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Volume 2 - Ministério do Esporte

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<strong>Volume</strong> II<br />

As Cerimônias 06<br />

Os III Jogos Parapan-americanos Rio 2007 64<br />

As Instalações Esportivas 106<br />

A Vila Pan-americana 224<br />

Segurança a Toda Prova 242<br />

Tecnologia, a Deusa <strong>do</strong>s Jogos Modernos 296<br />

5


AS CERIMÔNIAS<br />

Festas de cores, luzes, música e beleza<br />

no Pan e no Parapan. A maior delas,<br />

a abertura oficial, ganhou diversos prêmios<br />

internacionais, entre eles um Emmy<br />

6


Maracanã, 13 de julho<br />

de 2007: fogos iluminam<br />

a premiada festa de abertura<br />

<strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos<br />

Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo<br />

7


Foto: Streeter Lecka / Getty Images<br />

A representação das<br />

águas e, na foto menor,<br />

a Miss Brasil 2007,<br />

Natália Guimarães,<br />

como porta-bandeira<br />

na Cerimônia de abertura<br />

8


A<br />

s cerimônias de abertura são o cartão de visitas <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos e Pan-americanos.<br />

E também uma reunião de indícios <strong>do</strong> que poderá ocorrer – para o bem ou para<br />

o mal – durante as competições. É o momento ideal para o país-sede expor ao mun<strong>do</strong><br />

sua cultura, história e beleza. Para muitos, representam o ponto alto <strong>do</strong> evento. E<br />

alguns da<strong>do</strong>s sustentam esse argumento. Os ingressos, apesar de mais caros, são os primeiros<br />

a se esgotar, e a audiência das emissoras de TV cresce na medida <strong>do</strong> impacto provoca<strong>do</strong> pelas<br />

imagens geradas da festa. Em transmissão ao vivo via satélite, pessoas <strong>do</strong>s quatro cantos <strong>do</strong><br />

planeta se conectam e, juntas, contemplam um grandioso espetáculo de luz, cor e som. As cenas<br />

traduzem a mensagem de paz e união entre os povos, o princípio basilar <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos e<br />

Pan-americanos. A Austrália, país marca<strong>do</strong> pelo abismo que separa os povos indígenas <strong>do</strong>s descendentes<br />

de coloniza<strong>do</strong>res europeus, promoveu um simbólico gesto de reconciliação quan<strong>do</strong><br />

ofereceu a Cathy Freeman, atleta de origem aborígene, a honra de acender a pira olímpica nos<br />

Jogos de Sydney 2000. Em 2004, a Grécia, país cria<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Jogos, fez uma bela celebração na<br />

qual reverenciou seu passa<strong>do</strong> e lançou um olhar para o futuro.<br />

O<br />

Brasil, um país de inequívoca vocação<br />

para a alegria, produziu<br />

nos Jogos Pan-americanos uma<br />

das mais belas cerimônias de<br />

toda a história <strong>do</strong>s grandes eventos esportivos<br />

mundiais. O País reconheceu no Pan a oportunidade<br />

ideal para consolidar sua posição de<br />

destaque no continente e, quem sabe, utilizálo<br />

como plataforma de lançamento para vôos<br />

mais altos.<br />

Como determina o Plano Estratégico de Ações<br />

Governamentais (PAG), <strong>do</strong>cumento no qual o<br />

governo federal estabeleceu suas metas, diretrizes<br />

e investimentos para os Jogos, a União<br />

acompanhou o planejamento e a execução<br />

das iniciativas de promoção e divulgação da<br />

imagem <strong>do</strong> Brasil no exterior. Mais que isso,<br />

o governo federal financiou quase a totalidade<br />

<strong>do</strong>s custos das cerimônias <strong>do</strong>s Jogos, que<br />

cumpriram os objetivos traça<strong>do</strong>s pelo PAG.<br />

As celebrações funcionaram como uma vitrine<br />

da diversidade cultural brasileira e comprovaram<br />

a capacidade <strong>do</strong> País de organizar grandes<br />

espetáculos.<br />

A excelência na produção da cerimônia de<br />

abertura foi internacionalmente reconhecida.<br />

Até junho de 2008 ela havia ganho oito prêmios<br />

internacionais. Foram seis estatuetas <strong>do</strong> Telly<br />

Awards, especializa<strong>do</strong> em tevê, uma medalha<br />

de ouro no Isems Awards, que avalia qualidade<br />

técnica, cenográfica e de organizacão das<br />

grandes disputas esportivas, e um troféu <strong>do</strong><br />

respeita<strong>do</strong> Emmy, considera<strong>do</strong> o Oscar da televisão,<br />

na categoria Melhor Figurino (ver Uma<br />

festa de prêmios internacionais ao final deste<br />

capítulo).<br />

Para garantir esse bom resulta<strong>do</strong>, o governo<br />

federal investiu cerca de R$ 51 milhões em<br />

inúmeros itens relaciona<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong>s os tipos<br />

de cerimônias <strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos e<br />

Parapan-americanos (abertura e encerramento<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is eventos, boas-vindas às delegações,<br />

premiações aos medalhistas e ainda a<br />

apresentação ao público das 47 modalidades<br />

disputadas no Rio 2007).<br />

Nesse valor se incluem contratação de<br />

recursos humanos com diferentes perfis,<br />

elaboração de protótipos, serviços de produção<br />

de eventos, confecção de figurinos,<br />

alegorias e bandeiras, montagem de palcos,<br />

produção da pira, da trilha musical, das<br />

medalhas e <strong>do</strong>s diplomas de participação,<br />

iluminação e show de fogos. Esse total se<br />

traduziu em diversos convênios com o CO-<br />

Rio e em contrato com empresa produtora<br />

de eventos.<br />

Foto: Luciana Vermell / FIA<br />

9


Começa a grande festa<br />

D<br />

epois de intenso trabalho e dedicação,<br />

o grande dia chegara. O 13 de<br />

julho de 2007 era a data marcada<br />

para o início <strong>do</strong>s XV Jogos Panamericanos.<br />

O Maracanã, templo sagra<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

futebol brasileiro, virou palco de um show multicultural<br />

que, em pouco mais de duas horas,<br />

conseguiu mostrar ao mun<strong>do</strong> os atributos e as<br />

virtudes <strong>do</strong> País e acolheu calorosamente os<br />

atletas das 42 delegações participantes.<br />

O público compareceu em massa. Uma festa<br />

em verde-amarelo tomou o Maracanã. Eram<br />

90 mil pessoas, sem distinção de cor, cre<strong>do</strong>,<br />

origem e classe social, todas unidas num único<br />

objetivo: celebrar o início das “Olimpíadas<br />

das Américas”. As arquibancadas inflamaram<br />

o Mário Filho, nome ofi cial daquele que já foi o<br />

maior estádio <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> os primeiros<br />

