MARCELO MORAES E SILVA ENTRE A ILHA DESERTA E O ...
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impor um reexame crítico das premissas e dos critérios do trabalho científico<br />
existente.<br />
Foi amparado em tal conceituação e perspectiva epistemológica, que os<br />
estudos feministas 30 desenvolveram-se e expandiram as fronteiras acadêmicas.<br />
Debruçados sobre a mesma concepção é que, segundo Elisabeth Badinter (1992),<br />
os alcunhados gays studies 31 começaram a redefinir a homossexualidade para além<br />
da identidade sexual, demonstrando que os homossexuais e as lésbicas eram<br />
sujeitos com outras formas de experimentação dos corpos, dos prazeres e dos<br />
desejos nas relações sexuais.<br />
A partir deste momento os conceitos de gênero e sexo ganham destaque<br />
especial, tornando-se peças fundamentais para as produções acadêmicas,<br />
principalmente naquilo que Carole Vance (1995), Richard Parker (1999), Jeffrey<br />
Weeks (1999), Fernando Seffner (2003) e Guacira Lopes Louro (2000) denominaram<br />
de construcionismo social 32 . Essa última autora aponta inclusive, que tal perspectiva<br />
estabeleceu, pelo menos inicialmente, uma contraposição efetiva a vertente<br />
essencialista que naturalizava e biologizava os papéis de gênero e de sexualidade.<br />
Os estudos de Joan Scott dão continuidade a esses argumentos ao ancorar-se<br />
no pensamento pós-estruturalista, principalmente em Michel Foucault, o que a faz<br />
admitir que “o gênero é um campo primário no interior do qual, ou por meio do qual,<br />
o poder é articulado” (1995, p.88) e construir a seguinte conceituação de gênero:<br />
Minha definição de gênero tem duas partes e diversos subconjuntos, que<br />
estão interrelacionados, mas devem ser analiticamente diferenciados. O<br />
núcleo da definição repousa numa conexão integral entre duas proposições:<br />
(1) o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas<br />
diferenças percebidas entre os sexos e (2) o gênero é uma forma primária<br />
de dar significado às relações de poder. (SCOTT, 1995 p. 86 - grifos meus)<br />
30 Joan Scott (1995), Guacira Lopes Louro (1995a e 2004a), Margareth Rago (1998) e Naomi Wolf<br />
(1996), fazem um alerta importante. As autoras lembram que apesar de muitas motivações e<br />
interesses em comum não se deve pensar o feminismo de uma forma monolítica e singular. Trata-se<br />
de um movimento que possui inúmeras correntes e perspectivas analíticas, como o patriarcado, o<br />
psicanalítico, o marxismo, o feminismo radical, o estruturalismo, o pós-estruturalismo e o pósmodernismo.<br />
31 De acordo com Karen Mary Giffin (2005) e Pedro Paulo de Oliveira (2004), os primeiros homens a<br />
se alinharem ao movimento feminista e aplicarem suas técnicas de reflexão foram os ativistas gays.<br />
32 Segundo Carole Vance (1995), a crescente popularidade do termo “construção social” obscurece o<br />
fato de que não se trata de um construcionismo e sim de construcionismos, pois vários/as intelectuais<br />
têm empregado o termo de diversas maneiras. Nesse sentido, não se pode pensar essa perspectiva<br />
num sentido nuclear, monolítico e singular.