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<strong>Volume</strong> II<br />
As Cerimônias 06<br />
Os III Jogos Parapan-americanos Rio 2007 64<br />
As Instalações Esportivas 106<br />
A Vila Pan-americana 224<br />
Segurança a Toda Prova 242<br />
Tecnologia, a Deusa <strong>do</strong>s Jogos Modernos 296<br />
5
AS CERIMÔNIAS<br />
Festas de cores, luzes, música e beleza<br />
no Pan e no Parapan. A maior delas,<br />
a abertura oficial, ganhou diversos prêmios<br />
internacionais, entre eles um Emmy<br />
6
Maracanã, 13 de julho<br />
de 2007: fogos iluminam<br />
a premiada festa de abertura<br />
<strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos<br />
Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo<br />
7
Foto: Streeter Lecka / Getty Images<br />
A representação das<br />
águas e, na foto menor,<br />
a Miss Brasil 2007,<br />
Natália Guimarães,<br />
como porta-bandeira<br />
na Cerimônia de abertura<br />
8
A<br />
s cerimônias de abertura são o cartão de visitas <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos e Pan-americanos.<br />
E também uma reunião de indícios <strong>do</strong> que poderá ocorrer – para o bem ou para<br />
o mal – durante as competições. É o momento ideal para o país-sede expor ao mun<strong>do</strong><br />
sua cultura, história e beleza. Para muitos, representam o ponto alto <strong>do</strong> evento. E<br />
alguns da<strong>do</strong>s sustentam esse argumento. Os ingressos, apesar de mais caros, são os primeiros<br />
a se esgotar, e a audiência das emissoras de TV cresce na medida <strong>do</strong> impacto provoca<strong>do</strong> pelas<br />
imagens geradas da festa. Em transmissão ao vivo via satélite, pessoas <strong>do</strong>s quatro cantos <strong>do</strong><br />
planeta se conectam e, juntas, contemplam um grandioso espetáculo de luz, cor e som. As cenas<br />
traduzem a mensagem de paz e união entre os povos, o princípio basilar <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos e<br />
Pan-americanos. A Austrália, país marca<strong>do</strong> pelo abismo que separa os povos indígenas <strong>do</strong>s descendentes<br />
de coloniza<strong>do</strong>res europeus, promoveu um simbólico gesto de reconciliação quan<strong>do</strong><br />
ofereceu a Cathy Freeman, atleta de origem aborígene, a honra de acender a pira olímpica nos<br />
Jogos de Sydney 2000. Em 2004, a Grécia, país cria<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Jogos, fez uma bela celebração na<br />
qual reverenciou seu passa<strong>do</strong> e lançou um olhar para o futuro.<br />
O<br />
Brasil, um país de inequívoca vocação<br />
para a alegria, produziu<br />
nos Jogos Pan-americanos uma<br />
das mais belas cerimônias de<br />
toda a história <strong>do</strong>s grandes eventos esportivos<br />
mundiais. O País reconheceu no Pan a oportunidade<br />
ideal para consolidar sua posição de<br />
destaque no continente e, quem sabe, utilizálo<br />
como plataforma de lançamento para vôos<br />
mais altos.<br />
Como determina o Plano Estratégico de Ações<br />
Governamentais (PAG), <strong>do</strong>cumento no qual o<br />
governo federal estabeleceu suas metas, diretrizes<br />
e investimentos para os Jogos, a União<br />
acompanhou o planejamento e a execução<br />
das iniciativas de promoção e divulgação da<br />
imagem <strong>do</strong> Brasil no exterior. Mais que isso,<br />
o governo federal financiou quase a totalidade<br />
<strong>do</strong>s custos das cerimônias <strong>do</strong>s Jogos, que<br />
cumpriram os objetivos traça<strong>do</strong>s pelo PAG.<br />
As celebrações funcionaram como uma vitrine<br />
da diversidade cultural brasileira e comprovaram<br />
a capacidade <strong>do</strong> País de organizar grandes<br />
espetáculos.<br />
A excelência na produção da cerimônia de<br />
abertura foi internacionalmente reconhecida.<br />
Até junho de 2008 ela havia ganho oito prêmios<br />
internacionais. Foram seis estatuetas <strong>do</strong> Telly<br />
Awards, especializa<strong>do</strong> em tevê, uma medalha<br />
de ouro no Isems Awards, que avalia qualidade<br />
técnica, cenográfica e de organizacão das<br />
grandes disputas esportivas, e um troféu <strong>do</strong><br />
respeita<strong>do</strong> Emmy, considera<strong>do</strong> o Oscar da televisão,<br />
na categoria Melhor Figurino (ver Uma<br />
festa de prêmios internacionais ao final deste<br />
capítulo).<br />
Para garantir esse bom resulta<strong>do</strong>, o governo<br />
federal investiu cerca de R$ 51 milhões em<br />
inúmeros itens relaciona<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong>s os tipos<br />
de cerimônias <strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos e<br />
Parapan-americanos (abertura e encerramento<br />
<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is eventos, boas-vindas às delegações,<br />
premiações aos medalhistas e ainda a<br />
apresentação ao público das 47 modalidades<br />
disputadas no Rio 2007).<br />
Nesse valor se incluem contratação de<br />
recursos humanos com diferentes perfis,<br />
elaboração de protótipos, serviços de produção<br />
de eventos, confecção de figurinos,<br />
alegorias e bandeiras, montagem de palcos,<br />
produção da pira, da trilha musical, das<br />
medalhas e <strong>do</strong>s diplomas de participação,<br />
iluminação e show de fogos. Esse total se<br />
traduziu em diversos convênios com o CO-<br />
Rio e em contrato com empresa produtora<br />
de eventos.<br />
Foto: Luciana Vermell / FIA<br />
9
Começa a grande festa<br />
D<br />
epois de intenso trabalho e dedicação,<br />
o grande dia chegara. O 13 de<br />
julho de 2007 era a data marcada<br />
para o início <strong>do</strong>s XV Jogos Panamericanos.<br />
O Maracanã, templo sagra<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
futebol brasileiro, virou palco de um show multicultural<br />
que, em pouco mais de duas horas,<br />
conseguiu mostrar ao mun<strong>do</strong> os atributos e as<br />
virtudes <strong>do</strong> País e acolheu calorosamente os<br />
atletas das 42 delegações participantes.<br />
O público compareceu em massa. Uma festa<br />
em verde-amarelo tomou o Maracanã. Eram<br />
90 mil pessoas, sem distinção de cor, cre<strong>do</strong>,<br />
origem e classe social, todas unidas num único<br />
objetivo: celebrar o início das “Olimpíadas<br />
das Américas”. As arquibancadas inflamaram<br />
o Mário Filho, nome ofi cial daquele que já foi o<br />
maior estádio <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> os primeiros<br />
acordes <strong>do</strong> Hino Nacional Brasileiro ecoaram,<br />
o Maracanã se emocionou e acompanhou<br />
em coro a voz rouca da cantora Elza Soares.<br />
Confirmava-se ali a vitória de um país e de seu<br />
povo, que mesmo contra todas as adversidades<br />
punha em marcha um evento carrega<strong>do</strong><br />
de ceticismo e desconfiança.<br />
Não poderia haver melhor lema para a festa. O<br />
coro de “Viva essa energia”, música-tema <strong>do</strong>s<br />
Jogos, composta pelo ex-Titã Arnal<strong>do</strong> Antunes<br />
e interpretada por ele e pela sambista carioca<br />
Ana Costa, foi entoa<strong>do</strong> por cada pessoa<br />
presente ao estádio. As batidas <strong>do</strong>s corações<br />
ritmavam em sintonia com a percussão <strong>do</strong>s<br />
tambores e tamborins. Público, atletas e artistas<br />
se fundiam em um só. Lágrimas e sorrisos<br />
estampavam a alegria de se reconhecerem no<br />
espetáculo que apresentou a diversidade cul-<br />
Foto: / Getty Images<br />
10
tural e racial <strong>do</strong> Brasil. Sua fauna e sua flora.<br />
Seus frevos, sambas, maracatus e folias. Enfim,<br />
a vitalidade de um povo que faz da alegria<br />
o combustível da sua própria existência.<br />
O mistério, alma de qualquer cerimônia desse<br />
gênero, aos poucos se revelava. O espetáculo<br />
foi dividi<strong>do</strong> em três atos: a energia <strong>do</strong> sol, a<br />
energia das águas, a energia <strong>do</strong> homem. Cada<br />
um incluiu uma mescla de canções que englobam<br />
a diversidade de ritmos e estilos <strong>do</strong> País.<br />
“O repertório musical brasileiro é rico e bem<br />
representativo. Conseguimos fazer realmente<br />
uma ‘Aquarela <strong>do</strong> Brasil’. E, não por acaso, ela<br />
foi a música de encerramento”, diz Alê Siqueira,<br />
responsável pela direção musical das cerimônias.<br />
A apresentação revelou a delicadeza<br />
de alegorias e fantasias.<br />
O movimento <strong>do</strong>s bailarinos ganhava mais leveza<br />
ao som de vozes consagradas e <strong>do</strong>s acordes<br />
da Orquestra Sinfônica Brasileira. No centro<br />
<strong>do</strong> grama<strong>do</strong>, cobras-coral, vitórias-régias,<br />
pássaros e um jacaré de 35 metros fascinavam<br />
o público, conduzin<strong>do</strong> os presentes e os telespecta<strong>do</strong>res<br />
para a energia <strong>do</strong> sol: o tema da<br />
celebração. Na parte cenográfica, a energia<br />
das águas transformou o Maracanã num grande<br />
mar azul com barquinhos flutuan<strong>do</strong> sobre<br />
as ondas. Ao som da bossa-nova, as areias e<br />
o famoso calçadão de Copacabana invadiram<br />
o grama<strong>do</strong> <strong>do</strong> estádio. A energia <strong>do</strong> homem<br />
apresentou a pluralidade cultural brasileira,<br />
através de manifestações de danças tradicionais,<br />
como o reisa<strong>do</strong> e o maracatu. Figuras lendárias<br />
como a Carranca, a Coruja e o Boi-da-<br />
Cara-Preta desfilavam pelo grande palco.<br />
Cerimônia de abertura:<br />
o show encantou 90 mil<br />
no Maracanã e milhões<br />
em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong><br />
11
No ponto alto da festa,<br />
o í<strong>do</strong>lo Joaquim Cruz<br />
acende a Pira<br />
12
E<br />
ntre tanta beleza, o desfile das delegações também encantou.<br />
Ao som de clássicos <strong>do</strong> chorinho, atletas <strong>do</strong>s 42 países desfilaram<br />
entre os músicos e os ritmistas. Os brasileiros encerraram<br />
o desfile. A entrada da equipe brasileira foi apoteótica. Com a<br />
bandeira na mão, o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima chegou samban<strong>do</strong>.<br />
“Nem quan<strong>do</strong> estou corren<strong>do</strong> fico tão nervoso. Meu coração está<br />
a mil. É uma emoção que nem sei explicar”, disse ele. A Miss Brasil 2007,<br />
Natália Guimarães, levou a bandeira <strong>do</strong> Brasil ao centro <strong>do</strong> palco, onde<br />
estavam as porta-bandeiras das outras delegações. “Foi um momento de<br />
emoção pessoal, pelo papel que desempenhei, e de orgulho <strong>do</strong> Brasil, pela<br />
demonstração de capacidade e de competência na organização de uma<br />
festa simplesmente impecável”, disse logo depois, emocionada, a bela Natália.<br />
Os atletas faziam coro “O Maraca é nosso!”, e a platéia, em uníssono,<br />
cantava o verso que já virou hino: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho,<br />
com muito amor”. Era um povo feliz cantan<strong>do</strong> a alegria de ser brasileiro.<br />
O Pan, embora no Rio de Janeiro, mostrava mais uma vez que era <strong>do</strong><br />
Brasil. Um filme com imagens da passagem da Tocha Pan-americana por<br />
várias cidades brasileiras anunciou a entrada da chama no estádio. O corre<strong>do</strong>r<br />
Joaquim Cruz, ouro nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984,<br />
e prata em Seul, em 1988, foi o escolhi<strong>do</strong> para acender a Pira Pan-americana,<br />
desvendan<strong>do</strong> aquele que era o maior segre<strong>do</strong> da noite. Como um<br />
sol iluminan<strong>do</strong> a noite, o calor da Pira aqueceu os milhares de corações<br />
presentes ao Maracanã, que pediram por paz, algo clama<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os<br />
cre<strong>do</strong>s, línguas e raças presentes à celebração. Ao som de aplausos, fogos<br />
de artifício e voz de Daniela Mercury cantan<strong>do</strong> “Aquarela <strong>do</strong> Brasil”, o<br />
público se despediu da mais bela e tocante festa de abertura que os Jogos<br />
Pan-americanos já viram.<br />
Foto: Streeter Lecka / Getty Images<br />
“Foi uma festa para<br />
não sair da memória.<br />
Conseguimos ver aqui<br />
representadas todas<br />
as culturas e tradições <strong>do</strong><br />
Brasil. O mun<strong>do</strong> conheceu<br />
a riqueza <strong>do</strong> nosso País.<br />
Só nós somos capazes<br />
de fazer uma festa<br />
como esta”.<br />
Orlan<strong>do</strong> Silva Jr.,<br />
Ministro <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>,<br />
durante a cerimônia<br />
“Só fiquei saben<strong>do</strong> que ia ser eu na noite<br />
anterior. Fizeram de tu<strong>do</strong> para que eu mantivesse<br />
em segre<strong>do</strong>. Acender a Pira aqui no Brasil é um<br />
sonho que nunca imaginei viver. Meu gesto<br />
simbolizou dar a vida ao acender a chama <strong>do</strong><br />
povo brasileiro.”<br />
Joaquim Cruz, atleta brasileiro medalhista<br />
em duas Olimpíadas.<br />
Arquivo pessoal<br />
13
Um <strong>do</strong>s primeiros rabiscos<br />
<strong>do</strong> Jacaré, quan<strong>do</strong> a alegoria<br />
era imaginada com 20 metros<br />
14
A concepção da abertura<br />
N<br />
o país <strong>do</strong> Carnaval, foi em uma<br />
terça-feira gorda que o Brasil começou<br />
a definir os contornos das<br />
festas de abertura e <strong>do</strong> encerramento<br />
<strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos. No dia<br />
28 de fevereiro de 2006, a carnavalesca Rosa<br />
Magalhães saiu <strong>do</strong> desfile da escola de samba<br />
Imperatriz Leopoldinense, na qual é responsável<br />
pela cenografia, e seguiu rumo à sede<br />
<strong>do</strong> Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Com um<br />
vasto currículo, que inclui seis títulos na Marquês<br />
de Sapucaí, ela levou consigo duas publicações<br />
sobre seu trabalho, o livro <strong>do</strong> Carnaval<br />
de 2005 e a outra específica com suas criações.<br />
Era a primeira vez que a carnavalesca<br />
se encontrava com Scott Givens, ex-diretor da<br />
Disney, e Leonar<strong>do</strong> Gryner, gerente de Marketing<br />
<strong>do</strong> CO-Rio. O americano Givens atuava<br />
como consultor <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s<br />
Jogos desde o segun<strong>do</strong> semestre de 2004.<br />
Dois meses se passaram até a confi rmação<br />
de Rosa como diretora artística <strong>do</strong> espetáculo.<br />
Assim como a carnavalesca, outros grandes<br />
artistas passaram pelo crivo de Givens e<br />
Gryner. O cenógrafo Luiz Stein, que produziu<br />
espetáculos de grandes nomes da música brasileira,<br />
como Ivete Sangalo e Lulu Santos, também<br />
integrou a equipe. Para chegar a esses<br />
nomes, vários aspectos foram considera<strong>do</strong>s,<br />
como capacidade de criação de grandes shows,<br />
qualidade técnica e conhecimento geral de<br />
artes e espetáculos.<br />
19
A<br />
alegoria que causou maior impacto e encantamento na Cerimônia de Abertura<br />
<strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos Rio 2007 foi um imenso jacaré de 35 metros de<br />
comprimento. O animal, típico das áreas pantanosas brasileiras, representou<br />
a diversidade e a exuberância da fauna nacional. A peça foi concebida pelo<br />
cenógrafo Rossy Amoe<strong>do</strong>, atuante na festa de Parintis (AM) e no Carnaval carioca, a<br />
pedi<strong>do</strong> da diretora artística da cerimônia, Rosa Magalhães. Conheça os detalhes e as<br />
curiosidades que envolveram a concepção e a construção <strong>do</strong> gigante. Todas as cerimônias<br />
<strong>do</strong>s Jogos foram financiadas pelo governo federal.<br />
O JACARÉ DE 35 METROS<br />
QUE BALANÇOU O<br />
MARACANÃ<br />
Trinta pessoas trabalharam<br />
dentro <strong>do</strong> jacaré na cerimônia. "Um<br />
grupo movia as patas para fazer o<br />
bicho andar. Outros manipulavam<br />
alavancas para estabelecer os<br />
movimentos", revela Amoe<strong>do</strong>.<br />
35 metros<br />
O jacaré teve 35 metros de comprimento, cinco metros e meio<br />
só de cabeça, oito metros de largura na parte das patas e quatro<br />
metros e meio de altura máxima. Como ele não passava inteiro<br />
pelo túnel <strong>do</strong> Maracanã, as patas foram encaixadas no corpo só<br />
depois dessa passagem, já com a cerimônia em andamento. “Foi<br />
uma verdadeira operação de guerra. Essa operação arriscada<br />
fez a equipe pensar em desistir dele na fase de preparação, mas<br />
felizmente nossa ousadia foi recompensada”, lembra Amoe<strong>do</strong>.<br />
Dez pessoas trabalharam por <strong>do</strong>is<br />
meses na construção <strong>do</strong> jacaré.<br />
Primeiro foi criada uma maquete para<br />
tirar dúvidas e servir de escala para<br />
a ampliação. Depois, a equipe fez<br />
grandes esculturas de ferro vazadas<br />
para o corpo, as patas e o rabo. “Elas<br />
precisavam ser ocas o suficiente para<br />
caber muita gente dentro <strong>do</strong> bicho”,<br />
explica o cenógrafro.<br />
16
4,5 metros<br />
MATERIAIS UTILIZADOS<br />
Construída sobre <strong>do</strong>is chassis, a peça consumiu<br />
600 metros de espuma, uma tonelada de ferro,<br />
30 blocos de isopor, 100 quilos de poliuretano, 100 latas<br />
de cola, 120 quilos de lycra, 1,2 mil metros de algodão,<br />
600 metros de cabo de aço e 200 metros de<br />
borracha cirúrgica<br />
17
19<br />
Foto: Streeter Lecka / Getty Images
Foto: Harry How / Getty Images<br />
A vitória-régia: espaço<br />
para diversidade e a<br />
beleza da flora brasileira<br />
20
meçaram então a<br />
namento da área.<br />
ão bastante rígiada<br />
<strong>do</strong>s países e<br />
e autoridades <strong>do</strong><br />
atores relevantes.<br />
o momento de<br />
ger os elementos<br />
tassem a identide<br />
nacionais. Em<br />
ógrafos, acompaaram<br />
à Amazônia<br />
intins e assim ter<br />
desse festejo folrasil.<br />
De lá, além<br />
moe<strong>do</strong>, especiarticuladas,<br />
técnior<br />
artistas <strong>do</strong> Rio<br />
ioca, no entanto,<br />
uniu uma seleção<br />
io para ajudar na<br />
peratriz Leopoldi<strong>do</strong>uro;<br />
e o coreóde<br />
Rio.<br />
entosa equipe da<br />
A liberdade podia<br />
dade voava longe.<br />
colori<strong>do</strong>s davam,<br />
ento cenográfico<br />
ajoara da Amazôa<br />
natureza exuberante da Floresta Amazônica<br />
e a beleza das praias cariocas serviam de inspiração<br />
à direção artística. O que era esboço<br />
foi ganhan<strong>do</strong> forma e dinamismo. Maquiagem,<br />
cores, teci<strong>do</strong>s, disposição das peças no palco.<br />
As fantasias eram todas pintadas à mão. Um<br />
show de apuro e esmero.<br />
Para dar ritmo e movimento a toda essa alegre<br />
parafernália, em agosto de 2006 entra em cena<br />
Alê Siqueira, um <strong>do</strong>s mais importantes diretores<br />
musicais da atualidade no Brasil, com parcerias<br />
com Caetano Veloso, Tom Zé e a cantora<br />
cubana Omara Portuon<strong>do</strong>, entre outros<br />
grandes nomes da música brasileira e internacional.<br />
Assim como Rosa e Stein, Alê aceitou o<br />
projeto motiva<strong>do</strong> pelo desafio de compor uma<br />
grande ópera popular ao ar livre. “Queria o<br />
País to<strong>do</strong> representa<strong>do</strong> com artistas das cinco<br />
regiões na cerimônia de abertura. Procurei unir<br />
o novo e o antigo, unir ritmos regionais à modernidade,<br />
trazer as diversas cores <strong>do</strong> panorama<br />
da música nacional”, diz Alê Siqueira. As<br />
reuniões com a equipe de criação tornavam-se<br />
cada vez mais freqüentes. Apesar de sua entrada<br />
tardia, Siqueira deu seu toque pessoal<br />
ao projeto. Muitas de suas sugestões foram<br />
aceitas pelo grupo de cenografia. Em poucos<br />
meses, a concepção <strong>do</strong> show estava pronta,<br />
com roteiro, cenografia, fantasias e músicas.<br />
Faltava apenas um detalhe para iniciar a exeerba.<br />
21
A CONSTRUÇÃO<br />
DE UM SÍMBOLO<br />
Da prancheta de Rosa Magalhães<br />
às mãos de Joaquim Cruz,<br />
o passo-a-passo da Pira Pan-americana<br />
Foto: Streeter Lecka / Getty Images<br />
22
Inspirada no Sol, o elemento<br />
símbolo <strong>do</strong>s Jogos, a Pira<br />
Pan-americana foi concebida pela<br />
diretora artística da Cerimônia<br />
de Abertura, a carnavalesca Rosa<br />
Magalhães. A primeira maquete,<br />
apresentada em fevereiro de<br />
2007, foi produzida em papelalumínio.<br />
A segunda, com latinhas<br />
recicladas de alumínio<br />
Forjada em aço inoxidável,<br />
a Pira pesava cinco toneladas e<br />
media seis metros de diâmetro<br />
por seis de altura. Construída pela<br />
empresa australiana FCT Flames,<br />
a mesma que desenvolveu as<br />
peças de Sydney 2000 e Atenas<br />
2004, demorou cinco meses para<br />
ficar pronta<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
A Pira foi acesa na cerimônia<br />
de abertura <strong>do</strong> Pan e brilhou<br />
intensamente no Maracanã por 16<br />
dias, até que o sopro <strong>do</strong> público,<br />
comanda<strong>do</strong> por Danilo e Alice<br />
Caymmi, a apagasse na festa de<br />
encerramento <strong>do</strong> Pan Rio 2007<br />
23
O caminho das pedras<br />
A<br />
té que as cortinas baixassem e os<br />
aplausos cessassem, houve um<br />
longo caminho. Desde que o Brasil<br />
conquistou o direito de organizar<br />
os Jogos, em agosto de 2002, até a segunda<br />
revisão orçamentária, em abril de 2005, o Comitê<br />
Organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Jogos não fez previsão<br />
de custo para a produção de cerimônias. O<br />
CO-Rio priorizava a organização das competições<br />
esportivas em si e outras ações.<br />
O financiamento das festas, na visão da entidade,<br />
deveria ser assumi<strong>do</strong> pelos governos,<br />
porque caracterizava uma ação promocional<br />
<strong>do</strong> País e da cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro. “Fazer<br />
ou não (a cerimônia nos moldes realiza<strong>do</strong>s)<br />
era uma decisão política. Dependia da maneira<br />
como o governante queria que o Brasil<br />
fosse visto e reconheci<strong>do</strong> lá fora. No caderno<br />
de recomendações da Odepa não havia nada<br />
que obrigasse o Comitê a fazer uma grande<br />
cerimônia nos moldes da que foi produzida”,<br />
argumentou Leonar<strong>do</strong> Gryner, gerente de<br />
Marketing <strong>do</strong> CO-Rio.<br />
Reconhecen<strong>do</strong> o potencial de promoção que<br />
o Brasil teria com o evento, o governo federal<br />
tomou uma decisão política importante:<br />
assumiu o fi nanciamento <strong>do</strong> projeto, postura<br />
similar à a<strong>do</strong>tada no revezamento da Tocha<br />
Pan-americana. Quan<strong>do</strong> o Comitê Organiza<strong>do</strong>r<br />
fez um reorçamento <strong>do</strong>s Jogos em 2005,<br />
a Secretaria Executiva <strong>do</strong> Comitê de Gestão<br />
<strong>do</strong> Governo Federal para o Rio 2007 (Sepan),<br />
órgão <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, revisou as<br />
sugestões sobre a participação federal no<br />
bolo orçamentário.<br />
A Secretaria sugeriu a exclusão de alguns<br />
itens solicita<strong>do</strong>s e aumentou a participação<br />
da União no financiamento de outras áreas.<br />
Neste processo, pela primeira vez a realização<br />
das cerimônias de abertura e encerramento<br />
recebeu uma previsão orçamentária,<br />
ainda não oficial: R$ 20 milhões. Avaliou-se<br />
que a repercussão internacional e a geração<br />
espontânea de mídia criariam as condições<br />
ideais para ampliar a divulgação <strong>do</strong> Brasil e<br />
construir uma boa imagem <strong>do</strong> País no exterior.<br />
Era o momento de aliar aspectos culturais já<br />
consolida<strong>do</strong>s no imaginário coletivo, como a<br />
beleza natural e a amabilidade <strong>do</strong> seu povo,<br />
ao conceito de uma nação moderna, capaz<br />
de oferecer oportunidade de negócios, e efi -<br />
ciente na captação e organização de grandes<br />
eventos internacionais.<br />
A Sepan coordenou as ações <strong>do</strong> governo federal<br />
no Pan. To<strong>do</strong>s os repasses de recursos<br />
para o evento e a execução <strong>do</strong>s projetos<br />
relaciona<strong>do</strong>s aos Jogos tinham o gerenciamento<br />
<strong>do</strong> gestor público e a fi scalização <strong>do</strong><br />
Tribunal de Contas da União (TCU). No caso<br />
da gerência de cerimônias, um novo aspecto<br />
se apresentava para a equipe da Sepan e<br />
<strong>do</strong> Tribunal: o acompanhamento de um projeto<br />
artístico-cultural. Uma auditoria ofi cial na<br />
área de eventos e comunicação envolve elementos<br />
complexos e subjetivos. Não é possível,<br />
por exemplo, estabelecer um parâmetro<br />
comparativo como acontece em uma grande<br />
obra de engenharia. Os instrumentos para<br />
análise são distintos.<br />
A Secretaria teve participação ativa na elaboração<br />
<strong>do</strong> orçamento e na coordenação <strong>do</strong><br />
projeto de cerimônias. Ela analisava todas as<br />
demandas <strong>do</strong> CO-Rio, o que permitia uma<br />
correta aplicação <strong>do</strong>s recursos públicos. O<br />
projeto orçamentário <strong>do</strong>s Jogos fez o trajeto<br />
<strong>do</strong> CO-Rio à Sepan diversas vezes. Até que,<br />
no final de 2005, chegou-se ao que se entendia<br />
ser o custo definitivo de todas as festas<br />
<strong>do</strong> Pan e <strong>do</strong> Parapan: R$ 40 milhões. Deste<br />
total, a Secretaria aceitou demanda <strong>do</strong> Comitê,<br />
que tinha a obrigação de organizar os<br />
eventos, de repassar cerca de R$ 5 milhões<br />
para a operação <strong>do</strong> revezamento da Tocha<br />
Pan-americana.<br />
Para chegar a esse montante foram compara<strong>do</strong>s<br />
os custos de festas similares de Olimpíadas<br />
e outros jogos e ouvidas as opiniões<br />
de Scott Givens e <strong>do</strong> consultor espanhol Enric<br />
Truñó. Este último trabalhou na candidatura e<br />
na organização das Olimpíadas de Barcelona<br />
1992, consideradas um marco na história <strong>do</strong>s<br />
grandes eventos esportivos mundiais.<br />
24
No cronograma original, o primeiro repasse<br />
estava previsto para julho de 2006, mas só<br />
ocorreu em janeiro de 2007, em virtude de<br />
ajustes e adequações no plano de trabalho<br />
proposto pelo CO-Rio.<br />
A verba, no montante de R$ 6.496.868,47, foi<br />
direcionada, por meio <strong>do</strong> convênio 010/2007<br />
entre o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e o CO-Rio, ao<br />
desenvolvimento e à produção de protótipos<br />
e maquetes e para pagamento <strong>do</strong> trabalho de<br />
consultores internacionais que compunham o<br />
Núcleo de Criação e Gerenciamento de Cerimônias,<br />
<strong>do</strong> qual faziam parte Rosa Magalhães,<br />
Alê Siqueira, Luiz Stein e outros contrata<strong>do</strong>s<br />
para as diversas funções, como levantamento<br />
e detalhamento das especificações técnicas e<br />
supervisão da prestação de contas. A apuração<br />
dessas informações era importante para<br />
dar início à pesquisa de merca<strong>do</strong> e à produção<br />
<strong>do</strong>s editais das três licitações programadas<br />
para viabilizar a realização das cerimônias:<br />
1) contratação de uma produtora executiva<br />
para as cerimônias com maior complexidade<br />
(abertura e encerramento).<br />
2) seleção de produtora de médio porte que<br />
cuidaria das cerimônias mais simples (premiação,<br />
boas-vindas e produção <strong>do</strong>s esportes).<br />
3) empresa executora <strong>do</strong>s serviços de iluminação<br />
e efeitos especiais, bem como a<br />
locação de to<strong>do</strong>s os equipamentos necessários.<br />
Paralelamente, existia um plano para buscar<br />
parceiros que desejassem associar seu<br />
nome ao projeto, sobretu<strong>do</strong> para a produção<br />
da Pira Pan-americana, e também a<br />
necessidade da contratação de uma empresa<br />
responsável pela execução <strong>do</strong>s serviços<br />
de produção de figurinos, cenários e elementos<br />
técnicos indispensáveis às cerimônias.<br />
Caso o patrocínio não fosse capta<strong>do</strong>,<br />
a possibilidade de um novo aporte de recursos<br />
governamentais poderia ser estudada<br />
pelos organiza<strong>do</strong>res.<br />
25<br />
Fotos: Ronal<strong>do</strong> Smoleanschi / CO-Rio
Como dito anteriormente, o programa <strong>do</strong>s<br />
Jogos cresceu exponencialmente, tanto<br />
em estrutura quanto na parte organizacional.<br />
Para concretizar o sonho nas dimensões<br />
em que o Pan foi replaneja<strong>do</strong>, era<br />
necessária a contratação de mais mão-deobra<br />
e, conseqüentemente, recursos para<br />
atender às demandas administrativas que<br />
aumentavam a cada dia. A prefeitura, já<br />
com orçamento sobrecarrega<strong>do</strong>, não assumiu<br />
a responsabilidade de ampliar os repasses<br />
de verba para o custeio <strong>do</strong> CO-Rio.<br />
“Eu não tinha dinheiro para formar equipe.<br />
O orçamento era zero, a equipe era zero e<br />
só tinha uma pessoa cuidan<strong>do</strong> de to<strong>do</strong> o<br />
processo: eu. Só em janeiro de 2007 chegou<br />
o dinheiro para a gente tocar o projeto”,<br />
explicou Gryner.<br />
Setembro de 2006 foi um mês crítico. O enre<strong>do</strong><br />
da cerimônia de abertura estava pronto,<br />
mas, por falta de dinheiro, os diretores artísticos<br />
não podiam começar a produção de<br />
fato. A insegurança tomava conta de várias<br />
frentes da equipe. A possibilidade de não<br />
realização da cerimônia, um vexame que<br />
causaria sérios danos à imagem e reputação<br />
<strong>do</strong> País no exterior, começava a pairar.<br />
Alê Siqueira, pronto para entrar em estúdio,<br />
e Rosa Magalhães, cuja área era uma das<br />
mais delicadas em função <strong>do</strong> nível de detalhamento<br />
<strong>do</strong> trabalho, pouco podiam fazer.<br />
Com receio, a carnavalesca pensava em<br />
aban<strong>do</strong>nar o projeto. O tempo hábil para<br />
a abertura <strong>do</strong> processo de licitação para a<br />
escolha da empresa produtora <strong>do</strong> espetáculo<br />
se estreitava. “A verdade é que, quan<strong>do</strong><br />
o processo não começa, não anda, é<br />
desespera<strong>do</strong>r. Cheguei a pensar que não ia<br />
haver a cerimônia”, admite hoje uma aliviada<br />
Rosa Magalhães.<br />
Fotos: Ronal<strong>do</strong> Smoleanschi / CO-Rio<br />
26<br />
O atraso também desrespeitava o Acor<strong>do</strong><br />
de Responsabilidade e Obrigações assina<strong>do</strong><br />
pelo Brasil quan<strong>do</strong> recebeu o direito de<br />
sediar o Pan. De acor<strong>do</strong> com o <strong>do</strong>cumento,<br />
o País deveria submeter à avaliação o programa<br />
cultural e o projeto de cerimônia de
abertura seis meses antes de a festa começar.<br />
Com a situação se agravan<strong>do</strong>, o Ministério <strong>do</strong><br />
<strong>Esporte</strong> começou então a fazer uma série de<br />
gestões e cobranças mais enérgicas ao CO-<br />
Rio. Solicitava urgência na entrega <strong>do</strong>s planos<br />
de trabalho e enfatizava a necessidade de estes<br />
planos serem redigi<strong>do</strong>s com mais apuro<br />
e critério, sob pena de as verbas não serem<br />
aprovadas e o projeto se tornar inviável. Foram<br />
inúmeros ofícios, e-mails e reuniões entre os<br />
<strong>do</strong>is órgãos.<br />
O processo não caminhava na velocidade exigida.<br />
O CO-Rio alegava não dispor de recursos<br />
para contratar pessoal para elaborar os<br />
<strong>do</strong>cumentos. Outra dificuldade apontada pela<br />
equipe <strong>do</strong> Ministério era a dificuldade em obter<br />
informações sobre o andamento <strong>do</strong> projeto<br />
dentro <strong>do</strong> Comitê. O gerente Leonar<strong>do</strong> Gryner<br />
centralizava as decisões. “Identificada esta situação<br />
crítica, o governo federal começou a<br />
sair <strong>do</strong> papel exclusivo de financia<strong>do</strong>r e passou<br />
a entrar mais profundamente na execução.<br />
To<strong>do</strong> esforço era para garantir a execução das<br />
cerimônias”, relata Gabriela Santoro, gerente<br />
de Cerimônias da Sepan.<br />
Em novembro de 2006 foi entregue um orçamento<br />
que estourava em cerca de R$ 5 milhões<br />
o valor acorda<strong>do</strong> entre os <strong>do</strong>is órgãos. Com<br />
tantos percalços, incorreções e indefinições,<br />
o plano de trabalho <strong>do</strong> convênio para contratação<br />
<strong>do</strong> Núcleo de Criação e Gerenciamento<br />
<strong>do</strong>s Jogos – que deveria ter si<strong>do</strong> entregue em<br />
maio – foi finaliza<strong>do</strong> apenas em dezembro, a<br />
seis meses <strong>do</strong> início das competições. O tempo<br />
era escasso para cumprir as formalidades<br />
legais e o rito processual. Era necessário produzir<br />
três editais e promover as licitações. A<br />
ameaça de não ocorrer cerimônia era iminente.<br />
Os prazos estavam aperta<strong>do</strong>s pela falta de definições<br />
<strong>do</strong> CO-Rio, e o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
se viu obriga<strong>do</strong> a tomar medidas de urgência.<br />
A primeira ação foi finalizar e celebrar o convênio<br />
010/2007 com o CO-Rio, em janeiro de<br />
2007. O repasse subsidiava a contratação de<br />
especialistas e técnicos e de sete profissionais<br />
<strong>do</strong> exterior com vasta experiência na realização<br />
deste tipo de evento. Além de auxiliar no<br />
desenvolvimento <strong>do</strong> conceito e <strong>do</strong>s protótipos,<br />
o grupo também seria responsável por planejar<br />
e coordenar as ações de produção das cerimônias<br />
de abertura e encerramento.<br />
A forma de execução <strong>do</strong> projeto foi redefinida.<br />
O Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> recorreu à contratação<br />
direta de uma produtora executiva, em<br />
caráter emergencial, conforme pleito <strong>do</strong> Comitê<br />
Organiza<strong>do</strong>r. Era necessário sincronizar<br />
a operação.<br />
Na medida em que as peças, adereços e fantasias<br />
iam sain<strong>do</strong> <strong>do</strong>s croquis, precisavam<br />
imediatamente <strong>do</strong>s materiais para a sua confecção.<br />
“Não teríamos como criar to<strong>do</strong> o processo,<br />
desenhar as especificações técnicas e<br />
depois colocar isso no merca<strong>do</strong> para efetuar<br />
as contratações. Era preciso que fosse feito<br />
simultaneamente. Não tínhamos mais tempo”,<br />
diz Gabriela Santoro.<br />
Apesar <strong>do</strong> caráter extraordinário, a contratação<br />
emergencial respeitou os princípios básicos<br />
que regem a administração pública, em<br />
especial a Lei 8.666/1993, e os instrumentos<br />
normativos que norteiam as licitações de publicidade.<br />
Para isso, o Ministério enviou convite<br />
a diversas empresas especializadas em<br />
produção de grandes eventos.<br />
A Mon<strong>do</strong> Entretenimento venceu com a menor<br />
proposta de taxa de administração sobre<br />
o valor <strong>do</strong> contrato (15/2007), fecha<strong>do</strong> em<br />
R$ 21.545.702,10. O sal<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursos disponíveis<br />
<strong>do</strong> montante original seria converti<strong>do</strong> em<br />
novos convênios com o CO-Rio, para despesas<br />
com a contratação de novos profissionais,<br />
passagens e hospedagens <strong>do</strong> pessoal envolvi<strong>do</strong><br />
na execução das cerimônias, produção de<br />
figurinos e adereços, além da contratação de<br />
efeitos especiais e pirotécnicos.<br />
Desta forma, o projeto das cerimônias foi desmembra<strong>do</strong><br />
em duas frentes. A primeira, de<br />
responsabilidade da Mon<strong>do</strong> Entretenimento,<br />
que se encarregaria da contratação de diversos<br />
serviços e pelas compras fragmentadas<br />
27
de insumos como teci<strong>do</strong>s, fitas crepe, arame<br />
e alguns itens curiosos, que revelam a capacidade<br />
de criação e improvisação <strong>do</strong> artista<br />
brasileiro, como tela de galinheiro, catraca de<br />
caminhão e mola de Chevette, carro da General<br />
Motors que deixou de ser fabrica<strong>do</strong> no meio<br />
da década de 90.<br />
A segunda frente trataria <strong>do</strong>s convênios com o<br />
CO-Rio, os que envolveriam o maior volume de<br />
recursos para as maiores contratações. Essas<br />
decisões traçaram novo rumo na execução <strong>do</strong><br />
projeto de cerimônias <strong>do</strong>s Jogos. A iniciativa<br />
causou alguns desentendimentos no início <strong>do</strong><br />
processo. Havia entre os organiza<strong>do</strong>res a preocupação<br />
de que a participação ativa <strong>do</strong> governo<br />
federal, por intermédio da Sepan, sobretu<strong>do</strong><br />
na área de execução orçamentária, não<br />
garantisse a agilidade necessária para prover<br />
as contratações indispensáveis no curto espaço<br />
de tempo que restava. Esse temor surgiu<br />
em função da série de normas e procedimentos<br />
legais que regem e controlam a utilização<br />
de verbas públicas. Porém, ao longo <strong>do</strong> projeto,<br />
esta imagem foi sen<strong>do</strong> desconstruída e<br />
logo se viu que a decisão foi acertada.<br />
A Sepan tinha foco na gestão <strong>do</strong>s recursos fi -<br />
nanceiros. Todas as compras e contratações<br />
eram avaliadas e toda a verba investida no<br />
projeto passava pelos sistemas de controle<br />
<strong>do</strong> governo. “A partir <strong>do</strong> momento em que não<br />
repassamos o dinheiro integralmente, como<br />
era desejo <strong>do</strong> CO-Rio, a Sepan trouxe para si<br />
também a responsabilidade da execução. Mas<br />
precisávamos ter segurança quanto à dinâmica<br />
<strong>do</strong> projeto”, ressalta a gerente Gabriela<br />
Santoro. Para não ultrapassar ainda mais os<br />
limites orçamentários, a Secretaria sempre<br />
orientava a equipe <strong>do</strong> Comitê a determinar<br />
prioridades e procurar soluções adequadas à<br />
verba disponível. Vários cortes de gastos foram<br />
feitos. Apesar de algum desgaste, essas<br />
reduções sempre eram discutidas e aprovadas<br />
pela equipe de produção.<br />
A compra <strong>do</strong> material utiliza<strong>do</strong> para a movimentação<br />
<strong>do</strong> Boi Bumbá é um exemplo curioso<br />
desta nova forma de gerenciamento. A<br />
equipe de Scott Givens reclamava a necessidade<br />
da importação de bicicletas de alta tecnologia.<br />
A idéia era extrair as rodas e instalar<br />
no Boi, o que, segun<strong>do</strong> ele, tornaria a alegoria<br />
mais leve e fácil de manobrar. Pelos cálculos<br />
da equipe seriam necessárias 35, a um valor<br />
que provocaria significativo acréscimo no já<br />
aperta<strong>do</strong> orçamento das cerimônias. Neste<br />
momento, a capacidade de improvisação e a<br />
criatividade <strong>do</strong> brasileiro se fizeram presentes<br />
mais uma vez. Com ferro-velho (molas de Chevette,<br />
rodas de carros antigos e catracas de<br />
caminhão), foi desenvolvi<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o mecanismo<br />
de movimentação <strong>do</strong> Boi Bumbá.<br />
Na festa, a opção mostrou-se efi ciente, bela<br />
e, sobretu<strong>do</strong>, menos onerosa. “Existia aquela<br />
velha noção de que o que vem de fora é<br />
melhor. Mas a importação provou-se completamente<br />
desnecessária. O brasileiro é<br />
assim, um povo criativo que tem soluções<br />
baratas e originais para qualquer obstáculo<br />
que se apresenta”, disse Jacqueline Barros,<br />
assistente da Gerência de Cerimônias<br />
<strong>do</strong> Ministério.<br />
Para Alicia Ferreira, produtora associada <strong>do</strong><br />
CO-Rio para cerimônia, o intercâmbio de experiência<br />
entre a equipe estrangeira e a brasileira<br />
que participaram da cerimônia de abertura<br />
trouxe grande aprendiza<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s. “Os<br />
estrangeiros conheceram uma nova forma de<br />
produzir grandes espetáculos. O Brasil tem<br />
tecnologia especializada, principalmente na<br />
indústria <strong>do</strong> Carnaval. A maior parte da cerimônia<br />
de abertura foi elaborada com base em<br />
tecnologia local.”<br />
28
Foto: Streeter Lecka / Getty Images<br />
A evolução <strong>do</strong> palhaço<br />
na Abertura: figurinos<br />
de primeira linha<br />
29
Operação de guerra<br />
C<br />
om orçamento aprova<strong>do</strong> e parte<br />
da verba liberada, uma verdadeira<br />
operação de guerra foi arquitetada<br />
para produzir todas as cerimônias<br />
a tempo. Foi instala<strong>do</strong> um quartel general no<br />
estacionamento <strong>do</strong> estádio <strong>do</strong> Maracanã – espaço<br />
cedi<strong>do</strong> pelo governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de<br />
Janeiro. Mais de 250 pessoas trabalharam dia<br />
e noite no local. Não se poderia perder mais<br />
um segun<strong>do</strong> sequer, sob pena <strong>do</strong> comprometimento<br />
definitivo <strong>do</strong> projeto. Faltavam pouco<br />
mais de 100 dias para se iniciar o maior evento<br />
esportivo das Américas e pouco tinha si<strong>do</strong><br />
executa<strong>do</strong> até então.<br />
O projeto da cerimônia de abertura era o mais<br />
crítico. A situação era alarmante em determinadas<br />
áreas. Na área musical era difícil conciliar<br />
a concorrida agenda <strong>do</strong>s artistas com a<br />
gravação da trilha sonora da festa. Na área de<br />
figurinos e adereços, ainda não haviam si<strong>do</strong><br />
confecciona<strong>do</strong>s mais de 50 protótipos, o que<br />
era fundamental para testar a funcionalidade<br />
da criação e orçar a produção <strong>do</strong>s figurinos e<br />
adereços <strong>do</strong>s mais de 7 mil itens previstos.<br />
O volume e o detalhamento desta área eram<br />
gigantescos e, apesar da ânsia de trabalhar,<br />
alguns obstáculos ainda se colocavam no caminho<br />
da produção e barravam o avanço <strong>do</strong><br />
projeto. A compra fragmentada era uma delas.<br />
A riqueza de detalhes das alegorias e <strong>do</strong>s<br />
adereços exigia aquisição de uma infinidade<br />
de produtos, por vezes únicos, artesanais, encontra<strong>do</strong>s<br />
somente em um ou <strong>do</strong>is fornece<strong>do</strong>res,<br />
e fabrica<strong>do</strong>s em pequena escala. Esse<br />
fato comprometia a aplicação <strong>do</strong>s princípios<br />
administrativos aos quais o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
e seus contrata<strong>do</strong>s estavam sujeitos,<br />
como a busca de cotação no merca<strong>do</strong> e análise<br />
de preço.<br />
Apesar de dificultar o trabalho da produção,<br />
o respeito às exigências técnicas e legais foi<br />
segui<strong>do</strong>. A Gerência de Cerimônias da Sepan<br />
manteve uma boa interlocução com o Tribunal<br />
de Contas da União (TCU), e muitas reuniões<br />
foram realizadas no decorrer <strong>do</strong> processo.<br />
Duas auditoras acompanhavam o processo e<br />
chegaram a visitar o Maracanã algumas vezes<br />
para fiscalizar a evolução <strong>do</strong> trabalho. Os principais<br />
questionamentos <strong>do</strong> Tribunal eram sobre<br />
a contratação direta da Mon<strong>do</strong> e a importação<br />
de consultores internacionais. Também é importante<br />
ressaltar que a montagem <strong>do</strong> quadro<br />
funcional era responsabilidade <strong>do</strong> Comitê, que<br />
a Sepan avaliou como necessária em virtude<br />
da qualificação <strong>do</strong>s profissionais indica<strong>do</strong>s e<br />
de não haver no merca<strong>do</strong> nacional especialistas<br />
com experiência e conhecimento na área.<br />
O caráter peculiar da produção das cerimônias<br />
também promoveu situações distintas na<br />
negociação com os fornece<strong>do</strong>res de matériaprima<br />
e equipamentos para os eventos. De<br />
um la<strong>do</strong> estavam empresas de grande porte e<br />
com situação financeira mais robusta – fornece<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> palco, energia elétrica, iluminação,<br />
entre outros itens. De outro, pequenos empreende<strong>do</strong>res,<br />
que trabalham no varejo.<br />
As demandas burocráticas da administração<br />
pública exigem <strong>do</strong>cumentação e prazos por<br />
vezes longos para concretizar os pagamentos.<br />
Com os fornece<strong>do</strong>res maiores, não havia<br />
grandes difi culdades, à medida que muitos<br />
já estavam habitua<strong>do</strong>s aos trâmites legais e<br />
tinham condições econômicas para gerenciar<br />
a espera <strong>do</strong> acerto fi nanceiro. Porém, os<br />
menores não tinham estrutura para trabalhar<br />
com faturamento, o que inviabilizaria a aquisição<br />
de alguns itens previstos na produção,<br />
sobretu<strong>do</strong> os utiliza<strong>do</strong>s na confecção <strong>do</strong>s<br />
adereços artísticos. Muitas vezes a demanda<br />
consumia to<strong>do</strong> o estoque disponível de um<br />
determina<strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r.<br />
O preço <strong>do</strong>s produtos a serem adquiri<strong>do</strong>s para<br />
as cerimônias também mereceu atenção especial.<br />
Como era pública a urgência – o Pan<br />
se aproximava e muitos fornece<strong>do</strong>res detinham<br />
a exclusividade <strong>do</strong> material –, os preços<br />
solicita<strong>do</strong>s eram, por vezes, muito acima <strong>do</strong>s<br />
cobra<strong>do</strong>s pelo merca<strong>do</strong>. Iniciou-se então um<br />
trabalho de conscientização sobre a importância<br />
da colaboração de to<strong>do</strong>s para que o Brasil<br />
apresentasse um grande espetáculo aos olhos<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Foi informa<strong>do</strong> também que o proje-<br />
30
to tinha um orçamento defini<strong>do</strong> e com limites<br />
estabeleci<strong>do</strong>s. Aos poucos uma relação<br />
de parceria se firmou entre fornece<strong>do</strong>res,<br />
Mon<strong>do</strong> e Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>. Muita negociação<br />
se fez necessária e um plano<br />
estratégico foi monta<strong>do</strong> para obter to<strong>do</strong> o<br />
material com antecedência e dentro da verba<br />
prevista de acor<strong>do</strong> com os parâmetros<br />
de merca<strong>do</strong>. Tu<strong>do</strong> foi feito para que não<br />
houvesse prejuízo às partes envolvidas, ou<br />
seja, governo, produtora contratada e fornece<strong>do</strong>res<br />
de serviços e materiais.<br />
Na prática, a Mon<strong>do</strong> fazia o faturamento e<br />
o Ministério reembolsava o valor, sempre<br />
procuran<strong>do</strong> equilíbrio para que a produtora<br />
continuasse a ter fôlego para trabalhar.<br />
Em alguns casos, até a própria Sepan<br />
encaminhava as negociações. “A relação<br />
foi muito delicada com os fornece<strong>do</strong>res. A<br />
maioria estava acostumada a vender e receber<br />
na hora. Se não houvesse antecipação<br />
de dinheiro, corria-se o risco de não<br />
haver matéria-prima para confeccionar as<br />
fantasias e afi ns”, diz Alberto Lima, diretor<br />
de operações da Mon<strong>do</strong>. As particularidades<br />
para aquisição <strong>do</strong>s artigos usa<strong>do</strong>s<br />
para confeccionar trajes e alegorias estavam<br />
longe de ser os únicos entraves neste<br />
estágio da operação.<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
31<br />
O projeto cênico foi concluí<strong>do</strong> em outubro<br />
de 2006. Com a demora de seis meses para<br />
iniciar as compras, os preços das merca<strong>do</strong>rias<br />
já não eram os mesmos – porque<br />
muitos desses produtos sofrem reajustes<br />
em decorrência da estação e, como dito<br />
anteriormente, a proximidade <strong>do</strong>s Jogos<br />
inflacionou boa parte deles. Muitos teci<strong>do</strong>s<br />
e cores saíram de moda e os produtos<br />
remanescentes não atendiam à demanda<br />
de produção. Para piorar, não havia tempo<br />
para encomendá-los. A solução foi procurar<br />
similares, tanto no preço quanto na cor<br />
e no modelo, que mantivessem o conceito<br />
original. “A gente dava um jeitinho. Negociava.<br />
Comprava metade de um teci<strong>do</strong>, metade<br />
<strong>do</strong> outro. O importante era não parar a<br />
produção”, contou a diretora artística.
A mão-de-obra <strong>do</strong> samba no Pan<br />
O<br />
atraso nos procedimentos também<br />
adiou a contratação de mãode-obra<br />
especializada para a confecção<br />
e produção <strong>do</strong>s figurinos.<br />
A Associação de Mulheres Empreende<strong>do</strong>ras<br />
<strong>do</strong> Brasil (Amebras) foi contratada apenas em<br />
maio, quan<strong>do</strong> foi firma<strong>do</strong> convênio entre o CO-<br />
Rio e a entidade, ao custo final de R$ 2 milhões,<br />
financia<strong>do</strong>s pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />
A associação é ligada à indústria <strong>do</strong> Carnaval<br />
e seu principal objetivo é a capacitação profissional<br />
de pessoas em produção artesanal,<br />
além de orientá-las a como trabalhar de forma<br />
mais estruturada e organizada. Os Jogos<br />
Pan-americanos continuavam seu processo<br />
de movimentar a cadeia produtiva da sociedade,<br />
geran<strong>do</strong> emprego e renda à população.<br />
(ver capítulo “Impacto Econômico”).<br />
A assinatura <strong>do</strong> convênio com a Amebras gerou<br />
mais de 700 empregos diretos, deu oportunidade<br />
de emprego para muitos jovens recém-forma<strong>do</strong>s<br />
pela entidade e recolocou no<br />
merca<strong>do</strong> de trabalho i<strong>do</strong>sos e pessoas sem<br />
ocupação regular. É o caso da costureira Assumpção<br />
Maria Gomes. Aos 55 anos, ela já fez<br />
de tu<strong>do</strong> um pouco na vida, foi vende<strong>do</strong>ra de<br />
roupas, atendente de hospital, babá e caixa<br />
de restaurante. Na busca por uma especialização,<br />
ela fez vários cursos na instituição e se<br />
sentiu muito honrada de contribuir para a realização<br />
de uma das mais belas festas que já<br />
viu. “Eu sempre fui curiosa e procuro aprender<br />
mais a cada dia”. No Pan, Assumpção trabalhou<br />
na decoração de espumas das alegorias<br />
e na confecção de mais de 50 fantasias diferentes.<br />
“O nosso trabalho é muito importante<br />
para a apresentação. Cada detalhe importa: o<br />
corte, a costura, a decoração. Não pode haver<br />
falhas. Quan<strong>do</strong> vi a apresentação no Maracanã,<br />
cheguei a ser atendida pela equipe médica,<br />
porque minha pressão aumentou de tanta<br />
emoção. Foi muito bom saber que fazia parte<br />
daquele projeto”.<br />
Para a presidente da Amebras, Célia Domingues,<br />
o Pan foi um marco e provou que o<br />
País tem profissionais aptos a trabalhar na<br />
produção de grandes eventos. “O trabalho de<br />
‘Carnaval’ não é apenas no Carnaval. Temos<br />
A experiência <strong>do</strong>s<br />
carnavalescos foi<br />
utilizada na produção<br />
das alegorias e<br />
fantasias da cerimônia<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
32
de aproveitar a mão-de-obra especializada<br />
e gerar emprego o ano to<strong>do</strong>”, esclarece. O<br />
projeto foi marcante também para jovens<br />
universitários <strong>do</strong> curso técnico de Gestão <strong>do</strong><br />
Carnaval, ofereci<strong>do</strong> pela Universidade Estácio<br />
de Sá, instituição privada de ensino superior<br />
<strong>do</strong> Rio de Janeiro. Eles estagiaram em<br />
sua área de formação, produção e gestão de<br />
eventos artísticos e carnavalescos, conhecen<strong>do</strong><br />
de perto os basti<strong>do</strong>res de um grande<br />
evento. Alguns, pela primeira vez.<br />
Para Carolina Dornelles, 26 anos, o estágio<br />
no Barracão foi uma oportunidade de expandir<br />
seus conhecimentos e trabalhar próximo<br />
a profissionais que admira, como Rosa<br />
Magalhães e Rossy Amoe<strong>do</strong>. Experiente em<br />
costura e decoração, Carolina teve no Pan<br />
a chance de aprender uma nova técnica<br />
carnavalesca: a escultura. A estudante trabalhou<br />
na confecção da alegoria vedete da<br />
cerimônia de abertura: o jacaré de 35 metros<br />
que representava parte da diversidade<br />
da fauna brasileira. “Eu acompanhei a construção<br />
<strong>do</strong> jacaré desde o ferro. Toda a cerimônia<br />
foi linda, mas, quan<strong>do</strong> o jacaré entrou<br />
no estádio se movimentan<strong>do</strong>, me joguei no<br />
chão e comecei a chorar. Foi lin<strong>do</strong>! Preten<strong>do</strong><br />
ir a Parintins conhecer melhor a técnica de<br />
movimentação da alegoria”. A experiência<br />
no Pan lhe rendeu novos convites de trabalho<br />
e hoje atua como assistente de produção<br />
<strong>do</strong> carnavalesco Milton Cunha. “A cerimônia<br />
de abertura foi uma vitrine de talentos. Muitos<br />
que participaram da produção <strong>do</strong> evento<br />
se encaminharam para seus setores. Boa<br />
parte <strong>do</strong> que vivo profissionalmente hoje é<br />
devi<strong>do</strong> a meu estágio no Pan. Foi o ponto de<br />
partida”, avalia.<br />
O trabalho nos três barracões da Cidade <strong>do</strong><br />
Samba era incessante e acompanha<strong>do</strong> de<br />
perto pela cria<strong>do</strong>ra. No local, centenas de<br />
máquinas de costura davam forma e vida aos<br />
desenhos traça<strong>do</strong>s. No Maracanã, o correcorre<br />
também era enorme. Os cerca de 5 mil<br />
voluntários que participariam da cerimônia<br />
– dançarinos, ginastas e profissionais de artes<br />
circense e dramática – repetiam as mar-<br />
33<br />
Foto: Ronal<strong>do</strong> Smoleanschi / CO-Rio
cações da coreografia no grama<strong>do</strong> <strong>do</strong> estádio.<br />
O trabalho exigia dedicação de to<strong>do</strong>s os<br />
envolvi<strong>do</strong>s. Nilson Silva, de 27 anos, enfrentava<br />
to<strong>do</strong>s os dias uma hora e meia de ônibus<br />
de Campo Grande, zona oeste <strong>do</strong> Rio, até o<br />
Maracanã.<br />
Os ensaios eram exaustivos. Cada passo era<br />
repeti<strong>do</strong> infinitas vezes. Tanto esforço teve<br />
sua compensação: o dançarino acredita que<br />
alcançou aprimoramento profissional. Estudante<br />
<strong>do</strong> último ano de educação física, Nilson<br />
tem duas paixões: a dança, que praticava<br />
há um ano, e o esporte. O Pan foi uma rara<br />
oportunidade de uni-las. “Foi cansativo, mas<br />
valeu a pena. Participar da cerimônia <strong>do</strong> Pan<br />
foi maravilhoso. Profissionalmente, me deu<br />
outra visão da dança. Nunca tinha me apresenta<strong>do</strong><br />
em um espaço tão amplo quanto o<br />
Maracanã, com marcação e com tantos outros<br />
participantes. Sem falar da emoção de<br />
me apresentar no maior estádio <strong>do</strong> Brasil”,<br />
relembra.<br />
Ainda com to<strong>do</strong>s os esforços, o pessoal<br />
aloca<strong>do</strong> no Núcleo de Criação e Gerenciamento<br />
era insuficiente para conduzir toda a<br />
produção. Mais <strong>do</strong>is convênios foram celebra<strong>do</strong>s<br />
entre Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e CO-Rio<br />
para ampliar as equipes de produção. Um<br />
(036/2007) para contratação de mão-de-obra<br />
para as cerimônias de abertura e encerramento,<br />
no valor total de R$ 9.195.689,99, em<br />
maio; e outro (055/2007), em junho, no valor<br />
de R$ 2.082.154,05, para as demais cerimônias:<br />
boas-vindas, premiação e produção <strong>do</strong>s<br />
esportes. Foi a primeira revisão orçamentária<br />
oficial na área de Cerimônias. A Mon<strong>do</strong>, que<br />
ao entrar no projeto já havia aumenta<strong>do</strong> seu<br />
time em cerca de 70%, continuou contratan<strong>do</strong><br />
e, ao término <strong>do</strong> trabalho, tinha uma equipe<br />
cerca de 90% maior que a planejada inicialmente.<br />
Foram contrata<strong>do</strong>s carrega<strong>do</strong>res,<br />
puxa<strong>do</strong>res de alegorias, maquia<strong>do</strong>res, cenógrafos,<br />
entre outros.<br />
Após os Jogos, todas as alegorias produzidas<br />
para as cerimônias foram <strong>do</strong>adas para escolas<br />
de samba <strong>do</strong> grupo de Acesso <strong>do</strong> Rio.<br />
34<br />
Foto: Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil Fotos: Ronal<strong>do</strong> Smoleanschi / CO-Rio
A força da trilha sonora<br />
E<br />
nquanto isso, o Estádio <strong>do</strong> Maracanã<br />
passava por uma verdadeira revolução<br />
para receber a Cerimônia<br />
de Abertura. Cerca de mil metros<br />
quadra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> grama<strong>do</strong> central foram retira<strong>do</strong>s<br />
para receber o palco principal. Foram montadas<br />
estruturas de sustentação de iluminação nas<br />
marquises superiores e pontes provisórias em<br />
cima <strong>do</strong> fosso que separa a platéia <strong>do</strong> campo.<br />
As pontes permitiam a movimentação cênica<br />
<strong>do</strong>s dançarinos durante a apresentação. Mais<br />
de 500 profissionais trabalharam na instalação<br />
técnica de luz, som e palco no estádio. A parte<br />
interna também sofreu modificações. No túnel<br />
de acesso ao grama<strong>do</strong> foram ergui<strong>do</strong>s 40<br />
camarins para os artistas. Um grande guarda<br />
roupa foi construí<strong>do</strong> para alocar adereços e figurinos.<br />
No local, havia um serviço de provas de<br />
roupas e ajustes, além da troca de figurino <strong>do</strong><br />
elenco durante a cerimônia.<br />
Longe <strong>do</strong> grande palco, travava-se uma verdadeira<br />
luta contra o relógio. Alê Siqueira comandava<br />
toda a produção musical <strong>do</strong> evento, também<br />
financiada pela União. Em estúdios, os artistas<br />
convida<strong>do</strong>s para se apresentar registravam suas<br />
vozes. Além <strong>do</strong> curto tempo para concretizar to<strong>do</strong>s<br />
os playbacks, a equipe de direção musical<br />
sofria para conciliar a agenda <strong>do</strong>s intérpretes<br />
com os dias de gravação no estúdio. “A gente<br />
passou muitas noites sem <strong>do</strong>rmir e horas em estúdio<br />
para garantir a qualidade técnica na parte<br />
musical das cerimônias. Os artistas também cooperaram<br />
bastante”, diz Alê Siqueira.<br />
Os Jogos ganharam uma trilha sonora exclusiva.<br />
“Viva essa energia”, de Arnal<strong>do</strong> Antunes e<br />
Liminha, foi a música-tema de um repertório<br />
que contemplou várias manifestações populares.<br />
Inclusive, o desfile protocolar <strong>do</strong>s atletas<br />
recebeu um toque especial. Os mais de 5 mil<br />
competi<strong>do</strong>res entraram no Maracanã ao som de<br />
11 chorinhos tradicionais, entre eles “Apanhei-te<br />
cavaquinho”, de Ernesto Narazeth; “Tico-tico no<br />
fubá”, de Zequinha de Abreu; “Noites cariocas”<br />
e “Assanha<strong>do</strong>”, ambas de Jacob <strong>do</strong> Ban<strong>do</strong>lim.<br />
Os chorinhos ganharam arranjos singulares,<br />
um medley com toques de samba, de funk e<br />
de música eletrônica. A iluminação também foi<br />
um recurso cênico importante. Uma infinidade<br />
de cores dava mais vida à já bela apresentação.<br />
Cerca de <strong>do</strong>is mil spots de luz reproduziram diversos<br />
cenários na noite de inverno carioca. Um<br />
teci<strong>do</strong> em tons pastel foi estendi<strong>do</strong> no grama<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> estádio e grande parte <strong>do</strong> público compareceu<br />
à festa vestin<strong>do</strong> uma peça de roupa em tom<br />
claro. A idéia era que a iluminação da cerimônia<br />
interagisse com a platéia. O efeito <strong>do</strong>s feixes<br />
<strong>do</strong>s canhões de luz que refletiam no teci<strong>do</strong><br />
claro foi surpreendente. Os 90 mil presentes se<br />
tornaram mais um elemento cênico que compunha<br />
a apresentação, que aliava a diversidade da<br />
natureza e da cultura brasileira à modernidade.<br />
To<strong>do</strong>s os equipamentos eram aciona<strong>do</strong>s automaticamente<br />
pelo computa<strong>do</strong>r. “Contamos a<br />
relação entre o homem e a natureza com o uso<br />
da tecnologia”, explicou Luiz Stein.<br />
A energia conduziu o enre<strong>do</strong> da cerimônia <strong>do</strong><br />
Pan. O espetáculo se iniciava com o nascer <strong>do</strong><br />
sol e o desabrochar das exuberantes fauna e flora<br />
brasileiras. Os raios solares, ao bater no mangue,<br />
moldavam o barro, dan<strong>do</strong> os contornos da<br />
vegetação nacional. Ao som de Villa-Lobos, foi<br />
apresenta<strong>do</strong> um Brasil que vibra to<strong>do</strong>s os meses<br />
<strong>do</strong> ano. Um Brasil <strong>do</strong> sol, da alegria, das cores,<br />
<strong>do</strong> verde-amarelo. No decorrer da festa, o verde<br />
das florestas e o amarelo <strong>do</strong> sol cedem espaço<br />
para o azul das águas. Mares, rios e lagoas são<br />
representa<strong>do</strong>s alegoricamente como elementos<br />
primordiais da vida, força motriz de um país<br />
continental, fonte de inspiração folclórica e elo<br />
entre o norte e sul. O Rio Amazonas deságua<br />
no mar e nas águas da Praia de Copacabana,<br />
berço da bossa-nova, ícone brasileiro, local da<br />
diversão, <strong>do</strong> riso e da brincadeira infantil.<br />
O sol aos poucos se recolhe e o dia dá lugar<br />
à noite. Adriana Calcanhoto canta para acalmar<br />
os pesadelos, os me<strong>do</strong>s, e espantar os monstros<br />
da noite. Depois da noite escura, cria-se o<br />
sonho. Os obstáculos são supera<strong>do</strong>s e vem a<br />
celebração de um país inteiro nas mais diversas<br />
manifestações culturais: maracatu, frevo, boibumbá.<br />
As festas chegam para libertar, para<br />
descansar o homem da árdua luta. É o gigante<br />
Brasil que se une no estádio <strong>do</strong> Maracanã para<br />
festejar os Jogos Pan-americanos.<br />
35
A Pira: a Liquigás forneceu 261<br />
toneladas de gás para alimentar<br />
o sol <strong>do</strong> Pan-americano<br />
Foto: Luciana Vermell / FIA<br />
36
A energia <strong>do</strong> sol, o símbolo <strong>do</strong> Pan<br />
O<br />
sol, símbolo <strong>do</strong>s XV Jogos Panamericanos,<br />
foi a fonte de inspiração<br />
da equipe de cenografia<br />
ao criar o palco da cerimônia de<br />
abertura e a Pira Pan-americana. Foram planeja<strong>do</strong>s<br />
também efeitos especiais para marcar<br />
a união entre o fogo e a água no momento<br />
em que a pira fosse acesa. As idéias da<br />
equipe de criação eram inova<strong>do</strong>ras e aliavam<br />
elementos da natureza à modernidade, em<br />
sintonia com o restante <strong>do</strong> projeto. Porém,<br />
novamente, a equipe artística esbarrava na<br />
questão financeira. Não havia previsão orçamentária<br />
para estes itens, que chegavam a<br />
R$ 7 milhões. Faltava verba para fazer o sol<br />
brilhar. Do projeto básico da pira, cerca de<br />
R$ 900 mil estavam garanti<strong>do</strong>s com a efetivação<br />
<strong>do</strong> convênio de janeiro que subsidiava<br />
o Núcleo de Gerenciamento, mas o valor<br />
era insuficiente para a dimensão da festa. A<br />
expectativa de captação de patrocínio para<br />
financiar o valor restante da Pira Pan-americana,<br />
cerca de R$ 3 milhões, só foi viabilizada<br />
um mês antes <strong>do</strong> evento.<br />
O governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro sinalizou<br />
que não poderia arcar com a produção<br />
<strong>do</strong>s palcos, elementos cenográficos<br />
e gera<strong>do</strong>res de energia necessários para a<br />
operação. Com a ameaça de faltar um cenário<br />
para apresentação <strong>do</strong>s artistas e, principalmente,<br />
o elemento onde seria abrigada a<br />
Chama Pan-americana, um sinal de alerta foi<br />
da<strong>do</strong> pela equipe. Para solucionar a questão,<br />
foi determinante a integração entre os governos<br />
federal e estadual. Existia a previsão de<br />
repasse de R$ 17 milhões da União ao Esta<strong>do</strong><br />
para execução de peças de comunicação<br />
e marketing <strong>do</strong>s Jogos.<br />
Para garantir as cerimônias, as duas partes<br />
acordaram que o governo federal realocasse<br />
parte desta verba, R$ 10 milhões, para<br />
a construção da pira e <strong>do</strong>s três palcos – o<br />
central, o da pira e o da orquestra –, além<br />
de outra série de adequações que precisava<br />
ser feita no Maracanã. Entre a idéia inicial e<br />
a concepção final <strong>do</strong> palco, foram três meses<br />
de estu<strong>do</strong>. Já a pira levou cinco meses<br />
para ficar pronta. A estrutura foi construída<br />
pela mesma empresa australiana que desenvolveu<br />
as peças de Sydney, em 2000, e<br />
de Atenas, em 2004. Para diminuir o custo,<br />
o grande objeto foi coloca<strong>do</strong> próximo ao público,<br />
ao invés de no topo, como tradicionalmente<br />
é feito. Sua imponência e seu calor<br />
foram senti<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong>s que compareceram<br />
ao Maracanã.<br />
A parceria com o governo estadual também<br />
foi crucial para garantir o abastecimento<br />
contínuo da chama durante os Jogos. O<br />
Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> intermediou contato<br />
entre o CO-Rio e a Liquigás, subsidiária da<br />
Petrobras. Nas negociações, ficou defini<strong>do</strong><br />
que o Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio e o Comitê<br />
Organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Jogos encontrariam<br />
um local na cidade em que a empresa possa<br />
expor a pira como uma instalação artística<br />
permanente, um eterno presente à população<br />
<strong>do</strong> Rio.<br />
A Liquigás investiu em tubulações, equipamentos<br />
de segurança, vaporiza<strong>do</strong>res, reservatórios<br />
móveis estacionários, sistemas de<br />
combate a incêndio e vários outros acessórios<br />
que possibilitaram a construção <strong>do</strong><br />
equipamento. Para manter a chama acesa<br />
durante as duas semanas <strong>do</strong> Pan, foram usadas<br />
261 toneladas de gás, irradia<strong>do</strong> a uma<br />
temperatura que variava de 100 a 400ºC. “Foi<br />
muito positiva a participação da Liquigás<br />
nos Jogos. Nos sentimos orgulhosos de estar<br />
presentes na realização <strong>do</strong> maior evento<br />
esportivo das Américas, os jogos Pan-americanos<br />
e os Jogos Parapan-americanos, e<br />
por manter acesa a chama, símbolo máximo<br />
da competição, por to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pan”,<br />
disse Antônio Rubens da Silva Silvino, presidente<br />
da empresa.<br />
O governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> também auxiliou na<br />
administração <strong>do</strong> cronograma das modificações<br />
realizadas no estádio e <strong>do</strong>s ensaios <strong>do</strong>s<br />
voluntários. Para isso, algumas partidas <strong>do</strong><br />
Campeonato Brasileiro tiveram suas datas e<br />
locais altera<strong>do</strong>s, em acor<strong>do</strong> com a Confederação<br />
Brasileira de Futebol (CBF).<br />
37
O espetáculo de fogos<br />
T<br />
radicionalmente, as festas de abertura<br />
e encerramento de grandes<br />
eventos esportivos são marcadas<br />
por grandes queimas de fogos de<br />
artifício. E os Jogos Pan-americanos Rio 2007<br />
proporcionaram o maior espetáculo pirotécnico<br />
já produzi<strong>do</strong> em solo brasileiro. Três toneladas<br />
de artefatos colori<strong>do</strong>s imprimiram no<br />
céu carioca desenhos e imagens repletas de<br />
luz e magia. Os disparos <strong>do</strong>s fogos eram feitos<br />
em harmonia com a apresentação cenográfi -<br />
ca que acontecia no grama<strong>do</strong> e com os timbres<br />
das músicas. O “grand finale” pôde ser<br />
acompanha<strong>do</strong> de qualquer ângulo pelo público<br />
presente. Foi armada uma cadeia de fogos<br />
especiais nos três níveis <strong>do</strong> anel <strong>do</strong> estádio <strong>do</strong><br />
Maracanã: teto, com 60 segmentos, um a cada<br />
12 metros; grama<strong>do</strong>, com 36 pontos de lançamento;<br />
e palco central, com fogos em 51 posições.<br />
A ordem de disparo foi comandada de<br />
mesas digitais, através de softwares especiais.<br />
No total, foram feitos 11 mil disparos.<br />
Para desenvolver essa alegoria pirotécnica,<br />
foram contratadas duas grandes empresas: a<br />
espanhola Ricasa e a paulista New Fireworks.<br />
A firma européia foi responsável pelo sistema<br />
eletrônico e pelos softwares que davam os<br />
38
coman<strong>do</strong>s. E, em conjunto com a brasileira, trabalhou<br />
na produção e no acompanhamento da<br />
montagem <strong>do</strong>s equipamentos e artefatos, bem<br />
como na execução e supervisão de todas as<br />
etapas <strong>do</strong> show de pirotecnia. Esta parceria permitiu<br />
que as empresas trocassem informações e<br />
experiências na execução e produção de espetáculos<br />
desse porte. “A estrutura <strong>do</strong> Maracanã<br />
proporciona muitas possibilidades para queima<br />
de fogos. É um cenário simétrico e muito bonito”,<br />
diz Cristina Tibério, representante da New<br />
Fireworks <strong>do</strong> Brasil. O manuseio <strong>do</strong>s artefatos<br />
também recebeu atenção especial. To<strong>do</strong>s os<br />
técnicos brasileiros e estrangeiros envolvi<strong>do</strong>s<br />
no evento pirotécnico eram detentores de certifica<strong>do</strong>s<br />
internacionais e de comprovada experiência<br />
na atividade. Além disso, to<strong>do</strong> o processo<br />
de montagem, teste e operação <strong>do</strong> aparato contou<br />
com acompanhamento e permissões <strong>do</strong>s<br />
órgãos competentes das esferas federais, estaduais<br />
e municipais e das áreas responsáveis<br />
pela segurança <strong>do</strong>s Jogos. Os recursos para o<br />
show pirotécnico foram garanti<strong>do</strong>s pelo Ministério<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, através <strong>do</strong> convênio 065/2007,<br />
no valor de R$ 1.260.422,00, celebra<strong>do</strong> em 26<br />
de junho de 2007 com o CO-Rio. O governo <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> arcou com as despesas de fabricação<br />
<strong>do</strong>s fogos de artifício.<br />
Foto: Streeter Lecka / Getty Images<br />
39
O efeito das alegorias e,<br />
no detalhe, a cobra que<br />
foi reconstruída dias<br />
antes da abertura <strong>do</strong> Pan<br />
Foto: Luciana Vermell / FIA<br />
40
A logística<br />
O<br />
empenho e a determinação de<br />
to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s fizeram com<br />
que o projeto de cerimônias obtivesse<br />
notáveis avanços. No fi -<br />
nal de junho, to<strong>do</strong>s os fi gurinos e adereços<br />
estavam prontos. Faltava transferi-los <strong>do</strong>s<br />
galpões da Cidade <strong>do</strong> Samba para estocálos<br />
no Maracanã. O trajeto era curto, apenas<br />
sete ruas separavam a origem e o destino <strong>do</strong><br />
material. Mas no caminho ocorreram muitos<br />
imprevistos.<br />
Ao contrário <strong>do</strong> que ocorre no Carnaval, quan<strong>do</strong><br />
as ruas são fechadas para a passagem <strong>do</strong>s<br />
carros alegóricos, a ida das grandes alegorias<br />
da Cidade <strong>do</strong> Samba ao complexo <strong>do</strong> Maracanã<br />
não contava com nenhum esquema especial<br />
de trânsito. O transporte era feito no início<br />
da madrugada. Para manter o sigilo, os carros<br />
eram cobertos com lona preta.<br />
O curioso esquema chamou a atenção de uma<br />
patrulha policial. A autoridade deu ordens para<br />
parar o caminhão que transportava alguns <strong>do</strong>s<br />
“burrinhos”, elementos cenográficos das festas<br />
populares, na rua José Eugênio, a menos<br />
de um quilômetro <strong>do</strong> estádio. Sem nenhum<br />
<strong>do</strong>cumento que comprovasse sua vinculação<br />
com as cerimônias <strong>do</strong> Pan, os “burrinhos”<br />
quase foram apreendi<strong>do</strong>s pelos policiais. Por<br />
mais que o condutor tentasse explicar, os policiais<br />
militares exigiam a nota fiscal da alegoria<br />
para liberá-lo. “Obviamente não existe nota fiscal<br />
de carro alegórico. Existem notas <strong>do</strong> arame,<br />
das fitas, <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s, das rodas, de to<strong>do</strong><br />
material que foi utiliza<strong>do</strong> para confeccioná-lo”,<br />
diz Jacqueline Barros, assistente da Gerência<br />
de Cerimônias da Sepan. A equipe <strong>do</strong> Ministério<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> acionou a Força Nacional de<br />
Segurança, a Polícia Federal e o Coman<strong>do</strong><br />
Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro (CMRJ). Muitos telefonemas<br />
depois, os burrinhos puderam seguir<br />
seu rumo, agora escolta<strong>do</strong>s pela mesma<br />
patrulha que os detivera. Para evitar outros<br />
trasntornos, um selo Rio 2007 foi cria<strong>do</strong> para<br />
os caminhões.<br />
O transporte das alegorias era feito em marcha<br />
lenta. Apesar da atenção, uma das cobras<br />
utilizadas no segmento da natureza bateu de<br />
frente com um poste. Com a batida, parte da<br />
imensa fantasia se quebrou, perden<strong>do</strong> a cabeça.<br />
Um grande corre-corre se fez para ressuscitar<br />
a alegoria.<br />
Foto: Ronal<strong>do</strong> Smoleanschi / CO-Rio<br />
41
Lega<strong>do</strong> de conhecimento<br />
U<br />
ma das maiores difi culdades enfrentadas<br />
pelas equipes que trabalharam<br />
na produção das cerimônias<br />
foi o distanciamento entre<br />
os executores <strong>do</strong> projeto e o CO-Rio. A área<br />
de cerimônia no Comitê estava subordinada<br />
à área funcional de marketing. Esta, por<br />
sua vez, tinha sob sua responsabilidade uma<br />
série de projetos e serviços direciona<strong>do</strong>s ao<br />
Pan. Desta forma, a equipe de Scott Givens,<br />
contratada inicialmente como consultora,<br />
passou também a executar o projeto. Com a<br />
chegada de Vitório Moraes ao CO-Rio, a interlocução<br />
entre a entidade e governo federal<br />
melhorou, mas ainda havia outros problemas<br />
operacionais.<br />
O diálogo entre a Gerência de Cerimônias e as<br />
outras áreas <strong>do</strong> Comitê também foi, por vezes,<br />
falho e tardio. Isso ocasionou dificuldades que<br />
poderiam ser evitadas, como no fornecimento<br />
de transporte e de alimentação para os voluntários<br />
que trabalhariam na festa e na montagem<br />
de estruturas temporárias no Sambódromo, local<br />
onde foram feitos os primeiros ensaios.<br />
O atraso no recebimento <strong>do</strong> transporte pela<br />
equipe de dançarinos voluntários, por exemplo,<br />
provocou uma paralisação, que não chegou<br />
a atrapalhar a condução <strong>do</strong>s ensaios mas<br />
exigiu um trabalho de gerenciamento de crise,<br />
tiran<strong>do</strong> o foco da produção da cerimônia em<br />
si. As falhas no processo de credenciamento<br />
tiveram reflexos na área de cerimônias. Com<br />
ampla equipe envolvida no projeto e uma vasta<br />
rede de fornece<strong>do</strong>res, o número de credenciais<br />
necessárias ultrapassava sete mil.<br />
Na portaria, profi ssionais, voluntários e cargas<br />
eram barra<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong> instante, geran<strong>do</strong><br />
constrangimento e desgaste à equipe de produção,<br />
que era obrigada a se deslocar até a<br />
entrada <strong>do</strong> complexo <strong>do</strong> Maracanã para autorizar<br />
o acesso. Mesmo com o deslocamento<br />
de um núcleo de credenciamento para o<br />
Maracanã, exclusivo para a equipe de funcionários<br />
de cerimônias, a operação não foi<br />
efi ciente. Com a proximidade <strong>do</strong>s Jogos, os<br />
problemas se agravaram.<br />
O movimento de entregas de material era incessante<br />
e a carga de trabalho aumentava.<br />
Para evitar maiores confl itos, uma parceria<br />
com o coman<strong>do</strong> de segurança <strong>do</strong> complexo<br />
e a Superintendência de Desportos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> Rio de Janeiro (Suderj) instituiu um esquema<br />
alternativo de acesso. Foram adquiridas<br />
pulseiras coloridas que identificavam função,<br />
dia e áreas de circulação <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s. Era<br />
mais uma demonstração da grande capacidade<br />
de improvisação da produção <strong>do</strong> evento. A<br />
dificuldade perdurou e, no dia da cerimônia de<br />
abertura, vários profissionais envolvi<strong>do</strong>s não<br />
tinham ingresso garanti<strong>do</strong> ao local.<br />
A falha atingia desde o empurra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> carro<br />
alegórico até a grande responsável pela beleza<br />
da festa. Rosa Magalhães teve dificuldades<br />
de ingressar no local. “No dia da cerimônia eu<br />
não tinha credencial e nem convite. Eu não podia<br />
sentar em lugar nenhum. Mas não queria<br />
brigar, só queria ver a festa. Qualquer lugar estaria<br />
bom para mim. Fiquei sentadinha ao la<strong>do</strong><br />
da pira”, revelou Rosa.<br />
Até no final <strong>do</strong>s preparativos a cerimônia reservou<br />
alguns imprevistos. Somente no dia da<br />
abertura, a poucas horas de a celebração começar,<br />
a equipe de produção foi avisada de<br />
que o grama<strong>do</strong> <strong>do</strong> estádio deveria ser desocupa<strong>do</strong><br />
após o término da festa. O combina<strong>do</strong><br />
inicial previa a desmontagem na manhã<br />
seguinte. Desta forma, não havia planejamento<br />
para a retirada da imensa parafernália <strong>do</strong> local<br />
ainda na sexta à noite. Apesar da surpresa,<br />
toda a desmontagem foi feita após a festa, no<br />
prazo solicita<strong>do</strong> pela Suderj.<br />
O atraso na largada para a produção das cerimônias<br />
foi, sem dúvida, o maior desafio de to<strong>do</strong>s<br />
os envolvi<strong>do</strong>s no projeto. Não raro, a concretização<br />
da festa foi posta em dúvida pelos<br />
meios de comunicação.<br />
Passa<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> dramático, com o resulta<strong>do</strong><br />
final positivo, o registro de sucesso feito pela mídia<br />
e a satisfação <strong>do</strong> público, as noites não <strong>do</strong>rmidas<br />
e o estresse vivi<strong>do</strong> em três meses de muito<br />
trabalho foram plenamente recompensa<strong>do</strong>s.<br />
42
Afinal, to<strong>do</strong>s haviam participa<strong>do</strong> da produção<br />
<strong>do</strong> mais belo show da história <strong>do</strong>s Jogos Panamericanos.<br />
“O processo foi moroso e complica<strong>do</strong>,<br />
mas a equipe tinha qualidade técnica e no<br />
final tu<strong>do</strong> deu certo.”, afirma o diretor musical<br />
Alê Siqueira. A dedicação de to<strong>do</strong>s foi essencial<br />
para a concretização <strong>do</strong> projeto. A pressão <strong>do</strong><br />
tempo foi vivida desde a linha de produção das<br />
fantasias até os produtores-executivos.<br />
A experiência gerou lega<strong>do</strong> de conhecimento a<br />
profissionais de diversas áreas e revelou capacidade<br />
de organização e amadurecimento <strong>do</strong><br />
País no segmento de concepção e produção<br />
de grandes espetáculos artísticos. Para futuras<br />
produções, como a abertura da Copa de<br />
2014 e, quem sabe, a abertura das Olimpíadas,<br />
fica uma lição: planejamento e previsão orçamentária<br />
são essenciais.<br />
Stein, Givens e Rosa:<br />
trabalho conjunto na<br />
festa que entrou para<br />
a história<br />
Foto: Ismar Ingeber / CO-Rio<br />
43
A harmonia entre as<br />
nações foi um <strong>do</strong>s temas<br />
explora<strong>do</strong>s na festa<br />
44
Encerramento<br />
A<br />
pesar de o desfecho <strong>do</strong> Pan ser<br />
uma grande festa, a nostalgia é inevitável.<br />
Clima de despedida no ar,<br />
o 29 de julho de 2007 amanheceu<br />
melancólico. Os céus cariocas se fecharam e<br />
as nuvens choraram o anuncia<strong>do</strong> fim <strong>do</strong>s XV<br />
Jogos Pan-americanos. Na cerimônia de encerramento,<br />
o Maracanã, vesti<strong>do</strong> de verdeamarelo,<br />
também chorou o trágico acidente<br />
aéreo que havia abala<strong>do</strong> o País na noite de 17<br />
de julho no Aeroporto de Congonhas, em São<br />
Paulo. Em uma singela homenagem às famílias<br />
das vítimas, a bandeira nacional foi hasteada<br />
por nove policiais militares <strong>do</strong> Corpo de<br />
Bombeiros de São Paulo que participaram <strong>do</strong><br />
resgate no local <strong>do</strong> acidente. Sob lágrimas,<br />
orações e forte emoção, o Hino Nacional foi<br />
entoa<strong>do</strong> em coro nas arquibancadas.<br />
A cerimônia de encerramento é o momento de<br />
transição para a próxima sede. Mas nem por<br />
isso é menos bela. É uma festa <strong>do</strong>s atletas, um<br />
momento para celebrar a amizade entre as nações<br />
e as conquistas durante os Jogos. Muitos<br />
desfilaram com suas medalhas no peito, orgulhosos<br />
de seus feitos. Em um misto de saudade<br />
e alegria, lágrimas e sorrisos apareciam ao<br />
mesmo tempo nos rostos <strong>do</strong>s competi<strong>do</strong>res.<br />
A cerimônia de encerramento é também uma<br />
oportunidade para o país anfitrião deixar sua<br />
marca de forma positiva e reforçar a exposição<br />
de sua imagem na lembrança de atletas, da<br />
mídia e <strong>do</strong> público. Para o Brasil, não haveria<br />
melhor forma de fechar o ciclo que se iniciou<br />
em 2002, quan<strong>do</strong> conquistou o direito de organizar<br />
os Jogos.<br />
Foto: Harry How / Getty Images<br />
Em seu discurso fi nal, Mario Vásquez Raña,<br />
presidente da Odepa, afi rmou que os XV Jogos<br />
Pan-americanos foram os melhores de<br />
toda história. E completou: “as Américas estão<br />
prontas para pleitear o direito de sediar<br />
os Jogos Olímpicos”. A descontração e a<br />
alegria <strong>do</strong>s participantes são elementos marcantes<br />
no encerramento <strong>do</strong> Pan. Se na abertura<br />
os atletas se apresentavam ao público<br />
dividi<strong>do</strong>s por nacionalidade, na cerimônia<br />
de encerramento to<strong>do</strong>s entraram juntos. DJs<br />
alternavam-se nas picapes tocan<strong>do</strong> funks ca-<br />
45
iocas, e uma seleção de intérpretes latinos<br />
se revezou no microfone: os brasileiros Lenine,<br />
Fernanda Abreu e Thalma de Freitas, o<br />
compositor uruguaio Jorge Drexler, a cantora<br />
cubana Yusa e o argentino Ramiro Mussoto,<br />
entre outros. “Na abertura, fizemos cerimônia<br />
de um Brasil acolhe<strong>do</strong>r, mostran<strong>do</strong> sua<br />
cultura e sua identidade musical. No encerramento,<br />
queríamos realizar uma comunhão<br />
pan-americana de ritmos e sons”, contou Alê<br />
Siqueira, diretor musical.<br />
O México, que abrigará<br />
o próximo Pan, recebeu<br />
homenagem especial<br />
A produção da cerimônia de encerramento<br />
também sofreu com o escasso tempo de planejamento.<br />
Sua gestação foi concebida ao<br />
mesmo tempo que a cerimônia de abertura,<br />
mas por absoluta questão de prioridade não<br />
