Sumário - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
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entanto, que as vi<strong>da</strong>s dos homens, dos animais, dos vegetais e dos próprios<br />
<strong>de</strong>uses estavam diretamente liga<strong>da</strong>s a Freya. Por isso viviam a persegui-la.<br />
Loki então retornou a Asgard com a sinistra notícia: Freya teria que se casar com<br />
Trym, para que o martelo, a mais po<strong>de</strong>rosa arma dos <strong>de</strong>uses, retornasse às mãos<br />
<strong>de</strong> Thor. Ela, revolta<strong>da</strong>, disse que jamais se casaria com um gigante. Afinal <strong>de</strong><br />
contas isso mancharia a sua reputação. Diante <strong>de</strong> tal impasse, Heim<strong>da</strong>ll, o<br />
guardião <strong>de</strong> Bifröst, a ponte do arco-íris (caminho que liga a terra a Asgard, a<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong> dos <strong>de</strong>uses), conhecido como sabedor <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as coisas, pois podia<br />
enxergar tanto <strong>de</strong> dia quanto <strong>de</strong> noite a uma distância <strong>de</strong> cem léguas, teve uma<br />
idéia: Thor iria a Jötunheim disfarçado <strong>de</strong> noiva e recuperaria o seu martelo. O<br />
<strong>de</strong>us do trovão não gostou nem um pouco disso, mas vendo que o plano <strong>de</strong><br />
Heim<strong>da</strong>ll era a única alternativa, consentiu em ir. Loki, entusiasmado, se<br />
comprometeu a ir junto como sua <strong>da</strong>ma <strong>de</strong> companhia.<br />
Ao chegarem a Jötunheim, foram recebidos, ou melhor, “recebi<strong>da</strong>s” com<br />
muita alegria e um certo sentimento <strong>de</strong> vitória por parte dos gigantes. A festa <strong>de</strong><br />
casamento foi então inicia<strong>da</strong>. A noiva, ou seja, Thor, conhecido por sua imensa<br />
gula, <strong>de</strong>vorou um boi inteiro, oito salmões e bebeu três barris <strong>de</strong> cerveja. Trym<br />
ficou boquiaberto e perguntou como a <strong>de</strong>lica<strong>da</strong> <strong>de</strong>usa do amor e <strong>da</strong> beleza<br />
po<strong>de</strong>ria ser tão voraz. Loki se antecipando salvou os disfarces dizendo que Freia,<br />
ansiosa por chegar logo à terra dos gigantes, não comia na<strong>da</strong> há oito dias. O rei<br />
dos gigantes resolve então beijar sua noiva. Ao levantar o véu que cobria seus<br />
olhos, se <strong>de</strong>parou com um olhar fulminante, o que o fez recuar assustado. Mais<br />
uma vez Loki consegue disfarçar contando a Trym que Freya não dormia há oito<br />
noites <strong>de</strong> tão feliz que estava em função do casamento, e que sua expressão<br />
<strong>de</strong>via estar realmente horrível. O soberano então mandou trazer o martelo para<br />
que este fosse colocado no colo <strong>da</strong> noiva, como havia sido combinado. Ao se ver<br />
novamente com sua preciosa e po<strong>de</strong>rosa arma, a noiva, ou melhor Thor, <strong>de</strong>u uma<br />
enorme gargalha<strong>da</strong> e girando Mjölnir <strong>de</strong>spe<strong>da</strong>çou o crânio <strong>de</strong> Trym, matando em<br />
segui<strong>da</strong> todos os gigantes que estavam presentes. Satisfeitos, Thor e Loki<br />
voltaram a Asgard.<br />
Temos aí um mito que tem como objetivo explicar os tempos <strong>de</strong> seca, ou<br />
ain<strong>da</strong>, a alternância <strong>da</strong>s estações do ano. O roubo do martelo <strong>de</strong> Thor, além <strong>de</strong><br />
indicar um período sem chuvas, dá início ao inverno, governado pelos gigantes <strong>de</strong><br />
gelo, no qual to<strong>da</strong> natureza vivencia um longo processo <strong>de</strong> hibernação, uma morte<br />
simbólica. Sua recuperação está associa<strong>da</strong> à primavera, período em que a vi<strong>da</strong><br />
volta a florescer com exuberância, ou seja, um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro renascimento.<br />
O ruivo Thor foi comparado posteriormente pelos romanos a Júpiter, pois<br />
ambos são <strong>de</strong>uses do raio e do trovão. Ele, que tem a quinta-feira a si consagra<strong>da</strong><br />
(Thurs<strong>da</strong>y, dia <strong>de</strong> Thor em inglês), assim como Júpiter nas línguas latinas (jueves,<br />
giovedi, jeudi, jovis dies), é conhecido na Alemanha como Donner (donnerstag, dia<br />
<strong>de</strong> Donner, quinta-feira em alemão), teônimo cujo significado é trovão, estrondo.<br />
Donner é filho <strong>de</strong> Wotan (Odin) na mitologia tradicional, mas Richard Wagner em<br />
sua famosa Tetralogia, obra também conheci<strong>da</strong> como O anel do Nibelungo, o<br />
coloca como cunhado do rei dos <strong>de</strong>uses, sendo portanto irmão <strong>de</strong> Fricka (Frigga),<br />
<strong>de</strong> Freya e <strong>de</strong> Froh (Freyr).<br />
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