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Alma Africana no Brasil Os iorubás - Quilombo Ilha

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Através das genealogias, indivíduos do período sasa acham-se firmemente vinculados a<br />

outros do período zamani, tornando-se contemporâneos. Assim, cada homem vive <strong>no</strong> contexto<br />

de próprio sasa, rumo ao zamani coletivo.<br />

Lembremos que as atividades religiosas africanas incluem a realização de cultos aos já-<br />

idos. A oferenda de bebidas e alimentos aos mortos-viventes constituem símbolos de<br />

lembrança, comunhão e cordialidade. Considera-se que os mortos-viventes ressentem-se<br />

muito do esquecimento dos parentes que, por sua vez, procuram zelar deles com carinho, por<br />

amor e para que não lhes advenham doenças e infortúnios, conseqüências inevitáveis do<br />

esquecimento.<br />

Alguns autores africa<strong>no</strong>s tecem críticas a Mbiti. Entre eles, a iorubá Oduyoye (1971) que,<br />

realizando estudos de Filologia Comparada, procurou verificar as possíveis rotas de origem de<br />

vocábulos e termos referentes ao tempo. Procurou <strong>no</strong> árabe, <strong>no</strong> hebraico e em idiomas do<br />

Médio Egito a origem de palavras <strong>iorubás</strong>, buscando comparar formas verbais de distintos<br />

idiomas africa<strong>no</strong>s. Segundo essa autora, os <strong>iorubás</strong> dizem ni sisi yi para designar agora, neste<br />

exato instante, sendo que sisi corresponde ao sasa dos swahili, tendo ambos, origem hamito-<br />

semítica. Considera Mbiti equivocado em suas considerações a respeito do significado de<br />

sasa.<br />

Kagame (1975:49), por sua vez, <strong>no</strong> texto Apercepção empírica do tempo e concepção da<br />

história <strong>no</strong> pensamento bantu, assinala que Mbiti explicitou fartamente, porém de modo<br />

equivocado, ao que parece, pois não exprime de maneira firme e exclusiva a idéia de<br />

'passado'. Fundamenta sua crítica citando Ch. Sacleux, respeitável organizador de um<br />

dicionário swahili-francês, que assim apresenta o verbete zamani: tempo, época, momento;<br />

usado <strong>no</strong> plural (zamani za) como <strong>no</strong> singular (zamani ya), <strong>no</strong> tempo de, do tempo de, na<br />

época de, <strong>no</strong>s séculos de, na idade de (falando-se de um período de tempo). Zamani za kale,<br />

<strong>no</strong>s tempos passados, antigamente, na antigüidade, outrora, há muito tempo. Zamani za sasa,<br />

<strong>no</strong>s tempos atuais.<br />

Embora sujeito a críticas o trabalho de Mbiti aborda o importante tema das relações entre<br />

tempo cíclico e tempo intemporal. Tempo intemporal ou eternidade (a eternidade imutável) e<br />

tempos cíclicos, apoiados <strong>no</strong> anterior. Vivemos <strong>no</strong>rmalmente com a consciência <strong>no</strong> tempo<br />

cíclico e intuímos a existência de um tempo eter<strong>no</strong> - une durée creatice, <strong>no</strong> dizer de Bergson,<br />

uma duração subjacente que, por vezes, interfere <strong>no</strong> tempo cíclico.<br />

Hama e Ki-Zerbo (1982:62) reforçam muitos dos dados apresentados acima e<br />

acrescentam outros: O tempo africa<strong>no</strong> tradicional engloba e integra a eternidade em todos os<br />

sentidos. As gerações passadas não estão perdidas para o tempo presente. À sua maneira,<br />

permanecem sempre contemporâneas e tão influentes, se não mais, quanto o eram durante a<br />

época em que viviam. O sangue dos sacrifícios de hoje reconforta os ancestrais de ontem.<br />

Tudo é onipresente nesse tempo intemporal do pensamento animista, <strong>no</strong> qual a parte<br />

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