Revista Pneus & Cia. nº 34 - Sindipneus
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PNEUS E FROTAS<br />
No dia 13 de maio deste ano, uma Ferrari Spider 458, avaliada<br />
em R$ 2 milhões, foi completamente destruída num acidente<br />
em São Paulo, após chocar-se com a mureta de proteção numa<br />
alça de acesso da Rodovia Castelo Branco à Marginal Pinheiros,<br />
na capital. O casal de ocupantes saiu do carro andando, sem<br />
nenhum ferimento ou arranhão.<br />
Mais ou menos na mesma época chegou ao meu conhecimento<br />
o caso de um pneu cuja carcaça apresentava problemas e que<br />
foi recusado pelo reformador por não oferecer condições<br />
mínimas para reforma. O proprietário da frota dona do pneu<br />
ficou indignado, não aceitava o laudo sob o argumento de que<br />
o pneu era novo (por “novo” entenda-se que ainda não havia<br />
sido reformado).<br />
Que semelhanças guardam esses dois episódios, aparentemente<br />
tão distintos?<br />
Tudo o que é mal-utilizado pode apresentar problemas.<br />
Podemos ter o melhor que o dinheiro pode comprar, mas, se não<br />
soubermos usar, o resultado pode ser negativo.<br />
No caso da Ferrari, segundo foi divulgado na imprensa e na<br />
TV, o veículo havia sido emplacado há apenas 20 dias. Não se<br />
sabe se era o primeiro carro desse tipo, esportivo e superpotente,<br />
comprado pelo indivíduo, mas pelas imagens e pelo local do<br />
acidente – para quem conhece o local – é nítido que lhe faltou<br />
habilidade para pilotar máquina tão poderosa, o que é reforçado<br />
pela informação de que havia poucos dias que estava de posse da<br />
mesma. Ter habilitação não significa ter habilidade.<br />
Quanto ao pneu, o laudo deixava claro que ele foi submetido a<br />
esforços acima de seus limites e capacidades, mais especificamente<br />
a excesso de peso. Todo pneu possui limites de utilização, que<br />
estão escritos na forma de códigos em sua lateral. Ao exceder<br />
esses limites podem ser causados danos que inutilizam a carcaça.<br />
Em ambos os casos houve abuso na utilização. E em ambos<br />
também houve a inadequação do produto ao uso – ou de quem<br />
os estava utilizando.<br />
Ficando apenas com os pneus, de nada adianta a frota comprar<br />
e equipar seus veículos com o melhor pneu disponível no<br />
mercado ou a melhor reforma – sem fazer, aqui, juízo de valor<br />
citando nomes ou marcas – se não fizer bom uso do mesmo,<br />
se não respeitar os limites, se não orientar e treinar quem vai<br />
utilizá-los. E, ao cometer abusos e excessos, não há outra atitude<br />
a ser tomada que não seja a de assumir a responsabilidade pelos<br />
resultados e arcar com as possíveis perdas, danos ou prejuízos.<br />
Quer carregar excesso de peso? Pois então se conforme<br />
em ter baixo rendimento com os pneus, baixos índices de<br />
recapabilidade, alto consumo de combustível, elevadas<br />
despesas com manutenção, quebras e paradas constantes, baixa<br />
disponibilidade da frota, aumento considerável das despesas e<br />
custos operacionais e baixa lucratividade.<br />
E com os pneus temos também o outro extremo, o lado oposto: não<br />
adianta você comprar o mais barato somente pensando que está<br />
conseguindo reduzir custos. Na verdade, está apenas reduzindo<br />
preços. Custos, só depois que o pneu se tornar sucata é que poderá<br />
avaliar corretamente qual foi o resultado real. E o grande problema,<br />
aqui, é que isso pode demorar alguns anos para acontecer.<br />
Voltando ao pneu, o laudo apontava que o mesmo sofreu<br />
fadiga, mas seu proprietário contestou a avaliação alegando<br />
que o pneu era novo. Fadiga é um fenômeno causado pelo<br />
esforço excessivo. Um atleta pode sofrer fadiga, independente<br />
de sua idade, basta realizar um esforço acima de sua capacidade<br />
física. Excelente exemplo disso foi a final da maratona feminina<br />
na Olimpíada de Los Angeles de 1984. Gabrielle Andersen-<br />
Schiess, atleta suíça, conquistou o 37º lugar ao terminar a prova<br />
cambaleante, sendo amparada por três enfermeiros ou médicos<br />
após cruzar a linha de chegada (veja vídeo em http://www.<br />
youtube.com/watch?v=Sg58B8z_JVM). Os últimos 200 metros<br />
foram cumpridos em longos dez minutos.<br />
A fadiga nos pneus vai sendo acumulada ao longo do período de<br />
utilização do mesmo, estando principalmente associada à idade<br />
dele: quanto mais velho, maior a fadiga. Contudo, a exemplo do<br />
que aconteceu com a atleta citada acima, se o esforço foi muito<br />
superior àquele que o pneu é capaz de suportar, isso pode ocorrer<br />
ainda na primeira vida do pneu, quando novo, ou logo na<br />
primeira reforma.<br />
De qualquer forma, fadiga é algo que se acumula na carcaça, não<br />
sendo responsabilidade do reformador, posto que, ao reformar,<br />
apenas a banda de rodagem é substituída. A carcaça permanece a<br />
mesma, inalterada em sua condição ou em seus limites.<br />
Para as frotas, tão importante quanto agir criteriosamente<br />
ao selecionar fornecedores, pneus e reformas é treinar seus<br />
motoristas sobre os limites dos pneus e os cuidados que devem<br />
ser adotados com os mesmos, formas de condução do veículo e<br />
como agir quando algo fora do normal acontecer. Em cima de<br />
qualquer veículo só existe um único item que realmente tem<br />
algum valor: as vidas que estão sendo transportadas. Tudo o<br />
mais é substituível.<br />
Ao receber um laudo como o citado no início deste texto,<br />
agradeça a quem o emitiu por estar lhe fazendo um enorme<br />
favor ao alertar sobre o ocorrido e transforme a adversidade<br />
em oportunidade ao aprender com o problema e evitar que<br />
se repita. E, se for reclamar, que o faça com o responsável pela<br />
carcaça: o fabricante do pneu.<br />
Pércio Schneider<br />
Especialista em pneus da Pró-Sul<br />
E-mail: pneus@greco.com.br<br />
comunicacao@sindipneus.com.br • www.sindipneus.com.br<br />
maio/junho 2013<br />
PNEUS&CIA<br />
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