acordes <strong>do</strong> Hino Nacional Brasileiro ecoaram,<br />

o Maracanã se emocionou e acompanhou<br />

em coro a voz rouca da cantora Elza Soares.<br />

Confirmava-se ali a vitória de um país e de seu<br />

povo, que mesmo contra todas as adversidades<br />

punha em marcha um evento carrega<strong>do</strong><br />

de ceticismo e desconfiança.<br />

Não poderia haver melhor lema para a festa. O<br />

coro de “Viva essa energia”, música-tema <strong>do</strong>s<br />

Jogos, composta pelo ex-Titã Arnal<strong>do</strong> Antunes<br />

e interpretada por ele e pela sambista carioca<br />

Ana Costa, foi entoa<strong>do</strong> por cada pessoa<br />

presente ao estádio. As batidas <strong>do</strong>s corações<br />

ritmavam em sintonia com a percussão <strong>do</strong>s<br />

tambores e tamborins. Público, atletas e artistas<br />

se fundiam em um só. Lágrimas e sorrisos<br />

estampavam a alegria de se reconhecerem no<br />

espetáculo que apresentou a diversidade cul-<br />

Foto: / Getty Images<br />

10


tural e racial <strong>do</strong> Brasil. Sua fauna e sua flora.<br />

Seus frevos, sambas, maracatus e folias. Enfim,<br />

a vitalidade de um povo que faz da alegria<br />

o combustível da sua própria existência.<br />

O mistério, alma de qualquer cerimônia desse<br />

gênero, aos poucos se revelava. O espetáculo<br />

foi dividi<strong>do</strong> em três atos: a energia <strong>do</strong> sol, a<br />

energia das águas, a energia <strong>do</strong> homem. Cada<br />

um incluiu uma mescla de canções que englobam<br />

a diversidade de ritmos e estilos <strong>do</strong> País.<br />

“O repertório musical brasileiro é rico e bem<br />

representativo. Conseguimos fazer realmente<br />

uma ‘Aquarela <strong>do</strong> Brasil’. E, não por acaso, ela<br />

foi a música de encerramento”, diz Alê Siqueira,<br />

responsável pela direção musical das cerimônias.<br />

A apresentação revelou a delicadeza<br />

de alegorias e fantasias.<br />

O movimento <strong>do</strong>s bailarinos ganhava mais leveza<br />

ao som de vozes consagradas e <strong>do</strong>s acordes<br />

da Orquestra Sinfônica Brasileira. No centro<br />

<strong>do</strong> grama<strong>do</strong>, cobras-coral, vitórias-régias,<br />

pássaros e um jacaré de 35 metros fascinavam<br />

o público, conduzin<strong>do</strong> os presentes e os telespecta<strong>do</strong>res<br />

para a energia <strong>do</strong> sol: o tema da<br />

celebração. Na parte cenográfica, a energia<br />

das águas transformou o Maracanã num grande<br />

mar azul com barquinhos flutuan<strong>do</strong> sobre<br />

as ondas. Ao som da bossa-nova, as areias e<br />

o famoso calçadão de Copacabana invadiram<br />

o grama<strong>do</strong> <strong>do</strong> estádio. A energia <strong>do</strong> homem<br />

apresentou a pluralidade cultural brasileira,<br />

através de manifestações de danças tradicionais,<br />

como o reisa<strong>do</strong> e o maracatu. Figuras lendárias<br />

como a Carranca, a Coruja e o Boi-da-<br />

Cara-Preta desfilavam pelo grande palco.<br />

Cerimônia de abertura:<br />

o show encantou 90 mil<br />

no Maracanã e milhões<br />

em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong><br />

11


No ponto alto da festa,<br />

o í<strong>do</strong>lo Joaquim Cruz<br />

acende a Pira<br />

12


E<br />

ntre tanta beleza, o desfile das delegações também encantou.<br />

Ao som de clássicos <strong>do</strong> chorinho, atletas <strong>do</strong>s 42 países desfilaram<br />

entre os músicos e os ritmistas. Os brasileiros encerraram<br />

o desfile. A entrada da equipe brasileira foi apoteótica. Com a<br />

bandeira na mão, o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima chegou samban<strong>do</strong>.<br />

“Nem quan<strong>do</strong> estou corren<strong>do</strong> fico tão nervoso. Meu coração está<br />

a mil. É uma emoção que nem sei explicar”, disse ele. A Miss Brasil 2007,<br />

Natália Guimarães, levou a bandeira <strong>do</strong> Brasil ao centro <strong>do</strong> palco, onde<br />

estavam as porta-bandeiras das outras delegações. “Foi um momento de<br />

emoção pessoal, pelo papel que desempenhei, e de orgulho <strong>do</strong> Brasil, pela<br />

demonstração de capacidade e de competência na organização de uma<br />

festa simplesmente impecável”, disse logo depois, emocionada, a bela Natália.<br />

Os atletas faziam coro “O Maraca é nosso!”, e a platéia, em uníssono,<br />

cantava o verso que já virou hino: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho,<br />

com muito amor”. Era um povo feliz cantan<strong>do</strong> a alegria de ser brasileiro.<br />

O Pan, embora no Rio de Janeiro, mostrava mais uma vez que era <strong>do</strong><br />

Brasil. Um filme com imagens da passagem da Tocha Pan-americana por<br />

várias cidades brasileiras anunciou a entrada da chama no estádio. O corre<strong>do</strong>r<br />

Joaquim Cruz, ouro nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984,<br />

e prata em Seul, em 1988, foi o escolhi<strong>do</strong> para acender a Pira Pan-americana,<br />

desvendan<strong>do</strong> aquele que era o maior segre<strong>do</strong> da noite. Como um<br />

sol iluminan<strong>do</strong> a noite, o calor da Pira aqueceu os milhares de corações<br />

presentes ao Maracanã, que pediram por paz, algo clama<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os<br />

cre<strong>do</strong>s, línguas e raças presentes à celebração. Ao som de aplausos, fogos<br />

de artifício e voz de Daniela Mercury cantan<strong>do</strong> “Aquarela <strong>do</strong> Brasil”, o<br />

