consumidores finais. Se um produto sofre uma<br />
variação <strong>de</strong> peso ao longo da ca<strong>de</strong>ia produtiva,<br />
o cálculo <strong>de</strong>ve ser feito ou com o peso original<br />
ou com o peso final, ajustando os preços<br />
recíproco-proporcionalmente com as respectivas<br />
taxas <strong>de</strong> transformação.<br />
A pesquisa conta com softwares especiais,<br />
tanto para a entrada dos dados, que precisam<br />
ser testados continuamente e ajustados a cada<br />
lançamento e cada circuito, quanto para a<br />
construção das diversas matrizes que <strong>de</strong>screvem<br />
uma ca<strong>de</strong>ia.<br />
Os dados da pesquisa representam uma<br />
amostragem boa com aproximadamente 600<br />
entrevistas <strong>de</strong> agentes mercantis em toda a<br />
região. Mesmo assim, é uma amostra, embora<br />
os volumes <strong>de</strong> alguns produtos pesquisados como<br />
açaí ou pimenta do reino chegam a 77% e 121%,<br />
respectivamente, do valor dos dados do Instituto<br />
Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE).<br />
Distinguiram-se 14 setores nas <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong><br />
<strong>produtivas</strong>:<br />
1. Produção: produção primária (agrícola,<br />
extrativista, pesqueira, ma<strong>de</strong>ireira).<br />
2. Varejo rural: todos os pequenos<br />
comerciantes no interior dos municípios,<br />
que compram produtos dos agricultores<br />
(atravessadores), e/ou que ven<strong>de</strong>m para<br />
o consumidor local (bo<strong>de</strong>gueiros).<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 58
3. Indústria <strong>de</strong> beneficiamento local:<br />
unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> beneficiamento da<br />
produção, localizadas <strong>de</strong>ntro da região.<br />
4. Indústria <strong>de</strong> transformação local:<br />
unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformação da<br />
produção, localizadas <strong>de</strong>ntro da região.<br />
5. Atacado local: gran<strong>de</strong>s compradores,<br />
localizados nos centros urbanos da<br />
região, que normalmente compram do<br />
varejo e/ou ven<strong>de</strong>m para o varejo.<br />
6. Varejo urbano local: todos os pequenos<br />
comerciantes nas cida<strong>de</strong>s da região<br />
(varejistas, marreteiros, ven<strong>de</strong>dores<br />
ambulantes, feirantes, supermercados).<br />
7. Indústria <strong>de</strong> beneficiamento estadual:<br />
unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> beneficiamento no Pará.<br />
8. Indústria <strong>de</strong> transformação estadual:<br />
unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformação no Pará.<br />
9. Atacado estadual: empresas compradoras<br />
da produção no Pará.<br />
10. Varejo urbano estadual: comércio<br />
(supermercados etc.) no Pará, que<br />
ven<strong>de</strong> para o consumidor estadual.<br />
11. Indústria <strong>de</strong> beneficiamento nacional:<br />
unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> beneficiamento no Brasil.<br />
12. Indústria <strong>de</strong> transformação nacional:<br />
unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformação no Brasil.<br />
13. Atacado nacional: empresas compradoras<br />
no nível nacional.<br />
14. Varejo urbano nacional: comércio<br />
(supermercados etc.) nacional, que<br />
ven<strong>de</strong> para o consumidor nacional.<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
Todos os produtos são analisados<br />
utilizando a chamada Matriz <strong>de</strong> Insumo-<br />
Produto, a qual mostra todas as compras e<br />
vendas dos diferentes setores da produção<br />
primária e intermediária (indústria, atacado e<br />
varejo), entre si, e as vendas para a <strong>de</strong>manda<br />
final, seja ela local, estadual ou (inter-) nacional.<br />
A matriz permite calcular o Valor Bruto <strong>de</strong><br />
Produção (VBP) para cada setor, que é igual às<br />
vendas do setor para os outros setores mais para<br />
a <strong>de</strong>manda final, e o Valor Adicionado Bruto<br />
(VAB), que é o VBP menos o total <strong>de</strong> compras<br />
(<strong>de</strong> insumos) <strong>de</strong> cada setor. A relação entre o<br />
VAB e o valor dos insumos (compras) é expressa<br />
pelo Mark-up, ou a margem bruta <strong>de</strong><br />
comercialização. A matriz leia-se da seguinte<br />
maneira: as linhas horizontais mostram as<br />
vendas <strong>de</strong> cada um dos (possíveis) 14 setores<br />
para os outros setores, colocados nas colunas<br />
verticais. Essas colunas mostram as compras <strong>de</strong><br />
cada setor dos outros setores (da linha). Vale<br />
<strong>de</strong>stacar que a produção primária não diferencia<br />
entre produção local e a produção fora da<br />
região, que é “importado” para a região.<br />
O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> insumo-produto foi<br />
<strong>de</strong>senvolvido, originalmente, por Leontief e, tem<br />
uma importância alta como instrumento prático<br />
<strong>de</strong> análise e planejamento econômico. Este<br />
mo<strong>de</strong>lo, além das análises estilizadas <strong>de</strong><br />
programação do crescimento econômico setorial,<br />
é a<strong>de</strong>quado para estimar, mediante os<br />
multiplicadores, os impactos do crescimento<br />
econômico sobre a produção, o emprego e a<br />
renda setoriais e <strong>de</strong> toda economia (LEONTIEF,<br />
1983).<br />
A estrutura do sistema tem a seguinte<br />
forma:<br />
(1) X = A . X + Y<br />
59
Sendo X o Valor da Produção, A a matriz<br />
<strong>de</strong> coeficientes técnicos, e Y a <strong>de</strong>manda final.<br />
Com alguma transformação, consegue-se a<br />
seguinte forma:<br />
(2) X = (I-A) -1 .Y<br />
A equação (2) permite, através da Matriz<br />
Inversa <strong>de</strong> Leontief (I-A) -1 calcular os efeitos<br />
que um aumento na Demanda Final Y terá na<br />
produção X dos diferentes setores da<br />
economia.<br />
Na análise utilizam-se dois tipos <strong>de</strong><br />
multiplicadores: primeiro, o Multiplicador <strong>de</strong><br />
impacto setorial <strong>de</strong> produto, que capta todos<br />
os efeitos diretos e indiretos que um dado<br />
setor tem sobre si mesmo e sobre todos os<br />
<strong>de</strong>mais setores, como resultado <strong>de</strong> um<br />
aumento na sua <strong>de</strong>manda final. Nesse ponto<br />
distinguiram-se dois multiplicadores: o efeito<br />
multiplicador <strong>de</strong> produto (M j ), que mostra o<br />
efeito global <strong>de</strong> um setor j em todos os setores,<br />
e o efeito <strong>de</strong> empuxe (E j ), que me<strong>de</strong> o efeito<br />
na produção <strong>de</strong> todos os outros setores<br />
(menos do setor em consi<strong>de</strong>ração) como<br />
conseqüência <strong>de</strong> um aumento <strong>de</strong> R$1,00 do<br />
setor j:<br />
(3) M j = B.j<br />
(4) E j = B.j - b jj<br />
Em que B.j é a soma <strong>de</strong> todos os elementos<br />
<strong>de</strong> uma coluna da matriz <strong>de</strong> Leontief, e b jj é o<br />
coeficiente da matriz <strong>de</strong> Leontief do j-ésimo setor.<br />
Segundo, os chamados índices <strong>de</strong> efeitos<br />
para frente e para trás, que mostram o<br />
enca<strong>de</strong>amento dos setores com os outros setores<br />
<strong>de</strong> montante e jusante, através dos índices<br />
Rasmussen-Hirschman (HIRSCHMAN, 1958;<br />
RASMUSSEN, 1958). Estes índices são obtidos das<br />
seguintes equações:<br />
(5) U j = (B.j/n)/B*<br />
(6) U i = (Bi./n)/B*<br />
Em que B* é a média <strong>de</strong> todos os<br />
elementos da matriz inversa <strong>de</strong> Leontief; B.j é a<br />
soma <strong>de</strong> todos os elementos <strong>de</strong> uma coluna da<br />
matriz <strong>de</strong> Leontief, e Bi é a soma <strong>de</strong> todos os<br />
elementos <strong>de</strong> uma linha da matriz inversa.<br />
Quando Uj> 1 diz-se que o setor j<br />
apresenta um forte linkage para trás, posto que,<br />
mediante uma mudança na <strong>de</strong>manda final<br />
exógena leva a um incremento acima da média<br />
observada para o produto total. Do mesmo modo,<br />
um valor Ui acima <strong>de</strong> 1 indica um po<strong>de</strong>r do setor<br />
i <strong>de</strong> espraiar a jusante os efeitos do seu<br />
crescimento.<br />
Vale ressaltar que se utilizam sempre os<br />
