Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Fios e afetos... dimensões de que trata nossa pesquisa que, de uma imersão no universo<br />
contracultural, traça paralelos, curvas e caminhos com a emergência da <strong>Cultura</strong> <strong>Digital</strong> no Brasil.<br />
Tecnologia, cultura e política são os elementos indispensáveis nessa análise a partir de um olhar<br />
para os caminhos da <strong>Cultura</strong> <strong>Digital</strong> brasileira, privilegiando os processos e sujeitos coletivos.<br />
CONTEXTOS<br />
Como expressões da contracultura no mundo pós-guerra, duas experiências históricas destacamse<br />
e, numa memória imediata, nos remetem aos beatniks e hippies, às experiências psicoativas e<br />
lisérgicas nos Estados Unidos, ao conhecido ano de 1968 e a Primavera que abalou o velho<br />
mundo. No Brasil, a Tropicália é o ícone da expressão contracultural.<br />
Para pensar essas referências e experiências contraculturais, os debates que tentamos atualizar,<br />
nos levou ao olhar histórico e também à literatura e à filosofia...<br />
A experiência beatnik nos Estados Unidos, revelou uma literatura rápida e inspirada com Jack<br />
Kerouac, Alain Ginsberg EETC .<br />
Kerouac escrevia passagens longas, sem cortes espontâneas<br />
sentado à máquina de escrever dias seguidos, energizado por anfetamina<br />
e com a mente expandida por maconha canalizando seus pensamentos e<br />
suas lembranças para os dedos e deles para as teclas da máquina.”<br />
(GOFFMAN, JOY, p. 263)<br />
A contracultura, como experiência de uma quebra radical de continuidade na cultura em que se<br />
vive, é um choque entre conceitos irreconciliáveis de vida. Theodore Roszak a define como<br />
uma cultura tão radicalmente afastada dos pressupostos centrais da nossa<br />
sociedade que para muitos, mal parece uma cultura, assumindo, pelo<br />
contrário, o aspecto alarmante de uma irrupção barbárica. (1971, p. 64)<br />
O contexto da contracultura que nos referenciamos tem a ameaça atômica e a possibilidade de<br />
destruição anônima e em massa nas suas perspectivas. A geração influenciada por esse contexto<br />
trouxe para o centro do debate contracultural a questão tecnológica. A tecnocracia trazia a<br />
ameaça de destruição e a promessa de liberdade.<br />
A contracultura ocupa a sua posição tendo como pano de fundo<br />
este mal absoluto, um mal que não se define pelo mero fato da bomba,<br />
mas pelo ethos total desta (…) Somos uma civilização mergulhada no<br />
compromisso inabalável para o genocídio, jogando insensatamente com o<br />
extermínio universal da nossa espécie. (ROSZAK, 1971, p. 68)<br />
A filósofa Hannah Arendt, a partir da sua experiência política na Alemanha nazista, entende que a<br />
política como normatividade da convivência entre diferentes traz em si a ameça da destruição da<br />
humanidade. A pergunta de Arendt (2007) sobre o sentido da política é feita frente às modernas<br />
possibilidades de destruição cujo monopólio o Estado detêm e que só podem ser empregadas<br />
dentro do âmbito político.<br />
… a coisa política ameaça exatamente aquilo onde, no conceito dos<br />
tempos modernos, reside o próprio direito de existência, a saber, a mera