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15 DE JUNHO DE 2008 CAUSA OPERÁRIA<br />

MOVIMENTO POPULAR 9<br />

SÃO PAULO<br />

Mobilização dos camelôs toma conta do centro<br />

Os camelôs de São Paulo realizam o maior protesto<br />

do último período. Mais de três mil trabalhadores<br />

ambulantes tomaram a 25 de março e as ruas<br />

próximas durante toda a última sexta-feira (13)<br />

colocando contra a parede a Polícia Militar e a<br />

Guarda Civil Metropolitana do micro-ditador<br />

Gilberto Kassab (DEM), que ficaram completamente<br />

sem ação, mesmo com o financiamento da repressão<br />

aos ambulantes por parte dos lojistas e da máfia da<br />

propina<br />

Os trabalhadores ambulantes<br />

do centro de São Paulo organizavam<br />

desde o início desta<br />

semana um protesto massivo<br />

nesta sexta-feira.<br />

Superando até mesmo as<br />

expectativas dos organizadores<br />

do ato, que reivindicava o fim a<br />

repressão por parte da Guarda<br />

Civil Metropolitana (GCM),<br />

cerca de três mil trabalhadores<br />

ambulantes foram às ruas. A<br />

região central foi tomada por<br />

protestos desde a manhã, que<br />

chegaram a se realizar em até<br />

três pontos diferentes da região<br />

de forma simultânea.<br />

Após duas manifestações,<br />

uma realizada no último sábado<br />

(dia 7) e outra na última segunda-feira<br />

(dia 9), depois de estas<br />

serem duramente reprimidas<br />

pela Guarda Civil Metropolitana<br />

e a Polícia Militar, os ambulantes<br />

resolveram realizar um<br />

protesto para responder à total<br />

ofensiva repressiva de Gilberto<br />

Kassab e de sua polícia. Nos protestos<br />

realizados na segundafeira,<br />

um trabalhador ambulante<br />

foi morto e outros foram<br />

presos, o que foi completamente<br />

escamoteado pela imprensa<br />

burguesa.<br />

Os casos de mortes na região<br />

da 25 de março por parte da<br />

Polícia Militar e da Guarda Civil<br />

Metropolitana são denunciados<br />

pelos ambulantes como<br />

uma constante. Segundo estes,<br />

mais de seis ambulantes foram<br />

assassinados desde janeiro deste<br />

ano pelos carrascos da<br />

GCM.<br />

Também nestes protestos<br />

uma trabalhadora grávida havia<br />

sido espancada pela GCM a<br />

ponto de ter rompido a placenta<br />

e ter sido obrigada a fazer um<br />

aborto.<br />

A repressão monstruosa nestes<br />

dois dias, financiada por<br />

associações de lojistas, um claro<br />

plano destes preparando as<br />

eleições para reeleger o prefeito<br />

da propina, teve como a gota<br />

d´água entre os camelôs estes<br />

dois últimos casos. As manifestações<br />

desta sexta-feira foram<br />

o resultado, no entanto, de além<br />

da intensidade da repressão, da<br />

destruição de todos os meios de<br />

sobrevivência da população<br />

mais pobre da cidade pelos governos<br />

burgueses que se sucedem<br />

para saquear o povo.<br />

O início dos<br />

protestos<br />

A partir das nove horas da<br />

manhã, os ambulantes organizados<br />

iniciaram um protesto com<br />

cerca de 200 pessoas. Estes<br />

começaram percorrendo a rua<br />

25 de março chamando os colegas<br />

a pararem sua atividade.<br />

A manifestação se expandiu então para outras ruas. A Ladeira<br />

Porto Geral foi a primeira delas na qual os camelôs<br />

agruparam ainda mais pessoas.<br />

Os trabalhadores já estavam de<br />

sobreaviso sobre o protesto e,<br />

portanto, aderiram com facilidade<br />

às manifestações.<br />