multiplicadores diretos e indiretos, não os<br />
induzidos, já que o último teria conduzido a sobreestimações<br />
dos efeitos. A razão consiste em que<br />
não incluímos nas tabelas <strong>de</strong> insumo-produto os<br />
insumos da produção primária, que significa que<br />
todo o VBP primário é igual ao VAB (=renda dos<br />
agricultores).<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 60
3 BREVE CARACTERIZAÇÃO DA ECONOMIA DE BASE AGRÁRIA DA REGIÃO<br />
A região do Baixo Tocantins pertence ao<br />
estuário do Amazonas, caracterizada pelas altas<br />
precipitações, e a influência da maré nas áreas<br />
<strong>de</strong> várzea. Dos quase 500 mil habitantes dos nove<br />
municípios, cerca <strong>de</strong> 150 mil vivem diretamente<br />
na beira dos rios e igarapés (os chamados<br />
ribeirinhos).<br />
Os sistemas <strong>de</strong> produção da região po<strong>de</strong>m<br />
ser divididos entre o das ilhas e o da terra firme.<br />
Nas ilhas, predomina o extrativismo <strong>de</strong> açaí,<br />
palmito, andiroba e cacau, além da pesca. Na<br />
terra firme, a produção <strong>de</strong> pimenta-do-reino é o<br />
mais importante cash crop. Entre as lavouras<br />
brancas, a farinha <strong>de</strong> mandioca tem a maior<br />
importância. Resta pouca mata primária, e a<br />
produção pecuária é, ao contrário <strong>de</strong> outras<br />
regiões do Pará, não significativa.<br />
Com a construção da barragem <strong>de</strong> Tucuruí,<br />
mas também com a diminuição da fertilida<strong>de</strong> da<br />
terra por causa do sistema predominante <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>rruba e queima, esses sistemas entraram em<br />
crise no fim dos anos 1980. A região tornou-se<br />
importadora <strong>de</strong> peixe, e produtos como feijão,<br />
milho e arroz quase <strong>de</strong>sapareceram. A baixa nos<br />
preços internacionais da pimenta contribuiu<br />
ainda mais nessa crise. A partir da meta<strong>de</strong> dos<br />
anos 1990, houve uma leve recuperação da<br />
economia, por causa <strong>de</strong> uma dinamização do<br />
cultivo <strong>de</strong> açaí, que contava com uma crescente<br />
<strong>de</strong>manda, também <strong>de</strong> fora da região, da<br />
recuperação dos preços da pimenta, e por parte<br />
também dos créditos através do FNO.<br />
Atualmente, por um lado, continua a<br />
predominância <strong>de</strong> alguns produtos na região,<br />
como açaí, pimenta e mandioca, apesar <strong>de</strong><br />
tentativas <strong>de</strong> diversificar a economia,<br />
introduzindo por exemplo frutas. Por outro lado,<br />
existe uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos, muitos<br />
com potencial não explorado, como, por exemplo,<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
(óleo <strong>de</strong>) andiroba, (polpa <strong>de</strong>) taperebá, muruci<br />
ou cupuaçu. Também, vários produtos como<br />
milho, arroz, banana, abacaxi, limão e laranja,<br />
que po<strong>de</strong>riam abastecer a <strong>de</strong>manda da região,<br />
são em parte importados <strong>de</strong> outras partes do<br />
Estado. A maior parte dos produtos é vendida in<br />
natura, com algumas exceções on<strong>de</strong> existem<br />
agroindústrias locais, como as <strong>de</strong> palmito,<br />
castanha-do-pará, cana-<strong>de</strong>-açúcar (cachaça),<br />
ma<strong>de</strong>ira (serrarias, estaleiros), café (torrefação),<br />
coco (fibras), frutas (polpa) e <strong>de</strong>ndê (óleo), além<br />
do processamento <strong>de</strong>scentralizado <strong>de</strong> açaí e buriti<br />
(suco), andiroba (óleo), jupati (matapi), miriti<br />
(paneiros, artesantos) e mandioca (farinha).<br />
Alguns municípios têm características<br />
especificas quanto a sua economia agrícola e<br />
agroindustrial: por exemplo, em Abaetetuba<br />
existe uma pequena produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar,<br />
que é transformado em cachaça em um engenho<br />
local. Igarapé-Miri é um centro <strong>de</strong> construção<br />
naval. Cametá e Baião ainda têm uma produção<br />
extrativista consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> castanha-do-pará<br />
que é beneficiada numa fábrica local. Barcarena,<br />
muito perto da capital Belém, especializou-se na<br />
produção <strong>de</strong> abacaxi, que é vendido via CEASA.<br />
Moju conta com uma gran<strong>de</strong> fábrica <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ndê, que tem suas próprias plantações em<br />
monocultivos.<br />
A infra-estrutura é bastante precária na<br />
região, e o transporte <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> em gran<strong>de</strong> escala<br />
do fluvial, embora que os municípios do lado<br />
direito do rio Tocantins (Abaetetuba, Igarapé-Miri,<br />
Baião, Mocajuba e parte <strong>de</strong> Cametá) tenham a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escoar sua produção também a<br />
traves da estrada PA-151. Como a maioria dos<br />
agricultores vive longe das aglomerações<br />
urbanas, no escoamento da produção se <strong>de</strong>staca<br />
a figura do atravessador como intermediário<br />
chave. Os “pólos” da região são Cametá e<br />
Abaetetuba, que funcionam como centros<br />
61
comerciais e on<strong>de</strong> se concentram a maior parte<br />
dos consumidores regionais <strong>de</strong> produtos<br />
agrícolas. A relativa proximida<strong>de</strong> da capital Belém<br />
4.1 AÇAÍ: CADEIA DE COMERCIALIZAÇÃO<br />
Foi pesquisada a produção <strong>de</strong> 35 mil<br />
toneladas <strong>de</strong> açaí, ver Tabela 1. O setor mais<br />
importante na ca<strong>de</strong>ia é o varejo rural: 71% do<br />
volume da produção passa pelas mãos dos<br />
atravessadores rurais que normalmente<br />
buscam o produto no lote do produtor. Na<br />
média, o açaí passa 3,42 vezes pelas mãos <strong>de</strong><br />
produtores/intermediários até chegar ao<br />
consumidor.<br />
A indústria local, i.e., os batedores <strong>de</strong> açaí,<br />
beneficia 12,7 mil toneladas para o consumo<br />
local. Também, já existem duas agroindústrias<br />
locais em Igarapé-Miri que ven<strong>de</strong>m o açaí<br />
beneficiado para o atacado nacional (2 mil t).<br />
Outro <strong>de</strong>stino do açaí da região é o mercado<br />
estadual, principalmente Belém. Os maiores<br />
fornecedores da indústria <strong>de</strong> beneficiamento<br />
estadual, que consiste nos pequenos maquinários<br />
e nas agroindústrias <strong>de</strong> pequeno e médio porte,<br />
são o varejo rural com 6,7 mil toneladas e o<br />
atacado local, com 6,1 mil toneladas, que<br />
transportam o açaí até a capital. Os pequenos<br />
maquinários ven<strong>de</strong>m diretamente para o<br />
consumidor estadual (7,9 mil toneladas),<br />
representa um gran<strong>de</strong> mercado (potencial) para<br />
a produção da região e facilita sua conexão com<br />
mercados nacionais e internacionais.<br />
4 AS DUAS CADEIAS MAIS IMPORTANTES: AÇAÍ E PIMENTA DO REINO<br />
enquanto a agroindústria ven<strong>de</strong> para o varejo<br />
estadual (8,5 mil t). Do total da produção<br />
pesquisada, 39% é <strong>de</strong>stinada ao consumo local,<br />
48% ao consumo estadual, e 13% ao consumo<br />
nacional e internacional. O mercado<br />
internacional, fornecido pelo atacado local, é uma<br />
empresa norte-americana que compra <strong>de</strong> quatro<br />
cooperativas da região 2,5 mil toneladas para<br />
serem vendidas nos EUA.<br />
A distribuição da produção mostra uma<br />
concentração no município <strong>de</strong> Igarapé-Miri, com<br />
51% da produção local 3 , ver Tabela 2. Da<br />
produção pesquisada, 33 mil toneladas são<br />
oriundas dos nove municípios da área do PPDS-<br />
Jus (o resto vem na entressafra <strong>de</strong> fora,<br />
principalmente da ilha <strong>de</strong> Marajó), superando<br />
quase três vezes o consumo local <strong>de</strong> 13 mil t.<br />
Como foi observado, o superávit é vendido<br />
principalmente para o consumidor estadual. No<br />
entanto, o consumo em alguns municípios é<br />
maior do que a produção, notoriamente no caso<br />
<strong>de</strong> Baião, Mocajuba e Abaetetuba. Esses<br />
municípios compram açaí dos municípios<br />
vizinhos durante a safra.<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 62
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
63
