MARCELO MORAES E SILVA ENTRE A ILHA DESERTA E O ...
MARCELO MORAES E SILVA ENTRE A ILHA DESERTA E O ...
MARCELO MORAES E SILVA ENTRE A ILHA DESERTA E O ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
47<br />
sobre os quais a sociedade transforma a sexualidade biológica em produtos da<br />
atividade humana. Já Robert J. Stoller (1993), refere-se ao sexo como estado<br />
biológico e ao gênero como um estado psicológico, o que para ele possibilitaria a<br />
modificação da base biológica através de experiências pós-natais visto que sexo e<br />
gênero não seriam relacionais.<br />
Pode-se notar que o biológico (sexo) nas definições desses (as) autores (as),<br />
assim como as reflexões influenciadas pelo pós-estruturalismo de Joan Scott e<br />
Jeffrey Weeks são compreendidos como base na qual os significados culturais são<br />
constituídos. Sendo assim, Linda Nicholson (2000), comentando Gayle Rubin,<br />
conclui que ao mesmo tempo em que a influência do biológico está sendo minada,<br />
acaba sendo também invocada e retomada.<br />
Entendendo que gênero e sexo são termos editados e fabricados<br />
historicamente e inscritos nos corpos dos sujeitos por uma matriz heterossexual,<br />
Tania Navarro Swain (2000) e Judith Butler (2003), indicam que as concepções<br />
sobre sexo/gênero apontadas acima não podem ser caracterizadas como falsas,<br />
muito menos como verdadeiras, mas sim compreendidas como efeitos de verdade<br />
que produzidas a partir do discurso de uma identidade fixa e estável, baseada na<br />
heterossexualidade compulsória.<br />
Somente a partir da crítica “pós-moderna 38 ” é que o binômio sexo/gênero<br />
começou a ser problematizado e a categoria sexo passou a ser vista, não somente<br />
como um dado natural e biológico, mas, sobretudo, como algo editado no plano<br />
cultural.<br />
Judith Butler (2003), uma das autoras que realiza essa crítica, argumenta que a<br />
categoria sexo pertence a um sistema de heterossexualidade compulsória que<br />
claramente opera através de um sistema de reprodução sexual compulsória 39 .<br />
38 A denominada crítica pós-moderna na teorização feminista levou, segundo os argumentos de Jane<br />
Flax (1991), a uma profunda revisão nos aspectos epistemológicos desse campo de estudos,<br />
principalmente na noção de sujeito que sustentava as formulações feministas.<br />
39 Cynthia Krauss (2000), também questiona a predominância do discurso biológico nesse campo de<br />
pesquisa. Amparando-se em vários pesquisadores do campo de estudos da própria Biologia, a autora<br />
indica que tais estudos não conseguem traçar uma fronteira biológica clara e fixa entre os homens e<br />
as mulheres, pois um mesmo sujeito pode ser macho por certas categorias e fêmea por outras.