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Ano VIII - n. 12 2010 - Faculdade Christus

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O papel dos movimentos sociais como ferramenta de justiça e emancipação social:<br />

um diálogo entre Boaventura de Sousa Santos e Zygmunt Bauman<br />

a compatibilidade existente entre o capitalismo – sempre hostil à<br />

redistribuição demo-liberais ou demo-socialistas. O colapso desta<br />

estratégia levou à desintegração da tensão, já muito atenuada, entre<br />

a regulação social e a emancipação social. Mas, uma vez que a<br />

tensão habitava o modelo político no seu todo, a desintegração da<br />

emancipação social acarretou consigo a desintegração da regulação<br />

social. Daí a dupla crise de regulação e de emancipação em que nos<br />

encontramos hoje, uma crise em que o conservadorismo floresce<br />

sob o nome enganador de neoliberalismo. 5<br />

Entrementes, diante do descompasso de forças entre o capital e o trabalho<br />

e das crises próprias da modernidade, é imprescindível a adesão maciça da<br />

sociedade, verdadeira “fábrica de significados” 6 , que comumente vem sendo<br />

convencida por instrumentos da globalização hegemônica de que tudo está<br />

sob controle, que inexistem imbróglios laborais, ou que há impasses insolúveis<br />

para todos e para sempre, disseminando o senso de impotência nos indivíduos,<br />

postados como responsáveis. No mesmo sentido, Santos7 sinaliza que toda e<br />

qualquer discussão acerca da emancipação social se vê suprimida pela globalização<br />

neoliberal, uma vez que, segundo esta, a ordem e a sociedade boas já estão<br />

conosco, carecendo apenas de consolidação, o que é impossível e desperdiça<br />

enormemente as experiências proporcionadas pela convivência em sociedade.<br />

Tem-se tolhido a energia da transcendência, como propalado por Bauman,<br />

que mantém a “ordem social” em movimento, diante da rotulação de determinados<br />

significados, nos quais se incluem as lutas de classe, como se pode destacar:<br />

[...] os significados da vida não podem ser separados em ‘corretos’ e<br />

‘incorretos’, ‘verdadeiros’ ou ‘fraudulentos’. Eles trazem satisfações<br />

que diferem em completude, profundidade e duração emocional,<br />

mas todos ficam aquém da genuína e necessária satisfação. 8<br />

Para tanto, urge a divulgação dos reais significados das lutas que começam<br />

nas relações de trabalho mantidas ou pretendidas, não divulgados enfaticamente,<br />

mas intencionalmente produzidos como inexistentes por instrumento da globalização<br />

hegemônica. Santos afirma que, em resumo, a globalização hegemônica<br />

neoliberal atingiu um paradigma jurídico e político que tem um âmbito global,<br />

inspirado numa visão altamente seletiva da tradição ocidental, de forma que tal<br />

paradigma está em vias de ser imposto em todo o sistema-mundo. Conclui que<br />

a questão da relação entre o direito e a emancipação social, não obstante ser,<br />

historicamente, uma questão ocidental, pode agora vir a se transformar numa<br />

questão global. 9 Situação universalizante que reduz em muito a significação<br />

da emancipação social, desperdiçando experiências contrárias ou que possam<br />

interagir com tal paradigma global.<br />

O mercado desvirtua propositalmente o foco dos movimentos para a<br />

sociedade, apregoando-os como inexistentes ou de fácil solução, e rotula os<br />

reivindicantes como insufladores para deslegitimar as lideranças e fragilizar as<br />

lutas invitadas. Investe-se na mídia para bombardear a sociedade com a enfa-<br />

REVISTA OPINIÃO JURÍDICA 31

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