4.1.1 VBP / VAB e Preços<br />
O valor bruto <strong>de</strong> produção dos<br />
agricultores é <strong>de</strong> R$ 19.290 mil, ver Tabela 3.<br />
Ao longo da ca<strong>de</strong>ia, até chegar ao consumidor<br />
final, um valor <strong>de</strong> R$ 60.933 mil é agregado ao<br />
produto, que significa um mark-up total <strong>de</strong><br />
216%. Os setores que mais ven<strong>de</strong>m são a<br />
indústria estadual (R$ 31 milhões), o varejo<br />
estadual (21 milhões), a indústria local (19<br />
milhões) e o varejo rural (16 milhões). Na<br />
agregação <strong>de</strong> valor, <strong>de</strong>stacam-se a indústria <strong>de</strong><br />
beneficiamento local (8 milhões), que agrega<br />
73% ao produto, e a indústria estadual (20<br />
milhões) com uma margem <strong>de</strong> 180%. O varejo<br />
rural (os atravessadores) tem uma margem<br />
mo<strong>de</strong>sta <strong>de</strong> 21%, enquanto os maiores<br />
comerciantes <strong>de</strong> açaí, o atacado local (incluindo<br />
as quatro cooperativas) chega a um mark-up<br />
<strong>de</strong> 39%. O sistema local agrega 33% do valor<br />
adicionado bruto total <strong>de</strong> 41,6 milhões. O<br />
sistema estadual agrega 57% <strong>de</strong>sse valor, sendo<br />
que muito açaí é vendido, a maior parte in<br />
natura, para os agentes mercantis no Estado.<br />
Ainda 10% do valor é agregado no nível<br />
nacional, mostrando que o produto já ganhou<br />
importância nesse nível.<br />
Os produtores recebem na média (também<br />
média <strong>de</strong> safra e entressafra) 0,55/kg (igual a<br />
R$ 7,7/rasa <strong>de</strong> 14kg) quando eles ven<strong>de</strong>m o açaí<br />
para os intermediários, e 0,76/kg quando eles<br />
ven<strong>de</strong>m diretamente ao consumidor local<br />
(Tabela 4). O atacado local (as quatro<br />
cooperativas) que ven<strong>de</strong> para o mercado<br />
internacional consegue um preço <strong>de</strong> R$0,53,<br />
comercializando exclusivamente no período da<br />
safra. Isso significa que o produtor que ven<strong>de</strong><br />
para as cooperativas recebe quase o mesmo<br />
preço na safra que os outros produtores<br />
conseguem (R$ 0,55/kg) na média da safra e<br />
entressafra.<br />
A indústria <strong>de</strong> beneficiamento local (os<br />
batedores <strong>de</strong> açaí) paga na média R$0,76/kg aos<br />
produtores e comerciantes que ven<strong>de</strong>m para eles.<br />
Na entressafra, o açaí é comprado também fora<br />
da região via o atacado estadual que cobra entre<br />
R$1,01/kg e R$1,21/kg dos agentes mercantis<br />
locais. O açaí já beneficiado é vendido pelos<br />
maquineiros por R$1,32/kg ao consumidor local.<br />
O valor do açaí para o consumidor em Belém foi<br />
estimado em 1,38/kg quando ele compra dos<br />
batedores e em R$2,40/kg quando ele compra<br />
nos supermercados (varejo urbano estadual).<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 64
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
65
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 66
4.1.2 Efeitos setoriais<br />
Os multiplicadores setoriais <strong>de</strong> produto,<br />
<strong>de</strong>rivados da Tabela 5, mostram que o varejo<br />
urbano estadual e local, assim como o atacado<br />
estadual e local e a indústria <strong>de</strong> beneficiamento<br />
local têm o maior efeito multiplicador na<br />
economia (maior que 2), <strong>de</strong>rivada da expansão<br />
da <strong>de</strong>manda final <strong>de</strong> R$1,00 <strong>de</strong>stes setores, ver<br />
Tabela 6. O mesmo vale para o multiplicador <strong>de</strong><br />
empuxe, que me<strong>de</strong> o efeito na produção <strong>de</strong> todos<br />
os outros setores como conseqüência <strong>de</strong> um<br />
Fonte: dados da pesquisa.<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
aumento <strong>de</strong> R$1,00 do setor mostrado. O varejo<br />
rural não tem gran<strong>de</strong>s efeitos multiplicadores, já<br />
que compra na maioria dos casos diretamente<br />
do produtor. Surpreen<strong>de</strong> o baixo índice do<br />
atacado nacional e da indústria <strong>de</strong><br />
beneficiamento estadual. Como já mencionado,<br />
não foi incluído na pesquisa os insumos dos<br />
produtores, e, como conseqüência, o efeito<br />
empuxe <strong>de</strong>sse setor é igual a zero, e o<br />
multiplicador igual a 1.<br />
Tabela 6 - Multiplicadores setoriais do produto <strong>de</strong> açaí, Baixo Tocantins (2003-2004).<br />
Não obstante, o setor primário tem um<br />
forte efeito para frente, ver Tabela 7. Seu índice<br />
é 3,08 vezes maior que a média <strong>de</strong> todos os<br />
setores. O varejo rural também apresenta índice<br />
maior que 1, indicando que tem maior<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r aos incrementos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>manda final do que os outros setores. O índice<br />
do efeito para trás, que indica a <strong>de</strong>pendência<br />
dos setores <strong>de</strong> insumos intermediários, mostra<br />
outra tendência. Para os mesmos cinco setores<br />
mencionados acima (Tabela 6), o efeito é >1, ou<br />
seja, possuem uma capacida<strong>de</strong> acima da média<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um impulso gran<strong>de</strong> para os<br />
outros setores.<br />
67
Tabela 7 - Índices <strong>de</strong> Efeitos para frente e para trás nos setores da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> açaí, Baixo Tocantins, 2003-2004.<br />
(valores >1 em negrito).<br />
Fonte: dados da pesquisa.<br />
4.2 PIMENTA-DO-REINO: CADEIA DE COMERCIALIZAÇÃO<br />
A produção pesquisada da pimenta-doreino<br />
totalizou 8.330 toneladas, ver Tabela 8.<br />
A figura central no negócio da pimenta é o<br />
atacadista local e estadual. Incluindo as vendas<br />
entre o setor em si, 123% do volume passa<br />
pelas mãos dos atacadistas locais. E os<br />
atacadistas estaduais (em Belém, Tomé-Açu e<br />
Castanhal, principalmente) compram 84% da<br />
4.2.1 VBP / VAB e preços<br />
O VBP agrícola é o maior <strong>de</strong> todos os<br />
produtos pesquisados, e chega a R$24,8<br />
milhões, ver Tabela 10. O VBP do atacado local<br />
e o VBP do estadual tem o mesmo tamanho<br />
(R$32 milhões). Mas o VAB no sistema local é<br />
com R$1,5 milhões sete vezes, menores do que<br />
o VAB estadual (R$10,6 milhões). A causa disso<br />
são as pequenas margens dos comerciantes<br />
produção local, a maior parte via os<br />
atacadistas locais. O <strong>de</strong>stino da pimenta é a<br />
exportação (96%).<br />
Os gran<strong>de</strong>s municípios produtores da<br />
pimenta-do-reino são Cametá, Mocajuba e Baião,<br />
com uma participação <strong>de</strong> 36%, 35% e 23%,<br />
respectivamente, ver Tabela 9.<br />
locais (entre 4% e 6%), enquanto o atacado<br />
estadual e nacional, que exporta o produto, tem<br />
um mark-up <strong>de</strong> quase 50%.<br />
O preço médio no período da pesquisa<br />
(safra 2003/2004) foi R$2,98/kg pago ao<br />
produtor. O preço internacional chegou a<br />
R$4,67/kg, ver Tabela 11.<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 68
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
69
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 70
4.2.2 Efeitos setoriais<br />
A Tabela 12 apresenta a matriz inversa<br />
<strong>de</strong> Leontief e possui uma estrutura quase<br />
triangularizada, que indica a hierarquia da<br />
ca<strong>de</strong>ia, on<strong>de</strong> os últimos setores sempre<br />
compram dos anteriores na ca<strong>de</strong>ia. O maior<br />
multiplicador esperado, neste caso, é do último<br />
elo da ca<strong>de</strong>ia que é o atacado nacional seguido<br />
Fonte: dados da pesquisa.<br />
Tabela 14 - Índices <strong>de</strong> efeitos para frente e para trás nos setores da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> pimenta-do-reino, Baixo<br />
Tocantins, 2003-2004. (valores >1 em negrito)<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
pelo atacado estadual e local, ver Tabela 13.<br />
Estes setores têm também o maior efeito<br />
empuxe para os outros setores. A Tabela 14<br />
mostra a importância do atacado local não<br />
somente para trás, mas também como setor<br />
importante para frente, como fornecedor da<br />
maioria dos outros setores.<br />
Tabela 12 - Matriz Inversa <strong>de</strong> Leontief: multiplicadores diretos e indiretos <strong>de</strong> pimenta-do-reino, Baixo Tocantins,<br />
