Edição 34 - Memorial da América Latina
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é positiva na medi<strong>da</strong> em que amplia<br />
a base territorial <strong>da</strong> União Aduaneira,<br />
que irá <strong>da</strong> Terra do Fogo ao Caribe,<br />
e incorpora uma potência petroleira e<br />
um dos três ou quatro maiores países<br />
<strong>da</strong> <strong>América</strong> do Sul. A adesão <strong>da</strong> Venezuela,<br />
com o forte empenho do atual<br />
governo brasileiro, colocará, contudo,<br />
alguns desafios importantes para<br />
o Brasil. Em primeiro lugar, poderá<br />
criar um novo eixo: Buenos Aires-<br />
Caracas, como evidenciado pela coordenação<br />
entre as duas capitais em relação<br />
a diversas iniciativas de Chávez.<br />
Em segundo lugar, poderá aumentar<br />
a pressão sobre o Brasil na toma<strong>da</strong> de<br />
decisões, visto que o processo decisório<br />
ain<strong>da</strong> é consensual. O veto de<br />
um país bloqueia decisões que podem<br />
interessar a todos. O voto ponderado<br />
terá de ser introduzido, caso o processo<br />
avance em direção a um mercado<br />
comum, como previsto no Tratado<br />
de Assunção. O Congresso Nacional,<br />
que deverá apreciar o Protocolo<br />
de Adesão <strong>da</strong> Venezuela ao Mercosul,<br />
com compromissos assumidos livremente<br />
por Caracas, deveria verificar<br />
se essas obrigações estão sendo cumpri<strong>da</strong>s<br />
no tocante ao processo de liberalização<br />
comercial, a incorporação<br />
<strong>da</strong> Tarifa Externa Comum, a incorporação<br />
<strong>da</strong>s normas e regulamentos do<br />
Mercosul ao ordenamento jurídico venezuelano<br />
e as obrigações decorrentes<br />
de acordos assinados pelo Mercosul<br />
com terceiros países. O maior desafio<br />
do Brasil, nos próximos anos, com a<br />
Venezuela incorpora<strong>da</strong> ao Mercosul,<br />
será como tratar as atitudes e propostas<br />
de Hugo Chavéz que tem uma<br />
agen<strong>da</strong> diferente <strong>da</strong> do Brasil, dentro<br />
de sua visão alternativa aos EUA e ao<br />
sistema de mercado. Como vai atuar<br />
a alternativa bolivariana (Alba) em relação<br />
ao Mercosul? Vamos continuar<br />
a reboque dos acontecimentos, como<br />
até aqui, ou vamos definir claramente<br />
52<br />
nosso interesse regional, dentro e fora<br />
do Mercosul?<br />
SéRGIO FAUSTO - Em vista do retrospecto<br />
do Mercosul e <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des<br />
que se abrem para o Brasil<br />
no mundo, o que seria melhor para os<br />
interesses de longo prazo do País: preservar<br />
o Mercosul como União Aduaneira<br />
ou transformá-lo em Área de Livre<br />
Comércio?<br />
R.B. - O Mercosul, apesar de to<strong>da</strong>s as<br />
dificul<strong>da</strong>des e retrocessos na área comercial,<br />
não desaparecerá. Dificilmente<br />
algum presidente assumirá o ônus político<br />
de tomar uma decisão radical nessa<br />
direção. Em vista <strong>da</strong> fragili<strong>da</strong>de institucional<br />
do Mercosul, decorrência do<br />
seguido descumprimento de muitas <strong>da</strong>s<br />
regras do Tratado de Assunção, o Brasil<br />
deveria adotar uma atitude pragmática.<br />
O Mercosul é hoje uma união aduaneira<br />
imperfeita. O desaparecimento <strong>da</strong> Tarifa<br />
Externa Comum, como consequência<br />
de uma eventual transformação do<br />
Mercosul em área de livre comércio,<br />
poderia, a médio prazo, ser contrário<br />
aos interesses <strong>da</strong> indústria brasileira pela<br />
inevitável triangulação que ocorreria sobretudo<br />
com a China. A Resolução 32,<br />
de 2000, que determina aos membros<br />
do Mercosul a negociação interna com<br />
uma só voz, deveria ser flexibiliza<strong>da</strong>,<br />
como ocorreu nos entendimentos com<br />
o Grupo Andino e com o Suriname. Os<br />
objetivos maiores de completar uma<br />
união aduaneira e um mercado comum<br />
permaneceriam, mas, na prática, as negociações<br />
sobre produtos deveriam ser<br />
feitas de forma individual. A Resolução<br />
32 representa uma decisão política, fora<br />
do Tratado de Assunção. Mesmo sem<br />
revogar a Resolução, os países poderiam<br />
concor<strong>da</strong>r em negociar individualmente<br />
com o compromisso de fazer convergir<br />
as tarifas depois de um período determinado.<br />
Os objetivos de longo prazo do