15.02.2015 Views

Aqui - História da Medicina

Aqui - História da Medicina

Aqui - História da Medicina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

13<br />

- D. Leonor de Sousa, mulher do alcaide-mor D.<br />

João de Castelo Branco, fazia-lhe adultério com um<br />

clérigo seu capelão e, para mais seguramente<br />

continuar no seu delito, ordenou que o dito clérigo o<br />

matasse. Para este fim o meteu em sua casa, que<br />

era no castelo <strong>da</strong> vila de Castelo Branco e, entrando<br />

D. João pela porta já de noite, lhe deu o dito clérigo<br />

com um alfange muitas feri<strong>da</strong>s, deixando-o por morto;<br />

e, logo, para desmentirem o delito, se pôs a dita D.<br />

Leonor e o clérigo sobre<br />

o corpo de D. João a<br />

fazer grande pranto<br />

contra quem o matara.<br />

Acudiu o juiz de fora e<br />

fazendo buscar to<strong>da</strong>s<br />

as pessoas, que estavam<br />

na casa, se achou<br />

ao clérigo o alfange<br />

ensanguentado pelo<br />

que, compreendendo o<br />

delito e a origem dele,<br />

o prendeu e a D.<br />

Leonor. E <strong>da</strong>ndo conta<br />

a El-Rei, que estava em<br />

Évora, ele os mandou<br />

levar áquela ci<strong>da</strong>de e<br />

logo mandou degolar a<br />

dita D. Leonor e o<br />

clérigo foi degra<strong>da</strong>do<br />

para S. Tomé, onde<br />

seria morto por um parente de D. João, o qual não<br />

morreu <strong>da</strong>s feri<strong>da</strong>s mas ficou aleijado. Depois, correndo<br />

o tempo e desavindo-se com D. Manuel I, lhe pediu<br />

licença para passar a Castela e El-Rei lha deu e<br />

também para vender a alcai<strong>da</strong>ria-mor a D. Diogo de<br />

Meneses, claveiro <strong>da</strong> Ordem de Cristo; e D. João,<br />

pondo em efeito a sua determinação, se passou áquele<br />

reino onde morreu». (19)<br />

Uma outra versão refere que D. Leonor de Sousa<br />

fora sentencia<strong>da</strong> « a morrer morte natural por justiça,<br />

sem lhe valer a grandeza do nascimento nem a valia<br />

dos seus muitos e ilustres parentes», (20) tendo sido<br />

degola<strong>da</strong> na praça de Évora, onde D. Manuel esteve<br />

continua<strong>da</strong>mente desde Outubro de 1508 a Setembro<br />

de 1509. Quanto a D. João sofrera profun<strong>da</strong>s cutila<strong>da</strong>s<br />

numa mão, face e vista, de tal modo que quando Duarte<br />

de Armas passou por Castelo Branco, em meados de<br />

1509, ain<strong>da</strong> ele se achava incapacitado para o exercício<br />

<strong>da</strong>s suas funções. No entanto, acaba por restabelecerse<br />

e suponho que o epíteto de o «Braço de Ferro»,<br />

pelo qual é designado algumas vezes, não teria<br />

resultado apenas do seu grande valor mas talvez por<br />

utilizar qualquer aparelho metálico destinado a corrigir<br />

esse membro afectado pela brutal agressão do amante<br />

<strong>da</strong> mulher.<br />

Enfim, D. João retoma a sua activi<strong>da</strong>de e, a<br />

13.8.1513, parte de Lisboa na arma<strong>da</strong> capitanea<strong>da</strong><br />

por D. Jaime, duque de Bragança, que vai tomar<br />

Azamor no norte de África. De regresso ao reino<br />

(1514), D. Manuel concede-lhe a comen<strong>da</strong> dos<br />

Maninhos, em Castelo Branco, ficando também a<br />

usufruir a tença de 10000 réis por ano com o hábito<br />

de Cristo ... O mesmo rei dá-lhe licença, em 5.6.1516,<br />

para trespassar uma tença de 30000 réis em sua única<br />

filha D. Maria de Castelo Branco, por virtude do<br />

casamento desta com Fernão Cabral, senhor de<br />

Azurara e alcaide-mor<br />

de Belmonte.<br />

Mas,<br />

pouco tempo depois,<br />

vende a<br />

alcai<strong>da</strong>ria-mor de<br />

Castelo Branco<br />

a D. Diogo de<br />

Meneses, claveiro<br />

<strong>da</strong> Ordem<br />

de Cristo e retira-<br />

-se para Castela,<br />

onde teve brigas<br />

sobre uma <strong>da</strong>ma<br />

com «El Grand<br />

Capitan», D.<br />

Gonçalo Fernandez<br />

de Cordoba.<br />

No «Cancioneiro<br />

Geral» de Garcia<br />

de Resende<br />

(1516), vemos uma só poesia <strong>da</strong> sua autoria dirigi<strong>da</strong><br />

a D. Guiomar de Meneses e nela declara: « Se vos<br />

eu vira, senhora, antes de ter o mal meu...»<br />

VI - Exéquias Reais em Castelo Branco. A<br />

quebra dos escudos pela morte de D. Maria I.<br />

Assento 14 (S2 - 50, fl. 114v) - José Manuel Vaz<br />

Touro, casado com Maria Joaquina, faleceu de uma<br />

apoplexia com o sacramento <strong>da</strong> extrema unção e sem<br />

testamento, aos 9 de Março de 1823. Foi sepultado<br />

no cemitério, no mesmo dia, de que fiz este termo<br />

que assinei / o Vig° Manuel Domingues Crespo.<br />

Comentário<br />

Eis uma <strong>da</strong>s mais pomposas e concorri<strong>da</strong>s<br />

cerimónias fúnebres realiza<strong>da</strong>s em Castelo Branco<br />

no decurso de vários séculos e após o falecimento de<br />

ca<strong>da</strong> um dos nossos monarcas.<br />

As exéquias reais compunham-se, geralmente, de<br />

duas partes bem defini<strong>da</strong>s: na primeira, de carácter<br />

civil, procedia-se à simbólica quebra dos escudos<br />

com as armas do soberano falecido; na segun<strong>da</strong>, de<br />

essência religiosa, eram celebrados os oficios solenes<br />

em honra e sufrágio do mesmo.<br />

Embora com um ligeiro arranjo, vamos transcrever<br />

o Auto de 27.7.1816, onde o escrivão <strong>da</strong> Câmara José<br />

Manuel Vaz Touro (cujo registo de óbito consta do<br />

Assento 14) faz um minucioso relato do que se

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!