2003/2004.<br />
Fonte: dados da pesquisa.<br />
Tabela 13 - Multiplicadores setoriais do produto <strong>de</strong> pimenta-do-reino, no Baixo Tocantins, 2003-2004.<br />
Fonte: dados da pesquisa.<br />
71
5 ANÁLISE TRANSVERSAL E GLOBAL<br />
5.1 ORIGEM E DESTINO DA PRODUÇÃO<br />
A Tabela 15 mostra a distribuição do valor<br />
da produção (VBP primário) e do consumo entre<br />
os nove municípios da região. A produção total<br />
pesquisada da região é R$ 74 milhões. Os<br />
municípios mais fortes na produção local são<br />
Cametá (23%), Igarapé-Miri, Moju, Mocajuba e<br />
Tabela 15 - Produção e Consumo local, 2003-2004, em R$.<br />
Fonte: pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
Os produtos têm também uma distribuição<br />
bem diferente a respeito do seu <strong>de</strong>stino final. A<br />
Tabela 16 indica as quantida<strong>de</strong>s dos produtos que<br />
são vendidos para o consumidor final, seja ele<br />
local, estadual ou (inter-) nacional. Em termos<br />
da <strong>de</strong>manda final, é possível diferenciar cinco<br />
grupos <strong>de</strong> produtos: primeiro inclui <strong>de</strong>ndê, cacau,<br />
castanha-do-pará, palmito, pimenta-do-reino,<br />
jupati e maracujá, são quase exclusivamente<br />
(88% ou mais) vendidos no mercado (inter-)<br />
nacional; segundo inclui óleo <strong>de</strong> andiroba, açaí,<br />
coco e ma<strong>de</strong>ira vermelha e branca, são presentes<br />
Abaetetuba (entre 12% e 15%). Os outros quatro<br />
municípios juntos produzem somente 21% do<br />
total. O consumo local chega a R$64 milhões<br />
Os centros consumidores são Abaetetuba e<br />
Cametá, que juntos consomem 45% do total da<br />
região.<br />
no mercado nacional (entre 13% e 49%), mas<br />
têm uma importância também no mercado local<br />
e (menos o coco) no estadual; terceiro e pequeno<br />
grupo contém somente taperebá e miriti e<br />
concentra-se no mercado estadual, com 95% e<br />
93% da <strong>de</strong>manda final, respectivamente. O maior<br />
número <strong>de</strong> produtos tem sua importância no<br />
mercado local, com uma participação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />
75%. Po<strong>de</strong>-se ainda distinguir entre produtos<br />
como farinha, camarão, cana etc. que são<br />
parcialmente vendidos no mercado estadual, e<br />
os produtos com <strong>de</strong>stinação 100% local.<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 72
Tabela 16 - Demanda final local, estadual e nacional, em kg, dos 34 produtos pesquisados na Região Baixo<br />
Tocantins, 2003-2004.<br />
Fonte: pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
Notas: (*) unida<strong>de</strong>s, (**) cachos, (***) litros, (****) braças e (*****) m³.<br />
Nem todos os produtos têm a sua origem<br />
na produção local. A região também importa em<br />
âmbito estadual e até nacional, ver Tabela 17 4 . É<br />
possível distinguir entre: 1) os produtos<br />
comprados <strong>de</strong> fora somente em certas épocas do<br />
ano (fora da safra); 2) os que são aglutinados por<br />
agentes mercantis do Baixo Tocantins para <strong>de</strong>pois<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
serem revendidos para fora da região (po<strong>de</strong>ria se<br />
chamar <strong>de</strong> “reexportação”) e 3) os produtos<br />
comprados para o abastecimento da <strong>de</strong>manda<br />
local, por falta <strong>de</strong> uma suficiente produção e/ou<br />
comercialização local. O primeiro grupo inclui<br />
produtos como o açaí, a farinha <strong>de</strong> mandioca, o<br />
maracujá e o camarão têm uma importação <strong>de</strong><br />
73
10% ou menos, sendo comprado somente em<br />
certas épocas quando falta o produto no mercado<br />
e/ou o preço local mais alto faz com que os<br />
produtos <strong>de</strong> fora se tornam competitivos. O<br />
segundo grupo consiste em produtos como<br />
castanha-do-pará, palmito e ma<strong>de</strong>ira, comprados<br />
pelas agroindústrias locais e <strong>de</strong>pois vendidos, <strong>de</strong><br />
forma beneficiada, para fora da região. Os<br />
produtos do terceiro grupo, que não tem produção<br />
suficiente, são as lavouras brancas como milho e<br />
arroz, com 76% e 39% <strong>de</strong> participação da<br />
produção extra-local, respectivamente, e o peixe<br />
(entre 50% e 64% <strong>de</strong> importação), e frutas como<br />
laranja (59%), limão (53%), banana (29%) e<br />
abacaxi (9%). O café é um caso especial, pois a<br />
produção local tem o seu <strong>de</strong>stino principalmente<br />
no auto-consumo, e a única torrefação da região<br />
importa o produto <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />
Tabela 17 - Produção local e estadual/nacional dos produtos parcialmente importados na Região Baixo Tocantins,<br />
em kg, 2003-2004.<br />
Fonte: pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
Notas: (*) unida<strong>de</strong>s, (**) cachos, (***) litros, (****) braças e (*****) m³.<br />
Em termos <strong>de</strong> valores, a produção local<br />
pesquisada <strong>de</strong> R$74 milhões, é complementada<br />
por uma produção extra-local no valor <strong>de</strong> R$19<br />
milhões, ver Tabela 18. Portanto, do valor total<br />
da produção primária pesquisada <strong>de</strong> 93 milhões,<br />
21% é <strong>de</strong> produção extra-local. 92% <strong>de</strong>ssa<br />
“importação do resto do mundo” vem <strong>de</strong> outros<br />
municípios paraenses, somente 8% <strong>de</strong> outros<br />
estados brasileiros. Individualmente, <strong>de</strong>stacamse<br />
Tucuruí (28%) e a ilha <strong>de</strong> Marajó (25%).<br />
A Tabela 18 mostra também o valor e a<br />
distribuição do consumo final extra-local. O<br />
valor total do consumo extra-local é <strong>de</strong> R$202<br />
milhões, três vezes maior que o valor do<br />
consumo local <strong>de</strong> R$64 milhões. Dentro da<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 74
<strong>de</strong>manda final extra-local, 26% é estadual, 37%<br />
nacional e 36% internacional. Individualmente,<br />
o maior consumidor estadual é Belém, com 16%<br />
Fonte: pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
do total, e o maior centro consumidor nacional<br />
encontra-se no Estado <strong>de</strong> São Paulo, com 27%<br />
do total.<br />
Tabela 18 - Origem da produção extra-local e <strong>de</strong>stino do consumo extra-local, em R$, 2003-2004.<br />
75
5.2 VALOR DA PRODUÇÃO E AGREGAÇÃO DE VALOR<br />
A Tabela 19 mostra para todos os produtos<br />
o VBP primário (i.e., o valor <strong>de</strong> produção agrícola,<br />
extrativista, ma<strong>de</strong>ireira e pesqueira), o VAB<br />
Fonte: pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
intermediário (i.e., o valor que todos os agentes<br />
mercantis agregam ao VBP primário) e o valor da<br />
<strong>de</strong>manda final, que é a soma dos dois anteriores.<br />
Tabela 19 - Valores totais <strong>de</strong> VBP primária, VAB intermediária e <strong>de</strong>manda final dos produtos pesquisados na<br />
Região Baixo Tocantins, em R$, 2003-2004.<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 76
A maior <strong>de</strong>manda final i<strong>de</strong>ntificada foi do<br />
açaí, com mais <strong>de</strong> 60 milhões <strong>de</strong> reais, seguido<br />
pela pimenta-do-reino, com quase R$39 milhões,<br />
o palmito com R$37 milhões e a ma<strong>de</strong>ira<br />
vermelha com R$31 milhões. Em termos <strong>de</strong> VAB,<br />
esses produtos também são os campeões, com<br />
açaí no primeiro lugar, seguido por palmito,<br />
ma<strong>de</strong>ira vermelha e pimenta-do-reino. No caso<br />
do VBP primária, a pimenta fica no primeiro lugar,<br />
com quase R$ 25 milhões, seguido pelo açaí com<br />
R$ 19 milhões. 11 dos produtos pesquisados têm<br />
um VBP primário encima <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> Reais 5 .<br />
Comparando a relação entre o VAB<br />
intermediário e o VBP primário (i.e., quanto valor<br />
é agregado na ca<strong>de</strong>ia produtiva <strong>de</strong>pois da venda<br />
do produtor, em termos relativos), a Tabela 20<br />
mostra que a castanha-do-pará é o produto que<br />
Tabela 20 - Relação entre VAB intermediário e VBP primário, 2003-2004.<br />
Fonte: pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
