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Revista do WEA´2010/2011 - Faccamp

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no interior deste sistema ultrapassa os limites de sua<br />

consciência individual” (BAKHTIN, 1999, p. 79). Para<br />

esta tendência só existe um critério lingüístico: está certo<br />

ou erra<strong>do</strong>, de acor<strong>do</strong> com uma dada regra <strong>do</strong> sistema<br />

normativo da língua. A segunda corrente tem como<br />

representante Wilheim Humboldt e entende a linguagem<br />

como um ato individual de fala, ou seja, a origem da<br />

linguagem está no sujeito. É ele quem produz a língua. A<br />

linguagem é mera expressão <strong>do</strong> pensamento, num ato<br />

desloca<strong>do</strong> de questões externas ao sujeito.<br />

Esse artigo vem contrapor as duas concepções acima<br />

mencionadas e objetiva destacar uma concepção de<br />

linguagem que é produzida nas diferentes práticas sociais<br />

e em diversas situações, ou seja, a linguagem é<br />

produzida pelo homem e, portanto, tem relação histórica e<br />

social com o momento em que este vive, sen<strong>do</strong> que por<br />

ela perpassam valores sociais que refletem a realidade<br />

peculiar de cada pessoa.<br />

Segun<strong>do</strong> a concepção colocada por Bakhtin, to<strong>do</strong><br />

enuncia<strong>do</strong> prevê a ocorrência de outro. Não há enuncia<strong>do</strong><br />

sem o dialogismo, pois se há um primeiro enuncia<strong>do</strong>,<br />

haverá a incidência de outro enuncia<strong>do</strong>, uma réplica, de<br />

acor<strong>do</strong> com o que foi coloca<strong>do</strong> anteriormente. Há uma<br />

relação constante entre interlocutores.<br />

Essa concepção de linguagem é atribuída então com o<br />

senti<strong>do</strong> de atividade e, portanto como forma de ação e<br />

interação (KOCH, 2001). Produzimos linguagem e assim<br />

damos forma a ela.<br />

Para cada modalidade de uso da língua há determinadas<br />

práticas sociais. A oralidade é prática social da fala. O<br />

letramento é prática social da escrita. Ambas tratam-se de<br />

práticas linguísticas, portanto cabe afirmar que na<br />

realidade não há divisão entre oralidade e letramento pelo<br />

fato de escrita e fala serem essenciais para as atividades<br />

comunicativas.<br />

Podemos tomar a oralidade como competência<br />

comunicativa e interativa (o ato da fala propriamente<br />

dita) e como prática social interativa para fins<br />

comunicativos, como trataremos a seguir, além da<br />

oralidade como objeto de ensino.<br />

2. O CONTINUUM FALA E ESCRITA<br />

Dos anos 50 aos 80 <strong>do</strong> século XX (MARCUSCHI, 2001),<br />

os estudiosos defendiam que a invenção da escrita<br />

alfabética trazia consigo uma “grande divisão”, teoria<br />

essa que separa oralidade e escrita, e, conseqüentemente,<br />

mostra a supremacia da escrita em relação à oralidade,<br />

colocan<strong>do</strong>-as em lugares opostos, e deixan<strong>do</strong>, durante<br />

muito tempo, a oralidade relegada em segun<strong>do</strong> plano.<br />

Assim, herdamos dessa época uma supervalorização da<br />

escrita. Por fazermos parte de uma sociedade<br />

grafocêntrica, nos acostumamos a não dar tanta<br />

importância à oralidade quanto damos à escrita.<br />

Atas <strong>do</strong> VII Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Campo Limpo Paulista.<br />

WEA’2010/<strong>2011</strong>, 12 de março de <strong>2011</strong>’, Campo Limpo Paulista, SP, Brasil.<br />

63<br />

Cotidianamente, o juízo de valor que se tem de ambas é de<br />

que a escrita é superior à fala.<br />

No entanto, não podemos considerar a supremacia da<br />

escrita em detrimento da fala. Marcushi volta as atenções<br />

às relações entre a fala e a escrita constituintes de um<br />

continuum.<br />

Fala e escrita são, segun<strong>do</strong> este autor “mo<strong>do</strong>s de<br />

representação cognitiva e social que se revelam em<br />

práticas específicas”, portanto não é correto afirmar que<br />

uma modalidade seja superior à outra, uma vez que<br />

ambas fazem parte de um sistema linguístico e sem uma,<br />

a outra se tornaria inviável. Rojo também estabelece uma<br />

relação entre a fala e a escrita condizentes com os autores<br />

defendi<strong>do</strong>s por nós, apontan<strong>do</strong> que:<br />

[...] o traço diferencial mais importante entre palavra<br />

falada e a escrita encontra-se na relação que o sujeito<br />

enuncia<strong>do</strong>r estabelece com os parâmetros de situação<br />

social e material de produção enunciativa (lugar de<br />

enunciação, interlocutores, temas, finalidades da<br />

enunciação. O que caracteriza a palavra falada seria uma<br />

relação de implicação <strong>do</strong> locutor na situação de produção<br />

e de conjunção de mun<strong>do</strong>s de referência entre o mun<strong>do</strong> de<br />

referência da situação ela mesma e a <strong>do</strong> texto ou discurso<br />

produzi<strong>do</strong>. Ao contrário, na enunciação escrita, o locutor<br />

assumiria uma relação de autonomia em relação à<br />

situação de produção e o mun<strong>do</strong> de referência desta<br />

última e o <strong>do</strong> texto ou discurso se encontraria numa<br />

relação de disjunção (In: SIGNORINI, 2001, p. 55).<br />

Klêiman (1995) enfatiza que o desenvolvimento <strong>do</strong> grau<br />

da linguagem escrita ou <strong>do</strong> processo de letramento<br />

depende <strong>do</strong> grau de desenvolvimento <strong>do</strong> meio em que a<br />

criança vive, ou seja, a escola, família entre outros. Da<br />

mesma forma, depende da sua participação em práticas<br />

discursivas orais. Com este pressuposto tem-se o oral<br />

como um subsídio para o letramento e a escrita.<br />

A concepção <strong>do</strong> continuum aponta que fala e escrita são<br />

de certa forma complementares, não no sentin<strong>do</strong> de que<br />

sejam incompletas e dependam uma da outra, pois cada<br />

uma delas possui sua especificidade, mas sim no senti<strong>do</strong><br />

de que possui entre elas uma relação mútua, íntima,<br />

intrínseca.<br />

3. ORALIDADE: COMPETÊNCIA COMUNICATIVA E<br />

OBJETO DE ENSINO<br />

Somos seres sociais e culturais. Nossa aprendizagem se<br />

dá através das relações que estabelecemos a partir da<br />

interação com o meio, com as outras pessoas e com os<br />

objetos de conhecimento.<br />

O ambiente educacional é um <strong>do</strong>s meios para o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> ser humano, em decorrência das<br />

transformações que a sociedade tem sofri<strong>do</strong> desde a<br />

revolução industrial, em decorrência da economia e<br />

também das configurações familiares. Sabemos que<br />

atualmente a escola de educação infantil é responsável

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