Os ambulantes portavam faixas<br />

com palavras-de-ordem que<br />

expressavam a sua situação,<br />

como “não tememos a morte,<br />

tememos a miséria” e “Kassab<br />

só governa para os empresários.<br />

Fora GCM!”.<br />

No início da manifestação, os<br />

trabalhadores também entoavam<br />

palavras de ordem como “O<br />

camelô unido jamais será vencido”<br />

e “Abaixo a GCM”.<br />

A partir das 11 horas da<br />

manhã os trabalhadores começaram<br />

exigir que os comerciantes<br />

abaixassem as portas. A<br />

Polícia Militar formava barreiras<br />

em frente aos estabelecimentos<br />

dos lojistas para que estes não<br />

abaixassem suas portas. No<br />

entanto, nem a PM e nem a<br />

associação de comerciantes<br />

formada de mafiosos e batepaus<br />

(inclusive skinheads), cujos<br />

membros insistiam para que<br />

os lojistas mantivessem suas<br />

portas abertas, conseguiram<br />

convencer os médios comerciantes<br />

a enfrentar os camelôs.<br />

A Polícia Militar, se sentindo<br />

acuada, prendeu um dos manifestantes<br />

por ter supostamente<br />

provocado danos a uma loja.<br />

Após isto os trabalhadores ficaram<br />

por cerca de meia-hora em<br />

volta do local onde a polícia<br />

mantinha o camelô cercado<br />

exigindo que este fosse então<br />

libertado.<br />

A PM também tomou da mão<br />

dos camelôs uma bandeira de<br />

seu movimento. A mesma cena<br />

então se repetiu. Cerca de duzentas<br />

pessoas exigiam que a<br />

polícia devolvesse a bandeira,<br />

pressionando esta em coro.<br />

Depois de cerca de 20 minutos<br />

os policiais foram obrigados a<br />

devolver a bandeira roubada e os<br />

camelôs seguiram o protesto,<br />

que a cada momento conseguia<br />

mais adesão.<br />

Os camelôs não aceitaram a<br />

proposta da Polícia Militar de<br />

tomar uma única faixa da Rua e<br />

continuaram o protesto.<br />

A manifestação então se expandiu,<br />

percorrendo diversas<br />

das principais ruas do centro.<br />

Cerca de duas mil pessoas, principalmente<br />

ambulantes das ruas<br />

próximas e anexas à 25 de<br />

março, chegaram a aderir ao<br />

protesto.<br />

Manifestação<br />

cresce e ganha a<br />

adesão de<br />

ambulantes de<br />

todo o centro<br />

A manifestação se expandiu<br />

então para outras ruas. A Ladeira<br />

Porto Geral foi a primeira<br />

delas na qual os camelôs agruparam<br />

ainda mais pessoas.<br />

O terminal Parque Dom Pedro<br />

foi o segundo destino. Este<br />

foi tomado e então os camelôs<br />

subiram a ladeira da rua General<br />

Carneiro. Esta, que cotidianamente<br />

possui produtos sendo<br />

expostos por ambulantes no<br />

chão e nas suas beiradas, foi<br />

aberta totalmente para ser palco<br />

do protesto.<br />

Um mar de pessoas tomava<br />

a ladeira quase de uma extremidade<br />

à outra. Os ambulantes<br />

seguiam correndo em uma<br />

multidão pelas vielas, ruas, passarelas<br />

e calçadões para despistar<br />

a polícia. No meio do caminho<br />

pediam para que lojistas<br />

fechassem suas portas. O cenário<br />

do centro era semelhante a<br />

de um campo de guerra e a ação<br />

dos camelôs se realizava em<br />

uma espécie de “tática de guerrilha”,<br />

realizando caminhos que<br />

surpreendiam a polícia e protestando<br />

de surpresa contra algumas<br />

lojas.<br />

Repressão covarde<br />

da polícia<br />

Próximos à prefeitura, na<br />

Praça do Patriarca, os camelôs<br />

foram surpreendidos pela tentativa<br />

da polícia de impedir a sua<br />