Vale perguntar-se on<strong>de</strong> acontece essa<br />
agregação <strong>de</strong> valor? A Tabela 21 dá a resposta:<br />
do VAB total <strong>de</strong> R$ 173 milhões, 38% é agregado<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
mais agrega valor em termos relativos: o valor<br />
agregado dos agentes mercantis é 10 vezes maior<br />
do que o da produção primária, ou, em outras<br />
palavras, o valor da produção primária é somente<br />
10% do da <strong>de</strong>manda final, ou, ainda, o produtor<br />
recebe <strong>de</strong>z vezes menos que os outros agentes<br />
da ca<strong>de</strong>ia juntos. Outras <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong> on<strong>de</strong> se agrega<br />
muito valor, é a do palmito, da andiroba e da<br />
ma<strong>de</strong>ira branca (6 vezes), do cacau (5 vezes), da<br />
ma<strong>de</strong>ira vermelha e do muruci (3 vezes). A<br />
agregação <strong>de</strong> valor é ainda duas vezes mais alta<br />
do que o valor da produção primária no caso da<br />
laranja, do miriti, do açaí e do coco. Essa relação<br />
é importante para se ter uma idéia do potencial<br />
que os produtos teriam para gerar renda na<br />
região, e do potencial para (organizações <strong>de</strong>)<br />
agricultores <strong>de</strong> apropriar-se <strong>de</strong> valores da ca<strong>de</strong>ia<br />
produtiva.<br />
no nível local, 33% no nível estadual e ainda 29%<br />
no nível nacional.<br />
77
Tabela 21 - VAB local, estadual e nacional por produto, em R$, 2003-2004.<br />
Fonte: pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
Po<strong>de</strong>m-se distinguir três grupos na Tabela<br />
21: o primeiro inclui os sete principais produtos<br />
em termos <strong>de</strong> VAB (do cacau até o açaí), mais a<br />
andiroba, também apresenta uma gran<strong>de</strong><br />
importância, além do nível local, estadual e<br />
nacional. Num segundo grupo <strong>de</strong> produtos, a<br />
agregação <strong>de</strong> valor acontece principalmente no<br />
nível local e estadual (do maracujá até o<br />
camarão). O último grupo no fim da tabela (peixe<br />
até acerola) tem um VAB pequeno que é agregado<br />
somente localmente. Em outras palavras: os<br />
produtos mais importantes têm essa importância<br />
também por causa da participação no mercado<br />
estadual e nacional. Mesmo assim, alguns <strong>de</strong>sses<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 78
produtos não agregam muito valor na ca<strong>de</strong>ia<br />
produtiva da região. É o caso do cacau (2%), mas<br />
também da pimenta-do-reino (12%) e do palmito<br />
(15%). Também, comparando a Tabela 21 com a<br />
Tabela 20, verifica-se que dos produtos que têm<br />
o maior valor agregado relativo, no caso, a<br />
castanha-do-pará, o palmito, a andiroba, a<br />
ma<strong>de</strong>ira e o cacau, somente a castanha (com<br />
60%) e a ma<strong>de</strong>ira (ao redor <strong>de</strong> 50%) realmente<br />
agregam uma alta porção <strong>de</strong> valor na região.<br />
A explicação da distribuição do VAB entre<br />
local, estadual e nacional po<strong>de</strong>-se resumir: para<br />
o primeiro grupo <strong>de</strong> produtos, começando com o<br />
<strong>de</strong>ndê, três quartos do VAB são agregados na<br />
região, <strong>de</strong>vido ao beneficiamento local do óleo o<br />
resto é do comércio nacional. No caso da ma<strong>de</strong>ira,<br />
a meta<strong>de</strong> é <strong>de</strong> agregação local, <strong>de</strong>vido às<br />
serrarias, à indústria naval e à gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda<br />
final local, a outra parte do valor sendo agregado<br />
no estado e nacionalmente. O açaí, tem um terço<br />
do VAB local, e mais da meta<strong>de</strong> estadual, por<br />
causa da venda <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da produção<br />
<strong>regional</strong> em Belém. Além disso, a venda no<br />
mercado nacional e até internacional já começou<br />
(10%). O VAB da andiroba é quase equilibrado<br />
entre o local, estadual e nacional, sendo utilizado<br />
como remédio tradicional na região, mas também<br />
já vendido por laboratórios estaduais e nacionais<br />
que são fornecidas pela produção local. O<br />
palmito, mesmo sendo beneficiado na região, tem<br />
predominância do VAB nacional (59%) e estadual<br />
(25%), já que a comercialização (rotulação,<br />
distribuição) se realiza via empresas estaduais e<br />
nacionais para o consumidor (inter) nacional.<br />
5.3 OS SETORES<br />
Depois que vimos a agregação <strong>de</strong> valor nos<br />
diferentes produtos e níveis, resta a pergunta:<br />
Quem são os setores da região que mas agregam<br />
valor, e com que produtos? Diferenciando o markup<br />
<strong>de</strong> cada setor local em relação a cada produto,<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
Enquanto, no caso da pimenta, existem muitas<br />
empresas exportadoras estaduais, que agregam<br />
76% do VAB <strong>de</strong>sse commodity. Ao contrário, no<br />
caso do cacau, 98% do VAB é nacional, <strong>de</strong>vido<br />
ao <strong>de</strong>stino final do produto (chocolate) e da falta<br />
<strong>de</strong> processamento local ou estadual.<br />
No segundo grupo a agregação <strong>de</strong> valor<br />
acontece principalmente no Pará, tanto na região<br />
Baixo Tocantins como no resto do Estado. Uma<br />
forte participação estadual (mais <strong>de</strong> um terço do<br />
VAB) existe no caso do maracujá por causa da<br />
agroindústria em Benevi<strong>de</strong>s, no caso do coco por<br />
causa da industrialização <strong>de</strong> fibras em Ananin<strong>de</strong>ua,<br />
no caso da castanha por causa da exportação do<br />
produto por empresas em Belém e no caso do<br />
abacaxi <strong>de</strong>vido à gran<strong>de</strong> participação <strong>de</strong><br />
atacadistas estaduais na compra e venda do<br />
produto. Frutos como taperebá, buriti e cupuaçu<br />
são vendidos para agentes estaduais, que os<br />
reven<strong>de</strong>m ao consumidor final. Ao contrário, o VAB<br />
estadual do limão, da laranja e também do milho,<br />
é explicado pela venda <strong>de</strong>sses produtos por<br />
agentes estaduais (p.ex. da CEASA) para a região.<br />
Como a produção do camarão e da farinha é<br />
absorvida em gran<strong>de</strong> parte pela <strong>de</strong>manda local, o<br />
comércio, e, portanto o VAB, é 80% <strong>de</strong> origem local.<br />
O último grupo consiste <strong>de</strong> produtos on<strong>de</strong><br />
o valor é agregado principalmente na região<br />
(mais <strong>de</strong> 80% VAB local). A causa <strong>de</strong>sse VAB<br />
predominantemente local, como no caso do peixe,<br />
da banana, do arroz e da cana, também é que a<br />
<strong>de</strong>manda final local quase absorve toda a<br />
produção.<br />
a Tabela 22 mostra que, mesmo tendo uma<br />
margem média <strong>de</strong> somente 28%, o varejo rural<br />
consegue com alguns produtos um mark-up bem<br />
elevado, até 362% no caso do buriti. Mas também<br />
abacaxi, maracujá, coco, andiroba, ma<strong>de</strong>ira<br />
79
vermelha, taperebá, carvão, laranja, camarão,<br />
ma<strong>de</strong>ira branca, miriti e milho têm margens<br />
maiores <strong>de</strong> 50%. Outros comerciantes, como os<br />
atacadistas e os varejistas urbanos também têm<br />
margens maiores <strong>de</strong> 50% no caso <strong>de</strong> vários<br />
produtos, com <strong>de</strong>staque do coco, da andiroba,<br />
Fonte: pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
da ma<strong>de</strong>ira, do taperebá, da laranja, da tangerina,<br />
do muruci, do mel e da banana, entre outros. A<br />
indústria <strong>de</strong> beneficiamento e da transformação,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo <strong>de</strong> processamento e do<br />
mercado, tem mark-up que também são bem<br />
divergentes, <strong>de</strong> 13% até 2546%.<br />
Tabela 22 - Mark-up dos agentes locais em relação aos 34 produtos pesquisados (valor > 50% em negrito),<br />
2003-2004.<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 80
Em cada uma das 34 <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong> <strong>produtivas</strong><br />
existe uma participação diferente dos 14<br />
setores distinguidos: em algumas, somente<br />
setores locais estão presentes na<br />
