07.02.2015 Views

MARCELO MORAES E SILVA ENTRE A ILHA DESERTA E O ...

MARCELO MORAES E SILVA ENTRE A ILHA DESERTA E O ...

MARCELO MORAES E SILVA ENTRE A ILHA DESERTA E O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

27<br />

A figura do atleta sempre foi associada à popularidade, a um herói, a um mito,<br />

ao culto do corpo. Na escola não é diferente, seja pelo diferencial do uniforme ou<br />

pelo simples fato de participar da equipe passa-se da posição de estranho para um<br />

igual, sem falar então quando se é capitão e líder do time.<br />

O esporte é um espaço estratégico para o estudo das masculinidades e das<br />

relações de gênero. O esporte e a masculinidade vinculam-se intimamente<br />

nas sociedades ocidentais, desde as Olimpíadas gregas e os tempos<br />

romanos até as ordens modernas e pós-modernas de gênero.<br />

Culturalmente, o esporte tem sido um terreno onde a masculinidade se<br />

comprova, uma ‘escola’ na qual se aprende a valorizar o ‘ser homem’<br />

(manhood ) e a desvalorizar o ‘ser mulher’ (womanhood), um espaço<br />

cultural onde, muito freqüentemente, os meninos e os homens aprendem a<br />

se enaltecer desvalorizando os homens fisicamente mais fracos e as<br />

mulheres. (SABO, 2002, p.34).<br />

Experimentei essas sensações durante minha juventude através de um dos<br />

jogos coletivos de maior contato corporal e considerado violento, o Handebol.<br />

Tornei-me um atleta dos mais vigorosos, duros e violentos, apesar do meu físico não<br />

contribuir muito para isso. Rotinas de treinos fortes e estafantes, uma alimentação<br />

cuidadosa, suplementação nutricional, ingestão extra de aminoácidos, proteínas,<br />

entre outros produtos, chegando a determinado momento a utilizar um ciclo de<br />

anabolizantes. Tudo com objetivo de aumentar a minha performance esportiva,<br />

ampliar a massa muscular, me tornar, através de muita dor, dedicação e sacrifício<br />

um verdadeiro guerreiro, um campeão, ou seja, tornar-me o que se espera de um<br />

homem. Os olhares, as falas específicas para os atletas, à sensação de por alguns<br />

segundos poder tudo, ser o maioral ao fazer um gol, o status, a dor e a frustração<br />

produziram um determinado tipo de masculinidade sobre mim 17 .<br />

Durante minha infância pratiquei Tênis, esporte do qual gostava, mas que não<br />

dava a visibilidade que gostaria e digo, do meu eu mais íntimo, precisava. Esporte<br />

surgido na elite, e por isso considerado a prática de um gentleman, teve, e para os<br />

mais tradicionais, ainda têm como característica o uso de roupas brancas, o<br />

distanciamento físico, um código de conduta adotado pelos praticantes, além da<br />

individualidade no jogo (embora permita competições em dupla). Apenas quando já<br />

17 Experiência semelhante foi relatada anteriormente por Donald Sabo (2002), ao comentar sua<br />

inserção ao futebol americano quando jovem nos Estados Unidos e ao estudo de Carmem Sílvia<br />

Moraes Rial (1998), sobre as práticas masculinizantes de atletas de rúgbi e judô.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!