Unificacao_das_policias_civil_e_militar_Fevereiro_2010
Unificacao_das_policias_civil_e_militar_Fevereiro_2010
Unificacao_das_policias_civil_e_militar_Fevereiro_2010
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Claudionor Rocha 6<br />
corre o autor que “quanto mais dividida a sociedade, quanto mais conflituoso seu pluralis-<br />
mo, tantos maiores são as possibilidades de a polícia de repressão (polícia criminal) ser re-<br />
lativamente a mais desenvolvida”, complementando que “quanto mais consensual e des-<br />
centralizado o poder, mais os controles sociais internos são poderosos e limitam a delin-<br />
quência organizada, mais o aparato policial é limitado à polícia de segurança pública, vigia<br />
urbana”. Ao classificar os modelos de policiamento conforme a prevalência de uma ou<br />
outra modalidade, Monjardet aponta, dentre oito modelos, o que reputamos mais adequado<br />
à atuação cidadã, em que se “associa polícia local forte e polícia judiciária forte com um<br />
aparato policial de Estado relativamente fraco”. 5<br />
A polícia política é o que Reiner designa como “alto-policiamento”, enquanto o<br />
“baixo-policiamento” seria a voltada para a aplicação da lei e a manutenção da ordem. 6 A<br />
interpenetração dos modelos e <strong>das</strong> modalidades de policiamento é que dão o traço local de<br />
cada polícia.<br />
Outra característica marcante <strong>das</strong> polícias, que às vezes tornam seu modo de atua-<br />
ção diferenciado, é o fato de serem instituições de caráter <strong>civil</strong> ou <strong>militar</strong>. Esta é, aliás, uma<br />
<strong>das</strong> argumentações daqueles que propugnam por uma des<strong>militar</strong>ização <strong>das</strong> polícias <strong>militar</strong>es<br />
no Brasil, sob a alegação de que noutros países as polícias têm feitio <strong>civil</strong>.<br />
Na verdade há várias polícias estrangeiras de cunho <strong>militar</strong>, como a Gendarmerie<br />
francesa (espécie de guarda nacional), a Guardia Civil espanhola, a Arma dei Carabinieri italia-<br />
na, os Carabineros de Chile e outros. 7 Ao lado dessas, porém, quase sempre há uma institui-<br />
ção policial de caráter <strong>civil</strong>, como a Police Nationale, na França e Los Mossos d’Esquadra, na<br />
Espanha (Catalunha).<br />
Na Alemanha, Estados Unidos e Grã-Bretanha, entretanto, as forças policiais têm<br />
caráter <strong>civil</strong>. To<strong>das</strong> as referências a Military Police, por exemplo, remetem às polícias <strong>das</strong><br />
forças arma<strong>das</strong>, como é o caso, no Brasil, da Polícia do Exército (PE), Polícia da Aeronáu-<br />
tica (PA) e órgãos equivalentes da Marinha.<br />
3 A POLÍCIA BRASILEIRA<br />
Para compreendermos as características <strong>das</strong> polícias brasileiras, bem como a origem<br />
da discussão sobre unificação e as razões aponta<strong>das</strong> para tanto, é necessário conhecermos o<br />
5 MONJARDET, Dominique. O que faz a polícia: sociologia da força pública. p. 281 e seguintes.<br />
6 REINER, Robert. A política da polícia. p. 29.<br />
7 Gendarmerie vem de gens d’arme (gente de armas, isto é, <strong>militar</strong>es), sendo que o próprio policial francês dessa<br />
força é conhecido como gendarme. Não obstante o nome, a Guardia Civil tem estrutura <strong>militar</strong>. Assim como<br />
a Arma dei Carabinieri e os Carabineros de Chile, to<strong>das</strong> essas forças são vincula<strong>das</strong> a um ministério <strong>militar</strong>, como<br />
o da Defesa, enquanto as demais forças policiais de caráter <strong>civil</strong> são subordina<strong>das</strong> ao Ministério do Interior ou<br />
equivalente.<br />
6