comercialização e no processamento dos<br />
produtos, enquanto em outras <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong>,<br />
participam setores estaduais e nacionais. A<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
seção 4 apresentou dois exemplos para <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong><br />
individuais. Agora, a Tabela 23 mostra a mesma<br />
estrutura (em forma <strong>de</strong> matriz insumoproduto),<br />
das compras e vendas e da agregação<br />
<strong>de</strong> valor dos diferentes setores nos três níveis<br />
(local, estadual, nacional) para o total dos 34<br />
produtos pesquisados.<br />
81
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 82
Começando com a pergunta para quem os<br />
produtores ven<strong>de</strong>m mais os seus produtos, a<br />
Tabela 23 mostra que os agentes mais<br />
importantes são os atacadistas locais (R$ 35,0<br />
milhões, ou 37% do total <strong>de</strong> R$ 93,6 milhões), o<br />
varejo rural (R$ 21,0 milhões, ou 22%), a indústria<br />
<strong>de</strong> beneficiamento local (R$ 18,4 milhões, ou<br />
20%) e o varejo urbano (R$ 9,0 milhões, ou 10%).<br />
Produtos somente no valor <strong>de</strong> R$1,1 milhão<br />
(1%) são vendidos pelos agricultores,<br />
diretamente ao consumidor local, este compra<br />
a maior parte (do total <strong>de</strong> R$ 64,1 milhões) do<br />
varejo urbano (R$ 35,7 milhões, ou 56%), e,<br />
ainda, R$ 18,2 milhões ou 28% da indústria <strong>de</strong><br />
beneficiamento local 6 .<br />
Em relação ao VBP local, <strong>de</strong>stacam-se o<br />
setor atacado (R$ 66,6 milhões) e a indústria<br />
<strong>de</strong> beneficiamento (R$ 62,9 milhões), enquanto<br />
o varejo rural ven<strong>de</strong> somente a meta<strong>de</strong> disso<br />
(R$ 31,7 milhões). Em comparação com a<br />
indústria <strong>de</strong> beneficiamento, a indústria <strong>de</strong><br />
transformação é muito menos expressivo no nível<br />
local (VBP <strong>de</strong> R$10,8 milhões). Comparando o<br />
nível local com o estadual e nacional, a indústria<br />
<strong>de</strong> transformação local ganha contra a indústria<br />
estadual (VBP <strong>de</strong> R$ 8,4 milhões), mas per<strong>de</strong><br />
contra a indústria nacional (R$ 18,9 milhões). Ao<br />
contrário, a indústria <strong>de</strong> beneficiamento local<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
ven<strong>de</strong> um pouco mais do que a indústria estadual<br />
e nacional em conjunto (R$51,6 milhões e R$ 6,9<br />
milhões, respectivamente).<br />
A indústria <strong>de</strong> beneficiamento também<br />
agrega a meta<strong>de</strong> (VAB <strong>de</strong> R$ 33,1 milhões, ou<br />
51% do total <strong>de</strong> R$ 65,3 milhões) do valor no<br />
nível local. Isso <strong>de</strong>vido ao mark-up <strong>de</strong> 111%.<br />
Interessantemente, a indústria <strong>de</strong> transformação<br />
tem exatamente o mesmo mark-up, mas com<br />
R$ 5,7 milhões um VAB seis vezes menor. A<br />
margem das indústrias locais <strong>de</strong> 111% é menor<br />
que a das indústrias estaduais (190% e 150%).<br />
O resto do VAB local é quase igualmente<br />
distribuído entre o varejo rural (R$ 6,9 milhões),<br />
o atacado (R$ 9,1 milhões) e o varejo urbano<br />
(R$ 10,5 milhões). O mark-up do varejo rural,<br />
que são principalmente os chamados<br />
atravessadores e os bo<strong>de</strong>gueiros, muitas vezes<br />
mal vistos por causa do pagamento <strong>de</strong> preços<br />
baixos ao produtor, é com 28% um pouco menor<br />
do que o do varejo urbano (31%). Mas, essas<br />
margens do varejo são ainda quase duas vezes<br />
maiores que a do atacado (16%).<br />
Aplicando o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Leontief à Tabela<br />
23, consegue-se uma matriz inversa dos impactos<br />
diretos e indiretos nos setores <strong>de</strong> um aumento<br />
na <strong>de</strong>manda final.<br />
83
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 84
Verificando os multiplicadores setoriais<br />
<strong>de</strong>rivados da Tabela 24, a Tabela 25 indica que<br />
são os setores do varejo, seja ele estadual, nacional<br />
ou local, que apresentam o maior efeito na<br />
produção <strong>de</strong> todos os outros setores quando sua<br />
<strong>de</strong>manda final aumenta <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong>, seguido<br />
pelo atacado (também estadual, local e nacional),<br />
com multiplicadores acima <strong>de</strong> 2. Isso significa, que<br />
cada aumento na <strong>de</strong>manda final <strong>de</strong>sses setores,<br />
aumenta a produção <strong>de</strong> todos os setores em mais<br />
Fonte: dados da pesquisa.<br />
Observando os índices <strong>de</strong> efeitos para<br />
frente (ver Tabela 26), distinguem-se os setores<br />
da produção primária, o atacado local, a<br />
indústria <strong>de</strong> beneficiamento local e estadual<br />
assim como o varejo rural. As concatenações<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
do dobro do aumento inicial (incluindo esse<br />
aumento inicial <strong>de</strong> R$ 1,00). O efeito empuxe que<br />
indica o impacto <strong>de</strong> um aumento da <strong>de</strong>manda final<br />
tem somente nos outros setores (excluindo o setor<br />
que sofreu o aumento inicial), mostra quase a<br />
mesma tendência (somente a indústria nacional<br />
<strong>de</strong> beneficiamento troca o lugar com o atacado<br />
local). As outras indústrias, locais e estaduais, não<br />
têm um efeito multiplicador substantivo na<br />
economia.<br />
Tabela 25 - Multiplicadores setoriais dos 34 produtos, Baixo Tocantins, 2003-2004.<br />
para frente dos <strong>de</strong>mais setores são bastante<br />
fracas. Os maiores efeitos para trás, ficaram por<br />
conta do varejo e do atacado (estadual,<br />
nacional, local), além da indústria <strong>de</strong><br />
beneficiamento nacional.<br />
85
Tabela 26 - Índices <strong>de</strong> efeitos para frente e para trás nos setores das 34 <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong>, Baixo Tocantins, 2003-2004.<br />
(valores >1 em negrito).<br />
Fonte: dados da pesquisa.<br />
5.4 RELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS LOCAL, ESTADUAL E NACIONAL, AS IMPORTAÇÕES E AS<br />
EXPORTAÇÕES<br />
Para mostrar mais claramente a relação<br />
entres os sistemas local, estadual e nacional, da<br />
Tabela 27 - Matriz Insumo-Produto global do Sistema local, estadual e nacional, em mil R$, 2003-2004.<br />
Fonte: pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
O maior valor <strong>de</strong> compras e vendas<br />
acontece no setor intermediário local, com<br />
R$ 139,3 milhões. O sistema local ven<strong>de</strong> R$ 55,2<br />
milhões para intermediários estaduais e R$ 36,0<br />
Tabela 23 somaram-se os valores dos setores<br />
locais, estaduais e nacionais.<br />
milhões para agentes mercantis nacionais. O<br />
consumidor final local compra quase<br />
exclusivamente dos agentes locais (R$ 64,1<br />
milhões). Interessante ver que o sistema local<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 86
ven<strong>de</strong> diretamente muito mais para o consumidor<br />
nacional (R$ 13,5 milhões) do que para o<br />
consumidor estadual (R$ 1,5 milhões). A<br />
explicação é que o último compra produtos da<br />
região principalmente via comerciantes estaduais<br />
(R$ 51,4 milhões). A maior venda ao consumidor<br />
final em termos <strong>de</strong> valores se realiza no sistema<br />
nacional, com R$ 149,5 milhões. A distribuição<br />
do VAB entre local, estadual e nacional já foi<br />
explicada a partir da Tabela 21. Vale mencionar<br />
Fonte: pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
Como informado, os agentes locais<br />
ven<strong>de</strong>m a intermediários estaduais e nacionais<br />
produtos no valor <strong>de</strong> R$ 55,2 milhões e R$ 36,0<br />
milhões, respectivamente, além da venda direta<br />
ao consumidor estadual <strong>de</strong> R$ 1,5 milhões e à<br />
<strong>de</strong>manda nacional <strong>de</strong> R$ 13,5 milhões<br />
(números em negrito). Em total, o sistema local<br />
ven<strong>de</strong> para fora produtos com um valor <strong>de</strong><br />
R$ 106,4 milhões, aqui chamado <strong>de</strong><br />
“exportação”. A importação, no outro lado,<br />
chega a somente R$ 11,5 milhões (números<br />
em cursivo). Esse número é subestimado,<br />
