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15<br />
Sé desta ci<strong>da</strong>de, aonde a Câmara havia man<strong>da</strong>do<br />
construir uma soberba essa coberta de baeta preta e<br />
guarneci<strong>da</strong> de galões e emblemas <strong>da</strong> Morte, tendo<br />
em cima do túmulo uma Coroa Real. Ali assistiu todo<br />
este luzido acompanhamento e imenso povo a um<br />
pomposo ofício e missa de defuntos, celebrado pelo<br />
Ilmo. e Rmo. Vigário Capitular e Governador deste<br />
Bispado, Dr. Manuel dos Reis Soares, assistido por<br />
todo o clero secular e regular de 2 léguas de<br />
circunferência, que para este efeito tinha convi<strong>da</strong>do,<br />
sendo grande o concurso de pessoas de um e outro<br />
sexo.<br />
No fim <strong>da</strong> missa, Rdo. P. Frei Joaquim de S.<br />
Martinho, definidor <strong>da</strong> Província <strong>da</strong> Sole<strong>da</strong>de, pregou<br />
um eloquente sermão, seguindo-se as<br />
Absolvições na forma do ritual, a que<br />
assistiram todos os eclesiásticos com<br />
velas acesas (que a Câmara lhes<br />
mandou distribuir).<br />
Durante a cerimónia, o Regimento de<br />
Cavalaria 11, que se achava postado no<br />
grande Largo <strong>da</strong> Catedral, deu as suas<br />
descargas.<br />
Fin<strong>da</strong>s estas piedosas cerimónias, o<br />
cortejo recolheu na mesma ordem à<br />
casa do dito juiz de fora, manifestando<br />
todos no seu semblante o grande<br />
sentimento de que estavam penetrados<br />
pela lamentável per<strong>da</strong> <strong>da</strong> nossa<br />
amabilíssima soberana» (21)<br />
José Manuel Vaz Touro , o autor deste<br />
relato, nasceu em Castelo Branco a<br />
5.5.1770, sendo filho de João Mendes<br />
do Amaral e de sua mulher D. Francisca<br />
Bernar<strong>da</strong> Fragoso. Por diploma régio de<br />
29.4.1803 (22) , foi encartado no oficio de<br />
escrivão <strong>da</strong> Câmara <strong>da</strong>quela ci<strong>da</strong>de, que<br />
exerceu até à <strong>da</strong>ta do seu falecimento.<br />
Casou com D. Maria Joaquina Alves<br />
Fradique que, sendo viúva, alcançou de D. João VI a<br />
proprie<strong>da</strong>de do dito oficio para a pessoa que casasse<br />
com sua filha primogénita (Lisboa, 23.9.1823) ... (23)<br />
VII - Retrato de uma Jovem Matrona<br />
Albicastrense dos Começos de Setecentos<br />
Assento 15 (S2 - 3B, fl. 34) - Francisca, filha de<br />
Afonso <strong>da</strong> Gama Palha natural <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Elvas e<br />
de sua mulher D. Ana Maria <strong>da</strong> Silva Sotomayor desta<br />
freguesia e primeiro matrimónio, nasceu aos 22 de<br />
Outubro de 1695 e foi baptiza<strong>da</strong> aos 6 dias do mês de<br />
Novembro <strong>da</strong> dita era pelo P. Manuel de Vala<strong>da</strong>res<br />
Sotomayor prior do Teixoso e tio <strong>da</strong> dita baptiza<strong>da</strong>,<br />
de minha licença. Foram padrinhos o desembargador<br />
Luís de Vala<strong>da</strong>res Sotomayor e D. Francisca<br />
Sotomayor, respectivamente, avô e tia <strong>da</strong> dita<br />
baptiza<strong>da</strong>. E, para constar, fiz este assento dia, mês<br />
e era «ut supra» / O Vig°. Frei João Marques.<br />
Comentário<br />
Assim se acha registado o nascimento de D.<br />
Francisca Xavier Filipa <strong>da</strong> Gama Sotomayor, filha única<br />
e herdeira <strong>da</strong> casa de seus pais, pertencentes a<br />
famílias nobres do reino.<br />
Contando quási 14 anos de i<strong>da</strong>de, casou em Elvas<br />
a 31.7.1709 com D. João de Aguilar Mexia de Avilez e<br />
Silveira, natural de Arronches, fi<strong>da</strong>lgo <strong>da</strong> Casa Real,<br />
cavaleiro <strong>da</strong> Ordem de Cristo e familiar do Santo Oficio,<br />
filho de D. Afonso de Aguilar Monroy e D. Filipa Maria<br />
de Sequeira.<br />
Casamento tratado pelos pais dos noivos e que iria<br />
florescer como se de amores tivesse nascido. Viveram<br />
em Elvas com grande Casa e numerosa<br />
descendência, mas D. Francisca<br />
seria vítima de trágico acidente,<br />
quando se consumavam sobre a<br />
<strong>da</strong>ta desta feliz união 14 anos, 2<br />
meses e 9 dias, «sem que em<br />
todo este tempo houvesse entre<br />
ela e seu marido o mínimo<br />
desgosto, discórdia ou hora de<br />
arrependimento mas antes se<br />
trataram sempre em admirável paz<br />
com a mesma ternura e fineza que<br />
se pratica entre os noivos»... Autor<br />
<strong>da</strong> época deixou-nos um relato<br />
pormenorizado e interessante<br />
acerca desta família, onde destaca<br />
por forma singular a figura <strong>da</strong> jovem<br />
senhora, que retrata do seguinte<br />
modo: - « De corpo gentil, branca<br />
e cora<strong>da</strong> como uma rosa, cabelo<br />
bem povoado e mais louro que<br />
castanho, olhos pequenos mas<br />
vivos e em to<strong>da</strong>s as mais feições,<br />
com proporção engraça<strong>da</strong>, se<br />
compunha de uma particular<br />
beleza. Participava mais luz o seu<br />
entendimento do que costuma caber na esfera do<br />
discurso de mulher; modo grave e senhoril, sem deixar<br />
de ser afável; airosa e bem pren<strong>da</strong><strong>da</strong> no tratamento<br />
de sua pessoa; benigna e prudente de condição; vigilante<br />
com a sua família e cui<strong>da</strong>dosa no governo dela.<br />
No público sabia ser senhora e, no particular <strong>da</strong> sua<br />
casa, especulativa e laboriosa, unindo felizmente os<br />
dois extremos de ter governo e ser liberal. Era<br />
agradeci<strong>da</strong> e primorosa e, sobretudo, fidelíssima à<br />
veneração de seus pais e ao amor e estimação de<br />
seu marido. Sem exemplo na doutrina e educação de<br />
seus filhos pois amando-os com o maior carinho,<br />
como se fora só um o objecto do seu amor estando<br />
igualmente repartido por dez, os ensinava em<br />
religiosos costumes, com a mais severa disciplina;<br />
instruía-os na reverência e temor de Deus, na boa e<br />
importante união entre si e na estimação de suas<br />
pessoas, sem desprezo dos próximos ou menos