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MARCELO MORAES E SILVA ENTRE A ILHA DESERTA E O ...

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outra forma de produção literária considerada “menor” 16 . (DELEUZE; GUATTARI,<br />

1977; GALLO, 2005; DELEUZE, 2006).<br />

Baseado nestes pontos afirmo amparado em Suely Rolnik (2006, p.66), “que a<br />

linguagem para o cartógrafo não é veículo de mensagem e salvação. Ela é, em si<br />

mesma, criação de mundos. Um tapete voador... Veículo que promove a transição<br />

para novos mundos”. O que pretende um cartógrafo é a participação na constituição<br />

de territórios existenciais, constituição de realidade, pois ele não teme o movimento,<br />

deixa o seu corpo vibrar em todas as seqüências possíveis e ainda fica inventando<br />

novas posições a partir das quais passa a aceitar a vida se entregando de corpo e<br />

língua.<br />

Restaria saber quais são os procedimentos de um cartógrafo. Ora, estes<br />

tampouco importam, pois ele sabe que deve ‘inventá-lo’ em função daquilo<br />

que pede o contexto que se encontra. Por isso ele não segue nenhuma<br />

espécie de protocolo normalizado. (ROLNIK, 2006, p.66 – grifos da autora).<br />

Para dar prosseguimento aos aspectos problematizados retomo aqui, a obra de<br />

Veríssimo para evidenciar a construção do personagem de Floriano Cambará, que<br />

apesar de fictício, encontrava-se, assim como nós, mergulhado em diversas e<br />

complexas teias discursivas, cercado por um emaranhado de relações de poder e<br />

que assim como um cartógrafo procurava não seguir nenhuma espécie de protocolo<br />

normalizado, deixando que o próprio movimento de seu corpo vibrasse para que<br />

pudesse realizar a escrita de seus romances.<br />

Isto pode ser observado em uma passagem do texto de Érico Veríssimo, no<br />

qual Floriano conversa com seu pai Rodrigo Cambará - um comensal do Estado<br />

Novo de Getúlio Vargas, com seu irmão Eduardo- um membro do Partido<br />

Comunista, seu primo, Irmão Toríbio (Zeca) - um padre da Igreja Católica, além do já<br />

citado Roque Bandeira:<br />

- Estive pensando ... [...] - Nenhum homem é uma ilha ... O diabo é que<br />

cada um de nós é mesmo uma ilha, e nessa solidão, nessa separação, na<br />

dificuldade de comunicação e verdadeira comunhão com os outros, reside<br />

quase toda a angústia de existir. [...] - E a comunicação entre as ilhas é das<br />

16 Alfredo Veiga Neto (2004), baseado em Michel Foucault, argumenta que cada de um de nós nasce<br />

num mundo que já é de linguagem, num mundo em que o discurso já está há muito tempo circulando<br />

e que nos tornamos sujeitos frutos desses discursos. O autor ainda coloca que esse sujeito de um<br />

discurso não é de origem individual e autônomo e que é impossível que este se posicione fora dele<br />

para poder falar.

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