Revista Senac Educação Ambiental - OEI
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foto: Marcio Fernandes / Ag. Estado<br />
ni Rosa Filho, da Universidade Federal<br />
do Paraná, o risco de poluição de<br />
todo o manancial: “Acreditar na contaminação<br />
generalizada do reservatório<br />
mostra total desconhecimento<br />
sobre a geometria e a geologia do<br />
Guarani”, garante o geólogo. Como<br />
boa parte das águas do SAG é<br />
compartimentada, isso impede que<br />
os resíduos se desloquem e sejam<br />
transferidos para outras áreas do reservatório.<br />
Além dessa barreira interna,<br />
algumas substâncias não conseguem<br />
alcançar as águas subterrâneas<br />
em virtude da profundidade, ou perdem<br />
seu potencial tóxico com a biodegradação,<br />
fotodecomposição ou<br />
termodecomposição.<br />
No entanto, se a poluição generalizada<br />
está descartada, o risco de contaminação<br />
local é uma realidade em áreas<br />
onde o reservatório é mais suscetível<br />
– áreas de pouca profundidade e<br />
de formações geológicas menos densas.<br />
Nessas regiões, a presença de<br />
lixões, aterros químicos e sanitários,<br />
efluentes industriais e o uso intensivo<br />
de agrotóxicos em altas concentrações,<br />
como nas lavouras de canade-açúcar,<br />
provocam danos ambientais<br />
ao manancial. Esse é o caso, por<br />
exemplo, de importantes cidades do<br />
Estado de São Paulo, como Ribeirão<br />
Preto e São José do Rio Preto.<br />
O alerta consta do documento de introdução<br />
ao Plano Nacional de Recursos<br />
Hídricos: “A gravidade da contaminação<br />
está relacionada à toxidade,<br />
persistência, quantidade e concentração<br />
das substâncias que alcançam os<br />
mananciais subterrâneos”, adverte o<br />
documento. De fato, alguns produtos<br />
Só em SP, há mais de 2.000<br />
poços ativos sobre o reservatório<br />
químicos são rapidamente<br />
decompostos, mas boa parte<br />
deles pode permanecer no<br />
meio ambiente por até 300<br />
anos, comprometendo os reservatórios<br />
de águas subterrâneas.<br />
Captação<br />
excessiva<br />
Além da possibilidade de<br />
contaminação ambiental, outro aspecto<br />
preocupante da perfuração<br />
desordenada de poços é a captação<br />
excessiva das águas. “A demanda por<br />
água subterrânea vem crescendo<br />
substancialmente no Brasil, em função<br />
de as águas dos rios serem de<br />
qualidade duvidosa”, explica o professor<br />
de Geociências da Universidade<br />
de São Paulo (USP), Aldo Rebouças,<br />
especialista na questão do uso e<br />
da conservação das águas subterrâneas<br />
no Brasil.<br />
Aldo Rebouças:<br />
crítica à superexploração<br />
do reservatório<br />
Em virtude da boa qualidade da água<br />
e da falta de controle por parte do<br />
poder público, o setor privado vem<br />
recorrendo intensamente às reservas<br />
subterrâneas, por meio de empresas<br />
perfuradoras. Segundo estudos, só no<br />
Paraguai existem mais de 4.700 empresas<br />
que oferecem esse serviço.<br />
Em relação ao Brasil, a Associação<br />
Brasileira de Águas Subterrâneas<br />
(Abas) apresenta um dado inquietante:<br />
entre 80% e 90% das empresas<br />
perfuradoras do Estado de São Paulo<br />
são clandestinas. O problema é que,<br />
freqüentemente, essas empresas não<br />
seguem padrões científicos de perfuração,<br />
ou seja, captam grandes volumes<br />
de água e não adotam<br />
nenhuma medida de<br />
prevenção de impactos<br />
ambientais.<br />
Aldo Rebouças confirma<br />
que a iniciativa privada é<br />
uma das principais consumidoras<br />
das águas<br />
subterrâneas e, desse<br />
modo, responsável por<br />
boa parte da perfuração<br />
de poços: “Apesar de as<br />
águas subterrâneas corresponderem<br />
à segunda maior quantidade de água<br />
potável na Terra, elas sempre foram<br />
deixadas para a iniciativa privada, que<br />
utiliza os poços como quer, para abastecer<br />
hotéis de luxo, condomínios e<br />
perímetros irrigados”, constata.<br />
No Estado de São Paulo, onde a água<br />
subterrânea possui bom grau de potabilidade,<br />
há mais de 2 mil poços ativos<br />
localizados nas bordas do aqüífero.<br />
Em toda área de ocorrência do reservatório<br />
no país, estima-se que cerca<br />
de 20 mil poços tubulares estão<br />
ativos, servindo tanto ao setor privado<br />
como ao consumo particular: abastecimento<br />
de condomínios, irrigação<br />
e consumo animal na agropecuária,<br />
aproveitamento geotermal nas indústrias,<br />
hospitais, hotéis e clubes como<br />
em Araçatuba (SP), Francisco Beltrão<br />
(PR), Chapecó (SC) e Piratuba (SC).<br />
O principal problema dessa intensa<br />
atividade de perfuração, praticada por<br />
empresas e particulares, é o fato de<br />
não estar sendo considerada a relação<br />
entre o volume extraído de água<br />
e o potencial de recarga do aqüífero,<br />
o que provoca a superexploração local<br />
do reservatório. Para evitar esse<br />
processo, as melhores áreas de perfuração<br />
“não deveriam possuir mais<br />
do que 300 a 400 metros de espessura<br />
de basalto sobre o Guarani. Nessas<br />
áreas, deve-se atentar ao comprometimento<br />
de parte do reservatório,<br />
quando é extraída mais água do que<br />
entra no reservatório como recarga do<br />
aqüífero”, explica o geólogo Ernani<br />
Rosa.<br />
A forma como as águas vêm sendo<br />
captadas também é uma preocupação<br />
de Aldo Rebouças: “Devemos<br />
evitar que os poços no meio urbano<br />
captem o lençol freático, tendo um<br />
selo sanitário na boca do poço. Também<br />
deve-se evitar que os níveis de<br />
bombeamento desçam muito além<br />
de um terço da espessura da camada<br />
aqüífera na área, a qual deverá ter fil-<br />
<strong>Senac</strong> e Educação <strong>Ambiental</strong> 47 Ano 16 • n.1 • janeiro/abril de 2007