porque, <strong>de</strong> acordo com a Tabela 18, a produção<br />
extra-local comprada pelos agentes locais<br />
soma-se a R$ 19,5 milhões. Uma parte, no valor<br />
dos R$ 11,5 milhões (Tabela 28), é comprada<br />
via agentes estaduais e nacionais, enquanto o<br />
resto, a diferença <strong>de</strong> R$ 7,9 milhões, é<br />
comprado diretamente pelos agentes locais dos<br />
produtores fora da região.<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
aqui que na Tabela 27, o VAB local inclui o VBP<br />
primário <strong>de</strong> R$ 93,6 milhões, assim somando-se<br />
com as R$ 65,4 milhões do VAB intermediário<br />
chega-se a R$ 159,0 milhões.<br />
Para se ter uma idéia quanto o sistema<br />
local ven<strong>de</strong> para fora (quanto “exporta” para fora<br />
do sistema) e compra (“importa”) <strong>de</strong> fora, a<br />
Tabela 27 foi um pouco modificada, gerando a<br />
Tabela 28.<br />
Tabela 28 - “Exportação” (negrito) e “Importação”, em mil R$, do sistema local, estadual e nacional, 2003-<br />
2004.<br />
A Tabela 28 então indica que a balança<br />
comercial agrícola da região é positiva com um<br />
superávit <strong>de</strong> R$ 94,9 milhões (respectivamente<br />
R$ 87,0 milhões, diminuindo os R$ 7,9 milhões<br />
mencionados). Para os agentes locais, a venda<br />
<strong>de</strong> produtos para fora da região no valor <strong>de</strong><br />
R$ 106,4 milhões significa um terço da venda<br />
total (do VBP) do sistema local <strong>de</strong> R$ 309,8<br />
milhões. A importância da exportação para o<br />
sistema local fica mais expressiva ainda, tirando<br />
<strong>de</strong>sse valor as vendas locais puramente<br />
intermediárias <strong>de</strong> R$ 139,3 milhões. Do resto <strong>de</strong><br />
R$ 170,5 milhões, o mercado estadual com<br />
R$ 56,8 milhões e o mercado nacional com<br />
R$ 49,5 milhões cada um sozinho tem quase a<br />
mesma importância para as vendas do sistema local<br />
que a venda ao consumidor local <strong>de</strong> R$ 64,1 milhões.<br />
Conclui-se essa análise global com a<br />
relação geral do sistema local com as exportações<br />
87
e as importações, que se po<strong>de</strong> expressar da<br />
seguinte forma:<br />
DFloc + Ex = VABloc + Im<br />
Ou seja, o VAB local (que aqui inclui o VBP<br />
primário) e as importações po<strong>de</strong>m ser usados ou<br />
6 CONCLUSÕES<br />
A gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações<br />
obtidas na pesquisa das 34 <strong>ca<strong>de</strong>ias</strong> <strong>produtivas</strong><br />
conduz ao risco <strong>de</strong> se per<strong>de</strong>r nos dados, e, como<br />
se diz em alemão, não ver mais o bosque vendo<br />
tantas árvores pela frente. Essas conclusões,<br />
além <strong>de</strong> resumir algumas informações que<br />
parecem mais importantes, tentam também<br />
interpretá-las em relação a sua importância para<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>regional</strong> e então para o<br />
PPDS-Jus.<br />
A região está inserida no mercado (inter-)<br />
nacional. Alguns produtos importantes em termos<br />
<strong>de</strong> valores como pimenta-do-reino, palmito e<br />
cacau, chamados <strong>de</strong> commodities, têm <strong>de</strong>stino<br />
exclusivo nesse mercado. Isso torna a economia<br />
local <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> acontecimentos nos<br />
mercados internacionais, principalmente <strong>de</strong><br />
flutuação <strong>de</strong> preços.<br />
Até agora, a região serve como simples<br />
fornecedor <strong>de</strong> matéria prima, não agregando<br />
muito valor na comercialização <strong>de</strong>ssas<br />
commodities. Mesmo quando existe um<br />
processamento <strong>de</strong>ntro da região, a agregação <strong>de</strong><br />
valor é pequena. Por exemplo, no caso do palmito,<br />
somente 15% do VAB intermediário é local, no<br />
caso do óleo <strong>de</strong> andiroba são 27%. Uma exceção<br />
é o óleo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê e a castanha-do-pará, porque<br />
existem indústrias maiores que agregam 74% e<br />
60%, respectivamente, do valor localmente.<br />
Observando a relação entre VAB e VBP primário,<br />
para a <strong>de</strong>manda final local ou para as<br />
exportações. No caso, como visto, têm os<br />
seguintes valores (em mil R$):<br />
64.108 + 106.352 = 159.001 + 11.459 =<br />
170.460<br />
são exatamente esses produtos que tem o maior<br />
potencial para agregar valor na ca<strong>de</strong>ia produtiva:<br />
a castanha-do-pará agrega 10 vezes mais valor<br />
na comercialização e no processamento do que<br />
o valor da produção primária. No caso do palmito<br />
e do óleo <strong>de</strong> andiroba, são seis vezes mais, no<br />
caso do cacau, cinco vezes.<br />
Alguns produtos não são produzidos em<br />
quantida<strong>de</strong>s suficientes para abastecer o<br />
consumo local. É o caso do limão, laranja, abacaxi,<br />
milho e arroz. Em geral, do total do valor da<br />
produção primária pesquisada <strong>de</strong> R$ 93,6<br />
milhões, R$ 19,4 milhões ou mais <strong>de</strong> 20% vem<br />
<strong>de</strong> fora da região. Preocupante é o caso dos<br />
peixes, que a região, antes exportadora <strong>de</strong>sse<br />
alimento básico, agora tem que importar em mais<br />
da meta<strong>de</strong> do consumo local, efeito danoso<br />
principal da construção da barragem <strong>de</strong> Tucuruí.<br />
Os produtores e as produtoras quase não<br />
ven<strong>de</strong>m diretamente ao consumidor final:<br />
somente 1% do VBP primário tem esse canal <strong>de</strong><br />
comercialização. Parece que falta uma<br />
organização melhor dos produtores num lado, e<br />
<strong>de</strong> feiras locais etc., no outro lado. O setor mais<br />
importante para os produtores é o atacadista,<br />
que compra 37% (do valor) da produção primária.<br />
O varejo rural, principalmente os chamados<br />
atravessadores e os bo<strong>de</strong>gueiros, que tem a sua<br />
maior importância no interior dos municípios,<br />
apresentam uma participação <strong>de</strong> 22%. Outros<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008. 88
agricultores po<strong>de</strong>m ven<strong>de</strong>r também diretamente<br />
ou para a indústria <strong>de</strong> beneficiamento (20%) ou<br />
para o varejo urbano (10%), transportando<br />
muitas vezes o produto para a cida<strong>de</strong>. Mas, no<br />
caso <strong>de</strong> alguns produtos, o varejo rural<br />
<strong>de</strong>sempenha papel muito importante para a<br />
comercialização: ele compra, por exemplo, 71%<br />
do volume <strong>de</strong> açaí e 42% <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> mandioca<br />
dos produtores. Enquanto não existem outras vias<br />
<strong>de</strong> comercialização, por exemplo, via cooperativas<br />
a existência <strong>de</strong>sses comerciantes é inevitável e<br />
indispensável.<br />
A margem <strong>de</strong> lucro bruto (ou mark-up) do<br />
varejo rural (atravessadores, bo<strong>de</strong>gueiros) é <strong>de</strong><br />
28%, não tão gran<strong>de</strong> como muitas vezes suspeito,<br />
tomando em conta que esses agentes buscam<br />
os produtos nos sítios e os transportam para os<br />
centros consumidores. Mesmo sendo assim, o<br />
comércio <strong>de</strong> alguns produtos parece bem<br />
lucrativo para os varejistas rurais (e urbanos<br />
também). Parece, mas como o mark-up é uma<br />
margem bruta que inclui todos os custos do<br />
comerciante, não se sabe exatamente se essas<br />
margens se explicam com os custos (por exemplo,<br />
do transporte) e/ou com a falta <strong>de</strong> concorrência<br />
que permite lucros <strong>de</strong> monopólio.<br />
As indústrias locais (<strong>de</strong> beneficiamento e<br />
<strong>de</strong> transformação), ambas com um mark-up <strong>de</strong><br />
111%, agrega 59% do VAB local, o resto (41%)<br />
sendo do comércio (varejo e atacado). Isso já<br />
mostra a gran<strong>de</strong> importância do comércio em<br />
relação à indústria para a região. A indústria<br />
também processa um leque limitado <strong>de</strong> produtos.<br />
Por exemplo, a participação da indústria <strong>de</strong><br />
beneficiamento no VAB local explica-se<br />
principalmente pelo beneficiamento <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />
branca e vermelha nas inúmeras serrarias e do<br />
