19.05.2013 Views

Eros e Psique - Fluid Creative

Eros e Psique - Fluid Creative

Eros e Psique - Fluid Creative

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Fig. 5<br />

<strong>Eros</strong> e <strong>Psique</strong>¹⁶ (penúltimo estudo?)<br />

José Sobral de Almada Negreiros (1893-1970)<br />

Datado: 10-2-1954<br />

Inscrição: «almada/Ao José Manuel/no dia do seu aniversário/10-II-54»<br />

76,5 x 22 cm<br />

Aguarela sobre papel<br />

Colecção particular (Lisboa)<br />

Fotografia da galeria Antiks Design<br />

Fig. 6<br />

<strong>Eros</strong> e <strong>Psique</strong>¹⁷ (último estudo – cartão para o vitral)<br />

José Sobral de Almada Negreiros (1893-1970)<br />

Não datado (1954)<br />

65,5 x 30,20 cm<br />

Óleo sobre papel<br />

Colecção particular (Lisboa)<br />

Fotografia de Vítor Branco<br />

16 <strong>Eros</strong> e <strong>Psique</strong> Um vitral gnóstico de Almada Negreiros 17<br />

Na época pré-socrática <strong>Eros</strong> era filho do Caos, vazio<br />

original do Universo, e detinha a força ordenadora<br />

e unificadora dos elementos, pedra de toque para a<br />

criação do Cosmos. Hesíodo¹⁸ descreveu-o como um<br />

jovem dotado de beleza inigualável, considerando-o<br />

deus do Amor e do desejo. Em teogonias posteriores,<br />

já na era pós-socrática, a filiação de <strong>Eros</strong> foi controversa<br />

e variável entre Zeus, Ares ou Hermes e Afrodite,<br />

ou ainda Poro (Expediente) e Pénia (Pobreza). Esta<br />

última, defendida por Platão¹⁹, explicava a natureza<br />

inconstante e insatisfeita do Amor, em permanente<br />

busca de realização, e retirava a <strong>Eros</strong> o estatuto de<br />

deus maior, concebendo-o como génio mediador<br />

entre deuses e Homens.<br />

No século II da era cristã, o escritor latino Lúcio<br />

Apuleio²⁰ identificou o <strong>Eros</strong> grego com o Cupido<br />

romano, deus do Amor e filho de Vénus, deusa<br />

romana da Beleza. Na sua obra O Asno de Ouro<br />

(também designada por Metamorfoses), relacionou-o<br />

com <strong>Psique</strong>, uma virgem mortal mas tão bela, que os<br />

homens passaram a adorá-la em detrimento da própria<br />

deusa da Beleza.²¹ Esta, por vingança, pediu ao filho<br />

que fizesse a donzela apaixonar-se pelo homem mais<br />

feio, pobre e indigno. Todavia, Cupido enamorou-se<br />

da jovem e, sob a forma de voz incorpórea, ocultando<br />

a identidade e o aspecto, tomou-a em segredo e fê-la<br />

jurar que jamais tentaria descobrir o aspecto do ente<br />

amado. Mas, curiosa por natureza e ainda incitada<br />

pelas irmãs, <strong>Psique</strong> não resistiu à tentação e, numa<br />

noite, aproximou uma lamparina do rosto do marido<br />

que dormia a seu lado.<br />

Quando o descobria, teve, contudo, o infortúnio<br />

de deixar cair sobre ele uma gota de azeite quente,<br />

acordando-o. Sentindo-se traído, o deus fugiu. <strong>Psique</strong>,<br />

assim relacionada com a Alma inquieta e ávida de<br />

descoberta, foi imediatamente abandonada pelo<br />

Amor e posteriormente punida pela Beleza. Revoltada<br />

com o desaparecimento do filho, Vénus forçou a<br />

jovem a vários castigos e, num deles, <strong>Psique</strong> teve de<br />

descer ao infernal mundo de Hades para de lá trazer<br />

uma boceta fechada com um pouco da formosura de<br />

Prosérpina. Embora esta se destinasse à deusa mãe,<br />

<strong>Psique</strong> não resistiu à tentação de abrir o recipiente e<br />

aspergir-se, mas logo descobriu o logro quando inalou<br />

um aroma soporífero que a induziu em sono profundo.<br />

Arrependido pela fuga e tomado pela saudade, Cupido<br />

conseguiu acordá-la usando o poder do Amor²². Com a<br />

permissão de Zeus e a reconciliação de Vénus, <strong>Psique</strong><br />

foi tornada imortal e uniu-se a Cupido.<br />

¹⁸ Hesíodo, Teogonia, apud GRIMAL, 1992, p. 148.<br />

¹⁹ Platão, Simpósio e O Banquete, apud GRIMAL, 1992, p. 148.<br />

²⁰ Lucius Apuleius nasceu em Madaura, actual Argélia, c.125 d.C., e faleceu<br />

em Cartago, c.180 d.C..<br />

²¹ APULEIO, 1990, pp. 81-119.<br />

²² Tradições diversas defendem que <strong>Eros</strong> terá acordado <strong>Psique</strong> com um<br />

beijo ou com uma flecha, embora a primeira versão tenha colhido mais<br />

frutos no meio poético e artístico – cfr. GRIMAL, 1992, p. 400.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!