houve ensaios até o início <strong>do</strong>s Jogos. Muito<br />
trabalho estava por vir. Enquanto cerravamse<br />
as cortinas <strong>do</strong> debute, o exército da equipe<br />
de produção iniciava uma nova batalha.<br />
Ao mesmo tempo que os atletas competiam<br />
nas piscinas, quadras e grama<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Pan,<br />
a equipe de produção de cerimônia também<br />
suava a camisa. Durante os 17 dias de<br />
competição, mais de <strong>do</strong>is mil voluntários ensaiavam<br />
as coreografi as da celebração de<br />
encerramento. O palco e a cenografi a foram<br />
remonta<strong>do</strong>s e algumas trilhas sonoras, fi nalizadas.<br />
Os artistas também foram ao estádio<br />
treinar sua participação.<br />
Ao som <strong>do</strong>s versos de Dorival Caymmi “Vamos<br />
chamar o vento, vamos chamar o vento”,<br />
a Chama Pan-americana foi se esvain<strong>do</strong> aos<br />
poucos, levada pelo sopro simbólico de duas<br />
gerações da família <strong>do</strong> compositor baiano, a<br />
neta Alice Caymmi, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> pai, Danilo.<br />
A cerimônia iniciou a contagem regressiva para<br />
o próximo Pan, a ser realiza<strong>do</strong> em Guadalajara,<br />
no México, em 2011. Aos poucos, a festa<br />
brasileira ganhou tons das terras <strong>do</strong>s mariachis<br />
e de seus grandes sombreiros. Os futuros<br />
anfitriões trouxeram 120 artistas para enfatizar<br />
que, a partir de agora, a festa é com eles. Sai<br />
de cena o Rio 2007 e entra a expectativa por<br />
Guadalajara 2011.<br />
46
47<br />
Foto: Harry How / Getty Images
A alegria no Parapan<br />
Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva lidera<br />
a entrada da delegação<br />
brasileira na cerimônia<br />
B<br />
eleza e sensibilidade. Estas palavras<br />
sintetizam e traduzem o espetáculo<br />
de abertura <strong>do</strong>s III Jogos<br />
Parapan-americanos. Atletas<br />
e público se uniram e ficaram emociona<strong>do</strong>s<br />
com um enre<strong>do</strong> que viajou pela cultura e folclore<br />
brasileiros. O Hino Nacional, executa<strong>do</strong><br />
no ban<strong>do</strong>lim de Hamilton de Holanda, marcou<br />
o início de uma festa que ficará para sempre<br />
guardada na memória <strong>do</strong>s presentes à Arena<br />
Multiuso, uma das instalações <strong>do</strong> Complexo<br />
Esportivo <strong>do</strong> Autódromo de Jacarepaguá, na<br />
zona oeste <strong>do</strong> Rio.<br />
Cerca de 200 voluntários apresentaram coreografias<br />
que uniram tecnologia, música e dança.<br />
Na abertura, as ondas das águas deram o tom.<br />
Abundante, o elemento representava o Brasil<br />
Tropical. Em seguida entra em cena o azul <strong>do</strong><br />
céu, que segun<strong>do</strong>s depois sofre uma colorida<br />
e alegre pigmentação, representan<strong>do</strong> as diversas<br />
manifestações culturais <strong>do</strong> País. A parte<br />
final <strong>do</strong> espetáculo é dedicada ao homem que<br />
sonha, que transforma e que supera os limites<br />
para expressar sua vocação.<br />
To<strong>do</strong>s os espaços da Arena Multiuso foram<br />
ocupa<strong>do</strong>s. Dez bailarinos da Companhia de<br />
dança Dani Lima escorregavam em fitas coloridas<br />
de 45 metros de altura em ousadas coreografias<br />
aéreas. Movimentos no ar, no chão,<br />
uma harmonia. O segmento artístico contou<br />
com uma alegoria humana móvel nas laterais<br />
<strong>do</strong> megapalco de 350 m², onde as cantoras<br />
Adriana Calcanhato e Daniela Mercury se<br />
apresentaram. Vinte e oito pessoas, divididas<br />
em duas arquibancadas, faziam evoluções e<br />
desenhavam elementos cênicos para a apresentação.<br />
Um momento especial foi a “Reza<br />
da Paz”, apresentada pelo Grupo Giro, com<br />
coreografia de Rosângela Bernabé. O grupo,<br />
que reúne bailarinos com e sem deficiência,<br />
provou que não há limites para o sonho.<br />
A receptividade e a alegria <strong>do</strong> povo brasileiro impressionaram<br />
os competi<strong>do</strong>res das Américas.<br />
To<strong>do</strong>s os 25 países foram aplaudi<strong>do</strong>s durante<br />
o desfile das delegações que competiram nos<br />
III Jogos Parapan-americanos. “Como bem diz<br />
a música-tema <strong>do</strong>s Jogos, estamos realmente<br />
viven<strong>do</strong> esta energia. O show foi bastante di-<br />
48
verti<strong>do</strong> e me senti muito bem no Brasil. Fui bem<br />
trata<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s aqui. Os brasileiros são muitos<br />
gentis”, destacou o joga<strong>do</strong>r de futebol de<br />
sete canadense Scott Van den Boogaard.<br />
O acendimento da Pira Parapan-americana<br />
foi um <strong>do</strong>s momentos mais tocantes da cerimônia.<br />
Um misto de emoções estampava<br />
os rostos <strong>do</strong>s atletas. “Tu<strong>do</strong> foi maravilhoso,<br />
mas a parte que mais me marcou foi a passagem<br />
da tocha. É um símbolo muito importante<br />
para nós atletas”, disse a nada<strong>do</strong>ra brasileira<br />
Tássia Fernandes. A chama foi acesa pelo<br />
ex-atleta Luiz Carlos Pereira. Com nove medalhas<br />
paraolímpicas – seis de ouro, três de prata<br />
– e três recordes mundiais na Paraolimpíada<br />
de Seul 1988, Luiz afirmou que o acendimento<br />
da Pira representou o momento mais importante<br />
de sua carreira esportiva. “Achei que não<br />
existisse emoção maior para um atleta <strong>do</strong> que<br />
ganhar a medalha de ouro. Mas hoje percebi<br />
que estava engana<strong>do</strong>. Acender a Pira foi como<br />
reacender a minha história no esporte. É importante<br />
este momento, sobretu<strong>do</strong> ao esporte<br />
paraolímpico, que muitas vezes cai no esquecimento”,<br />
lembra o esportista.<br />
A produção da cerimônia foi totalmente brasileira,<br />
com direção artística de Luiz Stein e Rosa<br />
Magalhães, direção musical de Alê Siqueira,<br />
coreografia de Dani Lima e direção geral de<br />
Leonar<strong>do</strong> Gryner. Sua concepção, criação e<br />
produção ocorreram paralelamente à construção<br />
da cerimônia de abertura <strong>do</strong> Pan. Todas<br />
as contratações foram feitas através <strong>do</strong>s mesmos<br />
convênios que subsidiaram a realização<br />
das cerimônias <strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos.<br />
Desta maneira, respeitava-se o orçamento e<br />
agilizava-se a produção. A Mon<strong>do</strong> Entretenimento,<br />
a empresa produtora <strong>do</strong> evento, a Associação<br />
de Mulheres Empreende<strong>do</strong>ras <strong>do</strong><br />
Brasil (Amebras), que confeccionou os trajes,<br />
adereços e figurinos, e a empresa responsável<br />
pela iluminação <strong>do</strong> show trabalharam nas<br />
cerimônias <strong>do</strong> Pan e <strong>do</strong> Parapan. Um exemplo<br />
de eqüidade administrativa.<br />
Fotos: Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil<br />
Acrobacias e efeitos<br />
especiais com luzes<br />
deram o tom da festa<br />
49
As brasileiras Laís (à esq.)<br />
e Jade (centro) no pódio:<br />
cerimônias de entrega de<br />
medalhas foram financiadas<br />
pelo governo federal<br />
50
As outras cerimônias<br />
A<br />
demanda e o esta<strong>do</strong> crítico da cerimônia<br />
de abertura exigiam esforço,<br />
paciência e exclusividade da<br />
equipe contratada para o Núcleo<br />
de Gerenciamento e Criação. Desta forma,<br />
paralelamente, foi contratada mão-de-obra<br />
especializada para operacionalizar as demais<br />
cerimônias: boas-vindas aos atletas, premiação<br />
aos medalhistas e produção de esportes,<br />
esta com objetivo de entreter e informar<br />
o público antes e durante os intervalos das<br />
competições. Trezentas e vinte pessoas integraram<br />
esta equipe de cerimônias. O grupo<br />
era responsável por a<strong>do</strong>tar os roteiros, som,<br />
iluminação, equipes e procedimentos planeja<strong>do</strong>s,<br />
bem como zelar para que tais cerimônias<br />
fossem preparadas de acor<strong>do</strong> com<br />
o protocolo. A Mon<strong>do</strong> Entretenimento fi cou<br />
encarregada da aquisição de itens indispensáveis<br />
ao êxito dessas cerimônias.<br />
Para a confecção de medalhas e diplomas, o<br />
governo federal seguiu a tradição de grandes<br />
eventos esportivos e fi rmou contrato com a<br />
Casa da Moeda <strong>do</strong> Brasil. A entidade foi contratada<br />
diretamente por notória especialização,<br />
porque atendia, de forma única e sem<br />
concorrência, a todas as exigências e necessidades<br />
da administração pública.<br />
Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />
Foram toma<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os cuida<strong>do</strong>s para a<br />
confecção das bandeiras nacionais, já que<br />
qualquer erro poderia gerar um problema<br />
diplomático ao País. As bandeiras utilizadas<br />
nas cerimônias foram subsidiadas pelo convênio<br />
021/2007 fi rma<strong>do</strong> entre o Ministério <strong>do</strong><br />
<strong>Esporte</strong> e o Comitê Organiza<strong>do</strong>r, em março<br />
de 2007, no valor de R$ 387.648,65 da União.<br />
Assim como a bandeira, o Hino Nacional<br />
também é um <strong>do</strong>s maiores símbolos de uma<br />
nação. Para garantir a unidade técnica e musical,<br />
to<strong>do</strong>s os hinos nacionais <strong>do</strong>s 42 países<br />
participantes, assim como o hino das organizações<br />
envolvidas, foram grava<strong>do</strong>s pela Orquestra<br />
Sinfônica Brasileira.<br />
51
Show <strong>do</strong> Afro Lata na<br />
recepção aos brasileiros<br />
na Vila Pan-americana<br />
52
Bem-vin<strong>do</strong>s, visitantes<br />
A<br />
Vila Pan-americana, casa <strong>do</strong>s atletas<br />
das 42 delegações <strong>do</strong>s Jogos<br />
Pan-americanos e das 25 <strong>do</strong>s Jogos<br />
Parapan-americanos, também<br />
foi o cenário escolhi<strong>do</strong> para dar as boasvindas<br />
aos competi<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is eventos.<br />
Era uma forma fraternal de receber e seguir<br />
o roteiro protocolar estabeleci<strong>do</strong> pela Odepa<br />
e pelo Comitê Paraolímpico das Américas<br />
(APC). O protocolo consistia em um breve<br />
discurso de boas-vindas, segui<strong>do</strong> de troca<br />
de presentes entre o prefeito da Vila, o general<br />
Paulo Roberto Laranjeiras Caldas, e os<br />
chefes de delegações. Em seguida, era executa<strong>do</strong><br />
o hino e hasteada a bandeira <strong>do</strong> país<br />
homenagea<strong>do</strong>. Assim que terminava o evento,<br />
era ofereci<strong>do</strong> um coquetel de recepção para<br />
as delegações.<br />
O Brasil não deixou de dar seu toque típico<br />
às cerimônias. Com o intuito de mostrar um<br />
pouco da cultura brasileira, a Petrobras, patrocina<strong>do</strong>ra<br />
oficial <strong>do</strong>s Jogos, trouxe o grupo<br />
cultural AfroReggae, que fez apresentações de<br />
percussão, música, circo e dança para as delegações<br />
recém-chegadas. Mariana <strong>do</strong>s Santos<br />
Silva tem 15 anos e há cinco participa <strong>do</strong><br />
grupo que surgiu em janeiro de 1993, na favela<br />
de Vigário Geral. No Pan, ela se apresentou<br />
com o conjunto de percussão forma<strong>do</strong> apenas<br />
por mulheres, Akoní, que significa mulheres<br />
corajosas e fortes na língua africana orubá.<br />
“Foi muito divertida a experiência, conhecer de<br />
pertinho os atletas e entrar na Vila Pan. Tomara<br />
as Olimpíadas aconteçam aqui, quem sabe a<br />
gente não toca lá também?”, anima-se.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
O AfroReggae surgiu depois da chacina que<br />
aconteceu na favela de Vigário Geral, com o<br />
objetivo de valorizar e divulgar a cultura negra,<br />
volta<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> para jovens liga<strong>do</strong>s em<br />
ritmos como reggae, soul e hip-hop. Atualmente,<br />
o grupo, patrocina<strong>do</strong> pela Petrobras,<br />
desenvolve diversos programas em quatro<br />
comunidades diferentes. Nas cerimônias de<br />
boas-vindas <strong>do</strong>s Jogos Parapan-americanos,<br />
grupos de voluntários de dança e música de<br />
comunidades <strong>do</strong> Rio de Janeiro também mostraram<br />
a sua arte.<br />
53
Despedida no pódio: o<br />
ministro Orlan<strong>do</strong> Silva Jr.<br />
abraça Janeth, prata no<br />
Pan, após seu último jogo<br />
pela seleção de basquete<br />
54
Foto: Francisco Medeiros / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
A premiação <strong>do</strong>s medalhistas<br />
A<br />
s cerimônias de premiação retratam<br />
o momento mais simbólico<br />
das competições esportivas. O pódio<br />
é o destino final da luta, suor e<br />
determinação de cada atleta, e a medalha é<br />
a representação desta batalha hercúlea contra<br />
os limites <strong>do</strong> corpo e da mente. Cada vitória<br />
obtida nas piscinas, quadras e grama<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />
Jogos Pan e Parapan-americanos era a marca<br />
da superação, <strong>do</strong> trabalho e da dedicação <strong>do</strong>s<br />
atletas. Felicidade e extrema comoção compunham<br />
o enre<strong>do</strong> e humanizavam os protocolos<br />
das cerimônias de premiação.<br />
“Quan<strong>do</strong> eu ouvi o Hino <strong>do</strong> Brasil e coloquei a<br />
medalha no peito, me lembrei de to<strong>do</strong> o caminho<br />
percorri<strong>do</strong>. Naquele momento meu nome<br />
estava entran<strong>do</strong> para a história <strong>do</strong> boxe nacional.<br />
Ainda hoje, quan<strong>do</strong> olho a medalha em<br />
casa, bate saudade da competição e de toda<br />
a alegria de novo”, disse o boxea<strong>do</strong>r Pedro<br />
Lima. Sua vitória quebrou 44 anos de ausência<br />
de ouro brasileiro em Jogos Pan-americanos<br />
na modalidade.<br />
Dada a sua importância e visibilidade nos<br />
meios de comunicação, as cerimônias de premiação<br />
merecem cuida<strong>do</strong>s re<strong>do</strong>bra<strong>do</strong>s porque,<br />
além de envolver aspectos criativos, devem<br />
obedecer aos protocolos da Organização<br />
Desportiva Pan-americana (Odepa) e <strong>do</strong> Comitê<br />
Paraolímpico das Américas (APC) e seguir<br />
o padrão estético <strong>do</strong> Look of the Games,<br />
a programação visual desenvolvida especialmente<br />
para os Jogos. Foi criada também uma<br />
música-tema para a entrega das medalhas,<br />
produzida por Alê Siqueira. A composição trazia<br />
acordes que destacavam a vitória e a superação<br />
de limites.<br />
Depois de confirma<strong>do</strong>s os vence<strong>do</strong>res das<br />
provas, um roteiro era segui<strong>do</strong> pelas equipes<br />
de produção. Tu<strong>do</strong> no menor espaço de tempo<br />
possível: montagem da estrutura de pódio<br />
e bandeiras, separação de medalhas e hinos,<br />
impressão <strong>do</strong>s nomes <strong>do</strong>s vence<strong>do</strong>res nos<br />
diplomas, entre outros. As medalhas e os buquês<br />
foram entregues por autoridades <strong>do</strong> movimento<br />
esportivo nacional e internacional.<br />
55
Anima<strong>do</strong>res tornaram<br />
a festa <strong>do</strong> público nas<br />
instalações esportivas<br />
ainda mais vibrante<br />
56
Para animar a festa<br />
O<br />
conceito de produção <strong>do</strong>s esportes<br />
não é novo, mas o Brasil<br />
inovou ao introduzi-lo nos Jogos<br />
Pan-americanos. Para animar e<br />
envolver o público, um programa de entretenimento<br />
foi cria<strong>do</strong> pelo Núcleo de Criação e<br />
Gerenciamento de Cerimônias. Nos intervalos<br />
das competições e antes da entrega das medalhas,<br />
vários números artísticos eram apresenta<strong>do</strong>s<br />
ao público, que em muitos casos era<br />
convida<strong>do</strong> a interagir com os protagonistas. A<br />
intenção era fazer com que os especta<strong>do</strong>res<br />
fossem atraí<strong>do</strong>s para o evento. Olas com teci<strong>do</strong>s<br />
colori<strong>do</strong>s, gincanas, coreografias, anima<strong>do</strong>res<br />
fantasia<strong>do</strong>s e irreverentes, músicas<br />
empolgantes. Em algumas arenas, houve distribuição<br />
de brindes e presença da mascote<br />
Cauê. Em outras, vídeos e vinhetas eletrônicas<br />
informativas sobre o histórico <strong>do</strong> esporte e o<br />
funcionamento da instalação.<br />
No Parapan, algumas apresentações contaram<br />
com colaboração voluntária de grupos<br />
artísticos que reuniam adultos e crianças com<br />
deficiência. Poucas falhas foram identificadas<br />
nesta área. A única que merece destaque foi<br />
a constante alteração no calendário das apresentações,<br />
que oscilava muito em função <strong>do</strong>s<br />
resulta<strong>do</strong>s e da relevância das competições<br />
<strong>do</strong> dia. Isso dificultava o monitoramento pela<br />
equipe de cerimônias <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />
Para obter informações sobre mudanças na<br />
programação, era preciso fazer diversos contatos<br />
com os responsáveis no CO-Rio.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Uma empresa de consultoria americana executou<br />
o projeto. Não havia no merca<strong>do</strong> brasileiro<br />
profissionais que conhecessem as características<br />
de to<strong>do</strong>s os esportes <strong>do</strong> programa <strong>do</strong>s<br />
Jogos e a melhor maneira de apresentá-los ao<br />
público. A consultoria aju<strong>do</strong>u a especificar as<br />
necessidades, indicou empresas para participarem<br />
<strong>do</strong>s processos de seleção, colaborou<br />
com a equipe de orçamento e auxiliou na coordenação<br />
e no treinamento <strong>do</strong>s profissionais<br />
e empresas contratadas para a ação. Os custos<br />
compuseram a verba <strong>do</strong>s convênios que<br />
subsidiaram a área. Algumas das atrações de<br />
entretenimento eram voluntárias.<br />
57
Uma festa de prêmios internacionais<br />
O<br />
reconhecimento <strong>do</strong>s valores estéticos,<br />
da simbologia e da beleza<br />
das cerimônias <strong>do</strong> Pan Rio 2007<br />
passou, felizmente, a ser rotina.<br />
No dia 13 de junho de 2008, a abertura oficial<br />
<strong>do</strong>s Jogos, realizada onze meses antes no<br />
Maracanã e financiada com R$ 51 milhões <strong>do</strong><br />
Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, ganhou mais um troféu<br />
internacional. Não foi uma conquista qualquer.<br />
A diretora artística da cerimônia, Rosa Magalhães,<br />
recebeu em Nova York o prêmio<br />
de Melhor Figurino na 35ª edição <strong>do</strong> Emmy<br />
Awards. A festa concorreu também nas categorias<br />
Melhor Direção de Arte e Melhor Iluminação.<br />
Considera<strong>do</strong> o Oscar da televisão, o<br />
Emmy promove a criatividade, a diversidade,<br />
a inovação, a excelência e as novidades na<br />
área de telecomunicações. Rosa foi o único<br />
profi ssional não-americano a levar uma estatueta<br />
nesta edição.<br />
Foi o oitavo prêmio internacional da Cerimônia<br />
de Abertura. Semanas antes, ela tinha leva<strong>do</strong><br />
seis estatuetas na 29ª edição <strong>do</strong> prêmio americano<br />
Telly Awards, que escolhe as melhores<br />
produções em tevê aberta e fechada, vídeo, cinema<br />
e internet. Três delas foram de prata (top<br />
honnor), nas categorias Eventos televisiona<strong>do</strong>s<br />
ao vivo, Eventos esportivos televisiona<strong>do</strong>s e<br />
Eventos não-televisivos de esporte.<br />
Foto: Streeter Lecka / Getty Images<br />
A impressionante seqüência de conquistas foi<br />
iniciada no final de 2007, com o Sport Business<br />
ISEMS Awards, que elegeu a abertura <strong>do</strong><br />
Pan a melhor de eventos multiesportivos no<br />
mun<strong>do</strong> em 2007. O ISEMS destacou a qualidade<br />
de realização, a criatividade e o alto padrão<br />
de profissionalismo exibi<strong>do</strong>s no Maracanã. “A<br />
festa valorizou a diversidade da cultura brasileira<br />
e o espírito envolvente de nosso povo. Esses<br />
conceitos foram rapidamente percebi<strong>do</strong>s<br />
mun<strong>do</strong> afora, o que gerou to<strong>do</strong> esse reconhecimento”,<br />
avalia o secretário executivo <strong>do</strong> Pan<br />
no Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, Ricar<strong>do</strong> Leyser.<br />
58
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Adriana Calcanhoto canta<br />
músicas infantis na cerimônia.<br />
No detalhe, Rosa Magalhães<br />
com o Emmy: reconhecimento<br />
da crítica internacional<br />
59
Medalhas e diplomas<br />
S<br />
ímbolo máximo da conquista <strong>do</strong>s<br />
atletas, as medalhas <strong>do</strong>s Jogos tiveram<br />
um desenho arroja<strong>do</strong> e inova<strong>do</strong>r.<br />
O formato geralmente arre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong><br />
foi substituí<strong>do</strong> por um trapézio, uma<br />
singela homenagem ao esforço <strong>do</strong> atleta e à<br />
capacidade de superação. A inovação também<br />
foi registrada na junção de materiais utiliza<strong>do</strong>s<br />
em sua confecção. Em torno da peça<br />
metálica foi colocada uma moldura acrílica. “O<br />
trapézio, de maneira bem simplificada, é um<br />
retângulo que busca se estender, romper os<br />
limites. E isto tem tu<strong>do</strong> a ver com os esportes<br />
de alto rendimento.”, explica Ney Valle, um <strong>do</strong>s<br />
cria<strong>do</strong>res da peça, ao la<strong>do</strong> de Claúdia Gamboa<br />
e Beatriz Abreu, da Dupla Design.<br />
As medalhas <strong>do</strong> Pan trouxeram cunhadas de<br />
um la<strong>do</strong> a logomarca <strong>do</strong> Rio 2007 em alto relevo<br />
e, <strong>do</strong> outro, a expressão “XV Jogos Panamericanos”<br />
(em português, espanhol e inglês),<br />
a data <strong>do</strong> evento e a chancela da Odepa.<br />
O mesmo padrão foi a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> nas medalhas <strong>do</strong><br />
Parapan, com a substituição da entidade e <strong>do</strong><br />
nome <strong>do</strong> evento esportivo. O modelo <strong>do</strong> Parapan<br />
precisava, no entanto, de instrumentos<br />
especiais de cunhagem para gravar as inscrições<br />
em braile.<br />
A produção das peças <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is eventos demandava<br />
alto grau de detalhamento e complexidade<br />
técnica. Além de estu<strong>do</strong>s para aliar<br />
<strong>do</strong>is materiais tão distintos, era preciso inserir<br />
elementos e sinais de segurança para<br />
garantir sua autenticidade e evitar possíveis<br />
falsifi cações. Conscientes da importância da<br />
operação e de que qualquer falha poderia<br />
prejudicar a credibilidade <strong>do</strong> País, o governo<br />
federal e o CO-Rio convidaram a Casa da<br />
Moeda <strong>do</strong> Brasil (CMB) para cunhar e produzir<br />
as medalhas e os diplomas <strong>do</strong> Pan e <strong>do</strong><br />
Parapan. O contrato administrativo 29/2007,<br />
foi assina<strong>do</strong> entre o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
e a CMB no início de 2007, no valor de R$<br />
2.044.605,73.<br />
As medalhas e os diplomas foram retira<strong>do</strong>s da<br />
Casa da Moeda sob acompanhamento <strong>do</strong> Ministério<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e <strong>do</strong> CO-Rio e entregues<br />
aos coordena<strong>do</strong>res de cada uma das instalações<br />
com escoltas da Força Nacional de Segurança.<br />
Toda a operação de distribuição e<br />
guarda <strong>do</strong> material era de responsabilidade <strong>do</strong><br />
Comitê. No total, foram produzi<strong>do</strong>s 20.432 medalhas<br />
e 11.680 diplomas, sen<strong>do</strong>:<br />
<br />
de ouro, 860 de prata e 952 de bronze);<br />
<br />
(613 de ouro, 613 de prata e 634 de bronze);<br />
<br />
<br />
<br />
no Pan;<br />
<br />
no Parapan.<br />
Os diplomas de premiação <strong>do</strong>s atletas foram<br />
confecciona<strong>do</strong>s em papel fi ligrafa<strong>do</strong> da Casa<br />
da Moeda, com marca d´água, tinta ultravioleta<br />
e gravação em chapa quente com película<br />
prateada. O nome <strong>do</strong> atleta vence<strong>do</strong>r era<br />
impresso após confi rmação da vitória pela<br />
equipe de tecnologia, e o diploma era entregue<br />
posteriormente, junto com a embalagem<br />
das medalhas.<br />
Quantidade das peças<br />
PAN PARAPAN TOTAL<br />
Unidades Unidades Unidades<br />
Medalhas 15.422 5.010 20.432<br />
Diplomas 6.956 4.724 11.680<br />
60
As brasileiras da ginástica<br />
no topo <strong>do</strong> pódio: farta<br />
distribuição de medalhas<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Metais cobiça<strong>do</strong>s<br />
Como foram feitas as medalhas <strong>do</strong>s Jogos Pan e Parapan-americanos<br />
As medalhas <strong>do</strong>s Jogos foram<br />
produzidas pela Casa da Moeda<br />
<strong>do</strong> Brasil. Forjadas em liga<br />
de bronze, apresentaram um<br />
desenho arroja<strong>do</strong> e inova<strong>do</strong>r.<br />
Em torno da parte metálica foi<br />
colocada uma moldura plástica.<br />
A integração destes elementos<br />
simboliza a união, ideal máximo<br />
<strong>do</strong> esporte.<br />
Foram produzidas 4.532 medalhas<br />
de premiação (ouro, prata e bronze)<br />
e 15,9 mil unidades<br />
de participação para os Jogos Pan<br />
e Parapan-americanos.<br />
61
O Pan presta solidariedade<br />
às vítimas <strong>do</strong> acidente aéreo<br />
ocorri<strong>do</strong> em Congonhas<br />
no dia 17 de julho:<br />
bandeiras a meio mastro<br />
Foto: André Valentin / CO-Rio<br />
62
As bandeiras de todas as nações<br />
A<br />
Bandeira Nacional é um <strong>do</strong>s símbolos<br />
máximos da soberania de<br />
um país. Suas cores, traça<strong>do</strong>s e<br />
desenhos retratam em cada detalhe<br />
a história e as tradições de um povo. A<br />
Bandeira <strong>do</strong> Brasil conta a formação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />
soberano brasileiro. O aclama<strong>do</strong> verde-amarelo<br />
é herança dinástica, advinda da<br />
Casa Real de Bragança, da qual fazia parte<br />
o impera<strong>do</strong>r D. Pedro I, e da Casa Real <strong>do</strong>s<br />
Habsburg, à qual pertencia a imperatriz D. Leopoldina.<br />
Consideradas símbolos das lutas e<br />
vitórias gloriosas na defesa da Pátria, as cores<br />
<strong>do</strong> Império foram mantidas mesmo após<br />
a proclamação da República. Porém, no lugar<br />
<strong>do</strong> brasão imperial, foi impresso o azul celeste<br />
com as estrelas que brilhavam no céu <strong>do</strong><br />
dia 15 de novembro de 1889.<br />
Assim como a Bandeira <strong>do</strong> Brasil, todas as<br />
flâmulas <strong>do</strong>s países, <strong>do</strong>s comitês olímpicos e<br />
das organizações envolvidas nos Jogos carregam<br />
consigo respeito e simbolismo. Para<br />
evitar incidente diplomático, a confecção das<br />
bandeiras deve ocorrer com muita atenção<br />
ao rigor <strong>do</strong> padrão de suas cores e formas.<br />
Por isso, o CO-Rio, responsável por prover as<br />
bandeiras <strong>do</strong> evento, tomou cuida<strong>do</strong>s na seleção<br />
da empresa fornece<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> material. Primeiro,<br />
ficou defini<strong>do</strong> que todas as bandeiras<br />
deveriam ser produzidas por um único fornece<strong>do</strong>r.<br />
A empresa selecionada foi a fluminense<br />
Air Show Sports incumbida de fornecer bandeiras<br />
<strong>do</strong> Brasil, <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro,<br />
<strong>do</strong> Município <strong>do</strong> Rio de Janeiro, <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos, de<br />
cada país participante, <strong>do</strong> Comitê Olímpico Internacional<br />
(COI), <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico Internacional<br />
(IPC), da Organização Desportiva<br />
Pan-americana (Odepa), <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico<br />
das Américas (APC) e da Associação das<br />
Confederações Desportivas Pan-americanas<br />
(Acodepa), num total de 2.932 unidades de diversos<br />
tamanhos.<br />
O contrato foi viabiliza<strong>do</strong> por verba federal,<br />
através <strong>do</strong> convênio nº 21/2007 entre o CO-<br />
Rio e o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, que repassou<br />
R$ 387.648,65. A produção das bandeiras<br />
passou por rigoroso processo de avaliação e<br />
aprovação. Foram confecciona<strong>do</strong>s modelos<br />
de cada flâmula para avaliar teci<strong>do</strong>, tamanho,<br />
identificação das cores e o desenho de cada<br />
uma para primeira análise. Depois de aprovadas,<br />
foram encaminhadas para cada Comitê<br />
Olímpico Nacional e organizações multiesportivas.<br />
Só depois de chanceladas é que iriam<br />
para a linha de fabricação. Já em solo brasileiro,<br />
cada entidade fez uma última verificação<br />
para que as mesmas pudessem finalmente ser<br />
usadas nos Jogos. Elas foram utilizadas nas<br />
cerimônias de abertura, encerramento, premiação<br />
e boas vindas. As flâmulas também<br />
compunham a decoração das instalações esportivas<br />
e das mesas <strong>do</strong>s chefes de cada Comitê<br />
Olímpico e das organizações desportivas<br />
internacionais. Elas são produzidas em tamanhos<br />
diferentes por orientação <strong>do</strong>s protocolos<br />
olímpico e internacional.<br />
Um clima de melancolia e tristeza chegou à<br />
festa <strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos. O acidente<br />
com o avião da TAM, no dia 17 de julho,<br />
no aeroporto de Congonhas, em São Paulo,<br />
causou comoção. O presidente Luiz Inácio<br />
Lula da Silva decretou luto oficial de três dias<br />
em respeito às 199 vítimas <strong>do</strong> maior desastre<br />
da história da aviação brasileira. Nas instalações<br />
<strong>do</strong>s Jogos, todas as bandeiras foram erguidas<br />
a meio mastro. Nenhuma flâmula pôde<br />
ser hasteada acima da brasileira em solo nacional.<br />
Dentro das arenas de competição, uma<br />
faixa preta compôs o uniforme <strong>do</strong>s joga<strong>do</strong>res<br />
das equipes brasileiras.<br />
Em todas as cerimônias de premiação realizadas<br />
durante o luto, as bandeiras foram hasteadas<br />
até o topo e, em seguida, baixadas a<br />
meio mastro. Infelizmente uma outra tragédia<br />
fez baixar a bandeira de um país participante.<br />
Em 15 de agosto, durante as competições <strong>do</strong><br />
Parapan-americano, um terremoto de grandes<br />
proporções matou mais de 500 pessoas no<br />
Peru. Foi uma das maiores catástrofes naturais<br />
ocorridas na América <strong>do</strong> Sul nos últimos<br />
cem anos. Em homenagem às suas vítimas, o<br />
país vizinho determinou o hasteamento parcial<br />
de sua flâmula.<br />
63
O PARAPAN RIO 2007<br />
Quan<strong>do</strong> a eficiência e a auto-estima<br />
jogam juntas. E vencem<br />
P<br />
ela primeira vez, as lições de superação <strong>do</strong>s 1.115 atletas de<br />
25 países <strong>do</strong>s Jogos Parapan-americanos tiveram como palco<br />
as mesmas estruturas <strong>do</strong> Pan. Pela primeira vez, o Parapan foi<br />
disputa<strong>do</strong> logo após o Pan. Pela primeira vez todas as provas<br />
foram classificatórias para as Paraolímpiadas. Pela primeira vez, os brasileiros<br />
atingiram o topo <strong>do</strong> quadro de medalhas da competição, que foi<br />
financiada pelo governo federal. Foram oito dias inesquecíveis. O relatório<br />
final <strong>do</strong>s III Jogos Parapan-americanos Rio 2007 foi aprova<strong>do</strong> com louvor<br />
na reunião <strong>do</strong> Conselho Executivo <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico Internacional<br />
(IPC), realizada em Pequim em setembro de 2008. A iniciativa <strong>do</strong> Brasil foi<br />
classificada como “histórica” pelo presidente <strong>do</strong> IPC, Philip Craven, que<br />
acrescentou: “O sucesso da competição é um incentivo para que to<strong>do</strong>s os<br />
continentes sigam este exemplo”.<br />
A organização e a<br />
boa infra-estrutura <strong>do</strong><br />
Parapan impressionaram<br />
os atletas estrangeiros<br />
64
65<br />
Foto: Alex Ferro / CO-Rio
Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />
66
Uma lição de igualdade<br />
O<br />
esporte revela heróis, eterniza í<strong>do</strong>los<br />
e não se cansa de dar exemplos.<br />
Garra, perseverança, luta e<br />
dedicação são atributos fundamentais<br />
para quem o vive com intensidade.<br />
Entre os dias 12 e 19 de agosto de 2007, o Rio<br />
de Janeiro transformou-se em um palco ilumina<strong>do</strong><br />
para o desfile dessas virtudes e valores.<br />
Nesse perío<strong>do</strong> foi disputada a terceira edição<br />
<strong>do</strong>s Jogos Parapan-americanos, a primeira da<br />
história realizada na mesma cidade, nas mesmas<br />
instalações e imediatamente após o Pan.<br />
As imagens da vitória absoluta da efi ciência ficarão<br />
guardadas na memória <strong>do</strong>s brasileiros<br />
e estrangeiros que acompanharam a competição.<br />
Ten<strong>do</strong> como cenário uma das mais belas paisagens<br />
<strong>do</strong> planeta, o Rio de Janeiro, as 25 delegações<br />
participantes promoveram um espetáculo<br />
de união, igualdade e respeito. Mais <strong>do</strong><br />
que receber, o Brasil deu aquele abraço nos<br />
1.115 atletas das mais diferentes origens, religiões<br />
e nacionalidades. To<strong>do</strong>s com um único<br />
desejo: celebrar o esporte e a paz universal.<br />
Nos sete dias de disputa, a platéia vibrou a<br />
cada ponto e a cada medalha conquistada. O<br />
verde-amarelo defendi<strong>do</strong> nas arenas esportivas<br />
<strong>do</strong> Parapan trouxe alegria, entusiasmo, e<br />
fez a sociedade refletir sobre a questão <strong>do</strong> deficiente<br />
no Brasil.<br />
O Parapan provou que, independentemente <strong>do</strong><br />
tamanho da dificuldade, o que faz a diferença<br />
é a auto-estima e a capacidade de sonhar. Em<br />
2007, o Brasil acreditou e escreveu seu nome<br />
na história <strong>do</strong> movimento paraolímpico internacional.<br />
Com fortes investimentos, patrocínios,<br />
convênios e apoios <strong>do</strong> governo federal, o País<br />
organizou uma competição praticamente sem<br />
erros e, ao final, viu seus atletas conquistarem<br />
um inédito primeiro lugar geral no quadro de<br />
medalhas, com 228 medalhas – 83 ouros, 68<br />
pratas e 77 bronzes.<br />
Novos í<strong>do</strong>los: Jogos<br />
apresentaram ao País<br />
craques como Bill,<br />
<strong>do</strong> Futebol de 5<br />
67
O esporte como reabilitação<br />
A<br />
origem <strong>do</strong> paraolimpismo remonta<br />
à luta de uma legião de veteranos<br />
vitima<strong>do</strong>s pela Segunda Guerra<br />
Mundial para se adaptar à nova<br />
condição. Muitos combatentes sofreram lesões<br />
na coluna vertebral e ficaram paraplégicos<br />
ou tetraplégicos. Era preciso reaprender<br />
a viver. Este desafio motivou o neurocirurgião<br />
alemão Ludwig Guttmann a utilizar o esporte<br />
como instrumento de reabilitação médica e<br />
social <strong>do</strong>s veteranos de guerra. No início <strong>do</strong><br />
século 20 também houve atividades esportivas<br />
para deficientes auditivos e iniciação em natação<br />
e atletismo para deficientes visuais. Mas<br />
o alemão Guttmann foi o primeiro a promover<br />
competições entre pessoas com deficiência.<br />
Tu<strong>do</strong> começou no Centro Nacional de Lesiona<strong>do</strong>s<br />
Medulares de Stoke Mandeville, uma<br />
pequena e simpática vila no sudeste da Inglaterra.<br />
Com apenas 16 veteranos de guerra, a<br />
primeira competição para atletas com deficiência<br />
foi organizada na cidade, no dia 29 de<br />
julho de 1948, não por acaso a mesma data<br />
da cerimônia de abertura das Olimpíadas de<br />
Londres. Quatro anos depois, os atletas holandeses<br />
também passaram a competir em<br />
Stoke Mandeville. Assim surgia o movimento<br />
Reabilita<strong>do</strong> pelo<br />
esporte, Ariosval<strong>do</strong><br />
Silva conquistou<br />
<strong>do</strong>is ouros e uma<br />
prata no Parapan<br />
internacional, hoje denomina<strong>do</strong> movimento<br />
paraolímpico. A primeira Paraolimpíada foi realizada<br />
em Roma, em 1960. Desde Seul, em<br />
1988, ocorrem no modelo que conhecemos<br />
hoje, logo após os Jogos Olímpicos e na mesma<br />
cidade-sede. Pequim recebeu a 13ª edição<br />
da Paraolímpiada.<br />
O esporte paraolímpico chegou ao Brasil em<br />
1958. No dia 1º de abril daquele ano, no Rio<br />
de Janeiro, o cadeirante Robson Sampaio de<br />
Almeida, em parceria com Al<strong>do</strong> Miccolis, fun<strong>do</strong>u<br />
o Clube <strong>do</strong> Otimismo. Em julho <strong>do</strong> mesmo<br />
ano, o também cadeirante Sérgio Seraphin<br />
Del Grande criou o Clube <strong>do</strong>s Paraplégicos<br />
de São Paulo. Eles tiveram a idéia de trazer<br />
o esporte paraolímpico para o Brasil quan<strong>do</strong><br />
foram se tratar de lesões em hospitais <strong>do</strong>s<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Robson e Sérgio tiveram a<br />
oportunidade de presenciar a prática esportiva<br />
de pessoas em cadeiras de rodas, principalmente<br />
no basquete.<br />
No caso de Del Grande, quem mais o incentivou<br />
foi Jeyne Kellog, atleta <strong>do</strong> time Pan Am Jets,<br />
versão paraolímpica da equipe de basquete<br />
Harlem Globe Troters, conhecida no mun<strong>do</strong><br />
inteiro pelos malabarismos e acrobacias rea-<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
68
Surge o Parapan<br />
liza<strong>do</strong>s em partidas de exibição. Ao longo <strong>do</strong>s<br />
anos, o esporte foi crescen<strong>do</strong> e Associações<br />
Nacionais foram sen<strong>do</strong> criadas, passan<strong>do</strong> a<br />
atender às necessidades em todas as áreas<br />
de defi ciência. Na década de 90, o desporto<br />
paraolímpico brasileiro ganhou uma entidade<br />
para integrar e organizar suas atividades.<br />
Funda<strong>do</strong> em 1995, o Comitê Paraolímpico<br />
Brasileiro (CPB) tem por missão consolidar o<br />
movimento paraolímpico no Brasil e buscar<br />
o pleno desenvolvimento e a difusão <strong>do</strong><br />
esporte de alto rendimento para pessoas<br />
com defi ciência.<br />
A<br />
primeira competição paraolímpica<br />
das Américas foi disputada em<br />
1967, em Winnipeg, no Canadá.<br />
Apenas seis países participaram.<br />
E só houve provas para cadeirantes. O ano<br />
de 1995 foi marcante para o movimento no<br />
continente. Três Parapans segui<strong>do</strong>s ocorreram<br />
na Argentina: o de Cadeira de Rodas,<br />
em setembro, em Buenos Aires, o para Cegos,<br />
em novembro, na mesma cidade, e o<br />
<strong>do</strong>s defi cientes mentais, em dezembro, em<br />
Mar del Plata. Os primeiros Jogos Parapanamericanos<br />
ofi ciais e reconheci<strong>do</strong>s pelo Comitê<br />
Paraolímpico Internacional (IPC, na sigla<br />
em inglês) realizaram-se apenas em 1999,<br />
na Cidade <strong>do</strong> México. E foram reconheci<strong>do</strong>s<br />
desta forma porque, pela primeira vez nas<br />
Américas, uma única competição reuniu atletas<br />
com diferentes tipos e graus de comprometimento<br />
físico-motor. Foram mais de mil<br />
competi<strong>do</strong>res, vin<strong>do</strong>s de 20 países. Quatro<br />
modalidades estavam em disputa: atletismo,<br />
natação, basquete e tênis de mesa.<br />
Esta foi também a primeira competição organizada<br />
após a criação <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico<br />
das Américas (APC, na sigla em inglês), em<br />
1997. O comitê é hoje a entidade máxima <strong>do</strong><br />
desporto paraolímpico no continente e teve<br />
papel fundamental na integração e desenvolvimento<br />
<strong>do</strong> esporte adapta<strong>do</strong> na região. Mar<br />
del Prata foi o cenário da segunda edição, em<br />
2003. Atletas de 14 delegações competiram<br />
nos nove esportes que compunham a grade:<br />
atletismo, natação, basquete em cadeira<br />
de rodas, voleibol senta<strong>do</strong>, bocha, hipismo<br />
(adestramento), esgrima, tênis em cadeira de<br />
rodas e ciclismo.<br />
Atletas de vários países<br />
na Vila: o movimento<br />
mostra força continental<br />
Foto: Al<strong>do</strong> Dias / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
69
Um novo modelo para as Américas<br />
O<br />
ano de 2007 cravou o nome <strong>do</strong><br />
Brasil na história <strong>do</strong> movimento<br />
paraolímpico internacional. Ao realizar<br />
os III Jogos Parapan-americanos<br />
seguin<strong>do</strong> o modelo da Paraolimpíada,<br />
ou seja, abrigan<strong>do</strong> essas disputas nas mesmas<br />
instalações e imediatamente após a disputa<br />
de sua vertente olímpica, o País inaugurou um<br />
novo conceito e estabeleceu novos caminhos<br />
para o esporte adapta<strong>do</strong> nas Américas. O inequívoco<br />
sucesso da iniciativa, elogiada por entidades<br />
internacionais, inspirou Guadalajara,<br />
no México, sede <strong>do</strong> próximo Pan, em 2011, a<br />
trilhar o mesmo caminho. O governo mexicano,<br />
o IPC e o Comitê Organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Pan de 2011<br />
assinaram carta de intenção para organizar o<br />
Parapan de Guadalajara nos moldes das Paraolimpíadas<br />
– ou, como se pode dizer a partir<br />
de agora, nos moldes <strong>do</strong> Rio 2007.<br />
O sucesso <strong>do</strong> Parapan brasileiro nasceu da<br />
união de várias forças: governos, entidades<br />
paraolímpicas, organiza<strong>do</strong>res e voluntários.<br />
Mais de 30 mil pessoas estiveram envolvidas<br />
direta ou indiretamente na organização <strong>do</strong> Parapan.<br />
Público e atletas foram um espetáculo à<br />
parte e garantiram um colori<strong>do</strong> to<strong>do</strong> especial.<br />
Nas arenas, estádios e piscinas, a edição <strong>do</strong><br />
Rio abrigou competições acirradas. Pela primeira<br />
vez, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e Canadá enviaram<br />
seus atletas de elite. O Brasil veio com força<br />
total. Soma-se ainda o México, que conquistou<br />
o primeiro lugar nas duas edições anteriores e<br />
era considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s favoritos para subir ao<br />
lugar mais alto <strong>do</strong> pódio.<br />
As estruturas e os serviços presta<strong>do</strong>s foram<br />
de alto nível. O diretor técnico <strong>do</strong> Comitê<br />
Paraolímpico Internacional, Xavier Gonzáles,<br />
elogiou: “Espero que o México siga o exemplo<br />
e se comprometa a realizar um Parapan<br />
tão espetacular quanto o <strong>do</strong> Rio. Espero que<br />
o Rio seja o princípio e não o fim”, analisa<br />
ele. Gonzáles teve papel decisivo em outra<br />
conquista: a decisão <strong>do</strong> IPC de considerar<br />
todas as provas <strong>do</strong> Parapan <strong>do</strong> Rio como<br />
classificatórias para os Jogos Paraolímpicos<br />
de Pequim 2008.<br />
70
A exemplo <strong>do</strong> Rio,<br />
Guadalajara, próxima<br />
sede <strong>do</strong>s Jogos, também<br />
organizará o Parapan<br />
Foto: Panoramic Images / Getty Images<br />
71
O BRASIL NA HISTÓRIA DO PARAPAN-AMERICANO<br />
CIDADE DO MÉXICO 1999<br />
2º<br />
LUGAR<br />
180<br />
MEDALHAS<br />
MAR DEL PLATA 2003<br />
2º<br />
LUGAR<br />
164<br />
MEDALHAS<br />
RIO DE JANEIRO 2007<br />
1º<br />
LUGAR<br />
MEDALHAS<br />
92 Ouro<br />
55 Prata<br />
33 Bronze<br />
80 Ouro<br />
53 Prata<br />
31 Bronze<br />
83 Ouro<br />
77 Bronze<br />
Foto: Francisco Medeiros / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Com oito medalhas, o nada<strong>do</strong>r<br />
Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva brilhou nas<br />
piscinas <strong>do</strong> Maria Lenk<br />
72
Um palco nobre para o Parapan<br />
O<br />
espetáculo assisti<strong>do</strong> no mês de<br />
agosto de 2007 começou a ser<br />
idealiza<strong>do</strong> antes mesmo de o Brasil<br />
oficializar sua candidatura para<br />
ser a sede <strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos. Em<br />
2001, foi realiza<strong>do</strong> um primeiro contato entre o<br />
Comitê de Candidatura, o embrião <strong>do</strong> CO-Rio,<br />
e o CPB. A intenção era avaliar a possibilidade<br />
de realizar o Parapan no Brasil e firmar uma<br />
parceria para encontrar o caminho mais viável<br />
para se concretizar esse sonho. A receptividade<br />
foi imediata. Era a oportunidade ideal<br />
para desenvolver o esporte adapta<strong>do</strong> no País<br />
e de popularizar a sua prática. A intenção era<br />
despertar a atenção das pessoas com deficiência<br />
para suas potencialidades, minimizar o<br />
preconceito e promover a inclusão social. No<br />
mesmo ano, Carlos Roberto Osório, que viria<br />
a ser secretário geral <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r,<br />
participou da Assembléia Geral <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico<br />
das Américas. Na ocasião, fez uma<br />
exposição sobre o interesse <strong>do</strong> Comitê de<br />
Candidatura de organizar o Parapan, caso o<br />
Rio vencesse a disputa. Estava plantada a semente<br />
que transformou o conceito <strong>do</strong>s Jogos<br />
Parapan-americanos no continente.<br />
Em agosto de 2002, a Cidade Maravilhosa<br />
conquista o direito de abrigar o Pan de 2007. A<br />
alegria pela vitória foi seguida pela certeza de<br />
que havia muito trabalho pela frente. No caso<br />
<strong>do</strong> Parapan, havia um complica<strong>do</strong>r. Em 2002,<br />
apenas uma competição nestes moldes havia<br />
si<strong>do</strong> organizada nas Américas, o Parapan<br />
da Cidade <strong>do</strong> México, em 1999. Não existia,<br />
portanto, um modelo a ser copia<strong>do</strong> e nenhum<br />
parâmetro comparativo para ser aprimora<strong>do</strong>,<br />
como no Pan. O grande quebra-cabeça <strong>do</strong><br />
Parapan começaria <strong>do</strong> zero. Neste momento,<br />
a parceria com as entidades paraolímpicas foi<br />
de extrema importância. Era preciso fazer um<br />
levantamento de números, definir o programa<br />
esportivo e até mesmo o número de atletas e<br />
equipes que disputariam cada modalidade. As<br />
soluções para estas e outras questões foram<br />
estudadas e sugeridas pelo CPB e APC.<br />
A relação <strong>do</strong> movimento paraolímpico com os<br />
organiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s Jogos foi cordial. O APC<br />
detinha vaga no Conselho Executivo <strong>do</strong> CO-<br />
Rio, órgão que reunia representantes <strong>do</strong>s governos,<br />
<strong>do</strong> Comitê Olímpico Brasileiro (COB)<br />
e das confederações desportivas. Porém, a<br />
participação <strong>do</strong> APC dentro <strong>do</strong> conselho era<br />
apenas consultiva.<br />
O CO-Rio foi dividi<strong>do</strong> em onze gerências. Cada<br />
uma tinha o seu gestor. Não havia uma exclusiva<br />
para o Parapan. O movimento tinha suas<br />
demandas coordenadas pela gerência de <strong>Esporte</strong>s,<br />
numa área funcional denominada Integração<br />
Parapan. Essa estrutura, que na avaliação<br />
de dirigentes <strong>do</strong> APC não tinha autonomia<br />
e poder hierárquico iguais aos das gerências,<br />
fazia a interlocução com as outras áreas. Com<br />
o crescimento das demandas e serviços <strong>do</strong><br />
Pan, se tornou um projeto acopla<strong>do</strong> ao evento<br />
anterior. Só em abril de 2007, por sugestão<br />
<strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, foi criada no CO-Rio<br />
uma gerência específica para o Parapan. Ricar<strong>do</strong><br />
Gomes, especialista em organização de<br />
eventos, assumiu a área.<br />
Apesar <strong>do</strong> inegável sucesso <strong>do</strong> Parapan Rio<br />
2007, o APC espera que o modelo de execução<br />
e gerenciamento seja repensa<strong>do</strong> caso o<br />
Brasil conquiste o direito de abrigar os Jogos<br />
Olímpicos. Para a instituição, a nomeação de<br />
um gestor específico desde o início <strong>do</strong> planejamento<br />
seria a melhor forma de conduzir o<br />
projeto, pois possibilitaria uma melhor interação<br />
com as outras gerências gerais <strong>do</strong> comitê<br />
organiza<strong>do</strong>r e facilitaria resoluções <strong>do</strong>s<br />
problemas. Uma competição paraolímpica<br />
tem peculariedades técnicas que devem ser<br />
consideradas, como acessibilidade e a avaliação<br />
funcional. No caso da Paraolimpíada, as<br />
demandas são consideravelmente maiores, à<br />
medida que é a maior competição <strong>do</strong> desporto<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Na China o programa teve 20<br />
modalidades e a participação de 147 países.<br />
“Se formos vitoriosos para abrigar os Jogos<br />
Olímpicos, o esporte paraolímpico certamente<br />
terá uma gerência própria, com a estrutura<br />
necessária para desenvolver um espetáculo<br />
esportivo à altura da sua importância”, afi rma<br />
o presidente <strong>do</strong> COB e <strong>do</strong> CO-Rio, Carlos Arthur<br />
Nuzman.<br />
73
Foto: Francisco Medeiros / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Lula, o ministro <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Orlan<strong>do</strong> Silva Jr. e a então ministra<br />
<strong>do</strong> Turismo Marta Suplicy na Vila.<br />
No detalhe, a bola <strong>do</strong> Futebol de 5<br />
feita em projeto social <strong>do</strong> Ministério<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e usada no Parapan<br />
Foto: Al<strong>do</strong> Dias / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
74
Governo federal põe recursos<br />
N<br />
ão faltou dedicação no governo<br />
federal para garantir o bom funcionamento<br />
<strong>do</strong> Parapan. Na segunda<br />
revisão orçamentária <strong>do</strong>s<br />
Jogos, encaminhada pelo CO-Rio em abril<br />
de 2005, a União propôs assumir o financiamento<br />
específico da competição. Para<br />
tanto, incluiu em seu orçamento a verba<br />
global de R$ 60 milhões para a sua realização.<br />
Empregar a mesma qualidade técnica<br />
<strong>do</strong> Pan ao Parapan, valorizar a igualdade<br />
e promover a cidadania eram as metas <strong>do</strong><br />
Plano Estratégico de Ações Governamentais<br />
(PAG), o conjunto de diretrizes, investimentos<br />
e medidas desenvolvidas pela administração<br />
pública federal para aplicação<br />
nos Jogos Rio 2007.<br />
Além de tratar com o mesmo cuida<strong>do</strong>, o<br />
plano permitiu economia de despesas em<br />
diversas áreas, já que a maior parte das necessidades<br />
<strong>do</strong> Parapan havia si<strong>do</strong> cumprida<br />
na preparação <strong>do</strong> Pan. Sen<strong>do</strong> assim, as<br />
responsabilidades de financiamento e de<br />
gerenciamento no Pan-americano também<br />
foram compartilhadas no Parapan.<br />
R$ 1.875.480,06, celebra<strong>do</strong> com o Comitê<br />
em junho de 2007, atendeu à demanda<br />
de pessoal em várias áreas funcionais da<br />
gerência de Serviços <strong>do</strong>s Jogos e foi fundamental<br />
para a continuação <strong>do</strong> trabalho<br />
destas áreas durante o Parapan. Há de se<br />
destacar também a decisiva participação<br />
<strong>do</strong> Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e da prefeitura <strong>do</strong><br />
Rio de Janeiro.<br />
Para a União, a realização <strong>do</strong> Parapan contribuía<br />
para fomentar o debate público sobre<br />
o tema da inclusão social <strong>do</strong>s deficientes<br />
no País. Desde a escolha <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />
como sede <strong>do</strong>s Jogos Parapan-americanos,<br />
o governo federal realizou ações para<br />
desenvolver o movimento paraolímpico e<br />
divulgá-lo à sociedade.<br />
A Lei de Incentivo Fiscal para o <strong>Esporte</strong> e<br />
o financiamento <strong>do</strong>s atletas sem patrocínio<br />
beneficia<strong>do</strong>s pela Bolsa-Atleta são algumas<br />
ações <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> para possibilitar<br />
que um número cada vez maior de<br />
atletas possa conquistar grandes vitórias<br />
no cenário <strong>do</strong> esporte paraolímpico.<br />
Vários convênios e contratações foram feitos<br />
para as duas competições. A confecção<br />
de medalhas e diplomas pela Casa da<br />
Moeda <strong>do</strong> Brasil, o seguro <strong>do</strong>s Jogos, feito<br />
pela Caixa Econômica Federal, o contrato<br />
<strong>do</strong>s serviços logísticos com os Correios e<br />
o acor<strong>do</strong> de ceder combustíveis da Petrobras<br />
para o abastecimento da frota foram<br />
efetua<strong>do</strong>s para os <strong>do</strong>is eventos. A mesma<br />
lógica orientou as contratações de serviços<br />
adquiri<strong>do</strong>s de empresas privadas, como a<br />
importação de equipamentos <strong>do</strong> controle<br />
anti<strong>do</strong>ping e de materiais esportivos, o pagamento<br />
de árbitros, serviços de traduções,<br />
realizações de cerimônias e operações da<br />
Vila, como lavanderia, alimentação, hotelaria<br />
e governança.<br />
Outra importante ação <strong>do</strong> governo federal<br />
foi o financiamento da contratação da força<br />
de trabalho e de coordena<strong>do</strong>res técnicos<br />
<strong>do</strong> CO-Rio. O Convênio 061/2007, de<br />
Os joga<strong>do</strong>res de futebol de 5, disputa<strong>do</strong> por<br />
deficientes visuais, chutaram, driblaram e<br />
marcaram gols no Parapan com bolas confeccionadas<br />
por presidiários e mora<strong>do</strong>res<br />
de áreas de risco social cadastra<strong>do</strong>s nos<br />
programas Pintan<strong>do</strong> a Liberdade e Pintan<strong>do</strong><br />
a Cidadania, que estão entre os mais importantes<br />
<strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />
As bolas, que têm guizos sonoros para orientar<br />
os joga<strong>do</strong>res, são homologadas pela Federação<br />
Internacional de <strong>Esporte</strong>s para Cegos<br />
(IBSA). “Além da função social, o material<br />
contribui para o desenvolvimento <strong>do</strong> futebol<br />
para cegos no Brasil”, afi rmou o técnico da<br />
equipe brasileira, Antônio de Pádua. O Parapan<br />
foi também o momento ideal para desenvolver<br />
vários projetos inclusivos e estabelecer<br />
parcerias para outros, como o Programa<br />
Nacional de Acessibilidade em Aeroportos,<br />
da Infraero, e o Programa de Inclusão Digital,<br />
<strong>do</strong> Ministério das Comunicações.<br />
75
O Brasil em braile<br />
A<br />
s principais atrações turísticas brasileiras<br />
foram divulgadas, em braile,<br />
pelo Ministério <strong>do</strong> Turismo no estande<br />
Brasil Sensacional, monta<strong>do</strong> na<br />
Vila Parapan-americana. Uma parceria entre<br />
o Ministério <strong>do</strong> Turismo e o Instituto Benjamin<br />
Constant, tradicional instituição de ensino para<br />
deficientes visuais, <strong>do</strong> Rio de Janeiro, possibilitou<br />
a confecção de folderes em português,<br />
espanhol e inglês. O sistema braile é forma de<br />
escrita para pessoas com defi ciência visual.<br />
De acor<strong>do</strong> com Paula Sanches, coordena<strong>do</strong>ra<br />
das ações <strong>do</strong> MTur nos Jogos Pan e Parapan<br />
Rio 2007, a parceria foi fundamental para<br />
ampliar e fortalecer a estratégia de divulgação<br />
<strong>do</strong>s destinos turísticos nacionais. “Essa ação<br />
soma-se, ainda, ao esforço <strong>do</strong> governo brasileiro<br />
de bem receber to<strong>do</strong>s os atletas participantes<br />
<strong>do</strong>s Jogos. Ele também é um turista e<br />
queremos que volte e indique o Brasil como<br />
destino turístico”, observa.<br />
76
O atleta mexicano Kevin<br />
Cruz lê em braile publicação<br />
sobre turismo no Brasil<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
77
Foto: Al<strong>do</strong> Dias / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Amauri Ribeiro,<br />
ouro <strong>do</strong> vôlei em<br />
Barcelona 92, hoje<br />
treina o vôlei senta<strong>do</strong>,<br />
que, no Parapan,<br />
obteve vaga para<br />
Pequim<br />
78
Uma ponte Rio-Pequim<br />
O<br />
pioneirismo brasileiro no desporto<br />
adapta<strong>do</strong> não se limitou a<br />
realizar o Parapan no modelo já<br />
consagra<strong>do</strong> das Paraolimpíadas.<br />
Também pela primeira vez, to<strong>do</strong> o programa<br />
<strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos foi classifi catório<br />
para os Jogos Paraolímpicos. A estratégia<br />
fazia parte <strong>do</strong> projeto de fortalecer a competição<br />
realizada em solo brasileiro e de contribuir<br />
para fi xar os Jogos Parapan-americanos<br />
como um importante marco no calendário<br />
esportivo internacional.<br />
Pela primeira vez, atletas renoma<strong>do</strong>s e campeões<br />
paraolímpicos elevariam o nível de<br />
competição <strong>do</strong> Parapan. Sen<strong>do</strong> assim, o Comitê<br />
Paraolímpico das Américas – com apoio<br />
<strong>do</strong>s governos e <strong>do</strong> CO-Rio – iniciou um árduo<br />
trabalho de articulação política junto ao<br />
Comitê Paraolímpico Internacional (IPC) e às<br />
confederações internacionais que administram<br />
o desporto adapta<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong>. “Realizar<br />
o Parapan não é uma das obrigações<br />
determinadas pela Odepa para a realização<br />
<strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos. Então, precisávamos<br />
convencer os organiza<strong>do</strong>res de Guadalajara<br />
(próxima cidade a sediar o Pan, em<br />
2011) que o Parapan é uma competição de<br />
alto nível para que eles se interessassem em<br />
organizá-la também. E uma disputa de alto<br />
nível se faz com uma boa estrutura e equipes<br />
principais, que só viriam se ele fosse qualifi<br />
catório para os Jogos de Pequim”, explica<br />
Andrew Parsons, presidente <strong>do</strong> APC.<br />
Foi um grande desafi o convencer os dirigentes<br />
de confederações internacionais de que<br />
o Parapan <strong>do</strong> Rio era um grande momento e<br />
que merecia apoio institucional. As negociações<br />
para conseguir o apoio da comunidade<br />
esportiva duraram um ano. Neste perío<strong>do</strong>, foi<br />
apresenta<strong>do</strong> o investimento brasileiro para<br />
realizá-lo e a estrutura colocada à disposição<br />
– entre serviços previstos, instalações esportivas<br />
e não esportivas, enfi m, to<strong>do</strong> o necessário<br />
para que os Jogos fossem um marco<br />
no esporte internacional. Números totais de<br />
atletas no continente, a falta de apoio fi nanceiro<br />
e a necessidade de desenvolvimento <strong>do</strong><br />
esporte adapta<strong>do</strong> nas Américas também foram<br />
argumentos defendi<strong>do</strong>s nos encontros.<br />
A maioria <strong>do</strong>s mundiais paraolímpicos cobra<br />
taxas caras de participação e, para muitos<br />
comitês paraolímpicos de países das Américas,<br />
ainda é difícil participar de competições<br />
em outros continentes. O Parapan oferecia<br />
passagens, hospedagem, alimentação<br />
e isenção nas taxas de inscrição das modalidades.<br />
Assim, para muitos, tornou-se uma<br />
oportunidade acessível de conquistar uma<br />
vaga para Pequim. Paralelamente, foi realiza<strong>do</strong><br />
um trabalho conjunto entre IPC, APC e<br />
os Comitês Paraolímpicos <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
e <strong>do</strong> Canadá, duas potências esportivas<br />
<strong>do</strong> paraolimpismo, para que enviassem seus<br />
atletas de ponta ao Rio.<br />
Doze infl uentes confederações internacionais<br />
receberam pedi<strong>do</strong>s para incluir o Rio de Janeiro<br />
na rota de Pequim: Atletismo, Futebol<br />
de 5, Futebol de 7, Judô, Halterofi lismo, Natação,<br />
Tênis de Mesa, Tênis em Cadeira de<br />
Rodas, Voleibol Senta<strong>do</strong>, Basquete em Cadeira<br />
de Rodas, Bocha e Goalball. Apenas as<br />
duas últimas modalidades não atenderam às<br />
solicitações <strong>do</strong> APC e, em função de sua decisão,<br />
foram retiradas <strong>do</strong> programa fi nal <strong>do</strong>s<br />
Jogos Parapan-americanos.<br />
Paralelamente, o governo federal atuava na<br />
promoção e na divulgação <strong>do</strong>s Jogos no<br />
continente. Entre as iniciativas para mobilizar<br />
a comunidade esportiva e ampliar informações,<br />
o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, o CO-Rio e o<br />
Ministério <strong>do</strong> Turismo convidaram <strong>do</strong>is atletas<br />
mundialmente conheci<strong>do</strong>s para serem os<br />
embaixa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Parapan: o nada<strong>do</strong>r peruano<br />
Jimmy Eulert e a nada<strong>do</strong>ra canadense<br />
Stephanie Dixon. Um <strong>do</strong>s objetivos da ação,<br />
além de promover o evento nos respectivos<br />
países, era estimular a vinda de seus compatriotas<br />
para competir no Brasil. Aos 55 anos,<br />
<strong>do</strong>no de cinco medalhas e com participação<br />
em três Paraolímpiadas, Eulert é <strong>do</strong>s mais<br />
experientes atletas peruanos em atividade e<br />
desfruta de grande prestígio em toda a América<br />
<strong>do</strong> Sul.<br />
79
A seleção <strong>do</strong> futebol de 7,<br />
<strong>do</strong> capitão Leandro Marinho,<br />
também carimbou seu<br />
passaporte para Pequim 2008<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
80
A escolha de uma atleta canadense também<br />
não foi por acaso. Historicamente, os<br />
atletas e países da América <strong>do</strong> Norte têm<br />
participação pequena em Jogos Parapanamericanos.<br />
A própria Dixon, ganha<strong>do</strong>ra<br />
de 15 medalhas paraolímpicas, nunca havia<br />
disputa<strong>do</strong> um Parapan.<br />
Feliz por ser escolhida para levar a mensagem<br />
aos atletas de seu país, Dixon ressaltou<br />
a importância <strong>do</strong> respeito à diversidade e a<br />
possibilidade de as pessoas concretizarem<br />
seus sonhos. “Formar um atleta paraolímpico<br />
ou olímpico não é um processo que ocorre<br />
da noite para o dia. A chave para o sucesso<br />
é ter oportunidade e também a confi ança <strong>do</strong>s<br />
outros em sua capacidade. É sempre mais<br />
fácil concretizar seus sonhos quan<strong>do</strong> acreditam<br />
em você”.<br />
Dixon pôde ver de perto o esforço brasileiro<br />
para construir o sonho paraolímpico.<br />
Ela esteve no País antes <strong>do</strong>s Jogos e viu a<br />
construção de instalações e a montagem de<br />
serviços. Tanto esforço teve recompensa.<br />
Piscinas, tatames, grama<strong>do</strong>s e quadras brasileiros<br />
receberam com orgulho a elite paraolímpica<br />
continental. O APC acredita que 75%<br />
<strong>do</strong>s atletas que estiveram no Parapan vieram<br />
atrás da vaga paraolímpica.<br />
OS EMBAIXADORES DO PARAPAN<br />
Jimmy Eulert ganhou cinco medalhas em Jogos<br />
Paraolímpicos na classe S3. A primeira foi o ouro<br />
em Atlanta 1996, nos 50m livre. Quatro anos mais<br />
tarde, em Sydney 2000, o nada<strong>do</strong>r conquistou o<br />
ouro nos 50m livre e a prata nos 50m costas. Em<br />
Atenas 2004, Jimmy levou o bronze nas duas<br />
provas: 50m livre e 50m costas. O Rio 2007 foi<br />
a sua terceira participação em Jogos Parapanamericanos.<br />
Ele também esteve nos Jogos <strong>do</strong><br />
México 1999 e de Mar del Plata 2003.<br />
Stephanie Dixon é uma das principais atletas<br />
paraolímpicas <strong>do</strong> Canadá e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A nada<strong>do</strong>ra<br />
conquistou cinco medalhas de ouro<br />
nos Jogos Paraolímpicos de Sydney 2000<br />
(100m livre, 400m livre, 400m costas, 4x100m<br />
livre e 4x100m misto) e uma de ouro nos Jogos<br />
Paraolímpicos de Atenas 2004 (100m costas),<br />
estabelecen<strong>do</strong> novo recorde mundial da prova.<br />
No Campeonato Mundial de Natação de<br />
2002, em Mar del Plata (Argentina), Dixon conquistou<br />
mais três medalhas de ouro (50m livre,<br />
400m livre e 100m costas). A atleta compete<br />
nas classes S9, SB8 e SM9.<br />
Nada<strong>do</strong>ra canadense<br />
Stephanie Dixon<br />
recebeu certifica<strong>do</strong> de<br />
<br />
das mãos <strong>do</strong> presidente<br />
<strong>do</strong> Comitê Paraolímpico<br />
das Américas,<br />
Andrew Parsons,<br />
em solenidade na<br />
Vila Pan-americana em<br />
março de 2007<br />
Photocamera/COB<br />
81
Acesso livre<br />
O<br />
respeito às necessidades especiais<br />
<strong>do</strong>s atletas com deficiência<br />
foi amplamente discuti<strong>do</strong> e analisa<strong>do</strong><br />
pelo Comitê Organiza<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong>s Jogos, que trabalhou em parceria com entidades<br />
ligadas ao desporto adapta<strong>do</strong>. “Antes<br />
de as instalações serem construídas, precisávamos<br />
garantir que elas fossem acessíveis.<br />
Além disso, consultamos o Comitê Paraolímpico<br />
sempre que foi preciso. Tínhamos o mesmo<br />
objetivo, de realizar algo marcante”, afirmou<br />
Agberto Guimarães, gerente de <strong>Esporte</strong>s <strong>do</strong><br />
CO-Rio.<br />
Seguin<strong>do</strong> as normas da Associação Brasileira<br />
de Normas Técnicas (ABNT), todas as instalações<br />
esportivas e não esportivas <strong>do</strong> Parapan<br />
foram desenhadas desde a planta até o telha<strong>do</strong><br />
para garantir o pleno acesso de público<br />
e competi<strong>do</strong>res. A Arena Multiuso, palco da<br />
cerimônia de abertura <strong>do</strong> Parapan e das disputas<br />
de basquete em cadeiras de rodas, foi<br />
desenhada com 32 lugares na platéia para uso<br />
de cadeirantes e 24 lugares para pessoas com<br />
mobilidade reduzida, além de receber 33 sanitários<br />
adapta<strong>do</strong>s. Com 45 metros de altura e<br />
três pavimentos, o local também contou com<br />
dez eleva<strong>do</strong>res equipa<strong>do</strong>s com faixas táteis,<br />
oito escadas com corrimão, faixa de alerta nos<br />
degraus, quatro rampas com baixa inclinação<br />
(8,5%), corrimão com duas alturas e sinais<br />
de alerta indican<strong>do</strong> seu início e fim. Para as<br />
competições não houve necessidade de mudanças,<br />
à medida que o basquete em cadeira<br />
de rodas é joga<strong>do</strong> em quadras de dimensões<br />
iguais às <strong>do</strong> tradicional.<br />
Nos mesmos moldes da Arena, o Maria Lenk<br />
também teve adaptações com sinalizações táteis.<br />
Foram construídas três rampas de acesso,<br />
duas para o público e uma para os atletas,<br />
com inclinação de 7%, faixas de alerta no piso<br />
indican<strong>do</strong> seu início e fim e corrimão com duas<br />
alturas. Para chegar às arquibancadas e assistir<br />
aos atletas saltarem nas piscinas, oito eleva<strong>do</strong>res<br />
e oito escadas com corrimão e sinais de<br />
alerta no piso facilitavam o acesso às pessoas<br />
com deficiência. Também foram reserva<strong>do</strong>s 22<br />
lugares a cadeirantes e construí<strong>do</strong>s 27 sanitários<br />
adapta<strong>do</strong>s no local. No Estádio João Havelange,<br />
o Engenhão, ocorreram as disputas<br />
de atletismo (pista e campo), modalidade que<br />
abriga grande público, sobretu<strong>do</strong> pelo fato de<br />
o Brasil ter grandes nomes de destaque no esporte.<br />
Foram planeja<strong>do</strong>s onze grandes eleva<strong>do</strong>res,<br />
quatro rampas de acesso, 250 lugares<br />
para cadeirantes em plataformas espalhadas<br />
pelas arquibancadas, 60 lugares para pessoas<br />
com deficiência e construção de sanitários<br />
adapta<strong>do</strong>s em to<strong>do</strong>s os setores.<br />
O Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro recebeu<br />
as partidas <strong>do</strong> futebol de 7, para paralisa<strong>do</strong>s<br />
cerebrais, e <strong>do</strong> futebol de 5, para pessoas<br />
com deficiência visual. O local teve suas arquibancadas<br />
tomadas pelo público durante o<br />
Parapan. As provas aconteceram no mesmo<br />
campo das disputas <strong>do</strong> hóquei sobre grama<br />
<strong>do</strong> Pan. No local, foram necessárias importantes<br />
alterações, como o redimensionamento<br />
<strong>do</strong> campo. Para a disputa de futebol de cinco,<br />
houve a troca de traves de gol. Ainda foi feita<br />
a colocação de redes laterais, com 1,2m de altura,<br />
que impedem a saída da bola <strong>do</strong> campo<br />
durante o jogo. Ali foram instala<strong>do</strong>s banheiros<br />
químicos adapta<strong>do</strong>s. O Riocentro foi o local<br />
das competições de judô, tênis de mesa,<br />
voleibol senta<strong>do</strong> e halterofilismo. Já o Clube<br />
Marapendi recebeu as disputas de tênis em<br />
cadeiras de rodas. As duas instalações contaram<br />
com banheiros químicos adapta<strong>do</strong>s e<br />
tiveram adaptações provisórias.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
82
Começa a festa<br />
P<br />
ara atender às necessidades <strong>do</strong>s<br />
atletas competi<strong>do</strong>res desde o momento<br />
em que desembarcassem<br />
em solo brasileiro, foi monta<strong>do</strong> um<br />
esquema nos aeroportos internacionais Antônio<br />
Carlos Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro,<br />
e André Franco Montoro (Cumbica), em São<br />
Paulo, que recebeu muitas delegações estrangeiras<br />
em conexão. Além de adaptações<br />
físicas, funcionários da Infraero, <strong>do</strong> Comitê<br />
Organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Jogos (CO-Rio) e da comunidade<br />
aeroportuária participaram de workshop<br />
de Atendimento a Pessoas com Deficiência ou<br />
Mobilidade Reduzida.<br />
No Galeão, 686 colabora<strong>do</strong>res foram prepara<strong>do</strong>s,<br />
sen<strong>do</strong> 191 da Infraero, 76 <strong>do</strong> CO-Rio e 419<br />
funcionários <strong>do</strong>s aeroportos que lidavam com o<br />
público. Em São Paulo, aproximadamente 300,<br />
entre eles profissionais da Infraero, de empresas<br />
aéreas, apoio e concessionários, participaram<br />
<strong>do</strong> treinamento. Os participantes receberam<br />
instruções sobre técnicas específicas de recepção<br />
ao passageiro com deficiência e manuseio<br />
de equipamentos, principalmente cadeira de rodas.<br />
Foram ensina<strong>do</strong>s procedimentos de transferência<br />
de pessoas com paraplegia, tetraplegia<br />
e amputa<strong>do</strong>s por profissionais <strong>do</strong> Hospital Sarah<br />
Kubitscheck, referência na América Latina<br />
no atendimento a pessoas com problemas neurológicos<br />
ou motores. Para identificar possíveis<br />
falhas nos processos de embarque e de desembarque<br />
<strong>do</strong>s atletas e testar situações especiais<br />
que requerem esses passageiros, em agosto<br />
de 2007, foi realizada uma simulação para corrigir<br />
possíveis equívocos e preparar o aeroporto<br />
<strong>do</strong> Galeão. No Parapan, to<strong>do</strong> o treinamento de<br />
transporte e serviços mostrou-se eficiente. Uma<br />
das provas de fogo foi a recepção à delegação<br />
venezuelana, que, com mais de 200 atletas,<br />
chegou de surpresa em plena madrugada. Para<br />
atender ao aumento <strong>do</strong> fluxo de passageiros<br />
<strong>do</strong> Galeão, também foi criada uma força-tarefa<br />
entre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária<br />
(Anvisa) e as vigilâncias estadual e municipal.<br />
O trabalho foi direciona<strong>do</strong>, principalmente,<br />
aos vôos internacionais que traziam turistas e<br />
delegações esportivas estrangeiras. O mesmo<br />
trabalho aconteceu no Pan. Além de prestar informações,<br />
o reforço visou agilizar a liberação<br />
de bagagens.<br />
Na inspeção das bagagens, a força-tarefa tinha<br />
atenção especial para com os medicamentos,<br />
equipamentos médicos, artigos de higiene<br />
pessoal, produtos e substâncias químicas, entre<br />
outros. Em março de 2007, os chefes das<br />
delegações receberam cartilhas com orientações<br />
sobre os procedimentos exigi<strong>do</strong>s pela<br />
legislação sanitária brasileira para a entrada<br />
desses produtos no Brasil.<br />
O médico-chefe de cada delegação ficou responsável<br />
pela guarda e utilização <strong>do</strong>s produtos,<br />
que só poderiam ser utiliza<strong>do</strong>s pelos<br />
atletas que disputavam o Parapan. Ele deveria<br />
informar à Anvisa que medicamento trazia e<br />
qual a sua prescrição. “A norma evita riscos<br />
à saúde pública, já que exige a comunicação<br />
prévia para a entrada <strong>do</strong>s produtos no País e<br />
proíbe a entrada de outros que não são permiti<strong>do</strong>s”,<br />
explica a gerente da Anvisa Oacy de<br />
Mello Tole<strong>do</strong>. Outra atribuição da equipe foi<br />
verificar se o viajante apresentou febre, vômito,<br />
diarréia ou outros sintomas de <strong>do</strong>enças<br />
durante o vôo, evitan<strong>do</strong> epidemias no País. Os<br />
fiscais também conferiram a validade <strong>do</strong> Certifica<strong>do</strong><br />
Internacional de Vacinação (CIV).<br />
Da esq. para a dir., cadeirantes na área especial<br />
da Arena Multiuso e cenas <strong>do</strong> treinamento e da<br />
recepção aos atletas <strong>do</strong> Parapan<br />
83<br />
Fotos: Arquivo / Infraero
Adapdações especiais na<br />
Vila: piso nivela<strong>do</strong> para<br />
não causar dificuldade<br />
Foto: AGENCO<br />
0,90<br />
VARANDA<br />
5,50m²<br />
SALA<br />
22,00m²<br />
0,80 1,20<br />
0,80<br />
0,80<br />
1,50<br />
1,50<br />
VAR.<br />
3,26m²<br />
0,94<br />
QUARTO<br />
10,95m²<br />
0,98<br />
1,50<br />
BANHº<br />
5,83m²<br />
QUARTO<br />
9,80m²<br />
0,90<br />
0,94<br />
Garantir bem-estar e autonomia aos participantes<br />
<strong>do</strong>s III Jogos Parapan-americanos era<br />
questão-chave da organização. A Vila, casa<br />
<strong>do</strong>s atletas durante a competição, foi totalmente<br />
projetada para atender às necessidades <strong>do</strong>s<br />
competi<strong>do</strong>res. Os apartamentos tinham portas<br />
mais largas e banheiro adapta<strong>do</strong> com barras<br />
de apoio, torneiras em formato de alavancas<br />
e vasos sanitários mais altos em relação ao<br />
solo. A disposição <strong>do</strong>s móveis também levou<br />
em consideração o conforto <strong>do</strong> atleta cadeirante.<br />
A distância entre camas, guarda-roupas,<br />
mesas e cadeiras permitia giros de 360º graus<br />
da cadeira de rodas nos cômo<strong>do</strong>s <strong>do</strong> imóvel.<br />
No total, foram construí<strong>do</strong>s 112 apartamentos<br />
especialmente planeja<strong>do</strong>s para receber as estrelas<br />
<strong>do</strong> esporte parapan-americano.<br />
A casa parapan-americanaAssim eram os apartamentos da Vila<br />
HALL<br />
1,94m²<br />
84
A Vila se adapta ao Parapan<br />
C<br />
om o término <strong>do</strong> Pan, a Vila Panamericana<br />
passou a chamar-se Vila<br />
Parapan-americana. A mudança já<br />
estava programada, assim como<br />
o projeto arquitetônico <strong>do</strong> local, que durante<br />
sete dias seria a casa <strong>do</strong>s atletas <strong>do</strong> Parapan.<br />
No total, foram 112 apartamentos construí<strong>do</strong>s<br />
com adaptações capazes de atender 448 cadeirantes.<br />
To<strong>do</strong>s foram hospeda<strong>do</strong>s nos seis<br />
primeiros andares <strong>do</strong>s edifícios, para facilitar<br />
o trânsito das cadeiras de rodas. Eleva<strong>do</strong>res<br />
foram equipa<strong>do</strong>s com teclas em braile e sinal<br />
sonoro para pessoas com deficiência visual.<br />
Os atletas <strong>do</strong> Parapan também tiveram algumas<br />
facilidades como controle remoto para o<br />
aparelho de ar condiciona<strong>do</strong> e 60 voluntários<br />
que se revezavam em três turnos para atender<br />
seus pedi<strong>do</strong>s e deixar a estada <strong>do</strong>s competi<strong>do</strong>res<br />
mais agradável.<br />
Na área residencial, procurou-se nivelar to<strong>do</strong> o<br />
piso para não causar dificuldades aos atletas.<br />
Também foram instaladas rampas largas em<br />
vários pontos da Vila. Bocas-de-lobo pré-moldadas<br />
com a superfície perfurada para evitar<br />
que as cadeiras de rodas ficassem presas foram<br />
espalhadas por toda a área da Vila, assim<br />
como telefones públicos ajusta<strong>do</strong>s para cadeirantes<br />
e sinalização no piso para deficientes<br />
visuais. Corrimãos na área interna, sanitários<br />
adapta<strong>do</strong>s e puxa<strong>do</strong>res de portas eram outros<br />
equipamentos indispensáveis à segurança e<br />
ao conforto <strong>do</strong>s atletas. Cada detalhe foi milimetricamente<br />
pensa<strong>do</strong> para evitar falhas. Um<br />
grupo de cadeirantes voluntários, acompanha<strong>do</strong>s<br />
por técnicos, realizou simula<strong>do</strong> no local<br />
poucos dias antes da abertura da Vila.<br />
O teste foi importante para verificar eventuais<br />
problemas que dificultassem o deslocamento<br />
<strong>do</strong>s atletas com deficiência. Mesmo com<br />
to<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> na fase de preparação, algumas<br />
falhas técnicas foram detectadas após o início<br />
<strong>do</strong>s Jogos. Um exemplo foi a necessidade<br />
de colocação de outra rampa de acesso ao<br />
restaurante. A que havia si<strong>do</strong> construída não<br />
atendia inteiramente o fluxo de pessoas que<br />
passavam pelo local. O incômo<strong>do</strong> foi leva<strong>do</strong><br />
Foto: Arquivo / FIA<br />
Rampas especiais<br />
garantiram o trânsito<br />
seguro <strong>do</strong>s cadeirantes<br />
85
aos organiza<strong>do</strong>res e o governo federal se incumbiu<br />
da construção de uma similar de madeira<br />
para melhorar a circulação.<br />
Várias estruturas de apoio ao Pan continuaram<br />
a funcionar no Parapan: policlínica, academia<br />
de ginástica, centro ecumênico e o restaurante.<br />
Esses locais também foram estrutura<strong>do</strong>s de<br />
acor<strong>do</strong> com as normas da ABNT. No restaurante,<br />
foram incluí<strong>do</strong>s cardápios em braile em<br />
três idiomas – inglês, espanhol e português. O<br />
restaurante da Vila contou, desde o início <strong>do</strong><br />
Pan, com mesas em altura ideal para cadeirantes,<br />
piso totalmente plano e liso, altura ideal<br />
das passa-bandejas, sinalização e iluminação<br />
adequadas para deficientes visuais. “Esse espaço<br />
na Vila Parapan-americana é um exemplo<br />
de que você pode montar um restaurante<br />
e projetá-lo com acessibilidade para to<strong>do</strong>s. A<br />
partir <strong>do</strong> momento em que você determina as<br />
ações adequadas e o respeito apropria<strong>do</strong>, isso<br />
permite que a pessoa seja auto-suficiente”, explica<br />
Mauricio Romanato, gestor <strong>do</strong> contrato<br />
<strong>do</strong> restaurante no Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />
A Vila também abriu áreas para novos serviços.<br />
Dois ônibus adapta<strong>do</strong>s, com portas largas<br />
e piso rebaixa<strong>do</strong> e área interna suficiente<br />
para dez cadeirantes, garantiram o deslocamento<br />
<strong>do</strong>s atletas no interior <strong>do</strong> con<strong>do</strong>mínio.<br />
O atendimento foi feito 24 horas por dia, mas<br />
com freqüência variável e ajustada às demandas<br />
das delegações. Também foi cria<strong>do</strong> um telecentro<br />
que oferecia serviços de telecomunicações<br />
adapta<strong>do</strong>s às necessidades das mais<br />
diversas deficiências e, como de praxe em disputas<br />
competitivas paraolímpicas, foi instalada<br />
uma oficina para reparos e consertos de próteses,<br />
órteses e cadeiras de rodas.<br />
Fotos: Arquivo / FIA<br />
Adaptações:<br />
portas mais largas<br />
para passagem<br />
da cadeira de rodas<br />
e, no detalhe,<br />
painel <strong>do</strong>s eleva<strong>do</strong>res<br />
em braile<br />
86
Foto: Arquivo Jornal da Vila Pan-americana / CO-Rio<br />
Oficina de reparos<br />
Mais de 350 atendimentos<br />
foram realiza<strong>do</strong>s<br />
na oficina de reparos<br />
A diferença<br />
entre Órtese e Prótese<br />
Órtese: aparelhos ou dispositivos<br />
ortopédicos de uso provisório,<br />
destina<strong>do</strong>s a alinhar, prevenir ou<br />
corrigir deformidades ou melhorar<br />
a capacidade funcional das partes<br />
móveis <strong>do</strong> corpo.<br />
M<br />
ontada pela Associação Brasileira<br />
de Ortopedia Técnica<br />
(Abotec), a ofi cina para reparos<br />
e consertos de próteses, órteses<br />
e cadeiras de rodas realizou 350 atendimentos.<br />
Também foram instala<strong>do</strong>s mais<br />
quatro pontos de atendimento de emergência<br />
nos seguintes locais de competição: Arena<br />
Multiuso, Riocentro, Estádio João Havelange<br />
e Clube Marapendi.<br />
Prótese: componente artificial que<br />
substitui o órgão ou sua função.<br />
Quan<strong>do</strong> uma pessoa perde algum<br />
membro <strong>do</strong> corpo, no lugar é posta<br />
uma prótese mecânica que responde<br />
a qualquer impulso nervoso.<br />
Fabricantes de componentes e acessórios<br />
equiparam a oficina, e foram feitas algumas<br />
<strong>do</strong>ações de próteses, muletas e cadeiras de<br />
rodas. To<strong>do</strong> o trabalho foi gratuito, com exceção<br />
das peças que tiveram de ser substituídas.<br />
Neste caso, a oficina cobrava o preço de<br />
custo <strong>do</strong> material.<br />
87
Inclusão digital<br />
A<br />
tecnologia pode agregar, trazer<br />
oportunidades e oferecer novas<br />
formas de comunicação às pessoas<br />
com deficiência. Os Jogos Parapan-americanos<br />
apresentaram uma grande<br />
oportunidade para testar um <strong>do</strong>s maiores programas<br />
de inclusão digital <strong>do</strong> País.<br />
Três telecentros equipa<strong>do</strong>s com telefonia para<br />
deficientes auditivos e visuais e cadeirantes<br />
e computa<strong>do</strong>res com acesso à internet para<br />
pessoas com deficiência visual e cadeirantes,<br />
foram instala<strong>do</strong>s na Vila Parapan-americana,<br />
no Riocentro e no Estádio João Havelange. “O<br />
respeito às diferenças é marca importante <strong>do</strong><br />
governo brasileiro e o acesso à comunicação<br />
faz parte deste processo. Viabilizar a implantação<br />
<strong>do</strong>s telecentros foi uma forma de oferecer<br />
conforto e facilidade de comunicação aos participantes<br />
<strong>do</strong>s Jogos”, enfatiza o ministro <strong>do</strong><br />
<strong>Esporte</strong>, Orlan<strong>do</strong> Silva Jr.<br />
Totalmente cego há 13 anos, o nada<strong>do</strong>r venezuelano<br />
Cristobal Chilan acessou diariamente<br />
seu e-mail e entrou em programas de batepapo<br />
virtual para contar à sua melhor amiga<br />
as novidades de sua primeira experiência em<br />
um Parapan. Para pessoas com defi ciência<br />
visual como Chilan, o centro ofereceu computa<strong>do</strong>res<br />
com o software DOS-VOX, desenvolvi<strong>do</strong><br />
pela Universidade Federal <strong>do</strong> Rio de<br />
