20.06.2013 Views

teoria da literatura III.indd - Universidade Castelo Branco

teoria da literatura III.indd - Universidade Castelo Branco

teoria da literatura III.indd - Universidade Castelo Branco

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

46<br />

Federico Garcia<br />

o sol de uma luz trazi<strong>da</strong><br />

e aziaga<br />

te cortava como lâminas<br />

de três gritantes guitarras<br />

E, an<strong>da</strong>luz valente<br />

Passavas poesia no tempo<br />

Federico Garcia<br />

guar<strong>da</strong> civiles de touros<br />

e de praças<br />

não te cobriam de pedras<br />

Por entre as rimas fi ltraram<br />

vozes irmãs <strong>da</strong>s estrelas<br />

que trocariam contigo<br />

essa barca sob o sol<br />

2.6 – Poema em Prosa ou Prosa Poética<br />

Poema em Prosa ou Prosa Poética<br />

A poesia pode estar conti<strong>da</strong> numa linguagem versifi -<br />

ca<strong>da</strong> ou em prosa. Quando ocorre a segun<strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de,<br />

dá-se o poema em prosa ou prosa poética. De um<br />

modo geral, haverá prosa poética quando concorrerem<br />

as seguintes características:<br />

a)Conteúdo lírico ou emotivo;<br />

b)Recriação lírica <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de;<br />

c)Utilização artística do poético;<br />

d)Linguagem conotativa, carga lírica <strong>da</strong>s palavras,<br />

devido à capaci<strong>da</strong>de que as mesmas apresentam de<br />

sugerir idéias, visões, imagens, por meio de imitações<br />

sonoras, melódicas e rítmicas (...).<br />

Exemplo: “Verdes mares bravios de minha terra natal,<br />

onde canta a jan<strong>da</strong>ia nas frondes <strong>da</strong> carnaúba; verdes<br />

mares que brilhais, como líqui<strong>da</strong> esmeral<strong>da</strong> aos raios do<br />

sol nascente, perlongando as alvas praias ensombra<strong>da</strong>s<br />

de coqueiros!” (J. de Alencar, in: Iracema).<br />

Poderíamos até dispor o período alencariano em<br />

forma de versos:<br />

Verdes mares bravios (6)<br />

Da minha terra natal (7)<br />

Onde canta a jan<strong>da</strong>ia (6)<br />

Nas frondes <strong>da</strong> carnaúba (7)<br />

Verdes mares que brilhais (7)<br />

Como líqui<strong>da</strong> esmeral<strong>da</strong> (7)<br />

Aos raios do sol nascente (7)<br />

Perlongando as alvas praias (7)<br />

Ensombra<strong>da</strong>s de coqueiros (7)<br />

O ritmo melódico pode ser encontrado na prosa<br />

poética, mas não constitui elemento fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong><br />

mesma. Se assim fosse, teríamos prosa versifi ca<strong>da</strong>,<br />

o que não é o mesmo. Ele [o ritmo melódico] pode<br />

(como muitas vezes acontece) ser simultâneo com os<br />

outros elementos, mas não como elemento primacial<br />

(TAVARES, op. cit.: 172-173).<br />

(In: SAMUEL, Rogel. Poemas. 1. ed. Rio de Janeiro,<br />

1990: 122. (Exemplar N.º 3: Esta primeira edição do<br />

volume de Poemas de Rogel Samuel foi tira<strong>da</strong> em nove<br />

exemplares numerados e rubricados pelo autor)<br />

Leitura de Prosa Poética<br />

Iracema (trecho do 1º capítulo)<br />

Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta<br />

a jan<strong>da</strong>ia nas frondes <strong>da</strong> carnaúba;<br />

Verdes mares que brilhais como líqui<strong>da</strong> esmeral<strong>da</strong><br />

aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias<br />

ensombra<strong>da</strong>s de coqueiros;<br />

Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga<br />

impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale<br />

à fl or <strong>da</strong>s águas.<br />

Onde vai a afouta janga<strong>da</strong>, que deixa rápi<strong>da</strong> a costa<br />

cearense, aberta ao fresco terral a grande vela?<br />

Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo<br />

pátrio nas solidões do oceano?<br />

Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando<br />

veloce, mar em fora.<br />

Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue<br />

americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz<br />

no berço <strong>da</strong>s fl orestas, e brincam irmãos, fi lhos ambos<br />

<strong>da</strong> mesma terra selvagem.<br />

A lufa<strong>da</strong> intermitente traz <strong>da</strong> praia um eco vibrante,<br />

que ressoa entre o marulho <strong>da</strong>s vagas:<br />

– Iracema!<br />

O moço guerreiro, encostado ao mastro, leva os olhos<br />

presos na sombra fugitiva <strong>da</strong> terra; a espaços o olhar<br />

empanado por tênue lágrima cai sobre o jirau, onde<br />

folgam as duas inocentes criaturas, companheiras de<br />

seu infortúnio.<br />

Nesse momento o lábio arranca d’alma um agro<br />

sorriso.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!