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MARCELO MORAES E SILVA ENTRE A ILHA DESERTA E O ...

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personagem romancista, que possui inúmeras angústias sobre o processo de escrita<br />

de seus livros. O personagem, presente no texto do autor gaúcho, alcunhado de<br />

Floriano Cambará, encontrava dificuldades no processo de criação de seus<br />

romances. Segundo Roque Bandeira 8 , interlocutor de Floriano na obra de Veríssimo,<br />

o romancista Floriano “- se interessava somente por pontos pitorescos, evitando com<br />

isso tudo quanto possa significar dificuldade ... Não metes a mão no barro da vida.”.<br />

(VERISSÍMO, 1997, p.54-55).<br />

... - o que dá um romance a sua grandeza não é o seu conteúdo de verdade<br />

cotidiana nem o seu tempero de fantasia, mas o momento supremo em que<br />

o autor agarra o animal a unha, eu te citarei Dostoievsky. E se me vieres<br />

com a alegação de que o homem era um psicopata, eu te darei então<br />

Tolstoi. E se ainda achares que o velho também não era lá muito bom de<br />

bola, te direi que um homem realmente são de espírito não tem necessidade<br />

de escrever romances. E se depois desta conversa me quiseres mandar<br />

àquele lugar, estás no teu direito. Mas mantenho a minha opinião. O que te<br />

falta como romancista, e também como homem, é agarrar o touro a unha ...<br />

(VERISSÍMO, 1997, p.55 – grifos meus).<br />

O levantamento de quão são um homem poderia ser ampliado através de um<br />

diálogo com a produção do conhecimento. Assim como o personagem questiona a<br />

sanidade de um romancista, pode-se pensar essa relação também na produção de<br />

uma teoria. Alguém, dito são, pode realizar esta empreitada, entretanto, o fará sem<br />

“matar o touro a unha”, não colocando suas “mãos no barro da vida”, desviando-se<br />

de qualquer obstáculo que possa causar-lhe dificuldade. O que no meu entender<br />

deixa certas produções tanto acadêmicas como literárias, como as obras de Floriano<br />

Cambará, escritos que faltam alguns aspectos da “vida”.<br />

Num primeiro momento pode parecer “insano” utilizar essa reflexão utilizada<br />

pelo romancista gaúcho num processo de produção do conhecimento, visto que<br />

esse espaço “preza” em sua essência por uma “rigorosidade” científica, buscando<br />

estabelecer um caráter de “verdade” à pesquisa. (FOUCAULT, 1996a; 2003; FERON<br />

E <strong>SILVA</strong>, 2007).<br />

Nossa sociedade desqualifica todo discurso que não se pautar nos<br />

parâmetros da cientificidade. Nesse discurso só é competente o discurso<br />

que for moldado de acordo com as regras da objetividade e da testabilidade,<br />

do rigor cientifico, isto inclusive ou talvez, principalmente, naqueles setores<br />

8 Roque Bandeira, também chamado por Tio Bicho, é um personagem de Érico Veríssimo que<br />

possuía uma erudição autodidata.

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