MARCELO MORAES E SILVA ENTRE A ILHA DESERTA E O ...
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A figura do atleta sempre foi associada à popularidade, a um herói, a um mito,<br />
ao culto do corpo. Na escola não é diferente, seja pelo diferencial do uniforme ou<br />
pelo simples fato de participar da equipe passa-se da posição de estranho para um<br />
igual, sem falar então quando se é capitão e líder do time.<br />
O esporte é um espaço estratégico para o estudo das masculinidades e das<br />
relações de gênero. O esporte e a masculinidade vinculam-se intimamente<br />
nas sociedades ocidentais, desde as Olimpíadas gregas e os tempos<br />
romanos até as ordens modernas e pós-modernas de gênero.<br />
Culturalmente, o esporte tem sido um terreno onde a masculinidade se<br />
comprova, uma ‘escola’ na qual se aprende a valorizar o ‘ser homem’<br />
(manhood ) e a desvalorizar o ‘ser mulher’ (womanhood), um espaço<br />
cultural onde, muito freqüentemente, os meninos e os homens aprendem a<br />
se enaltecer desvalorizando os homens fisicamente mais fracos e as<br />
mulheres. (SABO, 2002, p.34).<br />
Experimentei essas sensações durante minha juventude através de um dos<br />
jogos coletivos de maior contato corporal e considerado violento, o Handebol.<br />
Tornei-me um atleta dos mais vigorosos, duros e violentos, apesar do meu físico não<br />
contribuir muito para isso. Rotinas de treinos fortes e estafantes, uma alimentação<br />
cuidadosa, suplementação nutricional, ingestão extra de aminoácidos, proteínas,<br />
entre outros produtos, chegando a determinado momento a utilizar um ciclo de<br />
anabolizantes. Tudo com objetivo de aumentar a minha performance esportiva,<br />
ampliar a massa muscular, me tornar, através de muita dor, dedicação e sacrifício<br />
um verdadeiro guerreiro, um campeão, ou seja, tornar-me o que se espera de um<br />
homem. Os olhares, as falas específicas para os atletas, à sensação de por alguns<br />
segundos poder tudo, ser o maioral ao fazer um gol, o status, a dor e a frustração<br />
produziram um determinado tipo de masculinidade sobre mim 17 .<br />
Durante minha infância pratiquei Tênis, esporte do qual gostava, mas que não<br />
dava a visibilidade que gostaria e digo, do meu eu mais íntimo, precisava. Esporte<br />
surgido na elite, e por isso considerado a prática de um gentleman, teve, e para os<br />
mais tradicionais, ainda têm como característica o uso de roupas brancas, o<br />
distanciamento físico, um código de conduta adotado pelos praticantes, além da<br />
individualidade no jogo (embora permita competições em dupla). Apenas quando já<br />
17 Experiência semelhante foi relatada anteriormente por Donald Sabo (2002), ao comentar sua<br />
inserção ao futebol americano quando jovem nos Estados Unidos e ao estudo de Carmem Sílvia<br />
Moraes Rial (1998), sobre as práticas masculinizantes de atletas de rúgbi e judô.