Janeiro (UFRJ), que transformam palavras<br />
faladas em palavras escritas na telinha <strong>do</strong><br />
computa<strong>do</strong>r.<br />
Os telecentros também ofereceram softwares<br />
que ampliam as letras e produzem resposta<br />
audível aos textos apresenta<strong>do</strong>s nas telas para<br />
quem tem visão parcial. “No Parapan, estive<br />
sempre em contato com o mun<strong>do</strong>. Achei incrível<br />
encontrar isso aqui, porque na Venezuela<br />
trabalho justamente com inclusão digital de<br />
deficientes visuais, ensinan<strong>do</strong>-os a usar um<br />
programa similar a esse”, disse Chilan, elogian<strong>do</strong><br />
ainda a iniciativa <strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>res de<br />
oferecer revistas escritas em braile.<br />
Apesar de o Parapan não contar com a participação<br />
de atletas com deficiência auditiva,<br />
também foram instala<strong>do</strong>s Terminais Telefônicos<br />
para Sur<strong>do</strong>s (TTS). A iniciativa foi viabilizada<br />
por parceria entre os ministérios <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
e das Comunicações, a empresa de telefonia<br />
Oi e a empresa de tecnologia da informação<br />
Atos Origin, com apoio <strong>do</strong> CO-Rio e da Fundação<br />
Getúlio Vargas.<br />
Telefones para<br />
sur<strong>do</strong>s (à dir.) e o<br />
venezuelano Chilan<br />
no computa<strong>do</strong>r<br />
adapta<strong>do</strong> para<br />
deficientes visuais<br />
Foto: Al<strong>do</strong> Dias / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
88
OS EQUIPAMENTOS<br />
DOS TELECENTROS<br />
Vila Pan-americana<br />
25 computa<strong>do</strong>res, impressora<br />
em braile, impressora multifuncional,<br />
cinco terminas telefônicos para sur<strong>do</strong>s<br />
(TTS) e 21 pontos de internet<br />
Centro de Convenções Riocentro<br />
cinco computa<strong>do</strong>res, impressora<br />
multifuncional, três TTS e cinco<br />
pontos de internet<br />
Estádio João Havelange<br />
cinco computa<strong>do</strong>res, impressora<br />
multifuncional, três TTS e cinco<br />
pontos de internet<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
89
A Caixa ofereceu serviços<br />
bancários na Vila. Acesso<br />
aos cadeirantes garanti<strong>do</strong><br />
pela rampa<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
90
Patrocínio e parcerias<br />
O<br />
Parapan foi apoia<strong>do</strong> e financia<strong>do</strong><br />
pelo governo federal e por importantes<br />
parceiros. Mas alguns<br />
problemas, na avaliação <strong>do</strong> Comitê<br />
Paraolímpico das Américas (APC), prejudicaram<br />
parte <strong>do</strong> planejamento da área de<br />
marketing <strong>do</strong>s Jogos Parapan-americanos.<br />
Na opinião <strong>do</strong>s dirigentes <strong>do</strong> comitê, poderia<br />
ter havi<strong>do</strong> um esforço maior na venda de cotas<br />
de patrocínio <strong>do</strong> Parapan, sobretu<strong>do</strong> junto<br />
aos patrocina<strong>do</strong>res que apoiaram o plano<br />
<strong>do</strong> Pan. O bem-sucedi<strong>do</strong> modelo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong><br />
no Pan, que previa, além <strong>do</strong> investimento na<br />
competição esportiva, o financiamento da<br />
delegação brasileira por to<strong>do</strong> o ciclo olímpico,<br />
incluin<strong>do</strong> Pequim 2008, também não se repetiu<br />
no Parapan. “Faltou uma coordenação da<br />
área de marketing como um to<strong>do</strong>. Poderia ter<br />
havi<strong>do</strong> um pouco mais de empenho na busca<br />
de patrocínios para o Parapan. Na avaliação<br />
<strong>do</strong> APC, isso infelizmente não ocorreu”, opina<br />
Parsons. Presta<strong>do</strong>ra de serviços médicos<br />
oficiais no Pan, a Golden Cross não realizou o<br />
mesmo trabalho no Parapan. O acréscimo de<br />
equipamentos e serviços médicos não previstos<br />
no contrato original entre a segura<strong>do</strong>ra<br />
médica e o CO-Rio tornou comercialmente<br />
inviável a operação no Parapan.<br />
A Caixa Econômica Federal investiu R$ 3 milhões<br />
e tornou-se patrocina<strong>do</strong>ra exclusiva. A<br />
estatal financia o Comitê Paraolímpico Brasileiro<br />
(CPB) desde 2004. Em 2008 renovou seu<br />
contrato de patrocínio com o Comitê e investiu<br />
R$ 6,5 milhões na preparação para os Jogos<br />
Paraolímpicos de Pequim. A parceria foi<br />
traduzida na melhor campanha brasileira em<br />
Paraolimpíadas, com a conquista de 47 medalhas<br />
(16 de ouro, 14 de prata e 17 de bronze). A<br />
fábrica de material esportivo Olympikus também<br />
apoiou o Parapan, vestin<strong>do</strong> a delegação<br />
brasileira. A marca forneceu uniformes para os<br />
competi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> atletismo, basquete em cadeira<br />
de rodas, futebol de 5, futebol de 7, halterofilismo,<br />
tênis em cadeira de rodas, tênis de<br />
mesa e vôlei senta<strong>do</strong>. Foram produzidas em<br />
torno de 18 mil peças, entre roupas e calça<strong>do</strong>s<br />
de competição e pódio, para atender os cerca<br />
de 600 integrantes da delegação.<br />
Atendimento médico<br />
A<br />
Secretaria Estadual de Saúde fez<br />
um acor<strong>do</strong> com a Defesa Civil e o<br />
Corpo de Bombeiros, que disponibilizou<br />
equipamentos médicos<br />
(entre eles aparelhos de raio-X e ambulâncias)<br />
e recursos humanos para atendimento<br />
durante o Parapan. No Complexo Esportivo<br />
de Deo<strong>do</strong>ro, a assistência ficou sob responsabilidade<br />
<strong>do</strong> Exército Brasileiro. Os medicamentos<br />
foram cedi<strong>do</strong>s pelas secretarias<br />
municipais de Saúde de Niterói e <strong>do</strong> Rio de<br />
Janeiro. A Policlínica montada na Vila Parapan-americana,<br />
assim como no Pan, teve<br />
serviços de emergência, fisioterapia, o<strong>do</strong>ntologia,<br />
raio-X, ultrassonografia, farmácia e<br />
atendimento médico em diversas especialidades.<br />
A unidade dispunha de um serviço de<br />
apoio de ambulâncias, com unidades móveis<br />
de terapia intensiva, e de uma rede de hospitais<br />
de referência e clínicas credenciadas,<br />
que seriam aciona<strong>do</strong>s em situações em que<br />
houvesse necessidade de atendimentos mais<br />
específicos e complexos. Além <strong>do</strong>s postos<br />
públicos de atendimento, cada instalação esportiva,<br />
durante os horários de treinos oficiais<br />
e competição, dispunha de um posto médico<br />
para atletas e oficiais e outro para dirigentes<br />
e especta<strong>do</strong>res. Uma ambulância, com unidade<br />
de terapia intensiva, ficava disponível<br />
para, em caso de necessidade, fazer a transferência<br />
de integrantes das delegações para<br />
a Policlínica da Vila Parapan-americana (somente<br />
para atletas) ou para um hospital público<br />
situa<strong>do</strong> próximo <strong>do</strong> local da ocorrência.<br />
PROGRAMA DE ATENDIMENTO<br />
MÉDICO DO CO-RIO<br />
Atendimento médico incluin<strong>do</strong> cirurgias<br />
de emergência e tratamento intensivo<br />
em um <strong>do</strong>s hospitais de referência<br />
Atendimento médico na Policlínica<br />
para aqueles com credencial de acesso<br />
à Zona Residencial da Vila<br />
Atendimento médico nas instalações <strong>do</strong>s Jogos<br />
Remoção de emergência<br />
Tratamento e exames em clínicas especializadas<br />
Medicamentos<br />
91
Comunidade integrada<br />
O<br />
rganizar uma grande disputa esportiva<br />
não se limita à construção<br />
de instalações. Várias diretrizes<br />
conduziam as ações governamentais<br />
durante os anos que precederam o<br />
Parapan. Investir na formação de professores<br />
e profissionais de educação física foi uma<br />
das estratégias <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> para<br />
promover a inclusão social e a quebra de preconceitos<br />
em relação às pessoas com deficiências.<br />
A construção de uma ação de cunho<br />
educacional era, portanto, essencial para estimular<br />
o debate e criar condições para que as<br />
próximas gerações naturalmente convivam e<br />
respeitem as diferenças. Nascia, assim, o projeto<br />
Comunidade Integrada ao Parapan.<br />
Em julho de 2007, foi celebra<strong>do</strong> o convênio<br />
089/2007, no valor de R$ 1.006.378,15, entre<br />
o CO-Rio e o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>. O planejamento<br />
e a execução <strong>do</strong> projeto ficaram sob<br />
a responsabilidade <strong>do</strong> Instituto para o Desenvolvimento<br />
da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente pela<br />
Cultura e o <strong>Esporte</strong> (Idecace). O projeto incluía<br />
quatro atividades: promoção de seminário<br />
para professores, visita de atletas paraolímpicos<br />
a 30 escolas e comunidades, distribuição<br />
de cartilhas para professores e estudantes e<br />
ida de alunos da rede pública de ensino às<br />
competições <strong>do</strong> Parapan.<br />
O objetivo era possibilitar a vivência e a aproximação<br />
de professores e alunos com o desporto<br />
paraolímpico. A professora de educação<br />
física Rosana Chalfunde, da escola Embaixa<strong>do</strong>r<br />
João Neves da Fontoura, em Rocha Miranda,<br />
zona Norte <strong>do</strong> Rio, ficou satisfeita com<br />
o novo aprendiza<strong>do</strong>. “Aprender como lidar e<br />
qual a melhor maneira de incluir uma criança<br />
com deficiência na aula é importante. As atividades<br />
exigem adaptações, porque o processo<br />
de aprendizagem deles é diferente”, disse. Conhecer<br />
a trajetória de superação de pessoas<br />
com deficiência e promover o encontro entre<br />
os heróis <strong>do</strong> esporte e crianças e a<strong>do</strong>lescentes<br />
também é uma forma de combater o preconceito<br />
e lutar por uma sociedade mais justa.<br />
Cerca de 60 atletas paraolímpicos visitaram<br />
dezenas de escolas e organizações não governamentais<br />
<strong>do</strong> Rio de Janeiro antes da realização<br />
<strong>do</strong> Parapan.<br />
A iniciativa foi aprovada por mora<strong>do</strong>res e atletas.<br />
A velocista Sheila Finder visitou a ONG<br />
Projeto Celas (Cidadania, <strong>Esporte</strong> e Lazer Social)<br />
na comunidade de Turiaçu, na zona norte<br />
<strong>do</strong> Rio, e destacou o papel da escola e <strong>do</strong>s<br />
professores para aproximar as crianças da<br />
prática esportiva. “Muitas vezes os alunos<br />
com deficiência ficam isola<strong>do</strong>s. Na minha época,<br />
não havia profissionais nas escolas para<br />
atender as nossas demandas e necessidades.<br />
Hoje, percebemos um esforço em se criar<br />
um ambiente escolar mais agradável a essas<br />
crianças. É importante que elas conheçam os<br />
benefícios <strong>do</strong> esporte e, sobretu<strong>do</strong>, que reconheçam<br />
ser capazes de praticá-lo”, atesta<br />
Finder. Jacy Fonseca, mora<strong>do</strong>r de Turiaçu, pai<br />
de um jovem deficiente de 16 anos, afirma que<br />
as crianças aprenderam bastante com a visita.<br />
“Eles (os atletas) são exemplos. As pessoas<br />
com deficiência não precisam ter me<strong>do</strong> de sair<br />
às ruas. Somente o convívio vai diminuir o preconceito”,<br />
acredita.<br />
O caminho inverso também foi percorri<strong>do</strong>:<br />
meninos e meninas foram aos Jogos. Cerca<br />
de 10 mil estudantes lotaram ginásios e está-<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
92
dios durante as provas <strong>do</strong><br />
Parapan e deram muito apoio e incentivo<br />
aos atletas. Com o contato, as crianças<br />
mudaram o conceito que tinham em<br />
relação às pessoas com deficiência. “No<br />
começo, os alunos ficavam assusta<strong>do</strong>s<br />
quan<strong>do</strong> os atletas caíam, mas logo se<br />
maravilhavam com a agilidade com que eles<br />
levantavam”, disse, depois de um jogo de<br />
basquete, a professora Lilia Rocha, da escola<br />
Carlos Delga<strong>do</strong> de Carvalho, que atende 470<br />
crianças <strong>do</strong> Recreio, na zona oeste <strong>do</strong> Rio.<br />
Para atingir maior número de escolas, também<br />
foram distribuídas cinco mil cartilhas em formato<br />
de revista na rede pública de ensino <strong>do</strong><br />
Rio de Janeiro. A cartilha, para professores,<br />
conta a evolução <strong>do</strong> movimento paraolímpico<br />
no Brasil e no mun<strong>do</strong>, explica detalhes de cada<br />
esporte e a classificação funcional <strong>do</strong>s atletas<br />
por tipo e nível de deficiência, além de conter<br />
sugestões de atividades em sala de aula para<br />
levar as crianças a refletirem sobre o universo<br />
da pessoa com deficiência e sua inclusão na<br />
sociedade. Também foram produzidas 9.450<br />
cartilhas em formato de gibi colori<strong>do</strong>, contan<strong>do</strong><br />
a história das mascotes <strong>do</strong> Parapan e mostran<strong>do</strong><br />
personagens com diferentes deficiências.<br />
O material explicava as modalidades <strong>do</strong>s<br />
Jogos, e fez sucesso entre a garotada.<br />
Páginas da cartilha para professores e <strong>do</strong> gibi<br />
para estudantes distribuí<strong>do</strong>s no Projeto (no alto),<br />
que realizou um seminário (foto 1)<br />
e visitas de atletas como Rosinha (foto 2),<br />
Edênia Garcia (foto 3) e Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva (foto 4)<br />
a escolas públicas <strong>do</strong> Rio<br />
93
Conquistas em to<strong>do</strong>s os campos<br />
C<br />
om a realização <strong>do</strong>s Jogos no Rio<br />
de Janeiro, foi escrita uma nova e<br />
importante página <strong>do</strong> esporte paraolímpico.<br />
O Parapan teve alto índice<br />
técnico. Dezoito recordes mundiais foram<br />
quebra<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> que o evento foi o ponto<br />
alto <strong>do</strong> calendário de 2007. Pela primeira vez, o<br />
Brasil terminou a competição no topo <strong>do</strong> quadro<br />
geral de medalhas. Um resulta<strong>do</strong> histórico,<br />
com 228 medalhas, sen<strong>do</strong> 83 de ouro, 68 de<br />
prata e 77 de bronze. Dos medalhistas brasileiros<br />
classifica<strong>do</strong>s para Pequim 2008, muitos se<br />
tornaram favoritos para brigar pelo pódio das<br />
Paraolimpíadas. E uma nova geração se forma.<br />
Uma parcela da delegação teve sua primeira<br />
oportunidade de participar de uma grande<br />
competição internacional. O nada<strong>do</strong>r paulista<br />
Daniel Dias foi um deles. Logo no seu primeiro<br />
Parapan, conquistou oito medalhas de ouro,<br />
tornan<strong>do</strong>-se recordista absoluto da competição<br />
e novo í<strong>do</strong>lo <strong>do</strong> esporte brasileiro.<br />
O desempenho de Dias aju<strong>do</strong>u o País a fechar<br />
os Jogos na liderança no quadro geral de medalhas<br />
e confirmou o crescimento brasileiro no<br />
universo paraolímpico. As últimas campanhas<br />
<strong>do</strong> País no desporto adapta<strong>do</strong> são impressionantes.<br />
O Brasil ficou em primeiro lugar no<br />
Campeonato Mundial de Atletismo de Cegos,<br />
realiza<strong>do</strong> em agosto de 2008, em São Paulo.<br />
Na natação, os resulta<strong>do</strong>s nos <strong>do</strong>is últimos<br />
campeonatos mundiais também comprovam o<br />
desenvolvimento técnico da equipe brasileira.<br />
Em 2005, o Brasil ficou em 10º lugar na classificação<br />
geral. Em 2006, subiu para a 5ª colocação.<br />
Dos 229 atletas que representaram o Brasil no<br />
Parapan, 103 eram beneficia<strong>do</strong>s com o programa<br />
Bolsa Atleta, iniciativa <strong>do</strong> governo federal<br />
que garante recursos para competi<strong>do</strong>res que<br />
não têm contratos de patrocínio. O número<br />
corresponde a 45% <strong>do</strong> total da delegação brasileira<br />
no Parapan. Edilson Alves, diretor técnico<br />
<strong>do</strong> CPB, confirma que o apoio federal teve<br />
importante papel no crescimento <strong>do</strong> desporto<br />
adapta<strong>do</strong>, pois permitiu maior planejamento<br />
e execução de projetos e melhor treinamento<br />
<strong>do</strong>s atletas.<br />
Foto: Al<strong>do</strong> Dias / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
94
95<br />
Cerca de 10 mil alunos da rede<br />
de ensino <strong>do</strong> Rio acompanharam<br />
as competições, junto com seus<br />
professores, em projeto financia<strong>do</strong><br />
pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>
Em seu primeiro Parapan,<br />
Daniel Dias conquistou oito<br />
ouros. No detalhe, a alegria<br />
da criança no encontro com<br />
a velocista Sheila Finder<br />
Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
96
“A maior parte da delegação vive <strong>do</strong> esporte.<br />
Muitos recebem patrocínio ou recursos <strong>do</strong><br />
programa <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>. A parceria<br />
com a Caixa Econômica Federal e a verba<br />
da Lei Agnelo/Piva também criaram condições<br />
melhores”, argumenta Edilson.<br />
Além <strong>do</strong> lega<strong>do</strong> esportivo, os Jogos <strong>do</strong> Rio<br />
deixaram uma importante herança para a sociedade<br />
brasileira. O Parapan colocou a questão<br />
<strong>do</strong>s deficientes definitivamente na agenda<br />
nacional. “O exemplo <strong>do</strong>s nossos atletas é<br />
um estímulo para que a pessoa com deficiência<br />
possa conquistar mais qualidade de vida.<br />
O Parapan chama a atenção para que sejam<br />
ampliadas as políticas públicas na área”, diz o<br />
ministro Orlan<strong>do</strong> Silva Jr..<br />
Para Vital Severino Neto, presidente <strong>do</strong> CPB, o<br />
maior lega<strong>do</strong> <strong>do</strong> Parapan foi a criação de um<br />
novo ambiente para que a sociedade e as autoridades<br />
considerem o esporte paraolímpico<br />
de outra forma. “Muitos não acreditavam que<br />
esporte paraolímpico pudesse prender a atenção<br />
<strong>do</strong> público. Provou-se exatamente o contrário”,<br />
afirma o dirigente.<br />
O Parapan foi divulga<strong>do</strong> nos noticiários televisivos<br />
e as competições foram transmitidas<br />
ao vivo pelo SporTV, canal a cabo das Organizações<br />
Globo. A exposição <strong>do</strong> movimento<br />
esportivo paraolímpico e das conquistas <strong>do</strong>s<br />
atletas também promete sensibilizar um público<br />
especial: a própria pessoa com defi ciência.<br />
Pela tevê e pelas manchetes de jornais, elas<br />
acompanharam as vitórias e o exemplo de vida<br />
de pessoas que, como elas, têm limitações,<br />
mas não estão impedidas de viver.<br />
A atleta Roseane <strong>do</strong>s Santos, a Rosinha, <strong>do</strong><br />
arremesso de peso e dar<strong>do</strong>, acredita que os<br />
deficientes possam se espelhar nos atletas e<br />
perceber que podem levar uma vida sem limitação:<br />
“Quan<strong>do</strong> perdi uma das pernas, a reação<br />
foi me isolar. Depois que descobri o esporte,<br />
percebi que poderia ser feliz e minha vida mu<strong>do</strong>u<br />
para melhor”. Andrew Parsons, <strong>do</strong> APC,<br />
avisa que este movimento cria uma nova demanda:<br />
crianças com deficiências que devem<br />
ser incluídas nas atividades esportivas. “Hoje,<br />
elas sabem em quem se espelhar. Não precisa<br />
querer ser um Ronaldinho Gaúcho. Pode querer<br />
ser um Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva ou uma Terezinha<br />
Guilhermina, por exemplo”. O governo federal<br />
reconhece que é preciso formar profissionais<br />
qualifica<strong>do</strong>s nas escolas. Para isso, o Ministério<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> firmou parceria com o Comitê<br />
Paraolímpico Brasileiro (CPB) e secretarias de<br />
educação municipais e estaduais para desenvolver<br />
o programa Paraolímpicos <strong>do</strong> Futuro.<br />
O projeto leva informações e treina professores<br />
de educação física para identifi car crianças<br />
e jovens promissores dentro <strong>do</strong> movimento<br />
paraolímpico e incentivar alunos com deficiência<br />
a praticar esporte. Segun<strong>do</strong> pesquisa feita<br />
pelo CPB com atletas inscritos no Circuito<br />
Loterias Caixa Brasil Paraolímpico em 2005, o<br />
principal campeonato <strong>do</strong> gênero no País, mais<br />
de 80% só tomaram conhecimento da categoria<br />
na idade adulta, quan<strong>do</strong> passaram a freqüentar<br />
uma entidade voltada a pessoas com<br />
deficiência.<br />
Com pouco mais de um ano, o projeto Paraolímpicos<br />
<strong>do</strong> Futuro chegou a 519 municípios<br />
em sete esta<strong>do</strong>s e atingiu 3.593 professores.<br />
Também fizeram parte da ação o I Campeonato<br />
Paraolímpico Escolar Brasileiro de Atletismo<br />
e Natação, em outubro de 2006, em Fortaleza,<br />
e o II Campeonato Paraolímpico Escolar Brasileiro,<br />
em Brasília, em 2007, que incluiu duas<br />
modalidades: tênis de mesa em cadeira de<br />
roda e goalball.<br />
Outra parceria firmada entre o Ministério e o<br />
CPB que visa ao desenvolvimento <strong>do</strong> esporte<br />
adapta<strong>do</strong> e a busca de novos talentos foi a realização<br />
<strong>do</strong> II Campeonato Paraolímpico Universitário,<br />
em São Paulo, em 2007. Quem se<br />
classifica entre os três primeiros nos esportes<br />
individuais ou está entre os 24 melhores em<br />
esportes coletivos nos campeonatos estudantis<br />
e universitários pode pleitear uma bolsaatleta.<br />
Certo é que ainda é ce<strong>do</strong> para dimensionar<br />
o impacto produzi<strong>do</strong> pelo Parapan nos<br />
brasileiros e no País: ele causou um choque de<br />
cidadania e de igualdade poucas vezes visto.<br />
97
O que eles disseram <strong>do</strong> Parapan<br />
Foto: Divulgação / IPC<br />
Vital Severino Neto,<br />
Presidente <strong>do</strong> Comitê<br />
Paraolímpico Brasileiro (CPB)<br />
“A organização <strong>do</strong> Parapan Rio 2007 esteve<br />
nivelada a eventos como Paraolimpíadas de Atlanta,<br />
Sydney e Atenas. Eu não recebi nenhum tipo de<br />
reclamação contundente quanto à estrutura da Vila<br />
nem <strong>do</strong> transporte nem das instalações esportivas.<br />
Não tenho dúvida de que o Brasil instituiu um novo<br />
modelo. O Parapan criou um diferencial, é um marco<br />
no movimento paraolímpico internacional. Mu<strong>do</strong>use<br />
o paradigma <strong>do</strong> esporte”.<br />
Xavier González,<br />
Diretor executivo <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico<br />
Internacional (IPC)<br />
“A realidade superou o sonho. Sabia que as<br />
instalações e a organização seriam de alto nível,<br />
mas fatos como a participação <strong>do</strong> público, por<br />
exemplo, fizeram deste um Parapan muito especial.<br />
Ninguém esperava tu<strong>do</strong> o que aconteceu durante<br />
os sete dias de competição”.<br />
Foto: Divulgação / CPB<br />
Foto: Divulgação / CO-Rio<br />
Alberto Martins da Costa<br />
Chefe de missão <strong>do</strong> Brasil<br />
“Foram os melhores Jogos Parapan-americanos da<br />
história em termos de organização, de instalações<br />
e de recebimento das delegações. Foi uma grande<br />
lição que o Brasil pôde dar aos países das Américas<br />
e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sobre a organização de uma disputa<br />
dessa magnitude. Foi jogada a semente para que<br />
possamos continuar fazen<strong>do</strong> competições desse<br />
nível nas Américas. Este Parapan teve nível de<br />
Jogos Paraolímpicos”.<br />
98
Foto: Divulgação / CO-Rio<br />
Carlos Arthur Nuzman,<br />
Presidente <strong>do</strong> CO-Rio<br />
“Podemos afirmar que vivemos um momento<br />
histórico. Escrevemos uma das páginas mais<br />
importantes <strong>do</strong> esporte brasileiro e isso foi<br />
reconheci<strong>do</strong> internacionalmente, por atletas, por<br />
dirigentes e pela própria mídia”.<br />
Rob Needham<br />
Chefe de missão <strong>do</strong> Canadá<br />
“O nível de serviço esteve muito bom.<br />
As instalações foram muito bem construídas.<br />
O ambiente da Vila aju<strong>do</strong>u nossos atletas mais<br />
jovens a conhecerem como funciona uma<br />
disputa multiesportiva. Essa experiência será<br />
bastante útil para os Jogos Paraolímpicos de<br />
Pequim 2008”.<br />
Eduar<strong>do</strong> Obregón,<br />
Chefe de missão<br />
da delegação <strong>do</strong> México<br />
“O Parapan-americano foi magnífico. O Rio nos<br />
surpreendeu com Jogos extraordinários e instalações<br />
muito boas. Estamos contentes e agradeci<strong>do</strong>s<br />
por esta recepção. O que mais me agra<strong>do</strong>u foi o<br />
comportamento e a atitude das pessoas, o carinho<br />
que o público teve com o México”.<br />
Andrew Parsons,<br />
Presidente <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico<br />
das Américas (APC)<br />
“Um <strong>do</strong>s lega<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio 2007 será a continuidade<br />
<strong>do</strong> modelo Pan/Parapan, em Guadalajara 2011. Já<br />
foi assina<strong>do</strong> um memoran<strong>do</strong> de intenção no qual a<br />
cidade mexicana se compromete a realizar também<br />
os Jogos Parapan-americanos”.<br />
Foto: Divulgação / APC<br />
99
Os esportes <strong>do</strong>s Jogos<br />
O<br />
s esportes paraolímpicos têm<br />
grande semelhança com seus<br />
correspondentes olímpicos, com<br />
a particularidade da classificação<br />
funcional de cada competi<strong>do</strong>r. Esse critério é<br />
estabeleci<strong>do</strong> pelo nível de comprometimento<br />
que a deficiência impõe a cada um e tem por<br />
objetivo promover uma competição mais justa.<br />
Os atletas pertencem a seis grupos:<br />
1) atleta com paralisia cerebral<br />
2) atleta com lesão medular/poliomielite<br />
3) atleta com amputação<br />
4) atleta com deficiência visual<br />
5) atleta com deficiência mental<br />
6) Les autres (em português – os outros),<br />
termo francês para classificar to<strong>do</strong>s<br />
os atletas com alguma deficiência de<br />
mobilidade não incluída nos grupos acima<br />
A classificação para pessoas com deficiência<br />
visual é clínica. Já para os demais atletas, é<br />
funcional, porque analisa a potencialidade de<br />
movimento para um determina<strong>do</strong> esporte. A<br />
avaliação considera critérios físicos e técnicos.<br />
A classe em que o atleta está incluí<strong>do</strong> pode ser<br />
revista ao longo de sua carreira, seja em decorrência<br />
da evolução das condições motoras<br />
ou de alterações nas regras.<br />
Atletismo<br />
O atletismo é o esporte que agrega mais participantes<br />
no mun<strong>do</strong>. Praticam essa modalidade<br />
atletas com deficiência motora ou visual.<br />
São realizadas provas de pista e de campo.<br />
As adaptações das provas variam de acor<strong>do</strong><br />
com a deficiência <strong>do</strong>s atletas. Nas corridas, os<br />
competi<strong>do</strong>res cegos são acompanha<strong>do</strong>s por<br />
um guia, que tem a função de orientá-los sobre<br />
as delimitações da pista. As pessoas que<br />
sofreram amputação nas pernas podem usar<br />
próteses especiais e as que apresentam maior<br />
dificuldade de locomoção competem em cadeiras<br />
de três rodas.<br />
As classes <strong>do</strong> atletismo são:<br />
1- F (field, campo em inglês) para as provas de<br />
arremessos, lançamentos e saltos<br />
F11 a F13: atletas cegos e com deficiência visual<br />
F20: atletas com deficiência mental<br />
F32 a F38: atletas com paralisia cerebral<br />
F40: anões<br />
A classificação funcional é determinada por<br />
números. Quanto maior for este número, menor<br />
será o grau de comprometimento motor ou<br />
visual <strong>do</strong> atleta. A classe é precedida pela letra<br />
<strong>do</strong> esporte (em inglês). Natação, por exemplo,<br />
recebe a letra S de “swimming”. Para algumas<br />
modalidades, também existe uma classificação<br />
que utiliza a inicial da deficiência: B<br />
de blind (cego) para deficiência visual, sen<strong>do</strong><br />
dividi<strong>do</strong>s em B1 para atletas cegos, B2 para<br />
os que enxergam vultos e B3 para quem identifica<br />
algumas imagens; A para pessoas com<br />
amputação, cujos graus vão de A2 a A6, com<br />
subclassificações; e C para paralisia cerebral,<br />
varian<strong>do</strong> de C2 a C4 para cadeirantes e<br />
C5 a C8 para deficientes com capacidade de<br />
locomoção. Confira as dez modalidades <strong>do</strong>s<br />
III Jogos Parapan-americanos.<br />
F41 a F46: atletas com amputação<br />
F51 a F58: cadeirantes<br />
2 - T (track, pista em inglês) para provas<br />
de velocidade, meio fun<strong>do</strong>, fun<strong>do</strong> e<br />
revezamento<br />
T11 a T13: atletas cegos e com deficiência visual<br />
T32 a T38: atletas com paralisia cerebral<br />
(de 32 a 34 cadeirantes e<br />
de 35 a 38 andantes)<br />
T42 a T46: atletas com amputação<br />
T51 a T54: cadeirantes<br />
100
Foto: Francisco Medeiros / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Basquete em cadeira de rodas<br />
Foi o primeiro esporte adapta<strong>do</strong> pratica<strong>do</strong> no Brasil<br />
e uma das modalidades que mais atraem público nas<br />
competições internacionais. O jogo é disputa<strong>do</strong> apenas<br />
por atletas com deficiência físico-motora, sob as regras<br />
adaptadas da Federação Internacional de Basquete<br />
Ama<strong>do</strong>r (Fiba). A quadra e a tabela têm as mesmas<br />
dimensões <strong>do</strong> basquete convencional. Os joga<strong>do</strong>res de<br />
cada equipe recebem classificação funcional que varia<br />
de 1 a 4,5 pontos. Quanto menor é o comprometimento,<br />
maior será a pontuação. Para manter o equilíbrio das<br />
partidas, a soma de pontos da classifi cação funcional<br />
<strong>do</strong>s atletas que estiverem em quadra não pode, em nenhum<br />
momento <strong>do</strong> jogo, ultrapassar 14 pontos. A equipe<br />
masculina <strong>do</strong> Brasil ganhou a medalha de bronze no Parapan<br />
Rio 2007.<br />
Voleibol senta<strong>do</strong><br />
O vôlei paraolímpico é joga<strong>do</strong> com o atleta senta<strong>do</strong> no<br />
piso. A distinção em relação ao vôlei olímpico se dá basicamente<br />
pelas dimensões reduzidas da quadra: 10m<br />
x 6m com a rede medin<strong>do</strong> 1,15m de altura para o vôlei<br />
masculino e 1,05m no feminino, enquanto no olímpico<br />
a quadra mede 18m x 9m e a rede tem altura de 2,43m<br />
para homens ou 2,24m para mulheres. O sistema de pontuação<br />
é o mesmo e as regras <strong>do</strong> esporte sofrem apenas<br />
pequenas mudanças. O bloqueio de saque é permiti<strong>do</strong><br />
e to<strong>do</strong>s os joga<strong>do</strong>res devem manter, pelo menos, uma<br />
parte <strong>do</strong> corpo sempre em contato com o chão. No vôlei<br />
senta<strong>do</strong>, os atletas têm deficiência físico-motora. A<br />
maioria <strong>do</strong>s praticantes tem algum membro amputa<strong>do</strong>.<br />
A equipe brasileira foi ouro no Rio 2007.<br />
Futebol de 5<br />
O futebol de 5 é pratica<strong>do</strong> por atletas com defi ciência<br />
visual. Cada equipe é formada por cinco joga<strong>do</strong>res – um<br />
goleiro, o único que enxerga perfeitamente, e quatro joga<strong>do</strong>res<br />
de linha, que atuam com vendas nos olhos para<br />
que atletas com diferentes níveis de deficiência visual<br />
estejam em igualdade de condições. A modalidade é<br />
praticada a céu aberto, para que o ruí<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong> pela<br />
acústica <strong>do</strong> ginásio não confunda os joga<strong>do</strong>res. As dimensões<br />
<strong>do</strong> campo são de 40m x 20m e o jogo tem duração<br />
de 50 minutos (<strong>do</strong>is tempos de 25). Próximas às linhas<br />
laterais existem duas redes de 1,20m de altura, que<br />
impedem que a bola saia <strong>do</strong> campo. A bola tem guizos<br />
internos que produzem efeitos sonoros para orientar os<br />
atletas. A seleção brasileira é campeã mundial, paraolímpica<br />
e parapan-americana da modalidade.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> Foto: Francisco Medeiros / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
101
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Futebol de 7<br />
O futebol de 7 é disputa<strong>do</strong> por atletas com paralisia cerebral.<br />
Ao contrário <strong>do</strong> que o nome sugere, a paralisia<br />
cerebral provoca deficiência motora, e não mental. Os<br />
joga<strong>do</strong>res de futebol de 7 têm baixo comprometimento<br />
motor. Mas em todas as equipes deve haver pelo menos<br />
um atleta com um comprometimento maior. Se não houver<br />
joga<strong>do</strong>r nessa condição, a equipe deve jogar com<br />
seis integrantes. A dimensão <strong>do</strong> campo é de 75m x 55m,<br />
com balizas de 5m x 2m. A duração da partida é de 60<br />
minutos, dividi<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is tempos de 30, e segue regras<br />
da Fifa, com pequenas modificações. Não há regra de<br />
impedimento, e a cobrança <strong>do</strong> lateral pode ser feita com<br />
apenas uma das mãos. O futebol de 7 brasileiro foi campeão<br />
em Atenas e no Parapan Rio 2007.<br />
Judô<br />
No judô, atletas cegos ou deficientes visuais se enfrentam<br />
no tatame seguin<strong>do</strong> as mesmas regras de competição<br />
da Federação Internacional de Judô, com pequenas<br />
adaptações. Os atletas iniciam a luta com os oponentes<br />
cada um seguran<strong>do</strong> o quimono (traje de combate <strong>do</strong> ju<strong>do</strong>ca)<br />
<strong>do</strong> outro. A luta é interrompida quan<strong>do</strong> os oponentes<br />
perdem o contato. Não há punições para quem sai da<br />
área de combate. Ju<strong>do</strong>cas de três categorias participam:<br />
B1 (cegos), B2 (percepção de vulto) e B3 (definição de<br />
imagem). No Parapan Rio 2007, a equipe brasileira somou<br />
três ouros, <strong>do</strong>is no feminino e um no masculino.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Foto: Divulgação / CPB<br />
Halterofilismo<br />
O halterofilismo é pratica<strong>do</strong> por atletas com paralisia cerebral,<br />
lesão medular, amputação de membros inferiores<br />
e outras deficiências. Dividi<strong>do</strong>s por categoria de peso (10<br />
no total), os atletas competem deita<strong>do</strong>s durante a prova.<br />
Enquanto a modalidade olímpica desenvolve a explosão<br />
e o arranque, o levantamento de peso paraolímpico estimula<br />
a força. O tempo para conclusão da apresentação<br />
é de <strong>do</strong>is minutos. Vence quem conseguir a maior soma<br />
de pesos em três levantamentos. O Brasil garantiu um<br />
ouro no Rio 2007 na categoria masculino leve.<br />
102
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Tênis de mesa<br />
As competições de tênis de mesa estão divididas basicamente<br />
entre andantes e cadeirantes. As partidas podem<br />
ser individuais ou em duplas. Atletas com todas as<br />
deficiências competem neste esporte, com exceção <strong>do</strong>s<br />
cegos. São dividi<strong>do</strong>s em 11 classes funcionais. As regras<br />
nas competições paraolímpicas são praticamente as<br />
mesmas <strong>do</strong> esporte convencional, com sutis alterações<br />
para os atletas em cadeira de rodas, principalmente no<br />
que se refere à distância entre os suportes da mesa e os<br />
atletas. As 11 medalhas de ouro conquistadas pelo Brasil<br />
no Rio 2007 ajudaram a posicionar o País em primeiro no<br />
quadro da modalidade à época.<br />
Natação<br />
Homens e mulheres com deficiência físico-motora e visual<br />
disputam as provas de natação, que podem ser individuais<br />
ou em revezamento. As competições vão de 50m<br />
a 800m nos quatro estilos: livre, peito, costas e borboleta.<br />
Não é permiti<strong>do</strong> o uso de próteses ou qualquer outro<br />
aparato. As regras são similares à sua versão olímpica,<br />
com adaptações – em especial com relação às largadas,<br />
viradas e chegadas. Os nada<strong>do</strong>res cegos recebem aviso<br />
<strong>do</strong> treina<strong>do</strong>r quan<strong>do</strong> estão se aproximan<strong>do</strong> das bordas<br />
da piscina. Eles são dividi<strong>do</strong>s nas classes: S1 a S10<br />
(atletas com deficiência físico-motora); S11 a S13 (atletas<br />
cegos e com deficiência visual); e S14 (atletas com<br />
deficiência mental). O Brasil conquistou 39 medalhas de<br />
ouro no Rio 2007.<br />
Tênis em cadeira de rodas<br />
O tênis em cadeira de rodas é a modalidade <strong>do</strong> esporte<br />
paraolímpico que mais tem cresci<strong>do</strong> nos últimos anos. As<br />
regras aplicadas às competições paraolímpicas são praticamente<br />
as mesmas <strong>do</strong> tênis. As diferenças são em relação<br />
ao toque da bola no piso, que pode ser duplo, e às<br />
adaptações <strong>do</strong>s equipamentos <strong>do</strong>s tenistas. As cadeiras<br />
de rodas são feitas de materiais leves e as raquetes têm<br />
uma tira lateral que lhes confere maior durabilidade. O<br />
tênis em cadeira de rodas é pratica<strong>do</strong> por atletas que têm<br />
perda de função parcial ou total de uma ou ambas as pernas,<br />
ou ainda, na chamada categoria Quad, quan<strong>do</strong> têm<br />
ao menos três membros afeta<strong>do</strong>s. Mais um ouro para o<br />
Brasil foi conquista<strong>do</strong> nesta modalidade no Rio 2007.<br />
Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />
103
O BALANÇO DO PARAPAN<br />
Os números, o quadro de medalhas<br />
e os recordes mundiais quebra<strong>do</strong>s<br />
na melhor edição <strong>do</strong>s Jogos<br />
Parapan-americanos da história.<br />
QUADRO COMPLETO DE MEDALHAS DO PARAPAN<br />
País Ouro Prata Bronze Total<br />
1 Brasil 83 68 77 228<br />
2 Canadá 49 37 26 112<br />
3 Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s 37 44 36 117<br />
4 México 37 43 37 117<br />
5 Cuba 28 21 11 60<br />
6 Argentina 7 16 30 53<br />
7 Venezuela 5 10 15 30<br />
8 Peru 3 1 0 4<br />
9 Colômbia 2 5 9 17<br />
10 Jamaica 1 2 2 5<br />
11 Porto Rico 1 1 2 4<br />
12 Equa<strong>do</strong>r 1 0 2 3<br />
13 Costa Rica 0 1 2 3<br />
14 Chile 0 1 2 3<br />
15 Panamá 0 1 0 1<br />
16 Uruguai 0 1 0 1<br />
17 Paraguai 0 0 1 1<br />
18 El Salva<strong>do</strong>r 0 0 1 1<br />
19 Guatemala 0 0 0 0<br />
20 Honduras 0 0 0 0<br />
21 Nicarágua 0 0 0 0<br />
22 Suriname 0 0 0 0<br />
23 Granada 0 0 0 0<br />
24 Haiti 0 0 0 0<br />
25 República Dominicana 0 0 0 0<br />
104
RECORDES MUNDIAIS SUPERADOS NO PARAPAN-AMERICANO<br />
Data Gênero <strong>Esporte</strong> Prova Atleta Classe País Recorde<br />
13/08 F Atletismo<br />
Lançamento de dar<strong>do</strong><br />
F33/34/52/53<br />
Esther Rivera Robles F53 MEX 18m87cm<br />
13/08 M Atletismo 100m t11 Lucas Pra<strong>do</strong> T11 BRA 11s29<br />
14/08 M Atletismo<br />
15/08 F Atletismo<br />
16/08 M Atletismo<br />
16/08 M Atletismo<br />
Lançamento de disco<br />
F54-56<br />
Arremesso de peso<br />
F55-58<br />
Arremesso de peso<br />
F53-55<br />
Arremesso de peso<br />
F53-55<br />
Leonar<strong>do</strong> Díaz Aldana F56 CUB 39m90cm<br />
Angeles Ortiz F58 MEX 10m23cm<br />
Scott Winkler F54 USA 10m23cm<br />
Mauro Máximo de Jesus F53 MEX 8m55cm<br />
14/08 F Halterofilismo<br />
Peso leve aberto<br />
- 52kg<br />
Amalia Perez – MEX 130,5Kg<br />
13/08 M Natação 100m borboleta s10 André Brasil S10 BRA 57s55<br />
13/08 M Natação 50m na<strong>do</strong> livre s4 Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva S4 BRA 34s69<br />
14/08 M Natação<br />
150m medley<br />
Individual sm4<br />
Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva SM4 BRA 2min32s57<br />
15/08 M Natação 200m na<strong>do</strong> livre s4 Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva S4 BRA 2min51s81<br />
15/08 M Natação 100m na<strong>do</strong> livre s10 André Esteves S10 BRA 52s35<br />
15/08 F Natação 400m na<strong>do</strong> livre s13 Valérie Grand Maison S13 CAN 4min36s51<br />
15/08 M Natação 200m na<strong>do</strong> livre s4 Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva S4 CAN 2min50s30<br />
15/08 M Natação 200m na<strong>do</strong> livre s5 Daniel Dias S5 BRA 2min37s72<br />
16/08 M Natação 50m borboleta s4 Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva S4 BRA 44s41<br />
16/08 M Natação<br />
200m medley<br />
Individual sm10<br />
Benoit Huot SM10 CAN 2min14s57<br />
16/08 M Natação 50m borboleta s4 Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva S4 BRA 42s18<br />
NÚMEROS DO PARAPAN<br />
LOCAIS DE COMPETIÇÃO E CERIMÔNIAS DO PARAPAN<br />
29.939 credenciais validadas<br />
1.115 atletas participaram da maior competição<br />
671 oficiais<br />
106 dirigentes e delega<strong>do</strong>s técnicos<br />
brasileiros e estrangeiros<br />
358 juízes e árbitros coordenan<strong>do</strong> as disputas<br />
5.000 voluntários<br />
1.518 colabora<strong>do</strong>res (força de trabalho <strong>do</strong> CO-Rio)<br />
8.316 terceiriza<strong>do</strong>s atuan<strong>do</strong> como fornece<strong>do</strong>res em geral<br />
9.269 integrantes <strong>do</strong>s três níveis de governo<br />
980 funcionários da Caixa Econômica Federal<br />
357 jornalistas de imprensa escrita, de seis países<br />
750 profissionais de Rádio e TV<br />
280 mil especta<strong>do</strong>res<br />
Evento<br />
Cerimônia de abertura<br />
Atletismo<br />
Basquete<br />
Futebol de 5<br />
Futebol de 7<br />
Halterofilismo<br />
Judô<br />
Natação<br />
Tênis em cadeira de rodas<br />
Tênis de mesa<br />
Voleibol senta<strong>do</strong><br />
Cerimônia de encerramento<br />
Local<br />
Arena Multiuso<br />
Estádio João Havelange<br />
Arena Multiuso<br />
Complexo Esportivo de<br />
Deo<strong>do</strong>ro<br />
Complexo Esportivo de<br />
Deo<strong>do</strong>ro<br />
Riocentro – Pavilhão 3A<br />
Riocentro – Pavilhão 4A<br />
Parque Aquático Maria Lenk<br />
Marapendi Country Club<br />
Riocentro – Pavilhão 4B<br />
Riocentro – Pavilhão 3B<br />
Vila Parapan-americana<br />
105
AS INSTALAÇÕES<br />
ESPORTIVAS<br />
Oito novas arenas<br />
permanentes, cinco outras<br />
totalmente modernizadas<br />
e instalações provisórias<br />
de alto padrão. O Pan<br />
transforma o Rio de Janeiro<br />
em <strong>do</strong>no de uma das mais<br />
modernas plataformas<br />
esportivas <strong>do</strong> planeta<br />
106
O Complexo Esportivo de<br />
Deo<strong>do</strong>ro, o Parque<br />
Aquático Maria Lenk, a<br />
Arena Provisória <strong>do</strong> Vôlei,<br />
o Estádio Olímpico João<br />
Havelange, a Arena<br />
Multiuso e o Maracanã<br />
(em senti<strong>do</strong><br />
horário a partir<br />
<strong>do</strong> alto, à esq.):<br />
novos projetos<br />
e reformas que mudaram<br />
a realidade esportiva<br />
<strong>do</strong> Rio e a <strong>do</strong> País<br />
Foto: Divulgação / Prefeitura <strong>do</strong> Rio<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Foto: Donald Miralle / Getty Images<br />
107
108
109
110
111
Um investimento inédito em 50 anos<br />
O<br />
s lega<strong>do</strong>s mais importantes deixa<strong>do</strong>s<br />
pelos Jogos Pan-americanos<br />
Rio 2007 são as oito instalações<br />
permanentes construídas e as cinco<br />
reformadas no Rio de Janeiro. Não bastasse<br />
a magnitude <strong>do</strong> feito, ele se torna ainda mais<br />
importante quan<strong>do</strong> se constata que, no Brasil,<br />
nada de tão inova<strong>do</strong>r havia si<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> em<br />
matéria de equipamentos esportivos desde os<br />
anos 50, com a construção <strong>do</strong> Estádio Mário<br />
Filho, ou simplesmente Maracanã, que se tornou<br />
verdadeiro cartão-postal <strong>do</strong> País. Ainda na<br />
década de 50, havia si<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> o Conjunto<br />
Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, em<br />
São Paulo, composto por <strong>do</strong>is ginásios poliesportivos,<br />
um estádio com pista de atletismo,<br />
conjunto aquático e o Palácio <strong>do</strong> Judô. Em<br />
1963, o Pan realiza<strong>do</strong> na capital paulista deixou<br />
como lega<strong>do</strong> seis prédios da Vila Pan-americana,<br />
que hoje forma o Conjunto Residencial da<br />
Universidade de São Paulo (Crusp), piscina e<br />
quadras que agora compõem o Centro de Práticas<br />
Esportivas da USP (Cepeusp).<br />
Na opinião da maioria de atletas, técnicos, jornalistas<br />
e dirigentes, brasileiros e estrangeiros<br />
que atuaram no Pan, o conjunto ergui<strong>do</strong> para<br />
o evento é comparável ao das melhores plataformas<br />
esportivas internacionais. “A magnífi ca<br />
infra-estrutura constitui um importante lega<strong>do</strong><br />
para o Rio e o Brasil”, disse o presidente<br />
da Organização Desportiva Pan-Americana<br />
(Odepa), Mario Vásquez Raña. “As instalações<br />
esportivas e a Vila <strong>do</strong> Pan são de primeiro<br />
mun<strong>do</strong>”, declarou a ex-nada<strong>do</strong>ra Patrícia<br />
Amorim, que integrou delegações brasileiras<br />
em Olimpíadas e outras competições e hoje<br />
é verea<strong>do</strong>ra carioca. “Não foram medi<strong>do</strong>s esforços.<br />
Estou encantada, com uma impressão<br />
maravilhosa”, completou.<br />
Alguns palcos de competição tornaram-se<br />
referência internacional no mun<strong>do</strong> esportivo,<br />
como o Centro Nacional de Hipismo, o Centro<br />
Nacional de Tiro Esportivo (ambos no Complexo<br />
de Deo<strong>do</strong>ro), o Estádio João Havelange<br />
e a Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s (composta da Arena<br />
Olímpica, <strong>do</strong> Parque Aquático Maria Lenk e <strong>do</strong><br />
Velódromo da Barra). “É a melhor infra-estrutura<br />
esportiva que eu já vi em Pan-americanos”,<br />
declarou Julio Maglione, membro <strong>do</strong> corpo<br />
executivo <strong>do</strong> Comitê Olímpico Internacional<br />
(COI) e presidente <strong>do</strong> Comitê de Coordenação<br />
da Odepa e <strong>do</strong> Comitê Olímpico Uruguaio. “A<br />
qualidade é excelente”, resumiu Felipe Muñoz,<br />
presidente <strong>do</strong> Comitê Olímpico Mexicano.<br />
Para analisar o processo de construção das<br />
instalações, é preciso levar em conta a mudança<br />
de escopo <strong>do</strong> projeto: o que estava previsto<br />
no <strong>do</strong>ssiê de candidatura era diferente <strong>do</strong> que<br />
foi executa<strong>do</strong>. Após a escolha <strong>do</strong> Rio como cidade-sede<br />
<strong>do</strong>s Jogos, os organiza<strong>do</strong>res optaram<br />
por fazer “o melhor Pan da História”, como<br />
costumava-se dizer, e a área de instalações,<br />
naturalmente, foi uma das que mais sofreram<br />
alterações. O estádio de atletismo previsto para<br />
10 mil pessoas no <strong>do</strong>ssiê de candidatura, por<br />
exemplo, foi substituí<strong>do</strong> pelo João Havelange,<br />
capaz de abrigar 45 mil torce<strong>do</strong>res.<br />
A grande mudança <strong>do</strong> projeto inicial para patamares<br />
de excelência internacional fez com que<br />
o planejamento de instalações fosse refeito a<br />
partir de 2003, desta vez com a consultoria da<br />
empresa australiana MI Associates, contratada<br />
para conduzir o processo em conjunto com<br />
o Comitê Organiza<strong>do</strong>r Rio 2007 (CO-Rio). O<br />
governo federal fez convênios com a prefeitura<br />
e o governo estadual para repassar recursos<br />
que seriam fundamentais na conclusão de instalações<br />
importantes, como o Maria Lenk, o<br />
Maracanã e o Maracanãzinho.<br />
Nenhuma das obras das instalações permanentes<br />
seguiu o ritmo deseja<strong>do</strong> pelos governos<br />
nem terminou no prazo estipula<strong>do</strong> no planejamento<br />
<strong>do</strong> CO-Rio. “Todas deveriam ficar prontas<br />
de três a quatro meses antes <strong>do</strong>s Jogos<br />
para treinar as equipes que iriam operá-las.<br />
Assim, é mais provável que os Jogos aconteçam<br />
com tranqüilidade”, explica o australiano<br />
John Baker, arquiteto contrata<strong>do</strong> pela MI Associates.<br />
Os motivos para a demora vão desde<br />
o grande volume de exigências burocráticas<br />
de diversos órgãos, passan<strong>do</strong> por problemas<br />
operacionais das empreiteiras até disputas judiciais<br />
em torno da posse de terrenos ou de<br />
112
autorizações <strong>do</strong> Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico<br />
e Artístico Nacional (Iphan). Cada obra tem<br />
seu histórico particular de dificuldades.<br />
As instalações temporárias também sofreram<br />
com o não-cumprimento de prazos. Neste<br />
caso, o principal motivo foi a inexperiência<br />
<strong>do</strong> CO-Rio: os projetos eram elabora<strong>do</strong>s pelo<br />
Comitê, que os repassava aos governos, responsáveis<br />
por licitá-los. Mas a falta de especificações<br />
motivou a intervenção <strong>do</strong>s entes governamentais<br />
para que os editais tivessem os<br />
parâmetros mínimos necessários exigi<strong>do</strong>s, o<br />
que atrasou o processo (detalhes mais adiante).<br />
O adiamento, embora não tenha causa<strong>do</strong> prejuízos<br />
na área de instalações, prejudicou o<br />
treinamento das equipes e a montagem <strong>do</strong>s<br />
sistemas de tecnologia. O tempo foi curto<br />
para corrigir eventuais falhas de projetos. O<br />
não-cumprimento <strong>do</strong>s cronogramas também<br />
produziu desconfiança na opinião pública. O<br />
temor era o de passar pelo constrangimento<br />
de não ver os espaços prontos a tempo. Mas<br />
a insegurança acabou nas semanas anteriores<br />
aos Jogos, na medida em que as plataformas<br />
eram entregues. Brasileiros e estrangeiros<br />
constataram, então, que o Pan deixaria como<br />
principal herança um <strong>do</strong>s mais modernos conjuntos<br />
de equipamentos esportivos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />
capaz de gerar ganhos não só para o treinamento<br />
de atletas como para a realização de<br />
diversos eventos nacionais e internacionais.<br />
As reações durante o Campeonato Mundial Militar<br />
de Pentatlo Moderno, um <strong>do</strong>s eventos-teste<br />
<strong>do</strong> Pan, realiza<strong>do</strong> no Complexo de Deo<strong>do</strong>ro<br />
em maio de 2007, por exemplo, ilustram esta<br />
mudança de visão. “As instalações são excepcionais,<br />
a iluminação <strong>do</strong> tiro está excelente. Na<br />
natação, o bloco é extremamente bem feito e a<br />
piscina, toda nivelada”, elogiou a pernambucana<br />
Yane Marques, campeã na categoria Open.<br />
“Os alvos de tiro são eletrônicos e, na esgrima,<br />
eu nunca tinha visto um painel tão completo<br />
como o que transmite os resulta<strong>do</strong>s”, acrescentou<br />
a atleta. “Fiquei impressiona<strong>do</strong> com o<br />
que é ofereci<strong>do</strong> em Deo<strong>do</strong>ro para a prática <strong>do</strong><br />
hipismo. Ainda não tinha visto nada igual”, elogiou,<br />
na mesma competição, o gaúcho Daniel<br />
<strong>do</strong>s Santos.<br />
“O governo federal construiu em Deo<strong>do</strong>ro um<br />
conjunto esportivo moderno, à altura das grandes<br />
competições mundiais. Para que tu<strong>do</strong><br />
desse certo na época <strong>do</strong> Pan, os testes feitos<br />
durante o Mundial Militar de Pentatlo Moderno<br />
foram decisivos. O CO-Rio teve, naquele momento,<br />
a oportunidade de avaliar os pontos positivos<br />
da estrutura que estava sen<strong>do</strong> oferecida<br />
e, eventualmente, ajustar possíveis falhas que<br />
fossem registradas, a tempo para corrigi-las<br />
para o Pan.”, explica o secretário <strong>do</strong> Ministério<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> para os Jogos, Ricar<strong>do</strong> Leyser.<br />
Até mesmo na reabertura <strong>do</strong> Maracanãzinho,<br />
que causou muita preocupação por causa <strong>do</strong><br />
atraso nas obras, as avaliações de atletas e<br />
técnicos beiraram a euforia. O ginásio foi reinaugura<strong>do</strong><br />
em junho para o evento-teste Desafio<br />
Internacional de Voleibol Feminino, entre<br />
Brasil e Sérvia. “Na Itália, onde jogo, não existe<br />
um ginásio com estas dimensões. Este é<br />
hoje um <strong>do</strong>s melhores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”, animou-se<br />
a brasileira Sheilla. “Fico muito orgulhoso de<br />
voltar ao ginásio e vê-lo desta forma”, declarou<br />
o técnico da seleção feminina brasileira,<br />
José Roberto Guimarães. “Só vi algo deste<br />
nível no Japão”, afirmou a capitã da seleção<br />
sérvia, Jelena Nikolic.<br />
Para o presidente <strong>do</strong> CO-Rio, Carlos Arthur<br />
Nuzman, as instalações são um <strong>do</strong>s mais importantes<br />
lega<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Jogos: “Nos últimos<br />
50 anos, nenhuma cidade brasileira recebeu<br />
um conjunto de plataformas esportivas ao<br />
menos próximo deste. Alguns esportes, como<br />
hóquei sobre grama, tiro esportivo e ciclismo,<br />
nem sequer contavam com um local próprio<br />
de disputa no País”.<br />
113
As instalações se tornam olímpicas<br />
O<br />
custo estima<strong>do</strong> para as construções<br />
sofreu ao menos três ajustes<br />
ao longo da preparação <strong>do</strong>s<br />
Jogos. No <strong>do</strong>ssiê revisa<strong>do</strong> em fevereiro<br />
de 2003, estava estima<strong>do</strong> em R$ 333<br />
milhões. Quatro anos depois, em fevereiro de<br />
2007, por ocasião da assinatura da Matriz de<br />
Responsabilidades, chegava a R$ 1,5 bilhão<br />
(ver capítulo A Atuação <strong>do</strong> Governo Federal e<br />
a Evolução <strong>do</strong> Orçamento). Ao final, o custo de<br />
construções, reformas e operações durante o<br />
Pan e o Parapan fechou em torno de R$ 1,6<br />
bilhão. Hoje, algumas instalações estão praticamente<br />
prontas caso o Rio venha a abrigar<br />
os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, como<br />
o Centro Nacional de Tiro Esportivo Tenente<br />
Guilherme Paraense, o Centro Nacional de Hipismo<br />
General Eloy Menezes, o Maracanãzinho<br />
e a Arena Olímpica.<br />
Algumas dessas instalações foram projetadas<br />
para atender às exigências olímpicas e carecem<br />
apenas de ajustes já previstos, como a<br />
ampliação da capacidade de público, caso <strong>do</strong><br />
Estádio João Havelange, construí<strong>do</strong> para 45 mil<br />
pessoas mas com previsão de aumento para<br />
60 mil, ou adaptações das áreas operacionais.<br />
A decisão de conferir aos Jogos um nível internacional<br />
de excelência elevou os custos das<br />
obras, mas foi também uma das responsáveis<br />
pelo fato de a competição ter si<strong>do</strong> considerada<br />
pelo próprio presidente da Odepa, Mario Vásquez<br />
Raña, “a melhor da história”, e por ter deixa<strong>do</strong><br />
ao Rio um parque de instalações que o<br />
credencia para se tornar cidade-sede de uma<br />
futura realização <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos. “Em<br />
2003, quan<strong>do</strong> começamos a executar o planejamento,<br />
pensamos: se é necessário e inevitável<br />
investir em instalações esportivas – e não<br />
somos um país com facilidade para financiar<br />
a renovação desses parques –, por que não<br />
fazer essas plataformas com padrão internacional,<br />
como gostam de definir alguns? Até<br />
porque tínhamos pouco, quase nada à época”,<br />
justifica Nuzman. No <strong>do</strong>ssiê de candidatura<br />
aprova<strong>do</strong> pela Odepa em 2002 constavam 23<br />
instalações, conforme quadro a seguir, que<br />
mostra onde seria realiza<strong>do</strong> o Pan.<br />
INSTALAÇÕES PREVISTAS NO DOSSIÊ<br />
Complexo Esportivo <strong>do</strong> Autódromo<br />
Arena Multiuso – Basquete e ginástica rítmica<br />
Estádio de Atletismo – Atletismo<br />
Parque Aquático – Natação e na<strong>do</strong> sincroniza<strong>do</strong><br />
Velódromo – Ciclismo de pista<br />
Autódromo Nelson Piquet – Ciclismo de estrada<br />
Complexo Esportivo <strong>do</strong> Riocentro<br />
Badminton, boxe, esgrima, judô, levantamento de peso, lutas, taekwon<strong>do</strong> e tênis de mesa<br />
Cidade <strong>do</strong> Rock<br />
Beisebol, softbol e tiro com arco<br />
Estádio de Remo da Lagoa<br />
Canoagem de velocidade e remo<br />
Quinta da Boa Vista<br />
Canoagem slalom<br />
114
Parque Natural Municipal <strong>do</strong> Mendanha<br />
Ciclismo de mountain bike<br />
Complexo Esportivo <strong>do</strong> Maracanã<br />
Estádio <strong>do</strong> Maracanã – Futebol, cerimônias de abertura e encerramento e chegada da maratona<br />
Ginásio <strong>do</strong> Maracanãzinho<br />
Vôlei<br />
Parque Aquático Júlio Delamare<br />
Saltos ornamentais e pólo aquático<br />
Estádio de Moça Bonita (Bangu)<br />
Futebol<br />
Estádio Ítalo del Cima (Campo Grande)<br />
Futebol<br />
Centro de Futebol Zico (CFZ)<br />
Futebol e hóquei sobre grama<br />
Complexo Esportivo Miécimo da Silva<br />
Ginástica artística e handebol<br />
Vila Militar de Deo<strong>do</strong>ro<br />
Hipismo e tiro esportivo<br />
Colégio Militar<br />
Pentatlo moderno<br />
Clube Marapendi<br />
Tênis<br />
Arena <strong>do</strong> Posto 6<br />
Triatlo<br />
Marina da Glória<br />
Vela<br />
Arena de Copacabana<br />
Vôlei de Praia<br />
Vila Pan-americana<br />
Inicialmente localizada na Avenida Salva<strong>do</strong>r Allende<br />
115
Com o tempo, foram feitos ajustes, e um<br />
<strong>do</strong>s motivos foi a já citada mudança de escopo<br />
<strong>do</strong> projeto. Alguns equipamentos fi caram<br />
acanha<strong>do</strong>s demais para o padrão que<br />
se pretendia. Outra razão foram as alterações<br />
na relação de modalidades tradicionalmente<br />
feitas pela Odepa até o fechamento<br />
<strong>do</strong> programa defi nitivo. Uma delas saiu<br />
<strong>do</strong> programa em 2005, a canoagem slalom,<br />
e outras oito entraram: ciclismo BMX, ginástica<br />
de trampolim, futsal, caratê, patinação<br />
artística, squash, esqui aquático e<br />
maratona aquática. Isso também provocou<br />
impacto no orçamento previsto inicialmente.<br />
O objetivo <strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>res de manter as<br />
mesmas modalidades <strong>do</strong> programa de Pequim<br />
2008 foi conquista<strong>do</strong>, à exceção da<br />
canoagem slalom. Outros locais chegaram a<br />
ser cogita<strong>do</strong>s, mas foram excluí<strong>do</strong>s no processo<br />
de ajuste, caso <strong>do</strong> Estádio <strong>do</strong> Olaria<br />
(futebol), <strong>do</strong> Estádio de São Januário (futebol),<br />
<strong>do</strong> Sambódromo (ciclismo BMX), da Escola<br />
Naval e da Sociedade Hípica Brasileira<br />
(pentatlo moderno). Veja abaixo como fi cou:<br />
RELAÇÃO FINAL DE INSTALAÇÕES<br />
Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro<br />
Centro Nacional de Hipismo – Hipismo<br />
Centro Nacional de Tiro Esportivo – Tiro esportivo<br />
Centro de Hóquei sobre Grama – Hóquei sobre grama<br />
Centro de Pentatlo Moderno – Pentatlo moderno<br />
Centro de Tiro com Arco – Tiro com arco<br />
Complexo Esportivo <strong>do</strong> Maracanã<br />
Estádio <strong>do</strong> Maracanã – Cerimônias de abertura e encerramento e futebol<br />
Ginásio <strong>do</strong> Maracanãzinho - Vôlei<br />
Parque Aquático Júlio Delamare - Pólo aquático<br />
Complexo Esportivo <strong>do</strong> Riocentro<br />
Pavilhão 2 – Boxe e levantamento de peso<br />
Pavilhão 3A – Esgrima, ginástica rítmica e ginástica de trampolim<br />
Pavilhão 3B – Futsal e handebol<br />
Pavilhão 4A – Judô, lutas e taekwon<strong>do</strong><br />
Pavilhão 4B – Badminton e tênis de mesa<br />
Estádio João Havelange<br />
Atletismo e futebol<br />
116
Complexo Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s (antigo Complexo Esportivo <strong>do</strong> Autódromo)<br />
Arena Olímpica (Arena Multiuso) – Basquete e ginástica artística<br />
Parque Aquático Maria Lenk – Natação, na<strong>do</strong> sincroniza<strong>do</strong> e saltos ornamentais<br />
Velódromo – Ciclismo de pista e patinação em velocidade<br />
Complexo Esportivo Miécimo da Silva<br />
Futebol, caratê, patinação artística e squash<br />
Estádio de Remo da Lagoa<br />
Canoagem e remo<br />
Clube Marapendi<br />
Tênis<br />
Marina da Glória<br />
Vela<br />
Arena de Copacabana<br />
Vôlei de praia<br />
Arena <strong>do</strong> Posto 6<br />
Triatlo e maratona aquática<br />
CFZ<br />
Futebol<br />
Morro <strong>do</strong> Outeiro<br />
Ciclismo de mountain bike e BMX<br />
Cidade <strong>do</strong> Rock<br />
Beisebol e softbol<br />
Parque <strong>do</strong> Flamengo<br />
Ciclismo de estrada e maratona<br />
Clube <strong>do</strong>s Caiçaras<br />
Esqui aquático<br />
Barra Bowling<br />
Boliche<br />
117
118
Do papel para a realidade<br />
O<br />
primeiro passo para a construção<br />
de uma instalação era a definição<br />
sobre quem arcaria com os custos<br />
da obra e, na etapa seguinte,<br />
a forma como estes equipamentos seriam<br />
financia<strong>do</strong>s pelos responsáveis. No caso <strong>do</strong><br />
governo federal, se o faria por meio de contrato<br />
(licitação), convênio (com terceiros) ou<br />
destaque de crédito (transferência para outros<br />
órgãos federais).<br />
O Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> acabou utilizan<strong>do</strong> os<br />
três tipos de financiamento: celebrou convênios<br />
com a prefeitura e o governo estadual;<br />
fez transferências de recursos para o Exército<br />
via Ministério da Defesa; e conduziu licitações<br />
para a construção <strong>do</strong> Complexo Esportivo de<br />
Deo<strong>do</strong>ro e para a montagem de instalações<br />
temporárias.<br />
No caso das construções permanentes, após<br />
a apresentação de um esboço pelo Comitê<br />
Organiza<strong>do</strong>r Rio 2007 (CO-Rio), ficava a cargo<br />
<strong>do</strong>s entes governamentais decidirem a contratação<br />
das empresas que fariam o projeto básico.<br />
Em seguida, contratavam a construtora<br />
que desenvolveria o projeto executivo e realizaria<br />
a obra. No caso das instalações temporárias,<br />
a elaboração <strong>do</strong>s projetos básicos ficava<br />
a cargo <strong>do</strong> CO-Rio, mas a contratação das<br />
construtoras também era feita pelos governos.<br />
O então ministro <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> Agnelo<br />
Queiroz, o ex-comandante militar <strong>do</strong> Leste<br />
general Domingos Cura<strong>do</strong> e o presidente<br />
<strong>do</strong> COB, Carlos Arthur Nuzman, lançam<br />
a pedra fundamental <strong>do</strong> Complexo de<br />
Deo<strong>do</strong>ro, em 20/03/2006: início de uma<br />
nova fase para várias modalidades<br />
Foto: Divlugação / CO-Rio<br />
A diferença entre o Rio 2007 e os Jogos Panamericanos<br />
que o antecederam é o modelo de<br />
contratação das empresas responsáveis pela<br />
construção das instalações temporárias. “Em<br />
Winnipeg 1999, o governo repassava o dinheiro<br />
para o comitê, que contratava os serviços.<br />
Desta forma, o contrata<strong>do</strong> respondia diretamente<br />
ao comitê, o que lhe dava mais flexibilidade<br />
para fazer mudanças no projeto. Depois<br />
o comitê prestava contas para os governos”,<br />
explica Mario Cilenti, subsecretário geral <strong>do</strong><br />
CO-Rio que trabalhou nas três edições anteriores<br />
<strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos e nas duas<br />
últimas <strong>do</strong>s Jogos da Comunidade Britânica.<br />
119
O governo federal investe nas obras<br />
O<br />
Plano Estratégico de Ações Governamentais<br />
(PAG), lança<strong>do</strong> em<br />
junho de 2006, explica o objetivo<br />
<strong>do</strong> governo federal ao investir nas<br />
instalações <strong>do</strong>s Jogos: <strong>do</strong>tar o Brasil de uma<br />
infra-estrutura esportiva por meio da construção<br />
e adequação de equipamentos modernos<br />
e de nível internacional. O <strong>do</strong>cumento previa<br />
que os investimentos federais fossem feitos<br />
em três áreas: na construção <strong>do</strong> Complexo<br />
Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro e <strong>do</strong> Parque<br />
Aquático Maria Lenk, esta última<br />
obra tocada pela Prefeitura por meio de<br />
convênio com o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>;<br />
na aquisição e fornecimento de bens e<br />
serviços necessários ao atendimento<br />
de atletas e oficiais hóspedes na Vila<br />
Pan-americana, contemplan<strong>do</strong> hotelaria,<br />
alimentação, lavanderia e outros; e<br />
na aquisição e locação de bens e serviços<br />
para instalações temporárias em<br />
modalidades como vôlei de praia, triatlo,<br />
hipismo, hóquei sobre grama e tiro<br />
esportivo, assim como em locais não<br />
esportivos, como hotéis, aeroportos e<br />
centros de operações <strong>do</strong> evento.<br />
O Parque Maria Lenk,<br />
obra tocada pela prefeitura<br />
por meio de convênio com<br />
o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
no Complexo <strong>do</strong> Maracanã, a cargo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />
Além disso, fez aportes para incumbências<br />
<strong>do</strong> município, como obras e melhorias na<br />
infra-estrutura <strong>do</strong> entorno da Vila Pan-americana,<br />
incluin<strong>do</strong> implantação de sistema viário,<br />
construção de estação de tratamento de rio e<br />
recuperação <strong>do</strong> Canal <strong>do</strong> Anil, e arcou com o<br />
custeio de serviços de água, gás, energia elétrica<br />
e outros.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
No entanto, em 2007, a União incorporou<br />
outras obrigações, como auxílio financeiro<br />
para o término de obras e serviços<br />
Medi<strong>do</strong>res<br />
de gás da Vila<br />
Pan-americana<br />
Foto: Arquivo / FIA<br />
120
DIVISÃO DOS RECURSOS APLICADOS PELO GOVERNO FEDERAL EM INSTALAÇÕES<br />
R$ 141,7 milhões no Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro (inclui obras complementares <strong>do</strong> Exército,<br />
aquisição de obstáculos <strong>do</strong> hipismo, homologações, insumos e outros itens);<br />
R$ 93,2 milhões na Vila Pan-americana (direito de uso sobre os imóveis,<br />
governança, lavanderia e restaurante);<br />
R$ 45 milhões em convênio com a prefeitura para obras de infra-estrutura no entorno da Vila Pan-americana<br />
R$ 189,3 milhões em financiamento da Caixa Econômica Federal para a construção da Vila;<br />
R$ 60,5 milhões em instalações temporárias;<br />
R$ 3,228 milhões em custeio de serviços de concessionárias;<br />
R$ 174,6 milhões em instalações sob responsabilidade de outros entes governamentais<br />
FINANCIAMENTO FEDERAL PARA INSTALAÇÕES DO ESTADO E DA PREFEITURA<br />
Construção <strong>do</strong> Parque Aquático da Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s<br />
no Autódromo<br />
Convênio com Prefeitura<br />
<strong>do</strong> Rio (08/2007)<br />
R$ 60 milhões<br />
Importação da pista permanente <strong>do</strong> Velódromo Convênio com COB R$ 2.113.288,19<br />
Complexo Maracanã / Maracanãzinho: realização de obras de<br />
infra-estrutura e instalação de equipamentos no Complexo;<br />
instalação <strong>do</strong> sistema de ar condiciona<strong>do</strong>, de placares<br />
eletrônicos (principais e auxiliares), escadas rolantes e cadeiras<br />
retráteis, entre outros itens<br />
Overlays (instalações temporárias) no complexo <strong>do</strong> Maracanã,<br />
Estádio de Remo da Lagoa e Clube <strong>do</strong>s Caiçaras<br />
Dois convênios<br />
com Governo<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<br />
Convênio com Governo<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<br />
R$ 99.935.672,41<br />
R$ 12.631.456,97<br />
Total R$ 174.680.417,57<br />
Para erguer as instalações temporárias sob<br />
sua responsabilidade, o governo federal<br />
gastou R$ 60,5 milhões por meio de licitação.<br />
O serviço incluiu a montagem e a desmontagem<br />
de tendas, tabla<strong>do</strong>s, assentos,<br />
vestiários, banheiros químicos, entre outros,<br />
e ainda móveis, aparelhos de ar condiciona<strong>do</strong>,<br />
sinalizações para o especta<strong>do</strong>r<br />
e programação visual <strong>do</strong> evento. Algumas<br />
exigiam estruturas mais complexas, como<br />
as Arenas de Copacabana e <strong>do</strong> Posto 6 e<br />
os overlays <strong>do</strong> Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro.<br />
Outras eram compostas basicamente<br />
<strong>do</strong> “Look of the Games”, ou seja, cartazes,<br />
banners e outras peças de comunicação<br />
visual. O Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> firmou convênio<br />
(80/2007) para custear os overlays a<br />
cargo <strong>do</strong> governo estadual no valor de R$<br />
19.136.864,33 – R$ 12.631.456,97 da União e<br />
o restante em contrapartida <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />
INSTALAÇÕES TEMPORÁRIAS CUSTEADAS PELA UNIÃO NOS SEGUINTES LOCAIS<br />
Praia de Copacabana (vôlei de praia e maratona aquática)<br />
Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro<br />
UAC (Centro de Uniforme e Credenciamento), no Barra Shopping<br />
GCT (Garagem Central), na Av. Ayrton Senna<br />
MOC (Centro Principal de Operações), na sede <strong>do</strong> COB<br />
Aeroportos <strong>do</strong> Rio de Janeiro: Galeão e Santos Dumont; de São Paulo: Cumbica (Guarulhos) e Congonhas;<br />
e de Belém – to<strong>do</strong>s locais de desembarque ou conexão de participantes <strong>do</strong>s Jogos<br />
Hotéis Windsor, Sheraton e Royalty, na Barra da Tijuca<br />
121
EXEMPLOS DE ITENS DE INSTALAÇÕES TEMPORÁRIAS (OVERLAYS)<br />
CONTRATADOS PELO GOVERNO FEDERAL<br />
Aparelhos de ar condiciona<strong>do</strong> de tipos diferentes<br />
Assentos plásticos<br />
Arquibancadas em estruturas tubulares<br />
Banheiros químicos de vários tipos, inclusive<br />
adapta<strong>do</strong>s para deficientes<br />
Revestimento de piso com brita<br />
Cerca alta com fechamento em tela de arame<br />
Cercas de vários tipos<br />
Contêineres de diversos tipos, modelos e tamanhos<br />
Divisórias de diversos tipos,modelos e tamanhos<br />
Forros em placas<br />
Mastros de diversos tipos<br />
Ferros a vapor 110V<br />
Armários de diversos tipos e modelos<br />
Bancos de madeiras de diversos tipos e modelos<br />
Banquetas<br />
Balcões de recepção<br />
Bebe<strong>do</strong>uros<br />
Beliches<br />
Biombos<br />
Cabideiros de diversos tipos<br />
Cadeiras de diversos tipos e modelos<br />
Cofres em aço<br />
Claviculários (porta-chaves)<br />
Coolers<br />
Estantes de vários tipos<br />
Escaninhos<br />
Espelho<br />
Flip-charts (quadros magnéticos)<br />
Aparelhos de frigobar de 90 litros<br />
Organiza<strong>do</strong>res de filas<br />
Geladeiras de vários modelos e tamanhos<br />
Arquivos com gavetas<br />
Guarda-volumes de diversos tipos<br />
Luminárias diversas<br />
Lixeiras de diversos tipos e modelos<br />
Macas médicas<br />
Mesas de diversos tipos,modelos e utilidades<br />
Organiza<strong>do</strong>res de <strong>do</strong>cumentos<br />
Poltronas de diversos tipos e modelos<br />
Pranchetas<br />
Quadros de cortiça<br />
Quadros brancos<br />
Relógios de parede<br />
Racks para TV de diversos tipos<br />
Sofás de 2 lugares de diversos tipos e modelos<br />
Telas de projeção<br />
Ventila<strong>do</strong>res<br />
Pisos de diversos tipos e materiais<br />
Porta palete (tipo estante)<br />
Tabla<strong>do</strong>s de madeira de diversos tipos e tamanhos<br />
Tendas de diversos tipos, modelos e tamanhos<br />
Vasos de plantas<br />
Adesivos de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />
Backdrops (painéis)<br />
Bandeiras<br />
Banners de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />
Blimps (balões promocionais)<br />
Bóias<br />
Fitas de rede de vôlei de diversos tipos<br />
Lonas de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />
Guarda-sóis<br />
Kit para estande de informação<br />
ELEMENTOS DE SINALIZAÇÃO E AMBIENTAÇÃO<br />
Mecanismo para hasteamento de bandeiras:<br />
bases e mastros<br />
Painéis de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />
Placas de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />
Pódios<br />
Pórticos de diversos tipos e tamanhos<br />
Prismas<br />
Protetores de postes de vôlei<br />
Saias p/ arquibancada e mesas<br />
de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />
Tótens de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />
122
Monitoramento das instalações<br />
O<br />
governo federal decidiu entrar<br />
com força no financiamento de<br />
obras e serviços <strong>do</strong> governo <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> e da prefeitura quan<strong>do</strong><br />
o monitoramento da agência implementa<strong>do</strong>ra<br />
Fundação Instituto de Administração (FIA),<br />
contratada pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, detectou<br />
que havia atrasos em certos cronogramas,<br />
e que as partes então responsáveis por aqueles<br />
itens não estavam em condições de cumprir<br />
to<strong>do</strong>s os compromissos estabeleci<strong>do</strong>s.<br />
Na festa de lançamento da mascote <strong>do</strong> Pan,<br />
em 13 de julho de 2006, o presidente da República<br />
afirmou que o compromisso <strong>do</strong> governo<br />
federal com o Pan era total e<br />
determinou que o Ministério<br />
acompanhasse diariamente<br />
o andamento <strong>do</strong>s preparativos,<br />
ressaltan<strong>do</strong> que uma<br />
boa organização <strong>do</strong>s Jogos<br />
credenciaria o País a receber<br />
outros eventos internacionais.<br />
Na época, ele realçou<br />
que o governo precisaria fazer uma fiscalização<br />
de lupa para acompanhar diariamente o<br />
que estava faltan<strong>do</strong>, para que não houvesse<br />
efeito negativo para o Brasil caso algum objetivo<br />
não fosse cumpri<strong>do</strong> no prazo e a contento.<br />
A partir disso, o ministro <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, Orlan<strong>do</strong><br />
Silva Júnior, confirmou a decisão de reforçar as<br />
equipes de trabalho <strong>do</strong> Ministério. “A decisão<br />
é ampliar as equipes para que, na reta final,<br />
consigamos fazer com que os Jogos aconteçam<br />
conforme recomen<strong>do</strong>u o presidente Lula”.<br />
Neste contexto, a FIA teve amplia<strong>do</strong> seu escopo<br />
contratual de monitoramento <strong>do</strong> masterplan<br />
das instalações, abrangen<strong>do</strong> também:<br />
Atesta<strong>do</strong><br />
de vistoria<br />
na Vila Pan<br />
Obras e serviços nas instalações<br />
esportivas e<br />
não-esportivas sob responsabilidade<br />
<strong>do</strong>s governos<br />
estadual e municipal;<br />
Implantação de serviços<br />
de restaurante, mobiliário,<br />
hotelaria, governança e la-<br />
Planos de acompanhamento de contratos <strong>do</strong> Centro de Tiro Esportivo<br />
123
vanderia na Vila Pan-americana; Fornecimento<br />
de instalações temporárias para Copacabana,<br />
Deo<strong>do</strong>ro, aeroportos, Centro Principal de Operações,<br />
Centro de Operações Tecnológicas,<br />
Centro Principal de Logística e Centro Principal<br />
de Transportes. Essa ação <strong>do</strong> governo federal<br />
foi de fundamental importância para o cumprimento<br />
das entregas sem prejuízo da realização<br />
<strong>do</strong>s Jogos. Mesmo com atraso nos cronogramas,<br />
esse monitoramento geral das instalações<br />
permitiu a visualização <strong>do</strong>s entraves e<br />
pendências críticas de cada obra, possibilitan<strong>do</strong><br />
agilidade na tomada de decisões.<br />
A consultoria FIA disponibilizou equipes de<br />
campo para visitas previamente agendadas<br />
com os respectivos responsáveis, a to<strong>do</strong>s os<br />
locais envolvi<strong>do</strong>s com o evento, para a coleta<br />
de da<strong>do</strong>s físicos e financeiros das instalações<br />
esportivas e não-esportivas em desenvolvimento,<br />
fornecen<strong>do</strong> apoio ao planejamento.<br />
Mensalmente era emiti<strong>do</strong> um Relatório Gerencial<br />
de Evolução das Instalações conten<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s<br />
gerais como situação, avanço físico (em<br />
porcentagens acumuladas para os serviços<br />
envolvi<strong>do</strong>s), comparativo entre o previsto e o<br />
realiza<strong>do</strong>, início e término, situação <strong>do</strong>s projetos,<br />
<strong>do</strong>cumentação entregue, pendências existentes,<br />
providências necessárias e previsão de<br />
entregas, ocorrências, intervenções a<strong>do</strong>tadas,<br />
datas-limite, relatório fotográfico de avanço de<br />
serviços e croquis de implantação.<br />
Com as informações de acompanhamento<br />
<strong>do</strong> avanço físico, foi elabora<strong>do</strong> um rigoroso<br />
controle de prazos no qual se registravam os<br />
principais motivos de atrasos, as intervenções<br />
gerenciais a<strong>do</strong>tadas, os responsáveis, os registros<br />
gera<strong>do</strong>s pelas ações e os reflexos no planejamento<br />
inicial previsto, buscan<strong>do</strong> a retomada<br />
e a manutenção <strong>do</strong> andamento normal <strong>do</strong>s<br />
contratos, monitoran<strong>do</strong>-os conforme os cronogramas<br />
defini<strong>do</strong>s no planejamento geral, para<br />
detectar previamente os principais elementos<br />
que poderiam comprometer as entregas.<br />
A cada 30 dias, eram feitos sobrevôos em todas<br />
as instalações para registro fotográfico da<br />
evolução panorâmica das obras, com os quais<br />
se produziram mapas de acompanhamento.<br />
Esses relatórios de controle ficaram disponíveis<br />
na intranet à qual tinham acesso todas as equipes<br />
envolvidas com a preparação <strong>do</strong>s Jogos –<br />
não só <strong>do</strong> governo federal, como da prefeitura,<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, <strong>do</strong> Tribunal de Contas da União e<br />
da Controla<strong>do</strong>ria Geral da União. Além disso,<br />
foram semanalmente colhi<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, in loco,<br />
sobre o andamento das obras realizadas em 25<br />
locais por 11 consórcios de empreiteiras.<br />
No final de 2006, foi a<strong>do</strong>tada uma ferramenta<br />
gerencial de monitoramento, o Project Builder,<br />
que permitia acesso remoto de terceiros, via<br />
internet, à base de da<strong>do</strong>s, mesma ferramenta<br />
utilizada pela Secretaria <strong>do</strong> Pan na Prefeitura<br />
<strong>do</strong> Rio de Janeiro, uniformizan<strong>do</strong> a geração<br />
de base de conhecimento <strong>do</strong>s Jogos. Conseqüentemente,<br />
to<strong>do</strong>s puderam acompanhar a<br />
evolução <strong>do</strong>s cronogramas físico-financeiros a<br />
partir de seus próprios computa<strong>do</strong>res e gabinetes<br />
de trabalho.<br />
Relatórios fotográficos de evolução das obras<br />
no Complexo de Deo<strong>do</strong>ro e mapa da situação<br />
na primeira quinzena de junho de 2007<br />
124
125
126
127
As instalações permanentes<br />
O<br />
poder público das três esferas arcou<br />
com to<strong>do</strong>s os gastos das instalações<br />
esportivas permanentes,<br />
e os prédios da Vila Pan-americana<br />
foram ergui<strong>do</strong>s em parceria da Caixa Econômica<br />
Federal – que financiou quase a totalidade<br />
da construção – com a iniciativa privada, representada<br />
pela construtora Agenco. União, Esta<strong>do</strong><br />
e prefeitura investiram na construção de oito<br />
instalações e na reforma de cinco já existentes.<br />
Os projetos destes equipamentos foram desenvolvi<strong>do</strong>s<br />
por empresas contratadas pelos<br />
governos. Já o CO-Rio trabalhou como um<br />
consultor nas obras, fazen<strong>do</strong> a ponte com as<br />
federações internacionais esportivas, que forneciam<br />
as especificações técnicas necessárias<br />
para a adequação <strong>do</strong> projeto às modalidades<br />
de competição. O objetivo deste modelo era<br />
garantir que as instalações atenderiam às necessidades<br />
de seu usuário nos Jogos, ou seja,<br />
o Comitê, e que corresponderiam às especificações<br />
exigidas. Algumas foram homologadas<br />
por técnicos indica<strong>do</strong>s pelas federações internacionais<br />
que vieram ao Brasil especialmente<br />
para a tarefa. No caso <strong>do</strong> Estádio João Havelange,<br />
por exemplo, um consultor da Federação<br />
Internacional de Atletismo participou até da<br />
elaboração <strong>do</strong> projeto básico. A construção <strong>do</strong><br />
Centro Nacional de Hipismo também foi acompanhada<br />
de perto por pessoas indicadas pelas<br />
federações das duas modalidades que nele seriam<br />
praticadas (hipismo e pentatlo moderno).<br />
Outras instalações foram homologadas pelo<br />
delega<strong>do</strong> técnico indica<strong>do</strong> pela Odepa dias<br />
antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s Jogos. Uma dificuldade<br />
comum a vários equipamentos esportivos foi<br />
a ausência de know-how para alguns deles<br />
no Brasil. É o caso de obras complexas como<br />
a cobertura metálica <strong>do</strong> Estádio João Havelange,<br />
que teve supervisão de uma empresa<br />
de engenharia portuguesa responsável pela<br />
montagem da cobertura <strong>do</strong> Estádio da Luz,<br />
em Lisboa. Outros exemplos são o Centro de<br />
Hóquei sobre Grama de Deo<strong>do</strong>ro, o primeiro<br />
campo deste esporte em solo brasileiro, e o<br />
Velódromo da Barra, o primeiro coberto e com<br />
pista de madeira no País.<br />
As instalações temporárias<br />
N<br />
a maioria <strong>do</strong>s casos, o nível das<br />
instalações temporárias, chamadas<br />
de overlays, foi elogia<strong>do</strong>, e<br />
deve-se registrar que não houve<br />
nenhum problema com os locais sob responsabilidade<br />
<strong>do</strong> governo federal. Mas houve<br />
contratempos em outros locais durante<br />
o Pan. O caso mais sério, em que o calendário<br />
esportivo chegou a ser afeta<strong>do</strong>, foi o<br />
da Cidade <strong>do</strong> Rock. Também houve problemas<br />
menos sérios no Morro <strong>do</strong> Outeiro e nas<br />
montagens <strong>do</strong>s estádios de Remo da Lagoa<br />
e João Havelange.<br />
Os projetos básicos das montagens provisórias<br />
começaram a ser desenvolvi<strong>do</strong>s pelo CO-<br />
Rio em junho de 2005, com consultoria da MI<br />
Associates, e foram submeti<strong>do</strong>s aos governos<br />
em maio de 2006. A área funcional de Instalações<br />
<strong>do</strong> Comitê não tinha experiência na elaboração<br />
de editais de licitações, o que, em<br />
geral, resultou em projetos que não atendiam<br />
às especificações necessárias. Técnicos <strong>do</strong>s<br />
governos precisaram dar ao grupo noções<br />
para a elaboração desse tipo de <strong>do</strong>cumento.<br />
Os projetos passaram por vários ajustes. “Foi<br />
fundamental o apoio <strong>do</strong>s governos nesta seara”,<br />
reconhece Luís Henrique Ferreira, gerente<br />
de Instalações <strong>do</strong> CO-Rio.<br />
Os três entes governamentais e o Comitê discutiram<br />
as alterações até setembro de 2006,<br />
no caso <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e da União, e até dezembro<br />
de 2006, no caso da prefeitura. Começaram<br />
então os processos de licitação para<br />
escolher as empreiteiras. Depois das concorrências,<br />
o CO-Rio pediu um prazo para que<br />
