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Alma Africana no Brasil Os iorubás - Quilombo Ilha

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Introdução<br />

Na sala de minha casa, confortavelmente instalada na poltrona velha, inicio a redação<br />

deste livro sobre os <strong>iorubás</strong>. Sua presença constante e intensa em minha vida nestes últimos<br />

quinze a<strong>no</strong>s revela-se através de alguns sinais físicos: sobre os móveis, estatuetas de orixás -<br />

Ifa, Ibeji, Egungun; nas paredes, o mapa da Nigéria e fotos de ancestrais dos meus filhos. Em<br />

minha alma, impregnada dos efeitos da convivência contínua com <strong>iorubás</strong>, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e na<br />

Nigéria, enriquecida pelo contato com sua forma particular de apreender o sentido do mundo e<br />

da existência humana, vibra forte o desejo de realizar uma apresentação desse povo. Não<br />

porque essa tarefa jamais tenha sido empreendida. Não. É grande o número de autores<br />

empenhados nisso. Apenas participo com pequena parcela, do projeto coletivo de construção<br />

do conhecimento, o mais fiel possível, a respeito desse grande grupo africa<strong>no</strong>, tão significativo<br />

para nós brasileiros.<br />

Tenho constatado que a palavra iorubá, exceto para grande parte dos iniciados <strong>no</strong><br />

Candomblé 1 , é quase desconhecida, e que mesmo nagô, vocábulo mais divulgado, é ainda<br />

pouco conhecido - muito me<strong>no</strong>s do que poderíamos esperar considerando-se a significativa<br />

participação desse grupo étnico na constituição da sociedade e cultura brasileiras.<br />

Algumas vezes fui solicitada a apresentar a alu<strong>no</strong>s de primeiro e segundo graus um relato<br />

de minha experiência com os <strong>iorubás</strong> e lamentei profundamente a grande carência de<br />

informações a respeito dos africa<strong>no</strong>s em seus países de origem e <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. De fato, entristece<br />

constatar que a força do sangue africa<strong>no</strong> na constituição do povo brasileiro não recebe o<br />

devido reconhecimento.<br />

O convívio íntimo com <strong>iorubás</strong>, aqui e na Nigéria, <strong>no</strong>s últimos treze a<strong>no</strong>s, favoreceu<br />

bastante a definição de meu campo de pesquisas e o desenvolvimento de meus projetos. O<br />

primeiro trabalho de fôlego realizado nesse percurso foi a tese de doutorado em Psicologia<br />

(Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo) intitulada A Mulher, o Tempo e a Morte.<br />

O envelhecimento femini<strong>no</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e na Nigéria (Iorubás). Nesse trabalho explorei possíveis<br />

relações entre crença <strong>no</strong> post-mortem e atitudes de mulheres frente ao próprio<br />

envelhecimento. Devo confessar que motivos pessoais me levavam a tentar aprender com<br />

outros povos, formas de envelhecer me<strong>no</strong>s ameaçadoras que as por mim conhecidas na<br />

experiência de mulher ocidental.<br />

Durante aqueles a<strong>no</strong>s em que trabalhava os temas do envelhecimento e da morte, vivia<br />

em minha vida pessoal, a rica experiência de tentar ser mãe <strong>no</strong>vamente. Já me aproximava<br />

dos quarenta a<strong>no</strong>s de idade, tinha três filhos do primeiro casamento e era laqueada, portanto<br />

1 Candomblé, de<strong>no</strong>minação originária do termo kandombile, cujo significado é culto e oração, constitui<br />

um modelo de religião que congrega sobrevivências étnicas da África e que encontrou <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, campo<br />

fértil para sua disseminação e reinterpretação (Lody, 1987:8)<br />

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