manifestação. Dois policiais em<br />

uma viatura receberam então<br />

pedras e paus e foram obrigados<br />

a desobstruir o caminho e a sair<br />

em retirada.<br />

Ali, alguns trabalhadores,<br />

depois de ganharem confiança<br />

graças à fuga da polícia, levantaram<br />

a idéia de ocupar a sede<br />

da prefeitura de São Paulo, mas<br />

a maioria pressionou para que<br />

estes seguissem em outro sentido,<br />

o da direção da rua São<br />

Bento.<br />

Após os camelôs tomarem<br />

uma paralela desta via, a Guarda<br />

Civil Metropolitana e a PM<br />

tentaram em conjunto cercar os<br />

manifestantes. Após estes entrarem<br />

na rua formou-se uma<br />

fileira de policiais militares atrás<br />

do protesto e, ao mesmo tempo,<br />

na esquina para retornar à rua<br />

São Bento, um grupo de Guarda<br />

Civis Metropolitanos, em<br />

menos de dez homens atacou os<br />

camelôs. Aí estes se dividiram<br />

em dois grupos e alguns trabalhadores<br />

foram cercados pela<br />

PM. Um deles foi derrubado<br />

pelos covardes policiais porque<br />

estava isolado do grupo. Vários<br />

policiais em motos davam cobertura<br />

para a ação covarde.<br />

Tendo tomado um golpe de<br />

cassetete na cabeça e, cercado<br />

por policiais, foi agredido no<br />

chão covardemente. Com a<br />

chegada de mais manifestantes,<br />

os policiais novamente partiram<br />

em retirada.<br />

Os trabalhadores então retornaram<br />

para a 25 de março que<br />

estava então tomada por cordões<br />

policiais da GCM, da Tropa<br />

de Choque, da Rocam, da<br />

Polícia Militar e por policiais da<br />

Rota e do DEIC.<br />

Estes, no entanto, não conseguiram<br />

reagir.<br />

A Guarda Civil Metropolitana<br />

foi desmoralizada pela manifestação<br />

neste momento. Os<br />

trabalhadores atiraram frutas e<br />

pedaços de pau em seu efetivo,<br />

que apenas conseguia quando<br />

muito desviar dos objetos. Neste<br />

momento os camelôs gritavam<br />

palavras de ordem como<br />

“Fora GCM”.<br />

A manifestação então seguiu<br />

novamente para outras ruas.<br />

Neste momento já não eram<br />

os mesmos iniciadores dos protestos<br />

que se manifestavam em<br />

diversos pontos da cidade, mas<br />

formaram-se três grupos de<br />

manifestantes de camelôs que<br />

aderiram ao protesto, que percorriam<br />

as ruas agora exigindo<br />

que os lojistas baixassem suas<br />

portas, o que efetivamente<br />

ocorreu em inúmeros estabelecimentos.<br />

A GCM e a Polícia Militar<br />

claramente defendiam as grandes<br />

lojas formando descaradamente<br />

cordões em frente a estes<br />

estabelecimentos, reforçando<br />

ainda mais a prova de que esta<br />

guarda está sendo financiada<br />

por um pequeno grupo da média<br />

e grande burguesia comerciante,<br />

uma minoria que se alia<br />

à máfia da propina e que financia<br />

o armamento da guarda pretoriana<br />

de Gilberto Kassab no<br />

centro da cidade de São Paulo<br />

para perseguir os camelôs.<br />

Por volta das 14h30, terminaram<br />

os protestos, que duraram<br />

quase seis horas.<br />

Este foi o maior protesto dos<br />

últimos tempos, realizado no<br />

centro da cidade e, sem dúvida,<br />

foi a manifestação mais combativa<br />

e mais politizada dos camelôs<br />

que mostram não esperar<br />

terem atendidas suas reivindicações<br />

de nenhuma autoridade a<br />

não ser pela força da sua mobilização.<br />

Os protestos na rua 25<br />

de março, segundo prometem<br />

os camelôs, deverão continuar<br />

