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Alma Africana no Brasil Os iorubás - Quilombo Ilha

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dos 'primórdios'... Em suma, os mitos descrevem as diversas, e algumas vezes dramáticas<br />

irrupções do sagrado <strong>no</strong> Mundo. É essa irrupção do sagrado que realmente fundamenta o<br />

Mundo e o converte <strong>no</strong> que é hoje.<br />

Segundo essa concepção, o homem atual resulta diretamente daqueles eventos míticos,<br />

ou seja, é constituído por aqueles eventos. O mito narra as histórias primordiais, o ocorrido <strong>no</strong>s<br />

tempos míticos. Tais acontecimentos compõem uma História Sagrada, por serem seus atores<br />

os Entes Sobrenaturais. O homem das sociedades arcaicas rememora a história mítica de sua<br />

tribo e a reatualiza, em grande parte, através dos ritos: conhecendo a origem de um objeto,<br />

animal ou planta e repetindo os gestos criadores dos Entes Sobrenaturais, o homem busca<br />

reproduzir o poder mágico-religioso sobre o mundo, através do retor<strong>no</strong> mágico à origem e da<br />

reiteração do Ato Criador.<br />

Ao reatualizar os mitos através dos ritos, o homem escapa do tempo profa<strong>no</strong>, cro<strong>no</strong>lógico<br />

e penetra <strong>no</strong> tempo sagrado, simultaneamente primordial e recuperável a qualquer momento e<br />

para sempre. Viver os mitos não significa realizar uma comemoração de eventos míticos e sim,<br />

reiterá-los. Ao invocar a presença dos personagens dos mitos, o indivíduo torna-se seu<br />

contemporâneo, ou seja, deixa de existir exclusivamente <strong>no</strong> tempo cro<strong>no</strong>lógico e passa a viver,<br />

com eles, <strong>no</strong> Tempo Primordial, tempo forte, prodigioso, sagrado, em que algo de <strong>no</strong>vo,<br />

significativo e forte, ocorreu pela primeira vez. Nesse contexto, alta importância adquire o<br />

conhecimento, entre outros, da correta forma de realizar as evocações. Sendo a Tradição Oral<br />

o reservatório dessas fórmulas, é a ela que se deve recorrer. A correta realização dos rituais e<br />

o uso da palavra certa compõem o quadro de exigências básicas para que se passe do tempo<br />

cro<strong>no</strong>lógico ao primordial. Num Iba Sango (Saudação a Xangô), apresentado por Salami<br />

(1990), encontramos uma fórmula de evocação do Tempo:<br />

Mo juba akoda<br />

Mo juba aseda<br />

Atiyo ojo<br />

Otiwo oorun<br />

Okanlerugba irunmole<br />

B'ekekolo ba juba ile<br />

Ile a lanu fun<br />

Olojo oni<br />

Iba re o<br />

Eu saúdo os primórdios da Existência<br />

Saúdo o Criador<br />

Saúdo o sol nascente<br />

Saúdo o sol poente<br />

Saúdo as duzentas e uma divindades<br />

Quando a minhoca saúda a terra<br />

a terra se abre para que ela entre<br />

Oh, Senhor do hoje<br />

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