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Indicação - Sintonia Saint Germain

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consegue aceitar quando uma situação com a qual ela tenha se apegado muda ou desaparece. Ela vai resistir à<br />

mudança. É quase como se um membro estivesse sendo arrancado do seu corpo.<br />

Às vezes ouvimos falar de pessoas que cometeram suicídio porque perderam a fortuna ou tiveram sua<br />

reputação arruinada. Esses são casos extremos. Outras pessoas, ao sofrer uma grande perda, tornam-se<br />

profundamente infelizes ou adoecem. Não conseguem distinguir a vida da situação de vida. Li recentemente<br />

sobre uma famosa atriz que morreu depois dos oitenta anos e foi ficando cada vez mais infeliz e reclusa<br />

conforme envelhecia. Ela estava identificada com uma circunstância: a sua aparência externa. No início, isso lhe<br />

deu um sentido feliz do eu interior, depois um sentido infeliz. Se tivesse sido capaz de se conectar com a vida<br />

interior, que é dissociada da forma e do tempo, ela poderia ter aceitado o desaparecimento da beleza,<br />

observando-a de um lugar de serenidade e paz. Além do mais, sua aparência teria se tornado cada vez mais<br />

transparente à luz que brilha através da verdadeira natureza, de modo que a beleza externa não teria sumido,<br />

mas se transformado em beleza espiritual. Porém, ninguém contou a ela que isso era possível. O tipo de<br />

conhecimento mais básico ainda não está ao alcance de todos.<br />

Buda ensinou que até mesmo a felicidade pessoal é dukka – uma palavra da língua páli que significa<br />

“sofrimento” ou “insatisfação”. Ela é inseparável do seu oposto. Significa que a felicidade e a infelicidade são,<br />

na verdade, uma coisa só. Somente a ilusão do tempo as separa.<br />

Isso não significa uma negatividade. É simplesmente reconhecer a natureza das coisas, para não viver<br />

atrás de uma ilusão pelo resto da vida. Nem quer dizer que você não deva mais apreciar os objetos e as<br />

circunstâncias agradáveis e bonitas. Porém, usá-los para procurar aquilo que não podem dar – uma identidade,<br />

um sentido de permanência e satisfação – é uma receita para a frustração e o sofrimento. Toda a indústria da<br />

propaganda e a sociedade de consumo entrariam em colapso se as pessoas se tornassem iluminadas e deixassem<br />

de tentar encontrar as suas identidades através dos objetos. Quanto mais usarmos esse caminho para encontrar a<br />

felicidade, mais estaremos nos iludindo. Nada lá fora vai conseguir nos trazer satisfação, exceto por um tempo e<br />

de modo superficial. Mas talvez você precise passar por muitas decepções antes de perceber a verdade. Os<br />

objetos e as circunstâncias podem lhe dar prazer, mas também vão lhe trazer sofrimento. Eles podem lhe dar<br />

prazer, mas não trazer alegria. A alegria não tem uma causa e brota dentro de nós como a alegria do Ser. É uma<br />

parte essencial do estado de paz interior, conhecido como a paz de Deus. É o nosso estado natural, não algo por<br />

que tenhamos de lutar para conseguir.<br />

As pessoas, em geral, não percebem que a “salvação” não está em nada do que façam, possuam ou<br />

consigam. Aquelas que percebem ficam, muitas vezes, enfastiadas do mundo e deprimidas. Se nada pode lhes<br />

dar um verdadeiro prazer, será que resta alguma coisa por que se empenhar? Com que objetivo? O profeta do<br />

Velho Testamento deve ter chegado a essa conclusão quando escreveu: “Tenho visto tudo o que se faz debaixo<br />

do sol e eis que tudo é vaidade e uma luta contra o vento”. Quando você chega a esse ponto, está a um passo do<br />

desespero e um passo mais longe da iluminação.<br />

Uma vez um monge budista me disse: “Tudo o que aprendi nos vinte anos em que sou monge pode ser<br />

resumido em uma frase: Tudo o que surge, desaparece. Isso eu sei”. O que ele quis dizer foi o seguinte: aprendi<br />

a não oferecer qualquer resistência ao que é; aprendi a permitir que o momento presente aconteça e a aceitar a<br />

natureza impermanente de todas as coisas e circunstâncias. Foi assim que encontrei a paz.<br />

Não oferecer resistência à vida é estar em estado de graça, de descanso e de luz. Nesse estado, nada<br />

depende de as coisas serem boas ou ruins. É quase paradoxal, mas, como já não existe mais uma dependência<br />

interior quanto à forma, as circunstâncias gerais da sua vida, as formas externas, tendem a melhorar<br />

consideravelmente. As coisas, as pessoas ou as circunstâncias que você desejava para a sua felicidade vêm<br />

agora até você sem qualquer esforço, e você está livre para apreciá-las enquanto durarem. Todas essas coisas<br />

naturalmente vão acabar, os ciclos virão e irão, mas com o desaparecimento da dependência não há mais medo<br />

de perdas. A vida flui com facilidade.<br />

A felicidade que provém de alguma coisa secundária nunca é muito profunda. É apenas um pálido reflexo<br />

da alegria do Ser, da paz vibrante que encontramos dentro de nós ao entrarmos no estado de não-resistência. O<br />

Ser nos transporta para além das polaridades opostas da mente e nos liberta da dependência da forma. Mesmo<br />

que tudo em volta desabe e fique em pedaços, você ainda sentirá uma profunda paz interior. Você pode não<br />

estar feliz, mas vai estar em paz.<br />

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