na próxima semana e suas manifestações<br />

contra as barbaridades<br />

do braço armado corrupto<br />

e assassino da prefeitura paulistana<br />

deverão crescer com a<br />

adesão de camelôs de outras<br />

partes da cidade. Na manifestação,<br />

podia-se notar a presença<br />

ostensiva de camelôs do Brás,<br />

uma das maiores concentrações<br />

da cidade com dezenas de milhares<br />

da ambulantes.<br />

Kassab vacilante<br />

em reprimir a<br />

manifestação<br />

O direitista Gilberto Kassab<br />

(DEM) um dos prefeitos mais<br />

impopulares de São Paulo, apesar<br />

de toda a sua vontade de<br />

transformar a maior cidade do<br />

País em uma ditadura pessoal,<br />

se mostrou completamente impotente<br />

diante das manifestações<br />

massivas dos camelôs. A<br />

burguesia que exigia uma repressão<br />

generalizada ao setor<br />

mais oprimido da cidade, literalmente<br />

jogado às ruas, tem como<br />

obstáculo o desenvolvimento de<br />

uma ala combativa e uma tendência<br />

revolucionária surge<br />

entre os desempregados assim<br />

como surge em toda a população.<br />

Esta tendência seguida de<br />

mais repressão geraria uma revolta<br />

generalizada e uma situação<br />

de enfrentamento ainda<br />

maior, no qual claramente as<br />

forças policiais estariam em<br />

desvantagem.<br />

A direita e os grandes capitalistas<br />

e seus governos buscam<br />

aumentar a repressão para conter<br />

estas tendências de luta que<br />

estão dando claros sinais de<br />

crescimento em vários setores<br />

dos mais pobres e dos mais<br />

explorados da classe operária e<br />

das massas. No entanto, mal<br />

começam as manifestações de<br />

rebelião contra esta verdadeira<br />

ditadura, os governos direitistas<br />

mostram-se como o que realmente<br />

são, fracos e impopulares,<br />

rejeitados pela grande maioria<br />

e apoiados nos grandes<br />

capitalistas, na direita e na imprensa<br />

capitalista.<br />

O desenvolvimento de protestos<br />

espontâneos em São<br />

Paulo e outras capitais do País<br />

são a expressão de uma clara<br />

tendência de crise do regime<br />

político, aliado às, cada vez mais<br />

sofríveis, condições de vida do<br />

proletariado, especialmente<br />

aquele jogado ao desemprego.<br />

Estas manifestações em São<br />

Paulo surgem, como as que já<br />

ocorreram este ano em M´Boi<br />

Mirim, quando três mil pessoas<br />

tomaram umas das principais<br />

avenidas da cidade para protestar<br />

contra as condições calamitosas<br />

do transporte público além<br />

de outras manifestações nas<br />

favelas contra a repressão,<br />

como fruto da miséria do povo<br />

e do aprofundamento crise política<br />

da direita tradicional. Estas<br />

tendências revolucionárias<br />

são, não coincidentemente,<br />

canalizadas neste momento<br />

pelos setores que sofrem mais<br />

diretamente com a crise econômica,<br />

como a inflação dos alimentos<br />

e com a política de rapina<br />

no Estado. Este é o caso da<br />

população que sofre nos mercados<br />

com o aumento do preço do<br />

alimento e é o caso dos camponeses<br />

sem-terra que estão sendo<br />

atacados por novas leis de<br />

concessão ao latifúndio para que<br />

este tome as terras dos camponeses<br />

para transferir tudo que é<br />

plantado como riqueza energética<br />

para os EUA e outros países<br />

imperialistas.<br />

A tendência revolucionária<br />

nestes setores da classe operária<br />

e do proletariado são um<br />