público se despediu da mais bela e tocante festa de abertura que os Jogos<br />

Pan-americanos já viram.<br />

Foto: Streeter Lecka / Getty Images<br />

“Foi uma festa para<br />

não sair da memória.<br />

Conseguimos ver aqui<br />

representadas todas<br />

as culturas e tradições <strong>do</strong><br />

Brasil. O mun<strong>do</strong> conheceu<br />

a riqueza <strong>do</strong> nosso País.<br />

Só nós somos capazes<br />

de fazer uma festa<br />

como esta”.<br />

Orlan<strong>do</strong> Silva Jr.,<br />

Ministro <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>,<br />

durante a cerimônia<br />

“Só fiquei saben<strong>do</strong> que ia ser eu na noite<br />

anterior. Fizeram de tu<strong>do</strong> para que eu mantivesse<br />

em segre<strong>do</strong>. Acender a Pira aqui no Brasil é um<br />

sonho que nunca imaginei viver. Meu gesto<br />

simbolizou dar a vida ao acender a chama <strong>do</strong><br />

povo brasileiro.”<br />

Joaquim Cruz, atleta brasileiro medalhista<br />

em duas Olimpíadas.<br />

Arquivo pessoal<br />

13


Um <strong>do</strong>s primeiros rabiscos<br />

<strong>do</strong> Jacaré, quan<strong>do</strong> a alegoria<br />

era imaginada com 20 metros<br />

14


A concepção da abertura<br />

N<br />

o país <strong>do</strong> Carnaval, foi em uma<br />

terça-feira gorda que o Brasil começou<br />

a definir os contornos das<br />

festas de abertura e <strong>do</strong> encerramento<br />

<strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos. No dia<br />

28 de fevereiro de 2006, a carnavalesca Rosa<br />

Magalhães saiu <strong>do</strong> desfile da escola de samba<br />

Imperatriz Leopoldinense, na qual é responsável<br />

pela cenografia, e seguiu rumo à sede<br />

<strong>do</strong> Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Com um<br />

vasto currículo, que inclui seis títulos na Marquês<br />

de Sapucaí, ela levou consigo duas publicações<br />

sobre seu trabalho, o livro <strong>do</strong> Carnaval<br />

de 2005 e a outra específica com suas criações.<br />

Era a primeira vez que a carnavalesca<br />

se encontrava com Scott Givens, ex-diretor da<br />

Disney, e Leonar<strong>do</strong> Gryner, gerente de Marketing<br />

<strong>do</strong> CO-Rio. O americano Givens atuava<br />

como consultor <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s<br />

Jogos desde o segun<strong>do</strong> semestre de 2004.<br />

Dois meses se passaram até a confi rmação<br />

de Rosa como diretora artística <strong>do</strong> espetáculo.<br />

Assim como a carnavalesca, outros grandes<br />

artistas passaram pelo crivo de Givens e<br />

Gryner. O cenógrafo Luiz Stein, que produziu<br />

espetáculos de grandes nomes da música brasileira,<br />

como Ivete Sangalo e Lulu Santos, também<br />

integrou a equipe. Para chegar a esses<br />

nomes, vários aspectos foram considera<strong>do</strong>s,<br />

como capacidade de criação de grandes shows,<br />

qualidade técnica e conhecimento geral de<br />

artes e espetáculos.<br />

19


A<br />

alegoria que causou maior impacto e encantamento na Cerimônia de Abertura<br />

<strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos Rio 2007 foi um imenso jacaré de 35 metros de<br />

comprimento. O animal, típico das áreas pantanosas brasileiras, representou<br />

a diversidade e a exuberância da fauna nacional. A peça foi concebida pelo<br />

cenógrafo Rossy Amoe<strong>do</strong>, atuante na festa de Parintis (AM) e no Carnaval carioca, a<br />

pedi<strong>do</strong> da diretora artística da cerimônia, Rosa Magalhães. Conheça os detalhes e as<br />

curiosidades que envolveram a concepção e a construção <strong>do</strong> gigante. Todas as cerimônias<br />

<strong>do</strong>s Jogos foram financiadas pelo governo federal.<br />

O JACARÉ DE 35 METROS<br />

QUE BALANÇOU O<br />

MARACANÃ<br />

Trinta pessoas trabalharam<br />

dentro <strong>do</strong> jacaré na cerimônia. "Um<br />

grupo movia as patas para fazer o<br />

bicho andar. Outros manipulavam<br />

alavancas para estabelecer os<br />

movimentos", revela Amoe<strong>do</strong>.<br />

35 metros<br />

O jacaré teve 35 metros de comprimento, cinco metros e meio<br />

só de cabeça, oito metros de largura na parte das patas e quatro<br />

metros e meio de altura máxima. Como ele não passava inteiro<br />

pelo túnel <strong>do</strong> Maracanã, as patas foram encaixadas no corpo só<br />

depois dessa passagem, já com a cerimônia em andamento. “Foi<br />

uma verdadeira operação de guerra. Essa operação arriscada<br />

fez a equipe pensar em desistir dele na fase de preparação, mas<br />

felizmente nossa ousadia foi recompensada”, lembra Amoe<strong>do</strong>.<br />

Dez pessoas trabalharam por <strong>do</strong>is<br />

meses na construção <strong>do</strong> jacaré.<br />

Primeiro foi criada uma maquete para<br />

tirar dúvidas e servir de escala para<br />

a ampliação. Depois, a equipe fez<br />

grandes esculturas de ferro vazadas<br />

para o corpo, as patas e o rabo. “Elas<br />

precisavam ser ocas o suficiente para<br />

caber muita gente dentro <strong>do</strong> bicho”,<br />

explica o cenógrafro.<br />

16


4,5 metros<br />

MATERIAIS UTILIZADOS<br />

Construída sobre <strong>do</strong>is chassis, a peça consumiu<br />

600 metros de espuma, uma tonelada de ferro,<br />

30 blocos de isopor, 100 quilos de poliuretano, 100 latas<br />

de cola, 120 quilos de lycra, 1,2 mil metros de algodão,<br />

600 metros de cabo de aço e 200 metros de<br />

borracha cirúrgica<br />

17


19<br />

Foto: Streeter Lecka / Getty Images


Foto: Harry How / Getty Images<br />

A vitória-régia: espaço<br />

para diversidade e a<br />

beleza da flora brasileira<br />

20


meçaram então a<br />

namento da área.<br />

ão bastante rígiada<br />

<strong>do</strong>s países e<br />

e autoridades <strong>do</strong><br />

atores relevantes.<br />

o momento de<br />

ger os elementos<br />

tassem a identide<br />

nacionais. Em<br />

ógrafos, acompaaram<br />

à Amazônia<br />

intins e assim ter<br />

desse festejo folrasil.<br />

De lá, além<br />

moe<strong>do</strong>, especiarticuladas,<br />

técnior<br />

artistas <strong>do</strong> Rio<br />

ioca, no entanto,<br />

uniu uma seleção<br />

io para ajudar na<br />

peratriz Leopoldi<strong>do</strong>uro;<br />

e o coreóde<br />

Rio.<br />

entosa equipe da<br />

A liberdade podia<br />

dade voava longe.<br />

colori<strong>do</strong>s davam,<br />

ento cenográfico<br />

ajoara da Amazôa<br />

natureza exuberante da Floresta Amazônica<br />

e a beleza das praias cariocas serviam de inspiração<br />

à direção artística. O que era esboço<br />

foi ganhan<strong>do</strong> forma e dinamismo. Maquiagem,<br />

cores, teci<strong>do</strong>s, disposição das peças no palco.<br />

As fantasias eram todas pintadas à mão. Um<br />

show de apuro e esmero.<br />

Para dar ritmo e movimento a toda essa alegre<br />

parafernália, em agosto de 2006 entra em cena<br />

Alê Siqueira, um <strong>do</strong>s mais importantes diretores<br />

musicais da atualidade no Brasil, com parcerias<br />

com Caetano Veloso, Tom Zé e a cantora<br />

cubana Omara Portuon<strong>do</strong>, entre outros<br />

grandes nomes da música brasileira e internacional.<br />

Assim como Rosa e Stein, Alê aceitou o<br />

projeto motiva<strong>do</strong> pelo desafio de compor uma<br />

grande ópera popular ao ar livre. “Queria o<br />

País to<strong>do</strong> representa<strong>do</strong> com artistas das cinco<br />

