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MARCELO MORAES E SILVA ENTRE A ILHA DESERTA E O ...

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49<br />

Outras estudiosas feministas têm argumentado que o próprio conceito de<br />

natureza precisa ser repensado, pois o conceito de natureza tem uma<br />

história e a descrição da natureza como uma página em branco e sem vida,<br />

como aquilo que está, por assim dizer, quase sempre morto, é<br />

decididamente moderna, vinculada talvez à emergência dos meios<br />

tecnológicos de dominação. [...] Esse repensar também coloca em questão<br />

o modelo de construção pelo qual o social atua unilateralmente sobre o<br />

natural e o investe com seus parâmetros e seus significados. De fato,<br />

embora a radical distinção beauvoiriana do feminismo, ela tem sido<br />

criticada, mais recentemente, por degradar o natural como aquilo que existe<br />

‘antes’ da inteligibilidade, como aquilo que precisa da marca do social,<br />

quando não da sua ferida, para significar, para ser conhecido, para adquirir<br />

valor. Essa forma de ver a questão deixa de compreender não apenas que<br />

a natureza tem uma história (e não meramente uma história social), mas,<br />

também, que o sexo está posicionado de forma ambígua em relação àquele<br />

conceito de ‘sexo’ é, ele próprio, um terreno conflagrado, formado, através<br />

de uma série de contestações em torno de qual deve ser o critério decisivo<br />

para distinguir entre os dois sexos; o conceito de sexo tem uma história que<br />

fica ocultada pela figura do lugar ou da superfície de inscrição. Descrito<br />

como um lugar ou superfície, entretanto, o natural é construído como aquilo<br />

que é também sem valor; além disso, ele assume seu valor ao mesmo<br />

tempo em que assume seu caráter social, isto é, ao mesmo tempo em que<br />

renuncia ao natural. De acordo com essa visão, pois, a construção social do<br />

natural pressupõe o cancelamento do natural pelo social. Na medida em<br />

que depende dessa construção, a distinção sexo/gênero faz água ao longo<br />

de linhas paralelas: se o gênero e o significado social que o sexo assume<br />

no interior de uma dada cultura [...] então o que sobra do ‘sexo’, se é que<br />

sobra alguma coisa, uma vez que ele tenha assumido o seu caráter social<br />

como gênero [...] Se o gênero consiste dos significados sociais que o sexo<br />

assume então o sexo não adquire significados sociais como propriedades<br />

aditivas, mas, ao invés disso, é substituído pelos significados sociais que<br />

adota; o sexo é abandonado no curso dessa assunção e o gênero emerge<br />

não como um termo em uma permanente relação de oposição ao ‘sexo’, a<br />

marca de sua substanciação plena no gênero ou aquilo que, do ponto de<br />

vista materialista, pode constituir uma plena dessubstanciação 41 .<br />

Nesse sentido, tanto Donna Haraway como Judith Butler, apontam categorias<br />

alternativas ao binômio sexo/gênero. A primeira, segundo assinala Adriana Piscitelli<br />

(1997, p.53), cunha o termo “o apparatus de produção corporal (apparatus of bolily<br />

production)”. Já Judith Butler, para superar os tais “problemas de gênero” 42 elabora a<br />

número de indivíduos existentes, o sexo não teria como conceituação, qualquer aplicação genérica,<br />

ou seja, seria uma definição singular que não poderia ser operacionalizada como generalização útil<br />

ou descritiva.<br />

41 Judith Butler (2003), argumenta que a o construto chamado sexo é tão culturalmente produzido<br />

quanto o gênero, segundo a autora, a rigor, talvez o sexo tenha sempre sido gênero, de tal forma que<br />

a distinção entre sexo e gênero seja nenhuma.<br />

42 Judith Butler (2003), afirma que os debates feministas contemporâneos sobre os significados do<br />

conceito de gênero levam a certa sensação de problema, como se sua indeterminação culminasse<br />

com um fracasso do feminismo. Contudo, a autora discorda desse posicionamento, indicando que tal

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