suas áreas funcionais – usuários das instalações<br />
durante os Jogos – solicitassem mais<br />
ajustes. Só a partir da versão final <strong>do</strong> projeto,<br />
elaborada pela equipe de Instalações<br />
<strong>do</strong> Comitê, as obras poderiam começar.<br />
“Projetar uma instalação temporária para os<br />
Jogos não é como projetar um edifício. Não<br />
basta pensar, criar e desenhar”, explica John<br />
Baker. “Toda área funcional determina seu nível<br />
de serviço. O projeto da instalação tem<br />
de vir daí. Entregar a <strong>do</strong>cumentação para os<br />
governos requer que as necessidades das<br />
128
áreas estejam no projeto. Se estas áreas não<br />
estiverem atendidas pelas pessoas corretas,<br />
problemas aparecerão”, explica. Ou seja, os<br />
profissionais das áreas funcionais determinam<br />
o que é necessário nas instalações e, a partir<br />
daí, os arquitetos desenvolvem os projetos<br />
para entregá-los aos governos. Como no Rio<br />
2007 houve atraso na contratação de pessoal,<br />
as áreas funcionais só puderam contar já próximo<br />
<strong>do</strong>s Jogos com a maioria de seu quadro,<br />
e, à medida que iam sen<strong>do</strong> absorvi<strong>do</strong>s pelo<br />
Comitê, os recém-contrata<strong>do</strong>s solicitavam novas<br />
mudanças nos projetos. Além disso, a falta<br />
de integração entre as áreas fazia com que a<br />
equipe de Instalações não recebesse de forma<br />
correta as necessidades <strong>do</strong>s usuários.<br />
Para Luís Henrique Ferreira, os prazos também<br />
devem ser revistos porque, argumenta,<br />
se os profissionais <strong>do</strong> Comitê tivessem si<strong>do</strong><br />
contrata<strong>do</strong>s com mais antecedência e em<br />
maior número, como previsto no planejamento<br />
inicial, haveria a possibilidade, ao menos na<br />
teoria, de os projetos finais serem concluí<strong>do</strong>s<br />
antes. As solicitações se estenderam até as<br />
vésperas <strong>do</strong>s Jogos, causan<strong>do</strong> atrasos no início<br />
das montagens. No caso <strong>do</strong>s overlays <strong>do</strong><br />
governo federal, a versão final de alguns projetos<br />
chegou em maio de 2007 e de outros, em<br />
junho. Mesmo assim, o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
foi o primeiro a encerrar sua licitação e contratar<br />
os serviços de montagens temporárias, em<br />
janeiro de 2007. “O ideal seria que as versões<br />
finais <strong>do</strong>s projetos ficassem prontas em abril<br />
e, a partir daí, houvesse apenas mudanças extremamente<br />
importantes”, acredita Baker. “O<br />
problema é que o CO-Rio não atendia às especificações<br />
mínimas solicitadas pelo Ministério<br />
para que o fornece<strong>do</strong>r, já contrata<strong>do</strong>, executasse<br />
os projetos de instalações provisórias”,<br />
explica Luiz Custódio Orro de Freitas, gerente<br />
de Instalações <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>. Ele<br />
diz que vários detalhamentos técnicos – como<br />
o projeto elétrico e as planilhas quantitativas<br />
de materiais e equipamentos que seriam utilizadas<br />
nestas instalações – chegavam incompletos<br />
ou erra<strong>do</strong>s. “Entre janeiro e junho, foram<br />
produzidas oito versões <strong>do</strong>s projetos, o que<br />
atrasou a montagem”, conta. Ele lembra que<br />
enviou ao CO-Rio modelos de como detalhar<br />
estas especificações.<br />
Ao pedir a contratação de contêineres para a<br />
instalação de escritórios temporários, o CO-<br />
Rio não detalhava, por exemplo, que estas<br />
estruturas deveriam ter abertura para ar-condiciona<strong>do</strong>,<br />
tomadas, janelas, piso e iluminação<br />
adequada. A falta de especificação dificultava<br />
a tomada de preços e, ainda que levada adiante,<br />
resultaria em contratações deficientes,<br />
abaixo <strong>do</strong>s padrões mínimos de qualidade e<br />
segurança exigi<strong>do</strong>s neste tipo de serviço. No<br />
caso acima, o equipamento recebeu nova especificação<br />
e, após ser analisa<strong>do</strong> pela equipe<br />
técnica <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, ficou assim:<br />
contêiner tipo escritório, de 2,40m x 3,00m,<br />
com uma porta, janela e suporte de ar-condiciona<strong>do</strong>,<br />
piso emborracha<strong>do</strong>, antiderrapante<br />
tipo Plurigoma, na cor preta, com iluminação<br />
e instalações elétricas de uso geral e índice de<br />
iluminação de 450 a 500 lux. Os erros se repetiam<br />
em especificações mais simples, como<br />
a da solicitação de uma “mesa re<strong>do</strong>nda para<br />
reunião”. “Qual o diâmetro? De que material?<br />
Sem estes da<strong>do</strong>s era impossível licitar”, explica<br />
Luiz Custódio: “Se a especificação de uma<br />
mesa pode atravancar uma licitação, imagine<br />
dezenas de projetos”.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Instalações temporárias<br />
para o Tiro com Arco,<br />
no Complexo de Deo<strong>do</strong>ro<br />
129
A preparação das instalações temporárias<br />
O<br />
fato de o CO-Rio elaborar os projetos<br />
<strong>do</strong>s overlays e os governos<br />
serem responsáveis pela contratação<br />
das empresas e pelo acompanhamento<br />
das obras provocou desgastes,<br />
assim como na contratação de outros serviços.<br />
Alguns atrasos foram causa<strong>do</strong>s porque<br />
as vence<strong>do</strong>ras das licitações tinham dificuldade<br />
em lidar com os pedi<strong>do</strong>s de modificações<br />
feitos a elas pelo Comitê. Isso foi soluciona<strong>do</strong><br />
quan<strong>do</strong> o CO-Rio passou a enviar os pedi<strong>do</strong>s<br />
aos governos e estes resolviam as alterações<br />
com os contrata<strong>do</strong>s. “As contratações das<br />
empresas que executam as obras de instalações<br />
temporárias devem ser feitas pelo Comitê”,<br />
acredita Luís Henrique Ferreira. Segun<strong>do</strong><br />
ele, dessa forma, o Comitê teria maior poder<br />
de decisão para mudar os projetos e mais agilidade<br />
para contratação das empreiteiras, por<br />
se tratar de uma empresa privada.<br />
“Se fizéssemos de novo,<br />
seríamos mais atentos<br />
saben<strong>do</strong> o tempo que se<br />
leva no Brasil, com o processo<br />
burocrático <strong>do</strong>s governos,<br />
para se fazer algo.<br />
É preciso começar antes.<br />
Temos de garantir flexibilidade<br />
para as mudanças<br />
nos projetos. Mas as<br />
mudanças precisam ser<br />
controladas. E o Comitê<br />
deve gerenciar essas alterações”,<br />
acredita John<br />
Baker. Ele lembra que, nos<br />
Jogos Olímpicos, o COI<br />
exige alterações na legislação<br />
<strong>do</strong> país para contornar<br />
entraves burocráticos,<br />
mas a Odepa não, pois o<br />
Pan é menos complexo.<br />
“Sydney aprovou uma lei<br />
para transformar um processo<br />
governamental que<br />
levava meses em uma semana.<br />
Em Jogos Olímpicos,<br />
é uma exigência <strong>do</strong><br />
COI”, explica.<br />
No entanto, Ricar<strong>do</strong> Leyser, <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong><br />
<strong>Esporte</strong>, defende o modelo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>. “Os projetos<br />
<strong>do</strong>s overlays eram incipientes, incompletos,<br />
necessitavam de detalhamento independentemente<br />
de quem fosse contratar. Se os<br />
governos tivessem repassa<strong>do</strong> os recursos em<br />
forma de convênios, o CO-Rio teria ti<strong>do</strong> mais<br />
trabalho na prestação de contas, em virtude<br />
das minúcias da lei e <strong>do</strong>s valores envolvi<strong>do</strong>s, o<br />
que requereria grande número de funcionários<br />
na tarefa”. Para ele, a idéia de que o CO-Rio<br />
teria mais liberdade para fazer mudanças nos<br />
projetos se tivesse contrata<strong>do</strong> as montagens<br />
é improcedente. “Se o Comitê contratasse<br />
diretamente, também não poderia mexer nos<br />
projetos porque eles foram executa<strong>do</strong>s com<br />
dinheiro público”. Leyser avalia que, no final,<br />
“as exigências da legislação conduziram ao<br />
aprimoramento <strong>do</strong> processo”. Ele lembra que<br />
o acompanhamento permanente <strong>do</strong>s técnicos<br />
130
<strong>do</strong> Tribunal de Contas da União também colaborou<br />
para agilizar os trabalhos e esclarecer<br />
as equipes <strong>do</strong> CO-Rio e <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
sobre o melhor procedimento a ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>.<br />
Nas quatro páginas a seguir, ateste, no<br />
gráfico da Arena de Vôlei de Praia, os vários<br />
itens a serem cumpri<strong>do</strong>s na montagem de uma<br />
instalação provisória.<br />
A Arena de Vôlei de Praia em construção (abaixo),<br />
e, à dir., de cima para baixo, os gera<strong>do</strong>res de<br />
energia e uma das salas da instalação de triatlo<br />
(fotos 1 e 2), banheiros químicos (foto 3), sala <strong>do</strong><br />
Gerenciamento Central de Transporte (foto 4) e<br />
vista áerea <strong>do</strong>s overlays <strong>do</strong> Centro de Distribuição<br />
de Uniformes e Credenciamento (foto 5)<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Fotos: Arquivo / FIA<br />
131
A complexa<br />
tarefa de montar<br />
as instalações<br />
temporárias<br />
As tarefas de montar e equipar o interior das<br />
instalações temporárias (overlays) com toda a<br />
aparelhagem e o mobiliário indispensáveis ao<br />
seu pleno funcionamento estiveram entre as<br />
mais desafia<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos<br />
Rio 2007. A quantidade e a variedade de itens,<br />
somadas às dimensões e divisões <strong>do</strong>s espaços,<br />
132
geraram uma demanda de trabalho extremamente complexa para o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>,<br />
os fornece<strong>do</strong>res e os profissionais da montagem. Para fazer a licitação <strong>do</strong>s itens de<br />
montagens provisórias, o Ministério necessitava de especificações detalhadas <strong>do</strong> Comitê<br />
Organiza<strong>do</strong>r, que tinha carência de pessoal apto a executar esse trabalho. O exemplo<br />
abaixo, que toma como base a Arena <strong>do</strong> Vôlei de Praia, instalação temporária erguida<br />
pelo governo federal na Praia de Copacabana com mais de 100 salas de trabalho e áreas<br />
de competição, e duas de suas subdivisões, ilustra com precisão essa complexidade.<br />
133
134
135
A energia elétrica<br />
O<br />
planejamento para fornecer energia<br />
elétrica na intensidade necessária<br />
deveria ter recebi<strong>do</strong> atenção<br />
maior <strong>do</strong> CO-Rio. O relatório<br />
final da Fundação Instituto de Administração<br />
(FIA), contratada pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>,<br />
afirma que a falta de energia foi uma “falha recorrente”.<br />
Ricar<strong>do</strong> Trade, gerente de Serviços<br />
<strong>do</strong>s Jogos <strong>do</strong> CO-Rio, diz que “num próximo<br />
evento, deveríamos criar uma área funcional<br />
somente para energia”.<br />
A quantidade de energia necessária era muito<br />
maior que a prevista pelo Comitê. Por orientação<br />
<strong>do</strong> governo federal, através <strong>do</strong> gerente<br />
de Instalações Luiz Custódio Orro de Freitas, o<br />
Comitê contratou a Light, empresa concessionária<br />
de energia elétrica no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de<br />
Janeiro, para que fossem instaladas redes de<br />
transmissão de energia “festiva”, ou seja, pequenas<br />
redes de energia provisória com baixo<br />
custo de implantação, para disponibilizar a<br />
energia necessária em vários locais. A iniciativa<br />
foi viabilizada por meio de convênio entre o<br />
Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e o CO-Rio. Com custo<br />
mais barato, as ligações foram feitas em diversos<br />
locais de competição e não-competição<br />
<strong>do</strong>s Jogos onde o governo federal havia instala<strong>do</strong><br />
montagens provisórias, como o Complexo<br />
de Deo<strong>do</strong>ro, a Arena <strong>do</strong> Vôlei de Praia, a<br />
Vila Pan-americana (apartamentos, restaurante,<br />
terminal de ônibus e toda a zona internacional),<br />
o estacionamento da frota da Família<br />
Pan (GCT) na avenida Ayrton Senna, o Centro<br />
de Distribuição de Uniformes e Credenciamento<br />
(UAC) no Barra Shopping, e até na sede <strong>do</strong><br />
Comitê Organiza<strong>do</strong>r, onde funcionou o Centro<br />
Principal de Operações (MOC), além <strong>do</strong>s hotéis<br />
oficiais e alguns aeroportos. A rápida intervenção<br />
da concessionária para atender à<br />
solicitação contou com a contribuição <strong>do</strong> iatista<br />
Lars Grael, consultor da Light e medalhista<br />
olímpico em Seul 1988 e Atlanta 1996.<br />
Nas instalações em que não havia possibilidade<br />
técnica de prover a energia festiva ou onde<br />
a competição era de curta duração, como no<br />
caso <strong>do</strong> Posto 6 em Copacabana (triatlo e maratona<br />
aquática), a solução mais econômica<br />
foi instalar grupos gera<strong>do</strong>res. Para os III Jogos<br />
Parapan-americanos, foram mantidas as<br />
linhas de fornecimento extras instaladas nos<br />
locais <strong>do</strong> Pan que serviriam àquela competição.<br />
“A economia foi significativa, visto que o<br />
custo da energia disponibilizada diretamente<br />
pela concessionária é menor <strong>do</strong> que o custo<br />
da energia fornecida por grupo gera<strong>do</strong>r, o qual<br />
necessita de equipe de manutenção 24 horas,<br />
responsável pelo abastecimento de óleo diesel,<br />
troca de óleo lubrificante, troca de filtros,<br />
além de caminhões para o transporte de combustível.”,<br />
explica Luiz Custódio.<br />
A Vila Pan-americana<br />
iluminada à noite e, no<br />
detalhe, instalação de<br />
rede provisória: energia<br />
adicional para o Pan<br />
Fotos: Divulgação / AGENCO<br />
136
As adaptações para o Parapan<br />
Devi<strong>do</strong> ao subdimensionamento da demanda<br />
de energia elétrica, nos <strong>do</strong>is primeiros dias<br />
<strong>do</strong>s Jogos foram registra<strong>do</strong>s transtornos na<br />
Vila Pan-americana, no Centro Principal de<br />
Imprensa (MPC) e no Centro Internacional de<br />
Transmissão (IBC), ambos no Riocentro, sen<strong>do</strong><br />
que neste caso houve quedas de transmissões<br />
de TV por alguns minutos. Na Vila Pan-americana,<br />
semanas antes <strong>do</strong> Pan, face à falta de<br />
energia elétrica para acionar to<strong>do</strong>s os eleva<strong>do</strong>res<br />
simultaneamente durante os serviços de<br />
instalação da infra-estrutura de hotelaria, foi<br />
Estádio João Havelange – Atletismo<br />
Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s:<br />
Arena Olímpica – Basquete em cadeira de rodas<br />
Parque Aquático Maria Lenk – Natação<br />
Complexo Esportivo <strong>do</strong> Riocentro:<br />
Pavilhão 3 – Bocha e halterofilismo<br />
Pavilhão 4 – Judô e tênis de mesa<br />
Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro:<br />
Centro de Hóquei sobre Grama – Futebol de 5 e futebol de 7<br />
Complexo Miécimo da Silva – Goalball<br />
Clube Marapendi – Tênis em cadeira de rodas<br />
necessário transportar armários, camas, colchões,<br />
ar condiciona<strong>do</strong> e outros equipamentos<br />
pelas escadas. O fornecimento de energia<br />
é tão complexo e determinante nos grandes<br />
eventos esportivos que o Comitê Olímpico Internacional,<br />
perceben<strong>do</strong> que havia problemas<br />
se repetin<strong>do</strong> em diversas ocasiões, realizou<br />
seminário a respeito para orientar os organiza<strong>do</strong>res<br />
de Jogos Olímpicos a darem atenção<br />
específica ao tema, inclusive crian<strong>do</strong> áreas<br />
funcionais próprias na estrutura organizativa<br />
<strong>do</strong>s eventos.<br />
E<br />
m março de 2006, foi apresenta<strong>do</strong> em reunião <strong>do</strong> Conselho Executivo <strong>do</strong> CO-Rio um<br />
programa <strong>do</strong>s Jogos Parapan-Americanos com 12 modalidades esportivas em oito instalações.<br />
Com a retirada de duas modalidades – bocha e goalball – em junho de 2006<br />
e a exclusão das instalações sob responsabilidade <strong>do</strong> governo estadual <strong>do</strong> programa,<br />
o evento terminou disputa<strong>do</strong> com dez modalidades em seis instalações, todas previamente testadas<br />
e aprovadas pelos usuários <strong>do</strong> Pan.<br />
Abaixo, instalações que, em março de 2006, seriam usadas no Parapan, ainda sem mudanças:<br />
Complexo Esportivo <strong>do</strong> Maracanã:<br />
Ginásio <strong>do</strong> Maracanãzinho – Vôlei senta<strong>do</strong><br />
Ao final, foram utiliza<strong>do</strong>s os seguintes equipamentos:<br />
Estádio João Havelange: Atletismo<br />
Arena Olímpica: Basquete em cadeira de rodas e cerimônia de abertura<br />
Parque Aquático Maria Lenk: Natação<br />
Complexo Esportivo <strong>do</strong> Riocentro: Halterofilismo (pavilhão 3A), judô (4A)<br />
e tênis de mesa e vôlei senta<strong>do</strong> (pavilhão 4B)<br />
Centro de Hóquei sobre Grama: Futebol de 5 e futebol de 7<br />
Clube Marapendi: Tênis em cadeira de rodas<br />
Vila Pan-americana: cerimônia de encerramento<br />
137
Instalações sob responsabilidade federal<br />
O<br />
primeiro passo para a construção<br />
<strong>do</strong> Complexo de Deo<strong>do</strong>ro foi estabelecer<br />
uma parceria com o Exército,<br />
administra<strong>do</strong>r da área. Em<br />
julho de 2004, um termo de cooperação entre<br />
Exército, Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e CO-Rio previa<br />
as instalações permanentes para hipismo e tiro<br />
esportivo, além de outra temporária para tiro<br />
com arco. Havia a previsão de se fazer um hotel<br />
para árbitros e um alojamento para trata<strong>do</strong>res<br />
de animais, que não foram construí<strong>do</strong>s “por<br />
questão de prioridade orçamentária”, segun<strong>do</strong><br />
o secretário Ricar<strong>do</strong> Leyser. Por outro la<strong>do</strong>, não<br />
estavam previstos o Centro de Hóquei sobre<br />
Grama e a piscina <strong>do</strong> pentatlo moderno.<br />
Neste perío<strong>do</strong>, a Comissão Regional de Obras<br />
da 1ª Região Militar (CRO 1), chefiada à época<br />
pelo coronel Galvani Cavalcante, assessorou o<br />
CO-Rio na definição <strong>do</strong> plano geral <strong>do</strong> Complexo,<br />
e elaborou, com o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>,<br />
as diretrizes técnicas para subsidiar a licitação,<br />
que contratou a Engesolo para produzir<br />
o projeto básico <strong>do</strong> local. A CRO 1 também<br />
participou da comissão especial de licitação<br />
que contratou a construtora para executar as<br />
obras em to<strong>do</strong> o complexo. Durante as obras,<br />
esta Comissão <strong>do</strong> Exército, já então chefiada<br />
pelo coronel Alberto Tavares da Silva, manteve<br />
uma equipe permanente de nove profissionais,<br />
coordenada pelo capitão e engenheiro militar<br />
Ademar Barros Moura Filho, para apoiar o Ministério<br />
na fiscalização das atividades. Em paralelo,<br />
a CRO 1 desenvolveu e executou com<br />
o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> os projetos básicos,<br />
O Complexo Esportivo<br />
de Deo<strong>do</strong>ro<br />
Vista aérea <strong>do</strong> Complexo<br />
Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro<br />
em construção: imagens<br />
detalhadas de cada<br />
instalação (fotos abaixo)<br />
2<br />
1<br />
Campos de Hóquei sobre Grama 2 Centro Nacional de Hipismo<br />
3<br />
138<br />
Centro Nacional<br />
de Tiro Esportivo
3<br />
5<br />
4<br />
1<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
4 Piscina <strong>do</strong> Pentatlo Moderno<br />
5<br />
Estande provisório de Tiro com Arco<br />
139
licitações e obras para o cercamento e outras<br />
adaptações no complexo, além de fazer<br />
interlocução entre as empresas contratadas<br />
e os organiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong> evento.<br />
A parceria foi fundamental. Algumas outras<br />
iniciativas, principalmente de melhorias viárias<br />
e aquisição de materiais e equipamentos<br />
de manutenção, também ficaram a cargo <strong>do</strong><br />
Ministério da Defesa, que recebeu recursos<br />
<strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>. Os repasses incluíram<br />
ainda a reforma <strong>do</strong> antigo estande<br />
de tiro, desloca<strong>do</strong> para área adjacente, e a<br />
compra de equipamentos para o hospital da<br />
Vila Militar. A decisão de que essas obras ficassem<br />
a cargo <strong>do</strong> Exército se deveu ao fato<br />
de que, já que a unidade é administrada por<br />
aquela força e bastante utilizada para os esportes<br />
pratica<strong>do</strong>s por militares, seria mais<br />
conveniente que o próprio Exército desenvolvesse<br />
os projetos conforme sua padronização<br />
e suas demandas.<br />
O projeto básico<br />
E<br />
m março de 2005, a empresa Engesolo<br />
venceu a licitação para fazer<br />
o projeto básico <strong>do</strong> Complexo<br />
Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro, que à<br />
época contaria apenas com as instalações<br />
de hipismo, tiro esportivo e tiro com arco. O<br />
projeto básico foi entregue em setembro <strong>do</strong><br />
mesmo ano. Ainda em 2005, decidiu-se que<br />
o local seria palco também das competições<br />
de hóquei sobre grama, impossibilita<strong>do</strong> de se<br />
realizar no Parque <strong>do</strong> Flamengo por dificuldades<br />
de aprovação <strong>do</strong> projeto junto a órgãos<br />
ambientais e <strong>do</strong> patrimônio histórico, e <strong>do</strong><br />
pentatlo moderno, antes abriga<strong>do</strong> na Escola<br />
Naval e na Sociedade Hípica Brasileira.<br />
Os projetistas de Deo<strong>do</strong>ro trabalharam diretamente<br />
com o CO-Rio e a MI Associates na<br />
elaboração <strong>do</strong> projeto, inclusive na localização<br />
de cada instalação dentro <strong>do</strong> complexo.<br />
A colaboração foi importante para garantir<br />
que Deo<strong>do</strong>ro estivesse dentro <strong>do</strong>s padrões<br />
COMPLEXO ESPORTIVO DE DEODORO R$<br />
Contrato com Engesolo para elaboração <strong>do</strong> projeto básico<br />
3,461 milhões<br />
Contrato com Camargo Corrêa para construção <strong>do</strong> complexo<br />
126,691 milhões<br />
Contrato com Engesolo para gerenciamento das obras<br />
2,035 milhões<br />
Convênio com CO-Rio para homologação <strong>do</strong> CNTE (78/2007)<br />
283 mil<br />
Convênio com CO-Rio para construção de obstáculos <strong>do</strong> hipismo (54/2007)<br />
Convênio com CO-Rio para provisão de insumos para o restaurante (66/2007)<br />
<strong>do</strong>s trata<strong>do</strong>res de cavalos<br />
Destaque de crédito orçamentário ao Ministério da Defesa para obras iniciais de adaptação<br />
Destaque à Universidade Federal Rural <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />
para programa de descarrapatização<br />
Destaque ao Ministério da Defesa para obras complementares*<br />
Destaque ao Ministério da Defesa para construção de novo estande de tiro militar para fuzil;<br />
e aquisição de aparelhos de raio-X e respectivos revela<strong>do</strong>res para o hospital veterinário<br />
Serviços públicos para custeio das instalações<br />
469 mil<br />
130 mil<br />
1,572 milhão<br />
183 mil<br />
4,002 milhões<br />
1,885 milhão<br />
990 mil<br />
Restauração <strong>do</strong> campo de pólo em Deo<strong>do</strong>ro<br />
55 mil<br />
Total<br />
141,7 milhões<br />
* Muro, cercamento, proteção visual das pedanas de tiro ao prato, reforma da cozinha e <strong>do</strong> refeitório, aquisição de equipamentos para operação<br />
<strong>do</strong>s centros esportivos, implantação de clínica veterinária e alojamento de trata<strong>do</strong>res em contêineres.<br />
140
determina<strong>do</strong>s pelo CO-Rio. O arquiteto<br />
Bruno Campos, contrata<strong>do</strong> pela Engesolo<br />
para elaborar o projeto básico, diz que<br />
a demora <strong>do</strong> Comitê em enviar os projetos<br />
das instalações temporárias para o local<br />
causou dificuldades.<br />
Para projetar as instalações permanentes,<br />
Campos precisava da definição <strong>do</strong>s overlays.<br />
“Como algumas instalações temporárias<br />
seriam acopladas às permanentes, uma<br />
coisa dependia da outra. Na época <strong>do</strong> projeto<br />
básico o CO-Rio ainda não tinha definição<br />
das temporárias. Isso prejudicou meu<br />
trabalho. Repensamos tu<strong>do</strong> depois que o<br />
Comitê viu que havia dimensiona<strong>do</strong> mal as<br />
coisas no final de 2005”, diz o arquiteto. Segun<strong>do</strong><br />
Bruno Campos, “o conceito usa<strong>do</strong><br />
em Deo<strong>do</strong>ro foi o de conferir uma unidade<br />
ao conjunto de instalações, responden<strong>do</strong><br />
a problemas semelhantes de forma semelhante,<br />
manten<strong>do</strong> a idéia de um complexo<br />
em vez de cinco centros isola<strong>do</strong>s”.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
As condições climáticas <strong>do</strong> local e as particularidades<br />
das instalações esportivas,<br />
que necessitavam de grandes vãos livres<br />
e de isolamento termo-acústico, sugeriram<br />
um tipo de sistema construtivo onde<br />
a cobertura se des<strong>do</strong>bra em forro, e este<br />
se des<strong>do</strong>bra em parede, geran<strong>do</strong> uma série<br />
de elementos contínuos de forte impacto<br />
visual, mas de fácil construção e<br />
manutenção. Além disso, foi emprega<strong>do</strong><br />
o conceito de “solar passivo”, ou seja, os<br />
edifícios conseguem regular a temperatura<br />
entre extremos durante o dia e à noite,<br />
e o conforto térmico interno é manti<strong>do</strong>, o<br />
que diminui a necessidade de aparelhos<br />
de ar-condiciona<strong>do</strong>.<br />
A obra foi uma das representantes brasileiras<br />
na VI Bienal Ibero-americana de Arquitetura<br />
e Urbanismo, em Lisboa, em 2008.<br />
Embora não tenha venci<strong>do</strong> a premiação<br />
em sua categoria, a participação na bienal<br />
trouxe reconhecimento internacional e motivou<br />
reportagens em revistas especializadas,<br />
como a argentina Summa+.<br />
Na foto ao alto, uma cena <strong>do</strong> hipismo em Deo<strong>do</strong>ro. Nas<br />
seguintes, a clínica veterinária montada provisoriamente<br />
em contêineres no complexo para o Pan-americano<br />
141<br />
Fotos: Sergio Santrovits
A construção <strong>do</strong> Complexo de Deo<strong>do</strong>ro<br />
E<br />
m maio de 2006, a empreiteira Camargo<br />
Corrêa venceu a licitação para<br />
desenvolver o projeto executivo e<br />
construir as instalações permanentes<br />
de Deo<strong>do</strong>ro. A empresa foi contratada por<br />
R$ 76 milhões e o custo final da obra ficou em<br />
R$ 126.690.891,46. A montagem <strong>do</strong> canteiro de<br />
obras foi iniciada em junho de 2006, com previsão<br />
de conclusão em um ano. No entanto, as<br />
licenças ambientais e autorizações da prefeitura<br />
ainda não haviam si<strong>do</strong> expedidas. “Percebemos<br />
que a emissão de licenças estava muito incipiente.<br />
Colocamos na proposta que seria necessário<br />
um perío<strong>do</strong> de 15 dias, mas o processo levou<br />
<strong>do</strong>is meses”, conta o engenheiro Luiz Sérgio de<br />
Araújo, contrata<strong>do</strong> pela Camargo Corrêa para<br />
gerenciar a obra. “A prefeitura foi o órgão que<br />
mais demorou para emitir as licenças”, diz. Ele<br />
admite a dificuldade inicial para captar mão-deobra.<br />
“Aumentamos o efetivo conforme conseguíamos<br />
as aprovações necessárias. Se tivéssemos<br />
coloca<strong>do</strong> 100 ou 200 pessoas a mais no<br />
início, talvez fosse mais tranqüilo. A partir de dezembro<br />
de 2006, a situação foi resolvida. Chegamos<br />
a ter 1,8 mil pessoas trabalhan<strong>do</strong>”, afirma.<br />
Na opinião de Márcio Collet, consultor da FIA<br />
responsável por monitorar a obra, um ano era<br />
tempo suficiente para a execução. “A licitação<br />
foi concluída a tempo de a construção estar<br />
pronta até junho de 2007”, diz Collet. Outro fator<br />
que causou atrasos, além de acréscimo no<br />
valor, foi a necessidade de homologação por<br />
parte das entidades esportivas internacionais.<br />
Nas suas visitas às obras, os técnicos pediram<br />
muitas mudanças de projeto. “A relação<br />
com as federações internacionais gerou dificuldades,<br />
porque elas não estão acostumadas<br />
com o processo público de aprovação”, diz<br />
Luiz Sérgio de Araújo. Mas <strong>do</strong>is eventos-teste<br />
realiza<strong>do</strong>s no local antes <strong>do</strong>s Jogos, o Campeonato<br />
Pan-americano de Tiro com Arco, em<br />
novembro de 2006, e o Campeonato Mundial<br />
Militar de Pentatlo Moderno, em maio de 2007,<br />
ajudaram a agilizar o passo: “A realização <strong>do</strong>s<br />
eventos acelerou o ritmo de conclusão da<br />
obra”, afirma José Roberto Gnecco, gerente<br />
de <strong>Esporte</strong>s da Secretaria <strong>do</strong> Pan no Ministério<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Vista aérea das obras<br />
<strong>do</strong> Centro Nacional<br />
<br />
da foto, no alto, a<br />
pista de cross country<br />
142
143
A valorização da região de Deo<strong>do</strong>ro<br />
P<br />
ara instalar o complexo esportivo,<br />
o governo federal escolheu um terreno<br />
<strong>do</strong> Exército, na Vila Militar de<br />
Deo<strong>do</strong>ro, bairro da zona oeste da<br />
cidade. Assim, estariam garantidas questões<br />
como segurança, já que o Ministério da Defesa<br />
ocupa e zela pelo espaço, e seriam evita<strong>do</strong>s<br />
procedimentos burocráticos relaciona<strong>do</strong>s<br />
ao terreno, pertencente à União. Os Jogos deixaram<br />
um importante lega<strong>do</strong> em Deo<strong>do</strong>ro: os<br />
centros nacionais de Hipismo e Tiro Esportivo<br />
são duas das instalações mais modernas <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> para estas modalidades, o Centro de<br />
Hóquei sobre Grama também deixou como<br />
herança <strong>do</strong>is campos para um esporte que<br />
até o Rio 2007 ainda era incipiente no Brasil e,<br />
para o pentatlo moderno, foi construída uma<br />
piscina olímpica no complexo. Para o ministro<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, Orlan<strong>do</strong> Silva Jr., a escolha de<br />
Deo<strong>do</strong>ro foi acertada. Segun<strong>do</strong> o ministro, o<br />
Instituto Pereira Passos, da Prefeitura <strong>do</strong> Rio,<br />
classifica a região como importante para a expansão<br />
da cidade. “A decisão de valorizar Deo<strong>do</strong>ro<br />
foi fundamental pela expansão urbana<br />
<strong>do</strong> Rio, além de serem as Forças Armadas um<br />
segmento que, historicamente, foi fundamental<br />
para o desenvolvimento <strong>do</strong> esporte no País”.<br />
No <strong>do</strong>ssiê de candidatura, revisa<strong>do</strong> pela primeira<br />
vez em fevereiro de 2003, o custo estima<strong>do</strong><br />
era de R$ 51 milhões, com a previsão de<br />
que seriam disputa<strong>do</strong>s ali apenas hipismo, tiro<br />
esportivo e tiro com arco. Quatro anos depois,<br />
na Matriz de Responsabilidades, saltou para<br />
R$ 106 milhões, com a inclusão <strong>do</strong>s outros<br />
<strong>do</strong>is esportes. Ao final, a construção e a manutenção<br />
<strong>do</strong> complexo ficaram em R$ 141,7 milhões,<br />
incluin<strong>do</strong> itens de infra-estrutura da Vila<br />
Militar. O valor foi dividi<strong>do</strong> em três contratos,<br />
três convênios com o CO-Rio, três destaques<br />
orçamentários para o Ministério da Defesa e<br />
um para a Universidade Federal Rural <strong>do</strong> Rio<br />
de Janeiro. A forma de administração e o custeio<br />
<strong>do</strong> Complexo estão sen<strong>do</strong> ajusta<strong>do</strong>s entre<br />
o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e o Exército, levan<strong>do</strong><br />
em conta o termo de cooperação de 2004,<br />
mas, no que se refere à qualidade das instalações,<br />
Deo<strong>do</strong>ro só recebeu elogios. A amazona<br />
canadense Jill Henselwood, ouro no salto<br />
individual no Pan, elogiou o Centro Nacional<br />
de Hipismo: “A instalação está fabulosa, a arena<br />
é ótima. Os designers da pista estão entre<br />
os melhores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”. O brasileiro Rodrigo<br />
Pessoa considerou as instalações <strong>do</strong> hipismo<br />
de “primeiríssima” qualidade: “O local é superior<br />
a instalações olímpicas que conheci, como<br />
as de Atlanta e Atenas. A infra-estrutura tem<br />
nível de excelência, todas as baias estão ótimas<br />
e, na arena, o piso é especial e muito bem<br />
drena<strong>do</strong>, pode chover aqui antes da competição<br />
que meia hora depois já está pronto para<br />
saltar”, avaliou. Neco, treina<strong>do</strong>r da equipe de<br />
saltos <strong>do</strong> Brasil, também fi cou impressiona<strong>do</strong><br />
com o Centro de Hipismo e foi taxativo: “Essas<br />
instalações são as melhores que existem no<br />
mun<strong>do</strong>. O terreno, a pista, as condições, tu<strong>do</strong><br />
tem padrão internacional”. Ouro em Winnipeg<br />
1999, ele começou a montar 62 anos atrás na<br />
Escola de Equitação <strong>do</strong> Exército, que fica no<br />
mesmo local onde a hípica foi construída. “Fiquei<br />
emociona<strong>do</strong> ao voltar e presenciar toda<br />
essa evolução”.<br />
O consultor John Baker faz coro: “O governo<br />
federal se comprometeu a construir instalações<br />
de primeiro nível. O centro de tiro esportivo<br />
é um <strong>do</strong>s melhores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. O de hipismo<br />
é bom porque concentra tu<strong>do</strong> num lugar<br />
só e pode ser expandi<strong>do</strong>”. O norte-americano<br />
Eli Bremer, ouro no pentatlo moderno no Rio<br />
2007, ficou “impressiona<strong>do</strong> com o Complexo.<br />
Já havia esta<strong>do</strong> no Brasil duas vezes antes<br />
para competir, mas desta vez acho que o país<br />
se superou na qualidade das instalações”.<br />
144
O centro de tiro em construção e<br />
abaixo, da esq. para dir., a pista<br />
<strong>do</strong> cross country, uma ponte<br />
construída em Deo<strong>do</strong>ro, um<br />
detalhe da obra <strong>do</strong> tiro e uma geral<br />
das instalações de hóquei e da<br />
piscina <strong>do</strong> pentatlo<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
145
Instalações <strong>do</strong> Centro Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro<br />
Centro Nacional de Hipismo General Eloy Menezes<br />
Na pista, aprovada<br />
com louvor pelo<br />
delega<strong>do</strong> técnico,<br />
620 toneladas de<br />
caulim brasileiro<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
Exímio cavaleiro, o general Eloy Menezes<br />
participou de três Olimpíadas e foi diversas<br />
vezes campeão brasileiro de salto e<br />
concurso completo. Nos Jogos Olímpicos<br />
de Helsinque, em 1952, conquistou o quarto<br />
lugar por equipes e individual. Foi presidente<br />
<strong>do</strong> Conselho Nacional de Desportos e<br />
comandante da Escola de Equitação <strong>do</strong><br />
Exército. Foi também atleta de vôlei, basquete,<br />
pentatlo e futebol – neste último esporte,<br />
chegou a defender o Vasco da Gama.<br />
HIPISMO<br />
Saltos é a categoria mais conhecida deste<br />
esporte – cuja Federação Internacional nasceu<br />
em 1921 –, na qual o vence<strong>do</strong>r é aquele que<br />
percorrer um trajeto determina<strong>do</strong> no menor<br />
tempo possível, derrubar o menor número de<br />
obstáculos ou somar mais pontos. Na categoria<br />
adestramento, juízes avaliam as performances<br />
nos movimentos obrigatórios e na coreografi a<br />
livre e determinam o vence<strong>do</strong>r. Já a disputa<br />
<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> concurso completo de equitação<br />
(CCE) dura três dias e envolve adestramento,<br />
quatro etapas de prova de fun<strong>do</strong> e saltos.<br />
146
O<br />
Centro Nacional de Hipismo foi<br />
construí<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> como base as<br />
instalações de hipismo já existentes<br />
na Vila Militar. Foram erguidas<br />
uma arena principal para saltos e<br />
adestramento e mais duas pistas de areia<br />
planas, uma área de estábulos com baias<br />
para 180 animais – muito elogiada pela Federação<br />
Eqüestre Internacional (FEI) –, uma área<br />
de compostagem (processamento de dejetos<br />
orgânicos, feito em parceria com a Embrapa)<br />
e uma pista de cross-country de 5,7 mil metros.<br />
O refeitório, com capacidade para 120<br />
pessoas, foi reforma<strong>do</strong>. Para os Jogos, foram<br />
erguidas, em instalações temporárias, uma<br />
clínica veterinária e um alojamento para trata<strong>do</strong>res<br />
e veterinários, com capacidade para<br />
hospedar 150 pessoas.<br />
Para James Wolff, chefe da delegação americana<br />
de hipismo, o Centro está entre os melhores<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e não tem concorrente na<br />
América Latina: “Foi realiza<strong>do</strong> um trabalho<br />
fantástico aqui. O Brasil está de parabéns. As<br />
instalações são de nível olímpico”, elogiou. Na<br />
pista de saltos da arena principal, acima da<br />
manta capaz de drenar a água das chuvas, foi<br />
implantada mistura de areia, poliéster e caulim<br />
(um extrato mineral). Este solo argiloso possui<br />
densidade ideal para que não se prejudique<br />
nem a performance <strong>do</strong>s cavaleiros nem os<br />
tendões <strong>do</strong>s cavalos. No Brasil, só existe semelhante<br />
na Sociedade Hípica Paulista.<br />
Embora um consultor indica<strong>do</strong> pela Federação<br />
Eqüestre Internacional tenha recomenda<strong>do</strong><br />
que o caulim fosse importa<strong>do</strong> da França, o<br />
Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, após verificar que o similar<br />
nacional é compatível com as exigências<br />
das entidades esportivas da modalidade, sem<br />
qualquer prejuízo para o nível das instalações,<br />
decidiu adquirir as 620 toneladas necessárias<br />
no Brasil, que, aliás, é exporta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> produto.<br />
O projeto foi orça<strong>do</strong> em R$ 4,5 milhões,<br />
incluin<strong>do</strong> a preparação e a aplicação da areia<br />
na arena principal. A pista foi aprovada com<br />
louvor pelo delega<strong>do</strong> técnico da competição.<br />
Representante da Federação Eqüestre Internacional,<br />
Leopol<strong>do</strong> Palácios declarou: “A ins-<br />
147<br />
Saltos em Deo<strong>do</strong>ro:<br />
um centro à altura <strong>do</strong><br />
talento <strong>do</strong>s brasileiros<br />
Foto: Arquivo / Exército Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>
talação está muito boa, em nível olímpico. É<br />
um lega<strong>do</strong> para o País”.<br />
PLANTA DO CENTRO NACIONAL DE HIPISMO<br />
O governo federal ainda importou 1.520 varas,<br />
2.850 ganchos e 19 placares para o Centro<br />
Nacional de Hipismo. O Ministério obteve<br />
economia signifi cativa na construção <strong>do</strong>s<br />
obstáculos das pistas de saltos, cross-country<br />
e pentatlo moderno. A empreiteira havia<br />
apresenta<strong>do</strong> orçamento de mais de R$ 1 milhão<br />
para confecção <strong>do</strong>s 43 obstáculos, mas<br />
o Ministério celebrou um convênio, em junho<br />
de 2007, com o CO-Rio, que os adquiriu por<br />
R$ 469.248,76.<br />
3<br />
Arena <strong>do</strong> hipismo<br />
No caso da pista de cross-country, a Camargo<br />
Corrêa teve de refazer uma parte <strong>do</strong><br />
trabalho para atender às normas das federações<br />
internacionais, segun<strong>do</strong> Odílio Ferreira,<br />
engenheiro contrata<strong>do</strong> pela Engesolo para<br />
fi scalização das obras, o que atrasou a construção.<br />
“Ajustes foram feitos às vésperas <strong>do</strong>s<br />
Jogos. Acho que isso se deu também pelo<br />
ineditismo da obra”, diz o fi scal. Técnicos<br />
da Federação Eqüestre Internacional acompanharam<br />
o projeto desde o início e aprovaram<br />
o resulta<strong>do</strong> fi nal, apesar da preocupação<br />
com a demora.<br />
1<br />
“A instalação é muito boa. Os brasileiros estiveram<br />
muito próximos <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos,<br />
principalmente em termos de equipamentos<br />
esportivos”, afi rma a diretora de eventos da<br />
Federação, Catrin Norinder.<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
1<br />
Baias <strong>do</strong> Centro de Hipismo<br />
148
CONTEMPLANDO A PISTA DE CROSS COUNTRY<br />
2<br />
Pista de cross country<br />
3<br />
2<br />
149
Centro Nacional de<br />
Tiro Esportivo Tenente<br />
Guilherme Paraense<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
A mais moderna instalação<br />
<strong>do</strong> gênero no continente<br />
possui isolamento acústico<br />
Natural de Belém <strong>do</strong> Pará, o tenente Guilherme<br />
Paraense (1884-1968) foi um grande<br />
atira<strong>do</strong>r militar de armas curtas e o primeiro<br />
brasileiro a receber uma medalha olímpica de<br />
ouro. Nos Jogos da Antuérpia, em 1920, levou<br />
duas medalhas: ouro na prova de revólver,<br />
com 274 pontos, e bronze por equipe, na<br />
prova de pistola livre. De volta ao Brasil, foi<br />
homenagea<strong>do</strong> pelo então presidente Epitácio<br />
Pessoa. Em 1922, nos Jogos Atléticos Sulamericanos,<br />
realiza<strong>do</strong>s em comemoração<br />
ao centenário da Independência <strong>do</strong> Brasil,<br />
ganhou mais um ouro na prova de revólver.<br />
A equipe brasileira, formada por Paraense,<br />
Tenente Ferraz e Afrânio Costa, sagrou-se<br />
campeã. No Brasil, venceu seis campeonatos<br />
nacionais. O campeão aban<strong>do</strong>nou o esporte<br />
na década de 30.<br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
TIRO ESPORTIVO<br />
O esporte compreende três modalidades:<br />
tiro ao prato (que se subdivide em fossa<br />
olímpica, <strong>do</strong>ublé e skeet), tiro com carabina (ar<br />
comprimi<strong>do</strong> e fogo central) e tiro com pistola. As<br />
duas últimas compreendem tiros a distâncias<br />
de 10m, 25m e 50m. Nas duas últimas, os<br />
atira<strong>do</strong>res tentam acertar um alvo em círculos<br />
concêntricos, e cada um tem pontuação<br />
diferente. Vence quem somar mais pontos. No<br />
tiro ao prato, o atleta precisa acertar e quebrar<br />
um pedaço visível <strong>do</strong> alvo. Ganha quem somar<br />
mais pontos – cada prato vale um.<br />
150
O<br />
Centro Nacional de Tiro Esportivo<br />
está ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Centro de Tiro <strong>do</strong><br />
Exército, onde treinou o próprio<br />
Guilherme Paraense. Considera<strong>do</strong><br />
o melhor <strong>do</strong> gênero na América Latina, o centro<br />
possui formato constante, retangular, conferin<strong>do</strong><br />
modernidade e harmonia visual ao projeto. Os<br />
estandes são to<strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>s por uma longa<br />
passarela, por onde o público pode circular. Nas<br />
laterais, vidros lamina<strong>do</strong>s verdes dão charme e<br />
proteção térmica e acústica, além de promover<br />
maior segurança. A instalação é dividida em<br />
duas partes: uma de 14,8 mil metros quadra<strong>do</strong>s<br />
para as provas de tiro esportivo, disputadas em<br />
instalações cobertas; e outra de 36,4 mil metros<br />
quadra<strong>do</strong>s, para as provas de tiro ao prato,<br />
disputadas ao ar livre. A área de tiro esportivo<br />
conta com estandes para provas de 10m, 25m e<br />
50m com armas de ar comprimi<strong>do</strong>, além de um<br />
estande para as finais. Já a área de tiro ao prato<br />
conta com três pedanas e é dividida em <strong>do</strong>is espaços:<br />
o de finais e o de provas classificatórias.<br />
O centro é multiuso, com isolamento acústico. O<br />
estande de 10 metros é climatiza<strong>do</strong>. A estrutura<br />
foi homologada pela Federação Internacional<br />
de Tiro Esportivo. Como as normas internacionais<br />
orientam para a construção de acor<strong>do</strong> com<br />
a posição <strong>do</strong> sol em cada hemisfério, o centro<br />
foi construí<strong>do</strong> com a frente para a Avenida Brasil.<br />
No hemisfério sul a instalação deve ficar no<br />
senti<strong>do</strong> norte-sul. Para que a visão <strong>do</strong> trânsito<br />
da avenida não prejudicasse a concentração, foi<br />
a<strong>do</strong>tada uma proteção para as pedanas <strong>do</strong> tiro<br />
ao prato, o que ocasionou um custo adicional.<br />
A União financiou a homologação através de<br />
convênio (78/2007) com o CO-Rio no valor de<br />
R$ 291.430,61. Os alvos eletrônicos das provas<br />
de 10m de ar comprimi<strong>do</strong> são importa<strong>do</strong>s<br />
da Suíça. O governo federal importou ainda<br />
210 jogos de postos e 10 pesos de gatilho. No<br />
Pan, a prova de esgrima <strong>do</strong> pentatlo moderno<br />
foi disputada numa instalação temporária<br />
construída dentro <strong>do</strong> centro. “Quan<strong>do</strong> Guilherme<br />
Paraense conquistou a medalha de ouro,<br />
em 1920, já se sonhava com isso. O centro tem<br />
padrão de primeiro mun<strong>do</strong>”, diz o presidente<br />
da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo,<br />
Frederico Costa.<br />
155<br />
De cima para baixo, um<br />
monitor de controle, os<br />
alvos de 25 e 50 metros,<br />
a pedana <strong>do</strong> tiro ao<br />
prato e vista geral <strong>do</strong><br />
estande de 10 metros<br />
Foto: Alex Ferro / CO-Rio Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>
TECNOLOGIA A SERVIÇO<br />
DE TIROS PRECISOS<br />
O Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro, construí<strong>do</strong> para o Rio 2007 com recursos<br />
<strong>do</strong> governo federal, abriga uma das mais modernas instalações <strong>do</strong> esporte no<br />
mun<strong>do</strong>, o Centro Nacional de Tiro Esportivo Tenente Guilherme Paraense<br />
O TIRO AO PRATO - FOSSA OLÍMPICA E FOSSA DOUBLÉ<br />
<br />
ão<br />
ões de tiros À<br />
e abaixo <strong>do</strong><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
COMO FUNCIONAM<br />
AS MÁQUINAS LANÇADORAS<br />
DE PRATO NO TIRO<br />
<br />
<br />
cada<br />
<br />
capta<strong>do</strong>r de voz <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
máquina de pratos<br />
<br />
<br />
<br />
Casa alta<br />
Casa baixa<br />
152
O TIRO AO PRATO SKEET<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Casa alta<br />
1<br />
Prato<br />
VISTA FRONTAL DA PEDANA<br />
8<br />
2 6<br />
3 5<br />
4<br />
7<br />
Casa baixa<br />
3<br />
2<br />
1<br />
Casa alta<br />
15m<br />
Fossa olímpica<br />
1<br />
Fossa <strong>do</strong>ublé<br />
VISTA SUPERIOR<br />
DA PEDANA<br />
2<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
dist<br />
4 3<br />
8<br />
5<br />
Opera<strong>do</strong>r<br />
4<br />
5<br />
Posições<br />
<strong>do</strong>s atira<strong>do</strong>res<br />
6<br />
7<br />
Posição<br />
<strong>do</strong> atira<strong>do</strong>r<br />
Posição da máquina<br />
lança<strong>do</strong>ra de prato<br />
Prato<br />
entre 2,9 metros e 3,6 metros<br />
Casa baixa<br />
15m<br />
10m<br />
Linha <strong>do</strong> solo<br />
153<br />
Linha <strong>do</strong> solo
2m<br />
Para cada<br />
posição<br />
de tiro, três<br />
máquinas<br />
lança<strong>do</strong>ras<br />
de pratos são<br />
posicionadas<br />
em linha,<br />
abaixo <strong>do</strong> nível<br />
<strong>do</strong> solo<br />
Ângulo<br />
máximo: 45º<br />
154
FOTO AÉREA DO<br />
ESTANDE DE TIRO<br />
As instalações de tiro ao prato são equipadas<br />
com 53 máquinas lança<strong>do</strong>ras de pratos, todas<br />
de última geração, compradas para os Jogos<br />
Pan-americanos com investimentos <strong>do</strong> governo<br />
federal. São 45 instaladas no final das pedanas<br />
(quinze em cada uma), três casas baixas e três casas<br />
altas (um par em cada pedana) e duas para reserva<br />
PLANTA DO ESTANDE<br />
Tiro ao alvo<br />
10 m<br />
50 m<br />
25 m<br />
Finais<br />
50 m<br />
Pedanas de classificação<br />
Pedana para<br />
disputas finais<br />
Avenida Brasil<br />
155
Centro de Pentatlo<br />
Moderno Coronel<br />
Eric Tinoco Marques<br />
Foto: Arquivo / FIA<br />
A piscina exclusiva<br />
<strong>do</strong> centro de pentatlo<br />
foi elogiada pelos atletas<br />
Natural de Niterói, Rio de Janeiro, o coronel<br />
Eric Tinoco Marques (1919-1976) ganhou<br />
uma das duas medalhas de ouro <strong>do</strong> Brasil<br />
na modalidade de pentatlo moderno em<br />
Pan-americanos. Subiu ao ponto mais alto<br />
<strong>do</strong> pódio em 1951, na primeira edição <strong>do</strong>s<br />
Jogos Pan-americanos da história, em Buenos<br />
Aires – o segun<strong>do</strong> ouro veio no Pan de<br />
Chicago, em 1959, com Wenceslau Marques.<br />
No ano seguinte, representou o País nas<br />
Olimpíadas de Helsinque, onde conquistou<br />
a 29ª colocação. Foi instrutor da Escola de<br />
Educação Física <strong>do</strong> Exército e, mais tarde, seu<br />
comandante. Como diretor <strong>do</strong> Departamento<br />
de Educação Física <strong>do</strong> Ministério da Educação<br />
e Cultura, foi um <strong>do</strong>s responsáveis pela<br />
construção <strong>do</strong> estádio de atletismo Célio<br />
Cordeiro de Barros, anexo ao Maracanã.<br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
PENTATLO MODERNO<br />
Este esporte, um <strong>do</strong>s mais completos e<br />
exigentes <strong>do</strong> conjunto pan-americano, de<br />
origem militar, é disputa<strong>do</strong> no Brasil desde<br />
1922. Compõe-se de cinco modalidades: tiro,<br />
esgrima, natação, hipismo (saltos) e atletismo<br />
(corrida). As provas ocorrem ao longo de um<br />
dia. Nas três primeiras disputas, os atletas<br />
somam pontos que definem a ordem de<br />
largada para a corrida de 3.000 metros, cujo<br />
vence<strong>do</strong>r leva a medalha de ouro. O pentatlo<br />
moderno também e disputa<strong>do</strong>, em alto nível,<br />
em competições militares por to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong><br />
156
N<br />
o início da preparação <strong>do</strong>s Jogos,<br />
as disputas <strong>do</strong> pentatlo não<br />
estavam previstas para Deo<strong>do</strong>ro;<br />
seriam realizadas na Escola Naval<br />
e na Sociedade Hípica <strong>do</strong> Rio. Mas, como<br />
o governo federal havia se comprometi<strong>do</strong> a<br />
construir na Vila Militar outras instalações que<br />
integram o pentatlo (hipismo e tiro esportivo),<br />
o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> aceitou a sugestão <strong>do</strong><br />
CO-Rio de transferir esta modalidade para Deo<strong>do</strong>ro.<br />
A mudança gerou economia de custos<br />
para o Comitê Organiza<strong>do</strong>r.<br />
O Centro de Pentatlo Moderno possui piscina<br />
olímpica e aquecida na qual foram disputadas<br />
as provas de natação de 200m na<strong>do</strong> livre,<br />
uma das cinco modalidades deste esporte. A<br />
piscina é mais um lega<strong>do</strong> para o Rio, especialmente<br />
para a zona oeste, que recebe um<br />
pólo de treinamento aquático de alto padrão.<br />
É também uma herança para os militares que<br />
não participam de competições olímpicas mas<br />
praticam a modalidade como tarefa das Forças<br />
Armadas.<br />
Homologada pela Federação Internacional de<br />
Natação (Fina) e apta a sediar provas internacionais<br />
de natação, a piscina é equipada com<br />
os mais modernos recursos para competições<br />
e reconhecida como classe-1 da Fina. Possui,<br />
por exemplo, uma estrutura quebra-ondas,<br />
que permite que as ondas geradas pelos movimentos<br />
<strong>do</strong>s atletas caiam em uma calha lateral,<br />
não interferin<strong>do</strong>, assim, no desempenho<br />
durante a prova.<br />
Já o tiro, a esgrima, o hipismo e a corrida tiveram<br />
palco nas outras dependências <strong>do</strong> Complexo<br />
de Deo<strong>do</strong>ro. A estrutura conta ainda com<br />
vestiários, sanitários e cobertura. De acor<strong>do</strong><br />
com o presidente da Confederação Brasileira<br />
de Pentatlo Moderno (CBPM), Hélio Meirelles<br />
Car<strong>do</strong>so, as novas estruturas representam um<br />
salto para o desenvolvimento da modalidade<br />
no País: “O pentatlo moderno passa a ter <strong>do</strong>is<br />
momentos na história: um antes e outro depois<br />
da inauguração <strong>do</strong> Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro.<br />
Poucas confederações no mun<strong>do</strong> têm<br />
condições de dispor de instalações com este<br />
nível de qualidade”. O Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
também custeou a aquisição de 20 espadas,<br />
20 pistolas de ar comprimi<strong>do</strong> e 9 pistas de alumínio<br />
para a prática <strong>do</strong> Pentatlo em Deo<strong>do</strong>ro<br />
durante e depois <strong>do</strong>s Jogos.<br />
Uma das modalidades <strong>do</strong><br />
pentatlo, a esgrima foi<br />
disputada no estande de<br />
10 metros <strong>do</strong> Tiro Esportivo<br />
157<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>
PLANTA DO PARQUE AQUÁTICO DO CENTRO DE PENTATLO MODERNO<br />
158
A piscina, o corre<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong>s vestiários e os<br />
banheiros adapta<strong>do</strong>s<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> Foto: Arquivo FIA<br />
159
Centro de Hóquei sobre Grama<br />
Sargento João Carlos de Oliveira<br />
Foto: Wilson Dias / ABr<br />
O campo <strong>do</strong> centro:<br />
o primeiro <strong>do</strong> País<br />
com medidas oficiais<br />
Menino pobre de Pindamonhangaba, interior<br />
de São Paulo, de frentista de posto de<br />
gasolina, João <strong>do</strong> Pulo (1954-1999), como era<br />
conheci<strong>do</strong>, tornou-se um <strong>do</strong>s maiores atletas<br />
de salto triplo em to<strong>do</strong>s os tempos. Aos 21<br />
anos, bateu o recorde mundial da modalidade,<br />
com um salto de 17,89m, durante os Jogos<br />
Pan-americanos <strong>do</strong> México, em 1975. A<br />
marca só seria vencida dez anos depois, em<br />
Indianápolis. Levou o bronze nas Olimpíadas<br />
de Montreal, em 1976, e de Moscou, em 1980.<br />
Em Pan-americanos, ganhou medalha de ouro<br />
no salto em distância, em Porto Rico, 1979, e<br />
no México, em 1975. Aos 27 anos, em 1981,<br />
teve a carreira interrompida por um trágico<br />
acidente de carro que levou à amputação<br />
da perna direita. João <strong>do</strong> Pulo morreu<br />
aos 44 anos, vítima de cirrose hepática.<br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
HÓQUEI SOBRE GRAMA<br />
Como no futebol, <strong>do</strong>is times de 11<br />
joga<strong>do</strong>res tentam marcar o maior<br />
número possível de gols, mas aqui as<br />
partidas são divididas em <strong>do</strong>is tempos<br />
de 35 minutos.<br />
160
OS CAMPOS DE HÓQUEI SOBRE GRAMA<br />
DO COMPLEXO DE DEODORO<br />
O Complexo de Deo<strong>do</strong>ro abrigou cinco modalidades nos Jogos Pan-americanos Rio<br />
2007: tiro com arco, hipismo, tiro esportivo, pentatlo moderno e hóquei sobre<br />
grama. Os equipamentos de ponta e a infra-estrutura formam o grande lega<strong>do</strong><br />
deixa<strong>do</strong> neste espaço construí<strong>do</strong> com investimentos <strong>do</strong> governo federal.<br />
Uma das partes mais importantes da herança é a instalação de hóquei<br />
sobre grama, a primeira <strong>do</strong> País a contar com um campo de dimensões<br />
oficiais. Os eficientes sistemas de drenagem <strong>do</strong>s campos de jogo e<br />
de treinamento estão entre os destaques deste espaço. Entenda<br />
como eles funcionam:<br />
Sub-base asfáltica impermeável (asfalto CBUQ)<br />
(diam. <strong>do</strong> agrega<strong>do</strong> 8 a 12 mm)<br />
Lastro de brita nº 1 com imprimação ligante<br />
(diam. da brita 12 a 25 mm)<br />
7cm<br />
10 cm<br />
direção da água<br />
Grama<strong>do</strong> sintético<br />
(padrão IHF)<br />
VISTA FRONTAL<br />
(escoamento da água<br />
para a canaleta com<br />
inclinação de 2%)<br />
Areia especial compactada<br />
15 a<br />
20 cm<br />
Solo natural existente<br />
Canaleta de<br />
drenagem<br />
(15 a 20 cm)<br />
NO CAMPO DE JOGO*<br />
O perímetro <strong>do</strong> campo, de 100,5 metros de comprimento por 61,5<br />
metros de largura, é envolvi<strong>do</strong> por uma canaleta de 15 a 20 centímetros. O<br />
piso, de grama sintética, é levemente mais alto no centro (uma inclinação de<br />
2%, imperceptível na prática) para que a água escorra até a canaleta pela força<br />
da gravidade. Abaixo <strong>do</strong> grama<strong>do</strong> há, nesta ordem, uma camada de asfalto<br />
impermeável (7 cm), uma de brita (10 cm) e uma de areia especial compactada (15 a<br />
20 cm). Como a camada logo abaixo <strong>do</strong> grama<strong>do</strong> é impermeável, a água corre para a<br />
canaleta e, dali, segue até o reservatório.<br />
* desenho com corte transversal <strong>do</strong> campo<br />
100,5 metros<br />
VISTA<br />
SUPERIOR<br />
61,5 metros<br />
NO CAMPO DE AQUECIMENTO**<br />
Neste caso, o sistema a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> é o de drenagem subterrânea <strong>do</strong> tipo espinha de peixe.<br />
Ao contrário <strong>do</strong> que ocorre no campo principal, aqui a água atravessa o piso de<br />
grama<strong>do</strong> sintético, a camada de areia (70 cm), a de brita (30 cm) e também uma<br />
manta de teci<strong>do</strong> especial, o bidim, que funciona como filtro, impedin<strong>do</strong> que ela<br />
chegue às canaletas com partículas sólidas. Inclinadas para facilitar o<br />
escoamento, num desenho que lembra uma espinha de peixe, as<br />
canaletas secundárias desembocam no ramo central, maior, que remete<br />
ao reservatório. “Os campos de hóquei são molha<strong>do</strong>s para que o<br />
disco deslize com facilidade e rapidez nos jogos. O sistema<br />
impermeável foi utiliza<strong>do</strong> no campo oficial porque mantém o<br />
piso úmi<strong>do</strong> por mais tempo, o que não é tão necessário no<br />
espaço de aquecimento, com 91 metros de comprimento<br />
por 55 metros de largura”, explica o gerente de<br />
instalações <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> durante o Pan,<br />
Luiz Custódio de Freitas.<br />
Grama<strong>do</strong> sintético<br />
Neste sistema<br />
a água segue para<br />
as canaletas<br />
91 metros<br />
Camada<br />
de areia<br />
(70 cm)<br />
Camada<br />
de brita<br />
(30 cm)<br />
55 metros<br />
Caimento 1%<br />
Caimento 1%<br />
Ramo central - caimento 1%<br />
Caimento 1%<br />
Caimento 1%<br />
161<br />
canaleta<br />
Manta de teci<strong>do</strong><br />
especial, o bidim,<br />
que funciona<br />
como filtro<br />
** desenho com corte transversal e vista superior <strong>do</strong> esquema espinha de peixe
O<br />
s campos de hóquei sobre grama<br />
<strong>do</strong> Complexo de Deo<strong>do</strong>ro são os<br />
primeiros e ainda únicos oficiais<br />
<strong>do</strong> Brasil. Este centro é composto<br />
por <strong>do</strong>is campos revesti<strong>do</strong>s de grama sintética<br />
importada da Itália – um seco e outro irriga<strong>do</strong><br />
– e vestiários. A grama é constantemente molhada<br />
para reduzir o atrito entre o atleta e o solo<br />
e fazer com que a bola deslize com velocidade.<br />
Para tanto, foi instala<strong>do</strong> no local um sistema de<br />
irrigação com canhões d’água que alcançam<br />
toda a dimensão <strong>do</strong> campo. Abaixo da grama,<br />
foi aplicada uma borracha especial, que possui<br />
shockpad, ou seja, absorve impacto. Para que<br />
não se formem poças, o campo é ligeiramente<br />
abobada<strong>do</strong>, e a água escorre para os la<strong>do</strong>s.<br />
A instalação recebeu muitos elogios, mas também<br />
algumas críticas em relação ao grama<strong>do</strong>.<br />
“A qualidade <strong>do</strong> piso irriga<strong>do</strong>, a borracha, o<br />
amortecimento são ótimos. Mas o grama<strong>do</strong><br />
enrugou um pouco”, diz o diretor técnico da<br />
Confederação Brasileira de Hóquei sobre Grama,<br />
Cláudio Rocha. Por isso, durante o Pan, a<br />
empresa que montou o campo manteve <strong>do</strong>is<br />
funcionários para grampear a parte afetada.<br />
Depois <strong>do</strong>s Jogos, a empresa reaplicou a cola<br />
no grama<strong>do</strong>, solucionan<strong>do</strong> definitivamente o<br />
problema. Para a prática deste esporte, o governo<br />
federal importou 2.518 tacos, 2.500 bolas<br />
e 18 protetores pélvicos. A iluminação e as<br />
arquibancadas eram temporárias, apenas para<br />
os Jogos.<br />
Diversas adaptações permitiram que a instalação<br />
fosse utilizada para a disputa de futebol<br />
de 5 e futebol de 7 durante os Jogos Parapanamericanos.<br />
Em visita a Deo<strong>do</strong>ro, o secretário<br />
geral <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico Internacional e o<br />
diretor técnico da entidade se mostraram satisfeitos<br />
com o local escolhi<strong>do</strong> para sediar as<br />
modalidades <strong>do</strong> esporte. Eles aprovaram o terreno<br />
plano <strong>do</strong> Complexo, que facilita o acesso<br />
de deficientes físicos. Durante o Parapan,<br />
o Centro de Hóquei sobre Grama foi uma das<br />
instalações que mais reuniram especta<strong>do</strong>res.<br />
PLANTA DO CENTRO DE HÓQUEI SOBRE GRAMA<br />
162
O campo principal<br />
adapta<strong>do</strong> para<br />
o Parapan e o<br />
moderno sistema de<br />
irrigação da grama.<br />
<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
163
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Centro de<br />
Tiro com Arco<br />
P<br />
rovisórias durante os Jogos Panamericanos,<br />
as instalações para a<br />
disputa de tiro com arco podem ser<br />
recolocadas sempre que necessário,<br />
uma vez que as obras de infra-estrutura<br />
realizadas no local (iluminação, instalação<br />
elétrica e hidráulica e to<strong>do</strong> o sistema viário de<br />
acesso) permitem novas montagens a qualquer<br />
momento.<br />
PLANTA DO CENTRO DE TIRO COM ARCO<br />
O diretor técnico da Confederação Brasileira<br />
de Tiro com Arco (CBTArco), Eros Fauni, elogiou:<br />
“Esta prova pode ser realizada em nível<br />
olímpico”. Em novembro de 2006, foi o local<br />
escolhi<strong>do</strong> para a Copa Pan-americana de Tiro<br />
com Arco, um evento-teste que serviu para<br />
atestar a qualidade da estrutura.<br />
O tiro com arco é pratica<strong>do</strong> com equipamentos<br />
de última geração. As 750 flechas importadas<br />
pelo governo federal são de alumínio e carbono<br />
que, devi<strong>do</strong> a sua resistência e precisão de<br />
vôo, permitem um equilíbrio perfeito. Foram<br />
adquiri<strong>do</strong>s também 400 alvos e 115 arcos de<br />
última geração.<br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
TIRO COM ARCO<br />
É disputa<strong>do</strong> em duas categorias,<br />
individual e por equipes, na distância<br />
de 70 metros em relação ao alvo (dez<br />
círculos concêntricos com diâmetro<br />
de 1,22 metro). O círculo <strong>do</strong> meio vale<br />
dez pontos, e os outros um ponto<br />
a menos cada, a partir <strong>do</strong> centro.<br />
Nas eliminatórias, 36 flechas são<br />
disparadas por competi<strong>do</strong>r, em séries<br />
de seis flechas. Vence o atleta que<br />
somar o maior número de pontos.<br />
164
Vista áerea <strong>do</strong><br />
centro e detalhe<br />
<strong>do</strong>s alvos e<br />
da competição<br />
Fotos: Arquivo / FIA<br />
165
Arena <strong>do</strong> Vôlei de Praia<br />
Fotos: Alex Ferro / CO-Rio<br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
VÔLEI DE PRAIA<br />
A modalidade foi reconhecida pela<br />
Federação Internacional de Vôlei em<br />
1986, mas só entrou para a lista de<br />
esportes <strong>do</strong> Pan-Americano em 1999.<br />
Possui estrutura de jogo idêntica à <strong>do</strong><br />
vôlei de quadra, mas apenas duas duplas<br />
disputam três sets – os <strong>do</strong>is primeiros,<br />
até 21 pontos, e em caso de empate a<br />
briga é prorrogada até que uma dupla<br />
abra <strong>do</strong>is pontos de vantagem. O último<br />
set chega a 15, com a mesma regra se<br />
houver empate no 14º ponto.<br />
A<br />
montagem da Arena de Copacabana<br />
foi facilitada pelo fato de o<br />
Brasil ter experiência neste tipo de<br />
instalação. Em relação a Santo Domingo<br />
2003, constitui-se um grande avanço:<br />
naqueles Jogos a estrutura <strong>do</strong> vôlei de praia<br />
foi erguida em uma arena de touros desativada.<br />
Já no Rio 2007, incluía uma arena principal,<br />
duas secundárias e uma de aquecimento – na<br />
praia, é claro. A arena oferecia conforto à torcida<br />
(<strong>do</strong>is telões de alta definição de 24 metros<br />
quadra<strong>do</strong>s e sonorização na área de especta<strong>do</strong>res,<br />
entre outros equipamentos) e mais de<br />
100 salas de apoio, incluin<strong>do</strong> centro médico,<br />
sala de imprensa e local para operações de<br />
segurança. E era equipada com placares e<br />
sistema de cronometragem. Além de instalar<br />
100 aparelhos de ar condiciona<strong>do</strong>, o governo<br />
federal importou mil bolas de vôlei, 16 postes<br />
e 8 cadeiras de árbitros. A arena principal<br />
comportou 5.381 lugares, com espaço para<br />
cadeirantes na primeira fila da arquibancada, e<br />
contou também com banheiros químicos, vários<br />
deles adapta<strong>do</strong>s para deficientes. Voluntários<br />
ajudavam pessoas com dificuldades de<br />
locomoção. “Foi melhor <strong>do</strong> que to<strong>do</strong>s os outros<br />
torneios internacionais. No voleibol, desde<br />
as competições de 1993 e 1995, as arenas de<br />
praia <strong>do</strong> Brasil são as melhores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”, diz<br />
Ary Graça, presidente da Confederação Brasileira<br />
de Vôlei. Para Larissa, brasileira tricampeã<br />
mundial e medalha de ouro no Rio 2007,<br />
foi “o melhor <strong>do</strong> Pan. Nem no Circuito Mundial<br />
eu e Juliana jogamos num espaço tão grande”.<br />
166
No senti<strong>do</strong> horário,<br />
um jogo oficial, uma<br />
vista <strong>do</strong> complexo<br />
com a quadra de<br />
aquecimento e,<br />
abaixo, uma geral<br />
da arena. No detalhe,<br />
o espaço adapta<strong>do</strong><br />
para cadeirantes<br />
Fotos: Alex Ferro / CO-Rio<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
167
168
Arena <strong>do</strong> Posto 6<br />
C<br />
ada modalidade foi disputada em<br />
um só dia e requeria pequenas<br />
estruturas de apoio, montadas no<br />
canteiro central da Avenida Atlântica<br />
e à beira da praia de Copacabana, de mo<strong>do</strong><br />
que o público pôde assistir sem aquisição de<br />
ingressos. As instalações incluíam, por exemplo,<br />
1.000 assentos, 7,8 mil metros de cerca e<br />
1,3 mil metros de tabla<strong>do</strong> de madeira, além da<br />
ambientação <strong>do</strong> local, o “Look of the games”.<br />
Para o consultor australiano John Baker, a estrutura<br />
foi um sucesso porque permitiu boa<br />
participação popular. “O triatlo e a maratona<br />
aquática funcionaram muito bem. Houve bastante<br />
público”, diz.<br />
MODALIDADES DISPUTADAS<br />
TRIATLO<br />
A prova que reúne natação, ciclismo e<br />
atletismo foi criada na década de 70,<br />
nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Em Jogos Pan-<br />
Americanos, o percurso é o seguinte:<br />
1,5 km de natação, 40 km de ciclismo e<br />
10km de corrida, nesta ordem. Ganha<br />
o atleta que completar toda a prova em<br />
primeiro lugar.<br />
Foto: Divulgação / CO-Rio<br />
MARATONA AQUÁTICA<br />
Este esporte fez sua estréia em Pan-<br />
Americanos no Rio 2007, incluí<strong>do</strong><br />
pela Organização Desportiva Pan-<br />
Americana (Odepa) em 2005. Nos<br />
mundiais, as provas, disputadas no<br />
mar, são divididas entre 5km, 10km<br />
e 25km. Para o Pan, foi escolhida a<br />
modalidade de 10km, sem baterias<br />
eliminatórias, para as competições<br />
masculina e feminina.<br />
169
PLANTA DA ARENA DO POSTO 6<br />
170
171
Instalações sob responsabilidade <strong>do</strong> governo estadual<br />
172
Complexo Esportivo<br />
<strong>do</strong> Maracanã<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
O estádio, o ginásio e o<br />
parque aquático: obras<br />
iniciadas em 1999<br />
173
C<br />
artão-postal <strong>do</strong> Rio de Janeiro e<br />
<strong>do</strong> Brasil, o Estádio Mário Filho, ou<br />
simplesmente Maracanã, é a principal<br />
instalação <strong>do</strong> complexo, que<br />
compreende ainda o Ginásio Gilberto Car<strong>do</strong>so<br />
(o Maracanãzinho), o Parque Aquático Júlio<br />
Delamare e o Estádio de Atletismo Célio de<br />
Barros – to<strong>do</strong>s administra<strong>do</strong>s pela Superintendência<br />
de Desportos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />
(Suderj). Para os Jogos, as instalações,<br />
exceto a última, passaram por reformas que se<br />
constituíram em importantes lega<strong>do</strong>s para a<br />
cidade e o País. Os trabalhos foram custea<strong>do</strong>s<br />
pelo governo estadual, mas o ritmo das obras<br />
só acelerou no início <strong>do</strong> mandato <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r<br />
Sérgio Cabral, em janeiro de 2007, graças<br />
a convênios firma<strong>do</strong>s com o governo federal.<br />
Na Matriz de Responsabilidades, de fevereiro<br />
de 2007, o custo estima<strong>do</strong> estava em R$ 264<br />
milhões e acabou fechan<strong>do</strong> em R$ 265,2 milhões<br />
incluin<strong>do</strong> estruturas de apoio e identidade<br />
visual. O complexo esportivo, sobretu<strong>do</strong> o<br />
Estádio Mário Filho, tem um histórico de obras<br />
de modernização desde a década de 90. Em<br />
setembro de 1999, para receber o Mundial de<br />
Clubes da Fifa, que se realizaria quatro meses<br />
depois, obras da construtora Varca Scatena<br />
reforçaram a estrutura <strong>do</strong> Estádio <strong>do</strong> Maracanã<br />
e <strong>do</strong> Célio de Barros.<br />
Na virada para o mandato da governa<strong>do</strong>ra<br />
Rosinha Matheus, em 2002, a obra mu<strong>do</strong>u de<br />
escopo, já que o Rio ganhara o direito de abrigar<br />
os Jogos Pan-americanos Rio 2007. Mas<br />
a construtora foi à falência, deixan<strong>do</strong> as obras<br />
inacabadas. Em novembro de 2004, o governo<br />
estadual liberou recursos para que um consórcio<br />
forma<strong>do</strong> por três grandes empreiteiras<br />
– Odebrecht, OAS e Andrade Gutierrez – concluísse<br />
a reforma. Em junho <strong>do</strong> ano seguinte,<br />
as obras foram retomadas e tiveram conclusão<br />
às vésperas <strong>do</strong>s Jogos.<br />
O Parque Aquático Julio Delamare foi reinaugura<strong>do</strong><br />
em agosto de 2006, celebra<strong>do</strong> como<br />
a primeira instalação <strong>do</strong> Pan a ser entregue,<br />
apesar de alguns ajustes ainda terem si<strong>do</strong> feitos<br />
até o início <strong>do</strong> evento. A obra <strong>do</strong> Maracanãzinho<br />
só foi reiniciada em novembro de 2006,<br />
porque o governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> não dispunha<br />
de recursos suficientes para reformar to<strong>do</strong> o<br />
complexo ao mesmo tempo.<br />
O cenário só mu<strong>do</strong>u a partir <strong>do</strong>s convênios assina<strong>do</strong>s<br />
com o governo federal em 2007. Pelo<br />
primeiro deles (13/2007), de fevereiro, foram<br />
libera<strong>do</strong>s R$ 30 milhões da União, com contrapartida<br />
de R$ 10 milhões <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, para a<br />
compra de diversos equipamentos e aparelhos<br />
e realização de pequenas obras. Em abril de<br />
2007, um segun<strong>do</strong> convênio (48/2007) destinou<br />
outros R$ 87,5 milhões (R$ 69,9 milhões<br />
da União e R$ 17,5 milhões <strong>do</strong> governo estadual)<br />
para concluir as obras tanto no estádio<br />
quanto no ginásio.<br />
O Estádio <strong>do</strong> Maracanã recebeu as cerimônias<br />
de abertura e encerramento <strong>do</strong>s Jogos e<br />
o torneio de futebol; o Maracanãzinho abrigou<br />
as partidas de vôlei; e o Parque Aquático Júlio<br />
Delamare, as de pólo aquático. Já a área<br />
<strong>do</strong> Estádio Célio de Barros foi utilizada como<br />
“common <strong>do</strong>main” – local com tendas de patrocina<strong>do</strong>res,<br />
lojas de produtos oficiais e bares<br />
para lazer <strong>do</strong> torce<strong>do</strong>r. A idéia <strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>res<br />
era fazer com que o público chegasse mais<br />
ce<strong>do</strong> aos eventos esportivos para aproveitar a<br />
infra-estrutura oferecida, o que facilitava sua<br />
alocação dentro das instalações <strong>do</strong> complexo<br />
e aliviava a pressão sobre o trânsito das re<strong>do</strong>ndezas<br />
<strong>do</strong> complexo <strong>do</strong> Maracanã.<br />
O esquema de trânsito da Secretaria Municipal<br />
de Transportes e <strong>do</strong> CO-Rio nos arre<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> Maracanã, que incluiu o fechamento<br />
de ruas <strong>do</strong> entorno, foi o mais elogia<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
Jogos. A entrada <strong>do</strong> público se dava por <strong>do</strong>is<br />
acessos – no Estádio Célio de Barros e na<br />
área conhecida como Rampa <strong>do</strong> Bellini. O esquema<br />
especial se mostrou eficaz sobretu<strong>do</strong><br />
nas cerimônias de abertura e encerramento.<br />
O estádio de futebol mais importante <strong>do</strong> Brasil,<br />
174
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Estádio Mário Filho<br />
onde alguns <strong>do</strong>s melhores joga<strong>do</strong>res e times<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> já duelaram, começou a ser ergui<strong>do</strong><br />
em 1948 e foi inaugura<strong>do</strong> em 1950, para<br />
a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> daquele ano. Na época, a<br />
simples idéia de uma construção deste porte,<br />
para abrigar 183 mil pessoas, causava polêmica<br />
entre os políticos. “Acreditar no estádio é<br />
acreditar no Brasil”, dizia o jornalista <strong>do</strong>no <strong>do</strong><br />
Jornal <strong>do</strong>s Sports, que, por ter si<strong>do</strong> o principal<br />
incentiva<strong>do</strong>r da obra, tem hoje seu nome em<br />
letras garrafais, no alto, à entrada <strong>do</strong> “Maraca”,<br />
apeli<strong>do</strong> carinhoso da<strong>do</strong> pelos cariocas: Estádio<br />
Mário Filho. A palavra Maracanã é oriunda<br />
<strong>do</strong> rio de mesmo nome, que passava na região<br />
onde hoje está o campo.<br />
Para revitalizar este cartão-postal <strong>do</strong> País e<br />
deixá-lo apto a receber público de eventos importantes<br />
como o Mundial de Clubes da Fifa<br />
de 2000 e os Jogos Pan-americanos Rio 2007,<br />
as obras foram iniciadas em 1999, com a instalação<br />
de assentos plásticos e outras adequações.<br />
As principais intervenções para os Jogos<br />
foram o rebaixamento <strong>do</strong> campo em 1,60m e a<br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
FUTEBOL<br />
<strong>Esporte</strong> mais popular <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />
organiza<strong>do</strong> e sistematiza<strong>do</strong> na Inglaterra<br />
no século 19, o futebol estreou<br />
oficialmente em Jogos Olímpicos em<br />
1908 e está no Pan-americano desde<br />
sua primeira edição, em 1951.<br />
Reforma para o<br />
Pan revitalizou<br />
importante cartãopostal<br />
<strong>do</strong> País<br />
criação da “platéia inferior” no lugar da antiga<br />
“geral”. Desta forma, to<strong>do</strong>s os lugares passaram<br />
a ser senta<strong>do</strong>s, como exige a Fifa. Com as<br />
mudanças, a capacidade <strong>do</strong> estádio caiu para<br />
91 mil lugares.<br />
Além da estrutura, foram reforma<strong>do</strong>s a tribuna<br />
de imprensa, os vestiários, banheiros e bares.<br />
No Museu <strong>do</strong> Futebol, agora há oito escadas<br />
rolantes. Os antigos placares foram substituí<strong>do</strong>s<br />
por outros três digitais, de 16m x 1,2m, e<br />
<strong>do</strong>is telões de 10m x 6m foram instala<strong>do</strong>s atrás<br />
das balizas. O fornecimento e a instalação <strong>do</strong>s<br />
placares e das escadas rolantes, bem como<br />
diversas obras para conclusão das reformas<br />
no Complexo, foram garanti<strong>do</strong>s pelos convênios<br />
13/2007 e 48/2007, entre União e Esta<strong>do</strong>.<br />
175
Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />
Ginásio Gilberto<br />
Car<strong>do</strong>so, o<br />
Maracanãzinho<br />
O mais tradicional ginásio<br />
<strong>do</strong> País: atrasos no início,<br />
mas, depois, muitos elogios<br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
Foto: Donald Miralle / Getty Images<br />
VÔLEI<br />
Uma rede separa duas equipes de seis<br />
atletas, que disputam partidas de melhorde-cinco<br />
sets. Os quatro primeiros sets vão<br />
a 25 pontos (em caso de empate, o jogo é<br />
prorroga<strong>do</strong> até que um time abra vantagem<br />
de <strong>do</strong>is pontos) e o último, até 15 (e aqui<br />
vale a mesma regra em caso de empate). Se<br />
uma equipe ganhar os três primeiros sets,<br />
o jogo acaba aí. Para pontuar, os joga<strong>do</strong>res<br />
precisam fazer com que a bola caia no<br />
campo adversário dan<strong>do</strong> nela, no máximo,<br />
três toques, além <strong>do</strong> contato <strong>do</strong> bloqueio.<br />
Para isso, os atletas não podem dar <strong>do</strong>is<br />
toques consecutivos na bola.<br />
176
P<br />
ode-se dizer que o ginásio <strong>do</strong> Maracanãzinho<br />
está para o vôlei, o segun<strong>do</strong><br />
esporte mais popular <strong>do</strong> Brasil,<br />
assim como o estádio <strong>do</strong> Maracanã<br />
está para o futebol. Equipamento histórico e ícone<br />
<strong>do</strong> esporte nacional, a arena para jogos de futebol<br />
de salão, handebol, basquete e, claro, vôlei<br />
foi palco de momentos emocionantes, como o<br />
Mundialito de 1982, que registrou pela primeira<br />
vez o saque “jornada nas estrelas”, <strong>do</strong> joga<strong>do</strong>r<br />
Bernard Razjman, na vitória brasileira sobre o<br />
poderoso time da então União Soviética por 3<br />
sets a 2. Longe da seara, mas não menos importante<br />
para o País, o Festival Internacional da<br />
Canção, que lotou o Maracanãzinho entre 1966<br />
e 1972, revelou compositores como Chico Buarque,<br />
Caetano Veloso, Tom Jobim, Geral<strong>do</strong> Vandré<br />
e Gilberto Gil, entre muitos outros. O ginásio<br />
ainda foi palco <strong>do</strong> Campeonato Mundial de<br />
Basquete Masculino em 1963 e Mundial de Vôlei<br />
Masculino em 1990. Inaugura<strong>do</strong> em 1954, foi batiza<strong>do</strong><br />
um ano depois com o nome de Gilberto<br />
Car<strong>do</strong>so – presidente <strong>do</strong> Clube de Regatas Flamengo<br />
morto no próprio ginásio, vítima de um<br />
infarto durante uma emocionante final <strong>do</strong> campeonato<br />
de basquete. Nota-se que o Maracanãzinho<br />
merecia, e ganhou, uma reforma à sua<br />
altura para os Jogos Pan-americanos Rio 2007.<br />
Embora tenha si<strong>do</strong> a obra mais atrasada no<br />
cronograma <strong>do</strong> evento, seu resulta<strong>do</strong> final foi<br />
um <strong>do</strong>s mais elogia<strong>do</strong>s. O próprio Bernard,<br />
estrela da geração medalha de prata em Los<br />
Angeles, 1984, atestou: “Está tu<strong>do</strong> perfeito. O<br />
Brasil conta, agora, com uma estrutura moderna<br />
que não deixa nada a desejar a nenhum<br />
ginásio <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”. Na reinauguração, em 30<br />
de junho de 2007, o atleta repetiu o saque “jornada<br />
nas estrelas” durante os intervalos da<br />
partida de vôlei feminino entre Brasil e Sérvia,<br />
vencida pelas brasileiras por 3 sets a 1.<br />
O novo piso da arena principal, construí<strong>do</strong><br />
com alta tecnologia, possui um sistema flutuante<br />
em madeira maciça flexível com amortece<strong>do</strong>res<br />
para absorver impactos – estes dispositivos<br />
são diferencia<strong>do</strong>s para áreas sujeitas<br />
às maiores concentrações de carga (garrafão<br />
no basquete e linha de 3 metros no vôlei).<br />
O placar eletrônico pesa 1.800 quilos e foi monta<strong>do</strong><br />
com peças importadas da China e <strong>do</strong>s<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Na quadra, o assoalho tem<br />
elevada resistência a desgastes, com brilho<br />
defini<strong>do</strong> para diminuir o reflexo da luz e realçar<br />
a demarcação das linhas para partidas de<br />
futebol de salão, vôlei, basquete e handebol,<br />
seguin<strong>do</strong> as normas das federações esportivas<br />
destas modalidades. Iluminação, acústica<br />
e ar-condiciona<strong>do</strong> foram planeja<strong>do</strong>s para garantir<br />
conforto e segurança ao público e aos<br />
atletas. Os equipamentos instala<strong>do</strong>s geram<br />
1.700 toneladas de refrigeração e asseguram<br />
temperatura constante, em torno de 24º C, que<br />
permite a alta performance <strong>do</strong>s joga<strong>do</strong>res e a<br />
comodidade <strong>do</strong> público.<br />
As obras de reforma <strong>do</strong> Maracanãzinho foram<br />
iniciadas em 2003, e a instalação foi a que<br />
mais sofreu com a falência da construtora Varca<br />
Scatena e a falta de recursos até 2006. O<br />
ginásio foi, dentro <strong>do</strong> Complexo, a instalação<br />
que teve o cronograma mais defasa<strong>do</strong>. Em janeiro<br />
de 2007, menos de 10% da reforma havia<br />
si<strong>do</strong> executada. Só com a assinatura de <strong>do</strong>is<br />
convênios com o governo federal (13/2007 e<br />
48/2007) foi possível finalizá-la. “O desafio<br />
maior <strong>do</strong> governo estadual foi o Maracanãzinho.<br />
Havia um bom volume de obra para ser<br />
feito em to<strong>do</strong> o Complexo <strong>do</strong> Maracanã e que<br />
cabia no cronograma, porém faltava dinheiro<br />
para pagar as contas. Em janeiro de 2007 já se<br />
estudavam outras alternativas para abrigar o<br />
vôlei”, conta o ex-secretário estadual de Turismo,<br />
<strong>Esporte</strong> e Lazer Eduar<strong>do</strong> Paes, que assumiu<br />
naquele mês e deixou o governo em junho<br />
de 2008.<br />
Com a verba da União, foram instala<strong>do</strong>s o<br />
sistema de ar condiciona<strong>do</strong> central, o placar<br />
eletrônico, quatro placares auxiliares e 6,3 mil<br />
cadeiras retráteis, entre outros equipamentos.<br />
Por fim, o resulta<strong>do</strong> agra<strong>do</strong>u a gregos e troianos:<br />
“Não esperávamos encontrar algo assim<br />
no Brasil. É um espaço com qualidade comparável<br />
à <strong>do</strong>s melhores ginásios da Europa. O<br />
