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Refere-se ao movimento que conduz o que está encoberto, oculto, ao des-velamento. A verdade,<br />
nesse sentido, tem uma significação que se distingue da significação de verdade na modernidade<br />
e que ainda vigora em nossa época, qual seja verdade enquanto garantia de certeza,<br />
asseguramento do modo de ser de um ente desvelado. Ainda que apreendida como certeza e<br />
asseguramento, a verdade é um modo de ser que se desvela para o homem.<br />
Nesse movimento, há uma relação de pertença entre verdade e ser, onde a verdade sempre se<br />
revela num modo de ser e, a partir daí, o ser se mostra num determinado modo. Este<br />
imbricamento essencial entre ser e verdade, permite que o ser se desvele em um ou outro modo<br />
e, a partir desse desvelamento, o homem se constitui na abertura segundo a qual referir-se-á ao<br />
modo desvelado de ser.<br />
Na atual época, o ser se desvela como esquecimento. Mas de que forma? (cito Heidegger)<br />
No esquecer não somente algo escapa de nós, mas o esquecer decai para<br />
um ocultamento, de tal modo que nós mesmos caímos no ocultamento<br />
precisamente em relação ao esquecido. 13<br />
A essência do homem é, segundo Heidegger, caracterizada de modo mais originário e positivo a<br />
partir das possibilidades de ser que lhe são inerentes. O homem é um ente que tem um certo<br />
privilégio em relação aos outros entes no mundo, porque tem um caráter de abertura, que lhe<br />
permite decidir sobre os modos de ser que assumirá como seu. O quadro na parede, o livro no<br />
chão, não se dão de outro modo por si mesmos. Embora o homem possa interferir no uso da<br />
coisa com a qual se relaciona na ocupação, e, através da manualidade atribuir a ela uma outra<br />
função diferente da que está sendo realizada, a coisa não decide acerca de um outro modo no<br />
qual ela possa ser.<br />
Em Ser e Tempo, Heidegger concebe o homem como ser-no-mundo. O homem é constituído por<br />
algo que, de antemão lhe parece exterior: o mundo. De fato, apenas parece. Mundo, segundo<br />
Heidegger, é o horizonte em direção ao qual o homem se dirige e encontra possibilidades de ser e<br />
de realizar um modo de ser diferente do que é. Desse modo, o mundo deve ser considerado uma<br />
estrutura essencial do homem, que está intrinsecamente ligada ao seu caráter de abertura e por<br />
isso o fundamenta. Ora, o homem é no mundo, e somente no mundo pode realizar seus modos de<br />
ser. Mundo é uma estrutura fundamental do homem porque o homem não é sem mundo e nem se<br />
determina sem ele.<br />
A época tecnológica que, segundo Ivan Domingues em seu artigo intitulado Ética, Ciência e<br />
Tecnologia, terá um impacto mais profundo que a Revolução Industrial, sustenta o modo de ser do<br />
sujeito, atribuído ao homem na modernidade. O sujeito tecnológico, comporta-se segundo o modo<br />
do técnico, do perito, que se dispõe no mundo como um ente hierarquicamente superior porque<br />
pode dispor do mundo e pode dominá-lo, investigá-lo, explorá-lo e fazer uso dele segundo suas<br />
próprias vaidades. Entretanto, não é o caráter de dominador ou explorador do mundo que coloca o<br />
13 HEIDEGGER,Martin.Parmênides.Petrópolis:Vozes.2008.p.45.