prenúncio do alastramento desta<br />

tendência no conjunto das<br />

classes exploradas, em particular<br />

ao poderoso contingente da<br />

classe operária industrial que já<br />

começa a dar os primeiros sinais<br />

de que está se colocando em<br />

movimento.<br />

Esta situação guarda muita<br />

semelhança ao ascenso operário<br />

no País em meados dos anos<br />

80, e depois de um período do<br />

refluxo, resultado da derrota da<br />

greves de 79 e 80 em São Bernardo<br />

e no sindicato dos metalúrgicos<br />

de São Paulo. Aquele<br />

refluxo se encerrava com a retomada<br />

das lutas a partir dos<br />

saques de Santo Amaro promovidos<br />

pelos desempregados,<br />

em atos muito semelhantes aos<br />

atuais.<br />

Desenvolve-se uma tendência<br />

clara à reorganização dos<br />

trabalhadores brasileiros e quem<br />

expressa esta reorganização são<br />

em primeiro lugar os setores<br />

menos controlados pela burocracia<br />

sindical pelega e o setor<br />

mais sofrido do conjunto da<br />

população.<br />

É preciso apoiar, impulsionar,<br />

organizar e dotar estas lutas<br />

de um programa claro de<br />

reivindicações imediatas, de luta<br />

pela centralização das mobilizações<br />

operárias e por um governo<br />

próprio da classe operária das<br />

cidades e dos trabalhadores do<br />

campo.<br />

Veja os depoimentos dos trabalhadores ambulantes da 25 de março<br />

Leia abaixo os documentos<br />

que foram filmados por um<br />

correspondente do Partido da<br />

Causa Operária na rua 25 de<br />

março, na última quinta-feira,<br />

dia 12.<br />

Jaílson,<br />

ambulante<br />

“Ninguém pode trabalhar,<br />

só os guardas. Ninguém pode<br />

trabalhar e descem o cacete<br />

em nós.<br />

Esta marca em meu rosto é<br />

da repressão da guarda, do<br />

protesto de anteontem.”<br />

“A prefeitura do Kassab é<br />

péssima. Para nós é o pior governo<br />

– ‘O Kassab defende só<br />

os ricos’ diz um dos colegas<br />

de Jaílson.<br />

Estão jogando spray de pimenta<br />

na cara da gente direto,<br />

nos olhos de todo mundo,<br />

na cara de camelô e de qualquer<br />

um.”<br />

Hilário, senhor de<br />

idade e deficiente<br />

“Eles não estão deixando o povo<br />

trabalhar. Se o povo não trabalhar<br />

ele vai fazer o que? Eles vão dar<br />

dinheiro pro povo? Tem que deixar<br />

trabalhar.<br />

Trabalho na 25 de março já faz<br />

mais de 10 anos”<br />

Causa Operária: O senhor tem<br />

deficiência física?<br />

Hilário: Sim tenho.<br />

Causa Operária: E eles vieram<br />

se aproveitar disto para tentar apreender<br />

sua mercadoria?<br />

Hilário: Sim, se aproveitam<br />

para tentar pegar minha mercadoria.<br />

O Kassab não vale nada, pra<br />

mim ele não vale nada.<br />

Eu recebo um salário pequeno<br />

de aposentadoria que não dá nem<br />

para comprar um quilo de carne.<br />

Eles não podem me pegar, sou deficiente,<br />

tenho 70 anos. Por que eles<br />

vão me pegar? Se fosse um deles<br />

lá não tava nem trabalhando. Se<br />

No início da manifestação, os trabalhadores também<br />

entoavam palavras de ordem como “O camelô unido jamais<br />

será vencido” e “Abaixo a GCM”.<br />

fosse um deles já tava aposentado.<br />

Eu ganho uma mixaria e ainda querem<br />

pegar essa mixaria. Lá cai um<br />

montão de dinheiro por mês e a<br />

gente aqui não ganha nada e ainda<br />

querem roubar a gente. Eles são os<br />

verdadeiros ladrões.<br />

Lívia, ambulante na<br />

25 de março há dois<br />

anos<br />