regiões na cerimônia de abertura. Procurei unir<br />

o novo e o antigo, unir ritmos regionais à modernidade,<br />

trazer as diversas cores <strong>do</strong> panorama<br />

da música nacional”, diz Alê Siqueira. As<br />

reuniões com a equipe de criação tornavam-se<br />

cada vez mais freqüentes. Apesar de sua entrada<br />

tardia, Siqueira deu seu toque pessoal<br />

ao projeto. Muitas de suas sugestões foram<br />

aceitas pelo grupo de cenografia. Em poucos<br />

meses, a concepção <strong>do</strong> show estava pronta,<br />

com roteiro, cenografia, fantasias e músicas.<br />

Faltava apenas um detalhe para iniciar a exeerba.<br />

21


A CONSTRUÇÃO<br />

DE UM SÍMBOLO<br />

Da prancheta de Rosa Magalhães<br />

às mãos de Joaquim Cruz,<br />

o passo-a-passo da Pira Pan-americana<br />

Foto: Streeter Lecka / Getty Images<br />

22


Inspirada no Sol, o elemento<br />

símbolo <strong>do</strong>s Jogos, a Pira<br />

Pan-americana foi concebida pela<br />

diretora artística da Cerimônia<br />

de Abertura, a carnavalesca Rosa<br />

Magalhães. A primeira maquete,<br />

apresentada em fevereiro de<br />

2007, foi produzida em papelalumínio.<br />

A segunda, com latinhas<br />

recicladas de alumínio<br />

Forjada em aço inoxidável,<br />

a Pira pesava cinco toneladas e<br />

media seis metros de diâmetro<br />

por seis de altura. Construída pela<br />

empresa australiana FCT Flames,<br />

a mesma que desenvolveu as<br />

peças de Sydney 2000 e Atenas<br />

2004, demorou cinco meses para<br />

ficar pronta<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

A Pira foi acesa na cerimônia<br />

de abertura <strong>do</strong> Pan e brilhou<br />

intensamente no Maracanã por 16<br />

dias, até que o sopro <strong>do</strong> público,<br />

comanda<strong>do</strong> por Danilo e Alice<br />

Caymmi, a apagasse na festa de<br />

encerramento <strong>do</strong> Pan Rio 2007<br />

23


O caminho das pedras<br />

A<br />

té que as cortinas baixassem e os<br />

aplausos cessassem, houve um<br />

longo caminho. Desde que o Brasil<br />

conquistou o direito de organizar<br />

os Jogos, em agosto de 2002, até a segunda<br />

revisão orçamentária, em abril de 2005, o Comitê<br />

Organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Jogos não fez previsão<br />

de custo para a produção de cerimônias. O<br />

CO-Rio priorizava a organização das competições<br />

esportivas em si e outras ações.<br />

O financiamento das festas, na visão da entidade,<br />

deveria ser assumi<strong>do</strong> pelos governos,<br />

porque caracterizava uma ação promocional<br />

<strong>do</strong> País e da cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro. “Fazer<br />

ou não (a cerimônia nos moldes realiza<strong>do</strong>s)<br />

era uma decisão política. Dependia da maneira<br />

como o governante queria que o Brasil<br />

fosse visto e reconheci<strong>do</strong> lá fora. No caderno<br />

de recomendações da Odepa não havia nada<br />

que obrigasse o Comitê a fazer uma grande<br />

cerimônia nos moldes da que foi produzida”,<br />

argumentou Leonar<strong>do</strong> Gryner, gerente de<br />

Marketing <strong>do</strong> CO-Rio.<br />

Reconhecen<strong>do</strong> o potencial de promoção que<br />

o Brasil teria com o evento, o governo federal<br />

tomou uma decisão política importante:<br />

assumiu o fi nanciamento <strong>do</strong> projeto, postura<br />

similar à a<strong>do</strong>tada no revezamento da Tocha<br />

Pan-americana. Quan<strong>do</strong> o Comitê Organiza<strong>do</strong>r<br />

fez um reorçamento <strong>do</strong>s Jogos em 2005,<br />

a Secretaria Executiva <strong>do</strong> Comitê de Gestão<br />

<strong>do</strong> Governo Federal para o Rio 2007 (Sepan),<br />

órgão <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, revisou as<br />

sugestões sobre a participação federal no<br />

bolo orçamentário.<br />

A Secretaria sugeriu a exclusão de alguns<br />

itens solicita<strong>do</strong>s e aumentou a participação<br />

da União no financiamento de outras áreas.<br />

Neste processo, pela primeira vez a realização<br />

das cerimônias de abertura e encerramento<br />

recebeu uma previsão orçamentária,<br />

ainda não oficial: R$ 20 milhões. Avaliou-se<br />

que a repercussão internacional e a geração<br />

espontânea de mídia criariam as condições<br />

ideais para ampliar a divulgação <strong>do</strong> Brasil e<br />

construir uma boa imagem <strong>do</strong> País no exterior.<br />

Era o momento de aliar aspectos culturais já<br />

consolida<strong>do</strong>s no imaginário coletivo, como a<br />

beleza natural e a amabilidade <strong>do</strong> seu povo,<br />

ao conceito de uma nação moderna, capaz<br />

de oferecer oportunidade de negócios, e efi -<br />

ciente na captação e organização de grandes<br />

eventos internacionais.<br />

A Sepan coordenou as ações <strong>do</strong> governo federal<br />

no Pan. To<strong>do</strong>s os repasses de recursos<br />

para o evento e a execução <strong>do</strong>s projetos<br />

relaciona<strong>do</strong>s aos Jogos tinham o gerenciamento<br />

<strong>do</strong> gestor público e a fi scalização <strong>do</strong><br />

Tribunal de Contas da União (TCU). No caso<br />

da gerência de cerimônias, um novo aspecto<br />

se apresentava para a equipe da Sepan e<br />

<strong>do</strong> Tribunal: o acompanhamento de um projeto<br />

artístico-cultural. Uma auditoria ofi cial na<br />

área de eventos e comunicação envolve elementos<br />

complexos e subjetivos. Não é possível,<br />

por exemplo, estabelecer um parâmetro<br />

comparativo como acontece em uma grande<br />

obra de engenharia. Os instrumentos para<br />

análise são distintos.<br />

A Secretaria teve participação ativa na elaboração<br />

<strong>do</strong> orçamento e na coordenação <strong>do</strong><br />

projeto de cerimônias. Ela analisava todas as<br />

demandas <strong>do</strong> CO-Rio, o que permitia uma<br />

correta aplicação <strong>do</strong>s recursos públicos. O<br />

projeto orçamentário <strong>do</strong>s Jogos fez o trajeto<br />

<strong>do</strong> CO-Rio à Sepan diversas vezes. Até que,<br />

no final de 2005, chegou-se ao que se entendia<br />

ser o custo definitivo de todas as festas<br />

<strong>do</strong> Pan e <strong>do</strong> Parapan: R$ 40 milhões. Deste<br />

