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Aqui - História da Medicina

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19<br />

adro <strong>da</strong> igreja <strong>da</strong> Sé, quási em frente <strong>da</strong> porta <strong>da</strong><br />

Sacristia. (28)<br />

Ora, ao procederem à sua inumação cometeu-se<br />

um acto para o qual não encontrei ain<strong>da</strong> qualquer<br />

justificação satisfatória... Assim, a fim de cobrir a<br />

sepultura de D. Frei Vicente utilizou-se a mesma<br />

campa que havia 86 anos tinha sido coloca<strong>da</strong> sobre a<br />

de D. Joana Maria Josefa de Meneses, como contei<br />

na 1° parte desta história. Para o efeito, virou-se ao<br />

contrário e sobre a nova face vista (o anverso <strong>da</strong> anterior)<br />

gravaram-se, igualmente, as armas do Prelado<br />

com as respectivas insígnias e um letreiro indentificativo<br />

contendo a <strong>da</strong>ta do seu falecimento.<br />

Deste modo surgiu a chama<strong>da</strong> lápide sepulcral<br />

biface (isto é, com epígrafes diferentes nas duas faces)<br />

a qual, durante cerca de 129 anos, permaneceu no<br />

adro <strong>da</strong> Sé sem qualquer protecção ou resguardo dos<br />

agentes atmosféricos, pessoas e animais... Talvez por<br />

esse motivo e/ou pelo trabalho mais apressado do<br />

canteiro, o seu lavor apresenta-se um pouco sumido<br />

e menos perfeito que o primeiro.<br />

Porém, uma vez mais o destino viria alterar esta<br />

situação pois, a 23.10.1943, (como se indica no<br />

averbamento ao Assento 20) procedeu-se à exumação<br />

dos restos mortais do Bispo e à sua trasla<strong>da</strong>ção para<br />

um sarcófago colocado sob o arco cruzeiro <strong>da</strong> capelamor<br />

<strong>da</strong> mesma igreja, em conformi<strong>da</strong>de com as<br />

instruções de D. Domingos Frutuoso, então bispo de<br />

Portalegre ... (29)<br />

Quanto à lápide sepulcral biface manteve-se ain<strong>da</strong><br />

durante algum tempo no adro <strong>da</strong> Sé, recolhendo<br />

finalmente ao Museu ... (30)<br />

XI - O Horror <strong>da</strong> Falsa Morte<br />

Assento 21 (S2 - 10 B, fl. 273v) - José filho legítimo<br />

de José António Morão e de sua mulher Luísa Violante<br />

desta ci<strong>da</strong>de, neto paterno de Gaspar Mendes Morão<br />

<strong>da</strong> vila de I<strong>da</strong>nhaa-Nova<br />

e de Guiomar<br />

Henri-ques <strong>da</strong> vila do<br />

Fundão e, materno,<br />

de António José de<br />

Paiva <strong>da</strong> vila de<br />

I<strong>da</strong>nha-a-Nova e de<br />

Branca Maria natural<br />

de Salvaterra do<br />

Extremo, nasceu aos<br />

três dias do mês de<br />

Setembro de 1787 e<br />

foi solenemente baptizado<br />

por mim, o<br />

vigário abaixo assinado,<br />

aos 18 do dito<br />

mês e ano, sendo<br />

padrinhos o capitão<br />

José Pessoa Tavares e Leonor Pereira <strong>da</strong> Silva (por<br />

quem tocou seu filho António) e, sendo testemunhas,<br />

o R.do Carlos José Machado e o R.do António <strong>da</strong><br />

Maia Nogueira, de que fiz este termo que assinei / O<br />

Vig° encomen<strong>da</strong>do Manuel dos Reis Soares.<br />

Comentário<br />

O Assento 21, que acabamos de transla<strong>da</strong>r, dá-nos<br />

uma rapidíssima visão <strong>da</strong> primeira cerimónia em que<br />

participou como principal figura o baptizado, cujo nome<br />

completo seria o mesmo do pai, José António Morão.<br />

Frequentou a Universi<strong>da</strong>de de Coimbra, onde se<br />

matriculou em Matemática e <strong>Medicina</strong>, formando-se<br />

nesta última ciência a 6.7.1812, depois de um curso<br />

distinto. No ano seguinte (1813), estreia-se na vi<strong>da</strong><br />

profissional como médico do partido em Alma<strong>da</strong>, ali<br />

permanecendo cerca de 10 anos.<br />

De regresso à terra natal, obtem um cargo de médico<br />

municipal no qual é confirmado por provisão régia<br />

(Lisboa, 14.5.1823) (31) e irá exercer com a maior<br />

proficiência até 1846.<br />

No decurso deste período e nos anos seguintes,<br />

desempenha com grande zêlo e distinção diversas<br />

funções de natureza política e administrativa: deputado<br />

<strong>da</strong> nação pela província <strong>da</strong> Beira Baixa (1834); vogal<br />

do primeiro Conselho do Distrito de Castelo Branco<br />

(1836) e seu governador civil interino (de que houve<br />

louvor pela portaria de 8.1.1848); 2° Reitor do Liceu e<br />

Comissário dos Estudos do distrito de Castelo Branco,<br />

por carta régia de 12.3.1852 (32) ; Provedor <strong>da</strong><br />

Misericórdia (1864), etc.<br />

Espírito culto, foi o principal entusiasta e fun<strong>da</strong>dor<br />

<strong>da</strong> “Socie<strong>da</strong>de Civilizadora”, organiza<strong>da</strong> em Castelo<br />

Branco nos finais de 1836; conhecedor de várias<br />

línguas, traduziu e publicou algumas obras<br />

literárias;bibliófilo distinto, reuniu na sua casa <strong>da</strong> Rua<br />

do Pina uma valiosa livraria, constituí<strong>da</strong> por mais de<br />

3000 volumes e que iria legar ao público municipal<br />

albicastrense.<br />

Solteiro e com quási 78 anos de i<strong>da</strong>de, continuava<br />

a manter uma intensa activi<strong>da</strong>de clínica, vindo a falecer<br />

subitamente, vitimado por hemorragia cerebral, a<br />

1.8.1864. Nesse dia, como descreve o Dr. José Lopes<br />

Dias, tinha regressado <strong>da</strong>s visitas habituais à sua<br />

residência e encontrava-se a desinfectar as mãos<br />

quando, sem um repelão nem um grito, tombou<br />

prostado sobre o lavatório. (33)<br />

O testamento do Dr. José António Morão, feito em<br />

Castelo Branco a 8.12.1863, proporciona uma curiosa<br />

imagem <strong>da</strong> sua personali<strong>da</strong>de. Ele permite-nos<br />

penetrar um pouco no íntimo <strong>da</strong>s suas preocupações,<br />

entre as quais sobressai o horror que sentia pela falsa<br />

morte, como se infere <strong>da</strong> seguinte determinação: -<br />

«Pretendo que o meu corpo não seja soterrado<br />

enquanto ele não começar a exalar o cheiro do cadáver,<br />

se Deus Nosso Senhor tiver sido servido levar-me de<br />

morte repentina; se, porém, esta for em consequência<br />

de alguma atroz enfermi<strong>da</strong>de, agu<strong>da</strong> ou crónica,<br />

enquanto o hirto e o glacial de meus membros ou<br />

sinais evidentes de gangrena externa não atestarem

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