Edição 34 - Memorial da América Latina
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liderança na <strong>América</strong> do Sul, ganhar<br />
visibili<strong>da</strong>de e aumentar seu poder de<br />
barganha na arena internacional. Qual<br />
é o balanço do Mercosul na ótica de<br />
ca<strong>da</strong> um dos (principais) sócios à luz<br />
dessas expectativas?<br />
R.B. - Talvez fosse mais preciso dizer<br />
que o Brasil sempre teve uma visão de<br />
longo prazo em relação ao Mercosul,<br />
enquanto a Argentina tinha, e ain<strong>da</strong> tem,<br />
uma visão de curto prazo, mais comercialista,<br />
tendo como referência o grande<br />
mercado brasileiro. Na visão brasileira,<br />
o Mercosul seria a plataforma para um<br />
processo mais amplo de integração sulamericana.<br />
O objetivo era aumentar o<br />
intercâmbio comercial com os países<br />
membros do Mercosul e com os vizinhos<br />
<strong>da</strong> <strong>América</strong> do Sul. No início do<br />
Mercosul, não havia a ênfase de coordenação<br />
política, o que veio a ocorrer<br />
mais tarde e agora adquiriu contornos<br />
mais nítidos, apesar <strong>da</strong> inexistência de<br />
resultados concretos do ponto de vista<br />
do Brasil. Do ângulo político, é evidente<br />
que uma integração comercial no Cone<br />
Sul e depois na <strong>América</strong> do Sul reforçaria<br />
a posição e a visibili<strong>da</strong>de do Brasil<br />
- que representa mais <strong>da</strong> metade do<br />
produto, <strong>da</strong> população, do território <strong>da</strong><br />
região - no cenário internacional. Não<br />
havia, contudo, a intenção de buscar<br />
uma liderança política a partir do Mercosul.<br />
Ela viria por gravi<strong>da</strong>de no médio<br />
e longo prazo. Um dos problemas que<br />
o Mercosul enfrenta hoje é justamente<br />
a falta de uma atitude firme do Brasil<br />
no sentido de influir decidi<strong>da</strong>mente no<br />
processo de integração do Mercosul e<br />
regional. O Brasil hoje está sem uma<br />
estratégia clara para a defesa de seus<br />
interesses, e mostra uma atitude reativa<br />
frente a iniciativas que são toma<strong>da</strong>s por<br />
seus sócios do Mercosul, nem sempre<br />
alinha<strong>da</strong>s com nossos interesses. Hoje,<br />
contudo, com as grandes transformações<br />
que estão ocorrendo no mundo, na<br />
<strong>América</strong> do Sul e no Brasil, o Mercosul,<br />
no contexto internacional, é mais um<br />
peso do que uma vantagem. O Mercosul<br />
está perdendo importância relativa no<br />
contexto do comércio exterior brasileiro,<br />
representando, em 2008, apenas cerca<br />
de 9% do total, enquanto em 1997/8<br />
era responsável por 16%. No caso <strong>da</strong><br />
Argentina, penso que o resultado foi<br />
bem mais positivo, como pode ser comprovado,<br />
por exemplo, pela ampliação<br />
<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de produtiva <strong>da</strong> indústria<br />
automobilística, que, sem o Mercosul,<br />
provavelmente teria deixado de existir.<br />
Se a Argentina não se beneficiou mais<br />
do acesso ao mercado brasileiro foi em<br />
decorrência de seus problemas internos,<br />
políticos e econômicos, e pela debili<strong>da</strong>de<br />
de seu setor industrial, fragilizado<br />
por políticas econômicas equivoca<strong>da</strong>s<br />
ao longo dos últimos 20 anos.<br />
DEMéTRIO MAGNOLI - O Mercosul,<br />
como a União Européia, nasceu para solucionar<br />
uma necessi<strong>da</strong>de política e estratégica:<br />
converter a tradicional rivali<strong>da</strong>de<br />
com a Argentina numa parceria estratégica.<br />
A entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Venezuela de Hugo<br />
Chávez no Mercosul também deveria ser<br />
analisa<strong>da</strong> sob o ponto de vista estratégico,<br />
e não meramente sob o ponto de vista<br />
comercial. Como o senhor interpreta a<br />
incorporação <strong>da</strong> Venezuela?<br />
R.B. - O Mercosul foi um desdobramento<br />
natural <strong>da</strong> aproximação política<br />
e estratégica entre o Brasil e a Argentina,<br />
inicia<strong>da</strong> logo após a volta ao<br />
poder civil nos dois países. Acordos<br />
econômicos e comerciais e de cooperação<br />
nuclear foram a pedra de toque<br />
para o desarmamento dos espíritos<br />
entre os dois países. O eixo Brasília-<br />
Buenos Aires é a base para o processo<br />
de integração do Mercosul. A entra<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> Venezuela - promovi<strong>da</strong> pela Argentina<br />
e apoia<strong>da</strong> pelo Brasil -, do ponto<br />
de vista estratégico, para o Mercosul<br />
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