total, a Secretaria aceitou demanda <strong>do</strong> Comitê,<br />

que tinha a obrigação de organizar os<br />

eventos, de repassar cerca de R$ 5 milhões<br />

para a operação <strong>do</strong> revezamento da Tocha<br />

Pan-americana.<br />

Para chegar a esse montante foram compara<strong>do</strong>s<br />

os custos de festas similares de Olimpíadas<br />

e outros jogos e ouvidas as opiniões<br />

de Scott Givens e <strong>do</strong> consultor espanhol Enric<br />

Truñó. Este último trabalhou na candidatura e<br />

na organização das Olimpíadas de Barcelona<br />

1992, consideradas um marco na história <strong>do</strong>s<br />

grandes eventos esportivos mundiais.<br />

24


No cronograma original, o primeiro repasse<br />

estava previsto para julho de 2006, mas só<br />

ocorreu em janeiro de 2007, em virtude de<br />

ajustes e adequações no plano de trabalho<br />

proposto pelo CO-Rio.<br />

A verba, no montante de R$ 6.496.868,47, foi<br />

direcionada, por meio <strong>do</strong> convênio 010/2007<br />

entre o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e o CO-Rio, ao<br />

desenvolvimento e à produção de protótipos<br />

e maquetes e para pagamento <strong>do</strong> trabalho de<br />

consultores internacionais que compunham o<br />

Núcleo de Criação e Gerenciamento de Cerimônias,<br />

<strong>do</strong> qual faziam parte Rosa Magalhães,<br />

Alê Siqueira, Luiz Stein e outros contrata<strong>do</strong>s<br />

para as diversas funções, como levantamento<br />

e detalhamento das especificações técnicas e<br />

supervisão da prestação de contas. A apuração<br />

dessas informações era importante para<br />

dar início à pesquisa de merca<strong>do</strong> e à produção<br />

<strong>do</strong>s editais das três licitações programadas<br />

para viabilizar a realização das cerimônias:<br />

1) contratação de uma produtora executiva<br />

para as cerimônias com maior complexidade<br />

(abertura e encerramento).<br />

2) seleção de produtora de médio porte que<br />

cuidaria das cerimônias mais simples (premiação,<br />

boas-vindas e produção <strong>do</strong>s esportes).<br />

3) empresa executora <strong>do</strong>s serviços de iluminação<br />

e efeitos especiais, bem como a<br />

locação de to<strong>do</strong>s os equipamentos necessários.<br />

Paralelamente, existia um plano para buscar<br />

parceiros que desejassem associar seu<br />

nome ao projeto, sobretu<strong>do</strong> para a produção<br />

da Pira Pan-americana, e também a<br />

necessidade da contratação de uma empresa<br />

responsável pela execução <strong>do</strong>s serviços<br />

de produção de figurinos, cenários e elementos<br />

técnicos indispensáveis às cerimônias.<br />

Caso o patrocínio não fosse capta<strong>do</strong>,<br />

a possibilidade de um novo aporte de recursos<br />

governamentais poderia ser estudada<br />

pelos organiza<strong>do</strong>res.<br />

25<br />

Fotos: Ronal<strong>do</strong> Smoleanschi / CO-Rio


Como dito anteriormente, o programa <strong>do</strong>s<br />

Jogos cresceu exponencialmente, tanto<br />

em estrutura quanto na parte organizacional.<br />

Para concretizar o sonho nas dimensões<br />

em que o Pan foi replaneja<strong>do</strong>, era<br />

necessária a contratação de mais mão-deobra<br />

e, conseqüentemente, recursos para<br />

atender às demandas administrativas que<br />

aumentavam a cada dia. A prefeitura, já<br />

com orçamento sobrecarrega<strong>do</strong>, não assumiu<br />

a responsabilidade de ampliar os repasses<br />

de verba para o custeio <strong>do</strong> CO-Rio.<br />

“Eu não tinha dinheiro para formar equipe.<br />

O orçamento era zero, a equipe era zero e<br />

só tinha uma pessoa cuidan<strong>do</strong> de to<strong>do</strong> o<br />

processo: eu. Só em janeiro de 2007 chegou<br />

o dinheiro para a gente tocar o projeto”,<br />

explicou Gryner.<br />

Setembro de 2006 foi um mês crítico. O enre<strong>do</strong><br />

da cerimônia de abertura estava pronto,<br />

mas, por falta de dinheiro, os diretores artísticos<br />

não podiam começar a produção de<br />

fato. A insegurança tomava conta de várias<br />

frentes da equipe. A possibilidade de não<br />

realização da cerimônia, um vexame que<br />

causaria sérios danos à imagem e reputação<br />

<strong>do</strong> País no exterior, começava a pairar.<br />

Alê Siqueira, pronto para entrar em estúdio,<br />

e Rosa Magalhães, cuja área era uma das<br />

mais delicadas em função <strong>do</strong> nível de detalhamento<br />

<strong>do</strong> trabalho, pouco podiam fazer.<br />

Com receio, a carnavalesca pensava em<br />

aban<strong>do</strong>nar o projeto. O tempo hábil para<br />

a abertura <strong>do</strong> processo de licitação para a<br />

escolha da empresa produtora <strong>do</strong> espetáculo<br />

se estreitava. “A verdade é que, quan<strong>do</strong><br />

o processo não começa, não anda, é<br />

desespera<strong>do</strong>r. Cheguei a pensar que não ia<br />

haver a cerimônia”, admite hoje uma aliviada<br />

Rosa Magalhães.<br />

Fotos: Ronal<strong>do</strong> Smoleanschi / CO-Rio<br />

26<br />

O atraso também desrespeitava o Acor<strong>do</strong><br />

de Responsabilidade e Obrigações assina<strong>do</strong><br />

pelo Brasil quan<strong>do</strong> recebeu o direito de<br />

sediar o Pan. De acor<strong>do</strong> com o <strong>do</strong>cumento,<br />

o País deveria submeter à avaliação o programa<br />

cultural e o projeto de cerimônia de


abertura seis meses antes de a festa começar.<br />

Com a situação se agravan<strong>do</strong>, o Ministério <strong>do</strong><br />

