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Revista Pneus & Cia. nº 34 - Sindipneus

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MATÉRIA DA CAPA<br />

foto: Arquivo pessoal<br />

Motorista de transporte urbano em BH, Lincoln Lima aponta as limitações da profissão<br />

Decidir ser motorista profissional em uma grande cidade é<br />

quase uma sentença de morte, levando-se em conta o trânsito<br />

caótico e as horas de trabalho excedentes. Dirigir pelas estradas<br />

do país distribuindo cargas é se arriscar diante dos buracos e da<br />

falta de sinalização das rodovias e, ao mesmo tempo, estar nas<br />

mãos de assaltantes e marginais. Para os taxistas não é diferente,<br />

especialmente para os que têm a madrugada como ganha-pão.<br />

O trabalho se torna um risco diário, e chegar em casa logo<br />

pela manhã depois de uma longa jornada já é motivo de muita<br />

satisfação.<br />

Esses profissionais carregam vidas, transportam cargas<br />

diversas a diferentes pontos do país e, exatamente por isso,<br />

exercem funções de grande responsabilidade, embora nem<br />

sempre tenham o reconhecimento que merecem. “Temos uma<br />

responsabilidade enorme por causa dos riscos a que estamos<br />

expostos, especialmente o trânsito. Precisamos nos preocupar<br />

em evitar acidentes o tempo todo devido à imprudência de<br />

outros motoristas”, afirma Lincoln Lima, motorista de transporte<br />

urbano na capital mineira. Para Lincoln, que inicia sua rotina<br />

ainda de madrugada, às 4h, uma possível solução para a<br />

sobrecarga física e mental seria um tempo maior de descanso<br />

entre uma viagem e outra. “Não conseguimos parar mais que<br />

cinco minutos, e muitas vezes não conseguimos beber água ou ir<br />

ao banheiro. Precisamos desse descanso para trabalhar com mais<br />

tranquilidade, oferecendo segurança aos passageiros.”<br />

Não bastassem os fatores externos, como tráfego intenso e<br />

imprudência dos outros motoristas, é preciso ainda saber<br />

lidar com a falta de respeito dos próprios passageiros. Lincoln<br />

relata um caso específico em que precisou ter pulso firme para<br />

controlar a situação. “Era uma tarde de domingo e eu estava<br />

fazendo um trajeto que seguiria até a região do estádio Mineirão,<br />

onde alguns minutos mais tarde aconteceria uma partida de<br />

futebol. Vários torcedores entraram no ônibus no centro da<br />

cidade sem pagar passagem, pulando a roleta e destratando a<br />

mim e ao cobrador. Quando percebi que alguns subiram para o<br />

teto do ônibus, quebrando o alçapão, precisei parar o veículo e<br />

pedir que descessem do teto. Eles me ameaçaram. Houve insultos<br />

e ofensas da parte deles, mas depois de um certo tempo fizeram<br />

o que eu tinha pedido. Bastou eu reiniciar o comando da direção<br />

para eles repetirem a ação. Então, parei o veículo mais uma vez e<br />

disse, com calma e educação, que o ônibus só sairia com as portas<br />

fechadas, caso contrário, eu pararia o ônibus e eles perderiam a<br />

partida. Claro que não aceitaram tranquilamente, mas somente<br />

assim consegui controlar a situação e continuar o meu trajeto.”<br />

Segundo o diretor de Imprensa do Sindicato dos Trabalhadores<br />

em Transportes Rodoviários de BH e Região (STTRBH), Carlos<br />

Henrique Marques, os condutores passam por diversas situações<br />

geradoras de estresse no percurso entre a garagem e o ponto<br />

final. “Entre os principais, posso citar as imposições da empresa,<br />

as diversas reclamações de passageiros, pressão da fiscalização,<br />

entre outras coisas que levam o funcionário a uma situação de<br />

desequilíbrio”, pontua.<br />

Para o motorista de carreta e bitrem Sérgio de Campos, que há<br />

43 anos exerce a profissão, desafio maior são os assaltos e altos<br />

preços dos pedágios, que sequer oferecem retorno. “Pagamos<br />

caro e não conseguimos encontrar nem banheiros decentes nas<br />

estradas do país. Além disso, a sinalização é ruim e corremos<br />

risco o tempo todo”, afirma. Blitze severas nas estradas para inibir<br />

a ação de assaltantes seriam, na opinião de Sérgio, uma forma de<br />

amenizar a violência. “Acredito na eficácia de blitz 24 horas como<br />

forma de diminuir os assaltos e o transporte de bebidas e drogas.<br />

E quando for constatada alguma irregularidade, o mais justo é<br />

que o motorista seja punido severamente, pois de nada adianta<br />

ser multado e seguir viagem normalmente.”<br />

De acordo com o presidente da Confederação Nacional do<br />

Transporte (CNT), Clésio Andrade, tantos desafios fazem<br />

com que as transportadoras e empresas de coletivos enfrentem<br />

o problema da escassez de mão de obra, mas, segundo ele, a<br />

situação pode ser resolvida com a oferta de benefícios capazes de<br />

atrair novos profissionais. “Essa escassez se dá por uma série de<br />

motivos, entre eles o crescimento econômico dos últimos anos, a<br />

aposentadoria de profissionais mais antigos e pouca entrada de<br />

jovens na profissão. Entretanto, o Sest/Senat vem fazendo uma<br />

campanha sistemática e oferecendo cursos de qualificação para<br />

promover o ingresso de novos motoristas na profissão”, salienta.<br />

Valorização<br />

Para Sérgio, a falta de motoristas no mercado tende a contribuir<br />

para a valorização desses profissionais. “A empresa que não<br />

valorizar os condutores ficará sem eles. Sinto que falta um melhor<br />

tratamento pessoal, mais valorização ao ser humano, mas com a<br />

escassez de mão de obra essa situação pode melhorar. Ou valoriza<br />

ou perde o profissional”, afirma.<br />

Lincoln concorda que falta valorização, e acredita que é preciso<br />

melhorar as condições de trabalho, priorizando a qualidade<br />

de vida e o bem-estar dos condutores, com a implementação<br />

de programas de incentivo à saúde do trabalhador, por<br />

exemplo, e aproveita para dar um conselho: “É preciso que nós,<br />

motoristas, façamos nossa parte, praticando exercícios físicos<br />

e nos preocupando em estar sempre dispostos e saudáveis.<br />

Isso é essencial para exercermos a profissão com segurança e<br />

tranquilidade”.<br />

14 PNEUS&CIA maio/junho 2013 comunicacao@sindipneus.com.br • www.sindipneus.com.br

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