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O manifesto apresenta críticas à Fundação <strong>Cultura</strong>l do Estado da Bahia acusando-a de usar<br />
mecanismos burocráticos para dificultar a comunicação / relação entre os “trabalhadores da arte”<br />
e o Estado e de contribuir para manter os privilégios da elite burguesa. A estética e a linguagem, a<br />
mensagem poética destes poetas, não correspondem aos valores estéticos do mercado editorial<br />
literário e muito menos se enquadram nas normas da “academia brasileira de letras”. Portanto,<br />
“com esse objetivo / o movimento Poetas na Praça / propõe à<br />
comunidade / que a Fundação <strong>Cultura</strong>l da Bahia / seja<br />
autogerida / pelos trabalhadores das artes / a fim de que nós<br />
possamos encontrar / por nós mesmos / as verdadeiras soluções /<br />
para as nossas necessidades / de vida e trabalho”.<br />
E assim, o Movimento Poetas na Praça pretendia continuar uma luta por uma sociedade<br />
libertária tendo como suporte principal a arte, um artefato de Revolução, Trabalho e<br />
Linguagem. Os integrantes deste movimento realizaram uma série de práticas pela<br />
promoção e incentivo da poesia. Uma poesia que representasse as angústias e as<br />
necessidades de um povo marginalizado. Estas práticas não se limitavam apenas à<br />
produção de livros e recitais, em algumas oportunidades os poetas enfrentavam as<br />
autoridades públicas para expor-lhes a realidade do povo.<br />
“Nós somos a geração de março”<br />
Salvador, seis de março de 1986. Era uma quinta-feira. O jornal do Brasil em seu primeiro<br />
caderno, na página dois, publica uma nota sobre a visita do presidente do Brasil, José Sarney, na<br />
capital da Bahia. Este é surpreendido pelo poeta e ator Geraldo Maia. A pequena nota conta que o<br />
poeta segurou o presidente José Sarney pelos ombros e soltou os seguintes versos do poema<br />
Nós somos a geração de março:<br />
Nós somos a cria da censura / Funcionários da tortura / Frutos do<br />
absurdo / Que são todas as ditaduras / Nós somos a raiz do mal /<br />
O radical doente / Mas, apesar de nós, essa loucura, somos de<br />
repente / A cura / A cura / A cura 8 .<br />
O presidente José Sarney apenas responde: “Demência santa” 9 . Estes versos verbalizados pelo<br />
poeta revelam a angústia de uma geração fruto de uma dura e violenta repressão do golpe militar<br />
de 1964. E esta ditadura criara o seu próprio inimigo, “nós somos a raiz do mal / o radical doente”,<br />
8Versos extraídos do poema “Nós somos a geração de março”, publicado no livro canto de rua (1986) do poeta Geraldo<br />
Maia.<br />
9Esta nota publicada no Jornal do Brasil de 6/03/1986 foi xerocada e publicada no livro de poesia Kanto d rua do poeta<br />
Geraldo Maia (1986).