Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O vitral ingressou na Assembleia da República em<br />
Fevereiro de 2001, já que foi a única proposta que<br />
teve acolhimento, tendo recebido o nº. MAR 271<br />
aquando da reformulação do inventário do Museu.<br />
Em 2003 foi colocado na escadaria da residência<br />
oficial do Presidente da Assembleia da República<br />
sobre uma caixa de luz por se tratar de uma parede<br />
cega. A identificação iconográfica permanecia, no<br />
entanto, dúbia: o tema <strong>Eros</strong> e <strong>Psique</strong>, indicado pela<br />
proprietária por ocasião da venda, não correspondia<br />
à interpretação feita aquando da apresentação em<br />
leilão, a qual considerava tratar-se da Queda de Ícaro.<br />
Esta duplicidade exigia um estudo pormenorizado para<br />
cabal identificação, do qual foi incumbida a Dr.ª Cátia<br />
Mourão, e que veio revelar uma encomenda orientada<br />
por um muito específico programa com profundas<br />
raízes herméticas, inserido numa vasta programação<br />
contemplando a totalidade da residência para onde<br />
foi executado. É este estudo, surgido no âmbito da<br />
investigação inerente ao inventário museológico (que<br />
permanece frequentemente ignorada) e desenvolvido<br />
posteriormente, que se traz a público e dá a conhecer<br />
uma das obras mais relevantes, e mais enigmáticas<br />
na sua concepção, do espólio da Assembleia da<br />
República.<br />
Teresa Parra da Silva<br />
Conservadora do Museu da Assembleia da República<br />
12 <strong>Eros</strong> e <strong>Psique</strong> Um vitral gnóstico de Almada Negreiros 13<br />
Descrição do vitral<br />
O vitral é composto por 5 partes de larguras desiguais,<br />
unidas por caixilharia de chumbo, que congregam 153<br />
peças de vidro policromo, formando uma composição<br />
estruturada na horizontal, com duas figuras nuas e<br />
deitadas, estando uma a dormir e a outra acordada<br />
olhando a primeira. A que dorme tem a pele rosada,<br />
está voltada para cima, tem o corpo posicionado<br />
em diagonal descendente, a cabeça inclinada para<br />
baixo e a três quartos, os cabelos longos, soltos, de<br />
cor arruivada, os olhos fechados, o braço direito<br />
estendido para o mesmo lado, o esquerdo curvado<br />
e acompanhando a curvatura do tronco e a perna<br />
direita estendida, cruzando a esquerda ao nível do<br />
tornozelo. Tem grandes asas de pássaro, de cor rosa<br />
forte, nas costas, estando a esquerda aberta e a direita<br />
fechada, sobre a qual apoia a cabeça; a figura que a<br />
olha tem a pele amarela, está voltada para baixo, de<br />
bruços, apoiando-se no braço esquerdo e também no<br />
cotovelo direito (sobre a extremidade da asa da figura<br />
anterior).<br />
Fig. 1<br />
<strong>Eros</strong> e <strong>Psique</strong><br />
José Sobral de Almada Negreiros (1893-1970)<br />
Não datado (1954)<br />
57,5 x 325 cm<br />
Vitral<br />
Assembleia da República<br />
MAR 271<br />
Fotografia de Carlos Pombo<br />
Tem a cabeça erguida e de perfil, os cabelos loiros<br />
e compridos, cingidos atrás, as pernas estendidas e<br />
o pé direito apoiado no tornozelo da perna oposta.<br />
Não tem asas e segura na mão direita uma pequena<br />
lucerna de cor verde, cuja chama ilumina o rosto da<br />
personagem adormecida.<br />
O fundo combina tons de violeta e lilás.<br />
O conjunto não está assinado nem datado.