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12<br />
do tiroteio e gritaria,<br />
acorreram criados e<br />
alguns sol<strong>da</strong>dos <strong>da</strong><br />
guarnição, que transportaram<br />
os feridos<br />
para o Paço <strong>da</strong> Alcáçova.<br />
Ali faleciam, no<br />
mesmo dia e depois<br />
de confessados e<br />
receberem a extrema<br />
unção, tanto D.<br />
Pedro como o seu<br />
criado. Quanto a<br />
Bernardo <strong>da</strong> Silva<br />
sobreviveu aos ferimentos,<br />
permanecendo<br />
no castelo durante<br />
algum tempo sob os cui<strong>da</strong>dos do médico e<br />
cirurgião Dr. Francisco de Luna (irmão do célebre Dr.<br />
Filipe Montalto).<br />
Este dramático acontecimento provocou um<br />
ver<strong>da</strong>deiro estado de tensão na vila, pois o alcaide-<br />
-mor D. António de Meneses tomou imediatamente<br />
as medi<strong>da</strong>s indispensáveis para a captura e castigo<br />
dos implicados na morte de seu filho: fecharam-se as<br />
portas <strong>da</strong> fortaleza e cerca amuralha<strong>da</strong>; piquetes<br />
armados esquadrinhavam a terra e arredores, em<br />
busca dos assassinos; meteram-se na prisão<br />
algumas pessoas supostas cúmplices no atentado,<br />
entre elas os pais de Manuel <strong>da</strong> Fonseca Leitão e<br />
Simão <strong>da</strong> Silva de Almei<strong>da</strong> (o pai e a irmã deste ficaram<br />
detidos em casa). Durante três dias, os sinos <strong>da</strong>s<br />
igrejas anunciam as cerimónias com o enterro <strong>da</strong>s<br />
vítimas e a celebração de missas por suas almas.<br />
De Lisboa veio logo uma numerosa alça<strong>da</strong> presidi<strong>da</strong><br />
pelo desembargador João Pinheiro, que convoca e ouve<br />
testemunhas, entre as quais o Dr. Francisco de Luna;<br />
liberta os julgados inocentes, como o Dr. João de<br />
Almei<strong>da</strong> e seus filhos; e acaba por confirmar as<br />
suspeitas quanto ao envolvimento no caso <strong>da</strong> nobre<br />
família dos Fonseca Leitão.<br />
A alça<strong>da</strong> permanece bastante tempo na vila,<br />
recebendo ordenados elevados todos os seus<br />
membros. Assim: o juiz-presidente, Dr. João Pinheiro,<br />
vencia 4 cruzados por dia; o meirinho Francisco do<br />
Vale e o escrivão Sebastião do Vale, 500 réis ca<strong>da</strong><br />
um, além de mais 12 homens a 100 réis e tudo ã<br />
custa <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> dos delinquentes.<br />
Enfim, a sentença é pronuncia<strong>da</strong> em Castelo<br />
Branco, a 14.12.1624, sendo condenados todos os<br />
culpados não só em pesa<strong>da</strong>s penas pecuniárias<br />
destina<strong>da</strong>s às famílias <strong>da</strong>s vítimas e despesas com o<br />
processo, mas também aos mais severos castigos,<br />
que são logo executados na praça <strong>da</strong> vila e por forma<br />
simbólica, pois não se haviam capturado os<br />
criminosos. Assim: Manuel <strong>da</strong> Fonseca Leitão foi<br />
degolado em estátua ao pé do pelourinho e obrigado<br />
ao pagamento de 2000 cruzados a D. António de<br />
Meneses, 300000 réis aos irmãos de Manuel de Matos<br />
e 200000 réis para Bernardo <strong>da</strong> Silva; Francisco <strong>da</strong><br />
Costa de Mendonça (seu tio, irmão <strong>da</strong> mãe) enforcado<br />
também em estátua e a igual indemnização; João<br />
Tavares, o «Castelhano» e Francisco Mayor, o<br />
«corta-focinhos», enforcados depois de decepa<strong>da</strong>s as<br />
mãos no pelourinho; Francisco <strong>da</strong> Proença degra<strong>da</strong>do<br />
até ao fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> para Angola, com baraço e pregão<br />
pelas ruas públicas; Manuel Vaz Alfaia e António<br />
Sanches em 5 anos de degredo para o Brasil.<br />
Quanto aos pais e irmãos de Manuel <strong>da</strong> Fonseca<br />
Leitão, que haviam ficado presos, foram condenados<br />
em 8 anos de degredo para o Brasil; a nunca mais<br />
viverem em Castelo Branco ou 10 léguas ao redor; e<br />
no pagamento de 4000, 200 e 100 cruzados,<br />
respectivamente, para os mesmos acima nomeados.<br />
Como os restantes réus an<strong>da</strong>vam fugidos, Antão <strong>da</strong><br />
Fonseca teve de suportar to<strong>da</strong>s as penas pecuniárias,<br />
avalia<strong>da</strong>s em cerca de 25000 cruzados. No<br />
cumprimento <strong>da</strong> sentença partiu para o Brasil, onde<br />
morreram sua mulher e dois filhos, ambos solteiros e<br />
sem geração: a infeliz D. Maria de Mendonça e João<br />
<strong>da</strong> Fonseca, a quem mataram em Pernambuco. De<br />
regresso a Portugal, viveu os últimos anos em Oledo,<br />
aqui falecendo a 15.3.1651. Manuel <strong>da</strong> Fonseca<br />
Leitão, seu filho herdeiro, esteve homiziado muitos<br />
anos em Castela e passando a Roma ali tomou ordens<br />
menores. Por alvará de 20.4.1651, EI-Rei D. João IV<br />
deu-lhe licença para voltar ao reino, falecendo no<br />
Sabugal a 23.3.1673.<br />
Entre finais de 1508 e começos de 1509,<br />
desenrolara-se também na antiga fortaleza<br />
albicastrense, mais precisamente no Paço dos<br />
Comen<strong>da</strong>dores e Alcaides-mores, um outro<br />
acontecimento dramático, que vamos relatar por forma<br />
sucinta...<br />
Era então alcaide-mor <strong>da</strong> vila D. João de Castelo<br />
Branco, 3° filho de D. Filipa de Ataíde e Nuno Vaz de<br />
Castelo Branco, vedor <strong>da</strong> azen<strong>da</strong> de D. Duarte e D.<br />
Afonso V, monteiro-mor e almirante do reino<br />
(12.4.1467), etc.<br />
Ora, não obstante a sua fama de galante poeta e<br />
esforçado cavaleiro, D. João foi muito infortunado no<br />
amor. Tinha casado com D. Leonor (filha de D. Isabel<br />
de Sousa e Afonso Vaz de Brito alcaide-mor de Souse<br />
e caçador-mor de D. Manuel I) e, havendo tomado<br />
posse de alcai<strong>da</strong>ria de Castelo Branco, (c. 1506), ali<br />
passou a residir com sua mulher e filha, nos paços<br />
<strong>da</strong> Alcáçova. Porém, D. Leonor apaixonou-se<br />
loucamente por Frei António Penalvo, seu capelão e<br />
benificiado na igreja de Santa Maria do Castelo. Este,<br />
instigado pela amante, acometeu certa noite à traição<br />
o descui<strong>da</strong>do alcaide-mor, deixando-o estropiado e<br />
quase morto...<br />
Sobre o caso existem escassas memórias e delas<br />
apresentamos talvez a mais curiosa: