Revista Senac Educação Ambiental - OEI
Revista Senac Educação Ambiental - OEI
Revista Senac Educação Ambiental - OEI
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
20% das casas são ligadas à rede de<br />
esgoto). Ali faltam atendimento educacional,<br />
assistência social e alternativas<br />
de geração de emprego e renda.<br />
“Morar em frente à maré que alimentava<br />
suas famílias, e agora ver ela se acabando<br />
debaixo de um monte de lixo, é<br />
de doer o coração”, diz a pescadeira<br />
Amarina.<br />
A área ficou nacionalmente conhecida<br />
quando foi visitada pelo presidente Lula,<br />
acompanhado de alguns ministros, para<br />
promoção do Fome Zero. E não foi à toa<br />
que esse local foi o escolhido, pois Brasília<br />
Teimosa ostenta um dos piores Índices<br />
de Desenvolvimento Humano<br />
(IDH) no Brasil, podendo ser comparado<br />
ao de paupérrimos países africanos,<br />
como o Gabão.<br />
Seus quase 20 mil habitantes possuem<br />
uma ligação muito forte com o mar e o<br />
manguezal, sendo que a maioria deles<br />
sobrevive da pesca artesanal. É uma área<br />
de muitos conflitos e interesses divergentes,<br />
principalmente pela sua localização<br />
na orla principal da praia e, conseqüentemente,<br />
pela valorização e especulação<br />
imobiliárias crescentes na região.<br />
Por outro lado, mesmo com a expansão<br />
urbana acelerada da cidade, essa área<br />
de Brasília Teimosa é de grande importância<br />
ambiental, pois é o último remanescente<br />
de manguezal do município de<br />
Recife, e o maior manguezal urbano do<br />
Nordeste.<br />
Iniciativa premiada<br />
Foi nesse cenário, que em 2003 surgiu<br />
o Centro Escola Mangue, fruto de<br />
uma luta liderada pela professora pública,<br />
formada em Ciências Sociais,<br />
Luciana Maria da Silva. Segundo ela, o<br />
maior objetivo da iniciativa é combater<br />
a fome, a exclusão social e a degradação<br />
ambiental em que vivem os<br />
moradores da região. Por isso, o público-alvo<br />
das ações do Centro é a população<br />
ribeirinha, estuarina e da praia, já<br />
que todos têm em comum o ecossistema<br />
costeiro-marinho.<br />
Nascida em Brasília Teimosa, e até hoje<br />
moradora do local, Luciana busca no seu<br />
trabalho resgatar elementos ambientais<br />
e culturais da comunidade, por meio de<br />
projetos culturais e educacionais voltados<br />
para professores, jovens, crianças e<br />
seus familiares. Justamente pela sua<br />
relação afetiva e de convívio com o lugar,<br />
a professora escolheu o mangue<br />
como tema gerador para as suas ações<br />
educativas.<br />
O Centro Escola Mangue acredita na integração<br />
entre a arte e a cultura como o<br />
elo fundamental para o desenvolvimento<br />
integral do ser humano, promovendo,<br />
na prática, as conexões e possibilidades<br />
das relações entre esses conceitos,<br />
como suporte para o desenvolvimento<br />
da eco-pedagogia. Dessa forma,<br />
contribui para uma mudança de atitude,<br />
aliada ao resgate da identidade e do exercício<br />
da cidadania.<br />
Nos projetos do Centro, um dos grandes<br />
objetivos é conciliar a preservação<br />
dos mangues com a geração de renda a<br />
partir da produção artesanal e cultural.<br />
Existe também uma preocupação muito<br />
forte com a valorização do saber tradicional<br />
e o resgate da auto-estima dos<br />
pescadores e pescadoras locais: “A escola<br />
é uma ponte de saber entre o mundo<br />
acadêmico e o popular. Podemos<br />
aprender com biólogos e com pescadores”,<br />
enfatiza Luciana.<br />
Muitos projetos<br />
Atualmente, o Centro possui diversas<br />
frentes de trabalho, pontuais e continuadas,<br />
como por exemplo, o atendimento<br />
diário de complementação escolar a 40<br />
crianças (entre 4 e 6 anos) e 100 crianças<br />
e adolescentes (entre 8 e 16 anos).<br />
Depois do horário da escola, crianças e<br />
jovens podem participar de oficinas de<br />
Leitura e Matemática da Vida, durante as<br />
quais são realizadas expedições pedagógicas<br />
nas praias de Brasília Teimosa<br />
para catalogação de peixes, moluscos e<br />
crustáceos trazidos nas jangadas pelos<br />
pescadores e pescadeiras.<br />
Além disso, uma vez por semana, durante<br />
todo o ano letivo, os alunos fazem<br />
um levantamento e pesquisa sobre os<br />
dados do pescado, dos ventos, do movimento<br />
das marés, da lua, etc. Outra<br />
atividade é a oficina de Produção de<br />
Mudas, que já possui uma sementeira<br />
de mangue em Brasília Teimosa, e ajuda<br />
no reflorestamento do manguezal. O<br />
Centro oferece, ainda, a oficina de Música<br />
e Dança, com aulas de instrumentos<br />
de percussão e de danças praieiras.<br />
O Centro atua também junto aos jovens<br />
moradores através da formação da Rede<br />
Jovem, composta por 25 jovens (entre<br />
16 e 25 anos) que estão fazendo o primeiro<br />
Curso de Turismo Ecológico de<br />
Base Comunitária. Em paralelo ao curso<br />
de turismo, existe uma parceira com o<br />
Projeto Golfinho Rotador, de Fernando<br />
de Noronha, para a criação de um turismo<br />
de observação de golfinhos em Brasília<br />
Teimosa.<br />
Durante o ano são promovidos os Encontros<br />
Anuais das Escolas Mangue, em<br />
que participam todas as escolas da rede<br />
municipal que tratam da questão da preservação<br />
dos manguezais nos seus projetos<br />
político-pedagógicos. Esses eventos<br />
contam com a participação de aproximadamente<br />
300 professores e, desde<br />
2003, a Prefeitura do Recife incorporou<br />
esses encontros ao calendário oficial<br />
da Rede Municipal de Ensino.<br />
O Centro Escola Mangue também trabalha<br />
com o empoderamento das mulheres<br />
locais, realizando encontros quinzenais<br />
da Rede de Mulheres do Mangue.<br />
Atualmente, além das discussões sobre<br />
estratégias de geração de renda, é desenvolvido<br />
o curso de Customização para<br />
35 mulheres da comunidade, em parceria<br />
com a Prefeitura do Recife.<br />
Por toda essa luta, o Centro Escola Mangue<br />
teve seu trabalho reconhecido pelo<br />
recebimento da menção honrosa do Prêmio<br />
Melhores Práticas Ambientais no<br />
Nordeste, promovido pela Sociedade<br />
Nordestina de Ecologia. Esse prêmio foi<br />
criado para reconhecer e divulgar as boas<br />
práticas de proteção ambiental em todos<br />
os estados do Nordeste, e na sua<br />
última edição (2006) premiou 12 iniciativas<br />
de organizações da sociedade civil,<br />
entidades de ensino, instituições públicas<br />
e empresas.<br />
Para saber mais:<br />
Contatos: Luciana Maria da Silva – e-<br />
mail: ludomanguezal@gmail.com<br />
81.3566-8324<br />
<strong>Senac</strong> e Educação <strong>Ambiental</strong> 33 Ano 16 • n.1 • janeiro/abril de 2007