teoria da literatura III.indd - Universidade Castelo Branco
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transformar numa renovação em todos os domínios.<br />
Na Itália, antes de Leonardo [Leonardo <strong>da</strong> Vinci,<br />
1452-1519], teríamos de citar Petrarca [Francesco<br />
Petrarca, 1304-1374], Dante [Dante Alighieri, 1265-<br />
1321], Cennini [Cenino Cennini, escreveu o livro Il<br />
Libro Dell’Arte – século XV] e Alberti [Leon Battista<br />
Alberti, arquiteto, 1404-1472], e na França, Jean<br />
Pelerin [1445-1524] conhecido por Viator, Androuet<br />
du Cerceau [1515-1584] ou Bernard Palissy [1510-<br />
1590] e os teóricos <strong>da</strong> Plêiade. O concurso de todos<br />
permite que se formule uma estética <strong>da</strong> Renascença,<br />
sintetiza<strong>da</strong> em Vinci (Leonard <strong>da</strong> Vinci), sem que,<br />
to<strong>da</strong>via, sejam sua fonte, e cujos principais temas<br />
são os que se seguem.<br />
Em primeiro lugar, a arte é considera<strong>da</strong>, em sua<br />
essência, como um estudo <strong>da</strong> natureza. Fórmula<br />
breve, de imenso significado, com dois grandes<br />
aspectos: primeiro, o aspecto óbvio, técnico e quase<br />
pe<strong>da</strong>gógico – o artista deve estu<strong>da</strong>r a natureza. O<br />
corpo humano, a paisagem devem ser desenhados<br />
sem disfarce, e para isso carecem ser estu<strong>da</strong>dos<br />
a fundo. Então, quantas descobertas admiráveis!<br />
Aproxima<strong>da</strong>mente ao mesmo tempo em que Cristóvão<br />
Colombo descobre a América, Leonardo <strong>da</strong><br />
Vinci descobre o claro-escuro. Sem paradoxo, essa<br />
segun<strong>da</strong> descoberta, de vastas conseqüências, amplia,<br />
prodigiosamente, como a primeira, o mundo humano.<br />
Com efeito, isso signifi ca que, entre o ponto mais<br />
claro e o escuro do que lhes atrai a atenção, o olho<br />
e a alma do homem percebem a existência de um<br />
imenso intervalo, ricamente povoado de inúmeras<br />
presenças. E assim, durante quatro séculos, viveu a<br />
arte em função desse intervalo, tomado como meio<br />
de expressão.<br />
O segundo aspecto diz respeito ao conhecimento<br />
estético. A Renascença, que estabelecera, para a<br />
ciência moderna, fun<strong>da</strong>mentos ain<strong>da</strong> hoje válidos, jamais<br />
opôs o conhecimento estético ao científi co. São<br />
idênticas as forças que operam nos dois domínios. A<br />
mesma Florença que, no século XVI, se não chegou a<br />
ser a capital <strong>da</strong> arte européia, no mínimo, foi uma <strong>da</strong>s<br />
suas capitais; no século XVII, tornou-se, igualmente,<br />
uma <strong>da</strong>s capitais <strong>da</strong> ciência (IBIDEM: 12-13).<br />
Classicismo: O Classicismo [século XVI] encerra<br />
to<strong>da</strong> uma estética que não se congraça com alguns<br />
pensamentos de teóricos desse período, privado de<br />
um nome ver<strong>da</strong>deiramente importante na estética<br />
fi losófi ca. Por defi nição, o classicismo é a doutrina,<br />
segundo a qual, a criação artística, por mais inovadora<br />
que seja, deve permanecer fi el a um modelo,<br />
seja ideal ou encarnado em obras conheci<strong>da</strong>s. Poderá<br />
haver, pois, tantas formas de classicismo, quantos<br />
forem os modelos. Por exemplo, uma, segundo Virgílio,<br />
outra, segundo Cícero, ou Dante, ou Shakespeare.<br />
To<strong>da</strong>via, o classicismo histórico do século XVII<br />
acreditou poder fun<strong>da</strong>mentar na razão a escolha de<br />
seu modelo (IBIDEM: 14-15).<br />
Vocabulário<br />
Operam – realizam; trabalham.<br />
Paradoxo – que tem opinião contrária à comum;<br />
aparente falta de lógica; contradição.<br />
Perspectiva – forma ou aparência sob a qual algo<br />
se apresenta.<br />
Plêiade – reunião de sete pessoas ilustres; grupo<br />
de homens ou literatos famosos.<br />
Ponto de vista do Barroco: O Barroco é a exuberância<br />
<strong>da</strong>s formas proliferando em liber<strong>da</strong>de, sem as<br />
restrições e as aparas do classicismo. Formas, não<br />
obstante, harmoniosas. A harmonia, preserva<strong>da</strong> na<br />
riqueza, e a estética <strong>da</strong> graça, preferi<strong>da</strong> à <strong>da</strong> beleza,<br />
não permitem linha tranqüila. A filosofia desse<br />
sentido estético é a de Leibniz [Gottfried Wilhelm<br />
von Leibniz, 1646-1716], o fi lósofo barroco por<br />
excelência, para quem não há vácuo na natureza,<br />
pois inexiste razão para que Deus não o tivesse<br />
preenchido com alguma coisa; e para quem, outrossim,<br />
nosso universo, por mais denso que seja, goza<br />
de harmonia preestabeleci<strong>da</strong> entre suas partes, to<strong>da</strong>s<br />
vivas e anima<strong>da</strong>s. A inexistência de uma estética de<br />
Leibniz é apenas no sentido formal, por não ter ele<br />
consagrado, expressamente, parte de seu sistema<br />
às questões pertinentes à arte e ao belo. To<strong>da</strong>via,<br />
reencontra-se nele, freqüentemente, uma espécie de<br />
justifi cação estética <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, que já assinalamos<br />
em Santo Agostinho.<br />
Evoca sempre a idéia implícita de Deus artista, e a<br />
de sua obra, o mundo, não somente como o melhor,<br />
mas, o mais belo possível, como quando, por exemplo,<br />
em Monadologia apresenta o conceito de que<br />
ca<strong>da</strong> substância é um espelho vivo e eterno do universo,<br />
de maneira que, assim como uma ci<strong>da</strong>de, vista<br />
de diferentes lados, é multiplica<strong>da</strong>, em perspectiva,<br />
embora guar<strong>da</strong>ndo sua uni<strong>da</strong>de, as mona<strong>da</strong>s não nos<br />
dão senão as perspectivas de um só universo – acrescentando,<br />
como justifi cação (Monadologia, 58): “É o<br />
meio de obter tanta varie<strong>da</strong>de quanto possível, mas<br />
dentro <strong>da</strong> maior ordem possível, ou melhor, é o meio<br />
de se obter a máxima perfeição possível”. Segundo<br />
essa estética, a uni<strong>da</strong>de na varie<strong>da</strong>de, o máximo de<br />
ordem na máxima riqueza é, certamente, uma evocação<br />
ao belo e quase sua defi nição.<br />
Se acrescentarmos que Leibniz foi quem primeiro<br />
descobriu fi losofi camente o inconsciente, e que certos<br />
românticos, que atribuíram ao inconsciente um lugar<br />
defi nido em sua estética (como Goethe), vinculam-se,<br />
nesse ponto, a Leibniz, compreenderemos a fecundi<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> estética leibniziana (IBIDEM: 16-17).