<strong>Esporte</strong> começou então a fazer uma série de<br />

gestões e cobranças mais enérgicas ao CO-<br />

Rio. Solicitava urgência na entrega <strong>do</strong>s planos<br />

de trabalho e enfatizava a necessidade de estes<br />

planos serem redigi<strong>do</strong>s com mais apuro<br />

e critério, sob pena de as verbas não serem<br />

aprovadas e o projeto se tornar inviável. Foram<br />

inúmeros ofícios, e-mails e reuniões entre os<br />

<strong>do</strong>is órgãos.<br />

O processo não caminhava na velocidade exigida.<br />

O CO-Rio alegava não dispor de recursos<br />

para contratar pessoal para elaborar os<br />

<strong>do</strong>cumentos. Outra dificuldade apontada pela<br />

equipe <strong>do</strong> Ministério era a dificuldade em obter<br />

informações sobre o andamento <strong>do</strong> projeto<br />

dentro <strong>do</strong> Comitê. O gerente Leonar<strong>do</strong> Gryner<br />

centralizava as decisões. “Identificada esta situação<br />

crítica, o governo federal começou a<br />

sair <strong>do</strong> papel exclusivo de financia<strong>do</strong>r e passou<br />

a entrar mais profundamente na execução.<br />

To<strong>do</strong> esforço era para garantir a execução das<br />

cerimônias”, relata Gabriela Santoro, gerente<br />

de Cerimônias da Sepan.<br />

Em novembro de 2006 foi entregue um orçamento<br />

que estourava em cerca de R$ 5 milhões<br />

o valor acorda<strong>do</strong> entre os <strong>do</strong>is órgãos. Com<br />

tantos percalços, incorreções e indefinições,<br />

o plano de trabalho <strong>do</strong> convênio para contratação<br />

<strong>do</strong> Núcleo de Criação e Gerenciamento<br />

<strong>do</strong>s Jogos – que deveria ter si<strong>do</strong> entregue em<br />

maio – foi finaliza<strong>do</strong> apenas em dezembro, a<br />

seis meses <strong>do</strong> início das competições. O tempo<br />

era escasso para cumprir as formalidades<br />

legais e o rito processual. Era necessário produzir<br />

três editais e promover as licitações. A<br />

ameaça de não ocorrer cerimônia era iminente.<br />

Os prazos estavam aperta<strong>do</strong>s pela falta de definições<br />

<strong>do</strong> CO-Rio, e o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

se viu obriga<strong>do</strong> a tomar medidas de urgência.<br />

A primeira ação foi finalizar e celebrar o convênio<br />

010/2007 com o CO-Rio, em janeiro de<br />

2007. O repasse subsidiava a contratação de<br />

especialistas e técnicos e de sete profissionais<br />

<strong>do</strong> exterior com vasta experiência na realização<br />

deste tipo de evento. Além de auxiliar no<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> conceito e <strong>do</strong>s protótipos,<br />

o grupo também seria responsável por planejar<br />

e coordenar as ações de produção das cerimônias<br />

de abertura e encerramento.<br />

A forma de execução <strong>do</strong> projeto foi redefinida.<br />

O Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> recorreu à contratação<br />

direta de uma produtora executiva, em<br />

caráter emergencial, conforme pleito <strong>do</strong> Comitê<br />

Organiza<strong>do</strong>r. Era necessário sincronizar<br />

a operação.<br />

Na medida em que as peças, adereços e fantasias<br />

iam sain<strong>do</strong> <strong>do</strong>s croquis, precisavam<br />

imediatamente <strong>do</strong>s materiais para a sua confecção.<br />

“Não teríamos como criar to<strong>do</strong> o processo,<br />

desenhar as especificações técnicas e<br />

depois colocar isso no merca<strong>do</strong> para efetuar<br />

as contratações. Era preciso que fosse feito<br />

simultaneamente. Não tínhamos mais tempo”,<br />

diz Gabriela Santoro.<br />

Apesar <strong>do</strong> caráter extraordinário, a contratação<br />

emergencial respeitou os princípios básicos<br />

que regem a administração pública, em<br />

especial a Lei 8.666/1993, e os instrumentos<br />

normativos que norteiam as licitações de publicidade.<br />

Para isso, o Ministério enviou convite<br />

a diversas empresas especializadas em<br />

produção de grandes eventos.<br />

A Mon<strong>do</strong> Entretenimento venceu com a menor<br />

proposta de taxa de administração sobre<br />

o valor <strong>do</strong> contrato (15/2007), fecha<strong>do</strong> em<br />

R$ 21.545.702,10. O sal<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursos disponíveis<br />

<strong>do</strong> montante original seria converti<strong>do</strong> em<br />

novos convênios com o CO-Rio, para despesas<br />

com a contratação de novos profissionais,<br />

passagens e hospedagens <strong>do</strong> pessoal envolvi<strong>do</strong><br />

na execução das cerimônias, produção de<br />

figurinos e adereços, além da contratação de<br />

efeitos especiais e pirotécnicos.<br />

Desta forma, o projeto das cerimônias foi desmembra<strong>do</strong><br />

em duas frentes. A primeira, de<br />

responsabilidade da Mon<strong>do</strong> Entretenimento,<br />

que se encarregaria da contratação de diversos<br />

serviços e pelas compras fragmentadas<br />

27


de insumos como teci<strong>do</strong>s, fitas crepe, arame<br />

e alguns itens curiosos, que revelam a capacidade<br />

de criação e improvisação <strong>do</strong> artista<br />

brasileiro, como tela de galinheiro, catraca de<br />

caminhão e mola de Chevette, carro da General<br />

Motors que deixou de ser fabrica<strong>do</strong> no meio<br />

da década de 90.<br />

A segunda frente trataria <strong>do</strong>s convênios com o<br />

CO-Rio, os que envolveriam o maior volume de<br />

recursos para as maiores contratações. Essas<br />

decisões traçaram novo rumo na execução <strong>do</strong><br />

projeto de cerimônias <strong>do</strong>s Jogos. A iniciativa<br />

causou alguns desentendimentos no início <strong>do</strong><br />

processo. Havia entre os organiza<strong>do</strong>res a preocupação<br />

de que a participação ativa <strong>do</strong> governo<br />

federal, por intermédio da Sepan, sobretu<strong>do</strong><br />

na área de execução orçamentária, não<br />

garantisse a agilidade necessária para prover<br />

as contratações indispensáveis no curto espaço<br />

de tempo que restava. Esse temor surgiu<br />

em função da série de normas e procedimentos<br />

legais que regem e controlam a utilização<br />

de verbas públicas. Porém, ao longo <strong>do</strong> projeto,<br />

esta imagem foi sen<strong>do</strong> desconstruída e<br />

logo se viu que a decisão foi acertada.<br />

A Sepan tinha foco na gestão <strong>do</strong>s recursos fi -<br />

nanceiros. Todas as compras e contratações<br />

eram avaliadas e toda a verba investida no<br />

projeto passava pelos sistemas de controle<br />

<strong>do</strong> governo. “A partir <strong>do</strong> momento em que não<br />

