Alma Africana no Brasil Os iorubás - Quilombo Ilha
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Prefácio<br />
O continente africa<strong>no</strong>, apesar de apresentar-se geograficamente em bloco unido, esconde<br />
uma certa diversidade cultural, lingüística, biológica e política.<br />
Entre os africa<strong>no</strong>s trazidos ao <strong>Brasil</strong> durante o tráfico negreiro para satisfazer as<br />
necessidades do escravismo havia uma diversidade de origens diluída através dos processos<br />
de mestiçagem, de transculturação e de sincretismo aos quais foram submetidos <strong>no</strong> <strong>no</strong>vo<br />
mundo, além de outros mecanismos de nivelamento entre eles. Mas, embora pelo me<strong>no</strong>s 45%<br />
dos brasileiros tenham ancestrais oriundos da África, esta permanece até hoje um dos<br />
continentes mal e me<strong>no</strong>s conhecidos comparativamente aos demais que contribuíram para a<br />
formação do povo brasileiro.<br />
A <strong>Alma</strong> <strong>Africana</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: os <strong>iorubás</strong>, de Ronilda Iyakemi Ribeiro se propõe a contribuir<br />
para o preenchimento dessa lacuna: levar os brasileiros a redescobrirem uma de suas<br />
múltiplas fontes culturais. Em vez de pintar uma África única, unitária e simplificada, a autora<br />
se limita neste livro a falar principalmente do segmento étnico iorubá da Nigéria cuja<br />
contribuição à cultura brasileira, essencialmente <strong>no</strong> domínio religioso, é significativa.<br />
A autora descreve os <strong>iorubás</strong> <strong>no</strong> seu berço africa<strong>no</strong>, de um lado, e tenta a partir desse<br />
pa<strong>no</strong> de fundo cultural africa<strong>no</strong> enfocar as influências e o impacto cultural trazidos para a<br />
cultura brasileira. Sem dúvida, a obra apresenta uma diversidade temática compilando dados<br />
históricos, sócio-políticos, religiosos etc... o que de<strong>no</strong>ta a preocupação da autora em fornecer<br />
um quadro o mais completo possível de informações sobre os <strong>iorubás</strong>.<br />
Não seria desnecessário chamar a atenção do leitor para o fato de que a Dra. Iyakemi<br />
Ribeiro, apesar de ser uma brasileira autêntica, apresenta neste livro a imagem de uma pessoa<br />
situada entre dois mundos culturais. De um lado, o mundo iorubá, cuja visão de mundo admira<br />
e integrou como sua. De outro lado, o <strong>Brasil</strong> branco e suas contribuições culturais, do qual ela<br />
também faz parte por sua ascendência. Seria uma falsa ambivalência, pois apesar de seus<br />
cabelos louros e olhos azuis, a Dra. Iyakemi é uma pessoa que vive a cultura brasileira<br />
resultante de todas as contribuições historicamente recebidas e que assume e cultua<br />
plenamente, como seus, os ancestrais e os deuses de origem africana que, penso eu,<br />
pertencem hoje a todos os brasileiros.<br />
<strong>Os</strong> leitores sentirão obviamente um certo envolvimento da autora com o sujeito-objeto de<br />
sua obra. A paixão, a emoção, a parte prise, outrora consideradas elementos<br />
metodologicamente negativos são hoje vistas como fazendo parte do processo do<br />
conhecimento e portanto positivas quando bem dosadas. Pessoalmente, vejo neste<br />
envolvimento huma<strong>no</strong> um dos aspectos mais bonitos da contribuição da Dra. Iyakemi Ribeiro<br />
em seu esforço para melhor fazer conhecer os <strong>iorubás</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />
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