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Nesse universo de sentidos múltiplos, contraditórios, complexos, há uma dificuldade em<br />
diferenciar as criações que subvertem, que transformam, que questionam daquelas que, ao<br />
contrário, conformam. É comum que se torne artigo de consumo, nicho de mercado, o que foi<br />
criado originalmente contestando a lógica do dinheiro. Fazer da tradição, da miséria, da arte, da<br />
identidade oportunidade de lucro; vender a rebeldia como moda jovem; vender produtos que<br />
exploram animais com imagens de galinhas, perus, porcos felizes; colocar a foto de Che Guevara<br />
num biquíni em desfile de luxo. São formas de esvaziar, distorcer sentidos e confundir. São formas<br />
de também transformar protestos, de apropriar-se do universo simbólico, das representações de<br />
organizações de resistência.<br />
A coerção apresenta-se como legítima, por uma atuação da ideologia dominante capaz de<br />
provocar um certo consenso. E o consenso surge como concepções de mundo difusas na<br />
sociedade em diversos espaços e com sentidos múltiplos. Tal consenso forma-se não só naquilo<br />
nos espaços essenciais de reprodução capitalista, mas nos que contestam.<br />
Thaís Brito é pesquisadora, mestre em Ciências Sociais