Maracanãzinho será um convite para que equipes<br />
internacionais venham jogar no Brasil”, resume<br />
a ponta-de-rede Paula Pequeno.<br />
177
Parque Aquático Júlio Delamare<br />
C<br />
onstruí<strong>do</strong> em 1978 ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Estádio<br />
Mário Filho e reforma<strong>do</strong> especialmente<br />
para os Jogos Panamericanos<br />
Rio 2007, o Parque<br />
Aquático Júlio Delamare, um <strong>do</strong>s maiores <strong>do</strong><br />
gênero da América Latina, foi a primeira instalação<br />
a ser reinaugurada para os Jogos, em<br />
2006. O parque leva o nome de um jornalista<br />
esportivo morto em 1973, grande incentiva<strong>do</strong>r<br />
de sua construção, e possui uma piscina olímpica<br />
para competição, uma coberta para aquecimento<br />
e um tanque para saltos com profundidade<br />
de cinco metros.<br />
Grandes nomes da natação brasileira começaram<br />
sua carreira no Delamare, como Fernan<strong>do</strong><br />
Scherer, o “Xuxa”, e Gustavo Borges. Para os<br />
Jogos, as arquibancadas receberam assentos<br />
plásticos. Visan<strong>do</strong> a prática <strong>do</strong> esporte, o governo<br />
federal ainda importou 800 bolas e 8 travas<br />
antimarola. “Foi uma boa instalação para o<br />
pólo aquático, sen<strong>do</strong> muito positivo que todas<br />
as partidas tenham si<strong>do</strong> disputadas no mesmo<br />
local. No entanto, a iluminação não era ótima<br />
e, ao entardecer, a visibilidade não foi perfeita.<br />
Não obstante, isso foi supera<strong>do</strong> pela incrível<br />
torcida que lotou a instalação”, diz Guillermo<br />
Martínez, cubano, delega<strong>do</strong>-técnico indica<strong>do</strong><br />
pela Federação Internacional de Natação (Fina).<br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
PÓLO AQUÁTICO<br />
O esporte pode ser considera<strong>do</strong> uma versão<br />
aquática <strong>do</strong> futebol, com <strong>do</strong>is times de sete<br />
joga<strong>do</strong>res, entre eles um goleiro, que se<br />
enfrentam numa piscina, onde disputam a<br />
bola sem poder tocar os pés no chão ou a<br />
mão na borda. Ganha a equipe que marcar<br />
mais gols, em quatro quartos de sete<br />
minutos cada.<br />
As arquibancadas <strong>do</strong><br />
parque receberam novos<br />
assentos para o Pan<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
178
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
O belo clube recebeu<br />
estruturas temporárias<br />
financiadas pelo<br />
Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Foto: Donald Miralle / Getty Images<br />
Clube <strong>do</strong>s Caiçaras<br />
Ú<br />
ltima instalação acrescentada ao<br />
programa <strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos,<br />
o Clube <strong>do</strong>s Caiçaras serviu<br />
de apoio às operações para a<br />
disputa <strong>do</strong> esqui aquático, realizada na própria<br />
Lagoa Rodrigo de Freitas. Uma estrutura temporária<br />
dentro <strong>do</strong> clube particular, custeada<br />
pelo governo estadual por meio de repasse <strong>do</strong><br />
Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, continha basicamente<br />
tendas de arbitragens e cronometragem, banheiros<br />
químicos e instalações elétricas.<br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
ESQUI AQUÁTICO<br />
Slalom, salto de rampa e truques são<br />
as três principais provas <strong>do</strong> esporte.<br />
Na primeira, o atleta usa os <strong>do</strong>is pés<br />
sobre um esqui, liga<strong>do</strong> por uma corda à<br />
lancha, e completa um percurso na água<br />
delimita<strong>do</strong> por bóias. A corda é reduzida a<br />
cada bóia ultrapassada. Vence aquele que<br />
completar mais bóias com a menor corda.<br />
Na categoria truques, o competi<strong>do</strong>r tem<br />
duas séries de 20 segun<strong>do</strong>s para executar<br />
manobras que valem pontos. No salto<br />
sobre rampa são utiliza<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is esquis,<br />
e vence quem saltar mais longe e ainda<br />
continuar esquian<strong>do</strong> após a queda. As<br />
categorias também podem ser realizadas<br />
na modalidade descalço, ou seja, sem<br />
esquis. Há ainda o wakeboard, inspira<strong>do</strong><br />
no surfe e no skate, com pranchas<br />
parecidas com as de snowboard.<br />
179
MODALIDADES DISPUTADAS<br />
Reformas no estádio<br />
incluíram a dragagem<br />
de parte da Lagoa<br />
Rodrigo de Freitas<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
REMO<br />
Neste esporte, rema<strong>do</strong>res, com um<br />
remo em cada mão, competem dividi<strong>do</strong>s<br />
por raias, em águas calmas. Ganha o<br />
barco que cumprir em menor tempo a<br />
distância, em linha reta, de 2 quilômetros.<br />
As embarcações podem ter um, <strong>do</strong>is,<br />
quatro ou oito componentes, além <strong>do</strong><br />
timoneiro, integrante responsável por<br />
orientar a equipe. Há disputas femininas<br />
e masculinas.<br />
CANOAGEM<br />
A modalidade é disputada em Panamericanos<br />
desde 1967 e consiste na<br />
disputa em canoa e caiaque, em águas<br />
calmas (para canoagem de velocidade) e<br />
turbulentas (para canoagem slalom). No<br />
Rio 2007, somente a primeira categoria foi<br />
disputada. Nela, um, <strong>do</strong>is ou quatro atletas<br />
conduzem barcos separa<strong>do</strong>s por raias nas<br />
distâncias de 500 metros e 1.000 metros.<br />
Os competi<strong>do</strong>res, apoia<strong>do</strong>s em um joelho,<br />
usam barcos abertos e com remos com<br />
lâmina em apenas um la<strong>do</strong>.<br />
180
Estádio de Remo da Lagoa<br />
A<br />
ssim como a reforma <strong>do</strong> Maracanãzinho,<br />
as obras no Estádio de<br />
Remo da Lagoa só entraram em<br />
ritmo acelera<strong>do</strong> com a mudança de<br />
mandato no governo estadual, em janeiro de<br />
2007. No plano original, a empresa Glen, que<br />
recebeu <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> a concessão da área em<br />
1996, faria obras de reforma e poderia explorar<br />
o local como complexo de lazer, com cinema,<br />
restaurantes e lojas. No entanto, disputas judiciais<br />
entre a empresa e grupos contrários ao<br />
uso da área para atividades de lazer geraram<br />
sucessivos embargos na Justiça.<br />
Já em 2007, a Procura<strong>do</strong>ria Geral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />
obteve um acor<strong>do</strong> para que as obras de<br />
adequação aos Jogos fossem autorizadas.<br />
Com isso, a Glen fez a reforma <strong>do</strong>s blocos I<br />
(arquibancadas, calçadão, estacionamento, ciclovia,<br />
iluminação, torre de juízes e banheiros<br />
para o público) e III (terraço utiliza<strong>do</strong> para garagens<br />
de barcos), além de participar <strong>do</strong> custeio<br />
da instalação. A Empresa de Obras Públicas<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> (Emop) executou a construção <strong>do</strong><br />
bloco II. Ainda assim, as obras no local, que é<br />
tomba<strong>do</strong>, sofreram embargo de 15 dias pelo<br />
Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico<br />
Nacional (Iphan), por causa de atraso na entrega<br />
de <strong>do</strong>cumentação que regularizava o andamento<br />
<strong>do</strong>s trabalhos.<br />
As intervenções para o remo e a canoagem<br />
incluíram a dragagem <strong>do</strong> perímetro da Lagoa<br />
que foi utiliza<strong>do</strong> durante as competições. A<br />
nova raia tem <strong>do</strong>is quilômetros de extensão,<br />
108 metros de largura e 3,1 metros de profundidade,<br />
dentro das medidas exigidas pelas<br />
normas internacionais de remo e canoagem.<br />
Foram adquiridas raias Albano com parti<strong>do</strong>res<br />
automáticos e cronometragem eletrônica,<br />
importadas da Hungria – o mesmo modelo<br />
utiliza<strong>do</strong> com sucesso nas Olimpíadas de Atenas<br />
2004 e que também foi usa<strong>do</strong> nos Jogos<br />
de Pequim 2008. Além disso, houve compra<br />
de <strong>do</strong>is catamarãs e cinco barcos para juízes<br />
de prova e instalação de mais 19 deques e<br />
píeres. Para as disputas de remo e canoagem<br />
nos Jogos, o governo federal importou 38<br />
barcos, 278 remos, 20 simula<strong>do</strong>res, 25 canoas<br />
e 52 caiaques.<br />
Durante o Rio 2007, o Estádio de Remo sofreu<br />
problemas na montagem de instalações provisórias,<br />
que não resistiram a ventanias mais<br />
fortes. No entanto, não houve prejuízo para a<br />
competição porque o incidente se deu num intervalo<br />
entre as provas de remo e canoagem.<br />
O estádio foi uma das instalações que contaram<br />
com evento-teste. Programa<strong>do</strong> inicialmente<br />
para outubro de 2006, foi disputa<strong>do</strong> em<br />
abril de 2007.<br />
A nova raia tem<br />
<strong>do</strong>is quilômetros<br />
de extensão e 108<br />
metros de largura<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
181
Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />
Instalação a cargo <strong>do</strong> setor priva<strong>do</strong><br />
182
Barra Bowling<br />
A<br />
s pequenas adaptações para os Jogos<br />
Pan-americanos feitas no Barra<br />
Bowling, um centro de boliche priva<strong>do</strong>,<br />
foram custeadas pelo próprio<br />
administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> espaço. O local conta com<br />
20 modernas pistas para a prática <strong>do</strong> esporte,<br />
de acor<strong>do</strong> com as normas estabelecidas pela<br />
federação internacional, além de restaurante,<br />
bar e outros serviços.<br />
A instalação fica dentro <strong>do</strong> maior shopping da<br />
cidade, o BarraShopping, muito próxima à Vila<br />
Pan-americana, o que facilitou a mobilidade e<br />
a segurança <strong>do</strong>s atletas. Porém, devi<strong>do</strong> à pequena<br />
área para especta<strong>do</strong>res, no Barra Bowling<br />
as competições não permitiram acesso<br />
de público, apenas de credencia<strong>do</strong>s.<br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
Barra Bowling:<br />
20 modernas<br />
pistas reformadas<br />
pelo próprio<br />
administra<strong>do</strong>r<br />
priva<strong>do</strong><br />
BOLICHE<br />
O objetivo <strong>do</strong> joga<strong>do</strong>r é derrubar o maior<br />
número de pinos em cinco lances. A bola<br />
deve correr pela pista sem cair no espaço<br />
das laterais, as canaletas. O atleta deve<br />
arremessar a bola sem ultrapassar a<br />
linha de falta, no início da pista, para não<br />
invalidar o lance. Cada jogada permite<br />
que o atleta atire a bola duas vezes. Se<br />
derrubar to<strong>do</strong>s os dez pinos na primeira<br />
tentativa, terá feito o chama<strong>do</strong> “strike”,<br />
que duplica os pontos da próxima jogada,<br />
e não precisa de mais um arremesso. Se<br />
to<strong>do</strong>s os pinos forem derruba<strong>do</strong>s nas<br />
duas jogadas, o competi<strong>do</strong>r terá feito um<br />
“spare”, e os pontos marca<strong>do</strong>s no primeiro<br />
arremesso serão duplica<strong>do</strong>s também.<br />
Vence o joga<strong>do</strong>r que fi zer mais pontos.<br />
183
Instalações sob responsabilidade da prefeitura <strong>do</strong> Rio<br />
Estádio João Havelange<br />
Formas imponentes e cobertura metálica<br />
Foto: Roberto Rosa / Odebrecht<br />
184
MODALIDADES DISPUTADAS<br />
FUTEBOL<br />
O Engenhão e o Maracanã abrigaram as<br />
principais partidas da modalidade nos<br />
Jogos Pan-americanos.<br />
ATLETISMO<br />
A história deste esporte se confunde com<br />
a própria história <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos.<br />
Centenas de anos antes de Cristo, o homem<br />
já disputava corridas, saltos e arremessos.<br />
Hoje, o atletismo se des<strong>do</strong>brou em provas de<br />
pista (de velocidade, meia e longa distância,<br />
revezamento, com barreiras e obstáculos),<br />
de salto (em distância, em altura, triplo e<br />
com vara), de arremesso (de peso, de disco,<br />
de dar<strong>do</strong> e de martelo), de rua (maratonas e<br />
marchas) e combina<strong>do</strong> (heptatlo e decatlo).<br />
185
186
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
O<br />
imponente estádio de forma ovalada<br />
e cobertura metálica suspensa<br />
em um conjunto de quatro<br />
grandes arcos tubulares de aço,<br />
com <strong>do</strong>is metros de diâmetro cada, surpreende<br />
pela beleza plástica e grandiosidade. O<br />
Estádio Olímpico João Havelange, hoje mais<br />
conheci<strong>do</strong> como Engenhão, nasceu junto com<br />
a idéia de se fazer <strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos<br />
Rio 2007 o melhor Pan da história. Quan<strong>do</strong> se<br />
optou por conferir nível internacional às instalações,<br />
a prefeitura aban<strong>do</strong>nou o projeto original<br />
de um estádio de atletismo para 10 mil<br />
pessoas no Autódromo de Jacarepaguá. Decidiu<br />
erguer uma arena para 45 mil pessoas, em<br />
Engenho de Dentro, bairro da zona norte da<br />
cidade. A escolha <strong>do</strong> local se justifica porque<br />
levou o evento esportivo mais importante das<br />
Américas a uma área carente de investimentos<br />
públicos. Além disso, o estádio está próximo<br />
à Linha Amarela, importante eixo viário <strong>do</strong> Rio<br />
de Janeiro, e a poucos metros da rede urbana<br />
de trens. Uma passarela liga diretamente a estação<br />
Engenho de Dentro ao Engenhão. “Valeu<br />
a pena construir ali porque revitalizamos a<br />
região”, explica o ex-secretário municipal de<br />
Obras Eider Dantas.<br />
A cobertura<br />
metálica de 4,2 mil<br />
toneladas: obra<br />
recebeu elogios<br />
em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong><br />
Inicia<strong>do</strong> em 1995, quan<strong>do</strong> o local de construção<br />
ainda não estava defini<strong>do</strong>, o projeto contemplava<br />
apenas a prática <strong>do</strong> futebol. Mais<br />
tarde, quan<strong>do</strong> o Rio de Janeiro lançou a candidatura<br />
às Olimpíadas de 2004, os arquitetos<br />
Carlos Porto, Gilson Lopes, José Ferreira<br />
Gomes e Geral<strong>do</strong> Lopes acrescentaram uma<br />
pista de atletismo. A principal inspiração e influência<br />
estética <strong>do</strong> grupo para a criação <strong>do</strong><br />
Engenhão foi um projeto de Oscar Niemeyer<br />
para o Estádio Mário Filho, o Maracanã. Em<br />
1941, Niemeyer participou de Concurso Público<br />
para o Estádio Nacional, mas perdeu.<br />
Impressiona no desenho <strong>do</strong> arquiteto para o<br />
“Maraca” o grande e único arco de concreto<br />
que sustenta, por cabos, o balanço da cobertura.<br />
“Eu tinha muito forte na cabeça o projeto<br />
<strong>do</strong> Oscar. O Engenhão tem uma cara lúdica,<br />
de movimento. Traduz na leveza da cobertura<br />
a dinâmica <strong>do</strong> esporte”, conta Carlos Porto. Ao<br />
la<strong>do</strong> de Paulo Casé, Porto e Gilson foram tam-<br />
187
ém responsáveis pelo projeto das três instalações<br />
da Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s: Arena Olímpica,<br />
Parque Aquático Maria Lenk e Velódromo<br />
da Barra. “As quatro instalações têm bases<br />
sólidas e coberturas suspensas, leves, sobre a<br />
estrutura”, explica Porto.<br />
Fases da construção e,<br />
na foto 4, o estádio com a<br />
pista externa no mesmo<br />
senti<strong>do</strong> da interna<br />
O estádio, construí<strong>do</strong> com blocos de concreto<br />
pré-molda<strong>do</strong> de até 80 toneladas, pode ser<br />
amplia<strong>do</strong> de 45 mil para 60 mil lugares, para<br />
uso durante a Copa de 2014 ou em Olimpíada.<br />
Em função de já ter as fundações e a cobertura<br />
prontas, o custo de adequações para eventos<br />
maiores será bastante reduzi<strong>do</strong>. Possui quatro<br />
saídas, e o tempo de esvaziamento é de aproximadamente<br />
dez minutos. O terreno ganhou<br />
ainda um edifício-garagem com 1,6 mil vagas<br />
e uma pista de atletismo de aquecimento, bastante<br />
elogiada pela Associação Internacional<br />
das Federações de Atletismo (Iaaf). A estrutura<br />
ocupa 47% da área <strong>do</strong> terreno e foi projetada<br />
em seis níveis principais. Os quatro setores <strong>do</strong><br />
estádio podem ser acessa<strong>do</strong>s por quatro conjuntos<br />
de rampas independentes, o que permite<br />
controle das torcidas.<br />
O custo estima<strong>do</strong> para a construção <strong>do</strong> estádio<br />
de atletismo, para 10 mil pessoas –, no<br />
<strong>do</strong>ssiê revisa<strong>do</strong> em fevereiro de 2003, era de<br />
R$ 76 milhões. Na Matriz de Responsabilidades,<br />
de fevereiro de 2007, já com a inclusão<br />
das mudanças <strong>do</strong> projeto que ampliou sua capacidade<br />
de público e a capacidade para abrigar<br />
outras modalidades esportivas, passou<br />
para R$ 316 milhões de reais. Ao final, fechou<br />
em R$ 318,357 milhões. A maior parte <strong>do</strong> terreno<br />
pertencia à Rede Ferroviária Federal (RFF-<br />
SA) e estava avaliada em R$ 400 mil quan<strong>do</strong><br />
foi cedida à prefeitura. A pedra fundamental<br />
foi lançada em dezembro de 2003 e a obra,<br />
concluída em junho de 2007. Como em muitas<br />
construções <strong>do</strong>s Jogos, houve atrasos, em<br />
função da necessidade da retirada de vagões<br />
de trem aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s no local, a remoção <strong>do</strong><br />
Museu <strong>do</strong> Trem e o remanejamento de uma<br />
antiga adutora, com 80 centímetros de diâmetro<br />
e 900 metros de extensão, que atravessava<br />
o terreno, passan<strong>do</strong> por baixo <strong>do</strong> local em que<br />
ficaria o campo de futebol. A nova adutora, em<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
188
tubos de ferro fundi<strong>do</strong>, foi implantada no subsolo<br />
das ruas <strong>do</strong> entorno <strong>do</strong> estádio.<br />
A cobertura metálica <strong>do</strong> estádio, de 4,2 mil toneladas,<br />
foi executada por empreiteiras brasileiras,<br />
mas supervisionada por uma empresa<br />
portuguesa que já havia participa<strong>do</strong> da construção<br />
<strong>do</strong> Estádio da Luz, em Lisboa. A idéia<br />
é de quatro arcos metálicos que sustentam<br />
uma cobertura circular, também metálica, que<br />
por sua vez envolve todas as arquibancadas.<br />
A pista de atletismo, de 8.316 metros quadra<strong>do</strong>s,<br />
teve de ser adquirida duas vezes, de acor<strong>do</strong><br />
com o prefeito César Maia. “Compramos<br />
a pista e a federação internacional nos comunicou<br />
que havia uma melhor. Compramos<br />
outra e instalamos a anterior na Vila Olímpica<br />
de Mato Alto”, conta. Nas instalações <strong>do</strong> João<br />
Havelange foram registra<strong>do</strong>s pequenos incidentes,<br />
como a queda de um muro pouco antes<br />
<strong>do</strong> início <strong>do</strong> Parapan e de uma tenda de<br />
overlay sobre um carro, ainda durante os Jogos<br />
Pan-americanos. Após o evento, o estádio<br />
foi arrenda<strong>do</strong> por 20 anos para um consórcio<br />
forma<strong>do</strong> pelo Botafogo de Futebol e Regatas e<br />
<strong>do</strong>is parceiros estrangeiros e tem si<strong>do</strong> usa<strong>do</strong><br />
para partidas de futebol, o que assegura administração<br />
permanente e uso contínuo e isenta<br />
o poder público <strong>do</strong>s custos de manutenção.<br />
César Moreno, delega<strong>do</strong> técnico da Iaaf nos<br />
Jogos Pan-americanos Rio 2007 e Olímpicos<br />
de Atenas 2004 e Pequim 2008, compara o<br />
Engenhão aos estádios usa<strong>do</strong>s nos últimos<br />
quatro Pan-americanos e afirma: “Este foi<br />
o melhor. O <strong>do</strong> Canadá era muito velho, não<br />
se ajustava às normas de que precisávamos.<br />
Exatamente o contrário aconteceu em Santo<br />
Domingo: o estádio não estava pronto quan<strong>do</strong><br />
começaram os Jogos. Em Mar del Plata,<br />
era muito pequeno e ficou pronto no início <strong>do</strong><br />
evento. No Brasil, estava termina<strong>do</strong> e é de padrão<br />
internacional. É uma instalação de primeiro<br />
nível”. Em dezembro de 2007, a revista Sport<br />
Business International destacou a arquitetura<br />
“incomum” <strong>do</strong> Engenhão e elegeu o estádio<br />
como uma das 10 melhores instalações esportivas<br />
inauguradas em 2007, em quesitos que<br />
vão de design inova<strong>do</strong>r à funcionalidade.<br />
O prédio administrativo <strong>do</strong><br />
estádio (no alto) e detalhes<br />
<strong>do</strong>s vestiários, entre eles o<br />
símbolo <strong>do</strong> Pan nas torneiras<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
189
Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s<br />
O<br />
complexo Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s,<br />
construí<strong>do</strong> na área <strong>do</strong> Autódromo<br />
Nelson Piquet, em Jacarepaguá,<br />
compreende algumas das instalações<br />
mais elogiadas por atletas e público<br />
nos Jogos Pan e Parapan-americanos, onde<br />
foram disputadas oito modalidades. A participação<br />
<strong>do</strong> governo federal foi determinante<br />
para viabilizar o conjunto. Do custo final de<br />
R$ 84,9 milhões <strong>do</strong> Parque Aquático Maria<br />
Lenk, R$ 60 milhões foram repassa<strong>do</strong>s pelo<br />
Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> à prefeitura em forma<br />
de convênio. A construção <strong>do</strong> Velódromo, ao<br />
custo final de R$ 14,1 milhões, também teve<br />
aporte federal para a importação da pista,<br />
por meio de convênio com o Comitê Olímpico<br />
Brasileiro no valor de R$ 2,1 milhões. Vale<br />
mencionar que no plano original <strong>do</strong>s Jogos o<br />
Velódromo seria provisório, mas, em virtude<br />
de o País não contar com instalação desse<br />
nível para o ciclismo, optou-se por construí-lo<br />
em definitivo. Soman<strong>do</strong>-se ao custo da Arena<br />
Olímpica – de R$ 127,4 milhões –, no total,<br />
a Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s custou R$ 233,2<br />
milhões, contra R$ 113 milhões previstos no<br />
<strong>do</strong>ssiê revisa<strong>do</strong> em fevereiro de 2003 e R$<br />
204 milhões na Matriz de Responsabilidades,<br />
quatro anos depois.<br />
A intenção inicial da prefeitura era de que o<br />
consórcio Rio Sport Plaza, vence<strong>do</strong>r de licitação<br />
em sistema de concessão feita em<br />
2004, erguesse o conjunto de instalações e,<br />
em troca, ganhasse o direito de explorar o<br />
local por 50 anos – renováveis por mais 50.<br />
Entre os compromissos assumi<strong>do</strong>s pelo<br />
consórcio, estava também o de construção<br />
de um novo autódromo no município, em<br />
substituição àquele que seria transforma<strong>do</strong><br />
em Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s. No entanto, o<br />
grupo forma<strong>do</strong> pelas empresas Odebrecht,<br />
Camargo Corrêa, Logos Engenharia e Rio Sport<br />
Plaza Gerenciamento, depois de anunciar investimentos<br />
de R$ 450 milhões, desistiu da<br />
obra, em novembro de 2005. “Chegaram a<br />
O Maria Lenk, em primeiro<br />
plano, a Arena e o Velódromo<br />
ao fun<strong>do</strong>: distância entre eles<br />
preserva traça<strong>do</strong> original <strong>do</strong><br />
Autódromo de Jacarepaguá<br />
fazer uma apresentação para a Odepa, mas<br />
quatro ou cinco meses depois aban<strong>do</strong>naram<br />
o barco”, diz o prefeito César Maia.<br />
Sem a participação da iniciativa privada, o poder<br />
público arcou com a construção de to<strong>do</strong><br />
o complexo. Para isso, foram feitas novas licitações<br />
para cada uma das instalações em<br />
2006, ano em que as obras começaram: a<br />
Arena Olímpica, em abril; o Parque Aquático<br />
Maria Lenk, em maio; e o Velódromo, em novembro.<br />
Como a prefeitura não dispunha de<br />
recursos para a totalidade das obras, em ja-<br />
190
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
neiro de 2006 o prefeito César Maia pediu a<br />
colaboração <strong>do</strong> governo federal em audiência<br />
da qual participaram a ministra-chefe da Casa<br />
Civil, Dilma Rousseff, e os então ministros <strong>do</strong><br />
<strong>Esporte</strong>, Agnelo Queiroz, e da Fazenda, Antonio<br />
Palloci. A União assegurou repasse para a<br />
construção <strong>do</strong> Parque Aquático Maria Lenk e a<br />
importação da pista <strong>do</strong> velódromo. E, ao final,<br />
o complexo Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s ficou como<br />
lega<strong>do</strong> para a cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro.<br />
E para o País também, é preciso dizer, já que<br />
o velódromo, por exemplo, que nos planos iniciais<br />
seria uma instalação temporária, hoje não<br />
só é permanente como é o único no Brasil capaz<br />
de sediar competições internacionais. Antes<br />
de escolher o consórcio Rio Sport Plaza, a<br />
prefeitura enfrentou a oposição de entidades<br />
ligadas à Confederação Brasileira de Automobilismo,<br />
que temiam a descaracterização <strong>do</strong><br />
Autódromo Nelson Piquet. O projeto original,<br />
no qual as instalações estavam mais próximas<br />
umas das outras, teve de ser altera<strong>do</strong> para<br />
preservar o traça<strong>do</strong> da pista <strong>do</strong> autódromo.<br />
Além disso, a prefeitura se comprometeu a revitalizar<br />
o local.<br />
191
Arena Olímpica <strong>do</strong> Rio<br />
B<br />
atizada inicialmente de Arena Multiuso,<br />
a Arena Olímpica <strong>do</strong> Rio é um<br />
<strong>do</strong>s três únicos ginásios climatiza<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> Brasil. Os outros são o Maracanãzinho<br />
e o Complexo Miécimo da Silva,<br />
também utiliza<strong>do</strong>s nos Jogos Pan-americanos.<br />
O alto nível da Arena, que se tornou referência<br />
no gênero para a América Latina, surpreendeu<br />
brasileiros e estrangeiros, especialmente encanta<strong>do</strong>s<br />
com inovações como as arquibancadas<br />
retráteis, que permitem a variação de público<br />
entre 12 mil e 15 mil pessoas. O ginásio<br />
foi escolhi<strong>do</strong> para a cerimônia de abertura <strong>do</strong>s<br />
Jogos Parapan-americanos, e mostrou que<br />
pode ser usa<strong>do</strong> para fins diversos. Em setembro<br />
de 2007, a Arena abrigou o Campeonato<br />
Mundial de Judô. Logo depois, foi arrendada<br />
pela empresa GL Events, até 2016, e já foi palco<br />
de shows musicais. “A Arena é de primeiro<br />
mun<strong>do</strong>. A estrutura <strong>do</strong> Pan <strong>do</strong> Rio não deixou<br />
nada a desejar em relação a outras competições<br />
internacionais das quais já participei na<br />
Europa, Ásia e América Central”, atesta Diego<br />
Hypolito, bicampeão mundial na ginástica artística<br />
e ganha<strong>do</strong>r de duas medalhas de ouro<br />
nos Jogos Pan-americanos Rio 2007.<br />
MODALIDADES DISPUTADAS<br />
GINÁSTICA ARTÍSTICA<br />
Em competições individuais ou por<br />
equipes, este esporte compreende seis<br />
provas para homens (salto, cavalo, argolas,<br />
barra fixa, paralelas e solo) e quatro para<br />
mulheres (salto, traves, paralelas e solo).<br />
Juízes atribuem notas à execução e aos<br />
movimentos. Quan<strong>do</strong> o atleta incorpora<br />
outros elementos além <strong>do</strong>s obrigatórios,<br />
pode ganhar pontos extras.<br />
BASQUETE<br />
Inventa<strong>do</strong> no Canadá, em 1891, o basquete<br />
é disputa<strong>do</strong> por duas equipes de cinco<br />
joga<strong>do</strong>res, que buscam obter o maior<br />
número de pontos ao fazer a bola passar<br />
pela cesta adversária: tiros livres valem um<br />
ponto, arremessos de pequena e média<br />
distância valem <strong>do</strong>is, e arremessos de longa<br />
distância, três pontos. As partidas têm<br />
duração de 40 minutos.<br />
PLANTA DA<br />
ARENA OLÍMPICA<br />
192
A Arena em três<br />
momentos: em<br />
construção (detalhe),<br />
no basquete e abaixo,<br />
com as cadeiras<br />
retráteis recolhidas<br />
para dar espaço<br />
à ginástica (setas)<br />
Fotos: Alex Ferro / CO-Rio<br />
Foto: Bruno Carvalho / ME<br />
193
Parque Aquático<br />
Maria Lenk<br />
Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />
194
MODALIDADES DISPUTADAS<br />
NATAÇÃO<br />
Em piscinas olímpicas, de 50m e<br />
oito raias, os nada<strong>do</strong>res disputam<br />
provas individuais e de revezamento,<br />
nas modalidades livre, peito, costas<br />
e borboleta. Os percursos a serem<br />
completa<strong>do</strong>s variam de 50m a<br />
1.500m. Para vencer, é preciso passar<br />
por eliminatórias, semifinais e finais.<br />
NADO SINCRONIZADO<br />
Disputa<strong>do</strong> pela primeira vez em Pan-<br />
Americanos em 1955, este esporte é<br />
um <strong>do</strong>s poucos restritos a mulheres.<br />
As competições de elementos<br />
obrigatórios e livres são em solos,<br />
duetos ou equipes de oito, e avaliadas<br />
por juízes que dão notas para técnica<br />
e criatividade.<br />
SALTOS ORNAMENTAIS<br />
Atletas realizam acrobacias no ar,<br />
saltan<strong>do</strong> de plataformas de 10m ou<br />
trampolins de 3m para depois entrar<br />
na água suavemente e com elegância.<br />
Conforto, segurança<br />
e beleza na instalação<br />
que entrou para a<br />
história da natação<br />
sul-americana<br />
195
PLANTA DO PARQUE AQUÁTICO MARIA LENK<br />
C<br />
onstruí<strong>do</strong> especialmente para os<br />
Jogos Pan-americanos, o Maria<br />
Lenk – cujo nome homenageia<br />
a primeira mulher sul-americana<br />
a competir em uma Olimpíada, em 1932 – é<br />
hoje a mais moderna instalação para esportes<br />
aquáticos de alto rendimento da América Latina.<br />
O Parque é parcialmente coberto e composto<br />
por duas piscinas olímpicas, uma para<br />
competições e outra para aquecimento, e um<br />
tanque de saltos ornamentais com até 30 metros<br />
de profundidade. A iluminação e o sistema<br />
de cronometragem são de última geração, e<br />
há bombas propulsoras para ajudar os atletas<br />
a emergir depois <strong>do</strong> salto. Nas arquibancadas,<br />
a cobertura e o isolamento térmico garantem o<br />
conforto <strong>do</strong> público. O governo federal investiu<br />
R$ 60 milhões em sua construção.<br />
Para os Jogos Parapan-americanos, foram<br />
necessárias adaptações temporárias, já que o<br />
Comitê Paraolímpico Internacional, em uma de<br />
suas últimas visitas de inspeção, demonstrou<br />
preocupação com a acessibilidade, principalmente<br />
na passagem <strong>do</strong>s atletas da piscina<br />
de aquecimento para a principal. O delega<strong>do</strong>-técnico<br />
indica<strong>do</strong> pela Federação Internacional<br />
de Natação (Fina), o cubano Guillermo<br />
Martínez, não poupou elogios ao Parque: “O<br />
Maria Lenk é, sem dúvida, um <strong>do</strong>s complexos<br />
aquáticos mais belos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e reúne to<strong>do</strong>s<br />
os requisitos para se organizar eventos deste<br />
tipo. Foi concebi<strong>do</strong> de forma muito prática,<br />
o que facilita a movimentação de atletas, oficiais<br />
e especta<strong>do</strong>res”. O presidente da Fina, o<br />
argelino Mustapha Larfaoui, concorda: “É um<br />
projeto fantástico. Trata-se de uma excelente<br />
oportunidade para os atletas e para a juventude<br />
brasileira”. O Maria Lenk entrou para a<br />
história da natação sul-americana depois da<br />
realização <strong>do</strong> Rio 2007, pois foi em sua piscina<br />
principal que o nada<strong>do</strong>r brasileiro Thiago<br />
Pereira bateu o recorde de medalhas de ouro<br />
em um Pan-americano: oito. Toda a equipe de<br />
natação brasileira deu seu show particular no<br />
Parque Aquático.<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
196
No fun<strong>do</strong> da piscina (em<br />
destaque), as saídas de ar que<br />
impulsionam o atleta de volta à<br />
tona. Na segunda foto, a bomba<br />
propulsora que gera o fluxo<br />
de ar. Em seguida, o eleva<strong>do</strong>r<br />
da plataforma e o parque em<br />
construção<br />
197
Velódromo da Barra<br />
Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />
198
O<br />
Velódromo é a única instalação <strong>do</strong><br />
gênero coberta no Brasil. A pista,<br />
também a única de pinho siberiano<br />
no País, foi importada da Holanda<br />
por meio de um convênio entre governo<br />
federal e o Comitê Olímpico Brasileiro, ao<br />
custo de R$ 2,1 milhões para a União. O pinho<br />
siberiano é um material de alta durabilidade e<br />
excelente acabamento, utiliza<strong>do</strong> nos principais<br />
equipamentos que servem a eventos esportivos<br />
internacionais <strong>do</strong> ciclismo. Na cobertura<br />
<strong>do</strong> Velódromo foram aplicadas telhas translúcidas,<br />
que fornecem maior incidência de luz<br />
natural por mais tempo e economizam energia.<br />
A instalação apresentou problemas apenas<br />
no evento-teste feito pela prefeitura, em 11<br />
de julho de 2007, quan<strong>do</strong> uma pequena parte<br />
<strong>do</strong> teto cedeu com o peso da chuva. Resolvi<strong>do</strong><br />
o problema, o funcionamento foi bom durante<br />
os Jogos. “As inclinações são perfeitas e a<br />
bicicleta se comporta muito bem nesta superfície.<br />
É realmente uma pista de altíssimo nível,<br />
de padrão internacional”, garante Maria Luisa<br />
Calle, colombiana, bronze no ciclismo de pista<br />
nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e ouro<br />
nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo<br />
2003 e <strong>do</strong> Rio 2007.<br />
MODALIDADES DISPUTADAS<br />
CICLISMO DE PISTA<br />
Em número de provas, o ciclismo de pista é<br />
a maior categoria <strong>do</strong> ciclismo (que pode ser<br />
disputa<strong>do</strong> ainda no BMX, estrada e mountain<br />
bike): reúne dez categorias diferentes, em<br />
individual e por equipes, de velocidade,<br />
contra o relógio e perseguição.<br />
A pista, de pinho<br />
siberiano, foi<br />
adquirida pelo<br />
governo federal<br />
PATINAÇÃO DE VELOCIDADE<br />
Também conheci<strong>do</strong> como corrida de<br />
patins, este esporte pode ser disputa<strong>do</strong><br />
individualmente ou em duplas, por homens<br />
e mulheres.<br />
199
PLANTA DO VELÓDROMO DA BARRA DA TIJUCA<br />
200
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
201
MODALIDADES DISPUTADAS<br />
O Riocentro<br />
BOXE<br />
Sete séculos antes de Cristo, este<br />
esporte já era popular. Em Olimpíadas<br />
e Pan-americanos, as lutas se dão em<br />
três rounds de três minutos, com os<br />
atletas muni<strong>do</strong>s de luvas, sapatilhas e<br />
protetores bucais, genitais e de cabeça.<br />
Há 12 categorias, segun<strong>do</strong> o peso <strong>do</strong>s<br />
competi<strong>do</strong>res. O vence<strong>do</strong>r pode sair por<br />
nocaute ou pontos.<br />
LEVANTAMENTO DE PESO<br />
As 15 categorias, definidas pelo peso <strong>do</strong>s<br />
atletas, são disputadas em três provas.<br />
Em duas delas o competi<strong>do</strong>r deve colocar<br />
o peso acima da cabeça: no arranque,<br />
com um movimento, e no arremesso, com<br />
<strong>do</strong>is. A terceira prova é a soma <strong>do</strong>s pontos<br />
nas duas primeiras. Vence quem levantar<br />
mais peso.<br />
TAEKWONDO<br />
Há quatro categorias, definidas pelo<br />
peso <strong>do</strong>s atletas. Muni<strong>do</strong>s de protetores<br />
de cabeça, tórax e abdômen, tentam<br />
acertar chutes ou socos. Em lutas de três<br />
rounds de três minutos, pode-se vencer<br />
por nocaute ou pontos.<br />
GINÁSTICA DE TRAMPOLIM<br />
O ginasta salta de uma tela de nylon<br />
até atingir cerca de 6 metros de altura<br />
e executa 20 elementos técnicos.<br />
O vence<strong>do</strong>r é defini<strong>do</strong> por oito juízes.<br />
Foto: Divulgação / COB<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
O Riocentro abrigou <strong>do</strong>ze modalidades<br />
<strong>do</strong> Pan e quatro <strong>do</strong> Parapan em seus<br />
cinco pavilhões, e também comportou a<br />
instalação <strong>do</strong>s centros de Imprensa e de<br />
Televisão <strong>do</strong>s Jogos<br />
ESGRIMA<br />
Em combates individuais e por<br />
equipes, o atleta usa espada,<br />
florete e sabre e tenta tocar o<br />
adversário sem ser toca<strong>do</strong>. Fios<br />
e roupas liga<strong>do</strong>s a um sistema<br />
eletrônico contam os toques.<br />
Nas provas eliminatórias, ganha<br />
o atleta que der cinco toques<br />
no adversário ou ficar quatro<br />
minutos sem ser toca<strong>do</strong>. Nas<br />
semifinais e finais, o número de<br />
toques sobe para 15, e o tempo,<br />
para nove minutos.<br />
FUTSAL<br />
Este esporte nasceu na década de 40,<br />
em quadras de basquete da Associação<br />
Cristã de Moços, em São Paulo. Em<br />
1955, ocorreu o primeiro torneio da<br />
modalidade, no Rio. Em 2002, foi<br />
incluí<strong>do</strong> nos Jogos Sul-americanos<br />
realiza<strong>do</strong>s no Brasil e, em 2007, estreou<br />
em Pan-americanos. Versão <strong>do</strong> futebol<br />
jogada em quadra, as partidas de 40<br />
minutos são disputadas por equipes de<br />
cinco joga<strong>do</strong>res. Vence quem marcar<br />
mais gols. Até pouco tempo atrás era<br />
chama<strong>do</strong> de futebol de salão.<br />
202
C<br />
omposto de cinco pavilhões, o<br />
Riocentro foi sede de 12 modalidades<br />
esportivas nos Jogos Pan-<br />
Americanos e quatro no Parapan.<br />
No local também foram construí<strong>do</strong>s o Centro<br />
Principal de Imprensa (MPC) e o Centro Internacional<br />
de Transmissão (IBC). A prefeitura cedeu<br />
a exploração <strong>do</strong> Riocentro por 50 anos, em<br />
março de 2006, à empresa multinacional GL<br />
Events, que, em troca, executou obras de melhoria<br />
especialmente para o evento – instalação<br />
de ar-condiciona<strong>do</strong>, rede sem fio e câmeras de<br />
monitoramento e a construção de uma estação<br />
de tratamento de esgoto – e montou equipamentos<br />
provisórios para os Jogos.<br />
O custo estima<strong>do</strong> no <strong>do</strong>ssiê revisa<strong>do</strong> em fevereiro<br />
de 2003 era de R$ 29 milhões, e na<br />
Matriz de Responsabilidades, de fevereiro de<br />
2007, R$ 76,4 milhões. Ao final, ficou em R$<br />
90.185.804,20, incluin<strong>do</strong> estruturas de apoio,<br />
arca<strong>do</strong>s pela GL Events. Na fase de planejamento,<br />
o MPC e o IBC estavam previstos para<br />
funcionar no Pólo de Cine e Vídeo <strong>do</strong> Rio, também<br />
na Barra, mas ainda em novembro de<br />
2004 decidiu-se que ficariam no Riocentro, o<br />
que permitiu aos jornalistas trabalharem mais<br />
perto <strong>do</strong>s locais de disputa de grande parte<br />
das modalidades esportivas (detalhes mais<br />
adiante, neste capítulo).<br />
LUTAS<br />
Na greco-romana, o luta<strong>do</strong>r só usa<br />
braços e tronco. Na livre, o uso das<br />
pernas é permiti<strong>do</strong>. Se não houver<br />
imobilização na luta, ela é decidida por<br />
pontos.<br />
TÊNIS DE MESA<br />
Um ou <strong>do</strong>is atletas, separa<strong>do</strong>s numa<br />
mesa por uma rede, competem em<br />
sets de 11 pontos, rebaten<strong>do</strong> pequenas<br />
bolas com raquetes.<br />
JUDÔ<br />
Luta<strong>do</strong>res usam a força para derrubar o<br />
adversário, sem chutar ou socar. A vitória<br />
pode se dar com golpes como o ippon,<br />
que derruba ou imobiliza o oponente.<br />
BADMINTON<br />
Dois atletas rebatem uma peteca,<br />
separa<strong>do</strong>s por uma rede de 1,55m <strong>do</strong> chão,<br />
em melhor-de-três sets de 21 pontos.<br />
HANDEBOL<br />
Duas equipes de seis atletas disputam<br />
partidas de 30 minutos cada e tentam<br />
marcar, com a mão, os gols.<br />
GINÁSTICA RÍTMICA<br />
Só mulheres disputam a modalidade,<br />
que possui elementos <strong>do</strong> balé. São<br />
utilza<strong>do</strong>s a fita, a corda, a bola e o arco.<br />
203
PLANTA DO RIOCENTRO<br />
Fotos: Divulgação / CO-Rio<br />
204
Fotos: Divulgação / CO-Rio<br />
Da esq. para a dir. em senti<strong>do</strong><br />
anti-horário, tênis de mesa,<br />
ginástica artística, esgrima,<br />
futsal, boxe e badminton<br />
205
Clube Marapendi<br />
Cinco novas quadras de saibro para o Pan<br />
Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />
206
O<br />
Clube Marapendi foi escolhi<strong>do</strong><br />
como sede das partidas de tênis<br />
por ser tradicionalmente usa<strong>do</strong><br />
para disputas da Copa Davis.<br />
Para os Jogos, foram construídas uma quadra<br />
central de saibro e outras quatro menores<br />
– duas de jogo e duas de aquecimento. O<br />
projeto <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r sofreu ajustes<br />
porque as quadras estavam na posição errada<br />
em relação ao sol. Houve ainda problemas<br />
judiciais causa<strong>do</strong>s por empresas que contestaram<br />
a licitação, concluída em fevereiro<br />
de 2007, para a escolha da responsável pela<br />
montagem da instalação. Além das quadras,<br />
foi construí<strong>do</strong> um novo acesso na rua interna<br />
para os atletas <strong>do</strong> Parapan, e os vestiários e<br />
alambra<strong>do</strong>s já existentes foram reforma<strong>do</strong>s.<br />
Toda a infra-estrutura temporária necessária<br />
foi implantada, incluin<strong>do</strong> banheiros químicos,<br />
tendas, mobiliário, comunicação visual (“Look<br />
of the games”) e instalações prediais. Durante<br />
os Jogos Pan-americanos, a operação no<br />
Marapendi ocorreu sem problemas, mas, nos<br />
últimos dias, a chuva ininterrupta na cidade<br />
causou adiamento de algumas partidas, algo<br />
que inclusive costuma ocorrer nas grandes<br />
competições mundiais de tênis. A final <strong>do</strong> torneio<br />
de simples masculina teve de ser transferida<br />
para uma quadra fechada, em um clube<br />
particular próximo.<br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
TÊNIS<br />
Pode ser individual ou em duplas, e os<br />
atletas, cada um de um la<strong>do</strong> da quadra<br />
dividida por uma rede baixa, usam raquetes<br />
para jogar a bola de um la<strong>do</strong> a outro – cada<br />
vez que ultrapassa a rede, a bola só pode<br />
quicar no chão uma vez. O objetivo <strong>do</strong>s<br />
joga<strong>do</strong>res, em partidas de melhor de três ou<br />
cinco sets, é evitar que o adversário consiga<br />
rebater a bolinha. Há diferentes tipos de piso<br />
para a prática <strong>do</strong> esporte: grama, saibro,<br />
cimento, sintético e carpete.<br />
207
Marina da Glória<br />
Marina: disputa judicial<br />
superada para dar todas as<br />
condições aos veleja<strong>do</strong>res<br />
208
D<br />
esde 1999, a prefeitura já alimentava<br />
o sonho de construir um centro<br />
náutico na Marina da Glória, mas<br />
nunca obteve autorização <strong>do</strong> Instituto<br />
<strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional<br />
(Iphan). Com a inclusão <strong>do</strong> local no programa<br />
<strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos Rio 2007, o poder<br />
público municipal retomou o projeto e, em<br />
agosto de 2005, prorrogou por 50 anos a concessão<br />
à Nova Marina, que terminaria em 2006.<br />
Em troca, a empresa realizaria as obras para o<br />
Pan, entre elas uma garagem de barcos.<br />
Iniciada sob liminar, a construção foi novamente<br />
interrompida por ordem <strong>do</strong> Iphan, em setembro<br />
de 2006 – o órgão apresentou resistência<br />
à altura da garagem. A disputa judicial se<br />
arrastou por meses, com sucessivos embargos,<br />
e o CO-Rio chegou a estudar outros locais<br />
para abrigar a competição de vela <strong>do</strong> Pan,<br />
como o Iate Clube <strong>do</strong> Rio de Janeiro e a Escola<br />
Naval. O Ministério Público Federal firmou<br />
acor<strong>do</strong> com o Comitê Organiza<strong>do</strong>r e definiu<br />
que os barcos de competição seriam abriga<strong>do</strong>s<br />
em uma estrutura já existente na Marina.<br />
A decisão atendeu às exigências <strong>do</strong> Iphan. O<br />
custo estima<strong>do</strong> da obra no <strong>do</strong>ssiê revisa<strong>do</strong> em<br />
fevereiro de 2003 era de R$ 2 milhões e, na<br />
Matriz de Responsabilidades, quatro anos depois,<br />
R$ 42 milhões. Uma vez que o projeto<br />
de instalação permanente não foi concluí<strong>do</strong>, o<br />
custo terminou em R$ 2,3 milhões, incluin<strong>do</strong> a<br />
montagem das instalações temporárias, e foi<br />
assumi<strong>do</strong> pela concessionária <strong>do</strong> local.<br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
Foto: Divulgação / RC&VB<br />
VELA<br />
Em raias delimitadas por bóias, as<br />
competições de vela podem ser fleet race,<br />
de to<strong>do</strong>s contra to<strong>do</strong>s, e match race, de <strong>do</strong>is<br />
barcos por vez. As onze categorias variam<br />
de acor<strong>do</strong> com o tipo de embarcação. Vence<br />
o atleta que somar os melhores resulta<strong>do</strong>s<br />
nas regatas de cada disputa.<br />
209
Complexo Miécimo da Silva<br />
Miécimo: público<br />
numeroso nas<br />
quatro modalidades<br />
durante to<strong>do</strong><br />
o Pan. No detalhe,<br />
as quadras, piscina e<br />
o campo <strong>do</strong> complexo<br />
210
U<br />
m estádio com pista de atletismo,<br />
uma piscina e um ginásio refrigera<strong>do</strong><br />
compõem o Miécimo da<br />
Silva, construí<strong>do</strong> em 1997, que já<br />
abrigou várias disputas internacionais, como o<br />
Mundial de Goalball e a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de<br />
Natação, além de eventos nacionais relevantes,<br />
como jogos das seleções de vôlei e futsal.<br />
E quan<strong>do</strong> não é utiliza<strong>do</strong> para estes fins, o<br />
complexo atende, por semana, cerca de 16 mil<br />
crianças e jovens que praticam gratuitamente<br />
21 modalidades esportivas. Para os XV Jogos<br />
Pan-americanos Rio 2007, a prefeitura fez melhorias<br />
no campo, trocou os refletores de iluminação<br />
e reformou as arquibancadas, entre<br />
outros serviços. No ginásio, substituiu o piso e<br />
parte <strong>do</strong> telha<strong>do</strong>.<br />
MODALIDADES DISPUTADAS<br />
FUTEBOL<br />
O complexo abrigou várias partidas<br />
intermediárias e algumas decisivas desta<br />
modalidade<br />
CARATÊ<br />
Na versão moderna desta luta nascida no<br />
Japão, no século 18, os atletas devem evitar<br />
chutes e socos que causem ferimentos<br />
no adversário. Há duas modalidades:<br />
kumite, de combate um a um, e kata,<br />
onde os atletas sozinhos executam golpes<br />
buscan<strong>do</strong> a perfeição.<br />
PATINAÇÃO ARTÍSTICA<br />
Derivada da patinação no gelo, esta<br />
modalidade esportiva pode ser disputada<br />
por homens e mulheres, individualmente<br />
ou em duplas mistas. Os atletas “dançam”,<br />
executan<strong>do</strong> elementos artísticos, e são<br />
avalia<strong>do</strong>s e recebem notas de juízes.<br />
Quanto mais perfeitos, graciosos e leves<br />
forem os movimentos apresenta<strong>do</strong>s, mais<br />
altas serão suas notas.<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
SQUASH<br />
Inspira<strong>do</strong> no tênis, o squash moderno<br />
nasceu na Penitenciária de Fleet Debtor, em<br />
Londres, no início <strong>do</strong> século 19. Os atletas,<br />
muni<strong>do</strong>s de raquetes, ficam de frente para<br />
uma parede, na qual rebatem uma bola,<br />
sempre tentan<strong>do</strong> impedir que o adversário<br />
rebata na seqüência antes que a bola pingue<br />
duas vezes no chão. Em partidas de melhor<br />
de cinco games, com nove pontos cada, um<br />
atleta só pontua quan<strong>do</strong> saca.<br />
211
Fotos: Jeff Gross / Getty Images<br />
Prova de ciclismo<br />
<strong>do</strong> Pan e, acima, a<br />
chegada da maratona<br />
212
Parque <strong>do</strong> Flamengo<br />
MODALIDADES DISPUTADAS<br />
N<br />
o local foi montada uma instalação<br />
provisória que serviu de chegada<br />
para a maratona e atendeu<br />
bem às necessidades <strong>do</strong>s Jogos.<br />
A escolha <strong>do</strong> Parque foi muito elogiada, principalmente<br />
pelo visual, com o Pão de Açúcar ao<br />
fun<strong>do</strong>. A largada das competições aconteceu<br />
na Praia de São Conra<strong>do</strong>, que também abrigou<br />
uma estrutura pequena. “O percurso da<br />
maratona foi belo, não poderia ter si<strong>do</strong> melhor.<br />
Foi uma decisão certa não chegar ao estádio,<br />
como acontece normalmente, e ter a meta na<br />
Praia <strong>do</strong> Flamengo. Os atletas ficaram encanta<strong>do</strong>s<br />
com o percurso”, conta César Moreno,<br />
delega<strong>do</strong>-técnico de atletismo nos Jogos<br />
Pan-americanos Rio 2007 e nos Jogos Olímpicos<br />
de Atenas 2004 e Pequim 2008.<br />
MARATONA<br />
Nesta modalidade <strong>do</strong> atletismo, vence o<br />
atleta que percorrer em menor tempo os<br />
42.195 metros da prova.<br />
CICLISMO DE ESTRADA<br />
Em Pan-americanos, na modalidade<br />
clássica, os homens correm 156 km, e as<br />
mulheres, 78 km, competin<strong>do</strong> la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>.<br />
Quem completar a prova em primeiro<br />
lugar vence. Já na categoria contra o<br />
relógio, 19,5 km para as mulheres e 40<br />
km para os homens – aqui, cada ciclista<br />
larga de uma plataforma, em intervalos<br />
regulares de um minuto.<br />
213<br />
A instalação <strong>do</strong><br />
Parque abrigou vários<br />
overlays, entre eles<br />
uma arquibancada<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>
Morro <strong>do</strong> Outeiro<br />
Foto: Harry How / Getty Images<br />
Outeiro: apesar das<br />
chuvas, a pista foi<br />
elogiada pelos atletas<br />
E<br />
mbora tenha si<strong>do</strong> bem adapta<strong>do</strong><br />
para os Jogos, o Morro <strong>do</strong> Outeiro,<br />
um terreno priva<strong>do</strong>, sofreu com<br />
chuvas intermitentes nas semanas<br />
anteriores ao evento. O terreno encharcou, o<br />
que prejudicou o aspecto visual. Ainda assim,<br />
os atletas elogiaram as pistas. Para o delega<strong>do</strong><br />
técnico da competição de ciclismo, Iverson<br />
Ladewig, “o grande problema foi a chuva. A<br />
pista de BMX não ficou 100%, mas o resulta<strong>do</strong><br />
foi bom, to<strong>do</strong>s gostaram. A pista de mountain<br />
bike também foi bastante elogiada”, diz. Já a<br />
imprensa apontou defeitos como a ausência<br />
de assentos para os torce<strong>do</strong>res apesar de os<br />
ingressos mostrarem lugares numera<strong>do</strong>s. Os<br />
organiza<strong>do</strong>res tentaram contornar a questão<br />
autorizan<strong>do</strong> crianças a sentarem nos lugares<br />
reserva<strong>do</strong>s para as delegações, o que gerou<br />
protestos de oficiais.<br />
MODALIDADES DISPUTADAS<br />
CICLISMO BMX<br />
Versão <strong>do</strong> motocross, adaptada para a<br />
bicicleta, trata-se de uma corrida em pistas<br />
na qual os atletas têm de superar saltos e<br />
obstáculos.<br />
MOUNTAIN BIKE<br />
Nesta prova, chamada de cross-country,<br />
os ciclistas precisam enfrentar caminhos<br />
estreitos de terra e pedra.<br />
214
Centro de Futebol<br />
Zico - CFZ<br />
O<br />
CFZ não recebeu intervenção<br />
específica para os Jogos; foram<br />
utilizadas suas instalações usadas<br />
habitualmente para treinos e<br />
partidas. Chegou a ser cogita<strong>do</strong> para sediar<br />
as competições de hóquei sobre grama, mas<br />
acabou abrigan<strong>do</strong> algumas partidas de futebol<br />
de menor público. A 10 km da Vila Pan-americana,<br />
o CFZ, cria<strong>do</strong> em 1996 pelo ex-joga<strong>do</strong>r<br />
da seleção brasileira e <strong>do</strong> Flamengo Zico, e<br />
sede de um clube de futebol <strong>do</strong> mesmo nome,<br />
possui um campo em dimensões oficiais e outros<br />
<strong>do</strong>is para aquecimento.<br />
MODALIDADE DISPUTADA<br />
FUTEBOL<br />
As confortáveis instalações <strong>do</strong> Centro<br />
de Futebol Zico (CFZ), no bairro de<br />
Jacarepaguá, zona oeste <strong>do</strong> Rio de<br />
Janeiro, abrigou algumas partidas <strong>do</strong>s<br />
torneios de futebol <strong>do</strong>s Jogos Panamericanos<br />
Rio 2007.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
CFZ: boa estrutura<br />
para jogos de futebol<br />
<strong>do</strong> Pan-americano<br />
215
Cidade <strong>do</strong> Rock<br />
A<br />
Cidade <strong>do</strong> Rock foi a instalação<br />
que mais sofreu problemas: a drenagem<br />
não funcionou de forma<br />
adequada, fazen<strong>do</strong> com que vários<br />
jogos fossem adia<strong>do</strong>s; as estruturas temporárias<br />
não resistiram ao vento forte, o que também<br />
deixou a instalação inutilizável em alguns<br />
dias; e a falta de proteção nas arquibancadas<br />
fez com que alguns torce<strong>do</strong>res fossem atingi<strong>do</strong>s<br />
por bolas. O torneio de softbol chegou<br />
a ter a última rodada cancelada porque não<br />
havia condições de jogo.<br />
A cargo da prefeitura, a Cidade <strong>do</strong> Rock foi<br />
concluída sem projeto executivo: “Se tivesse<br />
si<strong>do</strong> feito, teríamos nota<strong>do</strong> que o nível <strong>do</strong><br />
campo era inferior ao <strong>do</strong> arruamento interno,<br />
o que prejudicou a drenagem”, justifica Luís<br />
Henrique Ferreira, gerente de Instalações <strong>do</strong><br />
Comitê Organiza<strong>do</strong>r. A licitação começou em<br />
dezembro de 2006: uma antecedência maior<br />
poderia ter antecipa<strong>do</strong> os problemas causa<strong>do</strong>s<br />
pela chuva e o vento.<br />
O secretário geral <strong>do</strong> CO-Rio, Carlos Roberto<br />
Osório, culpa o atraso na licitação e a empreiteira<br />
que executou a obra: “A única que não<br />
ficou no padrão que projetamos foi a Cidade<br />
<strong>do</strong> Rock. A licitação se deu tardiamente, e a<br />
empresa vence<strong>do</strong>ra era tecnicamente fraca.<br />
A prefeitura não teve tempo de corrigir, aditivar<br />
o contrato ou penalizar a empresa”, afirma<br />
MODALIDADES DISPUTADAS<br />
Osório, lembran<strong>do</strong> que o CO-Rio ainda contratou<br />
um consultor cubano para tentar amenizar<br />
os problemas de drenagem. “Tu<strong>do</strong> o que<br />
ele pôde corrigir, que era aparente, corrigiu. O<br />
problema é que só se detecta a gravidade <strong>do</strong><br />
problema num incidente de forte chuva. Se o<br />
terreno fosse bom, a empresa podia ser ruim.<br />
Mas a empresa e o terreno eram ruins”.<br />
A prefeitura argumenta que o projeto elabora<strong>do</strong><br />
pelo CO-Rio estava caro demais e que<br />
tomou a decisão correta ao exigir cortes. “A<br />
Cidade <strong>do</strong> Rock e o Morro <strong>do</strong> Outeiro não funcionaram<br />
por uma fatalidade: as chuvas. E o<br />
Comitê pediu reforço na iluminação da Cidade<br />
<strong>do</strong> Rock em cima da hora”, afirma o então<br />
secretário municipal de Obras, Eider Dantas.<br />
Para o gerente de <strong>Esporte</strong>s <strong>do</strong> Comitê, Agberto<br />
Guimarães, houve ainda um equívoco<br />
quan<strong>do</strong> se projetou a instalação para apenas<br />
651 torce<strong>do</strong>res: “A procura foi maior que a<br />
esperada”. Os serviços executa<strong>do</strong>s na Cidade<br />
<strong>do</strong> Rock incluíram a demolição de pisos<br />
de concreto e asfalto, drenagem <strong>do</strong> terreno,<br />
movimento de terra com acerto <strong>do</strong> terreno,<br />
construção de campo de grama<strong>do</strong>, iluminação<br />
com postes e refletores e montagem de<br />
arquibancadas, entre outros. A iluminação<br />
também deixou a desejar, o que levou o CO-<br />
Rio a desistir de realizar partidas noturnas de<br />
beisebol. O projeto foi feito com o campo na<br />
rotação errada e teve de ser refeito.<br />
BEISEBOL<br />
Duas equipes de nove joga<strong>do</strong>res se revezam<br />
na defesa, quan<strong>do</strong> arremessam a bola, e no<br />
ataque, rebaten<strong>do</strong> com o bastão. O time<br />
que está no ataque tenta marcar pontos –<br />
conquista<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> um joga<strong>do</strong>r consegue<br />
chegar à base principal depois de passar<br />
pela primeira, segunda e terceira bases. Se<br />
três de seus joga<strong>do</strong>res forem elimina<strong>do</strong>s,<br />
volta para a defesa. O objetivo é marcar o<br />
maior número de pontos.<br />
SOFTBOL<br />
Pratica<strong>do</strong> apenas por mulheres, o softbol<br />
tem as mesmas regras básicas <strong>do</strong> beisebol,<br />
mas se difere nas dimensões da bola, maior,<br />
e <strong>do</strong> campo, menor. O arremesso nesta<br />
modalidade também é diferente, porque<br />
deve ser feito de baixo para cima.<br />
216
Foto: Alex Ferro / CO-Rio Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
O campo de beisebol<br />
(acima) e um <strong>do</strong>s jogos<br />
<strong>do</strong>s brasileiros no Pan<br />
217
Redação confortável,<br />
salas de entrevista<br />
e restaurante: MPC<br />
recebeu inúmeros<br />
elogios de jornalistas<br />
Fotos: Divulgação / CO-Rio<br />
218
MPC e IBC: conforto e tecnologia para a imprensa<br />
Q<br />
G <strong>do</strong>s 1.394 profissionais de mídia<br />
escrita que retiraram suas credenciais,<br />
o MPC (<strong>do</strong> inglês Main Press<br />
Center, ou Centro Principal de Imprensa),<br />
funcionan<strong>do</strong> num pavilhão de 13.500<br />
m² abriga<strong>do</strong> no Riocentro, na zona oeste <strong>do</strong><br />
Rio de Janeiro, esteve à altura <strong>do</strong>s centros de<br />
imprensa instala<strong>do</strong>s em Jogos Olímpicos, a<br />
julgar pelos elogios de jornalistas <strong>do</strong> Brasil e<br />
<strong>do</strong> exterior.<br />
Possuía uma redação com lugares disponíveis<br />
para 564 profissionais na sala de trabalho e 42<br />
escritórios aluga<strong>do</strong>s pelo Comitê Organiza<strong>do</strong>r<br />
para diversos órgãos de imprensa. Duas salas<br />
para entrevistas coletivas, posto médico, cafeteria,<br />
<strong>do</strong>is restaurantes, lanchonete e armários<br />
garantiram o conforto e a segurança <strong>do</strong>s usuários.<br />
“Já estive em 12 jogos Olímpicos e este<br />
Centro de Imprensa foi o mais confortável em<br />
que trabalhei numa competição multiesportiva”,<br />
garante Bob Condron, diretor de imprensa<br />
<strong>do</strong> Comitê Olímpico <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
Na sala de trabalho e nos escritórios, televisões<br />
transmitiam ao vivo a programação <strong>do</strong>s<br />
Jogos. “Tinha tu<strong>do</strong> que tem um MPC das<br />
Olimpíadas. A maior parte <strong>do</strong> que ouvi foi de<br />
elogios, principalmente pelo tamanho da instalação<br />
e as opções da área de alimentação”,<br />
conta o gerente <strong>do</strong> MPC, Marcelo Fefer.<br />
A montagem foi financiada pela concessionária<br />
<strong>do</strong> complexo <strong>do</strong> Riocentro GL Events. “Os<br />
serviços para a imprensa foram excelentes.<br />
Transmiti minhas reportagens com rapidez e<br />
não tive problemas de conexão”, diz Mariano<br />
Ryan, jornalista envia<strong>do</strong> especial <strong>do</strong> diário argentino<br />
Clarín para a cobertura <strong>do</strong>s Jogos Rio<br />
2007. Para Eduar<strong>do</strong> Tironi, editor-executivo <strong>do</strong><br />
diário Lance!, “os serviços, tanto para a imprensa<br />
quanto para o público, tiveram um bom<br />
nível de eficiência e organização”.<br />
Nos 7.500 m 2 <strong>do</strong> pavilhão 1 <strong>do</strong> Riocentro, funcionou<br />
o International Broadcasting Center<br />
(IBC), o Centro Internacional de Transmissões,<br />
que abrigou a International Sports Broadcasting<br />
(ISB), emissora anfitriã <strong>do</strong>s Jogos, e as<br />
emissoras de rádio e TV detentoras <strong>do</strong>s direitos<br />
de transmissão das competições (12 nacionais<br />
e 10 internacionais).<br />
Cerca de 4 mil profissionais da área foram credencia<strong>do</strong>s<br />
– a emissora gera<strong>do</strong>ra, a ISB, empregou<br />
900 pessoas nos estúdios e nas instalações<br />
para garantir a geração recorde de 850<br />
horas de transmissão em alta definição para<br />
150 países de quatro continentes.<br />
A ISB transmitiu ao vivo de 15 instalações e<br />
gravou competições em 12. Mais de 20 trailers<br />
e 10 unidades móveis foram utiliza<strong>do</strong>s<br />
na operação, que gerou 50 sinais simultâneos<br />
monitora<strong>do</strong>s em televisões de plasma no<br />
IBC. Foram utiliza<strong>do</strong>s, no local, 70 quilômetros<br />
de cabo. Tal aparato sobrecarregou a energia<br />
elétrica disponível, chegan<strong>do</strong> a derrubar a<br />
transmissão de algumas emissoras por alguns<br />
instantes nos primeiros dias <strong>do</strong>s Jogos, problema<br />
resolvi<strong>do</strong> rapidamente pela organização.<br />
Os profissionais que trabalharam no IBC utilizaram<br />
os serviços de alimentação disponíveis<br />
no MPC. Mas no IBC também houve serviços<br />
diversos. O pavilhão foi equipa<strong>do</strong> com banco,<br />
agência <strong>do</strong>s Correios, agência de viagens e<br />
uma loja de conveniência.<br />
219
As instalações não-esportivas<br />
A<br />
organização <strong>do</strong>s Jogos contou com<br />
instalações operacionais de papel<br />
determinante no bom andamento<br />
das competições e em outras atividades.<br />
Boa parte delas teve sua estrutura<br />
bancada pelo governo federal e algumas, inclusive,<br />
tiveram uma parte ou a totalidade de<br />
suas montagens provisórias (overlays) incluída<br />
no mesmo contrato das instalações temporárias<br />
esportivas <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> (CR<br />
01/2007): o caso <strong>do</strong> Centro Principal de Operações<br />
(MOC), <strong>do</strong> Centro de Uniforme e Credenciamento<br />
(UAC), da garagem central (GCT), <strong>do</strong>s<br />
aeroportos e da Vila.<br />
Em geral – com algumas variações dependen<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> local –, os overlays eram compostos de<br />
tendas, divisórias, móveis, carpetes, computa<strong>do</strong>res,<br />
geladeiras, ar-condiciona<strong>do</strong>, instalações<br />
elétricas, banners e cartazes de divulgação e<br />
peças de sinalização, o chama<strong>do</strong> “Look of the<br />
games”.<br />
Centro de Uniforme e Credenciamento<br />
(UAC)<br />
Funcionou em instalações temporárias de 4,5<br />
mil m² nos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Barra Shopping, na Barra<br />
(foto abaixo). O centro de compras, em troca da<br />
cessão <strong>do</strong> espaço, ganhou o status de “shopping<br />
oficial” <strong>do</strong> Pan. O espaço teve a montagem<br />
financiada pelo governo federal e concentrou<br />
a emissão de 118 mil credenciais ativadas<br />
e a distribuição de mais de 400 mil itens de<br />
uniformes e outros produtos para funcionários,<br />
jornalistas e terceiriza<strong>do</strong>s.<br />
Centro de Segurança <strong>do</strong>s Jogos (COS)<br />
Sede das operações de segurança, o COS,<br />
no prédio da Central <strong>do</strong> Brasil, foi implanta<strong>do</strong><br />
pelo Ministério da Justiça. Por uma decisão estratégica<br />
da Secretaria Nacional de Segurança<br />
Pública (Senasp), responsável pelo projeto<br />
de segurança <strong>do</strong>s Jogos, as operações foram<br />
centralizadas no edifício onde fica a sede <strong>do</strong><br />
órgão, no Centro da cidade. O Centro de Segurança<br />
<strong>do</strong>s Jogos ficou como lega<strong>do</strong> para a<br />
segurança pública <strong>do</strong> Rio.<br />
Armazém Central de Logística<br />
Abriga<strong>do</strong> no galpão da Base de Abastecimento<br />
da Marinha, em Ramos, zona norte da cidade,<br />
era forma<strong>do</strong> por equipes de logística,<br />
que contavam ainda com mais <strong>do</strong>is depósitos<br />
de apoio <strong>do</strong> COB (foto ao la<strong>do</strong>). Foram gastos<br />
UAC: financia<strong>do</strong> pelo<br />
governo federal, emitiu<br />
milhares de credenciais e<br />
distribuiu mais de 400 mil<br />
itens de uniformes<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
220
A Central <strong>do</strong> Brasil<br />
abrigou o Centro<br />
de Segurança <strong>do</strong>s<br />
Jogos (COS)<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
R$ 600 mil para adequação <strong>do</strong> Armazém, recursos<br />
transferi<strong>do</strong>s pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
ao Ministério da Defesa, por meio de destaque<br />
orçamentário. O armazém esteve equipa<strong>do</strong><br />
com tratores, empilhadeiras, guindastes e equipamentos<br />
manuais de movimentação de carga,<br />
além de frota de transporte composta por<br />
caminhões-baú, caminhões-guincho, utilitários<br />
diversos, vans e motocicletas. Mais de 600 toneladas<br />
de materiais esportivos e encomendas<br />
foram entregues em segurança. A tarefa ficou a<br />
cargo da CorreiosLog, contratada pelo Ministério<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> por R$ 15.990.171,00.<br />
Garagem Central (GCT)<br />
Para abrigar a frota de veículos utilizada pelos<br />
vários setores responsáveis pela organização<br />
<strong>do</strong>s Jogos, o governo federal montou toda a<br />
estrutura temporária para o funcionamento de<br />
uma garagem central (foto ao la<strong>do</strong>). Um terreno<br />
de 45 mil m 2 foi cedi<strong>do</strong> pelo shopping Via<br />
Parque, na Avenida Ayrton Senna, próximo à<br />
Vila. Ali, onde também há um kartódromo, o<br />
Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> instalou tendas, mesas e<br />
computa<strong>do</strong>res. E também fez adequação das<br />
instalações elétricas, inclusive instalan<strong>do</strong> mais<br />
O Armazém Central de<br />
Logística foi reforma<strong>do</strong><br />
com recursos da União<br />
Garagem Central de Transporte: 45 mil metros<br />
quadra<strong>do</strong>s em ponto estratégico da cidade para<br />
o fluxo <strong>do</strong>s veículos usa<strong>do</strong>s no Pan<br />
221
Foto: Claudia Gonçalves / Infraero<br />
de 360 tomadas de diversos tipos, boa parte<br />
para que motoristas e supervisores pudessem<br />
recarregar os celulares e rádios. O local favoreceu<br />
a logística, já que a garagem estava situada<br />
exatamente na região onde se realizaram<br />
cerca de 60% das competições.<br />
Aeroportos<br />
Os <strong>do</strong>is aeroportos <strong>do</strong> Rio – Internacional Tom<br />
Jobim (Galeão), a 20 km <strong>do</strong> Centro, e Santos<br />
Dumont, na região central da cidade – receberam<br />
cartazes, banners e outras peças de<br />
promoção e sinalização <strong>do</strong>s Jogos, além de<br />
equipes especialmente encarregadas de receber<br />
a Família Pan e Parapan-americana. No<br />
Galeão, o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> se encarregou<br />
de fazer adequações das instalações elétricas<br />
e montou salas de receptivo a atletas e delegações.<br />
Com recursos <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Turismo<br />
(R$ 107 milhões) e da Infraero (R$ 58 milhões),<br />
o Santos Dumont teve uma ala completamente<br />
reformada antes <strong>do</strong> Pan. O terminal de passageiros<br />
foi amplia<strong>do</strong> em mais de mil metros<br />
quadra<strong>do</strong>s, o que deixou a área de embarque<br />
três vezes maior.<br />
Centro de Operações Tecnológicas (TOC)<br />
Uma sala de 1.680 m², dentro de um shopping<br />
na Barra da Tijuca, região que concentrou cerca<br />
de 60% das competições, era o coração<br />
das operações de tecnologia. Implanta<strong>do</strong> com<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Reforma <strong>do</strong> Santos Dumont:<br />
terminal de passageiros<br />
ganhou mais de 1000m 2 com<br />
reforma para o Pan<br />
222
ecursos <strong>do</strong> governo federal, possuía 180 postos<br />
de trabalho e 16 mil metros de cabeamento<br />
elétrico, além de um videowall (telão de alta<br />
definição) que monitorava e transmitia continuamente<br />
as operações <strong>do</strong> evento e imagens das<br />
instalações esportivas e não-esportivas (ver<br />
capítulo Tecnologia).<br />
Centro Principal de Operações (MOC)<br />
O objetivo <strong>do</strong> MOC (a sigla vem <strong>do</strong> inglês Main<br />
Operation Center, ou Centro Principal de Operações),<br />
que ocupava uma sala de 300m² na<br />
sede <strong>do</strong> Comitê Olímpico Brasileiro (COB), na<br />
Barra da Tijuca, era dar respostas rápidas a<br />
toda e qualquer crise durante os Jogos (foto<br />
ao la<strong>do</strong>). Integra<strong>do</strong> por 75 pessoas <strong>do</strong> CO-Rio<br />
e <strong>do</strong>s três níveis de governo, incluin<strong>do</strong> representantes<br />
<strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> (Sepan),<br />
da Secretaria Nacional de Segurança Pública<br />
(Senasp), Defesa Civil e Instituto Nacional de<br />
Meteorologia, funcionava 20 horas por dia. Pode-se<br />
dizer que o MOC era o centro nervoso<br />
<strong>do</strong> Pan, onde situações críticas que poderiam<br />
prejudicar o bom andamento <strong>do</strong> evento eram<br />
analisadas para posteriores tomadas de decisões.<br />
Pela primeira vez uma estrutura deste<br />
tipo foi montada em Pan-americanos. Antes de<br />
entrar em operação, o CO-Rio coman<strong>do</strong>u uma<br />
simulação, durante 30 horas, na qual analisou<br />
730 problemas “reais”, <strong>do</strong>s mais simples aos<br />
mais complexos, vivi<strong>do</strong>s em Jogos Olímpicos.<br />
Até uma ameaça de bomba foi simulada. Durante<br />
os Jogos, nenhum evento grave foi registra<strong>do</strong>,<br />
mas a equipe estava preparada para dar<br />
respostas rápidas.<br />
O TOC abrigava toda a integração<br />
tecnológica <strong>do</strong> evento<br />
O MOC era o centro nervoso <strong>do</strong>s Jogos<br />
Foto: Divulgação / Atos Origin<br />
Foto: Divulgação / Modulo<br />
Hotéis<br />
O Windsor Barra, onde o CO-Rio fez uso de<br />
280 apartamentos, ganhou status de hotel ofi -<br />
cial <strong>do</strong> Pan e foi sede da Organização Desportiva<br />
Pan-Americana (Odepa) durante o evento.<br />
A Odepa fez ali sua XLV Assembléia Geral.<br />
Para isso, o governo federal proveu mobiliário,<br />
tabla<strong>do</strong>s, geladeiras e outros itens requeri<strong>do</strong>s.<br />
Uma infra-estrutura de apoio aos Jogos também<br />
foi montada nos hotéis Sheraton da Barra<br />
e Royalty, em Copacabana. Ambos hospedaram<br />
dirigentes de organismos esportivos internacionais<br />
e árbitros.<br />
O Windsor Barra, junto com o Sheraton<br />
e o Royalty, foi um <strong>do</strong>s hotéis oficiais<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
223
A VILA PAN-AMERICANA<br />
Com boa localização, conforto e serviços<br />
eficientes, o complexo financia<strong>do</strong> pelo governo<br />
federal impressiona e recebe elogios de atletas<br />
e dirigentes internacionais<br />
Foto: AGENCO<br />
224
O<br />
projeto da Vila Pan-americana<br />
foi claramente inspira<strong>do</strong> em vilas<br />
olímpicas, em to<strong>do</strong>s os setores,<br />
e seguiu os padrões <strong>do</strong> Comitê<br />
Olímpico Internacional: a disposição <strong>do</strong>s<br />
edifícios, as áreas internas de convivência <strong>do</strong><br />
con<strong>do</strong>mínio, o nível e a variedade de serviços<br />
ofereci<strong>do</strong>s. Por isso, tornou-se uma das instalações<br />
mais elogiadas <strong>do</strong> evento. Estrategicamente<br />
localizada, a Vila esteve próxima,<br />
num raio de 10 quilômetros, de onde foram<br />
disputadas pelo menos 60% das provas panamericanas,<br />
<strong>do</strong> Centro Principal de Imprensa<br />
(MPC) e <strong>do</strong> Centro Internacional de Transmissões<br />
(IBC).<br />
O conjunto, com seus<br />
1.480 apartamentos:<br />
vendas em tempo recorde<br />
225
O sucesso pode ser comprova<strong>do</strong> por declarações<br />
de atletas e dirigentes e da imprensa especializada,<br />
que em coro elogiaram as instalações.<br />
O presidente da Organização Desportiva<br />
Pan-americana (Odepa) disse que “foi qualificada<br />
como a melhor Vila até agora, incluin<strong>do</strong><br />
Jogos Olímpicos. Isso nos deu uma segurança<br />
muito grande. Quan<strong>do</strong> o atleta compete satisfeito<br />
com o local onde está hospeda<strong>do</strong>, consegue<br />
atingir seu melhor resulta<strong>do</strong>”, avaliou Mário<br />
Vásquez Raña. A opinião foi compartilhada<br />
pelo presidente da Comissão de Coordenação<br />
para os Jogos, o uruguaio Julio Maglione, que<br />
chegou a comparar a Vila Pan-americana <strong>do</strong><br />
Rio à Vila Olímpica de Pequim 2008: “Faço<br />
parte da comissão que acompanhou as obras<br />
em Pequim e notei semelhanças entre a Vila <strong>do</strong><br />
Rio e a <strong>do</strong>s chineses”.<br />
Os edifícios que alojaram as delegações e a<br />
área de convivência foram construí<strong>do</strong>s em<br />
parceria com a iniciativa privada e depois tornaram-se<br />
um moderno conjunto residencial, a<br />
exemplo da Vila Olímpica de Barcelona 1992.<br />
A construtora Agenco, que recebeu financiamento<br />
da Caixa Econômica Federal no valor<br />
de R$ 189,3 milhões e complementou o valor<br />
da obra em cerca de R$ 15 milhões, vendeu<br />
quase to<strong>do</strong>s os 1.480 apartamentos <strong>do</strong>s 17<br />
prédios antes mesmo da realização <strong>do</strong>s Jogos,<br />
sen<strong>do</strong> que 1.350 foram vendi<strong>do</strong>s em um<br />
só dia, um recorde no merca<strong>do</strong> imobiliário brasileiro.<br />
O modelo se mostrou acerta<strong>do</strong> porque<br />
o valor investi<strong>do</strong> pela Caixa retornará aos cofres<br />
públicos quan<strong>do</strong> os mutuários terminarem<br />
de pagar as prestações.<br />
O Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> fi cou responsável<br />
pelos serviços dentro Vila, inclusive o fornecimento<br />
<strong>do</strong> mobiliário <strong>do</strong>s apartamentos e a<br />
governança e lavanderia, além da montagem<br />
<strong>do</strong> restaurante e de diversas instalações temporárias,<br />
exceto tendas. A Prefeitura <strong>do</strong> Rio<br />
de Janeiro, responsável pela infra-estrutura<br />
viária interna e no entorno, não teve recursos<br />
para executar todas as obras – que incluíam<br />
pavimentação, construção das redes<br />
de drenagem de águas pluviais e de iluminação<br />
pública, instalação de áreas ajardinadas<br />
em ruas internas da Vila e construção<br />
de uma Unidade de Tratamento de Rio, no<br />
Arroio Fun<strong>do</strong>. O Município chegou a iniciar<br />
as obras, mas acabou interrompen<strong>do</strong>-as, o<br />
que retar<strong>do</strong>u a conclusão <strong>do</strong>s serviços. Para<br />
evitar maiores problemas, o governo federal<br />
decidiu colaborar com aporte viabiliza<strong>do</strong> por<br />
meio de convênio entre o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
e a prefeitura para que as obras fossem<br />
concluídas. Por isso, a participação <strong>do</strong> governo<br />
federal foi decisiva para a viabilização da<br />
Vila. De parte <strong>do</strong> Ministério, foram feitos <strong>do</strong>is<br />
contratos e <strong>do</strong>is convênios, que permitiram<br />
a operação <strong>do</strong> local, como segue descrito<br />
abaixo. Excluem-se desta lista a montagem e<br />
o custeio das instalações temporárias, inseri<strong>do</strong>s<br />
em contrato específi co para montagem<br />
das estruturas provisórias sob responsabilidade<br />
<strong>do</strong> governo federal:<br />
QUANTO O GOVERNO FEDERAL INVESTIU NA VILA<br />
Construção da Vila Financiamento da Caixa Econômica Federal R$ 189.300.000,00<br />
Contrato 009/2007<br />
Consórcio Interamericano<br />
Contrato 022/2007<br />
Comissaria Rio<br />
Convênio 171/2004<br />
CO-Rio<br />
Convênio 012/2007<br />
Prefeitura <strong>do</strong> Rio<br />
Prestação de serviços especializa<strong>do</strong>s de implementação de hotelaria<br />
temporária na Vila Pan-americana<br />
Contratação de empresa para serviços especializa<strong>do</strong>s de fornecimento de<br />
alimentação, instalações e gestão <strong>do</strong> restaurante da Vila Pan-americana<br />
Assegurar a utilização, nas épocas próprias, mediante concessão de direito<br />
real de uso, das instalações e dependências da Vila Pan-americana<br />
Intervenções e obras de infra-estrutura<br />
viária e urbanização da Vila Pan-americana<br />
R$ 31.886.145,39<br />
R$ 36.324.861,90<br />
R$ 24.999.639,00<br />
R$ 45.359.629,43<br />
Total R$ 327.870.275,72<br />
226
moradia e alimentação <strong>do</strong>s atletas, mas também<br />
como espaço de convivência, a Vila hospe<strong>do</strong>u<br />
7.776 pessoas durante o Pan e 2.003<br />
no Parapan. Para cuidar de tamanha grandiosidade,<br />
a instalação tinha um prefeito, o general-de-divisão<br />
da reserva Paulo Laranjeira,<br />
responsável por tu<strong>do</strong> o que acontecia na Vila,<br />
que estava dividida em três áreas:<br />
Zona Residencial<br />
Aqui ficaram hospeda<strong>do</strong>s os atletas e oficiais,<br />
numa área total de 91.774 m², e abriga<strong>do</strong>s<br />
os escritórios <strong>do</strong>s comitês olímpicos<br />
nacionais. Ao fun<strong>do</strong>, um terminal de ônibus<br />
permitia que as delegações se locomovessem<br />
sem precisar passar por outros ambientes<br />
ao entrar ou sair. A Zona Residencial<br />
estava dividida em <strong>do</strong>is grandes parques,<br />
América <strong>do</strong> Norte e América <strong>do</strong> Sul, separa<strong>do</strong>s<br />
pela Via América Central. Em cada<br />
um <strong>do</strong>s 3.888 quartos, ficaram aloja<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />
residentes. No Parapan, foram utiliza<strong>do</strong>s os<br />
seis blocos de duas suítes. “A Vila está muito<br />
boa, os apartamentos são amplos e confortáveis”,<br />
elogiou a atleta Laís Souza, da<br />
seleção brasileira de ginástica artística.<br />
Por dentro da VilaDesenvolvida para servir não só como local de<br />
Zona Internacional<br />
Área destinada, principalmente, à convivência.<br />
Ali, a Petrobras, com estande próprio,<br />
promoveu uma agenda cultural com nove<br />
apresentações musicais e exibição de seis<br />
filmes nacionais. No Parapan, uma oficina de<br />
reparo de próteses, órteses e cadeiras de rodas<br />
foi erguida pela Associação Brasileira de<br />
Ortopedia Técnica, que fez 350 atendimentos.<br />
E no lugar <strong>do</strong> estande da Petrobras, os ministérios<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e das Comunicações montaram<br />
um telecentro para o acesso de pessoas<br />
com deficiência à Internet. Com horário de<br />
funcionamento entre nove da manhã e meianoite,<br />
a zona internacional abrigou lojas e inúmeros<br />
serviços.<br />
Zona Operacional<br />
Tinha acesso restrito: abrigava o Centro Regional<br />
de Segurança, a central de tecnologia,<br />
o escritório de suporte para credenciamento,<br />
o centro de operações de lixo e os<br />
depósitos e áreas de logística. Para deslocamento<br />
interno <strong>do</strong>s atletas pelo interior da<br />
Vila, foram disponibiliza<strong>do</strong>s ônibus, que no<br />
Parapan estavam adapta<strong>do</strong>s para o uso de<br />
pessoas com deficiência.<br />
ZONA RESIDENCIAL<br />
Restaurante, com 2.250 lugares, aberto 24 horas por dia<br />
Salas de apoio e escritórios para os organiza<strong>do</strong>res<br />
Academia de ginástica, de 600 m², aberta diariamente das seis da manhã às onze da noite.<br />
Estava equipada com 100 máquinas, entre aparelhos de musculação e de treinamento<br />
cardiovascular, <strong>do</strong>is mil quilos de halteres, pesos e barras, além de saunas masculina e feminina<br />
Centro ecumênico com capacidade para 48 pessoas e seis sessões diárias de cinco religiões,<br />
para católicos, espíritas, islâmicos, judeus e protestantes<br />
Discoteca, com funcionamento das sete às onze da noite, que fez bastante sucesso entre os atletas<br />
Policlínica médica, equipada e operada pela Golden Cross (no Pan) e pelo Corpo de Bombeiros (no<br />
Parapan), sempre com <strong>do</strong>is médicos de plantão na emergência, quatro no ambulatório, <strong>do</strong>is dentistas,<br />
um técnico de raio-x, um técnico de laboratório e um farmacêutico. Entre os atendimentos ofereci<strong>do</strong>s<br />
estavam os de ortopedia, po<strong>do</strong>logia, fisioterapia, o<strong>do</strong>ntologia, massagem terapêutica, clínica geral,<br />
ginecologia, medicina esportiva, farmácia, exames de laboratório, radiografias e ultra-som<br />
Para o lazer, no térreo de cada prédio havia uma sala de tv<br />
(com acesso a canais a cabo), piscina e ciclovia<br />
A cada <strong>do</strong>is blocos, uma sala com 16 terminais de computa<strong>do</strong>res e acesso à internet<br />
Máquina de gelo capaz de produzir 150 quilos por hora estava disponível em cada<br />
um <strong>do</strong>s 17 blocos de apartamentos. O equipamento foi altamente utiliza<strong>do</strong> pelos atletas<br />
227
ZONA INTERNACIONAL<br />
Lanchonete Bob’s<br />
Agência da Caixa Econômica Federal (com serviços de câmbio, transferência para outros países,<br />
cobrança de cheques e cheques de viagem, serviços de dinheiro em espécie e caixas automáticos)<br />
Agência <strong>do</strong>s Correios (com serviços automáticos completos,<br />
serviço expresso nacional e internacional, filatelia e venda de selos)<br />
Centro telefônico da Oi (com cabines telefônicas para chamadas locais, interestaduais<br />
e internacionais e venda de cartões para telefones públicos)<br />
Cyber-café com acesso à internet (serviço pago)<br />
Loja de serviços de fotografi a (com venda de filmes, máquinas de fotografias<br />
e outros materiais, revelações, reproduções e ampliações)<br />
Loja de produtos oficiais <strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos e III Jogos Parapan-americanos (souvenir)<br />
Loja de artigos esportivos<br />
Agência de viagens, com venda de passagens, pacotes e outros serviços<br />
Lavanderia (serviço pago), com serviços especiais, além <strong>do</strong>s ofereci<strong>do</strong>s pela Vila<br />
Loja de consertos de roupas da Olympikus<br />
Floricultura com serviço de entrega, inclusive no exterior<br />
Quiosque de bilheteria para venda de ingressos <strong>do</strong>s Jogos<br />
Salão de beleza e um mini-spa<br />
Loja de conveniência<br />
Salão de jogos<br />
Estande monta<strong>do</strong> pelos ministérios <strong>do</strong> Turismo e <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> para divulgação <strong>do</strong> turismo nacional<br />
Foto: AGENCO<br />
Trânsito de veículos reduzi<strong>do</strong><br />
para garantir silêncio e<br />
manter boa a qualidade <strong>do</strong> ar<br />
228<br />
VILA PAN-AMERICANA E O OSCAR<br />
DA CONSTRUÇÃO CIVIL<br />
O projeto da Vila Pan-americana recebeu,<br />
em 5 de setembro de 2006, o “Oscar”<br />
da construção civil na categoria Marketing<br />
e Comercialização, o Prêmio Master<br />
Imobiliário, conferi<strong>do</strong> pelo Secovi-SP<br />
e pelo FIBCI. No total, foram premia<strong>do</strong>s<br />
15 projetos de to<strong>do</strong> o País.