beneficiamento do açaí para o consumidor local.<br />
Além disso, <strong>de</strong>stacam-se as duas e únicas<br />
agroindústrias maiores, uma <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê e outra<br />
da castanha-do-pará, e as várias fábricas <strong>de</strong><br />
palmito. Isso mostra a importância das pequenas<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
e médias unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> beneficiamento (serrarias,<br />
batedores <strong>de</strong> açaí, fábricas <strong>de</strong> palmito) para a<br />
economia local, mas também a falta <strong>de</strong> indústrias<br />
maiores e a ausência <strong>de</strong> beneficiamento <strong>de</strong> outros<br />
produtos, como, por exemplo, <strong>de</strong> frutas. A única<br />
indústria <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong> relevância são as<br />
movelarias e a indústria naval. Juntando a<br />
indústria <strong>de</strong> beneficiamento e <strong>de</strong> transformação,<br />
o setor ma<strong>de</strong>ireiro tem uma participação <strong>de</strong> 42%<br />
no VAB da indústria local. Tratando-se <strong>de</strong> uma<br />
ativida<strong>de</strong> muitas vezes não sustentável<br />
(extrativismo <strong>de</strong> aniquilação), isso parece<br />
preocupante e mostra a importância <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolver uma industrialização <strong>de</strong> outros<br />
produtos na região.<br />
A análise global da relação entre sistema<br />
local, exportações e importações mostrou que o<br />
VBP primário e o VAB local juntos têm um valor<br />
<strong>de</strong> R$ 170,5 milhões. Desse, R$ 64,1 milhões são<br />
<strong>de</strong>stinados para a <strong>de</strong>manda final local e R$ 106,4<br />
milhões para a “exportação”. Isso significa que<br />
a venda para fora já tem uma importância maior<br />
para os setores locais do que a venda para o<br />
consumidor local. Por isso, um crescimento<br />
econômico no âmbito estadual e nacional po<strong>de</strong><br />
ter repercussões positivas e importantes na<br />
região, utilizando os produtos agrícolas e<br />
extrativistas como <strong>base</strong> <strong>de</strong> exportação, gerando<br />
divisas para novos investimentos. Mas também,<br />
o mercado local po<strong>de</strong> ser explorado ainda mais,<br />
tomando em conta o crescimento da população<br />
local. Junto com um possível aumento <strong>de</strong><br />
emprego e renda através <strong>de</strong> um ciclo econômico<br />
sustentado principalmente pelo investimento na<br />
agricultura e na agroindústria.<br />
A análise dos multiplicadores através da<br />
Matriz Inversa <strong>de</strong> Leontief mostrou que no caso<br />
dos efeitos para trás, são o varejo estadual e<br />
nacional que têm o maior impacto <strong>de</strong><br />
enca<strong>de</strong>amento nos outros setores. Quase<br />
inversamente, os efeitos para frente se sentem<br />
principalmente na produção primária e nos<br />
89
setores locais (atacado, indústria, varejo). Isso<br />
mostra a importância dos setores comerciais<br />
(varejo, atacado), em especial estaduais e<br />
nacionais, e a fraqueza da indústria, <strong>de</strong> dar<br />
impulsos fortes à economia <strong>regional</strong>. Mas ensina<br />
também, a importância <strong>de</strong> apoio aos setores<br />
locais, em especial ao primário, para que possam<br />
respon<strong>de</strong>r à incrementos na <strong>de</strong>manda final<br />
a<strong>de</strong>quadamente com um aumento na sua<br />
produção.<br />
Uma estratégia geral para um<br />
<strong>de</strong>senvolvimento sustentável da região Baixo<br />
Tocantins, apoiado pelo PPDS-Jus, <strong>de</strong>veria ter em<br />
vista essas duas opções: usando a agricultura<br />
como <strong>base</strong> <strong>de</strong> exportação, gerando ingressos <strong>de</strong><br />
fora para novos investimentos, e ao mesmo<br />
tempo <strong>de</strong>senvolver o mercado local para que o<br />
dinheiro fique na região e que se <strong>de</strong>senvolvam<br />
circuitos locais.<br />
Já existe um mercado local potencial,<br />
substituindo uma parte dos 20% <strong>de</strong> produtos, que<br />
no momento ainda são comprados fora da região,<br />
pela produção local. Outra possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolver o mercado local é o fomento à<br />
<strong>de</strong>manda institucional, por exemplo, da merenda<br />
escolar.<br />
Isso incluiria também uma diversificação<br />
da produção, que no momento tem uma forte<br />
predominância <strong>de</strong> alguns produtos, entre outros,<br />
<strong>de</strong> commodities, e diminuiria a <strong>de</strong>pendência dos<br />
acontecimentos nos mercados internacionais.<br />
Ficou claro que uma maior agregação <strong>de</strong><br />
valor para gerar renda e emprego é necessária.<br />
Alguns produtos como óleo <strong>de</strong> andiroba, açaí,<br />
palmito etc. tem um gran<strong>de</strong> potencial para esse<br />
fim. Para esses produtos, entre outros, também<br />
seria interessante buscar nichos <strong>de</strong> mercado<br />
como, por exemplo, o mercado orgânico e/ou<br />
justo. Uma industrialização <strong>de</strong> novos produtos,<br />
por exemplo, <strong>de</strong> frutas, também será necessário<br />
para agregar mais valor na região. A formação<br />
<strong>de</strong> clusters tornaria alguns setores mais<br />
competitivos.<br />
Uma organização mais eficiente dos<br />
produtores e produtoras, seja em cooperativas<br />
ou em associações, po<strong>de</strong>ria aperfeiçoar a<br />
comercialização e aumentar a concorrência entre<br />
os agentes mercantis. Junto com uma melhoria<br />
da infra-estrutura <strong>de</strong> comercialização para baixar<br />
os custos, isso po<strong>de</strong>ria melhorar os preços do<br />
produtor e/ou do consumidor, diminuindo<br />
algumas margens excessivas dos comerciantes.<br />
Outra possibilida<strong>de</strong> seria apoiar a venda direta<br />
dos produtores ao consumidor local, fornecendo<br />
a infra-estrutura necessária, como transporte,<br />
feiras etc.<br />
Claro que todas as estratégias propostas<br />
aqui, sejam elas o apoio à diversificação, à infraestrutura,<br />
ao cooperativismo, à industrialização,<br />
à formação <strong>de</strong> clusters, à busca <strong>de</strong> nichos <strong>de</strong><br />
mercado, ao <strong>de</strong>senvolvimento do mercado local,<br />
à organização <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong><br />
comercialização, etc., precisariam ainda <strong>de</strong><br />
estudos específicos, por exemplo, planos <strong>de</strong><br />
negócio, incluindo custos <strong>de</strong>talhados. Acreditase<br />
que as informações contidas nesse artigo<br />
possam servir como ponto <strong>de</strong> partida para a<br />
realização <strong>de</strong>ssas estratégias <strong>de</strong>ntro do PPDS-Jus.<br />
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NOTAS<br />
1 Outros resultados, como a <strong>de</strong>scrição completa das 34<br />
<strong>ca<strong>de</strong>ias</strong> individuais e o cálculo das Contas Sociais <strong>de</strong><br />
Base Agrária se apresentarão num outro momento.<br />
2 Os termos local e <strong>regional</strong> são usados neste trabalho<br />
como sinônimos.<br />
3 Como, por exemplo, em alguns municípios como Cametá,<br />
só foi possível entrevistar alguns dos atravessadores que<br />
levam o produto para Belém, essa porcentagem po<strong>de</strong><br />
refletir também uma amostra maior <strong>de</strong> Igarapé-Miri, e não<br />
necessariamente uma produção maior nesse município.<br />
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 3, n. 6, jan./jun. 2008.<br />
4 Os produtos não incluído na Tabela 17 são <strong>de</strong> 100%<br />
produção <strong>regional</strong>.<br />
5 Vale mencionar mais uma vez que o VBP primário inclui<br />
também, no caso <strong>de</strong> alguns produtos, a produção fora<br />
da região.<br />
6 Vale mencionar aqui que o consumidor institucional,<br />
principalmente as prefeituras, somente entrou na<br />
pesquisa com a compra para a merenda escolar no<br />
valor <strong>de</strong> R$ 155 mil, igual a 0,2% da <strong>de</strong>manda final<br />
local.<br />
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REFERÊNCIAS<br />
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