You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
53<br />
Esta edição do romance, foi galardoa<strong>da</strong> na altura<br />
em que saiu, com o Prémio Ricardo Malheiros (5) . Foi<br />
traduzi<strong>da</strong> para castelhano ( Edit. Noguer) e para italiano<br />
com um prefácio de Enrico Miglioli (Aldo Mortello<br />
Editore) (6) . Chegaram a anunciar a a<strong>da</strong>ptação ao cinema,<br />
mas parece que não chegou a concretizar-se (7) .<br />
Por fim, resta-me registar com interesse, nesta<br />
reunião, que o autor do romance, ain<strong>da</strong> escreveu várias<br />
biografias romancea<strong>da</strong>s, de Hipócrates, de Galeno,<br />
de Avicena, de Paracelso, de Vesalio, do nosso Ribeiro<br />
Sanches e de muitos outros médicos.<br />
4. A dor e a morte dos mineiros. A agudização<br />
do drama do camponês.<br />
Escrevia o autor, na página 227 sobre os mineiros:<br />
«O volfro enriquece todo o mundo, menos o mineiro.<br />
A condição do mineiro é pagar com a morte, ser<br />
roubado pela companhia e pelo seguro.»<br />
«...A mina é uma perdição.» Nas páginas 169-170<br />
e em segui<strong>da</strong>, conta a desonra <strong>da</strong> Maria do Freixo e a<br />
dor <strong>da</strong> família que está emprega<strong>da</strong> na mina e que não<br />
pode sequer quixar-se.<br />
«Um capataz, um dia, disse ao médico que os<br />
minérios têm um bafo podre.», na página 125. Embora<br />
os exemplos sejam muitos, parece-nos eluci<strong>da</strong>tivo<br />
este <strong>da</strong> página 107:<br />
«Sempre que um homem tem um pouco de dinhei-ro<br />
para uma garrafa de vinho e um a-propósito para se<br />
juntar num adro, ou uma ten<strong>da</strong> com os camara<strong>da</strong>s, a<br />
ouvir a safona ou a historiar uma coisa boa <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, a<br />
desgraça doí menos».<br />
Na página 85 diz, «Dois de Rebordelo ficaram numa<br />
cova...».<br />
Outro problema que é largamente repetido são as<br />
tosses e as humi<strong>da</strong>des:<br />
- «... a tosse negra desfazia os pulmões», na pág.<br />
119;<br />
- «... sem tectos de galerias, suor de esforços,<br />
ansie<strong>da</strong>des, tufo, a mor<strong>da</strong>çar, o ar puro e livre.» na<br />
pàg. 107, assim como na pàg. 97 e na 82;<br />
- «... a catarral» na pàg. 171, até «... já o viu a<br />
escarrar tufo.» pàg. 228;<br />
- e na pàg. 56 «... a tuberculose... como se fosse<br />
peste».<br />
Outro aspecto são os sintomas do bom viver. Que<br />
aparecem na pàg. 8: «Ele é cerveja, ele é bom<br />
cabrito»;<br />
ou então: «...comer galinhas e porcos como a<br />
burguesia...» na pág. 6 e também, na pág. 9: «... e<br />
todo o pobre é feliz se tiver jorna...»<br />
e na pàg. 95: «... e todo o pobre tem um dia direito<br />
a ser burguês...»<br />
Em referência às aldeias espalha<strong>da</strong>s pela Beira<br />
Baixa, diz, na pàg. 100: «Ali em S. Francisco vão-se<br />
despejando as populações <strong>da</strong>s aldeias do distrito.»<br />
Fala de I<strong>da</strong>nha, de Penha Garcia, do Salvador, de<br />
Medelim, <strong>da</strong>s Sarze<strong>da</strong>s, de Proença. Cita muitas<br />
vezes a Serra <strong>da</strong> Gardunha e os ventos que sopram<br />
de Iá e também a Serra <strong>da</strong> Gata, já em Espanha.<br />
Faltando-lhe a visão geográfica <strong>da</strong> Estrela que domina<br />
todo o Zêzere e a aldeia junto a ele que é S. Francisco<br />
e vê-se claramente que lhe falta esse<br />
conhecimento.<br />
Outro aspecto é não se falar ain<strong>da</strong> no fim <strong>da</strong> segun<strong>da</strong><br />
guerra mundial,<strong>da</strong> selicose, embora na pág. 82, se<br />
refira, «Tem de limpar esses pulmões de poeira...».<br />
Para terminar, duas notas, uma triste e outra menos<br />
triste. Todos nós, uns mais outros menos, tivemos ou<br />
sentimos a dor e por vezes prolonga<strong>da</strong>,e com um<br />
sofrimento atroz. Ás vezes de tal intensi<strong>da</strong>de que<br />
parece que o homem não resistiria. Mas não, resiste.<br />
A capaci<strong>da</strong>de de sofrimento, no homem, parece quase<br />
infinita.<br />
A menos triste, para terminar, é que hoje em dia,<br />
em S. Francisco, as casas já não estão negras e<br />
soturnas, são caia<strong>da</strong>s, têm bom aspecto, as crianças<br />
são saudáveis e as famílias têm os menos problemas<br />
que noutra terra qualquer. E os empresários são iguais<br />
a todos os outros, embora continuem a ser<br />
estrangeiros.<br />
O romance, também, deve ter contribuído para tudo<br />
isso.<br />
* Eng. Agrónomo.<br />
Bibliografia<br />
1. Namora Fernando,1946, Minas de San Francisco.<br />
1ª Edição, Coimbra Editora, Limita<strong>da</strong>, Coimbra.<br />
2. Idem, 1987, Autobiografia. Col.«Autobiografias»,<br />
n°1, 1ª Edição, Ed. «O Jornal». Lisboa, Outubro,1987<br />
3. Sacramento, Mário, 1967, Fernando Namora. A<br />
obra e o Homem. Editora Arcádia Limita<strong>da</strong>, Lisboa<br />
4. Mendes Correia, Prof. Dr. António et al., 1950,<br />
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. VOL<br />
XVII, Ed. Enciclopédia Limita<strong>da</strong>, Lisboa, Rio de Janeiro.<br />
5. Alves Pires et al., 1972, Encicopédia Luso-<br />
-Brasileira de Cultura. Edit. Verbo, Lisboa.<br />
6. Ortega y Gasset, José, 1980, Origen y Epilogo<br />
de la filisofia, (1929). Colección Austral, Espasa-<br />
Calpe, S.A., Madrid.