AGENCO<br />
229
230<br />
Foto: AGENCO
A construção<br />
O<br />
modelo de financiamento da Vila é<br />
um exemplo a ser segui<strong>do</strong>. No final<br />
de 2002, por ser <strong>do</strong>na <strong>do</strong> local escolhi<strong>do</strong><br />
para abrigar a instalação,<br />
a construtora Agenco foi convidada pelos organiza<strong>do</strong>res<br />
a construir o conjunto de prédios.<br />
A princípio, seriam ergui<strong>do</strong>s 25, mas o CO-Rio<br />
chegou à conclusão de que 17 prédios seriam<br />
suficientes. Em novembro de 2004, a Caixa<br />
Econômica Federal aprovou o financiamento de<br />
R$ 189,3 milhões, com recursos <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> de<br />
Amparo ao Trabalha<strong>do</strong>r. Dez meses depois, a<br />
empreiteira iniciou a venda <strong>do</strong>s apartamentos:<br />
em um só dia, foram vendidas 1.350 unidades,<br />
segun<strong>do</strong> Sérgio Goldberg, diretor da Agenco.<br />
“O projeto tinha predica<strong>do</strong>s expressivos. To<strong>do</strong>s<br />
os apartamentos eram suítes. O financiamento<br />
da Caixa foi um atrativo forte. Colocamos no<br />
projeto equipamentos urbanos que davam ao<br />
con<strong>do</strong>mínio o que havia de mais completo. E<br />
também teve o fato de os Jogos serem um pouco<br />
mágicos. Compran<strong>do</strong> os apartamentos, as<br />
pessoas estariam viabilizan<strong>do</strong> o Pan”, acredita.<br />
Para que a Vila ficasse à disposição <strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong>s Jogos durante dez meses,<br />
de fevereiro a dezembro de 2007, o Ministério<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, através de convênio com o CO-<br />
Rio, pagou R$ 24.999.639 à construtora pelo<br />
chama<strong>do</strong> “direito real de uso” pelo perío<strong>do</strong>.<br />
Assim, impediu que o valor fosse repassa<strong>do</strong><br />
aos mutuários. O con<strong>do</strong>mínio foi entregue ao<br />
CO-Rio em fevereiro de 2007. Além da verba<br />
<strong>do</strong> financiamento da Caixa, a Agenco investiu<br />
R$ 15 milhões na construção. A idéia inicial<br />
da construtora era erguer um shopping center<br />
em frente aos prédios, onde ficaria a zona<br />
internacional. No entanto, em janeiro de 2007,<br />
a prefeitura vetou definitivamente o projeto. O<br />
CO-Rio, então, teve de desenvolver um projeto<br />
alternativo, e a zona internacional foi construída<br />
em instalações temporárias.<br />
Os atrasos nas obras de infra-estrutura viária<br />
comprometeram o nível de serviço da Vila nos<br />
dias anteriores à abertura ofi cial. Outra questão<br />
que prejudicou a operação foi um equívoco<br />
no cálculo de energia. Segun<strong>do</strong> estimativa<br />
<strong>do</strong> CO-Rio, seria necessário 1,5 megawatt,<br />
mas o ideal, na verdade, seriam 4,5 megawatts,<br />
consideran<strong>do</strong>-se que houve acréscimo<br />
em função da montagem de estruturas temporárias<br />
na zona internacional. “No início de<br />
junho, o CO-Rio comunicou que precisaria de<br />
mais energia elétrica <strong>do</strong> que o estima<strong>do</strong>. Sugerimos<br />
procurar a Light, que vende energia<br />
festiva nesses casos. Decidimos fazer então<br />
um convênio com o Comitê para a aquisição<br />
desse serviço”, conta o gerente de Engenharia<br />
da Secretaria <strong>do</strong> Comitê de Gestão Federal<br />
Rio 2007 (Sepan/ME), Luiz Custódio<br />
Orro – energia festiva é o apeli<strong>do</strong> que se dá<br />
à rede provisória, momentânea, executada<br />
pelas fornece<strong>do</strong>ras de energia elétrica para<br />
fornecer energia em lugares onde não há. O<br />
convênio 084/2007, de R$ 3.241.639,29, para<br />
cobrir custos de energia elétrica, água e gás<br />
da Vila e de outras 21 instalações, foi assina<strong>do</strong><br />
em 10 de julho de 2007, entre o CO-Rio e<br />
o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />
Fotos: AGENCO<br />
231
Mobiliário, governança e lavanderia<br />
P<br />
ara fornecer e montar o mobiliário<br />
de 1.480 apartamentos, com seus<br />
3.888 quartos, e ainda administrar<br />
os serviços <strong>do</strong> dia-a-dia de 7.776<br />
pessoas, o governo federal contratou, por<br />
R$ 31.886.145,39, o Consórcio Interamericano<br />
(CR 009/2007). No escopo da licitação, concluída<br />
no início de 2007, estavam incluí<strong>do</strong>s o<br />
fornecimento e a montagem <strong>do</strong>s móveis para<br />
os prédios residenciais, desde camas e armários<br />
até aparelhos de ar condiciona<strong>do</strong>, lâmpadas<br />
e persianas. Constavam também das obrigações<br />
contratuais a instalação e operação de<br />
nove postos de lavanderia nos subsolos <strong>do</strong>s<br />
blocos residenciais para atender os atletas e<br />
demais membros de delegações – as roupas<br />
de cama e de banho foram higienizadas em<br />
OS NÚMEROS DA VILA<br />
1.610.280 copos descartáveis<br />
271.080 rolos de papel higiênico<br />
271.080 sabonetes<br />
79.200 cabides<br />
107.392 sacos de lixo<br />
8.066 travesseiros<br />
15.568 fronhas<br />
31.136 lençóis<br />
21.654 lâmpadas incandescentes<br />
toneladas de roupas e enxoval<br />
117 lavadas nas lavanderias da Vila e<br />
em terceirizadas<br />
4.022 aparelhos de ar condiciona<strong>do</strong><br />
15.649<br />
chaves para as portas<br />
<strong>do</strong>s apartamentos<br />
4.866<br />
camas com 2 metros<br />
de comprimento<br />
3.180<br />
camas com 2,20 metros<br />
de comprimento<br />
1.514 purifica<strong>do</strong>res de água<br />
4.000 persianas<br />
958 mesas plásticas<br />
6.584 cadeiras empilháveis<br />
4.034 armários altos<br />
3.990 mesas de cabeceira<br />
117.000 lavagens de roupas e enxovais<br />
lavanderias externas à Vila. O consórcio forneceu<br />
também o serviço de governança, que<br />
incluiu mão-de-obra e material de reposição,<br />
como sabonetes e papéis higiênicos. Os setores<br />
de mobiliário, governança e lavanderia<br />
empregaram 590 pessoas diretamente e 1.180<br />
indiretamente. Como não poderia deixar de<br />
ser, em se tratan<strong>do</strong> da Vila Pan-americana que<br />
recebeu o maior número de residentes na história<br />
<strong>do</strong>s Jogos, os números da governança<br />
são grandiosos.<br />
O consórcio contrata<strong>do</strong> forneceu o serviço dentro<br />
<strong>do</strong> prazo estipula<strong>do</strong>, apesar de prejudica<strong>do</strong><br />
por alguns atrasos nas obras, como explica o<br />
gerente <strong>do</strong> contrato, Denner James Armanhe,<br />
da Sepan/ME: “Os apartamentos começaram<br />
a ser mobilia<strong>do</strong>s em março, e havia dificuldade<br />
de acesso a alguns porque as obras viárias não<br />
estavam concluídas”. O atraso na provisão de<br />
serviços de concessionárias públicas também<br />
prejudicou o trabalho das empresas, e algumas<br />
dificuldades foram sen<strong>do</strong> detectadas enquanto<br />
as delegações iam chegan<strong>do</strong>, ainda antes <strong>do</strong><br />
início das competições.<br />
No caso <strong>do</strong> mobiliário, o único problema registra<strong>do</strong><br />
foi a quebra de algumas camas, no<br />
entanto, menos de 1% <strong>do</strong> total destes móveis<br />
quebrou. Nestes casos, o consórcio providenciava<br />
o conserto ou a substituição. O projeto<br />
previa a compra de camas que suportassem<br />
até 160 kg, e as empresas, por medida<br />
de segurança, adquiriram camas capazes de<br />
agüentar até 200 kg. Mesmo assim, verificaram-se<br />
problemas, geralmente decorrentes<br />
de uso inadequa<strong>do</strong>.<br />
As roupas sujas <strong>do</strong>s atletas eram colocadas,<br />
por eles mesmos, em sacos apropria<strong>do</strong>s. Uma<br />
etiqueta marcava o número <strong>do</strong> apartamento.<br />
Nas lavanderias, as roupas eram lavadas<br />
dentro <strong>do</strong>s próprios sacos, o que facilitava a<br />
identificação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>nos <strong>do</strong>s uniformes limpos.<br />
Levar e buscar as roupas deveria ser tarefa<br />
<strong>do</strong>s voluntários: “Mas este trabalho teve de ser<br />
feito pelos próprios funcionários da lavanderia<br />
em alguns momentos, pelo acúmulo de trabalho<br />
<strong>do</strong>s voluntários”, lembra Denner James.<br />
232
O CONFORTO DOS ATLETAS<br />
duas camas<br />
um armário de duas portas<br />
três luminárias <strong>do</strong>is travesseiros<br />
ar condiciona<strong>do</strong> quatro fronhas<br />
duas colchas<br />
quatro lençóis superiores<br />
<strong>do</strong>is cobertores quatro lençóis inferiores<br />
20 cabides um espelho<br />
uma lixeira<br />
uma cortina<br />
quatro toalhas de banho um cria<strong>do</strong>-mu<strong>do</strong><br />
233<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>
234
O restaurante<br />
O<br />
restaurante da Vila Pan-americana,<br />
com 6,8 mil m² e 2.250 lugares,<br />
inteiramente custea<strong>do</strong> pela<br />
União, foi uma das instalações<br />
mais elogiadas pelos atletas <strong>do</strong>s Jogos. A<br />
missão da empresa Comissaria Rio, contratada<br />
por R$ 36.324.861,90 (CR 022/2007), era a<br />
de servir pensão completa: café da manhã, almoço,<br />
jantar e serviço 24 horas, durante to<strong>do</strong><br />
o evento. Aberto dez dias antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s<br />
Jogos Pan-americanos, o restaurante funcionou<br />
graças ao trabalho de 1.065 funcionários e<br />
60 voluntários, em revezamento de três turnos.<br />
Para to<strong>do</strong>s os gostos:<br />
400 opções de prato foram<br />
servidas durante os Jogos.<br />
No detalhe, Luiz Incao, que<br />
comandava a cozinha <strong>do</strong><br />
restaurante da Vila<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
A cozinha, pilotada pelo chef Luiz Incao, <strong>do</strong><br />
restaurante Copacabana Palace, no Rio, preparou<br />
receitas de um cardápio varia<strong>do</strong>, basea<strong>do</strong><br />
no conceito de internacionalidade, para<br />
agradar a to<strong>do</strong>s os paladares de 42 países. E<br />
ainda aproveitou para divulgar a culinária brasileira.<br />
As 400 opções de pratos continham informações<br />
calóricas e variavam durante sete dias<br />
no almoço e jantar, o que permitiu aos atletas<br />
estabelecer o modelo de dieta que melhor conviesse<br />
à sua modalidade, à sua preparação e<br />
à sua orientação nutricional. O uso de aditivos<br />
para facilitar o cozimento ou alterar a textura<br />
ou sabor <strong>do</strong>s alimentos foi veda<strong>do</strong>, assim<br />
como temperos e aromatizantes não puderam<br />
ser utiliza<strong>do</strong>s em excesso, exceto nos pratos<br />
típicos. O esquema de auto-serviço permitia<br />
que o cliente consumisse em todas as ilhas<br />
de atendimento (saladas, massas, grelha<strong>do</strong>s<br />
e mix) quantas vezes desejasse, num perío<strong>do</strong><br />
de cinco horas para cada refeição. Durante a<br />
madrugada, o restaurante continuava aberto,<br />
e quem chegasse podia se servir de lanches<br />
frios, queijos, pães, frutas, sobremesas. É claro<br />
que nestes horários a freqüência diminuía, mas<br />
durante as refeições <strong>do</strong> dia o restaurante nunca<br />
serviu menos de duas mil pessoas – e chegou<br />
a ter pico de oito mil. Um sucesso absoluto.<br />
Outros números dão mostras de o quanto o<br />
restaurante da Vila agra<strong>do</strong>u a seus clientes: a<br />
média mínima ingerida pelos atletas por refeição<br />
era de um quilo de comida. Até a chamada<br />
‘junkie food’ fez sucesso entre os esportistas,<br />
de quem se imagina preferir os pratos balan-<br />
235
cea<strong>do</strong>s: pizzas, hambúrgueres, batatas fritas,<br />
catchup, e outros condimentos não ficaram de<br />
la<strong>do</strong> no restaurante. Além disso, a água foi preterida<br />
por café, refrigerante e sucos. Da chegada<br />
<strong>do</strong> alimento à Vila até sua apresentação<br />
nos oito balcões disponíveis, foram segui<strong>do</strong>s<br />
à risca procedimentos rigorosos de higiene.<br />
“Nosso foco principal foi a segurança alimentar.<br />
Queríamos atender a demanda de cardápio<br />
para satisfazer a to<strong>do</strong>s os atletas, observan<strong>do</strong><br />
as necessidades protéicas”, explica o gerente<br />
<strong>do</strong> contrato <strong>do</strong> restaurante, Maurício Romanato,<br />
da Secretaria <strong>do</strong> Comitê de Gestão Federal<br />
Rio 2007 (Sepan/ME).<br />
Nas ilhas batizadas de mix, chefs de cozinha<br />
convida<strong>do</strong>s, com apoio de associações de<br />
classes ligadas ao setor de restaurantes <strong>do</strong> Rio<br />
e <strong>do</strong> Brasil, mostraram seus <strong>do</strong>tes. O objetivo<br />
era divulgar a culinária nacional e associá-la<br />
a eventos de grande porte, permitin<strong>do</strong> que<br />
chefes renoma<strong>do</strong>s tivessem oportunidade de<br />
apresentar seu trabalho ao público esportivo<br />
e criar uma relação sócio-econômico-cultural<br />
entre o esporte, o turismo e a gastronomia.<br />
A iniciativa partiu <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Turismo<br />
(ver capítulo Impacto Econômico), e cada<br />
ilha teve seus cardápios impressos em braile<br />
e nas três línguas ofi ciais <strong>do</strong>s Jogos (português,<br />
inglês e espanhol).<br />
Uma parceria <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r com a<br />
Associação Brasileira das Indústrias de Panificação<br />
(Abip) permitiu fornecimento gratuito de<br />
pão, que saía sempre fresquinho <strong>do</strong>s fornos da<br />
cozinha. Por isso, a padaria foi a grande estrela<br />
<strong>do</strong> restaurante: atingiu a marca recorde de 2,7<br />
milhões de pães servi<strong>do</strong>s. Os atletas consumiram,<br />
em média, 304 quilos de pães por dia, ou<br />
111 quilos por pessoa por ano. Para se ter uma<br />
idéia, a Organização Mundial de Saúde (OMS)<br />
recomenda 60 quilos per capita/ano, e no Brasil<br />
este consumo é de 33 quilos.<br />
O projeto da instalação temporária, desenvolvi<strong>do</strong><br />
pela área de Alimentação <strong>do</strong> CO-Rio, sofreu<br />
alterações <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> a partir<br />
de janeiro de 2007. No início, teria oito mil metros<br />
quadra<strong>do</strong>s, mas ajustes feitos pela Sepan<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
236
permitiram a redução <strong>do</strong> tamanho para 6,8 mil<br />
metros quadra<strong>do</strong>s. A elaboração <strong>do</strong> projeto<br />
considerou o rigoroso sistema de segurança<br />
institucional que permeia eventos desta natureza.<br />
A estocagem, a produção e a oferta de<br />
variedade e quantidade de alimentos tinham<br />
de atender os padrões de segurança, nutrição<br />
e qualidade adequa<strong>do</strong>s a um projeto desta<br />
magnitude. Além disso, o projeto precisava estar<br />
alinha<strong>do</strong> com a mão-de-obra disponível no<br />
merca<strong>do</strong> brasileiro, com experiência e conhecimento<br />
para operar uma estrutura dessa dimensão.<br />
Minimizar acidentes de trabalho, e atender<br />
ao sistema viário e a to<strong>do</strong> o processo de logística<br />
e abastecimento da Vila também estavam no<br />
escopo. “O pessoal utiliza<strong>do</strong> pela Comissaria<br />
era altamente qualifica<strong>do</strong>”, analisa Romanato.<br />
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Não ficaram de fora <strong>do</strong> projeto detalhes que<br />
fizeram a diferença no que diz respeito ao conforto,<br />
como as condições ideais de iluminação<br />
e refrigeração, por exemplo. A aparelhagem de<br />
ar condiciona<strong>do</strong> possuía um sistema altamente<br />
elabora<strong>do</strong> que regulava a temperatura dentro<br />
da tenda <strong>do</strong> restaurante de acor<strong>do</strong> com a<br />
temperatura externa. A própria tenda era feita<br />
de lona especial e o teto, branco, foi rebaixa<strong>do</strong>,<br />
para ampliar a sensação de aconchego.<br />
No chão, piso antiderrapante. A luminosidade<br />
foi pensada para que o atleta tivesse o mínimo<br />
de estresse: as cores brancas suavizaram<br />
a demanda por iluminação elétrica, e a quantidade<br />
desta era calculada por pequenos aparelhos<br />
chama<strong>do</strong>s de “luxímetro” (importantes<br />
também para garantir que a luz não agredisse<br />
atletas com deficiência visual).<br />
Noventa por cento <strong>do</strong>s equipamentos utiliza<strong>do</strong>s<br />
no restaurante foram adquiri<strong>do</strong>s pela Comissaria<br />
dentro <strong>do</strong> contrato com o Ministério<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e, posteriormente, <strong>do</strong>a<strong>do</strong>, o que<br />
fez com que uma instalação 100% temporária<br />
deixasse um importante lega<strong>do</strong> (ver capítulo<br />
Lega<strong>do</strong> Social). Funcionários terceiriza<strong>do</strong>s, voluntários<br />
e homens da Força Nacional usaram<br />
outro restaurante, também opera<strong>do</strong> pela empresa.<br />
Nos <strong>do</strong>is locais, a Comissaria Rio avalia<br />
ter servi<strong>do</strong> até 17 mil pessoas num único dia.<br />
Os números impressionam.<br />
O RESTAURANTE EM NÚMEROS<br />
2.250 lugares<br />
305 mil refeições servidas<br />
2,7 milhões de pães<br />
30 toneladas de frutas<br />
150 toneladas de verduras e legumes<br />
726 mil ovos<br />
19 toneladas de arroz<br />
9,5 toneladas de feijão<br />
120 toneladas de carnes vermelhas,<br />
brancas e pesca<strong>do</strong>s<br />
90 toneladas de massas<br />
4 toneladas de leite condensa<strong>do</strong><br />
25 mil tortas<br />
330 mil discos de pizza<br />
237
A beleza que fez a diferença<br />
C<br />
ombinar conforto, beleza e funcionalidade<br />
em um único projeto<br />
arquitetônico é tarefa bem mais<br />
complexa <strong>do</strong> que se imagina. Mas,<br />
no caso da Vila Pan-americana Rio 2007, esse<br />
desafio foi venci<strong>do</strong> com louvor. A qualidade<br />
<strong>do</strong>s materiais, a variedade de áreas de serviços<br />
e o espaço não foram os únicos fatores<br />
valoriza<strong>do</strong>s por atletas, dirigentes e pelo merca<strong>do</strong>.<br />
A Vila conquistou seus freqüenta<strong>do</strong>res e mora<strong>do</strong>res<br />
também por causa <strong>do</strong>s traços elegantes,<br />
da harmonia de tons suaves em suas paredes<br />
e das amplas áreas de lazer. Um conjunto estético<br />
à altura da beleza da cidade que o abriga,<br />
o Rio de Janeiro.<br />
Destaques <strong>do</strong> projeto, os grama<strong>do</strong>s e jardins<br />
receberam oito esculturas em aço <strong>do</strong> artista<br />
plástico Nuno Ferraz, inspiradas em esportes<br />
como natação, atletismo, vôlei, basquete, futebol,<br />
vela e judô.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Nuno usou 2,5 toneladas de aço nas peças.<br />
A maior, Velas ao Vento, pesa 500 quilos e<br />
tem cinco metros de altura. “Foi extremamente<br />
gratificante incorporar meu trabalho a esse<br />
complexo arquitetônico deslumbrante que é a<br />
Vila”, elogia Ferraz. “Procurei homenagear os<br />
atletas, sobretu<strong>do</strong> nos momentos de vitória”,<br />
completa o artista plástico. Detalhes <strong>do</strong> projeto<br />
nas próximas páginas.<br />
Um <strong>do</strong>s blocos de prédios<br />
da Vila Pan-americana,<br />
com um jardim em primeiro<br />
plano e uma das oito<br />
esculturas em aço <strong>do</strong><br />
artista plástico Nuno Ferraz<br />
238
Fotos: Divulgação / AGENCO<br />
239
240
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Os jardins, a piscina (à esq.),<br />
o lago (acima, à esq.), as<br />
cores e os contornos suaves<br />
<strong>do</strong> projeto: combinação de<br />
eficiência e apuro estético<br />
241
SEGURANÇA<br />
A TODA PROVA<br />
Com integração entre forças,<br />
projetos sociais e inteligência,<br />
o Ministério da Justiça garantiu<br />
a tranqüilidade <strong>do</strong> Pan<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
242
O novo modelo passa no teste<br />
A<br />
segurança das autoridades e <strong>do</strong>s<br />
demais participantes <strong>do</strong>s grandes<br />
encontros internacionais realiza<strong>do</strong>s<br />
no Brasil sempre foi entregue, por<br />
tradição, ao Exército.<br />
A Conferência das Nações Unidas para o Meio<br />
Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco 92, que<br />
na ocasião reuniu o maior número de chefes<br />
de esta<strong>do</strong> e de governo da história, é apenas<br />
um <strong>do</strong>s grandes exemplos em que isso ocorreu.<br />
Com a eficiência habitual, os militares garantiram<br />
um ambiente tranqüilo neste e em to<strong>do</strong>s<br />
os outros eventos.<br />
Por isso, era previsível, até mesmo natural,<br />
que a decisão <strong>do</strong> governo federal de entregar<br />
a coordenação dessa tarefa, nos Jogos Pan e<br />
Parapan-americanos, ao Ministério da Justiça<br />
e não às Forças Armadas, causasse, no início,<br />
alguma dúvida em parte da opinião pública.<br />
Mas os resulta<strong>do</strong>s positivos e a inexistência na<br />
prática de uma ocorrência relevante relacionada<br />
ao Rio 2007 provaram que a decisão foi<br />
acertada. A tese a<strong>do</strong>tada foi a de que a lógica<br />
<strong>do</strong> policiamento deveria ser condizente com as<br />
políticas federais descritas no Sistema Único<br />
de Segurança Pública (Susp).<br />
Na prática, os Jogos serviram como palco<br />
para o início da implantação <strong>do</strong> projeto de segurança<br />
cidadã, desenvolvi<strong>do</strong> pelo Ministério<br />
da Justiça a partir <strong>do</strong> início <strong>do</strong> primeiro mandato<br />
<strong>do</strong> presidente Lula.<br />
As ações incluíam<br />
manobras ousadas<br />
como desembarques<br />
em estádios e ro<strong>do</strong>vias<br />
Um <strong>do</strong>s principais defensores da nova política,<br />
Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa, titular da Secretaria Nacional<br />
de Segurança Pública (Senasp) no perío<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> Pan e hoje diretor geral da Polícia Federal,<br />
explica como funcionou o sistema. “Os Jogos<br />
deram visibilidade a um trabalho de articulação<br />
da segurança que vínhamos realizan<strong>do</strong>. Mostrou<br />
que nossas idéias são viáveis: integrar as<br />
instituições <strong>do</strong>s três níveis de administração<br />
e equilibrar prevenção e repressão, trazen<strong>do</strong><br />
conceitos novos como menos letalidade,<br />
polícia não fortemente armada dentro das<br />
instalações e policiamento intenso, com visi-<br />
243
ilidade, mas sem agressividade. “Não agredimos<br />
a rotina da cidade, ninguém se sentiu<br />
sob intervenção militar policial. Fizemos uma<br />
política de relacionamento. O aparato estava<br />
a postos, mas não agrediu nem constrangeu o<br />
cidadão”, explica ele, que foi também responsável<br />
pela área de segurança nos Jogos.<br />
O novo esquema foi batiza<strong>do</strong> por Corrêa de<br />
“amigável”. No palco <strong>do</strong>s Jogos, foram ensaia<strong>do</strong>s<br />
os primeiros movimentos <strong>do</strong> Programa<br />
Nacional de Segurança Pública com Cidadania<br />
(Pronasci), lança<strong>do</strong> formalmente em<br />
20 de agosto de 2007, dia seguinte ao das<br />
últimas disputas <strong>do</strong> Parapan. Hoje, o Pronasci<br />
investe na combinação de políticas de prevenção<br />
e de contenção da violência, através<br />
de ações sociais.<br />
Na avaliação de José Hilário de Medeiros, coordena<strong>do</strong>r<br />
geral de Ações de Segurança Integrada<br />
<strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos, o Brasil<br />
“quebrou um paradigma” ao realizar programas<br />
para comunidades carentes. “Fomos à<br />
África <strong>do</strong> Sul apresentar esse modelo. As lideranças<br />
comunitárias trabalharam com a Secretaria<br />
Nacional de Segurança Pública para<br />
trazer sensação de segurança para a cidade.<br />
Primeiro tentamos respeitar o cidadão carioca,<br />
para depois receber bem os estrangeiros”.<br />
O Comitê Olímpico Internacional (COI) exige<br />
das cidades-sede de grandes eventos que o<br />
modelo de segurança a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> inclua lega<strong>do</strong>s<br />
sociais e desenvolvimento da cooperação entre<br />
polícia e população. Segun<strong>do</strong> Corrêa, nenhum<br />
outro país havia executa<strong>do</strong> esse modelo:<br />
“O Brasil foi o único que preencheu toda a lista<br />
de exigências <strong>do</strong> COI”.<br />
A política de segurança cidadã não excluiu,<br />
claro, as técnicas e estratégias tradicionais<br />
de repressão. E, dentro delas, o setor de inteligência<br />
foi prioriza<strong>do</strong>. O governo federal,<br />
através <strong>do</strong> Ministério da Justiça, investiu<br />
R$ 563,137 milhões, destes, R$ 208 milhões<br />
apenas em tecnologia da informação e comunicação<br />
via rádio, que ficaram como lega<strong>do</strong><br />
para o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro. A Força Nacional<br />
de Segurança foi amplamente utilizada<br />
para aumentar o número de policiais nas ruas<br />
durante os Jogos. Posto em prática, o projeto<br />
da Senasp, executa<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os órgãos<br />
envolvi<strong>do</strong>s, deu certo. E o Brasil pode se orgulhar<br />
da proeza – conter a violência em perío<strong>do</strong>s<br />
de competições esportivas internacionais<br />
não é tarefa simples. Na França, o Rally Paris<br />
Dakar, por exemplo, foi cancela<strong>do</strong> em 2008,<br />
pela primeira vez na história, por motivos de<br />
segurança. Diante de algumas ameaças terroristas,<br />
não haveria como garantir a integridade<br />
<strong>do</strong>s atletas.<br />
No Pan <strong>do</strong> Rio de Janeiro, o resulta<strong>do</strong> ficou<br />
ainda melhor <strong>do</strong> que se esperava, e alguns<br />
fatos comprovam a tese. O mais relevante:<br />
os crimes na região metropolitana da cidade,<br />
<strong>do</strong>na de um <strong>do</strong>s maiores índices de violência<br />
das Américas, caíram drasticamente durante o<br />
perío<strong>do</strong> das competições. Segun<strong>do</strong> o Instituto<br />
de Segurança Pública (ISP), a capital teve queda<br />
em 11 <strong>do</strong>s 16 índices, na comparação com<br />
o mês anterior. O total de roubos caiu 14,3%, e<br />
o registro de maior queda se refere ao roubo<br />
em transporte coletivo: 50,1%.<br />
No Esta<strong>do</strong>, o índice de roubos de veículos caiu<br />
20,9%, e os de pedestres, 11,6%. “Em 33 anos<br />
de polícia nunca vi algo pareci<strong>do</strong>. Passamos<br />
um fim de semana inteiro sem um homicídio.<br />
Foi espetacular”, diz o coronel Samuel Dionizio,<br />
subcomandante da Polícia Militar <strong>do</strong> Rio<br />
de Janeiro. O planeja<strong>do</strong>r das ações de segurança,<br />
major Luciano Souza, da Força Nacional,<br />
resume: “Nosso sucesso se deve à priorização<br />
da tranqüilidade na cidade e não apenas<br />
dentro das instalações. Assim deixamos um<br />
lega<strong>do</strong> e justificamos o investimento público”.<br />
244
O trabalho <strong>do</strong> Ministério da Justiça<br />
A<br />
dimensão e a localização da Eco 92<br />
eram completamente distintas das<br />
apresentadas pelos Jogos Panamericanos.<br />
Na Eco, os três mil<br />
participantes e todas as atividades estavam<br />
concentra<strong>do</strong>s na Barra da Tijuca e no Aterro<br />
<strong>do</strong> Flamengo. No caso <strong>do</strong> Pan, as competições<br />
estariam espalhadas por várias regiões<br />
da cidade e o número de visitantes chegaria<br />
a quase oito mil, se soma<strong>do</strong>s apenas atletas e<br />
comissões técnicas.<br />
O ex-secretário da Senasp Luiz Fernan<strong>do</strong><br />
Corrêa lembra que, para fazer com que o Ministério<br />
da Justiça tomasse para si a responsabilidade<br />
pela segurança <strong>do</strong>s Jogos, foi necessário<br />
invocar a própria política <strong>do</strong> governo<br />
federal para a área. “Estávamos legitima<strong>do</strong>s<br />
pelo próprio governo a sair pelo Brasil pregan<strong>do</strong><br />
aquelas idéias”, lembra Corrêa. “Eu tinha<br />
um programa da Força Nacional e um exercício<br />
de mobilização, integração e cooperação<br />
federativa. Precisava então agregar recursos e<br />
intensificar as práticas rotineiras da Secretaria.<br />
Isso significou uma dedicação exclusiva por<br />
causa da demanda <strong>do</strong>s Jogos”, afirma Corrêa.<br />
A decisão de a<strong>do</strong>tar o novo caminho na área<br />
de segurança foi sacramentada em dezembro<br />
de 2005. Por isso, as compras de equipamentos<br />
e outros despachos só puderam ser<br />
realiza<strong>do</strong>s a partir de janeiro de 2006, um ano<br />
e meio antes da competição, o que, na avaliação<br />
de muitos <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s com a segurança<br />
<strong>do</strong>s Jogos, mostrou-se um prazo curto.<br />
A lentidão <strong>do</strong> segun<strong>do</strong>, terceiro e demais escalões<br />
<strong>do</strong>s órgãos de segurança para executar<br />
as ações causou atrasos em alguns procedimentos.<br />
Um deles foi o treinamento de policiais<br />
para a utilização de equipamentos de última<br />
geração adquiri<strong>do</strong>s. “O que realmente nos<br />
atrapalhou foi o processo de convencimento<br />
<strong>do</strong>s órgãos. Teríamos anda<strong>do</strong> mais rápi<strong>do</strong> se a<br />
liberação <strong>do</strong>s recursos tivesse mais velocidade”,<br />
avalia o secretário.<br />
Algumas políticas vinham sen<strong>do</strong> articuladas<br />
com antecedência, sobretu<strong>do</strong> em relação ao<br />
planejamento das ações. O programa <strong>do</strong>s<br />
guias cívicos, principal pilar <strong>do</strong> projeto de segurança<br />
cidadã, começou a ser idealiza<strong>do</strong> em<br />
2005, antes até da oficialização <strong>do</strong> convênio<br />
com o Programa das Nações Unidas para o<br />
Desenvolvimento (Pnud). A parceria foi fundamental<br />
para a realização deste e de mais sete<br />
programas da Secretaria. A Agência Brasileira<br />
de Inteligência (Abin), facilitada pelo fato<br />
de possuir atuação de natureza independente,<br />
também trabalhava na parte que lhe cabia<br />
desde 2003.<br />
Foto: Wilson Dias / Agência Brasil<br />
Treinamento com arma<br />
não letal para os Jogos:<br />
segurança sem abuso<br />
de atos violentos<br />
245
A Senasp articula os diversos órgãos de segurança<br />
A<br />
principal função da Secretaria Nacional<br />
de Segurança Pública (Senasp)<br />
no planejamento das operações<br />
de segurança <strong>do</strong>s Jogos foi a<br />
de articular as diferentes instituições, que até<br />
então pouco travavam contato entre si, <strong>do</strong>s<br />
três níveis de governo – estadual, municipal e<br />
federal. Para integrá-los, a Secretaria concebeu<br />
e formou uma espécie de conselho, um<br />
comitê de planejamento da segurança <strong>do</strong>s<br />
Jogos, forma<strong>do</strong> por representantes indica<strong>do</strong>s<br />
por cada órgão. Reuni<strong>do</strong> sob a orientação da<br />
Senasp, o comitê realizou o planejamento macro<br />
da segurança <strong>do</strong>s Jogos, em reuniões periódicas,<br />
desde o início de 2006.<br />
A Secretaria distribuiu incumbências e, a partir<br />
daí, os representantes planejaram suas próprias<br />
ações, com liberdade e autonomia, para<br />
cumprir as missões estabelecidas. O coronel<br />
Samuel Dionizio, da Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de<br />
Janeiro, que esteve à frente das operações <strong>do</strong><br />
esta<strong>do</strong> durante o Pan, elogia a pouca interferência<br />
da Secretaria nas funções de cada órgão:<br />
“Era um trabalho conjunto. Usamos a meto<strong>do</strong>logia<br />
de deixar cada equipe desenvolver<br />
seu trabalho. E isso só pôde ser feito porque<br />
a Senasp ditou quem faria e o quê. E em momento<br />
algum ela influenciou na nossa atuação.<br />
Confiou no trabalho que estava sen<strong>do</strong> feito.<br />
Credito a esta atuação da Secretaria Nacional<br />
de Segurança Pública o sucesso da segurança<br />
<strong>do</strong> Pan. Infelizmente, alguém precisa gerir as<br />
vaidades. E um <strong>do</strong>s papéis fundamentais da<br />
Secretaria foi este”.<br />
A tarefa de estimular o diálogo entre as diferentes<br />
forças de segurança é complexa e<br />
requer habilidade, já que se trata de tentar<br />
quebrar barreiras culturais arraigadas, como<br />
a pouca relação, e em alguns casos até desavenças,<br />
que estes poderes mantêm entre<br />
si. Além disso, há também outro componente<br />
histórico: o temor que estas instituições sentem<br />
de serem invadidas em suas atribuições. A<br />
estratégia <strong>do</strong> governo de desembarcar no Rio<br />
a Força Nacional de Segurança poderia gerar<br />
preocupações desta natureza e ainda arranhar<br />
vaidades. Não é exagero dizer, portanto, que<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
a Secretaria cumpriu com maestria a função<br />
à qual se propôs para os Jogos, já que as rivalidades<br />
foram eliminadas e o planejamento,<br />
realiza<strong>do</strong> com sucesso. Para Rival<strong>do</strong> Barbosa,<br />
chefe de Inteligência da Polícia Civil <strong>do</strong> Rio e<br />
representante da corporação no conselho de<br />
planejamento, o grande lega<strong>do</strong> deixa<strong>do</strong> pelos<br />
Jogos foi a aproximação entre policiais militares<br />
e civis no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro: “A<br />
ligação que fiz com a Polícia Militar não tem<br />
preço. Agora, para sentar e conversar ficou<br />
muito mais fácil. Hoje a gente sabe que supera<br />
qualquer divergência e entra em acor<strong>do</strong>.”<br />
246
Agentes de vários<br />
esta<strong>do</strong>s trabalharam<br />
juntos nos centros<br />
A tese que norteou o organograma <strong>do</strong> Centro<br />
de Operações de Segurança <strong>do</strong>s Jogos era a<br />
de um sistema de coordenação no qual cada<br />
órgão assumia o coman<strong>do</strong> da operação que<br />
lhe cabia, ten<strong>do</strong> os outros como apoio, sempre<br />
sob a chefia da Senasp. Na prática, em caso<br />
de uma catástrofe ambiental, por exemplo, a<br />
Secretaria de Defesa Civil assumiria a operação,<br />
poden<strong>do</strong> ditar ações à Polícia Militar.<br />
Em outro exemplo, o mesmo se daria no caso<br />
de um seqüestro com reféns envolven<strong>do</strong> atletas,<br />
no qual a chefia ficaria a cargo da Polícia<br />
Federal, auxiliada pelas outras forças. A base<br />
teórica deste méto<strong>do</strong> inova<strong>do</strong>r está descrita no<br />
Sistema Único de Segurança Pública, o principal<br />
plano <strong>do</strong> governo federal para o setor, que,<br />
como o próprio nome diz, prega a ação coordenada<br />
das instituições de segurança. “Eu<br />
tenho por norma um entendimento: o serviço<br />
público é uno. Dividimos em União, Esta<strong>do</strong> e<br />
município por uma questão de organização.<br />
Então a idéia foi mostrar que o serviço único<br />
de segurança estava posto para os Jogos Pan<br />
e Parapan. Essa foi a mudança de conceito”,<br />
conclui Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa.<br />
247
A Força em ação:<br />
segurança interna<br />
das instalações<br />
Foto: Al<strong>do</strong> Dias / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
248
Principais missões <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s<br />
SECRETARIA DE ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA<br />
Coordenar as várias atividades relacionadas à segurança física e ao patrimônio das instalações<br />
e locais de eventos e proteger autoridades, atletas e público através das ações <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s<br />
no programa de segurança <strong>do</strong>s Jogos;<br />
Controlar e dar soluções para as ações preventivas, emergenciais, reativas e repressivas;<br />
Atuar como interlocutor entre os participantes de toda a operação;<br />
Apoiar, com recursos operacionais, a programação produzida pelo CO-Rio<br />
e suas eventuais modificações;<br />
Promover e assegurar a participação cidadã e transparente das instituições de segurança <strong>do</strong><br />
esquema elabora<strong>do</strong> para os Jogos;<br />
Assegurar a redução da violência, interferin<strong>do</strong> o mínimo possível no cotidiano da cidade.<br />
POLÍCIA FEDERAL<br />
Realizar ações de prevenção e informação de antiterrorismo<br />
e ações táticas de contra-terrorismo;<br />
Gerenciar crises em ocorrências com reféns envolven<strong>do</strong> autoridades, dirigentes e atletas em<br />
edificações, aeronaves, embarcações, trens, metrô e veículos;<br />
Coordenar ocorrências e/ou atenta<strong>do</strong>s com explosivos e/ou incendiários;<br />
Coordenar a segurança de autoridades, dirigentes e atletas;<br />
Coordenar ações de polícia marítima e de fronteiras;<br />
Estabelecer delegacias fi xas e móveis nas áreas de interesse;<br />
FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA<br />
Apoiar os órgãos de segurança na prevenção e/ou restabelecimento da ordem,<br />
em caso de atenta<strong>do</strong>s, catástrofes ou ocorrências em geral que extrapolem a capacidade<br />
operativa destas instituições;<br />
Garantir a segurança da comitiva da Tocha Pan-americana durante seu deslocamento<br />
pelas 26 capitais, Distrito Federal e demais cidades <strong>do</strong> país, sempre interagin<strong>do</strong><br />
com os outros órgãos de segurança envolvi<strong>do</strong>s;<br />
Garantir a segurança no interior da Vila Pan-americana;<br />
Garantir a segurança interna das instalações <strong>do</strong>s locais de competição, não-competição,<br />
hospedagem e eventos, dentro <strong>do</strong>s limites legais;<br />
Controlar o acesso de veículos e pessoas aos locais de competição e afins: os especta<strong>do</strong>res<br />
devem passar por rigorosa revista, com uso de magnetômetros, detectores de metal portáteis,<br />
raios-X de esteira, detectores de radiação, de explosivos e substâncias tóxicas e/ou revistas de<br />
itens carrega<strong>do</strong>s nas mãos;<br />
Garantir a segurança <strong>do</strong> público interno nos locais de interesse;<br />
Inspecionar to<strong>do</strong>s os alimentos, materiais ou equipamentos que entraram nas áreas<br />
consideradas críticas, como a Vila, os centros de operações de transmissão de rádio e TV, o<br />
Centro de Imprensa e os hotéis oficiais;<br />
Atuar em outras situações não descritas, de acor<strong>do</strong> com sua capacidade e atribuição legal,<br />
mediante a determinação da Senasp e/ou <strong>do</strong> Centro de Operações de Segurança <strong>do</strong>s Jogos.<br />
Fonte: Relatório das Atividades de Segurança no Pan, Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />
249
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />
Controlar as divisas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> município da capital fluminense,<br />
exceto no caso das ro<strong>do</strong>vias federais;<br />
Gerir ocorrências com reféns, em conjunto com a Polícia Civil, desde que não envolvam<br />
dignitários, dirigentes e atletas sob a proteção da Polícia Federal;<br />
Fazer o policiamento ostensivo e preservar a ordem pública nas áreas externas aos locais de<br />
competição, não competição, hospedagem, eventos e treinamentos;<br />
Fazer o policiamento ostensivo e preservar a ordem pública nos corre<strong>do</strong>res viários de acesso<br />
aos complexos esportivos, áreas de eventos oficiais, treinamento e hospedagem;<br />
Fazer o policiamento ostensivo e preservar a ordem pública na orla e em pontos turísticos;<br />
Agir, se necessário, para ocupar e conter áreas especiais, como comunidades carentes e imediações,<br />
onde haja qualquer atuação <strong>do</strong> narcotráfico capaz de intervir na segurança <strong>do</strong>s Jogos;<br />
Fazer o policiamento ostensivo e preservar a ordem pública nas áreas externas aos pontos<br />
sensíveis e críticos, em especial no tocante aos sistemas de telecomunicações e de<br />
fornecimento de energia, iluminação, gás e abastecimento de água;<br />
Fazer o policiamento ostensivo e preservar a ordem pública na rede ferroviária,<br />
em terminais ro<strong>do</strong>viários e no entorno <strong>do</strong>s aeroportuários;<br />
Promover ações preventivas e repressivas, em articulação com a Secretaria de Esta<strong>do</strong><br />
de Administração Penitenciária, com vistas aos estabelecimentos prisionais e delegacias<br />
concentra<strong>do</strong>ras de presos, em conjunto com a Polícia Civil;<br />
Empregar efetivos operacionais aerotransporta<strong>do</strong>s;<br />
A<strong>do</strong>tar procedimentos para atender situações de emprego de forças de reação,<br />
em planejamento conjunto com a Força Nacional de Segurança Pública.<br />
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />
Gerir ocorrências com reféns, em conjunto com a Polícia Militar, desde que não envolvam<br />
dignitários, dirigentes e atletas sob a proteção da Polícia Federal;<br />
Fazer o policiamento ostensivo e preservar a ordem pública na orla e pontos turísticos;<br />
Reprimir a venda de ingressos (cambistas) nos locais de competição;<br />
Estabelecer delegacias móveis nas áreas de interesse;<br />
Realizar o monitoramento criminal específico volta<strong>do</strong> às regiões <strong>do</strong>s Jogos;<br />
Realizar perícia técnico-científica com rapidez e eficácia;<br />
Promover ações preventivas e repressivas, em articulação com a Secretaria de Esta<strong>do</strong><br />
de Administração Penitenciária, com vistas aos estabelecimentos prisionais e delegacias<br />
concentra<strong>do</strong>ras de presos, em conjunto com a Polícia Militar;<br />
Empregar efetivos operacionais aerotransporta<strong>do</strong>s;<br />
A<strong>do</strong>tar procedimentos para atender situações de emprego de forças de reação,<br />
em planejamento conjunto com a Força Nacional de Segurança Pública;<br />
Remover cadáveres em decurso de tempo a não prejudicar<br />
as operações de segurança <strong>do</strong>s Jogos.<br />
Fonte: Relatório das Atividades de Segurança no Pan, Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />
250
POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL<br />
Controlar as divisas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> município da capital fluminense<br />
nas ro<strong>do</strong>vias federais;<br />
Realizar ações de segurança e controle nas mesmas ro<strong>do</strong>vias;<br />
Escoltar delegações e dignitários para os locais de hospedagem, embarque,<br />
treinamento, competição, não competição e pontos turísticos;<br />
Disponibilizar bate<strong>do</strong>res para casos de deslocamentos de emergências<br />
das instituições envolvidas no esquema de segurança <strong>do</strong>s Jogos.<br />
Fonte: Relatório das Atividades de Segurança no Pan, Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />
As escoltas das delegações<br />
foram feitas pela Polícia<br />
Ro<strong>do</strong>viária Federal<br />
Foto: Arquivo / Senasp<br />
251
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA CIVIL<br />
Gerir o Centro Estadual de Administração de Desastres, engloban<strong>do</strong><br />
os planos de contingência relaciona<strong>do</strong>s com os locais <strong>do</strong>s Jogos;<br />
A<strong>do</strong>tar medidas de prevenção, preparação e resposta relacionadas aos complexos esportivos;<br />
Promover ações de prevenção e combate a incêndios urbanos e florestais que venham a<br />
comprometer a segurança <strong>do</strong>s Jogos, incluin<strong>do</strong> o suprimento de água para tal;<br />
Realizar perícias em operações próprias <strong>do</strong> Corpo de Bombeiros Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> Rio de Janeiro (CBMERJ), bem como em ações integradas com outros órgãos;<br />
Coordenar operações com produtos perigosos, inclusive a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong><br />
providências cabíveis à interface com outros órgãos no caso de ações<br />
envolven<strong>do</strong> agentes químicos, biológicos, radiológicos e nucleares;<br />
Atuar em conexão com o departamento de saúde <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para garantir<br />
que as estratégias de reação de emergência <strong>do</strong>s Jogos sejam coordenadas<br />
com hospitais e outros órgãos de atendimento médico;<br />
Remover cadáveres em decurso de tempo a não prejudicar<br />
as operações de segurança <strong>do</strong>s Jogos;<br />
Agir em integração com a Defesa Civil <strong>do</strong> Município no cumprimento de suas atribuições.<br />
CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />
A<strong>do</strong>tar medidas de prevenção, preparação e resposta relacionadas aos complexos esportivos;<br />
Fazer operações de busca, salvamento e resgate, incluin<strong>do</strong> matas e florestas,<br />
com eventual emprego de cães fareja<strong>do</strong>res;<br />
Realizar operações aéreas de buscas resgates, salvamentos<br />
e combate a incêndios com asa fixa e rotativa;<br />
Agir preventivamente no combate a incêndios urbanos e florestais que viessem<br />
a comprometer a segurança <strong>do</strong>s Jogos, incluin<strong>do</strong> o suprimento de água para tal;<br />
Coordenar operações com produtos perigosos, inclusive a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> providências<br />
cabíveis à interface com outros órgãos no caso de ações envolven<strong>do</strong> agentes químicos,<br />
biológicos, radiológicos e nucleares;<br />
Realizar socorro de emergências médicas dentro de suas atribuições legais;<br />
Atuar em conexão com o departamento de saúde <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para garantir que as<br />
estratégias de reação de emergência <strong>do</strong>s Jogos fossem coordenadas com hospitais<br />
e outros órgãos de atendimento médico;<br />
Prevenir e resgatar afoga<strong>do</strong>s nas praias.<br />
Fonte: Relatório das Atividades de Segurança no Pan, Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />
252
DEFESA CIVIL DO MUNICÍPIO<br />
Monitorar as áreas de interesse com emprego de equipes operacionais<br />
e com a utilização <strong>do</strong> Centro de Controle Operacional, sob a coordenação<br />
<strong>do</strong> Centro de Operações de Segurança <strong>do</strong>s Jogos;<br />
Intensificar as vistorias técnicas em locais de interesse que pudessem oferecer riscos,<br />
interditan<strong>do</strong> as áreas, se fosse o caso;<br />
Verificar permanentemente com a rede municipal de saúde a quantidade<br />
de leitos disponíveis para o atendimento de vítimas;<br />
Estabelecer intenso contato com os órgãos de meteorologia para saber<br />
da possibilidade de um evento e sua amplitude, possibilitan<strong>do</strong> a tomada de medidas<br />
pertinentes a fim de se anular ou minimizar seus efeitos;<br />
Realizar o reconhecimento <strong>do</strong> local de desastre verifi can<strong>do</strong> a possibilidade de ocorrências de<br />
novos fatos adversos, acionan<strong>do</strong>, através <strong>do</strong> Centro de Operações de Segurança <strong>do</strong>s Jogos,<br />
a Secretaria de Esta<strong>do</strong> de Defesa Civil (CBMERJ), em caso de vítimas, e a Polícia Militar, com<br />
vista à alocação de policiamento ostensivo no local;<br />
Acionar órgãos municipais e de apoio para a a<strong>do</strong>ção de medidas como a instalação<br />
de abrigos provisórios, se fosse o caso;<br />
Articular com a Secretaria de Esta<strong>do</strong> de Defesa Civil, através<br />
<strong>do</strong> Centro de Operações de Segurança <strong>do</strong>s Jogos, caso os problemas apresenta<strong>do</strong>s<br />
não fossem sana<strong>do</strong>s com os meios disponíveis.<br />
SECRETARIA MUNICIPAL DE TRANSPORTES (E CET-RIO)<br />
Planejar as operações de trânsito em nível municipal em torno das instalações<br />
e corre<strong>do</strong>res viários, incluin<strong>do</strong> bloqueios necessários;<br />
Reprimir o transporte público irregular, em especial nos corre<strong>do</strong>res viários<br />
e imediações <strong>do</strong>s perímetros de segurança;<br />
Designar e fiscalizar as áreas de estacionamento regulamentadas<br />
e de guarda<strong>do</strong>res credencia<strong>do</strong>s.<br />
GUARDA MUNICIPAL<br />
Praticar ações gerais de controle urbano nas imediações das instalações,<br />
orla e pontos turísticos;<br />
Praticar ações gerais de controle e fiscalização de trânsito;<br />
Apoiar a repressão ao comércio ambulante nas imediações <strong>do</strong>s perímetros<br />
de segurança para evitar aglomerações de pessoas;<br />
Apoiar a Secretaria Municipal de Transportes no cumprimento de suas atribuições nos Jogos.<br />
Fonte: Relatório das Atividades de Segurança no Pan, Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />
253
Foto: Marcos Tristão / Agência O Globo<br />
Ações específicas<br />
Operações Especiais de antiterrorismo e<br />
contraterrorismo e ação antibomba<br />
A Senasp estu<strong>do</strong>u as questões políticas <strong>do</strong>s 41<br />
países estrangeiros participantes <strong>do</strong>s XV Jogos<br />
Pan-americanos, com a cooperação <strong>do</strong>s<br />
seus respectivos órgãos e agências internacionais<br />
de inteligência. A partir das informações<br />
colhidas, traçou-se uma análise de risco de<br />
atenta<strong>do</strong>s terroristas em solo brasileiro. Segun<strong>do</strong><br />
José Hilário, coordena<strong>do</strong>r de Ações de Segurança<br />
Integrada <strong>do</strong>s Jogos, “o país está prepara<strong>do</strong><br />
para qualquer situação desta natureza”.<br />
No caso de um eventual ataque terrorista durante<br />
a competição, seriam empregadas no combate<br />
as unidades especiais <strong>do</strong> Departamento<br />
de Polícia Federal (Coman<strong>do</strong> de Operações Táticas<br />
– COT), da Força Nacional de Segurança<br />
Pública (Força de Resposta Rápida – FRR), da<br />
Polícia Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro (Batalhão<br />
de Operações Especiais – Bope) e da<br />
Polícia Civil <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro (Coordena<strong>do</strong>ria<br />
de Recursos Especiais – Core). Para<br />
prevenir o terrorismo e os atenta<strong>do</strong>s à bomba,<br />
a Senasp realizou as seguintes tarefas: aquisição<br />
de equipamentos, atualização e uniformização<br />
de <strong>do</strong>utrina, criação de um novo modelo<br />
de procedimentos antibomba para grandes<br />
eventos, capacitação e atualização de pessoal<br />
e multiplica<strong>do</strong>res, modernização tecnológica<br />
uniformizada, cooperação, integração e coordenação<br />
de órgãos de segurança. To<strong>do</strong>s os<br />
locais <strong>do</strong>s Jogos foram vistoria<strong>do</strong>s.<br />
Durante as competições, as varreduras em instalações<br />
e veículos de transporte <strong>do</strong>s atletas<br />
ficou a cargo da Comissão Nacional de Energia<br />
Nuclear (CNEN), Polícia Federal e da equipe<br />
de cães fareja<strong>do</strong>res, sempre com o suporte<br />
da Força Nacional de Segurança Pública.<br />
Patrulhamento aéreo<br />
A Força Nacional de Segurança Pública coordenou<br />
as ações de segurança aérea. Os cor-<br />
254
e<strong>do</strong>res da Região Metropolitana <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />
não foram modifica<strong>do</strong>s, porém to<strong>do</strong>s os<br />
aviões e helicópteros que sobrevoaram a cidade<br />
durante o evento foram identifica<strong>do</strong>s pelas<br />
características da aeronave, situação legal, tripulação<br />
e passageiros. Sobre os equipamentos<br />
esportivos foram criadas áreas de exclusão e<br />
de sobrevôo restrito, nas quais só eram permitidas<br />
aeronaves autorizadas.<br />
Os Jogos possibilitaram que, pela primeira vez,<br />
fossem postas em prática as definições estabelecidas<br />
pelo Conselho Aeropolicial – que reúne,<br />
desde 2005, profissionais <strong>do</strong>s departamentos<br />
de aviação estaduais, responsáveis por elaborar<br />
uma política de gestão unificada na área de<br />
policiamento aéreo e a<strong>do</strong>tar padrões comuns<br />
a to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s. As sete novas aeronaves<br />
adquiridas para a segurança aérea da competição<br />
foram escolhidas pelo Conselho, numa<br />
demonstração prática da integração desenhada<br />
pelo Sistema Único de Segurança Pública<br />
(Susp) e promovida pela Senasp. Outros seis<br />
helicópteros foram incorpora<strong>do</strong>s ao efetivo <strong>do</strong><br />
patrulhamento aéreo nos Jogos, pertencentes<br />
à Polícia Federal, Polícia Ro<strong>do</strong>viária Federal e<br />
instituições de segurança pública <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />
Ao to<strong>do</strong>, 13 aeronaves patrulharam o espaço<br />
aéreo <strong>do</strong> Rio de Janeiro durante o Pan.<br />
As atribuições da Secretaria nas operações<br />
de aviação incluíam o policiamento ostensivo<br />
e investigativo; ações de inteligência; apoio<br />
a cumprimento de manda<strong>do</strong> judicial; controle<br />
de tumultos, distúrbios e motins; escoltas<br />
e transporte de dignitários, presos, valores e<br />
cargas; transporte de enfermos e órgãos humanos<br />
e resgate; busca, salvamento terrestre<br />
e aquático; controle de tráfego ro<strong>do</strong>viário,<br />
ferroviário e urbano; prevenção e combate a<br />
incêndios; patrulhamentos urbano, rural, ambiental,<br />
litorâneo e de fronteiras; e outras operações<br />
autorizadas pela Agência Nacional de<br />
Aviação Civil (Anac).<br />
Cães fareja<strong>do</strong>res<br />
Através <strong>do</strong> Programa Nacional de Cães Fareja<strong>do</strong>res,<br />
a Secretaria promoveu cursos de<br />
especialização para mais de 150 agentes de<br />
segurança pública de 22 esta<strong>do</strong>s brasileiros.<br />
Em junho de 2007, sete agentes estiveram no<br />
Canadá para aprender a atuar com o animal.<br />
Para os XV Jogos, o Rio de Janeiro recebeu<br />
120 cães, 12 deles <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s pelo Canadá e Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s e outros oriun<strong>do</strong>s das Polícias Civil,<br />
Militar e Ro<strong>do</strong>viária Federal, além <strong>do</strong> Corpo de<br />
Bombeiros. O trabalho <strong>do</strong>s fareja<strong>do</strong>res incluiu<br />
varreduras para identificar explosivos e drogas<br />
em diversas instalações esportivas e não esportivas,<br />
além de busca e resgate de pessoas.<br />
O apoio às instituições segun<strong>do</strong> demanda<br />
específica de cada órgão por cães de faro e o<br />
planejamento e a execução destas atividades<br />
ficaram a cargo da Senasp.<br />
Proteção radiológica e nuclear<br />
O trabalho de prevenção, identificação e resposta<br />
a eventuais incidentes com materiais ra-<br />
Foto: Isaac Amorim / Ministério da Justiça<br />
As varreduras em<br />
busca de explosivos<br />
e drogas foram feitas<br />
com 120 animais<br />
255
dioativos e nucleares contou com 240 profissionais<br />
da Comissão Nacional de Energia Nuclear<br />
(CNEN), que atuaram no controle de acesso<br />
de pessoas, veículos e cargas às instalações<br />
esportivas. Foram disponibiliza<strong>do</strong>s 230 equipamentos<br />
portáteis, que medem a intensidade e<br />
o grau de risco, mapeiam áreas e a <strong>do</strong>sagem<br />
de emissão de radiação e identificam fontes de<br />
emissão em grandes áreas. Cerca de 600 homens<br />
da Força Nacional e da Polícia Civil <strong>do</strong><br />
Rio de Janeiro e 140 peritos da Polícia Federal<br />
foram treina<strong>do</strong>s para detectar resíduos radioativos<br />
e responder a situações emergenciais. A<br />
capacitação foi semelhante à realizada para as<br />
Olimpíadas de 2004, na Grécia, e para a Copa<br />
<strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de 2006, na Alemanha. A inclusão <strong>do</strong><br />
sistema na segurança <strong>do</strong>s Jogos foi resulta<strong>do</strong><br />
de um acor<strong>do</strong> de cooperação entre a CNEN, <strong>do</strong><br />
Ministério da Ciência e Tecnologia, e a Agência<br />
Internacional de Energia Atômica (AIEA).<br />
Proteção para os esportes aquáticos<br />
A Comissão Nacional de Segurança Pública<br />
<strong>do</strong>s Portos, Terminais e Vias Navegáveis (Conportos)<br />
foi incorporada ao Centro de Coman<strong>do</strong><br />
e Controle, para fazer a segurança das áreas<br />
marítimas e no porto <strong>do</strong> Rio de Janeiro durante<br />
os Jogos. A Conportos articulou as diversas<br />
forças de segurança responsáveis pelos Jogos<br />
dentro <strong>do</strong> porto carioca e atuou no reforço à<br />
proteção <strong>do</strong>s locais de competição de modalidades<br />
aquáticas.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Aulas de combate ao<br />
terrorismo fizeram<br />
parte da preparação<br />
256
Coordena<strong>do</strong> pela Abin,<br />
o CIJ reuniu 27 órgãos<br />
e 250 policiais<br />
Foto: Arquivo / Senasp<br />
Os centros de inteligência e de segurança<br />
T<br />
oda a estrutura de operações de segurança<br />
<strong>do</strong>s Jogos, coordenada pelo<br />
Ministério da Justiça, através da Secretaria<br />
Nacional de Segurança Pública,<br />
foi composta de quatro grandes centros<br />
de gerenciamento e oito centros regionais, que<br />
reuniam os órgãos de segurança, inteligência e<br />
defesa civil das três esferas de governo.<br />
A hierarquia de coman<strong>do</strong> e controle comportou<br />
três níveis: principal, regional e local. Cerca<br />
de 600 policiais foram treina<strong>do</strong>s para a operação<br />
<strong>do</strong> Centro de Coman<strong>do</strong> e Controle e <strong>do</strong>s<br />
centros regionais e locais de segurança.<br />
INSTITUIÇÕES INTEGRANTES DO COS<br />
Centro de Operações de Segurança <strong>do</strong>s<br />
Jogos (COS)<br />
O coração da segurança no Pan-americano fi -<br />
cou no COS, que iniciou os trabalhos em fins<br />
de junho de 2007. Responsável pela gestão<br />
integrada de to<strong>do</strong> o sistema disponível para<br />
o setor, ele atuou em conjunto com o Centro<br />
de Inteligência <strong>do</strong>s Jogos (CIJ) e o Centro de<br />
Logística de Segurança <strong>do</strong>s Jogos (CLSJ),<br />
manten<strong>do</strong> ainda estreita relação com o Centro<br />
de Coman<strong>do</strong> de Operações da Secretaria Estadual<br />
de Segurança Pública e demais órgãos<br />
e instituições de segurança e inteligência e a<br />
Força Nacional. Comanda<strong>do</strong> pelo atual chefe<br />
Secretaria Nacional de Segurança Pública, Agência Brasileira de Inteligência,<br />
Polícia Federal, Polícia Ro<strong>do</strong>viária Federal, Polícia Militar, Polícia Civil,<br />
Força Nacional de Segurança Pública, Guarda Municipal,<br />
Corpo de Bombeiros, Defesa Civil <strong>do</strong> Rio de Janeiro, Secretaria Municipal<br />
de Transportes/CET-Rio, Comissões Especiais: Antibomba,<br />
Conportos, Aeropolicial e Cães Fareja<strong>do</strong>res.<br />
257
da Força Nacional, coronel Luiz Antônio Ferreira,<br />
o COS também cui<strong>do</strong>u <strong>do</strong>s oito centros<br />
regionais.<br />
Centro de Inteligência <strong>do</strong>s Jogos (CIJ)<br />
Unidade central <strong>do</strong> sistema de inteligência, sob<br />
o coman<strong>do</strong> da Agência Brasileira de Inteligência<br />
(Abin), reuniu 27 órgãos e abrigou cerca de<br />
250 servi<strong>do</strong>res, em regime de turnos, durante<br />
24 horas por dia – além de outros 300 agentes<br />
em campo. O assessor de planejamento<br />
da Abin, Luiz Alberto Salaberry, elogia a “altíssima<br />
excelência, o grande nível tecnológico<br />
e a interligação com parceiros de to<strong>do</strong> o País<br />
proporciona<strong>do</strong>s pelo CIJ”.<br />
O Centro, localiza<strong>do</strong> no bairro <strong>do</strong> Santo Cristo,<br />
região central da cidade, estava interliga<strong>do</strong><br />
com o Centro de Inteligência e Serviços Estrangeiros,<br />
no Recreio <strong>do</strong>s Bandeirantes, na<br />
zona oeste, que por sua vez mantinha comunicações<br />
com 80 serviços estrangeiros parceiros<br />
da Abin. O CIJ ficou como lega<strong>do</strong> para<br />
o Rio de Janeiro, mas seu braço estrangeiro,<br />
monta<strong>do</strong> especialmente para os Jogos, foi desativa<strong>do</strong>.<br />
Entre suas atribuições estava a de<br />
fazer o levantamento de ameaças aos Jogos,<br />
coletar, registrar, analisar e sintetizar informações.<br />
Para Rival<strong>do</strong> de Araújo, chefe de Inteligência<br />
da Polícia Civil <strong>do</strong> Rio de Janeiro, “o CIJ<br />
funcionou muito bem. As informações chegavam<br />
e eram processadas ao mesmo tempo por<br />
vários órgãos de inteligência. O ideal era que<br />
tivéssemos isso para sempre, que sentassem,<br />
diariamente, representantes da Polícia Militar,<br />
Polícia Federal, Abin, Polícia Civil para cuidar<br />
das atividades <strong>do</strong> dia a dia”.<br />
Centro de Inteligência e Serviços Estrangeiros<br />
(Cises)<br />
Instala<strong>do</strong> no Recreio <strong>do</strong>s Bandeirantes e controla<strong>do</strong><br />
pela Abin, tinha como “objetivo principal<br />
atender às necessidades <strong>do</strong> CIJ no tocante<br />
a informações e acompanhamento <strong>do</strong>s indivíduos<br />
e organizações estrangeiros, com atuação<br />
em seus respectivos territórios, nas áreas<br />
de terrorismo, crime organiza<strong>do</strong> e movimentos<br />
reivindicatórios e de pressão, que representas-<br />
INSTITUIÇÕES INTEGRANTES DO CIJ<br />
Secretaria Nacional de Segurança Pública,<br />
Agência Brasileira de Inteligência, Polícia Federal,<br />
Polícia Ro<strong>do</strong>viária Federal, Marinha, Exército, Aeronáutica,<br />
Secretaria <strong>do</strong> Comitê de Gestão Federal Rio 2007 (Sepan/ME),<br />
Infraero, Ministério das Relações Exteriores, Banco Central,<br />
Ministério das Comunicações, Delegacia Regional <strong>do</strong> Trabalho (RJ),<br />
Superintendência da Receita Federal (RJ),<br />
Conselho de Controle de Atividades Financeiras,<br />
Furnas Centrais Elétricas, Agência Nacional de Vigilância Sanitária,<br />
Secretaria de Segurança Pública (RJ),<br />
Secretaria de Esta<strong>do</strong> de Administração Penitenciária (RJ),<br />
Ministério Público, Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal,<br />
Companhia de Engenharia de Tráfego (RJ),<br />
Coordena<strong>do</strong>ria Municipal de Defesa Civil (RJ),<br />
Polícia Militar, Polícia Civil e Opera<strong>do</strong>r Nacional <strong>do</strong> Sistema Elétrico.<br />
258
sem ameaças reais ou potenciais à segurança<br />
<strong>do</strong>s Jogos”, segun<strong>do</strong> relatório produzi<strong>do</strong> pela<br />
própria Agência.<br />
Centro Logístico de Segurança <strong>do</strong>s Jogos<br />
(CLSJ)<br />
Locais de obtenção, transporte, suprimento e<br />
armazenamento <strong>do</strong>s equipamentos e materiais<br />
envolvi<strong>do</strong>s com a segurança <strong>do</strong>s Jogos, os 36<br />
centros instala<strong>do</strong>s em parceria com as forças<br />
públicas da Secretaria de Segurança Pública<br />
<strong>do</strong> Rio de Janeiro atuaram em estreita ligação<br />
com o COSJ e o CIJ. Entre suas atribuições estavam<br />
o treinamento <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s equipamentos<br />
e materiais e sua conservação e manutenção.<br />
Centros Regionais de Segurança <strong>do</strong>s Jogos<br />
(CRSJ)<br />
Oito centros regionais, subordina<strong>do</strong>s ao<br />
COSJ, cuidaram da segurança ao re<strong>do</strong>r das<br />
instalações esportivas: na Barra da Tijuca, os<br />
centros Autódromo, Ayrton Senna e Vila Panamericana;<br />
os demais estiveram sedia<strong>do</strong>s em<br />
Copacabana, Campo Grande, Aterro <strong>do</strong> Flamengo,<br />
Maracanã e Vilas Especiais (Aeroporto<br />
Tom Jobim, Linha Amarela e Linha Vermelha).<br />
Além de coordenar os Centros Locais de Segurança<br />
das instalações <strong>do</strong>s Jogos, os Centros<br />
Regionais faziam, por exemplo, o monitoramento<br />
das câmeras externas; a avaliação<br />
das condições de tráfego viário nos corre<strong>do</strong>res<br />
primários e rotas alternativas; a primeira<br />
resposta inerente às ações policiais, de defesa<br />
civil, controle urbano e de trânsito no entorno<br />
das instalações de interesse e nos corre<strong>do</strong>res<br />
primários e secundários.<br />
Centros Locais de Segurança <strong>do</strong>s Jogos<br />
(CLocSJ)<br />
Estes eram os órgãos operacionais de segurança<br />
<strong>do</strong>s locais de competição e não-competição<br />
<strong>do</strong>s Jogos, subordina<strong>do</strong>s aos Centros<br />
Regionais de Segurança das suas regiões e<br />
responsáveis por gerir o sistema de segurança,<br />
coordenar as atividades <strong>do</strong>s órgãos públicos<br />
e empresas privadas de segurança dentro<br />
destas instalações e cuidar, entre outras coisas,<br />
da estrutura de acesso de pessoas, veículos<br />
e cargas.<br />
Módulos Operacionais de Coman<strong>do</strong> (MOC)<br />
Cria<strong>do</strong>s pela Polícia Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<br />
de Janeiro, os 14 módulos abrigaram efetivo<br />
de policiais extraordinário e exclusivo para os<br />
Jogos. Dez deles foram instala<strong>do</strong>s dentro <strong>do</strong>s<br />
Batalhões de Botafogo, Méier, Bangu, Ilha <strong>do</strong><br />
Governa<strong>do</strong>r, Jacarepaguá, Copacabana, Maré,<br />
Leblon e Tijuca, que recebeu <strong>do</strong>is módulos, já<br />
que a região concentrava a maior parte das atividades<br />
<strong>do</strong>s Jogos.<br />
O Regimento de Cavalaria Enyr Cony <strong>do</strong>s Santos,<br />
o Batalhão de Polícia Ro<strong>do</strong>viária e o Batalhão<br />
de Policiamento em Vias Especiais abrigaram<br />
outros três módulos. Cada um contava<br />
com um comandante, uma estrutura de apoio<br />
e supervisores.<br />
Centro de Coman<strong>do</strong> e Controle<br />
O novo sistema de monitoramento implanta<strong>do</strong><br />
pela Senasp no Rio de Janeiro foi to<strong>do</strong> basea<strong>do</strong><br />
em experiências de outros países que<br />
já realizaram grandes eventos, como Austrália<br />
e Alemanha.<br />
No prédio da Central <strong>do</strong> Brasil, onde funciona<br />
a Secretaria Estadual de Segurança Pública,<br />
mais de 100 computa<strong>do</strong>res foram usa<strong>do</strong>s no<br />
controle de imagens, da<strong>do</strong>s e voz; programas<br />
de informática permitiram o rastreamento de<br />
veículos, localização de ocorrências policiais,<br />
processamento de da<strong>do</strong>s sobre pessoas,<br />
processos criminais e transmissão de da<strong>do</strong>s;<br />
e 1.800 locais de jogos, vias e pontos críticos<br />
foram monitora<strong>do</strong>s durante os Jogos Panamericanos.<br />
O Centro, que ficou como lega<strong>do</strong> para o Esta<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> Rio de Janeiro, possui o sistema de<br />
interceptação telefônica mais avança<strong>do</strong> da<br />
América Latina.<br />
259
Anuncia<strong>do</strong> em solenidade conjunta pela Senasp e a Secretaria Estadual de Segurança Pública,<br />
no dia 26 de junho de 2007, no Rio de Janeiro, o plano básico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para o policiamento de<br />
segurança para os XV Jogos Pan-americanos incluía as seguintes medidas práticas:<br />
Interrupção de to<strong>do</strong>s os cursos, férias e licenças <strong>do</strong>s policiais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro;<br />
Remanejamento de policiais de outras áreas <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>;<br />
3.224 policiais militares em regime extraordinário para o Pan: 217 oficiais e 3.007<br />
praças, sen<strong>do</strong> 2.595 da região metropolitana e 412 <strong>do</strong> interior. Esses se uniram aos 5.539<br />
já atuantes, num total de 8.763 na capital;<br />
4.764 policiais civis, mais de 40% de seu quadro: destes, 4.261 nas delegacias de polícia,<br />
61 no Centro de Operações de Segurança <strong>do</strong>s Jogos, 42 nas delegacias <strong>do</strong>s Juiza<strong>do</strong>s<br />
Especiais Criminais, 330 nos órgãos de perícia e 70 no setor de inteligência;<br />
24 horas de ação;<br />
A Polícia Militar realizaria o policiamento de praia, aéreo, marítimo, motoriza<strong>do</strong> e monta<strong>do</strong>;<br />
O Batalhão de Operações Especiais (Bope) só atuaria em casos específicos,<br />
como invasão da Vila <strong>do</strong> Pan ou assaltos com reféns;<br />
Reforço nos túneis da cidade com o Grupamento Tático de Motociclistas (GTM)<br />
e Grupo Tático Especial em Motopatrulha (GTEM);<br />
30 homens <strong>do</strong> Batalhão de Choque prontos para agir em tempo integral<br />
nos complexos <strong>do</strong> Maracanã e Engenhão;<br />
Alta tecnologia a serviço da segurança<br />
O projeto de tecnologia para a segurança, elabora<strong>do</strong><br />
e implementa<strong>do</strong> pelo governo federal<br />
e deixa<strong>do</strong> como lega<strong>do</strong> para o Rio de Janeiro,<br />
custou R$ 208 milhões. Uma das principais<br />
ferramentas instaladas foi o Sistema Único de<br />
Comunicação, rede que integra informações de<br />
200 órgãos – entre os quais 28 bancos de da<strong>do</strong>s<br />
criminais, de processos legais e registros<br />
de automóveis, acessível de 350 das viaturas<br />
adquiridas para os Jogos. Além disso, outros<br />
350 policiais possuíam terminais de mão.<br />
O sistema opera por meio de uma rede sem fio<br />
com transmissão criptografada, integran<strong>do</strong> os<br />
da<strong>do</strong>s com voz e imagens, entre elas as produzidas<br />
por 1.500 novas câmeras instaladas<br />
nos locais de competição e em pontos estratégicos<br />
da cidade. Um software inteligente analisa<br />
as imagens e reconhece várias situações<br />
suspeitas. Dada a geografia da cidade, 1.227<br />
antenas de rádio tiveram de ser instaladas na<br />
maior parte <strong>do</strong> perímetro urbano.<br />
Em outros pontos, carros tinham as chapas<br />
fotografadas e instantaneamente consultadas<br />
na relação de veículos rouba<strong>do</strong>s. Além disso,<br />
mil veículos a serviço das delegações foram<br />
equipa<strong>do</strong>s com sistema de rastreamento por<br />
satélite.<br />
No coman<strong>do</strong> central da segurança <strong>do</strong> Pan, era<br />
possível observá-los numa tela, localiza<strong>do</strong>s no<br />
mapa da cidade. Para fazer funcionar o sistema<br />
de tecnologia de segurança, foram necessários,<br />
ao to<strong>do</strong>, 1.600 computa<strong>do</strong>res, 36 locais<br />
260
Nas viaturas, acesso<br />
direto ao sistema de<br />
informação integra<strong>do</strong><br />
Fotos: Arquivo / Senasp<br />
de recepção e transmissão de sinais, além<br />
de 12 centrais de da<strong>do</strong>s.<br />
Um sistema de rádio digital e criptografa<strong>do</strong>,<br />
que ficou como lega<strong>do</strong> para o Esta<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> Rio de Janeiro, permite que nove instituições<br />
de segurança diferentes falem entre<br />
si sem que haja interferências – custou<br />
R$ 48 milhões aos cofres da Secretaria<br />
Nacional de Segurança Pública (Senasp).<br />
O equipamento codifica as mensagens,<br />
permitin<strong>do</strong> que apenas os envolvi<strong>do</strong>s na<br />
operação compreendam as conversas travadas<br />
entre os órgãos de segurança <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.<br />
Quem não possui o código de acesso<br />
ouve apenas chia<strong>do</strong>s. Além <strong>do</strong> sistema de<br />
rádio, outras centenas de equipamentos<br />
foram adquiridas.<br />
261
A Agência Brasileira de Inteligência<br />
A<br />
Agência Brasileira de Inteligência<br />
teve papel fundamental na segurança<br />
<strong>do</strong>s Jogos, coordenan<strong>do</strong> as<br />
atividades <strong>do</strong> setor de inteligência<br />
a partir <strong>do</strong> CIJ. O planejamento começou a ser<br />
realiza<strong>do</strong> ainda em 2003, quatro anos antes<br />
da competição.<br />
Era preciso dar início à tarefa com muita antecedência<br />
porque o órgão tinha a função de<br />
municiar a própria Secretaria Nacional de Segurança<br />
Pública (Senasp) com informações<br />
para que esta pudesse planejar como e onde<br />
atuar, concentrar esforços, traçar estratégias.<br />
O Ministério da Justiça, por meio da Senasp,<br />
investiu R$ 28.316.534,00 na Agência, mas a<br />
liberação <strong>do</strong>s recursos foi tardia, na avaliação<br />
de Luiz Alberto Salaberry, assessor de planejamento<br />
<strong>do</strong> órgão. “Checamos muitas coisas<br />
sem os recursos <strong>do</strong> Pan. Abrimos oportunidades<br />
para servi<strong>do</strong>res da Senasp se especializarem<br />
e visitamos países para refinar o modelo<br />
de inteligência <strong>do</strong>s Jogos. Investimos no Brasil<br />
to<strong>do</strong>. Um ano e três meses foi um tempo curto<br />
para tu<strong>do</strong> isso. Mas compensamos a demora<br />
priorizan<strong>do</strong> o evento na agenda da Abin”.<br />
O “Relatório fi nal da Abin sobre as ações relativas<br />
aos XV Jogos Pan-americanos e III<br />
Jogos Parapan-americanos Rio 2007” informa<br />
que, “por intermédio <strong>do</strong> Departamento de<br />
Operações de Inteligência, a Agência, desde<br />
o primeiro semestre de 2003, desenvolveu<br />
ações operacionais em to<strong>do</strong> o território nacional,<br />
em especial no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro,<br />
com o objetivo de detectar, identifi car,<br />
acompanhar e neutralizar possíveis ações de<br />
pessoas, grupos ou organizações que pudessem<br />
ameaçar a segurança das delegações<br />
ou os locais de realização das provas, ações<br />
que adquiriram caráter sistemático durante a<br />
realização <strong>do</strong>s Jogos”.<br />
Em 2005, a equipe, que agregava funcionários<br />
de todas as áreas da Abin, produziu o primeiro<br />
Relatório de Avaliação de Risco, a linha-mestre<br />
de to<strong>do</strong> o planejamento da área de segurança.<br />
Mais tarde, foram feitas outras quatro reavaliações,<br />
e a última foi emitida em 30 de junho de<br />
2007, às vésperas <strong>do</strong>s Jogos.<br />
Outros estu<strong>do</strong>s deram origem ao Relatório de<br />
Avaliação de Riscos <strong>do</strong>s Locais de Treinamento,<br />
que assinalou os alvos prioritários, identificou<br />
vulnerabilidades e ameaças e propôs medidas<br />
de prevenção. “Em 2004 e 2005, avançamos<br />
em definir a meto<strong>do</strong>logia, após pesquisa em<br />
âmbito internacional. Escolhemos a australiana<br />
e neozelandesa, já testada em grandes<br />
eventos, entre eles os Jogos de Atenas 2004,<br />
Salt Lake City 2002 e Turim 2006. Pegamos<br />
ferramentas usadas na Austrália e nos Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s e adequamos ao caso brasileiro. Aqui,<br />
o risco terrorista não é a principal ameaça, e<br />
sim o crime organiza<strong>do</strong>. Outros instrumentos<br />
foram agrega<strong>do</strong>s para dar um retrato real da<br />
situação brasileira, para um evento no Rio, que<br />
tem especificidades bem diferentes de outros<br />
ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”, conta Salaberry.<br />
A Abin também rastreou todas as pessoas<br />
com acesso às áreas esportivas ou de risco,<br />
através <strong>do</strong> sistema Infoseg – cria<strong>do</strong> em 2004<br />
para integrar da<strong>do</strong>s e informações de segurança<br />
pública, justiça e fiscalização de to<strong>do</strong><br />
o País, em um total de 105 mil candidatos a<br />
credenciais. O poder de veto cabia apenas à<br />
Senasp e ao CO-Rio.<br />
Em novembro de 2006, o órgão promoveu um<br />
encontro de trabalho com a presença de representantes<br />
de 42 Serviços de Inteligência<br />
estrangeiros, pertencentes aos países integrantes<br />
da Odepa, “para estreitar cooperação<br />
e trocar informações. Ademais, foram realizadas<br />
palestras para a sensibilização de segmentos<br />
priva<strong>do</strong>s importantes, como o setor<br />
hoteleiro <strong>do</strong> Rio de Janeiro, e treinamento de<br />
situações de rotina e emergência”, detalha o<br />
relatório da Abin.<br />
Entre 1º de julho e 19 de agosto, portanto antes,<br />
durante e depois <strong>do</strong>s Jogos, foram produzi<strong>do</strong>s<br />
mais de 500 relatórios que apontavam as áreas<br />
críticas, ameaças e níveis de risco, para orientar<br />
a Senasp sobre onde o coman<strong>do</strong> da segurança<br />
deveria concentrar seu maior esforço.<br />
262
O importante apoio <strong>do</strong> CO-Rio<br />
T<br />
en<strong>do</strong> como modelo histórico o uso das<br />
Forças Armadas em grandes eventos<br />
no País, o Comitê montou uma equipe<br />
formada por oficiais da reserva <strong>do</strong><br />
Exército, com o apoio <strong>do</strong> Ministério da Defesa,<br />
para cuidar da segurança <strong>do</strong>s Jogos. Paralelamente,<br />
