Revista Pneus & Cia. nº 34 - Sindipneus
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MATÉRIA DA CAPA<br />
foto: Arquivo pessoal<br />
Também motorista de ônibus e pertencente à categoria há mais<br />
de 30 anos, o condutor Antônio Carlos de Oliveira possui uma<br />
rotina carregada, que se inicia bem cedo, às 5h. Para ele, que<br />
já presenciou alguns assaltos e por pouco não foi baleado, a<br />
violência é o grande desafio da profissão, além do trânsito intenso<br />
que acomete as grandes cidades. “Certa vez, dispararam a arma<br />
dentro do coletivo e acertaram a cadeira em que eu estava. Por<br />
pouco a bala não pegou em mim. É preciso estar atento o tempo<br />
todo com o que acontece dentro e fora do ônibus”, reconhece.<br />
O taxista Geraldo Carlos, que chega a trabalhar dez horas por dia,<br />
aponta a falta de fiscalização como a principal dificuldade dos<br />
motoristas. Acostumado a dirigir na Região Metropolitana de<br />
Belo Horizonte, Geraldo ainda se assusta com a falta de respeito<br />
das pessoas no trânsito. “Precisamos de mais fiscalização com<br />
registro de avanço. As pessoas precisam dirigir com mais cautela,<br />
caso contrário, estarão colocando não só a própria vida em risco,<br />
mas as vidas de inocentes também. Não é fácil ter de dirigir para<br />
você e para o outro.”<br />
Médico neurologista do Hospital das Clínicas da Faculdade<br />
de Medicina da Universidade de São Paulo e especialista em<br />
distúrbios do sono, Flávio Aloé afirma que entre os principais<br />
problemas recorrentes na profissão está o distúrbio do sono,<br />
ocasionado especialmente pelo estresse. “É importante que<br />
os condutores fiquem atentos à necessidade de adotar hábitos<br />
mais saudáveis, bem como prevenir e tratar de seus problemas<br />
de saúde, gerados pela rotina estressante de trabalho – muitas<br />
vezes com uma jornada superior a 12 horas diárias”. Segundo<br />
ele, a sonolência excessiva causada pela privação de sono ou pela<br />
troca de turnos de descanso (dia pela noite) amplia os riscos de<br />
acidentes automotivos e ocupacionais por prejudicar a atenção,<br />
reflexos da memória e a capacidade de concentração, além de<br />
provocar irritabilidade.<br />
O motorista Sérgio de Campos almeja maior valorização e se diz orgulhoso do ofício<br />
No Brasil, em fevereiro de 2010, o Conselho Nacional de Trânsito<br />
(Contran) publicou a Resolução 267, que estabelece que os<br />
motoristas profissionais façam exames de qualidade de sono<br />
com testes que visam, inclusive, a identificação da apneia como<br />
requisito para a renovação da Carteira Nacional de Habilitação<br />
(CNH). Para Aloé, essa medida já resulta da constatação de que<br />
comunicacao@sindipneus.com.br • www.sindipneus.com.br<br />
os transtornos do sono afetam de fato a qualidade de vida e são<br />
responsáveis por diversos acidentes.<br />
Dados do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes<br />
Rodoviários de Belo Horizonte e Região Metropolitana<br />
(STTRBH) revelam que 27% dos 12 mil motoristas de coletivos<br />
e transporte de carga associados na região estão afastados no<br />
momento, sendo o estresse apontado como principal causador<br />
desse índice. “O número é alarmante e comprova a insatisfação<br />
dos profissionais para com as atuais condições de trabalho”,<br />
afirma o presidente do STTRBH, Ronaldo Batista.<br />
Lei do motorista<br />
Há pouco mais de um ano, foi sancionada pela presidenta Dilma<br />
Rousseff a Lei 12.619, numa tentativa de regular a jornada de<br />
trabalho dos motoristas profissionais e o tempo máximo que eles<br />
poderiam ficar na direção do veículo de maneira ininterrupta. A<br />
lei, também conhecida como “Lei do Caminhoneiro”, estabelece<br />
que os motoristas podem dirigir por no máximo quatro horas<br />
seguidas, quando terão de fazer uma parada de 30 minutos de<br />
descanso. A etapa pode ser prolongada por, no máximo, mais<br />
uma hora até que o motorista encontre uma parada segura e<br />
com infraestrutura adequada para repousar. Para as refeições,<br />
fica estabelecida uma parada de uma hora. Após o período de<br />
um dia de trabalho, o motorista terá direito a um descanso de 11<br />
horas, que pode ser dividido em nove horas mais duas. A jornada<br />
semanal do profissional será de 35 horas.<br />
Apesar de ter como objetivos principais a regulamentação da<br />
profissão e a diminuição do número de acidentes no trânsito,<br />
a lei é polêmica e divide opiniões por apresentar pontos que<br />
dificultam seu cumprimento de forma integral. “A lei não<br />
garante uma fiscalização precisa e muito menos uma jornada<br />
de trabalho ideal. Com isso, permanecem a exploração e<br />
o risco iminente de acidentes, em função da extensa carga<br />
horária exercida pelo motorista”, afirma Carlos Henrique.<br />
Para Clésio Andrade, a situação é ainda mais complexa e os<br />
problemas vão além. Embora o governo esteja investindo e<br />
promovendo parcerias com a iniciativa privada, o país ainda<br />
enfrenta sérios transtornos com relação à infraestrutura de<br />
transporte. “Esperamos do poder público mais dinamismo<br />
e condições de mobilidade, além de mecanismos mais<br />
eficientes para financiamento da modernização da frota. Os<br />
transportadores esperam também medidas do poder público<br />
para aumentar a multimodalidade e a melhoria da infraestrutura<br />
de transporte e logística, com mais investimentos, o que deve<br />
levar a um maior equilíbrio da matriz de transporte brasileira<br />
Esperamos ainda pela desoneração no setor”, acrescenta.<br />
Orgulho da profissão<br />
Apesar dos entraves, o emprego é sempre motivo de orgulho<br />
para os profissionais, que, mesmo diante de diversas limitações,<br />
reconhecem a importância da profissão para as outras pessoas.<br />
“Sem o motorista, muitos não conseguiriam chegar ao trabalho,<br />
muitas cargas deixariam de ser distribuídas, atrasando a vida da<br />
população. Carrego vidas todos os dias, e exatamente por isso me<br />
sinto muito útil para a população”, observa Lincoln.<br />
Para Sérgio, que se diz verdadeiramente apaixonado pela<br />
profissão, dirigir pelas estradas do Brasil é fascinante e curioso.<br />
“Passamos por lugares lindos do nosso país, conhecemos outras<br />
maio/junho 2013<br />
PNEUS&CIA<br />
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