repassamos o dinheiro integralmente, como<br />

era desejo <strong>do</strong> CO-Rio, a Sepan trouxe para si<br />

também a responsabilidade da execução. Mas<br />

precisávamos ter segurança quanto à dinâmica<br />

<strong>do</strong> projeto”, ressalta a gerente Gabriela<br />

Santoro. Para não ultrapassar ainda mais os<br />

limites orçamentários, a Secretaria sempre<br />

orientava a equipe <strong>do</strong> Comitê a determinar<br />

prioridades e procurar soluções adequadas à<br />

verba disponível. Vários cortes de gastos foram<br />

feitos. Apesar de algum desgaste, essas<br />

reduções sempre eram discutidas e aprovadas<br />

pela equipe de produção.<br />

A compra <strong>do</strong> material utiliza<strong>do</strong> para a movimentação<br />

<strong>do</strong> Boi Bumbá é um exemplo curioso<br />

desta nova forma de gerenciamento. A<br />

equipe de Scott Givens reclamava a necessidade<br />

da importação de bicicletas de alta tecnologia.<br />

A idéia era extrair as rodas e instalar<br />

no Boi, o que, segun<strong>do</strong> ele, tornaria a alegoria<br />

mais leve e fácil de manobrar. Pelos cálculos<br />

da equipe seriam necessárias 35, a um valor<br />

que provocaria significativo acréscimo no já<br />

aperta<strong>do</strong> orçamento das cerimônias. Neste<br />

momento, a capacidade de improvisação e a<br />

criatividade <strong>do</strong> brasileiro se fizeram presentes<br />

mais uma vez. Com ferro-velho (molas de Chevette,<br />

rodas de carros antigos e catracas de<br />

caminhão), foi desenvolvi<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o mecanismo<br />

de movimentação <strong>do</strong> Boi Bumbá.<br />

Na festa, a opção mostrou-se efi ciente, bela<br />

e, sobretu<strong>do</strong>, menos onerosa. “Existia aquela<br />

velha noção de que o que vem de fora é<br />

melhor. Mas a importação provou-se completamente<br />

desnecessária. O brasileiro é<br />

assim, um povo criativo que tem soluções<br />

baratas e originais para qualquer obstáculo<br />

que se apresenta”, disse Jacqueline Barros,<br />

assistente da Gerência de Cerimônias<br />

<strong>do</strong> Ministério.<br />

Para Alicia Ferreira, produtora associada <strong>do</strong><br />

CO-Rio para cerimônia, o intercâmbio de experiência<br />

entre a equipe estrangeira e a brasileira<br />

que participaram da cerimônia de abertura<br />

trouxe grande aprendiza<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s. “Os<br />

estrangeiros conheceram uma nova forma de<br />

produzir grandes espetáculos. O Brasil tem<br />

tecnologia especializada, principalmente na<br />

indústria <strong>do</strong> Carnaval. A maior parte da cerimônia<br />

de abertura foi elaborada com base em<br />

tecnologia local.”<br />

28


Foto: Streeter Lecka / Getty Images<br />

A evolução <strong>do</strong> palhaço<br />

na Abertura: figurinos<br />

de primeira linha<br />

29


Operação de guerra<br />

C<br />

om orçamento aprova<strong>do</strong> e parte<br />

da verba liberada, uma verdadeira<br />

operação de guerra foi arquitetada<br />

para produzir todas as cerimônias<br />

a tempo. Foi instala<strong>do</strong> um quartel general no<br />

estacionamento <strong>do</strong> estádio <strong>do</strong> Maracanã – espaço<br />

cedi<strong>do</strong> pelo governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro. Mais de 250 pessoas trabalharam dia<br />

e noite no local. Não se poderia perder mais<br />

um segun<strong>do</strong> sequer, sob pena <strong>do</strong> comprometimento<br />

definitivo <strong>do</strong> projeto. Faltavam pouco<br />

mais de 100 dias para se iniciar o maior evento<br />

esportivo das Américas e pouco tinha si<strong>do</strong><br />

executa<strong>do</strong> até então.<br />

O projeto da cerimônia de abertura era o mais<br />

crítico. A situação era alarmante em determinadas<br />

áreas. Na área musical era difícil conciliar<br />

a concorrida agenda <strong>do</strong>s artistas com a<br />

gravação da trilha sonora da festa. Na área de<br />

figurinos e adereços, ainda não haviam si<strong>do</strong><br />

confecciona<strong>do</strong>s mais de 50 protótipos, o que<br />

era fundamental para testar a funcionalidade<br />

da criação e orçar a produção <strong>do</strong>s figurinos e<br />

adereços <strong>do</strong>s mais de 7 mil itens previstos.<br />

O volume e o detalhamento desta área eram<br />

gigantescos e, apesar da ânsia de trabalhar,<br />

alguns obstáculos ainda se colocavam no caminho<br />

da produção e barravam o avanço <strong>do</strong><br />

projeto. A compra fragmentada era uma delas.<br />

A riqueza de detalhes das alegorias e <strong>do</strong>s<br />

adereços exigia aquisição de uma infinidade<br />

de produtos, por vezes únicos, artesanais, encontra<strong>do</strong>s<br />

somente em um ou <strong>do</strong>is fornece<strong>do</strong>res,<br />

e fabrica<strong>do</strong>s em pequena escala. Esse<br />

fato comprometia a aplicação <strong>do</strong>s princípios<br />

administrativos aos quais o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

e seus contrata<strong>do</strong>s estavam sujeitos,<br />

como a busca de cotação no merca<strong>do</strong> e análise<br />

de preço.<br />

Apesar de dificultar o trabalho da produção,<br />

o respeito às exigências técnicas e legais foi<br />

segui<strong>do</strong>. A Gerência de Cerimônias da Sepan<br />

manteve uma boa interlocução com o Tribunal<br />

de Contas da União (TCU), e muitas reuniões<br />

foram realizadas no decorrer <strong>do</strong> processo.<br />

Duas auditoras acompanhavam o processo e<br />

chegaram a visitar o Maracanã algumas vezes<br />

para fiscalizar a evolução <strong>do</strong> trabalho. Os principais<br />

questionamentos <strong>do</strong> Tribunal eram sobre<br />

a contratação direta da Mon<strong>do</strong> e a importação<br />

de consultores internacionais. Também é importante<br />

ressaltar que a montagem <strong>do</strong> quadro<br />

funcional era responsabilidade <strong>do</strong> Comitê, que<br />

a Sepan avaliou como necessária em virtude<br />

da qualificação <strong>do</strong>s profissionais indica<strong>do</strong>s e<br />