recomen<strong>do</strong>u à prefeitura a contratação,<br />
em 2003, da consultoria da empresa australiana<br />
Intelligent Risks (IR). “Vivíamos um momento<br />
pós-11 de setembro, este era um tema muito<br />
delica<strong>do</strong>. A IR foi responsável pelo setor nos<br />
Jogos de Sydney e fez o projeto <strong>do</strong> Pan ten<strong>do</strong><br />
aquela Olimpíada como modelo”, conta Carlos<br />
Roberto Osório, secretário geral <strong>do</strong> CO-Rio. O<br />
planejamento proposto tratava da segurança<br />
interna das instalações, <strong>do</strong> deslocamento de<br />
atletas, <strong>do</strong> credenciamento, mas, naturalmente,<br />
não apresentava detalhes sobre o policiamento<br />
na cidade, a cargo <strong>do</strong> poder público.<br />
A entrada <strong>do</strong> Ministério da Justiça, através da<br />
Secretaria Nacional de Segurança Pública, na<br />
preparação <strong>do</strong>s Jogos, com a aposta no modelo<br />
de segurança cidadã, inicialmente causou insegurança<br />
no Comitê. “Mas quan<strong>do</strong> eles começaram<br />
a entender, depois <strong>do</strong>s debates sobre a<br />
questão, e com o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> apoian<strong>do</strong><br />
a decisão, tu<strong>do</strong> começou a fluir e passaram<br />
a nos apoiar”, lembra Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa.<br />
Segun<strong>do</strong> o então secretário nacional de Segurança<br />
Pública, o planejamento anterior <strong>do</strong> CO-<br />
Rio, realiza<strong>do</strong> pela consultoria IR, teve utilidade,<br />
“porque ali está a memória <strong>do</strong>s grandes eventos,<br />
<strong>do</strong>s planos de segurança de outros Jogos,<br />
mas sempre com o foco de contemplar só as<br />
competições”.<br />
Rival<strong>do</strong> de Araújo, chefe de inteligência da Polícia<br />
Civil e representante da corporação no comitê<br />
da Senasp, critica o projeto inicial <strong>do</strong> Comitê:<br />
“A dinâmica da segurança pública estava<br />
estabelecida por afinidade, ou seja, na mesma<br />
área de proteção ficavam os hotéis e os aeroportos,<br />
por exemplo, que estão em lugares muito<br />
distantes. São batalhões e delegacias distintos.<br />
Quan<strong>do</strong> esta idéia chegou à Senasp, nós<br />
criticamos e sugerimos que se delimitassem as<br />
áreas de proteção por território. Assim foi feito”,<br />
conta Rival<strong>do</strong>. Para o coordena<strong>do</strong>r José Hilário,<br />
logo no início, o Comitê se mostrou satisfeito<br />
com as novas propostas e manteve excelente<br />
relação com a Senasp.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Treinamento para os Jogos:<br />
projeto de segurança <strong>do</strong><br />
governo federal teve a<br />
colaboração <strong>do</strong> CO-Rio<br />
263
A Força Nacional de Segurança<br />
O<br />
uso da Força Nacional de Segurança<br />
Pública nos Jogos<br />
também fez parte <strong>do</strong> projeto<br />
da Senasp de aproveitar os<br />
Jogos Pan-americanos para pôr em prática<br />
to<strong>do</strong>s os aspectos <strong>do</strong> Sistema Único de Segurança<br />
Pública (SUSP), que traça as diretrizes<br />
de política pública <strong>do</strong> governo federal para a<br />
área. Fundada em 2004, a Força é um programa<br />
de cooperação federativa. Seu efetivo é integra<strong>do</strong><br />
por policiais militares cedi<strong>do</strong>s pelos 26<br />
esta<strong>do</strong>s e o Distrito Federal e submeti<strong>do</strong>s a um<br />
programa de padronização de procedimentos<br />
para dar apoio às instituições de segurança de<br />
qualquer unidade da federação quan<strong>do</strong> requisita<strong>do</strong>s.<br />
Das oito atribuições da corporação no<br />
Rio de Janeiro já listadas anteriormente, houve<br />
três principais tarefas, segun<strong>do</strong> o coronel Luiz<br />
Antônio Ferreira, comandante da Força. Ele<br />
menciona o policiamento interno das instalações<br />
esportivas e não esportivas, a coordenação<br />
das escoltas de autoridades e a operação<br />
para asfixiar o crime organiza<strong>do</strong> no Complexo<br />
<strong>do</strong> Alemão, na zona norte da cidade.<br />
A tarefa <strong>do</strong> policiamento interno das instalações<br />
é a que mais se aproxima <strong>do</strong> foco deste<br />
relatório por ser uma ação diretamente relacionada<br />
aos Jogos. Apesar de problemas pontuais,<br />
principalmente liga<strong>do</strong>s a falhas no credenciamento<br />
feito pelo CO-Rio, a Força Nacional<br />
foi bem-sucedida. Não houve registro de abusos<br />
por parte <strong>do</strong>s solda<strong>do</strong>s e nem ocorrências<br />
graves dentro das instalações causadas por<br />
falhas nos procedimentos.<br />
A Força Nacional atuou nas instalações com<br />
o conceito inova<strong>do</strong>r de não-letalidade, cuja<br />
aplicação em larga escala no País é outra diretriz<br />
de política pública <strong>do</strong> governo federal<br />
para a área. Ela utilizou instrumentos como<br />
sprays de pimenta, espingardas com munição<br />
de borracha, armas de ar comprimi<strong>do</strong>, granadas<br />
de efeito moral, gás lacrimogêneo. Uma<br />
das dificuldades deste processo, que exige<br />
a mudança de mentalidade <strong>do</strong>s policiais, foi<br />
conscientizar os agentes da importância de se<br />
atuar apenas com armamentos não letais. Nos<br />
diversos treinamentos promovi<strong>do</strong>s, eles foram<br />
submeti<strong>do</strong>s aos efeitos das armas e descobriram<br />
que o objetivo de conter a violência pode<br />
ser plenamente atingi<strong>do</strong> com o uso correto<br />
destas ferramentas.<br />
A granada de luz e som, por exemplo, é um<br />
dispositivo de borracha – cuja espoleta sai antes<br />
de ser detona<strong>do</strong>, para não correr o risco de<br />
ferir ninguém com o impacto – capaz de ensurdecer<br />
e cegar temporariamente pelo barulho e<br />
luz intensa que emite. Agentes também aprenderam<br />
a utilizar as espingardas com munição<br />
de borracha: para que não seja fatal, é preciso<br />
atirar da cintura para baixo e a mais de 20 metros<br />
de distância.<br />
Seis mil policiais da Força foram desloca<strong>do</strong>s<br />
para o Rio. A princípio seriam 10 mil. “Decidimos<br />
investir mais em inteligência, com ações<br />
estruturantes, assim seriam necessários menos<br />
homens”, explica o coordena<strong>do</strong>r de Segurança<br />
<strong>do</strong>s Jogos, José Hilário de Medeiros. A<br />
tropa de elite também cui<strong>do</strong>u, com sucesso,<br />
<strong>do</strong> revezamento da Tocha Pan-americana nas<br />
51 localidades por onde passou.<br />
Policiamento interno<br />
Os solda<strong>do</strong>s da Força utilizaram armas letais<br />
e fardas militares apenas ao re<strong>do</strong>r das instalações.<br />
Nos acessos de público e no interior,<br />
usaram armamento não letal e vestiram uniformes<br />
semelhantes aos de outros participantes<br />
da organização <strong>do</strong> evento: uma camisa preta<br />
com a logomarca <strong>do</strong>s Jogos.<br />
Para o ex-secretário nacional de Segurança<br />
Pública e atual diretor da Polícia Federal, Luiz<br />
Fernan<strong>do</strong> Corrêa, uma das maiores dificuldades<br />
foi mudar a mentalidade <strong>do</strong>s policiais. Mas<br />
ele acredita que o objetivo foi alcança<strong>do</strong>: “O<br />
primeiro problema para o policial é não operar<br />
com a farda militar. Para eles foi duro. Mas é<br />
um padrão internacional: a roupa diferenciada<br />
que usavam lá dentro e a ausência de arma.<br />
Se um policial não estiver com a arma letal na<br />
cintura, não se entende policial. Ali não era o<br />
caso, com to<strong>do</strong>s aqueles controles. Nós tínhamos<br />
resposta letal em to<strong>do</strong>s eles, só não precisava<br />
estar visível”, explica o ex-secretário.<br />
264
Foto: Isaac Amorim / Ministério da Justiça<br />
O preparo da Força<br />
Nacional garantiu<br />
a segurança nas<br />
instalações<br />
265
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Além <strong>do</strong> policiamento em si, a Força Nacional<br />
também fazia nas instalações o controle<br />
de acesso de veículos e inspecionava a entrada<br />
de suprimentos, alimentos, materiais e<br />
equipamentos.<br />
Entre os equipamentos de alta tecnologia usa<strong>do</strong>s<br />
para inspecionar tu<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s que entravam<br />
nas instalações esportivas ou não <strong>do</strong>s<br />
Jogos, o mais curioso talvez seja o caminhão<br />
HCVM, um <strong>do</strong>s 109 aparelhos de raios-X utiliza<strong>do</strong>s.<br />
Trata-se <strong>do</strong> maior e mais moderno caminhão<br />
escaner <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e único na América<br />
Latina capaz de identificar, em 30 segun<strong>do</strong>s,<br />
indícios de bombas, drogas, armas ou produtos<br />
químicos explosivos em contêineres de 40<br />
pés. Durante a competição, foram utiliza<strong>do</strong>s<br />
mais de 100 caminhões com alimentos e outras<br />
cargas, destinadas à Vila Pan-americana e às<br />
instalações esportivas, sempre monitora<strong>do</strong>s.<br />
Apenas três situações exigiram a intervenção<br />
da Força nas instalações: no dia 22 de julho,<br />
a platéia <strong>do</strong> Riocentro testemunhou uma briga<br />
entre dirigentes <strong>do</strong> judô de Brasil e Cuba<br />
e outra entre atletas de handebol de Brasil<br />
266
Checagem de credenciais<br />
Os policiais da Força Nacional enfrentaram<br />
dificuldades nas instalações devi<strong>do</strong><br />
a problemas no credenciamento realiza<strong>do</strong><br />
pelo Comitê Organiza<strong>do</strong>r (ver capítulo Tecnologia).<br />
A princípio, os agentes deveriam<br />
atuar apenas como apoio para os responsáveis<br />
pela checagem de credenciais. Mas<br />
<strong>do</strong>is fatores fizeram com que os próprios<br />
policiais assumissem a tarefa: a falta de<br />
pessoal qualifica<strong>do</strong> e o temor da Secretaria<br />
Nacional de Segurança Pública de que<br />
eventuais falhas humanas diminuíssem o<br />
nível de segurança <strong>do</strong> evento.<br />
Maior e mais moderno caminhão<br />
escaner <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> aju<strong>do</strong>u a garantir<br />
a segurança <strong>do</strong>s Jogos, identifican<strong>do</strong><br />
eventual existência de armas, drogas,<br />
bombas ou produtos químicos; também<br />
monitorou caminhões de suprimentos<br />
que entravam na Vila<br />
e Argentina. Seis dias depois, o Maracanãzinho<br />
foi palco de protestos de torce<strong>do</strong>res<br />
contraria<strong>do</strong>s com a troca de horário de uma<br />
partida de vôlei.<br />
Sobre as duas ocasiões, o coordena<strong>do</strong>r José<br />
Hilário analisa que a Força teve atuação exemplar,<br />
inclusive no incidente <strong>do</strong> Maracanãzinho,<br />
em que os policiais foram critica<strong>do</strong>s pela imprensa<br />
por terem utiliza<strong>do</strong> spray de pimenta<br />
contra os manifestantes: “A atuação da Força<br />
Nacional foi um êxito e exemplar em to<strong>do</strong>s estes<br />
casos”, enfatizou Hilário.<br />
A maioria <strong>do</strong>s encarrega<strong>do</strong>s não conhecia<br />
bem a credencial, um <strong>do</strong>cumento elabora<strong>do</strong><br />
com uma escala complexa de siglas e cores,<br />
de alta tecnologia. Mas aprenderam na prática,<br />
ao longo <strong>do</strong>s Jogos. Além disso, o CO-Rio<br />
não entregou credenciais a tempo para to<strong>do</strong>s,<br />
e muitos tiveram de circular pelas instalações<br />
com um <strong>do</strong>cumento provisório, o que difi cultava<br />
ainda mais o trabalho de identificação. A<br />
situação das credenciais provisórias foi atenuada,<br />
mas sua regularização só se deu após<br />
pressões da Senasp. “Nossa preocupação<br />
era mostrar para o mun<strong>do</strong> que o Brasil tinha<br />
capacidade de garantir a segurança. Quan<strong>do</strong><br />
chegou num momento crítico, endurecemos:<br />
‘Não vai entrar se não estiver com credencial,<br />
não interessa quem seja’”, lembra Luiz Fernan<strong>do</strong><br />
Corrêa.<br />
Escolta<br />
Na escolta <strong>do</strong>s ônibus <strong>do</strong>s atletas e carros<br />
com dirigentes e autoridades, a Força trabalhou<br />
diretamente com a Polícia Federal, Polícia<br />
Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro e a<br />
Polícia Ro<strong>do</strong>viária Federal.<br />
Nos primeiros dias, a operação foi prejudicada<br />
pelo atraso <strong>do</strong> CO-Rio no envio de informações<br />
sobre deslocamento das delegações.<br />
O problema foi resolvi<strong>do</strong> rapidamente:<br />
“As planilhas de escolta vinham com atraso, o<br />
que nos fazia precisar de mais homens. Mas<br />
isso foi ajusta<strong>do</strong> logo no início”, lembra o coronel<br />
Samuel Dionizio, da PM.<br />
267
Foto: Ana Branco / Agência O Globo<br />
Mais de 5 mil policiais<br />
federais atuaram na<br />
segurança <strong>do</strong>s Jogos<br />
268
A Polícia Federal e suas atribuições<br />
A<br />
Polícia Federal (PF) foi a última instituição<br />
a aderir de maneira mais<br />
incisiva na preparação <strong>do</strong>s Jogos,<br />
em novembro de 2006. Até então,<br />
poucas demandas da PF haviam si<strong>do</strong> repassadas<br />
à Senasp. Uma das conseqüências da<br />
demora foi que se tornou o último órgão a receber<br />
recursos <strong>do</strong> orçamento <strong>do</strong>s Jogos para<br />
a segurança, em março e abril de 2007.<br />
A responsabilidade pelo planejamento das<br />
operações deste órgão ficou a cargo de sua<br />
Coordena<strong>do</strong>ria Geral de Defesa Institucional<br />
(CGDI). Para o chefe da coordena<strong>do</strong>ria, delega<strong>do</strong><br />
Daniel Sampaio, o motivo da demora da<br />
PF em aderir ao plano foi o “excesso de atribuições”<br />
da instituição.<br />
Algumas obrigações <strong>do</strong> órgão não foram postas<br />
em prática porque os Jogos transcorreram<br />
com tranqüilidade no quesito segurança, como<br />
a atuação em ocorrências com explosivos ou<br />
crises de reféns. A PF atuou com mais ênfase<br />
na segurança de autoridades, dirigentes e<br />
atletas e na coordenação das ações de polícia<br />
marítima e de fronteiras, incluin<strong>do</strong> a recepção<br />
no Aeroporto Internacional Tom Jobim, além<br />
de varreduras antibomba nas instalações esportivas<br />
e não esportivas.<br />
Se tivesse entra<strong>do</strong> com mais antecedência<br />
e de forma mais ativa nos Jogos, a Polícia<br />
Federal poderia ter se planeja<strong>do</strong> melhor.<br />
É o que explica o coordena<strong>do</strong>r geral de Defesa<br />
Institucional: “Entramos tardiamente, mas buscamos<br />
capacitar nosso pessoal. Promovemos<br />
cursos em cinco regiões <strong>do</strong> País. Quase to<strong>do</strong>s<br />
os policiais envolvi<strong>do</strong>s participaram <strong>do</strong> curso<br />
de segurança de dignitários. Tivemos de treinar<br />
agentes no manejo de fuzil e pistola”, diz<br />
Daniel Sampaio.<br />
Outra conseqüência é que a PF não conseguiu<br />
comprar alguns <strong>do</strong>s equipamentos que pretendia.<br />
A solução, segun<strong>do</strong> o delega<strong>do</strong> Sampaio,<br />
foi redistribuir armamentos <strong>do</strong>s próprios<br />
policiais para os que atuariam nos Jogos. A<br />
demora fez com que ficasse fora <strong>do</strong> planejamento<br />
um local de trabalho para os policiais<br />
federais na Vila Pan-americana. Os agentes foram<br />
aloja<strong>do</strong>s em contêineres cujas condições<br />
foram alvo de protesto de entidades de classe<br />
ligadas aos policiais.<br />
Cerca de 3 mil policiais federais realizaram<br />
mais de 80 mil operações de transporte durante<br />
os Jogos, entre deslocamento de delegações<br />
e autoridades. E outros 3 mil agentes<br />
estiveram envolvi<strong>do</strong>s em ações de inteligência,<br />
combate ao terrorismo e antibomba.<br />
Segurança de dignitários<br />
Foram utiliza<strong>do</strong>s 658 policiais federais na segurança<br />
<strong>do</strong>s dignitários. Cada ônibus de delegação<br />
levava <strong>do</strong>is agentes a bor<strong>do</strong>. Além<br />
disso, foram destaca<strong>do</strong>s policiais para acompanhar<br />
as autoridades mais visadas.<br />
Quatro mil viagens de atletas foram realizadas<br />
com segurança. Houve uma ameaça de bomba<br />
contra o ônibus de uma equipe americana de<br />
futebol, e os policiais conduziram o veículo ao<br />
estádio até concluírem que a ameaça era falsa.<br />
Imigração<br />
Uma área foi isolada no Aeroporto Internacional<br />
Tom Jobim para receber atletas e demais participantes<br />
<strong>do</strong>s Jogos. A operação foi realizada<br />
em conjunto pela Polícia Federal e o CO-Rio. O<br />
atleta passava pela imigração, realizan<strong>do</strong> procedimentos<br />
diferentes <strong>do</strong>s outros passageiros,<br />
e em seguida se encaminhava para outra sala,<br />
onde já recebia sua credencial antes de ser leva<strong>do</strong><br />
para o ônibus. O procedimento foi bastante<br />
elogia<strong>do</strong>. A única dificuldade encontrada<br />
por quem o operava era a mesma que enfrentaram<br />
os policiais responsáveis pelas escoltas:<br />
as delegações nem sempre informavam ao<br />
CO-Rio o horário correto de chegada de seus<br />
vôos, o que influenciava toda a operação.<br />
269
Os agentes treinaram<br />
o uso de armas não-letais,<br />
como granadas de luz e som,<br />
que não foram utilizadas<br />
durante os Jogos<br />
270
Antiterrorismo e inteligência<br />
O<br />
s Jogos passaram incólumes<br />
por ameaças e atenta<strong>do</strong>s terroristas<br />
de qualquer natureza. Como<br />
parte das ações antiterrorismo,<br />
foram realiza<strong>do</strong>s treinamentos na Espanha e<br />
em Portugal, com homens <strong>do</strong> Coman<strong>do</strong> de<br />
Operações Táticas da PF e <strong>do</strong> Batalhão de<br />
Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar<br />
<strong>do</strong> Rio. Técnicos de Alemanha, França e Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s foram trazi<strong>do</strong>s ao Brasil para ministrar<br />
cursos.<br />
To<strong>do</strong>s os locais de eventos, hotéis, carros e<br />
ônibus utiliza<strong>do</strong>s por atletas e autoridades foram<br />
vistoria<strong>do</strong>s por uma equipe de 250 peritos<br />
e de cães fareja<strong>do</strong>res. Entre as ações planejadas,<br />
apenas o processo de varredura das<br />
instalações enfrentou algumas complicações.<br />
No planejamento ideal, haveria em todas elas<br />
o lock-<strong>do</strong>wn, dia em que o local ficaria fecha<strong>do</strong><br />
para a operação. A partir da sua reabertura,<br />
apenas credencia<strong>do</strong>s poderiam entrar. Mas a<br />
medida não foi possível de ser concretizada<br />
em algumas instalações, já que operários ainda<br />
precisavam fazer os acertos finais e alguns<br />
equipamentos não haviam si<strong>do</strong> entregues.<br />
Foto: Isaac Amorim / Ministério da Justiça<br />
271
A Segurança Cidadã: ousadia que deu certo<br />
E<br />
ntusiasma<strong>do</strong> com o exemplo de<br />
Bogotá, na Colômbia, o Ministério<br />
da Justiça traçou, em 2003,<br />
um plano de políticas basea<strong>do</strong> no<br />
conceito de segurança cidadã para o Brasil.<br />
A capital colombiana implantou uma série<br />
de programas sociais e reduziu, em 13 anos<br />
(de 1993 a 2006), os índices de homicídio de<br />
94 para 17 por cem mil habitantes. Da inspiração<br />
nasceu a idéia de articular segurança<br />
e ações de inclusão social, com foco na prevenção<br />
da criminalidade.<br />
Nove programas, que contaram com o envolvimento<br />
direto de 119 comunidades carentes<br />
<strong>do</strong> Rio de Janeiro, foram implanta<strong>do</strong>s na<br />
cidade-sede por ocasião <strong>do</strong>s XV Jogos Panamericanos,<br />
com recursos <strong>do</strong> Ministério da<br />
Justiça. “Foi um trabalho de segurança pública<br />
envolven<strong>do</strong> as comunidades empobrecidas<br />
<strong>do</strong> entorno das instalações para reduzir a<br />
criminalidade nestes locais e, principalmente,<br />
criar um clima favorável ao Pan entre estas<br />
populações. A intenção não era fazer um tipo<br />
de policiamento de contenção, e sim trazer<br />
as comunidades para participar <strong>do</strong> evento”,<br />
explica a major Claudete Lehmkuhl, coordena<strong>do</strong>ra<br />
<strong>do</strong>s Projetos Especiais de Segurança<br />
para os Jogos.<br />
Os programas, abriga<strong>do</strong>s no Projeto Medalha<br />
de Ouro – Construin<strong>do</strong> Convivência e Segurança<br />
Cidadã, previam a capacitação de policiais<br />
comunitários, promoção de competições<br />
esportivas para jovens carentes, readequação<br />
de espaços urbanos e melhorias de infra-estrutura<br />
de áreas de vulnerabilidade social, entre<br />
outras atividades. Mas o maior e principal<br />
pilar foi o chama<strong>do</strong> Guias Cívicos. Este e outros<br />
oito projetos só se transformaram em realidade<br />
graças ao convênio firma<strong>do</strong> entre a Senasp<br />
e o Programa das Nações Unidas para o<br />
Desenvolvimento (Pnud), assina<strong>do</strong> em agosto<br />
de 2006 com término em 31 de dezembro de<br />
2007, depois <strong>do</strong>s Jogos. “Não poderia acabar<br />
com o Pan porque se trata de um trabalho<br />
lento e gradual, que deixará um importante<br />
lega<strong>do</strong>. E queremos que continue depois”,<br />
diz a major Claudete. Outras instituições foram<br />
parceiras da Senasp, como o Instituto de<br />
Segurança Pública (ISP), o Serviço de Apoio<br />
às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o<br />
Serviço Social da Indústria (Sesi), seguin<strong>do</strong> a<br />
filosofia de gestão descentralizada <strong>do</strong> Pronasci,<br />
que pretende fomentar contratos, acor<strong>do</strong>s,<br />
convênios e consórcios com esta<strong>do</strong>s, municípios,<br />
organizações não governamentais e organismos<br />
internacionais.<br />
A implantação <strong>do</strong>s programas nas 119 comunidades<br />
escolhidas começou em 2006, mas<br />
as discussões, idéias e os planejamentos foram<br />
iniciadas um ano antes. “Temos situação<br />
crítica no Rio. O Pan não teria condições de<br />
resolver os problemas sociais da cidade. Por<br />
isso escolhemos este circuito. E sempre dissemos<br />
para as comunidades que, através <strong>do</strong>s<br />
Jogos, as populações carentes conseguiriam<br />
um avanço na inclusão social. Eles se sentiram<br />
envolvi<strong>do</strong>s na ação pan-americana. Trabalharam<br />
na preparação e durante a competição,<br />
orientan<strong>do</strong> turistas nos espaços de eventos<br />
esportivos e não esportivos, como hotéis e<br />
pontos turísticos. Os guias cívicos estavam em<br />
toda a cidade. Isso é prevenção da violência”,<br />
explica José Hilário, coordena<strong>do</strong>r de Ações de<br />
Segurança Integrada <strong>do</strong> Pan.<br />
A decisão <strong>do</strong> presidente Luiz Inácio Lula da<br />
Silva, em dezembro de 2005, de deixar a cargo<br />
<strong>do</strong> Ministério da Justiça a responsabilidade<br />
pela segurança <strong>do</strong>s Jogos veio depois <strong>do</strong>s primeiros<br />
passos da Senasp para travar contato<br />
com as comunidades carentes da cidade-sede.<br />
Segun<strong>do</strong> Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa, o diálogo<br />
com as lideranças comunitárias independia da<br />
opção pela Secretaria, já que a implantação da<br />
Segurança Cidadã no Rio se daria de qualquer<br />
forma: “Tínhamos a obrigação institucional de<br />
fazer isso andar, coordenan<strong>do</strong> ou não o Pan,<br />
porque nós tínhamos de implementar a política.<br />
Queríamos utilizar o Pan como facilita<strong>do</strong>r<br />
da política pública”. Em dezembro de 2007,<br />
apresenta<strong>do</strong> pelo presidente <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> Rio 2007, Carlos Arthur Nuzman, o<br />
Programa de Segurança Cidadã para os Jogos<br />
foi elogia<strong>do</strong> na abertura <strong>do</strong> I Fórum Mundial<br />
Paz e <strong>Esporte</strong>, em Mônaco.<br />
272
O projeto Brigada<br />
Socorrista formou<br />
1,2 mil jovens<br />
Foto: Arquivo / Senasp<br />
273
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
Lega<strong>do</strong> social: 10.500<br />
jovens passaram pelo<br />
curso de formação de<br />
Guias Cívicos<br />
274
O papel fundamental <strong>do</strong> Pnud<br />
S<br />
em o convênio firma<strong>do</strong> entre o Programa<br />
das Nações Unidas para o<br />
Desenvolvimento (Pnud) e o Ministério<br />
da Justiça, através da Secretaria<br />
Nacional de Segurança Pública (Senasp),<br />
não haveria o Projeto Medalha de Ouro<br />
– Construin<strong>do</strong> Convivência e Segurança Cidadã.<br />
A parceria, firmada em 7 de agosto de<br />
2006, no valor de R$ 52,1 milhões, financiou os<br />
programas sociais no Rio e expirou no final de<br />
2007. “O propósito fundamental de um plano<br />
de segurança para os Jogos é a garantia da<br />
segurança de atletas e visitantes durante a sua<br />
permanência na cidade. No entanto, este projeto<br />
pretende ir além deste objetivo imediato:<br />
o governo federal, em articulação com os governos<br />
estadual e municipal, pretende aproveitar<br />
o imenso potencial simbólico e mobiliza<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong>s Jogos para promover um plano dirigi<strong>do</strong> a<br />
melhorar as condições de convivência e segurança<br />
no Rio de Janeiro, de forma sustentável<br />
– ou seja, antes, durante e depois <strong>do</strong>s Jogos<br />
– a partir <strong>do</strong> conceito de Segurança Cidadã”,<br />
justifica o Projeto de Cooperação Técnica <strong>do</strong><br />
Pnud com o Ministério da Justiça.<br />
O organismo da ONU monitorou os programas,<br />
e a gestão e execução ficaram a cargo<br />
da Senasp. Houve demora na assinatura <strong>do</strong><br />
convênio e, depois, na liberação da verba pelo<br />
Ministério. Com os recursos disponibiliza<strong>do</strong>s,<br />
uma equipe montada pela Senasp foi instalada<br />
no Rio de Janeiro, sob o coman<strong>do</strong> da major<br />
Claudete Lehmkuhl, coordena<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s Projetos<br />
Especiais de Segurança para os Jogos,<br />
para cuidar da implantação <strong>do</strong>s projetos – com<br />
a supervisão de José Hilário de Medeiros.<br />
Entre os integrantes <strong>do</strong> time de policiais e servi<strong>do</strong>res<br />
públicos de to<strong>do</strong> o Brasil, estavam<br />
representadas diversas instituições, como<br />
Polícia Federal, Ro<strong>do</strong>viária Federal, Polícias<br />
Militares de outros esta<strong>do</strong>s. No auge da execução<br />
<strong>do</strong> plano, o grupo chegou a 80 pessoas.<br />
Após o fim da competição e até o final de 2007,<br />
este número caiu para 20.<br />
Os projetos foram implementa<strong>do</strong>s simultaneamente,<br />
mas a execução começou pelo Guias<br />
Cívicos, o maior. A última revisão de orçamento<br />
apresentada pelo Pnud detalha o total de gastos:<br />
PRODUTO<br />
Valor aprova<strong>do</strong> no<br />
BRA/06/019<br />
275<br />
Valor altera<strong>do</strong> nesta<br />
Revisão Substantiva<br />
Guias Cívicos R$ 19.500.000,00 R$ 19.225.651,00<br />
Espaços Urbanos Seguros R$ 1.360.000,00 R$ 4.740.000,00<br />
Brigada Socorrista R$ 5.461.800,00 R$ 4.000.000,00<br />
Atenção aos Menores de Rua R$ 4.480.000,00 R$ 3.080.000,00<br />
Atenção às Famílias R$ 4.615.100,00 R$ 4.615.100,00<br />
Gestores em Segurança Cidadã<br />
Capacita<strong>do</strong>s<br />
R$ 4.730.000,00 R$ 4.113.149,00<br />
Olimpíada Carioca R$ 3.910.000,00 R$ 2.910.000,00<br />
Polícia Comunitária R$ 3.930.000,00 R$ 3.200.000,00<br />
Produto Monitora<strong>do</strong> e avalia<strong>do</strong> R$ 1.710.000,00 R$ 3.406.000,00<br />
Intercâmbios na área de segurança de<br />
grandes eventos realiza<strong>do</strong>s<br />
R$ 407.000,00<br />
Subtotal R$ 49.696.900,00 R$ 49.696.900,00<br />
Taxa administrativa <strong>do</strong> Pnud (5%) R$ 2.049.474,00 R$ 2.049.474,00<br />
Total R$ 52.181.745,00 R$ 52.181.745,00<br />
Fonte: Revisão Substantiva <strong>do</strong> Projeto de Cooperação Técnica <strong>do</strong> Pnud/Ministério da Justiça.
Abertura da Olimpíada<br />
Carioca reuniu mora<strong>do</strong>res<br />
de 85 comunidades<br />
Foto: Divulgação / Senasp<br />
276
O Projeto Medalha de Ouro<br />
O<br />
Projeto Medalha de Ouro – Construin<strong>do</strong><br />
Convivência e Segurança<br />
Cidadã, coluna vertebral da política<br />
de segurança para os Jogos,<br />
é um programa desenvolvi<strong>do</strong> pelo Ministério<br />
da Justiça no Rio de Janeiro por meio da Secretaria<br />
Nacional de Segurança Pública (Senasp)<br />
com o apoio <strong>do</strong>s seguintes parceiros:<br />
Poder Judiciário, Secretaria de Esta<strong>do</strong> de Segurança<br />
Pública, Ministério Público, Defensoria<br />
Pública e Secretaria de Assistência Social<br />
e Direitos Humanos <strong>do</strong> Rio de Janeiro.<br />
“A partir <strong>do</strong>s projetos sociais, abrimos a porta<br />
da cidadania para as comunidades carentes<br />
<strong>do</strong> entorno <strong>do</strong>s equipamentos <strong>do</strong>s Jogos.<br />
Aproveitamos o momento de mobilização em<br />
torno da competição para fazer inclusão social,<br />
capacitar os jovens em noções de ética,<br />
inglês e turismo, fazer com que ele conhecesse<br />
a própria cidade”, resume Corrêa.<br />
O ponto de partida para a efetivação desta política<br />
foi a aproximação entre o poder institucional<br />
e 155 líderes comunitários das favelas.<br />
Era preciso inaugurar uma relação de proximidade<br />
entre os <strong>do</strong>is atores <strong>do</strong> processo. Seleciona<strong>do</strong>s<br />
pela equipe da Senasp em janeiro<br />
de 2006, foram encaminha<strong>do</strong>s para o curso<br />
de Mediação Pacífica de Conflitos e passaram<br />
a trabalhar em conjunto com a Senasp.<br />
“Eles são o grande alicerce <strong>do</strong>s projetos. Trabalhamos<br />
como um conselho, com reuniões<br />
periódicas. Durante a implantação <strong>do</strong>s programas,<br />
nossas propostas eram maleáveis às<br />
sugestões deles. A gente abria para o debate<br />
sobre como executar”, explica a major Claudete<br />
Lehmkuhl.<br />
Os líderes fi caram responsáveis por indicar,<br />
dentro das suas comunidades, os jovens<br />
carentes aptos a participar <strong>do</strong>s cursos, de<br />
acor<strong>do</strong> com os critérios estabeleci<strong>do</strong>s pela<br />
Senasp, como ser alfabetiza<strong>do</strong> e estar preferencialmente<br />
em situação de risco. Os alunos<br />
<strong>do</strong> projeto Guias Cívicos receberam bolsasauxílio<br />
no valor de R$ 175,00 por mês cursa<strong>do</strong><br />
e os seleciona<strong>do</strong>s para trabalhar durante<br />
os Jogos contaram com novas parcelas deste<br />
valor.<br />
Em alguns casos, houve atrasos de até três<br />
meses nos pagamentos, o que fez centenas<br />
de jovens aban<strong>do</strong>narem os cursos. Em muitos<br />
casos, a demora se deu porque os alunos<br />
demoraram para apresentar os <strong>do</strong>cumentos<br />
exigi<strong>do</strong>s e resolver questões burocráticas,<br />
como a abertura de conta em banco, por<br />
exemplo. A seguir, detalhes sobre os cursos<br />
promovi<strong>do</strong>s pela Secretaria Nacional de Segurança<br />
Pública:<br />
Mediação de conflitos<br />
O programa capacitou 200 pessoas no curso<br />
Resolução Pacífica de Conflitos e Casos Reais<br />
Supervisiona<strong>do</strong>s e no Treinamento em Mediação<br />
com Ênfase em Direito. Entre os alunos,<br />
estiveram juízes, promotores, gestores estaduais<br />
e municipais, policiais civis e militares,<br />
líderes comunitários, defensores públicos e<br />
guardas municipais. Foram implanta<strong>do</strong>s três<br />
núcleos provisórios de mediação pacífica de<br />
conflitos, entre os dias 19 e 29 de julho, em locais<br />
de grande aglomeração: nos estádios <strong>do</strong><br />
Maracanã e Engenhão e no Riocentro.<br />
A principal função <strong>do</strong>s integrantes destes núcleos<br />
era facilitar a dissolução de problemas<br />
e desafogar o trabalho das polícias, fazen<strong>do</strong><br />
com que as partes chegassem pacificamente<br />
a um acor<strong>do</strong>, sem recorrer ao sistema legal.<br />
Os novos especialistas foram convoca<strong>do</strong>s pelo<br />
governo federal para instalar outros 23 núcleos,<br />
to<strong>do</strong>s nas proximidades de favelas da Região<br />
Metropolitana <strong>do</strong> Rio de Janeiro, através de um<br />
convênio entre o Pnud, o Ministério Público <strong>do</strong><br />
Rio de Janeiro e a Defensoria Pública <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />
Este projeto serviu de laboratório para a implantação<br />
em grande escala no País <strong>do</strong> sistema de<br />
núcleos de mediação pacífica de conflitos.<br />
Guias cívicos<br />
Foram abertas 10,5 mil vagas para a formação<br />
de guias cívicos em 119 comunidades carentes,<br />
concluíram os cursos cerca de 8 mil<br />
e, destes, 6,5 mil fizeram estágio operacional<br />
277
durante os Jogos, atuan<strong>do</strong> como guias turísticos<br />
na cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro. O públicoalvo<br />
<strong>do</strong> projeto eram jovens de 16 a 24 anos,<br />
que tiveram aulas de ética e cidadania, turismo<br />
e línguas (inglês ou espanhol), em curso<br />
com duração de quatro meses. A intenção da<br />
Senasp foi capacitar e dar experiência a estes<br />
jovens para facilitar sua entrada no merca<strong>do</strong><br />
de trabalho. Duzentos guias cívicos também<br />
viajaram por 16 capitais e outras 12 cidades<br />
<strong>do</strong> Brasil participan<strong>do</strong> <strong>do</strong> revezamento da Tocha<br />
Pan-americana Rio 2007.<br />
Brigadas Socorristas<br />
O curso de combate a incêndio, defesa civil e<br />
primeiros socorros, com duração de três semanas,<br />
foi realiza<strong>do</strong> em parceria com o Senai,<br />
o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil. Atingiu<br />
1,2 mil mora<strong>do</strong>res de comunidades carentes,<br />
entre 18 e 28 anos, que trabalharam voluntariamente<br />
durante o Pan como brigadistas nas<br />
instalações esportivas e não esportivas.<br />
Mas o enfoque principal foi habilitar estes mora<strong>do</strong>res<br />
a socorrer e prestar os primeiros atendimentos<br />
às vítimas de calamidades, como<br />
deslizamento, alagamento etc. em suas comunidades.<br />
Para isso, receberam uniformes e outros<br />
materiais de instrução <strong>do</strong> Corpo de Bombeiros.<br />
Cada aluno recebeu uma bolsa-auxílio<br />
de R$ 175,00.<br />
Durante a cerimônia de formatura <strong>do</strong> grupo,<br />
em junho de 2007, no Rio de Janeiro, o então<br />
secretário nacional de Segurança Pública,<br />
Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa, frisou que o principal<br />
objetivo <strong>do</strong> projeto era a inclusão social: “Para<br />
nós, da Secretaria Nacional, mais <strong>do</strong> que o aspecto<br />
técnico, o nosso processo é de inclusão<br />
social. E isso pode ser feito através da capacitação<br />
dessas pessoas. Ao mesmo tempo<br />
que capacitamos, fazemos também inclusão<br />
social, dentro de um projeto de segurança cidadã”,<br />
disse.<br />
O cadastro <strong>do</strong>s participantes <strong>do</strong> programa foi<br />
disponibiliza<strong>do</strong> para o Corpo de Bombeiros,<br />
Defesa Civil e a Federação das Indústrias <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro (Firjan), para que sejam<br />
aproveita<strong>do</strong>s em outros eventos. Logo depois,<br />
os brigadistas foram convida<strong>do</strong>s a atuar<br />
no Campeonato Mundial de Judô, em setembro<br />
de 2007, também no Rio de Janeiro.<br />
Espaços Urbanos Seguros<br />
O projeto capacitou mil jovens e adultos de 18<br />
a 45 anos, das comunidades <strong>do</strong> entorno <strong>do</strong>s<br />
equipamentos <strong>do</strong> Pan, em técnicas de construção<br />
civil e eletricidade. A principal intenção<br />
foi prepará-los para prestar serviços em suas<br />
próprias comunidades, ensinan<strong>do</strong> ofícios de<br />
pedreiro, arma<strong>do</strong>r de estruturas, carpinteiros,<br />
pintor, instalações hidráulicas e elétricas, ladrilheiro,<br />
entre outros. Cem líderes comunitários<br />
também participaram de oficinas, com aulas<br />
de gestão e desenho urbano, planejamento e<br />
desenvolvimento de projetos, empreende<strong>do</strong>rismo,<br />
entre outras disciplinas, durante <strong>do</strong>is<br />
meses e meio, para aprenderem sobre ocupação<br />
<strong>do</strong> espaço urbano.<br />
Depois de dez oficinas ministradas pelo Serviço<br />
Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai),<br />
os líderes foram estimula<strong>do</strong>s a escolher<br />
uma área degradada de suas comunidades<br />
para desenvolver um projeto urbanístico sempre<br />
com vistas à redução da criminalidade.<br />
Atenção e Proteção às Famílias<br />
Através deste programa, cerca de 4 mil famílias<br />
das 119 comunidades <strong>do</strong> Projeto Medalha<br />
de Ouro, a maioria com histórico de violência<br />
<strong>do</strong>méstica, uso de drogas e vulnerabilidade<br />
econômica, foram orientadas por especialistas<br />
para aprender a lidar com estes problemas.<br />
Outras mil famílias freqüentaram encontros<br />
promovi<strong>do</strong>s pelo Programa Educacional de<br />
Resistência às Drogas (Proerd), cujo objetivo<br />
foi estimular o diálogo entre pais e filhos, fortalecer<br />
os laços de confiança mútua e contribuir<br />
para a solução de problemas familiares visan<strong>do</strong><br />
à prevenção e redução <strong>do</strong> uso de drogas e<br />
da violência. Para a tarefa, 70 policiais militares<br />
foram treina<strong>do</strong>s.<br />
Em paralelo a estas ações, um convênio firma<strong>do</strong><br />
entre a Senasp e o Serviço Brasileiro de<br />
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae),<br />
278
O Projeto Medalha de<br />
Ouro investiu em nove<br />
programas sociais<br />
Foto: Arquivo / Senasp<br />
em agosto de 2007, permitiu capacitar as famílias<br />
em técnicas de empreende<strong>do</strong>rismo. O projeto<br />
recebeu investimento de R$ 225.865,56<br />
para inserir mil famílias no curso Aprender a<br />
Empreender. O objetivo foi capacitar mora<strong>do</strong>res<br />
de comunidades carentes para questões<br />
relacionadas à gestão e ao funcionamento de<br />
pequenos negócios e dar oportunidade de<br />
acesso a micro crédito, pela Caixa Econômica<br />
Federal, aos participantes <strong>do</strong> curso.<br />
Atenção e Proteção a Crianças e Jovens<br />
Para fortalecer a rede de atendimento às crianças<br />
e jovens carentes, sem vínculo com a família<br />
e a comunidade, a Senasp organizou um<br />
concurso público destina<strong>do</strong> às instituições<br />
governamentais e não-governamentais que<br />
lidam com a questão no Rio de Janeiro para<br />
escolher projetos específicos volta<strong>do</strong>s para a<br />
população de rua. Vinte e <strong>do</strong>is projetos destas<br />
instituições foram seleciona<strong>do</strong>s e beneficia<strong>do</strong>s<br />
279
para serem desenvolvi<strong>do</strong>s no âmbito da realização<br />
<strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos.<br />
Como parte da mesma política, a Senasp realizou<br />
o seminário “Tecen<strong>do</strong> a Rede – Fazen<strong>do</strong><br />
Agora, Pensan<strong>do</strong> no Futuro”, em julho de 2007,<br />
no Rio de Janeiro, com a participação de entidades,<br />
líderes comunitários, representantes<br />
da sociedade civil, Justiça, conselhos de direitos<br />
(Conanda, CEDCA, CMDCA), conselhos<br />
tutelares, Defensoria Pública, profissionais das<br />
áreas de Saúde, Educação, Assistência Social<br />
e Segurança Pública.<br />
Polícia Comunitária<br />
A Senasp tem como meta habilitar 2 mil<br />
profissionais no Rio de Janeiro em policiamento<br />
comunitário, e, até o final <strong>do</strong>s Jogos, 770<br />
policiais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> haviam si<strong>do</strong> capacita<strong>do</strong>s. A<br />
finalidade <strong>do</strong> curso, realiza<strong>do</strong> em parceria com<br />
o Instituto de Segurança Pública (ISP), é orientar<br />
e estimular os policiais a interagirem com<br />
as comunidades, promoven<strong>do</strong> um ambiente<br />
de confiança mútua entre as corporações e a<br />
população, para prevenir a violência e reduzir<br />
os índices de criminalidade.<br />
Dois tipos de cursos foram promovi<strong>do</strong>s no Rio<br />
no ano de 2007: “Promotor de Polícia Comunitária”,<br />
que visou profissionais de segurança, e<br />
“Capacitação para Lideranças e Integrantes de<br />
Conselhos Comunitários”. Em junho de 2007, a<br />
Secretaria também elaborou o Seminário Panamericano<br />
de Polícia Comunitária e Segurança<br />
Cidadã, com a participação de representantes<br />
da sociedade civil organizada, lideranças, estudiosos<br />
e autoridades relacionadas à temática<br />
da segurança pública. O objetivo foi debater<br />
políticas <strong>do</strong> gênero no Brasil.<br />
Olimpíada Carioca<br />
Em parceria com o Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, através<br />
da Superintendência de Juventude da<br />
Secretaria de Esta<strong>do</strong> de Assistência Social<br />
e Direitos Humanos, a Senasp promoveu,<br />
de julho a novembro de 2007, uma Olimpíada<br />
disputada por 4.496 jovens de 85 comunidades<br />
<strong>do</strong> Rio (que abrangem 160 bairros),<br />
com idades entre 14 e 17 anos. Entre os participantes,<br />
400 defi cientes físicos, em atletismo<br />
e natação. Os a<strong>do</strong>lescentes disputaram<br />
várias modalidades, como futebol soçaite,<br />
futsal, voleibol, vôlei de praia, basquetebol,<br />
atletismo, e ainda freqüentaram ofi cinas culturais.<br />
Mora<strong>do</strong>res de diversas comunidades<br />
formaram equipes únicas, na tentativa de estimular<br />
a amizade e a convivência social entre<br />
habitantes de regiões diferentes.<br />
O torneio teve como objetivo principal aliar a<br />
prática de esportes à cidadania e à inclusão.<br />
Para isso, as competições foram realizadas<br />
em áreas públicas e tiveram as regras tradicionais<br />
modificadas como, por exemplo, jogos<br />
de futebol sem juiz, com as normas acordadas<br />
entre os participantes antes da partida. Os<br />
“atletas” podiam freqüentar treinos facultativos<br />
semanais.<br />
Gestores em Segurança Cidadã<br />
Cerca de 3.200 profissionais de segurança pública<br />
de to<strong>do</strong> o País foram capacita<strong>do</strong>s neste<br />
programa, que promoveu cursos de temáticas<br />
variadas. Os 1.348 policiais federais e 328 policiais<br />
estaduais que participaram <strong>do</strong> curso de<br />
Segurança de Dignitários fizeram a proteção<br />
de autoridades brasileiras e estrangeiras durante<br />
os Jogos.<br />
Na área de Prevenção ao Terrorismo, mais de<br />
1.300 agentes aprenderam técnicas de prevenção<br />
e controle de ameaças nucleares, bombas<br />
e explosivos. O programa também preparou<br />
policiais civis e militares de vários esta<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> País para o combate ao tráfico de armas,<br />
munições e explosivos. Mais de 100 agentes<br />
aprenderam ainda a formular e aplicar políticas<br />
públicas de segurança.<br />
280
O orçamento da segurança<br />
O<br />
s<br />
recursos <strong>do</strong> governo federal foram repassa<strong>do</strong>s pelo Ministério da Justiça à Secretaria<br />
Nacional de Segurança Pública que, por sua vez, os encaminhou aos órgãos envolvi<strong>do</strong>s<br />
na preparação da segurança <strong>do</strong>s Jogos, como a Abin (Ver quadro Aplicação<br />
<strong>do</strong>s Recursos da Abin). O Ministério gastou R$ 563 milhões:<br />
Tecnologia da informação: R$ 160 milhões;<br />
Radiocomunicação: R$ 48 milhões;<br />
Programas especiais de prevenção: R$ 52,181 milhões;<br />
Veículos e aeronaves: R$ 122 milhões;<br />
Armamento letal e não letal: R$ 14 milhões;<br />
Uniformes, suprimentos, custeio, móveis, material de informática,<br />
equipamentos para bombeiros etc.): R$ 167 milhões.<br />
APLICAÇÃO DOS RECURSOS DA ABIN<br />
DESCRIÇÃO<br />
VALOR<br />
1. Aquisição de material permanente R$ 9.079.634<br />
1.1 Veículos operacionais R$ 2.188.964<br />
1.2 Equipamentos de comunicação, áudio, vídeo e foto R$ 2.072.052<br />
1.3 Mobiliário R$ 115.487<br />
1.4 Equipamentos de informática R$ 4.703.131<br />
2. Atividades de inteligência R$ 9.488.793<br />
3. Capacitação de pessoas R$ 394.140<br />
4. Segurança da Informação e das Comunicações R$ 684.927<br />
5. Adequação da infra-estrutura tecnológica <strong>do</strong> CIJ e da Abin R$ 7.974.543<br />
5.1 Projetos básicos R$ 28.515<br />
5.2 Adequação da infra-estrutura – rede estruturada e elétrica R$ 1.939.100<br />
5.3 Aquisição de ativos de rede R$ 6.006.928<br />
6. Segurança corporativa R$ 694.497<br />
Total R$ 28.316.534<br />
281
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
282
Os lega<strong>do</strong>s<br />
Herança imaterial<br />
Os mais importantes lega<strong>do</strong>s da operação de<br />
segurança nos XV Jogos Pan-americanos Rio<br />
2007 não podem ser medi<strong>do</strong>s por números:<br />
a integração entre agentes e diversas forças<br />
de segurança e a experiência adquirida na organização<br />
de um grande evento. “Saímos <strong>do</strong><br />
Pan com uma bagagem muito maior”, atesta<br />
o coordena<strong>do</strong>r de Segurança <strong>do</strong>s Jogos, José<br />
Hilário de Medeiros. Além da Secretaria Nacional<br />
de Segurança Pública, todas as outras<br />
instituições envolvidas aprenderam, pois tiveram<br />
funcionários participan<strong>do</strong> ativamente <strong>do</strong><br />
planejamento.<br />
A Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro, por exemplo,<br />
aproveitou a oportunidade para treinar<br />
seus jovens oficiais, que ainda têm pela frente<br />
muitos anos de carreira. Quan<strong>do</strong> a Secretaria<br />
requisitou um representante da PM para participar<br />
da comissão de planejamento <strong>do</strong>s Jogos,<br />
em 2006, a corporação indicou o Major<br />
Luciano de Souza em vez de um coronel que<br />
estivesse perto de se aposentar.<br />
“O lega<strong>do</strong> da cultura de realizar grandes<br />
eventos é uma coisa boa. O major que tem 15<br />
anos de serviço ainda estará na ativa quan<strong>do</strong><br />
realizarmos a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de 2014. Escolhemos<br />
os mais novos para deixar a cultura<br />
com eles porque ainda têm 15, 20 anos de<br />
polícia”, explica o coronel Samuel Dionízio.<br />
Outros lega<strong>do</strong>s imateriais podem ser adiciona<strong>do</strong>s<br />
à lista:<br />
Depois <strong>do</strong> Pan, o Rio<br />
de Janeiro her<strong>do</strong>u mais<br />
de 500 viaturas e outros<br />
tipos de veículos<br />
283
Integração entre as forças de segurança<br />
Uma das mais importantes diretrizes para a<br />
segurança <strong>do</strong> País estabelecida pelo governo<br />
federal foi posta em prática, com sucesso,<br />
durante os Jogos Pan-americanos Rio 2007.<br />
Pela primeira vez, órgãos de segurança das<br />
três esferas federativas – União, esta<strong>do</strong> e município<br />
– trabalharam em conjunto: a parceria<br />
nascida durante o Pan entre policiais que executam<br />
funções semelhantes em corporações<br />
distintas é um <strong>do</strong>s mais importantes lega<strong>do</strong>s<br />
imateriais <strong>do</strong>s Jogos. A partir dali, o diálogo<br />
e a interação entre órgãos de inteligência, repressão,<br />
administração penitenciária, forças<br />
militares, civis e federais, tão necessários para<br />
o sucesso de operações de segurança, tornou-se<br />
mais rápi<strong>do</strong>, fácil e menos rui<strong>do</strong>so. E<br />
não se dissipará tão ce<strong>do</strong>. Mesmo dentro <strong>do</strong><br />
Rio não havia integração tão intensa entre as<br />
polícias Civil e Militar. Nos próximos eventos,<br />
e até nas tarefas <strong>do</strong> dia-a-dia, terão chances<br />
muito maiores de trabalhar integra<strong>do</strong>s.<br />
O Brasil adquiriu respeito internacional na<br />
área de segurança para grandes eventos<br />
A Abin afirma ter desenvolvi<strong>do</strong> uma meto<strong>do</strong>logia<br />
própria de análise de riscos que já foi<br />
objeto de estu<strong>do</strong> em outros países. O assessor<br />
de planejamento da agência, Luiz Alberto<br />
Sallaberry, conta que representantes <strong>do</strong>s<br />
serviços secretos da China e <strong>do</strong> México vieram<br />
ao Brasil para conhecer a participação da<br />
Abin nos Jogos. “Estivemos duas vezes em<br />
Pequim a convite <strong>do</strong> serviço chinês e participamos<br />
<strong>do</strong>s Jogos Olímpicos de 2008, a convite<br />
deles, cooperan<strong>do</strong> na área de Inteligência”,<br />
informou Sallaberry.<br />
O ex-secretário nacional de Segurança Pública<br />
Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa visitou os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
já como diretor da Polícia Federal e constatou o<br />
respeito adquiri<strong>do</strong> pelo Brasil na área. “Tivemos<br />
conversas reservadas com países de maior risco<br />
e o plano foi aprova<strong>do</strong>. A referência da minha<br />
imagem lá (nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s) ainda é essa:<br />
os Jogos Pan-americanos e o nível de segurança<br />
que o Brasil propiciou inclusive para os<br />
norte-americanos. Eles disseram: ‘Vocês não<br />
fizeram nada que nós não faríamos’”, afirma.<br />
O efeito multiplica<strong>do</strong>r da Força Nacional<br />
Na raiz da criação da Força Nacional de Segurança<br />
está a tese de que os policiais que integram<br />
a corporação, depois de participarem de<br />
treinamentos e grandes operações em várias<br />
partes <strong>do</strong> País, levam o que aprenderam para<br />
seus colegas nos esta<strong>do</strong>s. Trata-se <strong>do</strong> efeito<br />
multiplica<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s<br />
pelos agentes da Força.<br />
Uma vez em suas regiões, estes policiais tendem<br />
a manter a conduta exemplar porque, se<br />
cometerem algum desvio ou arbitrariedade,<br />
não serão convoca<strong>do</strong>s novamente. Por ocasião<br />
<strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos não foi diferente:<br />
“Um importante lega<strong>do</strong> que podemos<br />
destacar é a qualificação <strong>do</strong> efetivo durante o<br />
Pan”, afirma o comandante da Força, coronel<br />
Luiz Antônio Ferreira. E na eventual realização<br />
de um próximo grande evento como os Jogos,<br />
o Brasil contará com a mão-de-obra de agentes<br />
policiais já experientes.<br />
Criação de canal de interlocução com as<br />
comunidades carentes <strong>do</strong> Rio<br />
A capacitação de 155 líderes comunitários de<br />
119 favelas <strong>do</strong> Rio de Janeiro e a estreita ligação<br />
entre eles e a Secretaria Nacional de<br />
Segurança Pública, relação esta promovida<br />
no âmbito <strong>do</strong>s Jogos, legaram ao Governo Federal<br />
um canal que, ainda que não possa ser<br />
considera<strong>do</strong> permanente – porque precisa ser<br />
estimula<strong>do</strong> frequentemente para ser manti<strong>do</strong>,<br />
é de fundamental utilidade para a efetivação<br />
da política de Segurança Cidadã.<br />
Lega<strong>do</strong>s materiais<br />
No dia 13 de novembro de 2007, o ministro da<br />
Justiça, Tarso Genro, anunciou oficialmente<br />
o que ficaria no Rio como lega<strong>do</strong> material da<br />
segurança nos Jogos: entre os equipamentos,<br />
mais de 500 viaturas e outros tipos de veículos,<br />
armamentos letais e não letais, coletes, capacetes,<br />
material de perícia, uniformes, mais de<br />
1.300 câmeras <strong>do</strong> sistema de segurança e rádios<br />
comunica<strong>do</strong>res criptografa<strong>do</strong>s que, para<br />
o coronel Samuel Dionizio, são algumas das<br />
melhores aquisições: “É um <strong>do</strong>s sistemas de<br />
rádio mais avança<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”.<br />
284
Entre os mais importantes lega<strong>do</strong>s da segurança<br />
<strong>do</strong> evento para o Rio e para o País está<br />
a área de tecnologia. Para o coordena<strong>do</strong>r de<br />
segurança <strong>do</strong>s Jogos, José Hilário, o Centro de<br />
Coman<strong>do</strong> e Controle, que também ficou no Rio,<br />
“é o mais moderno da América Latina”. O Centro<br />
de Inteligência <strong>do</strong>s Jogos (CIJ) se tornou a<br />
sede da Superintendência da Abin no Esta<strong>do</strong>.<br />
A integração <strong>do</strong>s sistemas de monitoramento<br />
de câmeras muda a forma como se fazia este<br />
tipo de controle na cidade. “Antes havia uma individualização<br />
destes equipamentos, a Defesa<br />
Civil, a Polícia Militar, a CET-Rio, por exemplo,<br />
trabalhavam individualmente”, explica Hilário.<br />
Em entrevista ao “Jornal <strong>do</strong> Brasil” em maio<br />
de 2008, o secretário de Segurança Pública <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame,<br />
destacou a importância <strong>do</strong>s equipamentos<br />
herda<strong>do</strong>s. “O material de inteligência está<br />
funcionan<strong>do</strong> 100%. São softwares de cruzamento<br />
de da<strong>do</strong>s e de informações, um banco<br />
de da<strong>do</strong>s de inquéritos e processos judiciais.<br />
As grandes operações vistas por aí vêm desta<br />
inteligência. Planejamos antes <strong>do</strong> Pan que<br />
estes equipamentos viessem de acor<strong>do</strong> com<br />
nossa necessidade para depois <strong>do</strong>s Jogos”,<br />
disse Beltrame.<br />
Nos quadros a seguir, é possível comprovar<br />
que, para além de realizar a elogiada segurança<br />
<strong>do</strong> Rio 2007, o governo federal, aproveitan<strong>do</strong><br />
a oportunidade <strong>do</strong> evento esportivo,<br />
incrementou e modernizou instituições de<br />
segurança na cidade-sede e em to<strong>do</strong> o País.<br />
Os equipamentos e aparelhagens usa<strong>do</strong>s nos<br />
Jogos tiveram por destino <strong>do</strong>tar as polícias e<br />
outras forças de segurança com infra-estrutura<br />
nova, complementar e adequada, como aeronaves<br />
e veículos, armamentos e munições,<br />
equipamentos de perícia e prevenção, radiocomunica<strong>do</strong>res,<br />
redes de internet banda larga,<br />
uniformes e coletes, materiais e acessórios especiais<br />
e móveis, entre inúmeros outros, que<br />
foram redistribuí<strong>do</strong>s após o evento.<br />
Dos cerca de 1.600 computa<strong>do</strong>res utiliza<strong>do</strong>s<br />
na montagem <strong>do</strong> sistema de segurança <strong>do</strong><br />
Pan, por exemplo, 1.000 ficaram com a Secretaria<br />
Nacional de Segurança Pública (Senasp)<br />
para seu próprio aparelhamento ou para distribuição<br />
entre outros órgãos da União; 200 computa<strong>do</strong>res<br />
serviram para equipar a nova sede<br />
da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no<br />
Rio; 80 foram destina<strong>do</strong>s à Polícia Civil <strong>do</strong> Rio,<br />
que também recebeu cinco notebooks; e outros<br />
sete ficaram com o Centro de Formação<br />
Aeropolicial <strong>do</strong> Brasil (Cefaer). Mais informações<br />
no capítulo sobre Tecnologia.<br />
A seguir, exemplos da distribuição, feita para<br />
órgãos de segurança federais, para o Esta<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> Rio de Janeiro e para os demais 26 esta<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> Brasil e o Distrito Federal.<br />
Foto: Arquivo / Senasp<br />
O moderno Centro de<br />
Inteligência: nova sede<br />
da Abin no esta<strong>do</strong><br />
285
PRINCIPAIS ITENS DE SEGURANÇA DOS JOGOS RIO 2007<br />
Item *<br />
Quantitativo<br />
Armamento letal (carabina, pistola, fuzil, munição, etc.) 1.655.137<br />
Uniformes, peças (fardamentos, camisetas, botas, coldres, etc.) 85.205<br />
Armamento não letal (granadas, cartuchos, sprays, etc.) 25.077<br />
Veículos (incluem-se microônibus, furgões, ambulâncias, utilitários, motocicletas e vans) 1.805<br />
Equipamentos para cães de faro (canil, holofote, protetor auricular, chaves, marretas, alicates, etc.) 810<br />
Mobília (mesas, cadeiras, armários, estantes, colchões, etc.) 21.347<br />
Algema plástica descartável 20.000<br />
Radiocomunica<strong>do</strong>r 15.446<br />
Colete balístico 11.600<br />
Capacetes 1.500<br />
Equipamentos para bombeiros (mangueiras, extintores de incêndio, desfi brila<strong>do</strong>res, colares cervicais, nadadeiras,<br />
óculos de proteção solar, cordas, acessórios especiais, etc.)<br />
6.608<br />
Lanterna tática 3.000<br />
Bastão antitumulto 3.000<br />
Luva de proteção 1.000<br />
Equipamentos antibomba 423<br />
Detector de metal móvel (raquetes) 437<br />
Detector de metal fi xo (pórticos) 359<br />
Detector de metais portátil antibomba 70<br />
Sistema de inspeção por raio-X 153<br />
Estação de radiocomunicação ERB (fi xas, portáteis e transportáveis) 22<br />
Aeronaves 7<br />
Equipamentos de controle de acessos 949<br />
Microscópio para comparação balística com sistema de captura de imagens 3<br />
Simula<strong>do</strong>r sintético de vôo para aviões 1<br />
Bloquea<strong>do</strong>r de radiofreqüência de celulares ou outros aparelhos que utilizem ondas de rádio 1<br />
Fonte: Secretaria Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça - Senasp/MJ<br />
* Consultar também o item sobre computa<strong>do</strong>res no capítulo de Tecnologia<br />
EXEMPLOS DE LEGADOS PARA O RIO DE JANEIRO, POR INSTITUIÇÃO<br />
Secretaria de Segurança <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro - SESEG/RJ<br />
17 veículos, 82 radiocomunica<strong>do</strong>res, 12 estações de radiocomunicação,<br />
7 redes de banda larga, 70 subsistemas de da<strong>do</strong>s móveis<br />
Polícia Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro - PMERJ<br />
100 mil munições, 5.360 armamentos não letais, 3.429 coletes, 800 pistolas, 200 carabinas, 276 veículos,<br />
3.956 radiocomunica<strong>do</strong>res, 1 subsistema de gestão de incidentes<br />
Polícia Civil <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro - PCERJ<br />
30 mil munições, 174 veículos, 1.560 radiocomunica<strong>do</strong>res, 300 pistolas, 985 coletes, 50 capacetes,<br />
83 equipamentos antibomba, 70 equipamentos para bombeiros (acessórios para mergulho)<br />
Corpo de Bombeiros Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro - CBMERJ<br />
6.200 equipamentos para bombeiros (mangueiras, extintores de incêndio, desfi brila<strong>do</strong>res, acessórios etc),<br />
1.206 radiocomunica<strong>do</strong>res, 39 veículos, 9.500 peças de uniformes, 1 subsistema de gestão de incidentes<br />
Superintendência de Telecomunicações <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio - Detel/RJ<br />
554 radiocomunica<strong>do</strong>res<br />
Defesa Civil <strong>do</strong> Município <strong>do</strong> Rio de Janeiro - DCMRJ<br />
349 radiocomunica<strong>do</strong>res, 6 veículos<br />
Companhia de Engenharia de Tráfego - CET-Rio<br />
19 radiocomunica<strong>do</strong>res, 3 veículos<br />
Guarda Municipal <strong>do</strong> Rio de Janeiro - GM-Rio<br />
1.037 radiocomunica<strong>do</strong>res, 23 veículos<br />
Fonte: Secretaria Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça - Senasp/MJ.<br />
286
EXEMPLOS DE LEGADOS DISTRIBUÍDOS PARA OUTROS ESTADOS<br />
Item *<br />
Quantitativo<br />
Algemas 6.900<br />
Munições 3.540<br />
Radiocomunica<strong>do</strong>res 2.548<br />
Uniformes, peças 1.035<br />
Veículos 690<br />
Aeronaves 6<br />
Equipamentos para cães de faro (canil, holofote, protetor auricular, etc.) 539<br />
Coletes balísticos 345<br />
Bastões antitumulto 345<br />
Kits táticos operacionais (granadas, cartuchos, munições e projetéis não letais)<br />
260 (10 por esta<strong>do</strong>, exceto Rio)<br />
Equipamentos aeropoliciais 255<br />
Cones de sinalização 150<br />
Detectores de metal móveis (raquetes) 96<br />
Detectores de metal fi xos (pórticos) 84<br />
Sistemas de inspeção raio-X 56<br />
Equipamentos de controle de acessos 232<br />
Binóculos 30<br />
Eletroeletrônicos (cardioversor, oxímetro, bomba de infusão) 18<br />
Megafones 15<br />
Equipamentos de bombeiros (desencarcera<strong>do</strong>res) 15<br />
Subsistemas de vigilância por câmeras 3<br />
Subsistemas de gestão de incidentes 1<br />
Fonte: Secretaria Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça - Senasp/MJ.<br />
* Consultar também o item sobre computa<strong>do</strong>res no capítulo de Tecnologia<br />
INSTITUIÇÕES FEDERAIS CONTEMPLADAS<br />
Departamento de Polícia Federal, Ministério da Justiça - DPF/MJ<br />
600 coletes balísticos, 407 detectores de metais, 172 equipamentos antibomba, 133 veículos, 59 sistemas de inspeção raio-X,<br />
40 subsistemas de da<strong>do</strong>s móveis, 1 subsistema de controle de acesso, 466 equipamentos de controle de acessos<br />
Departamento de Polícia Ro<strong>do</strong>viária Federal, Ministério da Justiça - DPRF/MJ<br />
29 mil munições, 4.269 peças de uniformes, 1.458 radiocomunica<strong>do</strong>res, 230 veículos, 198 detectores de metais, 100 carabinas,<br />
575 armamentos não letais, 1.640 móveis, 40 subsistemas de da<strong>do</strong>s móveis, 229 equipamentos de controle de acessos<br />
Força Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça - FNSP/MJ<br />
1 helicóptero esquilo, 1.491.000 munições, 2.150 pistolas, 1.227 carabinas, 15.335 armamentos não letais, 69.021 peças de uniformes,<br />
2.621 radiocomunica<strong>do</strong>res, 13.100 algemas, 180 subsistemas de da<strong>do</strong>s móveis, 192 veículos, 6.241 coletes, 1.450 capacetes,<br />
19.460 móveis, 221 equipamentos para cães de faro, 168 equipamentos antibomba, 35 megafones, 1.000 luvas, 3.000 lanternas,<br />
2.655 bastões antitumulto, 3 estações de radiocomunicação<br />
Secretaria Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça - SENASP/MJ<br />
1.220 uniformes, 55 radiocomunica<strong>do</strong>res, 15 detectores de metais, 7 sistemas de inspeção raio-X, 14 veículos,<br />
20 subsistemas de da<strong>do</strong>s móveis, 5 estações de radiocomunicação, 22 equipamentos de controle de acessos<br />
Centro de Formação Aeropolicial <strong>do</strong> Brasil, Ministério da Justiça - CEFAer/MJ<br />
1 simula<strong>do</strong>r sintético de vôo para aviões, 160 móveis, 8 veículos<br />
Fonte: Secretaria Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça - Senasp/MJ.<br />
287
Entrevista – Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa<br />
Qual foi o grande sucesso <strong>do</strong> planejamento<br />
de segurança no Pan?<br />
Os conceitos da política de segurança <strong>do</strong> governo<br />
federal foram aplica<strong>do</strong>s, e isto foi realmente<br />
um sucesso. Colocamos em prática o<br />
que até então era uma tese. O Pan deu visibilidade<br />
para o trabalho de integração que o<br />
governo vinha promoven<strong>do</strong>, mostrou que era<br />
viável unir policiais de to<strong>do</strong> o País e <strong>do</strong>s três<br />
níveis de administração pública. Além disso,<br />
fomos muito felizes no casamento entre prevenção<br />
e repressão e ainda trouxemos novos<br />
conceitos de policiamento, como a polícia não<br />
armada nos locais de competição. Investimos<br />
em um policiamento intenso, com visibilidade,<br />
mas sem agressividade, e em ações de relacionamento<br />
com a população. Não interferimos<br />
na rotina da cidade. O aparato estava a postos<br />
sem constranger o cidadão. Em paralelo,<br />
construímos canais de diálogo com as comunidades<br />
carentes, envolvemos estas populações<br />
em ações de prevenção da violência. Ou seja,<br />
o Pan nos deu a oportunidade de materializar<br />
nossa política de segurança.<br />
A segurança cidadã é um <strong>do</strong>s principais<br />
pilares desta política?<br />
Sim. É política pública: criar lideranças e canais<br />
de diálogo Esta<strong>do</strong>-cidadão. O jovem carente se<br />
sentiu parte <strong>do</strong> Pan. Um <strong>do</strong>s nossos objetivos<br />
era fazer com que ele pensasse: “Estou nesse<br />
processo”. Essa é a grande lição que os Jogos<br />
deixam para a segurança pública. As pessoas<br />
se preocupam com os lega<strong>do</strong>s de equipamentos,<br />
mas o avanço na relação Esta<strong>do</strong>-cidadão<br />
foi fundamental. A tranqüilidade que vivemos<br />
em relação à segurança passou por isso, além<br />
<strong>do</strong> aparato policial. A população se sentiu parte<br />
da festa. O conceito tradicional era de exclusão<br />
e de contenção, canhões nas ruas. Quebramos<br />
este paradigma. E o ministro da Justiça, Tarso<br />
Genro, lançou o Programa Nacional de Segurança<br />
Cidadã (Pronasci), que traz os mesmos<br />
projetos. As metas <strong>do</strong> Pronasci são infinitamente<br />
maiores que 10,5 mil guias cívicos. As<br />
lideranças que formamos serão aproveitadas,<br />
porque já mantêm uma relação de confiança<br />
com o Esta<strong>do</strong>.<br />
Pode-se dizer que a tarefa mais difícil da<br />
Senasp foi integrar as forças policiais?<br />
Quan<strong>do</strong> se fala em integração e trabalho articula<strong>do</strong>,<br />
fala-se em questões culturais, como as<br />
brigas históricas entre policiais militares e civis<br />
em to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s. As instituições têm me<strong>do</strong><br />
de se sentirem invadidas nas suas atribuições.<br />
Era preciso habilidade para conduzir este processo.<br />
Nos Jogos, além de agentes de to<strong>do</strong>s<br />
os esta<strong>do</strong>s, trouxemos um fator novo: a Força<br />
Nacional. Sempre que atuamos com a Força,<br />
por exemplo, a PM local se sente desprestigiada.<br />
Para lidar com isso, reunimos especialistas<br />
e previmos todas as missões que teríamos<br />
no Pan-americano. Depois, distribuímos estas<br />
missões, usan<strong>do</strong> a idéia de força-tarefa. Pedi<br />
para a Secretaria de Segurança <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
Rio um representante da PM e um da Polícia<br />
Civil, com capacidade de planejamento. Eu disse:<br />
“Não vou intervir. Vocês nos dizem o que<br />
é um grande evento no Rio e vamos agregar<br />
Foto: Arquivo / Senasp<br />
Secretário nacional de Segurança Pública à época<br />
<strong>do</strong>s Jogos, Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa foi o principal<br />
responsável pelo planejamento e pela execução<br />
das ações de segurança. Defensor ferrenho<br />
da idéia de que não basta combater a violência, é<br />
preciso preveni-la, implantou a Segurança Cidadã,<br />
enfrentou e venceu o desafio de integrar órgãos e<br />
agentes de várias instituições e partes <strong>do</strong> País e<br />
aju<strong>do</strong>u a garantir um Pan seguro. Gaúcho saí<strong>do</strong> das<br />
hostes da Polícia Federal, instituição da qual hoje é<br />
diretor geral, diz que o Brasil está prepara<strong>do</strong> para<br />
qualquer evento esportivo internacional: “Formamos<br />
um banco de talentos”.<br />
288
a experiência e a capacidade da União para<br />
colaborar”. Pessoas que antes se olhavam<br />
com desconfiança viraram uma grande família.<br />
Não falamos em coman<strong>do</strong>, e sim em sistema<br />
e coordenação. Havia uma sala de coman<strong>do</strong> e<br />
controle com representantes de todas as instituições<br />
e alguém com poder para tomar decisões.<br />
Tenho por norma que o serviço público é<br />
uno. Dividimos em União, Esta<strong>do</strong> e município<br />
por uma questão de organização. Mas o cidadão<br />
não abre a Constituição para saber a quem<br />
recorrer. Ele quer segurança e pronto, não interessa<br />
se é Guarda Civil, Bombeiro, PM, ele<br />
quer o serviço. Temos que nos entender assim.<br />
A idéia foi mostrar que o serviço único de segurança<br />
estava posto para os Jogos. Esta foi a<br />
mudança de conceito. O pessoal envolvi<strong>do</strong> entendeu<br />
que é possível trabalhar junto. Cada um<br />
tem seu papel. Jamais arranhamos atribuições.<br />
Para o senhor, os R$ 563 milhões investi<strong>do</strong>s<br />
na segurança, assim como os lega<strong>do</strong>s<br />
deixa<strong>do</strong>s para o Rio e o País, foram suficientes?<br />
Na hora de planejar, to<strong>do</strong>s tentam solucionar<br />
seus problemas históricos. Mas trouxemos<br />
para a realidade não só o objetivo de <strong>do</strong>tar as<br />
instituições com o necessário para cumprir seu<br />
papel dentro <strong>do</strong> plano, como também deixar<br />
um lega<strong>do</strong> sistêmico. A idéia era deixar o País<br />
mobilizável e com as instituições mais capacitadas.<br />
Por exemplo: o Rio tem agora um <strong>do</strong>s<br />
mais modernos sistemas de rádio <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />
Para 2014, será preciso acrescentar poucas<br />
coisas. Era preciso não apenas fazer um plano<br />
para garantir os Jogos, mas deixar um lega<strong>do</strong><br />
que continuasse a servir para a prestação <strong>do</strong><br />
serviço de segurança. Depois, garantimos uma<br />
melhor prestação no serviço rotineiro. Sempre<br />
é necessário investir. Quanto mais gastarmos,<br />
melhor. Mas foi suficiente. Além da preocupação<br />
<strong>do</strong> gasto sistêmico, tínhamos que demonstrar<br />
uma capacidade de execução que<br />
credenciasse o Brasil para os próximos grandes<br />
eventos. Eram jogos continentais, demos<br />
um tratamento de Olimpíadas. Isso chamou a<br />
atenção de vários países. Tivemos conversas<br />
reservadas com países de maior risco e o plano<br />
foi aprova<strong>do</strong>. Visitei os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e a<br />
referência da minha imagem lá ainda são os<br />
Jogos e o nível de segurança que o Brasil propiciou.<br />
Eles me disseram: “Vocês não fizeram<br />
nada que nos não faríamos”.<br />
Qual foi sua maior dificuldade como planeja<strong>do</strong>r<br />
e executor <strong>do</strong> plano de segurança?<br />
Lidar com a demora na liberação de recursos.<br />
Esse é o embate mais difícil para qualquer<br />
gestor público. A dificuldade burocrática nos<br />
consome. As ordens empacavam. Perdemos<br />
quase um semestre na burocracia e com licitações<br />
mais complexas. Se a máquina tivesse<br />
imediatamente passa<strong>do</strong> a cumprir a determinação<br />
<strong>do</strong> presidente da República, nosso prazo<br />
teria si<strong>do</strong> mais folga<strong>do</strong>. Mas superamos com a<br />
dedicação <strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>res.<br />
Como avalia a atuação da Agência Brasileira<br />
de Informação (Abin)?<br />
O papel da Abin foi muito importante. É o órgão<br />
através <strong>do</strong> qual o Brasil fala para o mun<strong>do</strong>,<br />
com as agências de inteligência internacionais.<br />
Foi uma instituição parceira de primeira hora e<br />
teve papel fundamental, mobilizan<strong>do</strong> a inteligência<br />
<strong>do</strong>s países participantes. Promovemos<br />
um encontro na cidade de Teresópolis, no Rio,<br />
onde estiveram presentes todas as agências<br />
que mantinham a Abin informada. O órgão<br />
nos apresentava relatórios de análise de risco<br />
e pautava a nossa orientação. É difícil o reconhecimento<br />
público para a área de inteligência,<br />
mas quem é <strong>do</strong> ramo sabe como é importante.<br />
Tanto que se gastou um bom dinheiro na estrutura<br />
<strong>do</strong> Centro de Inteligência <strong>do</strong>s Jogos, um<br />
importante lega<strong>do</strong> para o Rio.<br />
O que o senhor faria diferente em um<br />
possível grande evento que o País venha a<br />
abrigar?<br />
Apenas planejaria com mais antecedência para<br />
fazer melhor. Mas agora temos experiência e conhecimento.<br />
Este é um importante lega<strong>do</strong>: uma<br />
massa crítica espalhada pelo País. Tínhamos<br />
até guardas municipais de São Paulo, Recife,<br />
Porto Alegre, policiais militares, civis, ro<strong>do</strong>viários,<br />
agentes de to<strong>do</strong> o Brasil fazen<strong>do</strong> de tu<strong>do</strong><br />
nesse planejamento. Se o País precisar daqui a<br />
dez meses, temos um banco de talentos.<br />
289
CIDADE MARAVILHOSA.<br />
E PROTEGIDA POR TERRA, CÉU E MAR<br />
N<br />
enhum<br />
incidente de violência abalou os XV Jogos Pan-americanos. Graças ao planejamento e<br />
à execução das ações de segurança, comanda<strong>do</strong>s pelo Ministério da Justiça através da Secretaria<br />
Nacional de Segurança Pública (Senasp), a Família Pan-americana viveu no Rio de Janeiro<br />
dias de absoluta tranqüilidade.<br />
Como aborda<strong>do</strong>, o clima de confraternização foi garanti<strong>do</strong> pelo zelo ininterrupto de milhares de policiais,<br />
vin<strong>do</strong>s de to<strong>do</strong> o País, muni<strong>do</strong>s de equipamentos e sistemas de informação de alta tecnologia. Nenhuma<br />
área de interesse para o evento, por onde circularam atletas, público e delegações, escapou <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s<br />
das dezenas de centros de segurança instala<strong>do</strong>s e equipa<strong>do</strong>s pelo governo federal. Como resulta<strong>do</strong>, quedas<br />
nos índices de criminalidade durante os Jogos. A seguir, o esquema de operações.<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
290
Avaliação<br />
O QUE DEU CERTO<br />
11 <strong>do</strong>s 16 índices de violência caíram na capital em relação<br />
ao mês anterior aos Jogos;<br />
O sucesso <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong> CIJ provou o acerto <strong>do</strong> modelo utiliza<strong>do</strong>.<br />
A ação foi bem coordenada entre inteligência e órgãos de repressão;<br />
A inauguração, na prática, <strong>do</strong> modelo de Segurança Cidadã, deu certo.<br />
O conceito teve excelente aceitação, em face <strong>do</strong>s bons resulta<strong>do</strong>s da segurança nos Jogos, junto à sociedade e a<br />
outros países. Os projetos sociais formaram milhares de mora<strong>do</strong>res de comunidades carentes;<br />
Os equipamentos adquiri<strong>do</strong>s, embora com atraso, são de última geração, fato aponta<strong>do</strong> por profissionais da<br />
segurança pública envolvi<strong>do</strong>s com a preparação <strong>do</strong>s Jogos;<br />
A atuação da Força Nacional durante os Jogos foi bem-sucedida;<br />
A integração, inédita até então, entre os diferentes órgãos e instituições<br />
de segurança pública <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro e <strong>do</strong> País<br />
ocorreu sem ruí<strong>do</strong>s ou interferências.<br />
O QUE PODERIA SER MELHOR<br />
Os atrasos de até três meses nos pagamentos <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong>s cursos de Guias Cívicos levaram à desistência de<br />
muitos. Dos 10,5 mil alunos, 6,5 mil foram habilita<strong>do</strong>s a trabalhar durante os Jogos;<br />
A Abin só começou a receber os recursos a partir <strong>do</strong> primeiro trimestre de 2006. A Agência considerou curto o<br />
tempo de um ano e meio antes <strong>do</strong>s Jogos para executar compras e ampliar operações;<br />
A falta de pessoal contrata<strong>do</strong> pelo CO-Rio, responsável pela checagem<br />
das credenciais nas instalações, causou problemas nos primeiros dias. A Força Nacional assumiu a tarefa, que não<br />
era dela, para garantir a segurança <strong>do</strong>s locais. Mas não estava treinada nem preparada para a função.<br />
SUGESTÕES<br />
É necessário entrar na fase de execução, no mínimo,<br />
quatro anos antes <strong>do</strong> evento. As compras, segun<strong>do</strong> José Hilário de Medeiros, devem começar, pelo menos,<br />
<strong>do</strong>is anos antes, para que as pessoas sejam treinadas adequadamente;<br />
Para eventos futuros, o coordena<strong>do</strong>r de Segurança <strong>do</strong>s Jogos<br />
também recomenda que se “redistribuam delegacias e aumente o policiamento comunitário”;<br />
Aumenta cada vez mais o número de adeptos da tese de que, nas áreas internas das instalações, a segurança<br />
deve ser privada, assim como em cinemas, teatros e casas de shows.<br />
A medida desoneraria o poder público, que fi caria com a atuação em escala reduzida,<br />
e não eliminada por completo, no caso de grandes eventos;<br />
É preciso que os órgãos de segurança sejam consulta<strong>do</strong>s sobre os locais onde se pretendem construir<br />
equipamentos esportivos porque, eventualmente, o espaço urbano ao re<strong>do</strong>r da instalação precisa ser<br />
readequa<strong>do</strong> para dar condições de acesso aos agentes e equipamentos<br />
de segurança em caso de emergência;<br />