“Eles roubam mercadoria, batem<br />

na gente, e a polícia está no<br />

meio também para dizer que vai<br />

amenizar defender mas acabam<br />

ficando do lado deles também. Não<br />

querem que a gente trabalhe também<br />

– ‘Até arma colocaram na<br />

minha cabeça, mandaram eu deitar<br />

no chão e mandaram eu entregar<br />

a mercadoria’”.<br />

“Eles não podem colocar a arma<br />

na cabeça de ninguém porque eles<br />

não são policiais”, diz uma colega<br />

de Lívia. Outra diz; “Tem mais, no<br />

sábado pegaram até um velhinho<br />

de 75 anos, agrediram o velho e<br />

meteram porrada nele, tomaram<br />

suas mercadorias. Não tem hora<br />

não. O pessoal chega às 4h30 da<br />

manhã e eles passam o carro por<br />

cima. Eles batem mesmo não<br />

querem nem saber. A gente não<br />

tem como trabalhar então vender<br />

por fora é o jeito.”<br />

Causa Operária: Próximo das<br />

eleições está aumentando a repressão?<br />

Lívia: “Está aumentando. Kassab<br />

vai tomar um zero à esquerda<br />

nas eleições – ‘Toda pesquisa que<br />

está passando ele nas eleições ele<br />

está perdendo’ – Os camelôs são<br />

todos contra Kassab. Esta daí perdeu<br />

tudo, só porque ela é boliviana<br />

(apontando a trabalhadora ambulante).<br />

O mundo é para todos (...)<br />

Eles não querem saber se você vai<br />

perder ou se machucar, se você<br />

tem filhos”.<br />

“Uma mulher grávida foi agredida.<br />

Um policial agrediu e puxou<br />

minha amiga. Ela quase perdeu a<br />

É preciso apoiar, impulsionar, organizar e dotar estas lutas de<br />

um programa claro de reivindicações imediatas, de luta pela<br />

centralização das mobilizações.<br />

criança. Se perdesse eles iam pagar<br />

uma indenização grande”.<br />

“A gente ia fazer uma manifestação<br />

grande, ia fazer uma passeata.<br />

Os policiais não deixaram a<br />

gente fazer a passeata. Cercaram<br />

a gente no meio da rua e não deixaram.<br />

Mandaram a gente parar<br />

com a passeata. A gente não estava<br />

fazendo nada e eles fizeram a<br />

gente parar a passeata, então o jeito<br />

é quebrar tudo. Quebrando tudo<br />

eles vão deixar a gente trabalhar”<br />

Senhora que não<br />

quis se identificar<br />

“Hoje mesmo eles puxaram<br />

uma senhora pelo cabelo (...)<br />

Chegam batendo como se a gente<br />

não fosse ninguém. A violência<br />

é demais e a gente não pode<br />

fazer nada. A gente sobrevive<br />

daqui (...) Nós precisamos realmente<br />

comer. Pai de família vem<br />

pra cá pra trabalhar, não viemos<br />

aqui passar droga nem roubar”<br />

“Eu mesmo em uma época fui<br />

agredida e fui parar no DP (...)<br />

Quando começou a operação<br />

aqui eles queriam que eu passasse<br />

e minha mercadoria e eu não<br />

passei. Eles me arrastaram e eu<br />

fui parar no DP. Vira e mexe eles<br />

fazem essa operação. Vem piorando<br />

com certeza vem piorando<br />

porque antes eles davam uma<br />

trégua”<br />

Causa Operária: Você acha<br />

que tem alguma coisa a ver com<br />

as eleições?<br />

Com certeza. Agora é tempo<br />

de eleições e eles fazem isso, para<br />

dizer que a rua está limpa (...)<br />

mas a gente não é sujeira, a gente<br />

é trabalhador (...) dizem que a<br />

gente não paga imposto e onde<br />

estão nossos impostos todos os<br />

dias que a gente entra no mercado<br />

para comer – ‘Luz telefone e<br />

contas de casa, como não pagamos<br />

imposto?’”, protesta uma<br />

colega da senhora que era entrevistada.

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