repetição e clínica na neurose obsessiva - pgpsa/uerj

uma relação causal entre o ser e o pensar, transparecendo uma limitação, já que o sujeito só
pode estar em seu ser na medida em que, em seu pensamento, pensa que é.
No entanto, essa formulação do sujeito, própria à ciência moderna, é que vai permitir o
acesso ao campo freudiano, constituído pela noção mesma de inconsciente, uma vez que, para
Freud, o pensamento nada mais é que os elementos em jogo no inconsciente, regidos pelos
mecanismos de linguagem que Lacan, inspirado na lingüística, nomeou como significantes –
metonímia e metáfora.
Para Lacan, o cogito filosófico vem dar ao homem moderno uma ilusão de segurança,
de completude, a despeito de suas incertezas e desconfianças. Por sua vez, o jogo significante,
presente na metonímia e na metáfora, se dá de modo que sua suspensão só ocorre ali onde o
sujeito não está, uma vez que ali ele não pode se situar, o que nos remete a construção
lacaniana: “Penso onde não sou, logo sou onde não penso” 12
, no sentido em que o sujeito não
se constitui a partir de seu pensamento, mas sim que ele realiza a sua condição de sujeito
justamente onde ele não pensa, ou seja, no campo do inconsciente, como transparece na
inconsistência do sentido no campo verbal.
Essa dialética entre o pensar e o ser vai estar associada à condição instável da verdade,
que se estabelece para o sujeito a partir do jogo metonímico, e à condição do sentido de só ser
acessível levando-se em conta a irredutibilidade do significante ao significado, comum à
metáfora. A realidade constituída pelo inconsciente vai ter como fundamento essa verdade
que é produzida “dentro da dimensão do ser”. 13
Lacan subverte o signo saussureano, no qual o significado se coloca sobre o
significante (s/S), indicando o fato de o significante (imagem acústica) se encontrar atrelado
12 - Lacan, Jacques – A Instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud, in Escritos, RJ, Jorge Zahar
Editor, 1998; p. 521.
13 - “Idem, Ibidem”, p. 522.
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