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Sumário - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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excessivamente absoluta, encara como “erros” cometidos por certos autores<br />

(BOYER, 2002: 118 - neste ponto, trata-se <strong>de</strong> “uma série <strong>de</strong> imagens e lugarescomuns”<br />

acerca dos víkings “que seria necessário, em todos os casos, tomar um<br />

<strong>de</strong>pois do outro e <strong>de</strong>smantelar” (3), numa perspectiva do tipo “ou isto ou aquilo”<br />

que aplica mesmo a assuntos, como as religiões não-revela<strong>da</strong>s - que contêm<br />

consi<strong>de</strong>rável variação tanto no tempo quanto, em ca<strong>da</strong> fase, no espaço -, para os<br />

quais com freqüência é preferível a perspectiva do tipo “isto e aquilo também”. Ou<br />

seja, nem sempre é preciso que quem escreve atualmente sobre o tema escolha<br />

entre versões míticas ou procure alguma <strong>de</strong>las que seja “mais autêntica”, ou mais<br />

antiga. Ao se tratar <strong>de</strong> religiões não-revela<strong>da</strong>s, o princípio do terceiro excluído,<br />

típico <strong>da</strong> lógica aristotélica, não é necessariamente aplicável; o que nós<br />

encaramos como uma contradição a solucionar não incomo<strong>da</strong>va <strong>de</strong> modo algum a<br />

ouvintes ou leitores.<br />

Vamos exemplificar com as nornas, personagens <strong>da</strong> mitologia escandinava<br />

que se vinculam tanto à organização <strong>da</strong> temporali<strong>da</strong><strong>de</strong> (relação entre passado,<br />

presente e futuro) quanto ao <strong>de</strong>stino do mundo em geral ou <strong>da</strong>s pessoas em<br />

particular. Para Boyer, teríamos uma evolução, uma mu<strong>da</strong>nça: <strong>de</strong> início haveria<br />

inúmeras nornas, posto que tais personagens femininas teriam a ver com o<br />

<strong>de</strong>stino pessoal dos indivíduos; mais tardiamente, <strong>de</strong>vido talvez a uma influência<br />

<strong>da</strong>s concepções gregas antigas sobre as parcas - se bem que o autor não<br />

<strong>de</strong>scarte <strong>de</strong> todo a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma imagem primordial indo-européia (mas,<br />

neste caso, <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> fazer sentido a noção <strong>de</strong> uma evolução no tempo) -, as<br />

nornas passaram a ser três irmãs que, como as parcas gregas, fiavam o <strong>de</strong>stino<br />

dos mortais (BOYER, 1998: 243-4). Ora, como egiptólogo, sei que a <strong>de</strong>usa Háthor<br />

do antigo Egito na imensa maioria dos textos era uma só; mas, ao se tratar do<br />

estabelecimento do <strong>de</strong>stino dos recém-nascidos, falava-se <strong>da</strong>s “sete Háthors”.<br />

Analogamente, no contexto do tribunal <strong>de</strong> Osíris, por “contaminação” mítica pelo<br />

par feminino Ísis-Néftis, a <strong>de</strong>usa Maat, habitualmente única, passava a ser “as<br />

duas Maats”. E não há necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se invocar qualquer evolução ou mu<strong>da</strong>nça:<br />

trata-se <strong>de</strong> contextos diferentes, concomitantes, em que uma divin<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

habitualmente única po<strong>de</strong> duplicar-se, ou septuplicar-se. Isto, ao se tratar <strong>de</strong> uma<br />

religião não-revela<strong>da</strong>, é extremamente comum e não há porque o consi<strong>de</strong>rar<br />

problemático. Em outras palavras, acho que as nornas podiam ser muito<br />

numerosas em certos contextos e só três em outros, sem que tal constatação<br />

constitua um problema para cuja explicação o estudioso precise postular uma<br />

evolução no tempo. Acho também que, se examinarmos a posição <strong>de</strong>las no texto<br />

<strong>da</strong> Völuspá (estrofes 19-20), num contexto em que se expôs previamente o<br />

advento <strong>da</strong> temporali<strong>da</strong><strong>de</strong> no universo antes atemporal (estrofes 4-6), o fato <strong>de</strong><br />

terem nomes que remetem às noções <strong>de</strong> passado, presente e futuro faz todo o<br />

sentido (estrutural) do mundo, não se tratando necessariamente <strong>de</strong> um <strong>de</strong>calque<br />

<strong>da</strong>s parcas gregas (BOYER, 1998: 244).<br />

Outro exemplo é a firme convicção <strong>de</strong> Boyer <strong>de</strong> ser errôneo atribuir um<br />

caráter mágico às runas; afirmar o contrário <strong>de</strong>correria <strong>da</strong> visão equivoca<strong>da</strong>,<br />

externa, <strong>da</strong>queles que não as pu<strong>de</strong>ssem ler. Significativamente, em função disto,<br />

o seu entrevistador, Jean-Noël Robert, pensou que a atribuição <strong>de</strong> um caráter<br />

mágico às runas fosse <strong>da</strong>do recente, ao que Boyer respon<strong>de</strong>u, corretamente, que<br />

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