Revista Senac Educação Ambiental - OEI
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do Federal uma Proposta de Emenda<br />
à Constituição, a PEC 43/2000, que<br />
pretende transferir a domínio das<br />
águas subterrâneas dos estados para<br />
o governo federal, com a alegação de<br />
que não há controle do conhecimento<br />
técnico sobre as águas subterrâneas.<br />
Para alguns especialistas, além de<br />
poder prejudicar a gestão local do aqüífero,<br />
a PEC se baseia num argumento<br />
considerado falho, pois estão sendo<br />
disponibilizados projetos e estudos por<br />
meio do projeto PSAG e por diversos<br />
institutos de pesquisas, universidades,<br />
técnicos e pesquisadores. “No âmbito<br />
da Câmara Técnica de Águas Subterrâneas<br />
do Conselho Nacional de Recursos<br />
Hídricos, houve discussões<br />
sobre o tema. A grande maioria dos<br />
representantes dos estados, junto com<br />
a sociedade civil e usuários que compõem<br />
esse conselho, foram contrários<br />
à PEC”, admite Senra.<br />
Paralelamente ao impasse legislativo,<br />
novos estudos estão sendo divulgados,<br />
e movimentos em prol do Sistema<br />
Guarani continuam ocorrendo.<br />
Para evitar interferências na temperatura<br />
e vazão dos poços termais, na<br />
área turística de Concórdia-Salto, o<br />
PSAG estabeleceu a distância mínima<br />
de 2 mil metros entre perfurações<br />
de novos poços. Já em Ribeirão Preto,<br />
Luiz Amore explica que “o Comitê<br />
de Bacia do Pardo aprovou o zoneamento<br />
de poços em áreas completamente<br />
restritas, com medidas de controle,<br />
para evitar o aprofundamento<br />
do cone de depressão de 60 metros,<br />
observado na zona central da cidade”,<br />
diz o secretário geral do projeto.<br />
O arcabouço legal<br />
A gestão das águas do reservatório<br />
depende, necessariamente, de pesquisa<br />
e estudos técnicos, mas a urgência<br />
em definir estratégias de gerenciamento<br />
pode comprometer análises<br />
mais precisas. Como defende o<br />
geólogo Ernani Rosa, só é possível<br />
ter um real controle público do aqüífero<br />
se houver um conhecimento aprofundado<br />
de sua geometria. “Lamentavelmente,<br />
apenas em alguns locais<br />
esse conhecimento existe. Falar de<br />
gestão e política internacional, como<br />
acontece atualmente, é colocar a carroça<br />
na frente dos bois”, argumenta.<br />
De acordo com um relatório apresentado<br />
em julho de 2006, na 58 a Reunião<br />
da Sociedade Brasileira de Pro-<br />
Mapa: Publicação<br />
“Aqüífero<br />
Guarani<br />
– Uma verdadeira<br />
integração<br />
dos países<br />
do Mercosul<br />
(2004)”<br />
Aquífero Guarani<br />
Limite da Bacia<br />
Geológica do<br />
Paraná<br />
Os mitos<br />
Pesquisas recentes<br />
apresentam novas possibilidades<br />
de uso sustentável<br />
do reservatório<br />
e desfazem alguns mitos,<br />
como, por exemplo, o fato<br />
de o SAG ser totalmente<br />
transfronteiriço. Embora<br />
suas águas sejam encontradas<br />
no subsolo de quatro países,<br />
com volume aproximado de 40<br />
mil quilômetros quadrados,<br />
em alguns locais o reservatório<br />
não ultrapassa as fronteiras<br />
nacionais. A constituição<br />
geológica do Aqüífero Guarani<br />
compartimenta as águas em<br />
enormes blocos, na forma de sub-reservatórios nem sempre<br />
intercomunicáveis.<br />
Esses dados são apresentados pelo geólogo da Universidade Federal<br />
do Paraná, José Machado Flores da Cunha: “As rochas que compõem<br />
o SAG atravessam, sim, fronteiras. Entretanto, novos estudos<br />
têm demonstrado que, em muitos locais, suas águas não são<br />
transfronteiriças, como ocorre com os estados de São Paulo, Minas<br />
Gerais, Goiás e Paraná. Em Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul,<br />
apenas pequenas parcelas do aqüífero poderiam apresentar um componente<br />
transfronteiriço. Já entre o Uruguai e a Argentina, existe<br />
uma clara conexão entre as águas na região de fronteira”, explica.<br />
Estudos estratigráficos mostram que as águas do reservatório estão<br />
contidas entre as fraturas das rochas e no interior de rochas<br />
porosas, formadas de areia e argila, que atuam como esponjas e<br />
retêm o fluxo das chuvas provenientes das áreas de recarga –<br />
locais por onde o aqüífero é reabastecido. Por isso, suas águas não<br />
estão distribuídas na forma de um enorme lago ou mar subterrâneo.<br />
“O Aqüífero Guarani não é constituído apenas por uma unidade<br />
hidroestratigráfica, mas é um sistema que integra rochas portadoras<br />
de água, que têm idades que somam um intervalo de mais<br />
de 100 milhões de anos. Portanto, são esperadas diferenças significativas<br />
entre as rochas que o compõem”, constata José Machado,<br />
em sua tese de doutorado, que investiga as características do<br />
aqüífero no Rio Grande do Sul.<br />
Pelo fato de o SAG ocorrer de modo descontínuo e apresentar<br />
características próprias em cada região, seu potencial é muito variável.<br />
Um aspecto extremamente importante é quanto à potabilidade<br />
da água, pois cerca de 50% das águas do aqüífero são salobras,<br />
possuem altos níveis de sulfatos, flúor e sódio, ou apresentam<br />
grande variação de temperatura, podendo chegar até 60ºC.<br />
Outro fator relevante é a profundidade irregular do manancial. Em<br />
algumas regiões, há zonas de afloramento do reservatório, como<br />
no interior do Estado de São Paulo; em outras, porém, a profundidade<br />
varia entre 50 e 1.900 metros. Tais características inviabilizam<br />
economicamente, nesses locais, a extração da água para a<br />
indústria, agricultura, abastecimento humano ou consumo animal.<br />
<strong>Senac</strong> e Educação <strong>Ambiental</strong> 49 Ano 16 • n.1 • janeiro/abril de 2007