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Revista do WEA´2010/2011 - Faccamp

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categorias da língua são ensinadas, sem a menor<br />

preocupação com o papel que exercem no funcionamento<br />

da linguagem. Em outras palavras, há uma preocupação<br />

excessivamente grande em fazer com que o aluno saiba<br />

resolver exercícios gramaticais, embora isso não o<br />

transforme em conhece<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s mecanismos de uso da<br />

língua. A terceira causa consiste na falta de<br />

fundamentação teórica para o ensino da leitura e da<br />

redação, o que tornam as atividades com o texto um mero<br />

estu<strong>do</strong> de suas partes e não contribui para que o aluno<br />

apreenda sua estrutura ou compreenda seu senti<strong>do</strong> global.<br />

Conforme o mesmo autor, “a escola vê o texto como uma<br />

grande frase ou uma soma de frases, pois ensina a<br />

estruturar o perío<strong>do</strong>, a maior unidade sobre a qual se<br />

debruça, e exige que os alunos produzam textos.” (Fiorin,<br />

199: 8-9). A partir dessa reflexão, o autor sugere “uma<br />

pedagogia da compreensão <strong>do</strong>s mecanismos constitutivos<br />

<strong>do</strong> senti<strong>do</strong>”.<br />

Ensinar Português, portanto, não pode significar<br />

simplesmente identificar a estrutura <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> ou decorar<br />

as regras gramaticais, como é comum na prática<br />

pedagógica tradicional.<br />

Nosso objetivo, como professores de Português nos<br />

cursos superiores de graduação da FACCAMP, não é<br />

fazer com que os alunos adquiram a língua, como no caso<br />

<strong>do</strong> ensino de língua estrangeira, mas ampliar sua<br />

capacidade de uso dessa língua, desenvolven<strong>do</strong> sua<br />

competência comunicativa por meio de atividades com<br />

textos utiliza<strong>do</strong>s nas mais diferentes situações de interação<br />

comunicativa, levan<strong>do</strong> em conta não só os tipos de texto<br />

adequa<strong>do</strong>s aos diferentes tipos de interação, mas também<br />

as variedades lingüísticas utilizadas em cada caso.<br />

No trabalho de sala de aula, da maneira como o<br />

concebemos, propomos a valorização da competência que<br />

desenvolva o estu<strong>do</strong> formal (da gramática) alia<strong>do</strong> à<br />

construção <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>.<br />

Mas como proceder a esse estu<strong>do</strong> formal? Articulan<strong>do</strong>-se<br />

o estu<strong>do</strong> da gramática sob vários aspectos: a gramática<br />

teórica, a gramática normativa, a gramática de uso e a<br />

gramática reflexiva (Travaglia, 2003).<br />

A gramática teórica é uma sistematização teórica a<br />

respeito da língua, utilizan<strong>do</strong>-se uma metalinguagem<br />

estabelecida segun<strong>do</strong> os modelos da ciência lingüística<br />

para esse fim. No ensino-aprendizagem, as atividades de<br />

gramática teórica se valem das gramáticas descritivas e<br />

das gramáticas normativas. A gramática normativa<br />

apresenta normas de bom uso da língua em sua variedade<br />

culta, padrão. A gramática de uso é aquela não consciente<br />

e liga-se à gramática internalizada <strong>do</strong> falante, ou seja o<br />

“conjunto de regras que o falante <strong>do</strong>mina” (Possenti,<br />

2000: 69). Finalmente, a gramática reflexiva é uma<br />

gramática que surge da reflexão com base no<br />

conhecimento intuitivo <strong>do</strong>s mecanismos da língua e que<br />

Atas <strong>do</strong> VII Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Campo Limpo Paulista.<br />

WEA’2010/<strong>2011</strong>, 12 de março de <strong>2011</strong>’, Campo Limpo Paulista, SP, Brasil.<br />

94<br />

será usada para o <strong>do</strong>mínio consciente de uma língua que o<br />

aluno já <strong>do</strong>mina inconscientemente.<br />

Optamos, no trabalho com a língua materna em sala de<br />

aula, pela última concepção de ensino de gramática<br />

apresentada acima: a gramática reflexiva. Essa é a escolha<br />

aplicada pelo fato de haver, com esse trabalho, a<br />

possibilidade de desenvolvermos a capacidade de<br />

interpretação de textos (que leva ao desenvolvimento de<br />

melhores estratégias de leitura) e ao ensino-reflexão sobre<br />

a gramática em uso.<br />

Segun<strong>do</strong> Possenti (op. cit. p. 87), a “proposta elementar<br />

<strong>do</strong> ensino da gramática na escola, consistiria no trabalho<br />

com as gramáticas numa ordem de prioridade que<br />

privilegiaria a gramática internalizada, passan<strong>do</strong> pela<br />

descritiva, até se chegar à normativa”.<br />

No entanto, a prática ainda corrente no ensinoaprendizagem<br />

de língua materna consiste na fragmentação<br />

<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s.<br />

Essa fragmentação ainda é bastante presente nas salas<br />

brasileiras, como salienta Soares (2002:4). Essa<br />

fragmentação ultrapassa os limites da organização da<br />

escola, ocasionan<strong>do</strong> também, como destaca Neves (2001),<br />

a compartimentação <strong>do</strong> ensino de gramática, o que<br />

prejudica a prática pedagógica.<br />

Desse mo<strong>do</strong>, as aulas de Língua Portuguesa – e, em<br />

específico, as de estu<strong>do</strong> da gramática – tem-se restringi<strong>do</strong><br />

à mera transmissão de regras e conteú<strong>do</strong>s gramaticais<br />

leciona<strong>do</strong>s aos alunos de forma descontextualizada, isto é,<br />

desvinculada de um uso efetivo da língua. Por isso,<br />

concordamos com Neves (op. cit.) quan<strong>do</strong> argumenta que,<br />

a língua em uso oferece complica<strong>do</strong>res no nível semântico<br />

e no nível pragmático discursivo. E é a língua em<br />

funcionamento que tem de ser objeto de análise em nível<br />

pedagógico, já que a compartimentalização da gramática<br />

como disciplina desvinculada <strong>do</strong> uso da língua, tem si<strong>do</strong><br />

um <strong>do</strong>s grandes óbices à própria legitimação da gramática<br />

como disciplina no ensino da língua portuguesa.(...)<br />

Consideran<strong>do</strong>-se que a unidade básica na análise da língua<br />

em funcionamento é o texto, cabe considerar a natureza<br />

dessa unidade, natureza que determinará a postura de<br />

análise e as bases de operacionalização. (Neves, 2001: 49-<br />

50)<br />

3. O DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO POR<br />

MEIO DA LEITURA DE TEXTOS<br />

Uma das maiores preocupações da sociedade moderna é a<br />

comunicação. Comunicar bem é, portanto, um <strong>do</strong>s grandes<br />

segre<strong>do</strong>s <strong>do</strong> êxito em nossa sociedade. E a comunicação<br />

se faz por intermédio de textos. Para interagirmos com<br />

nossos semelhantes, precisamos, então, produzir textos e,<br />

paralelamente, compreender/interpretar os textos<br />

produzi<strong>do</strong>s pelos outros.<br />

A concepção de leitura como decodificação linear de um<br />

texto, como identificação das informações oferecidas de

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