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mundo em que ele se comunica, é necessariamente um homem do povo. Daí então a atenção<br />
deste poeta para com o povo, pois ele como povo também deve transitar no mesmo espaço dos<br />
trabalhadores. Em uma entrevista cedida ao jornalista Gilfrancisco, o Poeta da Praça Geraldo<br />
Maia justifica o lugar da poesia na praça:<br />
“A tomada da praça foi um ato político-poético que possibilitou o<br />
exercício da crítica, do questionamento, da discussão em torno da<br />
visão de mundo das oligarquias dominantes e do regime militar, já<br />
na fase final do seu processo de mimetismo. Os poetas se<br />
reuniam na praça para o ofício da vida, porque a mesma se<br />
encontrava ameaçada de extermínio. Guiados por uma aguçada<br />
sensibilidade e pela consciência de serem meros instrumentos do<br />
universo, saíram de suas tocas, dos antros onde a poesia era<br />
subterrânea e se juntaram na praça para contribuir na luta pela<br />
preservação da espécie” 7 .<br />
Além de ser um instrumento de revolução, a poesia é também uma ferramenta de trabalho: “nós<br />
poetas na praça / vivemos do nosso trabalho / como qualquer outro trabalhador”. E assim querem<br />
ser reconhecidos: como trabalhadores da arte que se preocupam com os problemas sociais e<br />
cotidianos, e a poesia tem de estar a serviço da mudança social e cultural. “Não se pode conceber<br />
/ uma forma de arte / que carregue em sua linguagem / a análise burguesa da sociedade / ou um<br />
substituto reformista qualquer”.<br />
Em Por – Poesia Revolucionária os poetas suscitam o desejo de uma sociedade mutualista, que<br />
tem por princípio a solidariedade e a coletividade, ao passo que, vivem sob uma sociedade<br />
baseada num capitalismo liberal selvagem e sob a vigência de uma ditadura militar repressora e<br />
opressora. Diante disso,<br />
“o movimento Poetas na Praça / existe / a partir de uma<br />
necessidade / concreta / de mudar essa realidade / porque ela<br />
não satisfaz as necessidades de cada ser humano / para viver<br />
como tal / em qualquer parte do mundo do universo”.<br />
Os Poetas na Praça, todavia não compartilham com os partidos de esquerdas, acusando-os de<br />
reduzirem “a luta revolucionária / a uma simples luta / por ascensão de classe / mas não das<br />
ideias”. Propõem uma sociedade sem Estado, contra o autoritarismo, a censura e a ditadura, em<br />
suma, uma sociedade anarquista.<br />
7GILFRANCISCO, 2006: 23.