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Revista Senac Educação Ambiental - OEI

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Thomas Mitschein, sociólogo alemão<br />

que vive no Brasil há mais de 20 anos,<br />

foi um dos idealizadores e fundadores<br />

do projeto. Numa época em que<br />

quase ninguém nos países desenvolvidos<br />

ou mesmo no interior da Amazônia<br />

falava das possibilidades comerciais<br />

e industriais de projetos autosustentáveis,<br />

a equipe de Thomas<br />

começou a desenvolver seu trabalho<br />

em parceria com pesquisadores das<br />

cidades alemãs de Stuttgart e Ulm.<br />

Dez anos depois, o projeto Poema<br />

ganhou repercussão em várias partes<br />

do mundo, com a reintrodução de fibras<br />

naturais na indústria automobilística<br />

na Europa, a começar<br />

pela Alemanha, com a<br />

empresa Daimler Chrysler,<br />

que desde 1992 tem investido<br />

no projeto. A idéia<br />

do uso da fibra natural em<br />

empresas automotivas já<br />

chegou a outros países,<br />

como a África do Sul, e tende<br />

a se expandir com o<br />

crescimento de um consumo<br />

mais consciente, do<br />

ponto de vista ecológico.<br />

O início do<br />

projeto<br />

Para a criação do projeto Poema,<br />

Thomas colheu inspiração nas<br />

favelas paraenses. Na ocasião, conheceu<br />

vários pequenos produtores que<br />

não tinham conseguido sobreviver da<br />

lavoura na Amazônia com a utilização<br />

dos métodos convencionais de trabalhar<br />

a terra. Vendo pobreza intensa<br />

e até fome, o sociólogo teve a idéia<br />

de criar um projeto pelo qual os agricultores<br />

pudessem sobreviver da terra,<br />

sem precisar emigrar para os grandes<br />

centros, onde estariam condenados,<br />

na maior parte das vezes, a viver<br />

em extrema pobreza em favelas da<br />

periferia.<br />

Para esse trabalho dar certo, era importante<br />

apostar no conceito de interação<br />

entre a mata e o homem, por<br />

meio do aproveitamento dos bens<br />

naturais renováveis e da recuperação<br />

do solo, de forma que os pequenos<br />

agricultores passassem a conviver<br />

com a floresta e jamais contra ela.<br />

O Poema caiu como uma luva nas<br />

mãos dos moradores amazônicos,<br />

pois é forjado a partir das necessidades<br />

dos próprios habitantes locais.<br />

Desde o princípio, o projeto mostrou<br />

a sua natureza democrática e participativa.<br />

A sua implementação começou<br />

com a escolha de quatro comunidades<br />

representativas da região. A<br />

partir de reuniões com os moradores,<br />

foram levantados os principais problemas<br />

e aspirações, e traçadas metas<br />

baseadas na realidade e nas demandas<br />

dessas comunidades<br />

Piscicultura: projeto gera trabalho e renda<br />

Um dos principais problemas – comum<br />

a várias comunidades – era a<br />

questão da água. Embora a Amazônia<br />

seja privilegiada pela abundância de<br />

água, a região sofre de grande escassez<br />

de água potável, o que resulta em<br />

inúmeras doenças. Cerca de 60% das<br />

enfermidades tratadas nos hospitais<br />

paraenses são conseqüência do consumo<br />

de água contaminada.<br />

A partir desse diagnóstico, o Poema<br />

iniciou um dos seus primeiros projetos:<br />

aproveitar a oxidação anódica na<br />

produção de água potável asséptica.<br />

A explicação prática para esse nome<br />

tão complicado é simples: a água é<br />

colocada em tanques com uma armação<br />

de madeira, onde se instala uma<br />

bomba de sucção. Acrescenta-se sal<br />

na água e, por meio de uma bateria<br />

ou de uma célula solar, produz-se<br />

uma corrente elétrica. Começa, assim,<br />

um processo eletroquímico que transforma<br />

os componentes do sal em hipoclorito<br />

germicida, matando os germes.<br />

Mesmo o morador que não disponha<br />

de energia elétrica pode conseguir<br />

esse efeito com o uso da energia<br />

solar.<br />

Valorização das<br />

vocações locais<br />

Nazaré Imbiriba, uma das idealizadoras<br />

do Poema, é doutora em Direito<br />

Internacional e responsável<br />

pelas várias parcerias internacionais<br />

conquistadas<br />

pelo projeto, ultrapassando<br />

as fronteiras do meio acadêmico.<br />

Segundo Nazaré,<br />

hoje o Poema atua em 106<br />

dos 143 municípios paraenses,<br />

beneficiando mais de<br />

16 mil pessoas por intermédio<br />

de diferentes subprojetos,<br />

incentivando a mobilização<br />

e a auto-organização<br />

das comunidades pobres<br />

da floresta por meio de estratégias<br />

inovadoras de<br />

atendimento às suas necessidades<br />

básicas.<br />

“O projeto ajuda na identificação<br />

e valorização das vocações produtivas,<br />

econômicas, ecológicas e culturais,<br />

gerando e transferindo às comunidades<br />

tecnologias e metodologias<br />

que respondam às suas próprias demandas”,<br />

explica Nazaré, carinhosamente<br />

chamada de “ministra das relações<br />

exteriores” do Poema. “Além disso”,<br />

acrescenta, “fornece subsídios básicos<br />

para a definição de prioridades<br />

de planos, programas ou projetos municipais<br />

ou estaduais, contribuindo para<br />

integrar as diferentes instâncias administrativas”.<br />

O Poema incentiva e desenvolve a<br />

cooperação e o intercâmbio entre programas<br />

que tenham como principal<br />

objetivo a superação da pobreza e a<br />

proteção do meio ambiente na Amazônia.<br />

Também trata de elaborar e<br />

implementar estratégias, a partir das<br />

<strong>Senac</strong> e Educação <strong>Ambiental</strong> 41 Ano 16 • n.1 • janeiro/abril de 2007

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