MARCELO MORAES E SILVA ENTRE A ILHA DESERTA E O ...
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“apolíticos pós-modernos”, pois não acreditam mais em teorizações totalizadoras e<br />
em discursos metanarrativos.<br />
Alfredo Veiga Neto (2004, p.20-21), ao comentar a obra de Michel Foucault, faz<br />
um alerta muito pertinente sobre a relação entre o pensamento foucaultiano e o<br />
discurso do pensamento pós-moderno:<br />
[...] nesse ponto o filósofo se identifica com o pensamento pós-moderno, em<br />
que se enfraqueceram sobremaneira as tentativas de totalização, na medida<br />
em que a própria noção de totalidade foi abandonada. Lembro que tem sido<br />
comum caracterizar a pós-modernidade numa perspectiva de negação, isso<br />
é, pelo que ela não é, por aquilo que ela não quer fazer. Assim o<br />
pensamento pós-moderno opera uma mudança, uma reversão, em relação<br />
às condições anteriores, próprias da Modernidade [...]<br />
A desancoragem da crítica pós-estruturalista levantada por Alfredo Veiga Neto<br />
ajuda-nos a compreender que a função dessa corrente de pensamento é a de<br />
desterritorializar, desfamiliarizar, levar ao estranhamento o pensamento filosófico,<br />
pois na ausência de um porto seguro deve-se criar uma potência do pensamento,<br />
que nos faculta filosofar e problematizar infinitamente. A crítica pós-estruturalista tem<br />
em seu âmago que nenhuma questão é definitiva e acabada e que até mesmo forçar<br />
as respostas não é o melhor caminho a se seguir.<br />
[...] por isso a crítica foucaultiana não tem aquele caráter salvacionista e<br />
messiânico que é tão comum nos discursos pedagógicos: “Isso é errado e<br />
eu tenho a solução; quem me seguir fará a coisa certa”. A crítica implica<br />
uma analítica que não acusa nem lastima, uma vez que isso significaria<br />
pressupor, de antemão, uma verdade, um mundo melhor, em relação à qual<br />
e ao qual a análise se daria. Se quisermos um mundo melhor, teremos de<br />
inventá-lo, já sabendo que conforme vamos nos deslocando para ele, ele<br />
vai mudando de lugar. À medida que nos movemos para o horizonte, novos<br />
horizontes vão surgindo, num processo infinito. Mas, ao invés de isso nos<br />
desanimar, é justamente isso que tem de nos botar, sem arrogância e o<br />
quanto antes ao caminho. (VEIGA NETO, 2004, p.30-31).<br />
Esta situação, esta taxação foi uma das propulsoras para que eu repensasse<br />
minha trajetória até aqui no meio acadêmico, pois a partir disso percebi que seria<br />
preciso “matar o touro a unha”. Para tanto seria necessário conhecer e explorar todo<br />
o “arquipélago” do qual a minha “ilha deserta” faz parte, pois segundo os<br />
pensamentos de Floriano Cambará: “A vida não será um pouco isso – um repetido<br />
mudar de identidade, numa tentativa de despistamento dos outros e de nós