PNEUS E FROTAS É preciso saber usar 28 PNEUS&CIA maio/junho 2013 comunicacao@sindipneus.com.br • www.sindipneus.com.br
PNEUS E FROTAS No dia 13 de maio deste ano, uma Ferrari Spider 458, avaliada em R$ 2 milhões, foi completamente destruída num acidente em São Paulo, após chocar-se com a mureta de proteção numa alça de acesso da Rodovia Castelo Branco à Marginal Pinheiros, na capital. O casal de ocupantes saiu do carro andando, sem nenhum ferimento ou arranhão. Mais ou menos na mesma época chegou ao meu conhecimento o caso de um pneu cuja carcaça apresentava problemas e que foi recusado pelo reformador por não oferecer condições mínimas para reforma. O proprietário da frota dona do pneu ficou indignado, não aceitava o laudo sob o argumento de que o pneu era novo (por “novo” entenda-se que ainda não havia sido reformado). Que semelhanças guardam esses dois episódios, aparentemente tão distintos? Tudo o que é mal-utilizado pode apresentar problemas. Podemos ter o melhor que o dinheiro pode comprar, mas, se não soubermos usar, o resultado pode ser negativo. No caso da Ferrari, segundo foi divulgado na imprensa e na TV, o veículo havia sido emplacado há apenas 20 dias. Não se sabe se era o primeiro carro desse tipo, esportivo e superpotente, comprado pelo indivíduo, mas pelas imagens e pelo local do acidente – para quem conhece o local – é nítido que lhe faltou habilidade para pilotar máquina tão poderosa, o que é reforçado pela informação de que havia poucos dias que estava de posse da mesma. Ter habilitação não significa ter habilidade. Quanto ao pneu, o laudo deixava claro que ele foi submetido a esforços acima de seus limites e capacidades, mais especificamente a excesso de peso. Todo pneu possui limites de utilização, que estão escritos na forma de códigos em sua lateral. Ao exceder esses limites podem ser causados danos que inutilizam a carcaça. Em ambos os casos houve abuso na utilização. E em ambos também houve a inadequação do produto ao uso – ou de quem os estava utilizando. Ficando apenas com os pneus, de nada adianta a frota comprar e equipar seus veículos com o melhor pneu disponível no mercado ou a melhor reforma – sem fazer, aqui, juízo de valor citando nomes ou marcas – se não fizer bom uso do mesmo, se não respeitar os limites, se não orientar e treinar quem vai utilizá-los. E, ao cometer abusos e excessos, não há outra atitude a ser tomada que não seja a de assumir a responsabilidade pelos resultados e arcar com as possíveis perdas, danos ou prejuízos. Quer carregar excesso de peso? Pois então se conforme em ter baixo rendimento com os pneus, baixos índices de recapabilidade, alto consumo de combustível, elevadas despesas com manutenção, quebras e paradas constantes, baixa disponibilidade da frota, aumento considerável das despesas e custos operacionais e baixa lucratividade. E com os pneus temos também o outro extremo, o lado oposto: não adianta você comprar o mais barato somente pensando que está conseguindo reduzir custos. Na verdade, está apenas reduzindo preços. Custos, só depois que o pneu se tornar sucata é que poderá avaliar corretamente qual foi o resultado real. E o grande problema, aqui, é que isso pode demorar alguns anos para acontecer. Voltando ao pneu, o laudo apontava que o mesmo sofreu fadiga, mas seu proprietário contestou a avaliação alegando que o pneu era novo. Fadiga é um fenômeno causado pelo esforço excessivo. Um atleta pode sofrer fadiga, independente de sua idade, basta realizar um esforço acima de sua capacidade física. Excelente exemplo disso foi a final da maratona feminina na Olimpíada de Los Angeles de 1984. Gabrielle Andersen- Schiess, atleta suíça, conquistou o 37º lugar ao terminar a prova cambaleante, sendo amparada por três enfermeiros ou médicos após cruzar a linha de chegada (veja vídeo em http://www. youtube.com/watch?v=Sg58B8z_JVM). Os últimos 200 metros foram cumpridos em longos dez minutos. A fadiga nos pneus vai sendo acumulada ao longo do período de utilização do mesmo, estando principalmente associada à idade dele: quanto mais velho, maior a fadiga. Contudo, a exemplo do que aconteceu com a atleta citada acima, se o esforço foi muito superior àquele que o pneu é capaz de suportar, isso pode ocorrer ainda na primeira vida do pneu, quando novo, ou logo na primeira reforma. De qualquer forma, fadiga é algo que se acumula na carcaça, não sendo responsabilidade do reformador, posto que, ao reformar, apenas a banda de rodagem é substituída. A carcaça permanece a mesma, inalterada em sua condição ou em seus limites. Para as frotas, tão importante quanto agir criteriosamente ao selecionar fornecedores, pneus e reformas é treinar seus motoristas sobre os limites dos pneus e os cuidados que devem ser adotados com os mesmos, formas de condução do veículo e como agir quando algo fora do normal acontecer. Em cima de qualquer veículo só existe um único item que realmente tem algum valor: as vidas que estão sendo transportadas. Tudo o mais é substituível. Ao receber um laudo como o citado no início deste texto, agradeça a quem o emitiu por estar lhe fazendo um enorme favor ao alertar sobre o ocorrido e transforme a adversidade em oportunidade ao aprender com o problema e evitar que se repita. E, se for reclamar, que o faça com o responsável pela carcaça: o fabricante do pneu. Pércio Schneider Especialista em pneus da Pró-Sul E-mail: pneus@greco.com.br comunicacao@sindipneus.com.br • www.sindipneus.com.br maio/junho 2013 PNEUS&CIA 29