O ideal é que o planejamento logístico seja feito em conjunto<br />
com o de segurança desde o início, para que ajustes de última hora não sejam necessários;<br />
Os uniformes das polícias podem ser readequa<strong>do</strong>s.<br />
“Houve uma evolução da sociedade e temos uma polícia com o fardamento inadequa<strong>do</strong> para determina<strong>do</strong>s<br />
locais, como, por exemplo, o coturno dentro das instalações”, conclui José Hilário;<br />
Para Daniel Sampaio, da Polícia Federal, a instituição precisa estar melhor preparada para grandes eventos.<br />
“Trabalhamos na base <strong>do</strong> improviso”. Por isso, sugere que seja criada<br />
uma unidade de grandes eventos dentro da PF, “assim teremos estrutura e conhecimento sobre como fazer.<br />
Planejaremos com antecedência”, diz.<br />
295
3<br />
CENTROS REGIONAIS<br />
Complexo Esportivo<br />
Miécimo da Silva<br />
Subordina<strong>do</strong>s ao COS, monitoravam<br />
e garantiam a segurança das<br />
proximidades de todas as instalações<br />
A - Copacabana<br />
B - Campo Grande<br />
C - Vila <strong>do</strong> Pan<br />
D - Avenida Ayrton Senna, 2001<br />
E - Autódromo<br />
F - Aterro<br />
G - Maracanã<br />
H - Linha Vermelha, KM 6<br />
I - Recreio <strong>do</strong>s Bandeirantes<br />
B<br />
MÓDULOS OPERACIONAIS DE COMANDO<br />
Instala<strong>do</strong>s dentro <strong>do</strong>s batalhões de Polícia<br />
Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro, eram forma<strong>do</strong>s<br />
por equipes de policiais designa<strong>do</strong>s para<br />
cuidar apenas das ocorrências<br />
relacionadas aos Jogos<br />
1 - Botafogo<br />
2 - Méier<br />
3 - Bangu<br />
4 - Ilha <strong>do</strong><br />
Governa<strong>do</strong>r<br />
5 - Jacarepaguá<br />
6 - Copacabana<br />
7 - Maré<br />
8 - Leblon<br />
9 - Tijuca<br />
Parque Nacional<br />
da Pedra Branca<br />
Centro de Inteligência<br />
e Serviços Estrangeiros<br />
(Cises)<br />
A Abin controlava este<br />
centro, responsável por<br />
informações sobre<br />
indivíduos e organizações<br />
estrangeiros nas áreas de<br />
terrorismo, crime<br />
organiza<strong>do</strong> e outras<br />
ameaças à segurança<br />
<strong>do</strong>s Jogos<br />
Centro de<br />
Futebol Zico<br />
I<br />
Av. das<br />
Américas<br />
292<br />
RECREIO DOS<br />
BANDEIRANTES
Av. Brasil<br />
Clube<br />
Marapendi<br />
DEODORO<br />
Es<br />
Ha<br />
5<br />
Linha Amarela<br />
Floresta da Tijuca<br />
R<br />
Morro<br />
<strong>do</strong> Outeiro<br />
E<br />
C<br />
Av. Salva<strong>do</strong>r<br />
Allende<br />
Complexo<br />
Esportivo<br />
Riocentro<br />
Cidade<br />
<strong>do</strong> Rock<br />
Complexo Cidade<br />
<strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s<br />
BARRA DA TIJUCA<br />
D<br />
Barra Bowling<br />
Av. Lúcio Costa<br />
293
Aeroporto<br />
Internacional<br />
Linha Vermelha<br />
ILHA DO GOVERNADOR<br />
4<br />
Centro de Coman<strong>do</strong><br />
e Controle<br />
Av. Brasil<br />
Linha Amarela<br />
Estádio João<br />
Havelange<br />
7<br />
H<br />
Centro de Inteligência<br />
<strong>do</strong>s Jogos (CIJ)<br />
Coordena<strong>do</strong> pela Agência<br />
Brasileira de Informações<br />
(Abin), reuniu 27 órgãos<br />
públicos e abrigou cerca<br />
de 250 profissionais, em<br />
regime de <strong>do</strong>is turnos,<br />
24 horas por dia<br />
Ponte Rio-Niterói<br />
No prédio da Central <strong>do</strong><br />
Brasil, onde funciona a<br />
Secretaria Estadual de<br />
Segurança Pública, foram<br />
integra<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os<br />
sistemas de monitoramento<br />
<strong>do</strong> evento. Ali estavam os<br />
computa<strong>do</strong>res usa<strong>do</strong>s<br />
no controle de imagens,<br />
da<strong>do</strong>s e voz; e funcionava<br />
o sistema de interceptação<br />
telefônica mais avança<strong>do</strong><br />
da América Latina.<br />
Por ali também passava o<br />
controle de rastreamento<br />
de veículos, ocorrências<br />
policiais e informações<br />
sobre pessoas. Câmeras<br />
monitoravam 1.800 pontos<br />
da cidade. O Centro, que<br />
continua funcionan<strong>do</strong>, foi<br />
um <strong>do</strong>s lega<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Jogos<br />
2<br />
9<br />
G<br />
MARACANÃ<br />
Complexo Esportivo<br />
<strong>do</strong> Maracanã<br />
Av.<br />
Presidente<br />
Vargas<br />
CENTRO<br />
Marina da Glória<br />
Baía de<br />
Guanabara<br />
Aeroporto<br />
Santos Dumont<br />
Centro de Operações<br />
de Segurança (COS)<br />
O C<br />
SEG<br />
NO<br />
Rua Conde<br />
de Bonfim<br />
Cristo<br />
Redentor<br />
Parque <strong>do</strong><br />
Flamengo<br />
1<br />
F<br />
Coração da segurança<br />
<strong>do</strong>s Jogos, fez to<strong>do</strong> o<br />
planejamento <strong>do</strong> evento e<br />
reunia todas as instituições<br />
brasileiras de segurança<br />
pública e Comissões<br />
Especiais: Antibombas,<br />
Conportos, Aeropolicial<br />
e de Cães Fareja<strong>do</strong>res<br />
Pão de Açúcar<br />
COPACABANA<br />
Estádio de<br />
Remo da Lagoa<br />
Clube Caiçaras<br />
6<br />
A<br />
Praia de<br />
Copacabana<br />
8<br />
Av. Niemeyer<br />
Oceano Atlântico<br />
294
A REDE DE PROTEÇÃO<br />
Programas<br />
Especiais de<br />
Prevenção:<br />
R$ 52,1<br />
milhões<br />
Veículos e<br />
aeronaves:<br />
R$ 122<br />
milhões<br />
Armamentos:<br />
R$ 14<br />
milhões<br />
1.805 veículos<br />
incluem-se microônibus, furgões, ambulâncias,<br />
utilitários, motocicletas e vans) georreferencia<strong>do</strong>s<br />
por GPS<br />
13 aeronaves<br />
(helicópteros e motoplana<strong>do</strong>res) - sen<strong>do</strong> 7 novas<br />
Mais de 20 mil agentes policiais de todas as forças<br />
15.400 rádios digitais fixos, móveis e portáteis<br />
Radiocomunicação:<br />
R$ 48 milhões<br />
Tecnologia<br />
da informação:<br />
R$ 160 milhões<br />
Uniformes,<br />
suprimentos, custeio,<br />
móveis, material de<br />
informática, equipamentos<br />
para bombeiros etc.:<br />
R$ 167 milhões<br />
120 cães fareja<strong>do</strong>res<br />
28 bancos de da<strong>do</strong>s criminais interliga<strong>do</strong>s<br />
36 locais para transmissão e recepção de sinais<br />
1.650.000 itens de armamento letal (carabina,<br />
pistola, fuzil, munição, etc.)<br />
25.000 itens de armamento não letal (granadas,<br />
cartuchos, sprays, etc.)<br />
1.600 computa<strong>do</strong>res<br />
1.227 antenas para cobertura da região<br />
metropolitana<br />
O CUSTO DA<br />
SEGURANÇA<br />
NOS JOGOS<br />
Governo<br />
Federal:<br />
R$ 563,1<br />
milhões<br />
1.500 novas câmeras<br />
de monitoramento (somadas<br />
às já existentes resultaram<br />
em 1.800 pontos)<br />
9 programas sociais<br />
de promoção<br />
da cidadania<br />
e prevenção<br />
à criminalidade<br />
A REDE DE PROTEÇÃO<br />
Centro de<br />
Operações<br />
Centro de<br />
Inteligência<br />
Centro de Logística<br />
e Segurança<br />
Autódromo Ayrton Senna Vila <strong>do</strong> Pan Copa Campo Grande Aterro Maracanã Vias expressas<br />
295
TECNOLOGIA, A DEUSA<br />
DOS JOGOS MODERNOS<br />
Na história, poucos fatores determinaram o sucesso<br />
ou o fracasso de um evento esportivo tanto quanto<br />
o aparato tecnológico. No Rio 2007, as marcas<br />
foram a eficácia e o lançamento de novos recursos.<br />
296
O ministro Orlan<strong>do</strong> Silva Jr., o presidente<br />
Lula, o governa<strong>do</strong>r Sérgio Cabral Filho<br />
e o ex-secretário de Fazenda <strong>do</strong> Rio<br />
Francisco Almeida e Silva inauguram o<br />
Centro de Operações Tecnológicas <strong>do</strong> Pan:<br />
rigor e precisão para proteger e divulgar<br />
informações <strong>do</strong>s Jogos<br />
Foto: Ricar<strong>do</strong> Stuckert / Presidência da República<br />
297
Tecnoogia e esporte: uma antiga parceria<br />
O<br />
s Jogos Olímpicos, no início, eram<br />
dedica<strong>do</strong>s a Zeus, o pai de to<strong>do</strong>s<br />
os deuses na mitologia grega.<br />
Desde o primeiro registro, que<br />
coincide com o marco zero <strong>do</strong> calendário grego<br />
(776 a.C.), os Jogos reverenciavam o templo<br />
de Olímpia – daí o nome Olimpíada. Passa<strong>do</strong>s<br />
quase três milênios, pode-se afirmar que<br />
a grande deusa <strong>do</strong>s Jogos da Era Moderna – e<br />
de to<strong>do</strong>s os eventos esportivos internacionais<br />
– é a tecnologia.<br />
Os recursos tecnológicos, <strong>do</strong>s quais poucas<br />
ações humanas escapam hoje, se aliaram ao<br />
esporte de tal forma que se tornaram inseparáveis.<br />
Determinam de forma tão direta o sucesso<br />
ou o fracasso de uma competição que a sua<br />
evolução, nas últimas décadas, coincidiu com<br />
a própria evolução <strong>do</strong> esporte. Tanto é assim<br />
que uma das mais poderosas diretorias dentro<br />
da atual estrutura <strong>do</strong> Comitê Olímpico Internacional<br />
(COI) abriga exclusivamente as tarefas<br />
relacionadas ao setor. “A tecnologia, hoje, é<br />
crucial e decisiva para o bom andamento de<br />
qualquer Olimpíada ou competição esportiva<br />
de grande porte”, atesta o presidente <strong>do</strong> COI,<br />
Jacques Rogge.<br />
A cada capítulo escrito pelo movimento olímpico<br />
ou pan-americano, surgem novos equipamentos<br />
e soluções para o setor. O mais recente<br />
lançamento foi feito nas credenciais <strong>do</strong>s<br />
Jogos Pan-americanos Rio 2007. Trata-se <strong>do</strong><br />
sistema de identificação por radiofreqüência<br />
RFID, na sigla em inglês, uma tecnologia sem<br />
fio que utiliza ondas de rádio para identificar e<br />
monitorar pessoas ou objetos.<br />
O aparelho leitor desse sistema emite ondas<br />
de rádio que ativam o chip instala<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong><br />
papel da credencial e decodifica os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
usuário em menos de um décimo de segun<strong>do</strong>.<br />
Bem mais segura <strong>do</strong> que os códigos de barra,<br />
a pequena ferramenta estreou com sucesso<br />
no Rio e foi levada, pela mesma empresa<br />
que atuou no Pan, para os Jogos Olímpicos de<br />
Pequim 2008 (ver como funciona o RFID em<br />
gráfico ao final deste capítulo). Mas a tecnologia<br />
deu sua arrancada olímpica bem antes <strong>do</strong><br />
RFID, <strong>do</strong> chip ou até mesmo <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r.<br />
Nos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna,<br />
em Atenas 1896, a busca já era percebida.<br />
Naquela edição foi disputada a primeira maratona<br />
de atletismo da história, onde se percorreu<br />
40 km em busca da glória. Quem venceu foi<br />
um pastor de ovelha e carteiro grego, Spiri<strong>do</strong>n<br />
Louis. Como não havia piscina, as provas de<br />
natação foram disputadas nas águas geladas<br />
da baía de Zea, a 13 graus Celsius, provan<strong>do</strong><br />
mais uma vez a resistência <strong>do</strong>s atletas. A medição<br />
das provas de velocidade era feita com<br />
um cronômetro. Se, em 1896, Atenas recebeu<br />
241 atletas de 14 países, nas Olimpíadas de<br />
2004 a mesma cidade se preparou para que<br />
11.099 atletas de 201 países competissem, se<br />
abrigassem, se alimentassem e se locomovessem.<br />
E foi a tecnologia que deu suporte para o<br />
funcionamento dessa engrenagem.<br />
No século 20, os Jogos foram marca<strong>do</strong>s por<br />
inovações – e o espaço de tempo entre uma<br />
e outra foi se tornan<strong>do</strong> cada vez menor. Nas<br />
Olimpíadas de 1920, um novo modelo de relógio<br />
aprimorava a contagem de tempo das provas.<br />
Os cronômetros deram lugar aos cronógrafos,<br />
relógios controla<strong>do</strong>s por botões para<br />
iniciar, parar e reiniciar o ponteiro, permitin<strong>do</strong><br />
medir até um centésimo de segun<strong>do</strong>. Em<br />
1932, a Omega, atualmente membro <strong>do</strong> Grupo<br />
Swatch, foi nomeada a primeira empresa oficial<br />
de cronometragem <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos.<br />
No mesmo ano, surgiu a Kirby camera, que<br />
simultaneamente fotografava e cronometrava<br />
a linha de chegada para indicar o tempo em<br />
cada foto.<br />
A partir daí a medição <strong>do</strong> tempo ficou cada vez<br />
mais precisa. Na década seguinte, o mecanismo<br />
de fotografia em câmera lenta foi pioneiro<br />
nos Jogos de Saint Moritz 1948, na Suíça. No<br />
mesmo ano, <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Atlântico, nos Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s, o cientista e matemático Claude<br />
Shannon desenvolvia o código binário. Estava<br />
lança<strong>do</strong> o desafio de transformar fórmulas matemáticas<br />
em aparelhos de computação. Não<br />
por acaso, ainda em 1948 foi desenvolvi<strong>do</strong> e<br />
testa<strong>do</strong> o primeiro protótipo de computa<strong>do</strong>r<br />
eletrônico com programa armazena<strong>do</strong>. E os<br />
298
Jogos de Londres inovaram com as primeiras<br />
transmissões ao vivo pela tevê e a estréia <strong>do</strong>s<br />
blocos de partida nas competições de natação.<br />
O Pan-americano surge justamente nesse<br />
perío<strong>do</strong> de explosão <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s recursos<br />
tecnológicos no mun<strong>do</strong>. A primeira edição, a<br />
de Buenos Aires, é disputada no mesmo ano<br />
em que o primeiro computa<strong>do</strong>r, o Univac, foi<br />
entregue ao escritório <strong>do</strong> censo <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s (1951). Seis anos depois, a empresa<br />
International Business Machines, que<br />
o mun<strong>do</strong> conhece pelas iniciais IBM, lança o<br />
Ran<strong>do</strong>m Access Method of Accounting and<br />
Control (Ramac), primeiro computa<strong>do</strong>r comercial<br />
a utilizar unidades de disco rígi<strong>do</strong><br />
com cabeças móveis. Ainda em 1957, a<br />
Digital Equipment Corporation (DEC) foi criada<br />
pelos americanos Harlan Anderson e Kenneth<br />
Olsen, engenheiros <strong>do</strong> Massachusetts Institute<br />
of Technology (MIT) que <strong>do</strong>is anos depois<br />
lançariam o primeiro minicomputa<strong>do</strong>r.<br />
O Ramac logo seria inseri<strong>do</strong> nas competições<br />
olímpicas. O computa<strong>do</strong>r foi usa<strong>do</strong> pela primeira<br />
vez nos Jogos de Inverno de Squaw Valley<br />
e nos de Verão em Roma, ambos em 1960.<br />
Neste ano, um consórcio internacional padronizou<br />
a primeira linguagem de programação<br />
de computa<strong>do</strong>res para aplicação comercial no<br />
mun<strong>do</strong>. Em Tóquio 1964, mais uma novidade:<br />
pela primeira vez contou-se com um sistema<br />
que integrava o processo de cronometragem,<br />
o Seiko Crystal Chronometer QC-951, desenvolvi<strong>do</strong><br />
pela Seiko Quartz para ser usa<strong>do</strong> nas<br />
Olimpíadas. O cronômetro era conecta<strong>do</strong> a<br />
uma impressora portátil ligada à pistola de largada<br />
e às câmeras photofinish, que fotografavam<br />
o momento de chegada.<br />
A precisão <strong>do</strong> tempo tornava-se cada vez<br />
mais essencial nas provas de velocidade, em<br />
que a diferença entre um competi<strong>do</strong>r e outro<br />
nem sempre é visível e, muitas vezes, tornase<br />
milimétrica. Os scores e recordes ganham<br />
peso e credibilidade, mas embaixo d’água ainda<br />
era necessário haver uma maneira de registrar<br />
exatamente o tempo da batida de mão<br />
<strong>do</strong>s nada<strong>do</strong>res, que àquela altura já chegavam<br />
praticamente juntos em muitas provas. Essa<br />
tecnologia chegou em 1972, nas Olimpíadas<br />
de Munique, na Alemanha. Eram plataformas<br />
com sensores de pressão. A família olímpica<br />
reunida na cidade alemã testemunhou ainda<br />
o fim da cronometragem manual. As tomadas<br />
de tempo passaram a utilizar sistema eletrônico.<br />
Nesse momento, todas as provas tinham<br />
câmeras de photofinish e surgiram aparelhos<br />
para medir os saltos.<br />
No final <strong>do</strong>s anos cinqüenta surge a primeira<br />
rede de Internet, que ficou conhecida como<br />
Advanced Research Projects Agency, ou<br />
Arpa, nascida de projetos de guerra e para a<br />
guerra. Os primeiros <strong>do</strong>cumentos oficiais sobre<br />
o assunto foram vistos em 1962, nos arquivos<br />
<strong>do</strong> MIT. Mas foi na década de 1970 que<br />
a rede tomou forma. Em dezembro de 1971,<br />
o Network Working Group (NWG) concluiu o<br />
primeiro protocolo servi<strong>do</strong>r a servi<strong>do</strong>r, chama<strong>do</strong><br />
Network Control Protocol (NCP) e, no ano<br />
seguinte, nascia o Micro Instrumentation and<br />
Telemetry Systems (MITS), primeiro microcomputa<strong>do</strong>r<br />
disponível para uso pessoal. Nos<br />
anos 1990 foi lança<strong>do</strong> o primeiro navega<strong>do</strong>r<br />
para a Internet, o que possibilitou sua expansão.<br />
Atlanta 1996 foi a primeira Olimpíada da<br />
era da grande rede.<br />
Na década de 1970, outro marco em Jogos<br />
foram as transmissões de TV, que alcançaram<br />
patamares impressionantes. Munique<br />
1972 gerou lucros de US$ 17,62 milhões<br />
com direitos de transmissão vendi<strong>do</strong>s pelo<br />
COI. Cerca de 850 milhões de especta<strong>do</strong>res<br />
acompanharam as competições naquele ano<br />
em 400 horas de programação. Na edição<br />
seguinte, a de Montreal 1976, uma nova atração<br />
contribuiu para o espetáculo <strong>do</strong> esporte<br />
e a interação <strong>do</strong> público: os placares eletrônicos,<br />
usa<strong>do</strong>s pela primeira vez para marcar<br />
tempos ao vivo. Pelo fascínio que despertava,<br />
a maravilha tecnológica dividiu atenções<br />
com a estrela desses Jogos, a genial<br />
Nadia Comaneci, uma romena de 14 anos e<br />
corpo miú<strong>do</strong> que se eternizou no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
esporte ao conquistar a primeira nota dez,<br />
a máxima, na história da ginástica olímpica.<br />
299
Foto: Michael Roger Stringer / Getty Images<br />
O cientista indiano Kapany: revolução<br />
com o protótipo da fibra ótica em 1958<br />
Estampa<strong>do</strong> nos placares eletrônicos <strong>do</strong> ginásio,<br />
o dez de Nadia correu o mun<strong>do</strong>. Não é<br />
possível imaginar os Jogos hoje sem a mobilização<br />
mundial gerada pelas transmissões<br />
ao vivo. Mas, claro, nem sempre foi assim. O<br />
primeiro registro de transmissão de Olimpíadas<br />
data de 1932, quan<strong>do</strong> a rede americana<br />
NBC resumiu em boletins noturnos de rádio os<br />
resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> dia. Nos Jogos seguintes, Berlim<br />
1936, a posição estratégica da distribuição<br />
de imagens ficou em evidência. A cineasta<br />
alemã Leni Riefenstahl, sob o coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> III<br />
Reich, filmava, durante os Jogos de Berlim, o<br />
clássico <strong>do</strong>cumentário Olímpia, com imagens<br />
de atletas em movimento. Paralelamente, era<br />
realizada a primeira transmissão de televisão<br />
das Olimpíadas em circuito fecha<strong>do</strong>. Em salas<br />
de exibição de Berlim, 162.228 alemães foram<br />
contabiliza<strong>do</strong>s. Para efeito de comparação, de<br />
acor<strong>do</strong> com o CO-Rio, mais de um milhão de<br />
especta<strong>do</strong>res assistiram ao Rio 2007.<br />
Após o intervalo forja<strong>do</strong> pela Segunda Guerra<br />
Mundial, que impediu a realização <strong>do</strong>s Jogos<br />
de 1940 e 1944, a edição de Londres 1948 reacendeu<br />
não apenas a pira olímpica, mas também<br />
a discussão sobre como seria integrada ao<br />
evento a televisão, a nova mídia que começava<br />
a tomar conta <strong>do</strong>s lares no mun<strong>do</strong>. Apenas 80<br />
mil lares britânicos recebiam sinal ao vivo e as<br />
transmisões eram restritas a um raio de 80 km<br />
em torno de Londres. Um acor<strong>do</strong> entre a BBC<br />
e o comitê londrino estabeleceu a exigência de<br />
compra de direitos de transmissão <strong>do</strong>s Jogos.<br />
300
Um casamento centenário<br />
A decisão causou polêmica. Helsinque 1952<br />
e Melbourne 1956 intensificaram os debates<br />
em torno <strong>do</strong> pagamento de taxas e da liberdade<br />
de imprensa. Em Melbourne, a NBC e a<br />
BBC chegaram a liderar um boicote internacional.<br />
O resulta<strong>do</strong> foi a venda exclusiva <strong>do</strong>s<br />
direitos para a TV britânica Canal 9, com o<br />
patrocínio de 9 mil libras da empresa Ampol.<br />
O comitê organiza<strong>do</strong>r não cede ao boicote.<br />
Outros quatro anos se passam e chegam os<br />
Jogos de Inverno de Squaw Valley, nos Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s, em 1960. Além da inserção <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r,<br />
a competição é marcada pela maior aceitação<br />
das taxas para TV, resultan<strong>do</strong> na primeira<br />
transmissão ao vivo da história para o veículo.<br />
A compra foi realizada pela ABC e a CBS. Mas,<br />
como relata o ex-diretor de marketing <strong>do</strong> COI<br />
Michael Payne, “a CBS ofereceu uma cobertura<br />
apenas superficial nos noticiários e se recusou<br />
a enviar um âncora esportivo para Squaw<br />
Valley”. Já nos Jogos de Verão, em Roma, no<br />
mesmo ano, a rede americana pagou US$ 400<br />
mil pelos direitos (hoje, as licenças para a América<br />
<strong>do</strong> Norte e a Europa já estão vendidas até<br />
Londres 2012). Ainda em 1960, os grava<strong>do</strong>res<br />
de vídeo foram usa<strong>do</strong>s pela primeira vez. Quatro<br />
anos mais tarde, o mun<strong>do</strong> veria os Jogos<br />
de Tóquio transmiti<strong>do</strong>s ao vivo por satélite.<br />
A televisão consolida-se com a vitrine planetária<br />
<strong>do</strong> movimento olímpico.<br />
O<br />
especta<strong>do</strong>r ávi<strong>do</strong> por mudanças<br />
sentiu novamente o impacto<br />
de uma nova mídia transforma<strong>do</strong>ra<br />
com a Internet, propagada<br />
em massa a partir <strong>do</strong>s anos 1990. Em 1984,<br />
os Jogos de Los Angeles já haviam prova<strong>do</strong> a<br />
experiência <strong>do</strong> correio eletrônico, mas a rede<br />
mundial de computa<strong>do</strong>res só entraria realmente<br />
na disputa, no auge, em Atlanta 1996, que<br />
marcou o centenário das Olimpíadas da Era<br />
Moderna. O encantamento com a nova tecnologia<br />
gerou 200 milhões de acessos ao portal<br />
oficial. A mídia tornou-se a nova parceira <strong>do</strong>s<br />
Jogos, alavancan<strong>do</strong> a venda de ingressos. Em<br />
Sydney 2000, dez por cento <strong>do</strong>s bilhetes foram<br />
vendi<strong>do</strong>s on-line. Dois anos depois, nos Jogos<br />
de Inverno de Salt Lake City, o percentual de<br />
ingressos vendi<strong>do</strong>s pela rede saltou para 80%.<br />
Vale lembrar, contu<strong>do</strong>, que a evolução da tecnologia<br />
esportiva não está restrita aos computa<strong>do</strong>res<br />
e à TV. Uniformes e equipamentos<br />
sofistica<strong>do</strong>s ganham vida a cada edição de Jogos.<br />
No mesmo ano em que se inauguravam<br />
os sistemas de resulta<strong>do</strong>s, surgiam também<br />
as primeiras varas para salto de fibra de vidro,<br />
hoje destronadas por peças ainda mais flexíveis,<br />
que provocam o efeito catapulta. Feixes<br />
de luz medem cada etapa <strong>do</strong> salto triplo e dão<br />
o alcance real <strong>do</strong> salto em altura. Nas piscinas,<br />
além das roupas revolucionárias que não<br />
absorvem água e imitam a pele de tubarão,<br />
sistemas de bombas <strong>do</strong>sa<strong>do</strong>ras de diafragma<br />
criam empuxo, através de acionamento eletromagnético,<br />
para provas de saltos ornamentais.<br />
É possível também identificar com precisão<br />
se houve uso da maioria das substâncias proibidas<br />
graças ao testes de <strong>do</strong>ping. No tênis<br />
de mesa, até as raquetes passam por testes<br />
para verificar se as colas que fixam a borracha<br />
possuem algum composto químico proibi<strong>do</strong><br />
que aumente a velocidade da bolinha. Na<br />
China, por volta de 2737 a.C. já se conheciam<br />
algumas plantas cuja mastigação, ou uso de<br />
extratos ou infusões, produziam efeitos estimulantes,<br />
mas hoje é possível saber o tipo <strong>do</strong><br />
impacto e em que grau ele pode ser tolerável.<br />
Equipamentos com espectrometria de massa<br />
produzem gráficos em terceira dimensão. E<br />
eles evoluem, acompanhan<strong>do</strong> a descoberta de<br />
novas substâncias que tentam burlar os testes.<br />
A meteorologia também agrega da<strong>do</strong>s fundamentais<br />
às competições. Nas Olimpíadas de<br />
Atenas 2004, por exemplo, um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos<br />
aponta o seguinte relato sobre as condições<br />
<strong>do</strong> vento na marina de Ágios Kosmás,<br />
lugar de disputa das regatas de vela: “às 14 horas,<br />
estará num ângulo entre 170 e 190 graus,<br />
na velocidade de 8 a 12 nós, com rajadas de<br />
bombor<strong>do</strong>, principalmente nos momentos de<br />
sol”. Além da direção e da velocidade <strong>do</strong>s ventos,<br />
a aparelhagem de medição meteorológica<br />
é capaz de fornecer precisamente da<strong>do</strong>s em<br />
curtíssimo prazo sobre temperatura e umi-<br />
301
dade <strong>do</strong> ar, radiação solar e condição<br />
de chuva. Os estu<strong>do</strong>s volta<strong>do</strong>s<br />
para maximizar as potencialidades<br />
físicas <strong>do</strong>s atletas também ganham<br />
outra dimensão com os aparelhos<br />
de medição da fisiologia <strong>do</strong>s movimentos,<br />
capazes de precisar forças<br />
exercidas e os gestos <strong>do</strong>s músculos<br />
e articulações para aprimorar a performance.<br />
A avaliação de rendimento<br />
<strong>do</strong>s atletas hoje conta com uma<br />
série de recursos capazes de testar,<br />
por exemplo, as potências aeróbica<br />
e anaeróbica, o consumo máximo de<br />
oxigênio, a mecânica <strong>do</strong>s movimentos<br />
e o desenvolvimento de massa<br />
muscular. Cada pequeno detalhe é<br />
primordial para a conquista de uma<br />
medalha.<br />
Os primeiros<br />
cronômetros e<br />
cronógrafos<br />
e o inova<strong>do</strong>r<br />
computa<strong>do</strong>r Ramac,<br />
de 1957, da IBM<br />
(no alto da página)<br />
Hoje, mais de um século depois das<br />
primeiras Olimpíadas Modernas, o<br />
potencial tecnológico em Jogos adquiriu<br />
uma dimensão tal que não se<br />
é capaz de imaginar uma competição<br />
sem equipamentos de última geração.<br />
As competições só são possíveis<br />
e confiáveis com a utilização de um<br />
aparato tecnológico seguro e preciso.<br />
No Mundial de Atletismo de 2003, o<br />
jamaicano Asafa Powell, favorito para<br />
a prova <strong>do</strong>s 100m rasos, queimou a<br />
largada e foi desclassifica<strong>do</strong>, assim<br />
como o americano Jon Drummond,<br />
que se deitou na pista, recusan<strong>do</strong>-se<br />
a sair. Só o que permite certificar se<br />
houve ou não vantagem na prova é a<br />
tecnologia. Na linha de largada estão<br />
localiza<strong>do</strong>s botões que são pressiona<strong>do</strong>s<br />
quan<strong>do</strong> os atletas dão o primeiro<br />
impulso da corrida, acionan<strong>do</strong><br />
o cronômetro. Mas existe um sistema<br />
que pára o relógio de cronometragem<br />
se o atleta produzir impulso antes de<br />
um décimo de segun<strong>do</strong> depois de o<br />
tiro de largada ser dispara<strong>do</strong>. Isso<br />
porque foi comprova<strong>do</strong> que demora<br />
pelo menos um décimo de segun<strong>do</strong><br />
para o som <strong>do</strong> tiro ser ouvi<strong>do</strong>.<br />
302
Na natação há o mesmo procedimento. Se o<br />
nada<strong>do</strong>r produz impulso no bloco de partida<br />
em menos de um décimo de segun<strong>do</strong> antes de<br />
soar a largada, ele é desclassifica<strong>do</strong> e a prova<br />
tem de ser reiniciada. Em Sydney 2000, o<br />
recordista mundial Ian Thorpe não pôde participar<br />
da competição na sua melhor prova, os<br />
400m livres, porque queimou a largada na seletiva<br />
da equipe australiana.<br />
Outro caso das piscinas preocupou a torcida,<br />
dessa vez a brasileira, que vibrava com Gustavo<br />
Borges em Barcelona 1992. Anos de treino, concentração<br />
imensa e 100 metros de na<strong>do</strong> pela<br />
frente. Na chegada, a segunda melhor marca<br />
em sua primeira Olimpíada e nenhuma comemoração.<br />
Isso porque, assim que bateu com a<br />
mão na piscina, Borges não viu o seu nome na<br />
lista de classificação, e a sensação era de não<br />
haver mérito. Mas ele, assim como to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong><br />
que assistia ao vivo à prova, se enganou. O<br />
atleta tinha, sim, leva<strong>do</strong> a prata, mas uma falha<br />
no sistema que leva os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sensor até<br />
o placar jogou água fria no campeão brasileiro<br />
e em toda a sua torcida. Assim como os botões<br />
de pressão acionam os relógios na largada,<br />
também param os cronômetros na chegada, e<br />
simultaneamente o sistema de cronometragem<br />
envia o resulta<strong>do</strong> para os painéis. Logo que o<br />
atleta tira a cabeça da água e olha para o placar,<br />
já visualiza sua posição.<br />
Além <strong>do</strong>s sensores estrategicamente localiza<strong>do</strong>s,<br />
é possível, desde as Olimpíadas de<br />
Atenas 2004, fotografar a chegada <strong>do</strong>s atletas<br />
em alta velocidade com câmeras photofinish<br />
que registram mil fotos por segun<strong>do</strong>. Os<br />
equipamentos permitem reavaliação em casos<br />
de desclassificações ou empates, evitan<strong>do</strong>,<br />
assim, discórdias como a que aconteceu em<br />
Roma, em 1960, na decisão <strong>do</strong>s 100 metros<br />
na<strong>do</strong> livre. O americano Lance Larson e o australiano<br />
John Devitt fizeram o mesmo tempo. A<br />
impressão da platéia era a de que Larson havia<br />
chega<strong>do</strong> primeiro, mas, após analisarem a<br />
prova, os juízes deram a vitória a Devitt, o que<br />
gerou revolta <strong>do</strong>s americanos. Hoje não teria<br />
discussão: as câmeras dariam o aval.<br />
Foto: Hilton Archive - Staff / Getty Images<br />
Os Jogos de inverno de<br />
Squaw Valley, em 1960:<br />
computa<strong>do</strong>res e transmissões<br />
de TV ao vivo pela primeira<br />
vez em uma Olimpíada<br />
303
Foto: Getty Images<br />
O nada<strong>do</strong>r americano Mark Spitz<br />
comemora mais uma medalha em<br />
Munique 1972: piscinas com sensores<br />
304
À procura <strong>do</strong> sistema perfeito<br />
A<br />
s inovações tornam os resulta<strong>do</strong>s<br />
cada vez mais precisos. A necessidade<br />
de sofisticação <strong>do</strong>s sistemas<br />
é proporcional à busca incessante<br />
por marcas cada vez melhores e classificações<br />
cada vez mais acirradas. A competi<strong>do</strong>ra<br />
de luge Silke Kraushaar ganhou a medalha de<br />
ouro nos Jogos de Inverno de Nagano 1998<br />
por <strong>do</strong>is milissegun<strong>do</strong>s. Mas a diferença para<br />
o segun<strong>do</strong> coloca<strong>do</strong> poderia ter si<strong>do</strong> nula se<br />
os Jogos houvessem si<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s alguns<br />
anos mais tarde.<br />
Logo depois de Nagano, foi descoberto que os<br />
sensores fotoelétricos que registravam a chegada<br />
<strong>do</strong> trenó tinham uma margem de erro de<br />
exatos <strong>do</strong>is milissegun<strong>do</strong>s. Depois da descoberta,<br />
foi feita a reengenharia <strong>do</strong>s sensores. O<br />
Comitê Olímpico Americano desenvolveu então<br />
um sistema de alta modulação com três<br />
sistemas extras, com precisão até em frações<br />
menores que meio milissegun<strong>do</strong>.<br />
Os sistemas de resulta<strong>do</strong>s são hoje o pontochave<br />
<strong>do</strong>s eventos esportivos. São eles que<br />
recebem, processam e enviam os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
Sistema de Cronometragem e Medição para a<br />
arbitragem, o público e as diferentes mídias,<br />
em tempo real. Constituem, portanto, a espinha<br />
<strong>do</strong>rsal <strong>do</strong> que é denomina<strong>do</strong> Tecnologia<br />
da Informação (TI) <strong>do</strong>s Jogos. Além <strong>do</strong>s sistemas<br />
de resulta<strong>do</strong>s, as ferramentas de processamento<br />
de informação envolvem, ainda,<br />
estruturas complexas de controle logístico,<br />
como os Sistemas de Gerenciamento <strong>do</strong>s Jogos<br />
(GMS), que executam e coordenam operações<br />
como transporte, alimentação e acomodação<br />
<strong>do</strong>s atletas, gerenciamento da força<br />
de trabalho, divulgação de boletins médicos,<br />
entre outras ações.<br />
Desde 1960, a IBM detinha o título de Parceira<br />
Mundial de Tecnologia da Informação para<br />
os Jogos Olímpicos. Mas, durante os Jogos<br />
de Atlanta 1996, a empresa quis realizar uma<br />
mudança estratégica junto ao COI. Em vez de<br />
manter o modelo de contratação de empresas<br />
diferentes via consórcio, a IBM se propôs a<br />
realizar todas as operações. Usan<strong>do</strong> a vitrine<br />
olímpica, a empresa ofereceria nesses Jogos<br />
um ambiente operacional semelhante, segun<strong>do</strong><br />
o gerente geral Dennie Welsh, “à maior cadeia<br />
de hotéis <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, à maior rede de restaurantes,<br />
ao maior hospital e a <strong>do</strong>is Super Bowls por<br />
dia, durante 17 dias”, com prazo inadiável.<br />
A idéia da IBM era fornecer soluções para o<br />
evento esportivo e provar ao mun<strong>do</strong> que, se<br />
poderia “ajudar a planejar, gerenciar e operar<br />
grande parte <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos”, também<br />
tinha condições de “oferecer a infra-estrutura<br />
de tecnologia para qualquer evento”.<br />
O Sistema Info de 1996 tinha sessenta gigabytes<br />
de armazenagem, com da<strong>do</strong>s históricos<br />
sobre Jogos Olímpicos, biografias<br />
de 10.500 atletas, cronogramas de eventos<br />
e um sistema de e-mail para 150 mil credencia<strong>do</strong>s.<br />
Para fazer ajustes nos sistemas,<br />
deveriam, no entanto, ser realiza<strong>do</strong>s testes,<br />
mas isso não foi feito. Também não foi feita<br />
uma operação que hoje se tornou padrão: a<br />
cópia back-up de da<strong>do</strong>s.<br />
O resulta<strong>do</strong> foi o mau funcionamento e a perda<br />
de controle <strong>do</strong> sistema, que produzia informações<br />
absurdas como a <strong>do</strong> joga<strong>do</strong>r de tênis de<br />
mesa com 12 centímetros de altura e salta<strong>do</strong>r<br />
de vara com 900 anos. O ju<strong>do</strong>ca peso-pesa<strong>do</strong><br />
brasileiro Aurélio Miguel, medalha de bronze<br />
nesta edição, era identifica<strong>do</strong> como <strong>do</strong> sexo<br />
feminino. Michael Payne, ex-diretor de marketing<br />
<strong>do</strong> COI, relata, em seu livro “A Virada Olímpica”,<br />
que “seis <strong>do</strong>s sete sistemas importantes<br />
cria<strong>do</strong>s pela empresa para os Jogos estavam<br />
funcionan<strong>do</strong> perfeitamente. Apenas um não<br />
funcionava. Infelizmente, era o responsável por<br />
fornecer os resulta<strong>do</strong>s à imprensa mundial”.<br />
A lição foi assimilada e, nos Jogos de Nagano<br />
1998, a IBM investiu em testes, back-up e aumento<br />
<strong>do</strong> número de funcionários. Para isso,<br />
os custos foram cinco vezes maiores <strong>do</strong> que<br />
os de Barcelona 1992. Assim, conta Payne, “o<br />
COI se convenceu de que o melhor mo<strong>do</strong> de<br />
gerenciar custos e reduzir riscos era voltar a<br />
um consórcio de tecnologia das melhores empresas,<br />
que tinham ti<strong>do</strong> sucesso comprova<strong>do</strong><br />
até Barcelona”.<br />
305
O Comitê Olímpico decidiu, então, retornar<br />
ao modelo de contratação de empresas lideradas<br />
por um integra<strong>do</strong>r de sistemas, segun<strong>do</strong><br />
Payne “muito mais eficiente em termos<br />
de custo”. O papel de integra<strong>do</strong>ra foi<br />
assumi<strong>do</strong>, a partir <strong>do</strong>s Jogos de Inverno de<br />
Salt Lake City 2002, pela empresa européia<br />
SchlumbergerSema, atual Atos Origin, que<br />
já havia si<strong>do</strong> subcontratada da IBM.<br />
Os resulta<strong>do</strong>s espera<strong>do</strong>s foram atingi<strong>do</strong>s. “A<br />
equipe trabalhou 24 horas por dia. Não tínhamos<br />
espaço para erros. O inespera<strong>do</strong> também<br />
apresentava desafios”, afirmou um <strong>do</strong>s<br />
diretores da empresa, Bill Cottam. O presidente<br />
<strong>do</strong> COI, Jacques Rogge, expressou na<br />
época que a instituição estava satisfeita com<br />
a “economia operacional e de custos significativa<br />
em relação aos Jogos anteriores”.<br />
Nesse perío<strong>do</strong>, a Atos Origin entrava em<br />
cena como Parceira Mundial em Tecnologia<br />
da Informação <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos. A<br />
empresa havia cria<strong>do</strong>, em 1989, uma área<br />
exclusivamente dedicada aos grandes eventos.<br />
Após os Jogos de Salt Lake City 2002,<br />
a Atos Origin assinou com o COI o contrato<br />
mais dura<strong>do</strong>uro de tecnologia da informação<br />
para eventos esportivos da história, cobrin<strong>do</strong><br />
os Jogos de Verão de Atenas, na Grécia, em<br />
2004; os de Inverno em Turim, na Itália, em<br />
2006; os de Verão de Pequim, na China, em<br />
2008; e de Londres, na Inglaterra, em 2012.<br />
Nos Jogos de Inverno de 2006, a tecnologia<br />
oferecida pela empresa enviou resulta<strong>do</strong>s em<br />
tempo real para a TV ofi cial em menos de 0.3<br />
segun<strong>do</strong> para 15 disciplinas, além das duas<br />
cerimônias, e para 929 terminais de Sistemas<br />
de Informação aos Comentaristas (CIS)<br />
espalha<strong>do</strong>s por 18 instalações. Além disso,<br />
a estrutura de tecnologia da informação sustentou<br />
cerca de seis milhões de requisições<br />
de informação em 806 terminais de Info2006<br />
instala<strong>do</strong>s em 39 locais de Jogos e produziu<br />
4.500 relatórios impressos.<br />
Um ano depois, para o Rio 2007, a Atos Origin<br />
Brasil assinou contrato com o governo<br />
federal no valor de R$ 141.200.000,00 para<br />
fazer a Integração de Tecnologia <strong>do</strong>s Jogos<br />
Pan e Parapan-americanos. E, como novidade,<br />
a<strong>do</strong>tou o inédito sistema de identifi cação<br />
por radiofreqüência RFID, cita<strong>do</strong> no início<br />
deste capítulo. Para Pequim 2008, a Atos Origin<br />
informa que o serviço wireless foi ofereci<strong>do</strong><br />
pela primeira vez em Jogos Olímpicos. O<br />
sistema permite que os jornalistas naveguem<br />
pelo Info2008 de seus próprios laptops.<br />
O transporte de tanta informação em Jogos<br />
só é possível graças à evolução das telecomunicações,<br />
ou seja, <strong>do</strong> transporte de uma<br />
fonte a um destino através de processos<br />
eletromagnéticos. Ao se imaginar centenas<br />
de competições realizadas simultaneamente<br />
em diversos estádios e arenas, com a<br />
complexidade que vemos hoje, questionase:<br />
como é possível que to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s de<br />
todas as provas cheguem em tempo real<br />
e com sucesso às centrais de informação,<br />
aos sites, à TV e ao público? Para responder<br />
a essa pergunta, é preciso voltar à década<br />
de 1950.<br />
306
Foto: C0-Rentmeester - Stranger / AFP<br />
A ginasta Nadia Comaneci em Montreal<br />
1976: a nota 10 da romena, a primeira<br />
da história, viajou pelo mun<strong>do</strong> e foi<br />
estampada nos placares eletrônicos,<br />
a novidade daqueles Jogos Olímpicos<br />
307
Foto: Eric Meola / Getty Images<br />
308
Fibra ótica, uma revolução<br />
E<br />
m 1958, o indiano Narinder Singh<br />
Kapany desenvolveu o protótipo<br />
de uma invenção menos espessa<br />
<strong>do</strong> que um fio de cabelo, mas<br />
de uma grandiosidade revolucionária para<br />
as comunicações à distância: a fibra ótica.<br />
Apesar de minúsculas, elas permitem o transporte<br />
de grandes volumes de informações e<br />
são ideais para sistemas que exigem altas taxas<br />
de da<strong>do</strong>s, como o sistema telefônico, a videoconferência<br />
e as redes locais (LANs), entre<br />
outros. A capacidade da fibra ótica é até um<br />
milhão de vezes maior <strong>do</strong> que o cabo metálico.<br />
Por seus filamentos de vidro ou plástico passam<br />
feixes de luz que são refleti<strong>do</strong>s inúmeras<br />
vezes através de dio<strong>do</strong> emissor de luz (LED),<br />
até alcançarem a extremidade final, envian<strong>do</strong><br />
até 10¹º bits por segun<strong>do</strong>.<br />
Além da enorme capacidade de transmissão,<br />
a fibra apresenta alta estabilidade, isolamento<br />
elétrico, baixa perda na transmissão<br />
e grande resistência. Através das fibras<br />
óticas podem ser envia<strong>do</strong>s desde arquivos<br />
com histórico sobre esportes até gráficos,<br />
imagens e sons para sites, placares, painéis<br />
e TVs. Com o contínuo rompimento de barreiras,<br />
a tecnologia vai baten<strong>do</strong> recordes e a<br />
importância <strong>do</strong>s avanços tecnológicos para<br />
os eventos esportivos internacionais tornase<br />
cada vez mais concreta. Como no esporte,<br />
o caminho da superação <strong>do</strong>s limites<br />
é irreversível e, ao mesmo tempo, sem fim.<br />
As próximas edições de Jogos certamente<br />
abrirão páginas inéditas no romance com a<br />
tecnologia, a nova deusa <strong>do</strong> Olimpo <strong>do</strong>s Jogos<br />
modernos.<br />
Fibra ótica: tecnologia multiplicou<br />
a quantidade de da<strong>do</strong>s transmiti<strong>do</strong>s.<br />
O Rio ganhou mais de 500 km<br />
de cabos com o material para o Pan<br />
309
O setor de Tecnologia <strong>do</strong> Pan Rio 2007<br />
O<br />
s fatos históricos resgata<strong>do</strong>s na<br />
primeira parte deste capítulo remetem<br />
ao fato inquestionável de<br />
que a tecnologia possui papel<br />
central e decisivo em qualquer competição<br />
esportiva de padrão internacional organizada<br />
nos dias de hoje. No caso <strong>do</strong> Pan Rio 2007,<br />
os investimentos feitos pelo governo federal<br />
e o suporte técnico forneci<strong>do</strong> ao CO-Rio<br />
pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> fizeram <strong>do</strong> setor<br />
um exemplo de eficiência, com desempenho e<br />
resulta<strong>do</strong> já assumi<strong>do</strong>s como referências para<br />
as próximas edições desses Jogos. Desde o<br />
início <strong>do</strong> planejamento, foram a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s níveis<br />
de excelência e de controle compara<strong>do</strong>s aos<br />
das melhores Olimpíadas organizadas recentemente,<br />
como Barcelona 1992, Sydney 2000<br />
e Atenas 2004.<br />
A Comissão de Tecnologia <strong>do</strong>s Jogos era formada<br />
por representantes <strong>do</strong>s três níveis de governo<br />
(União, Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio e Prefeitura) e <strong>do</strong><br />
CO-Rio. Coordenada pela Secretaria <strong>do</strong> Comitê<br />
de Gestão Federal Rio 2007 (Sepan/ME),<br />
tinha a missão de centralizar as informações e<br />
administrar os trabalhos na área. A organização,<br />
o funcionamento e o controle técnico e financeiro<br />
de uma estrutura tão complexa e multifacetada<br />
foram viabiliza<strong>do</strong>s com a a<strong>do</strong>ção da<br />
proposta <strong>do</strong> governo federal de agrupar os 23<br />
eixos de compra de equipamentos e serviços<br />
em três blocos de concorrência e de contrato:<br />
o de Integra<strong>do</strong>r de Tecnologia, o de Telecomunicações<br />
e o de Serviços de Áudio, Vídeo, TV a<br />
Cabo, Cabeamento e Complementares.<br />
Na avaliação inicial <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r,<br />
feita em 2004 a partir da Estrutura Analítica<br />
<strong>do</strong> Projeto de Tecnologia (EAP), havia 25 itens<br />
diferentes para compra ou contratação, de<br />
computa<strong>do</strong>res e softwares a serviços de áudio<br />
e vídeo, passan<strong>do</strong> por equipamentos de telefonia,<br />
serviços de tradução, celulares e fibra<br />
ótica, entre outros. Mais tarde, esses 25 itens<br />
foram transforma<strong>do</strong>s em 23. Cada um desses<br />
blocos seria atendi<strong>do</strong> por uma empresa,<br />
em um modelo sem subcontratos ou grupos<br />
priva<strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>res de serviços. To<strong>do</strong>s os<br />
compromissos seriam executa<strong>do</strong>s e administra<strong>do</strong>s<br />
pelo CO-Rio. Havia, no entanto, a preocupação,<br />
no Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, de que este<br />
primeiro modelo, com tantas frentes de ação,<br />
produzisse contratempos de administração e<br />
de logística a pouco mais de <strong>do</strong>is anos <strong>do</strong> início<br />
das disputas.<br />
Correr o risco não seria a decisão mais prudente.<br />
“O Ministério avaliou que a Sepan e o<br />
CO-Rio não teriam capacitação para fazer o<br />
papel <strong>do</strong> Integra<strong>do</strong>r. A tarefa era extremamente<br />
complexa, multifacetada, com diversidade<br />
técnica abrangente e prazos delimita<strong>do</strong>s. Exigia,<br />
portanto, um trabalho muito especializa<strong>do</strong>”,<br />
explica o assessor de Tecnologia da Sepan,<br />
Pedro Varlotta. Por isso, em abril de 2005,<br />
após estu<strong>do</strong>s e análises, o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
e o CO-Rio decidiram a<strong>do</strong>tar o modelo<br />
consagra<strong>do</strong> nas últimas competições de grande<br />
porte em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. Os 23 itens <strong>do</strong><br />
setor de Tecnologia foram agrupa<strong>do</strong>s em três<br />
grandes blocos, um deles o Integra<strong>do</strong>r de Tecnologia,<br />
que harmonizaria sozinho as ações da<br />
maior parte <strong>do</strong>s contratos e serviços <strong>do</strong> setor.<br />
Há outro da<strong>do</strong> importante: para evitar erros de<br />
cálculo e compras desnecessárias com dinheiro<br />
público, o modelo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> embutia a filosofia,<br />
igualmente nova, de contratar serviços,<br />
metas, objetivos – e não simplesmente produtos<br />
ou compras. A empresa vence<strong>do</strong>ra da licitação<br />
para o Integra<strong>do</strong>r gerenciaria os contratos<br />
com os fornece<strong>do</strong>res subcontrata<strong>do</strong>s, a <strong>do</strong><br />
segun<strong>do</strong> bloco implantaria os serviços de Telecomunicações<br />
e o terceiro seria forma<strong>do</strong> por<br />
empresas com funções compatíveis e complementares,<br />
que fornecessem todas as funções<br />
de áudio e de vídeo <strong>do</strong>s Jogos, contratadas<br />
através de licitação pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />
“Com apenas três grandes pacotes, o custo<br />
àquela altura seria menor. Além disso, não<br />
havia mesmo tempo para fazer todas aquelas<br />
contratações de forma segmentada”, pondera<br />
o gerente de Tecnologia <strong>do</strong> CO-Rio, Alexandre<br />
Techima. “Nos Jogos Olímpicos, costuma-se<br />
fazer as contratações para o aparato tecnológico<br />
com três anos e meio de antecedência.<br />
Estávamos a <strong>do</strong>is anos de um evento de grande<br />
porte”, explica.<br />
310
A reestruturação <strong>do</strong> modelo, aprovada pelo<br />
CO-Rio e avalizada pelos especialistas da empresa<br />
australiana MI Associates, que prestou<br />
consultoria para o Comitê Organiza<strong>do</strong>r, foi decisiva<br />
para o bom andamento <strong>do</strong> projeto. “A Secretaria<br />
se envolveu na execução direta. Acompanhou,<br />
organizou, adequou aos parâmetros<br />
legais e geriu o processo”, resume o secretário<br />
executivo da Sepan, Ricar<strong>do</strong> Leyser. “Hoje<br />
sabemos como estruturar estes setores para<br />
grandes eventos esportivos”, completa ele.<br />
Além <strong>do</strong> bom funcionamento de to<strong>do</strong> o setor<br />
de Tecnologia, um trabalho reconheci<strong>do</strong> por<br />
especialistas que trabalharam no Pan (ver comentários<br />
nos gráficos ao final <strong>do</strong> capítulo),<br />
alguns elementos fazem crer que o caminho<br />
segui<strong>do</strong> na implantação <strong>do</strong> sistema foi adequa<strong>do</strong>.<br />
Em uma pesquisa para cotação (RFQ,<br />
de Request for Quotation) feita pelo Ministério<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> com auxílio da Fundação Getúlio<br />
Vargas (FGV) para dar parâmetros ao edital<br />
006/2006, sobre a contratação <strong>do</strong> Integra<strong>do</strong>r,<br />
as empresas interessadas apresentaram um<br />
orçamento médio de R$ 210 milhões.<br />
Após análises de custos unitários e de melhores<br />
alternativas de projetos, a FGV conseguiu<br />
reduzir esse valor para R$ 115 milhões, que<br />
tornou-se então o valor da <strong>do</strong>tação orçamentária<br />
<strong>do</strong> Ministério para a licitação. A contratação<br />
da vence<strong>do</strong>ra, Atos Origin, ficou em R$<br />
112.998.002,00. Com aditivos no decorrer <strong>do</strong><br />
contrato, o total fechou em R$ 141.244.575,00.<br />
“Dessa forma, apenas neste contrato de tecnologia,<br />
mesmo incluin<strong>do</strong> os aditivos, o Ministério<br />
economizou R$ 68,755 milhões”, contabiliza<br />
André Brandão, da FGV. A experiência da<br />
Atos é inegável. Com 5,5 bilhões de euros de<br />
faturamento anual e 50 mil funcionários espalha<strong>do</strong>s<br />
por 40 países (2 mil deles no Brasil), a<br />
empresa tem na sua lista de serviços os Jogos<br />
Olímpicos de Sydney 2000 e Atenas 2004. E já<br />
estava contratada, à época <strong>do</strong> Pan, para Pequim<br />
2 008 e Londres 2012.<br />
O processo de contratação <strong>do</strong> consórcio vence<strong>do</strong>r<br />
da licitação para outro <strong>do</strong>s três blocos,<br />
o <strong>do</strong>s serviços de Sonorização, Vídeo, TV a<br />
Cabo e Cabeamento, foi mais um fator importante.<br />
O consórcio vence<strong>do</strong>r da licitação é forma<strong>do</strong><br />
por duas das maiores empresas desses<br />
ramos no Brasil, todas com reconhecimento<br />
internacional na realização de grandes eventos:<br />
a Gabisom Sistemas de Som e Equipamentos<br />
Musicais e a Eletromídia Comercial. O<br />
contrato, com valor inicial de R$ 52.287.383,00<br />
fechou em R$ 60.838.583,92. Importante destacar<br />
que, na primeira pesquisa de merca<strong>do</strong><br />
para esta licitação, apurou-se o valor médio de<br />
R$ 82.500.000,00, ou seja, mais de R$ 20 milhões<br />
além <strong>do</strong> efetivamente pago.<br />
Presidente Lula na inauguração<br />
<strong>do</strong> TOC: tecnologia para<br />
transmissão e segurança <strong>do</strong>s<br />
da<strong>do</strong>s foi aprovada por técnicos<br />
e profissionais de comunicação<br />
Foto: Ricar<strong>do</strong> Stuckert / Presidência da República<br />
311
Foto: Bruno Carva lho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
312
313<br />
Centro de controle <strong>do</strong> TOC:<br />
rigor e rapidez para identificar<br />
e solucionar problemas sem<br />
maiores danos
O Integra<strong>do</strong>r<br />
O êxito e a economia de recursos nas contratações<br />
motivaram uma carta em que especialistas<br />
da MI Associates, a empresa australiana<br />
de consultoria internacional contratada pelo<br />
CO-Rio, com experiência acumulada desde os<br />
Jogos de Sydney 2000, destacam, em 29 de<br />
março de 2006, o rigor e a eficiência nas definições<br />
de padrão <strong>do</strong> setor de tecnologia feitas<br />
pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, a Fundação Getúlio<br />
Vargas e o CO-Rio. “Gostaríamos de congratulá-los<br />
pelo detalhamento e a <strong>do</strong>cumentação<br />
produzi<strong>do</strong>s para o Integra<strong>do</strong>r e o setor de Cronometragem<br />
e Medição. É justo dizer que esse<br />
nível de detalhamento não teve precedentes em<br />
nenhum <strong>do</strong>s eventos de que participamos, incluin<strong>do</strong><br />
os Jogos Olímpicos. Este trabalho pode<br />
significar um novo paradigma”, diz a carta.<br />
Por meio da Sepan e em parceria com a FGV<br />
e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento,<br />
o Pnud, o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
gerenciou mais de 300 projetos e subprojetos<br />
de tecnologia nos Jogos Pan e Parapan-americanos.<br />
“O Comitê de Tecnologia cria<strong>do</strong> pelo<br />
Ministério e apoia<strong>do</strong> pela FGV, através <strong>do</strong> Escritório<br />
de Projetos, viabilizou um feito inédito no<br />
País: a integração de diversos entes e esferas<br />
<strong>do</strong>s governos federal, estadual e municipal, em<br />
seus diversos níveis, além, é claro, <strong>do</strong> Comitê<br />
Olímpico Brasileiro e <strong>do</strong> CO-Rio”, resume o diretor<br />
da FGV Projetos, Cesar Cunha Campos.<br />
Nas páginas seguintes, o detalhamento <strong>do</strong>s<br />
três blocos <strong>do</strong> setor de tecnologia <strong>do</strong>s Jogos<br />
Pan e Parapan-americanos e uma seqüência de<br />
gráficos e quadros que mostram em detalhes<br />
o funcionamento de cada um desses sistemas.<br />
E<br />
ste bloco implementou e integrou<br />
to<strong>do</strong>s os sistemas e instalações tecnológicas<br />
<strong>do</strong>s Jogos, entre eles os<br />
de resulta<strong>do</strong>s, cronometragem, medição<br />
e rede. Além <strong>do</strong>s serviços de tecnologia,<br />
o Integra<strong>do</strong>r se relacionava com os fornece<strong>do</strong>res<br />
de Telecomunicações, de Áudio e Vídeo e<br />
também com técnicos <strong>do</strong> Instituto Nacional de<br />
Meteorologia (InMet), que, junto com o Centro<br />
de Hidrografia da Marinha <strong>do</strong> Brasil, forneceu<br />
informações sobre meteorologia e clima durante<br />
os Jogos. To<strong>do</strong>s esses da<strong>do</strong>s eram coloca<strong>do</strong>s<br />
no Info2007 (ver capítulo sobre Meio Ambiente).<br />
A seguir, os sistemas, equipamentos e<br />
projetos reuni<strong>do</strong>s no Integra<strong>do</strong>r. Os gráficos ao<br />
final <strong>do</strong> capítulo trazem os detalhes de funcionamento<br />
de cada um desses itens.<br />
Sistema de Gerenciamento <strong>do</strong>s Jogos<br />
(GMS) – Administrou o atendimento das necessidades<br />
<strong>do</strong>s atletas, delegações, público<br />
e imprensa. Operações de transporte, chegadas<br />
e partidas, alimentação e acomodações<br />
<strong>do</strong>s atletas, além de credenciamento, gerenciamento<br />
da força de trabalho, divulgação de<br />
boletins médicos, entre outras ações, foram<br />
executadas e coordenadas nos mais de 30 setores<br />
especializa<strong>do</strong>s que formaram o GMS.<br />
Sistemas de Cronometragem e de Medição<br />
– Faziam a apuração instantânea <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<br />
e enviavam os da<strong>do</strong>s para validação <strong>do</strong>s<br />
juízes e a divulgacão, em tempo real, nos painéis<br />
<strong>do</strong>s locais de competição, no portal ofi cial<br />
<strong>do</strong>s Jogos na internet, nos gráficos da TV anfitriã<br />
e nas redes internas Info2007 consultadas<br />
pela imprensa.<br />
Quiosques da rede interna Info2007 – Liga<strong>do</strong>s<br />
ao Sistema de Cronometragem e de<br />
Medição e disponíveis nos centros de imprensa<br />
e nas instalações, os quiosques da intranet<br />
Info2007 ofereceram uma impressionante<br />
massa de da<strong>do</strong>s sobre o Pan, o Parapan e<br />
outras competições internacionais. Em versão<br />
on-line ou impressa, ofereciam calendários,<br />
notícias, históricos e curiosidades.<br />
Centro de Operações Tecnológicas (TOC) –<br />
Tu<strong>do</strong> o que ocorreu nos Jogos foi monitora<strong>do</strong><br />
pelo Centro de Operações Tecnológicas (TOC,<br />
na sigla em inglês), um sofistica<strong>do</strong> centro de<br />
controle, em tempo real, das operações nos locais<br />
de competição e de não-competição <strong>do</strong><br />
Pan. O objetivo principal <strong>do</strong> TOC era centralizar,<br />
gerenciar e armazenar to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s de<br />
operações como cronometragem, medição e<br />
divulgação de resulta<strong>do</strong>s, transporte, alimentação,<br />
acomodações e logística <strong>do</strong>s atletas,<br />
gerenciamento da força de trabalho e boletins<br />
médicos, entre outros. Todas as operações fo-<br />
314
315<br />
A carta enviada pela<br />
MI Associates:<br />
<br />
sem precendentes nem
am acompanhadas em tempo real. Da sede <strong>do</strong><br />
TOC, na Barra da Tijuca, zona oeste <strong>do</strong> Rio de<br />
Janeiro, as instalações eram monitoradas para<br />
relatar os problemas ou contratempos, em<br />
busca de imediata solução. Toda decisão era<br />
baseada em padrões internacionais de gestão<br />
de esporte. O centro, com 1.680 metros quadra<strong>do</strong>s,<br />
foi inaugura<strong>do</strong> em fevereiro de 2007<br />
pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula<br />
da Silva, o ministro <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, Orlan<strong>do</strong> Silva<br />
Jr., e o governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro,<br />
Sérgio Cabral Filho.<br />
O centro nervoso <strong>do</strong> TOC era um grande videowall,<br />
que concentrava da<strong>do</strong>s de competições e<br />
imagens <strong>do</strong>s Jogos, para facilitar o monitoramento<br />
<strong>do</strong>s serviços. A demanda por soluções<br />
era apresentada no videowall através de duas<br />
cores: vermelho e amarelo. A coloração ajudava<br />
a identificar a olho nu, com facilidade, quais<br />
eram os principais focos de atuação e o tempo<br />
exigi<strong>do</strong> para a tomada de decisão. A chefe<br />
de operações da Atos Origin, Ana Men<strong>do</strong>nça,<br />
explica esse padrão, utiliza<strong>do</strong> em eventos internacionais:<br />
“O problema classifica<strong>do</strong> como vermelho<br />
tem tempo de solução curto, não pode<br />
permanecer por mais de duas horas. Para os<br />
de cor amarela, a solução precisa vir em quatro<br />
horas no máximo”, explica.<br />
TV Graphics – Quadros com da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s competi<strong>do</strong>res<br />
e resulta<strong>do</strong>s das provas, distribuí<strong>do</strong>s<br />
pela tevê anfitriã (a detentora e gera<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s<br />
sinais de transmissão; no caso <strong>do</strong> Pan, a espanhola<br />
ISB) para as demais emissoras e os<br />
painéis instala<strong>do</strong>s nos locais de competição.<br />
Centrais de Da<strong>do</strong>s Primária e Secundária<br />
(PDC e SDC) – Para garantir um sistema de<br />
armazenamento de da<strong>do</strong>s seguro, todas as informações<br />
<strong>do</strong>s Jogos foram armazenadas em<br />
um centro de processamento de da<strong>do</strong>s primário<br />
(PDC) e também em um secundário (SDC),<br />
idêntico ao original. Se algo ocorresse com o<br />
primeiro, imediatamente o segun<strong>do</strong> entraria em<br />
ação. É o princípio da redundância. Além <strong>do</strong>s<br />
resulta<strong>do</strong>s, as centrais armazenaram informações<br />
sobre atletas, imprensa, logística, especta<strong>do</strong>res<br />
e patrocina<strong>do</strong>res, entre outros.<br />
PC Factory – Unidade montada no espaço <strong>do</strong><br />
TOC para configurar cada um <strong>do</strong>s milhares de<br />
computa<strong>do</strong>res e unidades de informática utiliza<strong>do</strong>s<br />
no Pan com os programas e recursos<br />
adequa<strong>do</strong>s ao seu perfil de uso.<br />
LAB – Laboratório monta<strong>do</strong> no TOC para testar<br />
o funcionamento <strong>do</strong>s equipamentos e programas<br />
de tecnologia, incluin<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os sistemas<br />
de resulta<strong>do</strong>s e os de gerenciamento <strong>do</strong>s Jogos,<br />
como acomodação, transporte, saúde,<br />
entre outros itens.<br />
Office – Escritório no TOC para tomada de decisões<br />
da gerência geral.<br />
Escritório de Segurança da Informação –<br />
Para assegurar a segurança e a integridade das<br />
informações das centrais de da<strong>do</strong>s, foi instala<strong>do</strong>,<br />
em parceria com a Agência Brasileira de Inteligência<br />
(Abin), o Escritório de Segurança da<br />
Informação no Pan. Com sofistica<strong>do</strong>s equipamentos,<br />
os técnicos <strong>do</strong> escritório protegeram o<br />
ambiente de tecnologia <strong>do</strong>s Jogos, evitan<strong>do</strong> a<br />
invasão <strong>do</strong> sistema por hackers. É importante<br />
lembrar também a estrutura tecnológica envolvida<br />
nas ações de segurança pública, durante<br />
o Pan, pela Secretaria Nacional de Segurança<br />
Pública (Senasp), no Centro de Coman<strong>do</strong> e<br />
Controle <strong>do</strong>s Jogos, o CCCJ (detalhes no capítulo<br />
Segurança).<br />
Sistemas corporativos – Fizeram a gestão de<br />
informações <strong>do</strong> CO-Rio e prestaram suporte<br />
na área de contabilidade e de recursos humanos<br />
<strong>do</strong>s Jogos. Entre os sistemas corporativos<br />
estavam os de Contas a Receber, Contas a<br />
Pagar, Gestão de Recursos Humanos (folha de<br />
pagamento), Faturamento, Contabilidade, Estoque<br />
e Convênios.<br />
Credenciamento – Os da<strong>do</strong>s de todas as credenciais<br />
foram inseri<strong>do</strong>s com tecnologia digital.<br />
Tarjas coloridas identificavam o código de<br />
acesso – vermelho para a área operacional,<br />
azul para os setores de competição e branca<br />
para trânsito geral. Os números dispostos em<br />
cima da tarja mostravam o setor para o qual<br />
a pessoa estaria habilitada. Exemplos: qua-<br />
316
As telecomunicações<br />
tro para imprensa e cinco para a área de TV.<br />
As siglas resumiam os nomes das instalações<br />
esportivas, como AMU (Arena Multiuso), MAR<br />
(Maracanã), etc. O símbolo ∞, de infinito, permitia<br />
acesso a todas as instalações esportivas.<br />
Por fim, a composição de letras e de números<br />
informava o tipo de transporte disponível. Os<br />
voluntários e a força de trabalho, por exemplo,<br />
tinham gratuidade em ônibus e na rede de metrô<br />
da cidade através <strong>do</strong> código T5 (ver A credencial<br />
<strong>do</strong> futuro ao final deste capítulo).<br />
RFID – Este procedimento utiliza um equipamento,<br />
liga<strong>do</strong> a um software, que lê informações<br />
da credencial armazenadas em um chip,<br />
a identificação eletrônica <strong>do</strong> porta<strong>do</strong>r. A vistoria<br />
era feita cada vez que o credencia<strong>do</strong> entrava<br />
em um local <strong>do</strong>s Jogos. A tecnologia, mais<br />
segura e prática <strong>do</strong> que os códigos de barra,<br />
foi usada também para cadastrar veículos (ver<br />
quadro ao final <strong>do</strong> capítulo).<br />
E<br />
ste bloco envolveu a montagem e a<br />
operação <strong>do</strong>s sistemas de telecomunicações<br />
por rádio, da<strong>do</strong>s e voz<br />
para suporte de toda a operação <strong>do</strong>s<br />
Jogos. A empresa contratada, a Oi, forneceu<br />
rede de transmissão de da<strong>do</strong>s, fibra ótica, telefonia<br />
móvel, internet por banda larga e celular<br />
e mensagens de texto SMS, além de da<strong>do</strong>s<br />
B2B (business to business). Cinco mil terminais<br />
móveis e 4,6 mil fixos foram utiliza<strong>do</strong>s no Pan.<br />
A estratégia foi baseada na integração de serviços,<br />
o que reduziu custos e unificou as áreas<br />
de negócios. O Rio de Janeiro ganhou mais de<br />
500 quilômetros de fibra ótica, e uma rede interna<br />
de 50 quilômetros de cabos foi instalada<br />
nos espaços que abrigavam as instalações esportivas<br />
e a Vila Pan-americana.<br />
A fibra ótica foi implantada em to<strong>do</strong>s os bairros<br />
<strong>do</strong> Rio de Janeiro onde havia instalações<br />
esportivas e operacionais. “Ela chegou, por<br />
exemplo, ao bairro de Deo<strong>do</strong>ro, na zona oeste<br />
da cidade, onde o governo federal construiu um<br />
<strong>do</strong>s mais modernos complexos esportivos <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong>. Do ponto de vista comercial, a região<br />
provavelmente não motivaria a empresa a fazer<br />
um investimento deste porte nos próximos cinco<br />
anos. Mas agora essa fibra instalada poderá<br />
atrair negócios e gerar novos empregos na<br />
área”, analisa Pedro Varlotta, da Sepan. Além<br />
disso, a cobertura da rede de telefonia móvel<br />
foi ampliada e reforçada com a instalação de 24<br />
novas Estações de Rádio Base (ERBs), 11 delas<br />
de alta potência. No Parapan, foram ofereci<strong>do</strong>s<br />
softwares, tecnologias específicas e telefones<br />
especiais para usuários com deficiência. Esses<br />
serviços ficaram entre os mais concorri<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />
Jogos (ver detalhes no capítulo Parapan).<br />
A empresa contratada dedicou aos Jogos uma<br />
equipe especial de 600 pessoas (500 delas na<br />
área de operações) e um call center com 32<br />
posições simultâneas. “A Oi se orgulha de ter<br />
si<strong>do</strong> parceira <strong>do</strong> governo federal e <strong>do</strong> Comitê<br />
Organiza<strong>do</strong>r, em um esforço conjunto para<br />
que fosse possível superar to<strong>do</strong>s os obstáculos<br />
para a realização <strong>do</strong>s Jogos. O sucesso <strong>do</strong><br />
Pan era uma questão extremamente importante,<br />
por isso dedicamos equipes, investimos em<br />
equipamentos e trabalhamos la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>”, comunica<br />
a empresa em nota. “Hoje a empresa<br />
está muito mais preparada para atuar em grandes<br />
eventos. O conhecimento adquiri<strong>do</strong> c om<br />
a experiência <strong>do</strong>s Jogos, onde a empresa teve<br />
a oportunidade de trocar conhecimento com<br />
companhias estrangeiras e de vivenciar todas<br />
as etapas para a realização <strong>do</strong> projeto, foi enriquece<strong>do</strong>r<br />
e se transformou em herança”.<br />
A fornece<strong>do</strong>ra foi contratada pelo Comitê Organiza<strong>do</strong>r<br />
em dezembro de 2006, por meio<br />
<strong>do</strong> convênio 350/2006 firma<strong>do</strong> entre o Ministério<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e o CO-Rio. O valor final <strong>do</strong><br />
convênio foi de R$ 52.069.742,67, sen<strong>do</strong> R$<br />
45.320.595,80 de investimento da União e R$<br />
6.749.146,87 de contrapartida <strong>do</strong> CO-Rio. Pioneira<br />
na prestação de serviços de convergência<br />
e de integração de telecomunicações no Brasil,<br />
a empresa oferece transmissão de voz local e<br />
em longa distância, telefonia móvel, comunicação<br />
de da<strong>do</strong>s, Internet e entretenimento. Opera<br />
em 16 esta<strong>do</strong>s das regiões Norte, Nordeste e<br />
Sudeste, e em to<strong>do</strong> o País nos merca<strong>do</strong>s corporativo<br />
e de longa distância. Além disso, cobre<br />
981 municípios com telefonia móvel.<br />
317
Imagem, Sonorização e Cabeamento<br />
T<br />
o<strong>do</strong>s os projetos relaciona<strong>do</strong>s à<br />
apresentação e à sonorização foram<br />
aloca<strong>do</strong>s neste terceiro grupo. Nos<br />
grandes espetáculos, esportivos ou<br />
não, empresas presta<strong>do</strong>ras de serviços de vídeo<br />
e de áudio costumam trabalhar em conjunto.<br />
Foi o que ocorreu no Pan. Um consórcio<br />
forma<strong>do</strong> pelas empresas GabiSom, de áudio,<br />
e Eletromídia, especializada em vídeo, venceu<br />
a licitação para este bloco. “Essa parceria foi<br />
formada porque não existe no merca<strong>do</strong> brasileiro<br />
um grupo que consiga fazer sozinho as<br />
duas coisas para um evento das dimensões <strong>do</strong><br />
Pan”, explica o coordena<strong>do</strong>r de Áudio e Vídeo<br />
da FGV, Pedro Miranda.<br />
Inicialmente, o CO-Rio previa apenas a sonorização<br />
das instalações. Mas este serviço era<br />
indispensável também para as cerimônias de<br />
abertura e de encerramento, o Centro Principal<br />
de Operações (MOC), as áreas de especta<strong>do</strong>res<br />
e de imprensa, as assembléias da<br />
Odepa, os congressos técnicos, a Vila Panamericana<br />
e os hotéis <strong>do</strong>s Jogos, entre outros<br />
locais. Além disso, não estavam na conta os<br />
telões que deveriam ser instala<strong>do</strong>s para transmitir<br />
os eventos em tempo real nos estádios,<br />
ginásios, arenas e na Praça das Bandeiras da<br />
Vila Pan-americana.<br />
Além de áudio e vídeo, que abrangiam de microfones<br />
e caixas acústicas a telões, a empresa<br />
também era responsável pelo fornecimento<br />
de cabeamento (para instalar os serviços de<br />
apresentação e sonorização nas competições)<br />
e tevês a cabo (suporte à geração <strong>do</strong> sinal da<br />
televisão oficial <strong>do</strong>s Jogos). Para a contratação<br />
<strong>do</strong>s aparelhos de comunicação de voz e<br />
de da<strong>do</strong>s a partir das instalações, foi feito termo<br />
aditivo ao contrato, o que resultou no valor<br />
final de R$ 60,838 milhões.<br />
As instalações esportivas contaram com sonorização<br />
nas áreas de especta<strong>do</strong>res, imprensa,<br />
aquecimento de atletas, convivência, VIP (PanAm)<br />
e nos sistemas da avisos sonoros. Nos<br />
locais de não-competição, o som era utiliza<strong>do</strong><br />
para entreter e envolver o público. A parte de<br />
Para atender todas as demandas, o consórcio<br />
contrata<strong>do</strong> implementou os serviços em mais<br />
de 50 locais de competição e não-competição.<br />
A GabiSom é a maior empresa de sonorização<br />
<strong>do</strong> Brasil e a quinta maior <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A Eletromídia<br />
é líder <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> nacional de painéis<br />
de Light-Emitting Diode, ou LED (ver quadro<br />
no final <strong>do</strong> capítulo). As áreas de atuação da<br />
empresa englobam mídia eletrônica e venda<br />
ou locação desses painéis luminosos.<br />
O presidente da Atos Origin,<br />
Sérgio Bartoletti (com o microfone),<br />
entre Carlos Roberto Osório, Orlan<strong>do</strong> Silva Jr. e<br />
Ricar<strong>do</strong> Leyser, na assinatura <strong>do</strong> contrato para<br />
o Integra<strong>do</strong>r: experiência na adminstração de<br />
várias frentes simultâneas de trabalho<br />
318
vídeo envolvia to<strong>do</strong>s os chama<strong>do</strong>s videoboards,<br />
ou painéis modulares de LEDs, instala<strong>do</strong>s<br />
nas áreas de competição e na Praça das Bandeiras<br />
da Vila Pan-americana. Além das imagens<br />
geradas pela emissora anfi triã (no caso,<br />
a espanhola ISB), eles exibiam replays, entretenimento<br />
e informações sobre os atletas e as<br />
provas (ver quadro ao final <strong>do</strong> capítulo).<br />
Outra tecnologia disponibilizada pelo contrato<br />
foi o CATV (Community Antena TV) ou TV<br />
a cabo, que consistia em oferecer toda a infra-estrutura<br />
de cabeamento e os aparelhos<br />
de TV para a divulgação das imagens da TV<br />
PAN, criada especialmente para os Jogos. Locutores<br />
e comentaristas também foram atendi<strong>do</strong>s<br />
por este serviço, pois tinham à disposição<br />
equipamentos de TV para acompanhar as<br />
competições. Por fim, mas não menos importante,<br />
havia os materiais e serviços envolvi<strong>do</strong>s<br />
no cabeamento estrutura<strong>do</strong> das redes de voz<br />
e de da<strong>do</strong>s em to<strong>do</strong>s os locais de competição<br />
e não-competição.<br />
O objetivo era oferecer pontos de rede e de<br />
telefone onde fosse necessário, possibilitan<strong>do</strong><br />
a comunicação de voz e de da<strong>do</strong>s. “Se considerarmos<br />
a quantidade e o porte <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res<br />
de serviços que trabalharam com o<br />
setor de Tecnologia no Pan, pode-se dizer que<br />
a relação foi eficiente e tranqüila. Em um projeto<br />
dessas dimensões, sempre é necessário<br />
corrigir rotas aqui e ali. Mas, no geral, o Ministério<br />
<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> exerceu seu papel de cliente<br />
exigente e eles responderam com profi ssionalismo”,<br />
diz Pedro Varlotta.<br />
Foto: Arquivo / CO-Rio<br />
319
O credenciamento nos Jogos<br />
O<br />
CO-Rio, o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
(ME) e a Prefeitura <strong>do</strong> Rio de<br />
Janeiro validaram juntos 118.322<br />
credenciais para os envolvi<strong>do</strong>s<br />
nos Jogos. Destas, 88.383 foram direcionadas<br />
ao Pan e 29.939 ao Parapan. A soma não<br />
corresponde a to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentos emiti<strong>do</strong>s,<br />
incluin<strong>do</strong> os adicionais e os inutiliza<strong>do</strong>s,<br />
mas apenas aos ativa<strong>do</strong>s no Sistema de Gerenciamento<br />
<strong>do</strong>s Jogos através da tecnologia<br />
RFID (ver texto explicativo e quadro A credencial<br />
<strong>do</strong> futuro).<br />
Nos dias anteriores ao início <strong>do</strong> Pan, o CO-Rio,<br />
que tinha a competência exclusiva de emitir<br />
credenciais, enfrentou dificuldades para preparar,<br />
ativar e entregar esses <strong>do</strong>cumentos em<br />
tempo hábil a to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s. “A demora<br />
da área para liberar os layouts no padrão – e<br />
eram 41 perfis diferentes de acesso – foi somada<br />
a outros atrasos. Na reta final, os problemas<br />
apareceram”, lembra o coordena<strong>do</strong>r<br />
Pedro Miranda, da FGV.<br />
Para auxiliar o CO-Rio, o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
montou, na Sepan, uma estrutura de<br />
credenciamento com parte de seus funcionários<br />
e técnicos das parceiras FGV e FIA.<br />
Trabalhan<strong>do</strong> praticamente sem interrupções<br />
de jornada, o grupo emitiu 18 mil das 88.383<br />
credenciais <strong>do</strong> Pan e, depois, com mais tempo,<br />
13 mil <strong>do</strong>s 29.939 <strong>do</strong>cumentos ativa<strong>do</strong>s<br />
no Parapan.<br />
Tradução Simultânea<br />
Mesmo assim, alguns contratempos, principalmente<br />
no acesso às instalações, foram registra<strong>do</strong>s.<br />
Na avaliação <strong>do</strong> secretário Ricar<strong>do</strong><br />
Leyser, a primeira lição a ser retirada é a de<br />
que o credenciamento precisa ser profi ssionaliza<strong>do</strong><br />
caso o Rio abrigue uma Olimpíada.<br />
“Uma tarefa técnica, volumosa e detalhada<br />
como a de credenciar, com a segurança e a<br />
precisão que ela requer, deve ser entregue<br />
a profissionais e não a voluntários, como foi<br />
feito inicialmente”, resume Leyser.<br />
N<br />
os Jogos, o governo federal<br />
contratou também serviços de<br />
tradução simultânea. Para isso,<br />
foi feito um investimento de R$<br />
1,901 milhão por meio <strong>do</strong> pregão 18/2007.<br />
O trabalho gerou a infra-estrutura para traduções,<br />
em tempo real, nos congressos e<br />
assembléias <strong>do</strong>s Jogos, engloban<strong>do</strong> inglês,<br />
espanhol e português.<br />
O aparato incluiu cabines de tradução, processamento<br />
e distribuição de áudio, microfones<br />
digitais, monitores e cabos. Foram<br />
realiza<strong>do</strong>s 50 congressos no Pan e dez no<br />
Parapan, com freqüência média de setenta<br />
participantes.<br />
Nas páginas seguintes, há quadros e gráficos<br />
que trazem informações mais detalhadas<br />
sobre o setor de Tecnologia nos Jogos Pan e<br />
Parapan-americanos Rio 2007.<br />
320
Painéis instala<strong>do</strong>s<br />
no Maracanã<br />
ficaram de<br />
lega<strong>do</strong> para o<br />
esporte<br />
Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
321
322
323
324
325<br />
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www.rio2007.org.br<br />
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BRA<br />
CUB<br />
EUA<br />
ARG<br />
MEX<br />
BRA<br />
BRA<br />
EUA<br />
EUA<br />
CUB<br />
1m7s<br />
1m8s<br />
1m9s<br />
2m3s<br />
2m6s<br />
2m5s<br />
3m7s<br />
4m1s<br />
4m7s<br />
5m7s
326
327
4<br />
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328
ENTRADA<br />
E<br />
329
330
331
G<br />
<br />
<br />
332
Sistema de<br />
Gerenciamento<br />
<strong>do</strong>s Jogos<br />
(GMS)<br />
<br />
<br />
333
Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />
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340