de não haver no merca<strong>do</strong> nacional especialistas<br />

com experiência e conhecimento na área.<br />

O caráter peculiar da produção das cerimônias<br />

também promoveu situações distintas na<br />

negociação com os fornece<strong>do</strong>res de matériaprima<br />

e equipamentos para os eventos. De<br />

um la<strong>do</strong> estavam empresas de grande porte e<br />

com situação financeira mais robusta – fornece<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> palco, energia elétrica, iluminação,<br />

entre outros itens. De outro, pequenos empreende<strong>do</strong>res,<br />

que trabalham no varejo.<br />

As demandas burocráticas da administração<br />

pública exigem <strong>do</strong>cumentação e prazos por<br />

vezes longos para concretizar os pagamentos.<br />

Com os fornece<strong>do</strong>res maiores, não havia<br />

grandes difi culdades, à medida que muitos<br />

já estavam habitua<strong>do</strong>s aos trâmites legais e<br />

tinham condições econômicas para gerenciar<br />

a espera <strong>do</strong> acerto fi nanceiro. Porém, os<br />

menores não tinham estrutura para trabalhar<br />

com faturamento, o que inviabilizaria a aquisição<br />

de alguns itens previstos na produção,<br />

sobretu<strong>do</strong> os utiliza<strong>do</strong>s na confecção <strong>do</strong>s<br />

adereços artísticos. Muitas vezes a demanda<br />

consumia to<strong>do</strong> o estoque disponível de um<br />

determina<strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r.<br />

O preço <strong>do</strong>s produtos a serem adquiri<strong>do</strong>s para<br />

as cerimônias também mereceu atenção especial.<br />

Como era pública a urgência – o Pan<br />

se aproximava e muitos fornece<strong>do</strong>res detinham<br />

a exclusividade <strong>do</strong> material –, os preços<br />

solicita<strong>do</strong>s eram, por vezes, muito acima <strong>do</strong>s<br />

cobra<strong>do</strong>s pelo merca<strong>do</strong>. Iniciou-se então um<br />

trabalho de conscientização sobre a importância<br />

da colaboração de to<strong>do</strong>s para que o Brasil<br />

apresentasse um grande espetáculo aos olhos<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Foi informa<strong>do</strong> também que o proje-<br />

30


to tinha um orçamento defini<strong>do</strong> e com limites<br />

estabeleci<strong>do</strong>s. Aos poucos uma relação<br />

de parceria se firmou entre fornece<strong>do</strong>res,<br />

Mon<strong>do</strong> e Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>. Muita negociação<br />

se fez necessária e um plano<br />

estratégico foi monta<strong>do</strong> para obter to<strong>do</strong> o<br />

material com antecedência e dentro da verba<br />

prevista de acor<strong>do</strong> com os parâmetros<br />

de merca<strong>do</strong>. Tu<strong>do</strong> foi feito para que não<br />

houvesse prejuízo às partes envolvidas, ou<br />

seja, governo, produtora contratada e fornece<strong>do</strong>res<br />

de serviços e materiais.<br />

Na prática, a Mon<strong>do</strong> fazia o faturamento e<br />

o Ministério reembolsava o valor, sempre<br />

procuran<strong>do</strong> equilíbrio para que a produtora<br />

continuasse a ter fôlego para trabalhar.<br />

Em alguns casos, até a própria Sepan<br />

encaminhava as negociações. “A relação<br />

foi muito delicada com os fornece<strong>do</strong>res. A<br />

maioria estava acostumada a vender e receber<br />

na hora. Se não houvesse antecipação<br />

de dinheiro, corria-se o risco de não<br />

haver matéria-prima para confeccionar as<br />

fantasias e afi ns”, diz Alberto Lima, diretor<br />

de operações da Mon<strong>do</strong>. As particularidades<br />

para aquisição <strong>do</strong>s artigos usa<strong>do</strong>s<br />

para confeccionar trajes e alegorias estavam<br />

longe de ser os únicos entraves neste<br />

estágio da operação.<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

31<br />

O projeto cênico foi concluí<strong>do</strong> em outubro<br />

de 2006. Com a demora de seis meses para<br />

iniciar as compras, os preços das merca<strong>do</strong>rias<br />

já não eram os mesmos – porque<br />

muitos desses produtos sofrem reajustes<br />

em decorrência da estação e, como dito<br />

anteriormente, a proximidade <strong>do</strong>s Jogos<br />

inflacionou boa parte deles. Muitos teci<strong>do</strong>s<br />

e cores saíram de moda e os produtos<br />

remanescentes não atendiam à demanda<br />

de produção. Para piorar, não havia tempo<br />

para encomendá-los. A solução foi procurar<br />

similares, tanto no preço quanto na cor<br />

e no modelo, que mantivessem o conceito<br />

original. “A gente dava um jeitinho. Negociava.<br />

Comprava metade de um teci<strong>do</strong>, metade<br />

<strong>do</strong> outro. O importante era não parar a<br />

produção”, contou a diretora artística.


A mão-de-obra <strong>do</strong> samba no Pan<br />

O<br />

atraso nos procedimentos também<br />

adiou a contratação de mãode-obra<br />

especializada para a confecção<br />

e produção <strong>do</strong>s figurinos.<br />

A Associação de Mulheres Empreende<strong>do</strong>ras<br />

<strong>do</strong> Brasil (Amebras) foi contratada apenas em<br />

maio, quan<strong>do</strong> foi firma<strong>do</strong> convênio entre o CO-<br />

Rio e a entidade, ao custo final de R$ 2 milhões,<br />

financia<strong>do</strong>s pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />

A associação é ligada à indústria <strong>do</strong> Carnaval<br />

e seu principal objetivo é a capacitação profissional<br />

de pessoas em produção artesanal,<br />

além de orientá-las a como trabalhar de forma<br />

mais estruturada e organizada. Os Jogos<br />

Pan-americanos continuavam seu processo<br />

de movimentar a cadeia produtiva da sociedade,<br />

geran<strong>do</strong> emprego e renda à população.<br />

(ver capítulo “Impacto Econômico”).<br />

A assinatura <strong>do</strong> convênio com a Amebras gerou<br />

mais de 700 empregos diretos, deu oportunidade<br />

de emprego para muitos jovens recém-forma<strong>do</strong>s<br />

pela entidade e recolocou no<br />

merca<strong>do</strong> de trabalho i<strong>do</strong>sos e pessoas sem<br />

ocupação regular. É o caso da costureira Assumpção<br />

Maria Gomes. Aos 55 anos, ela já fez<br />

de tu<strong>do</strong> um pouco na vida, foi vende<strong>do</strong>ra de<br />

roupas, atendente de hospital, babá e caixa<br />

de restaurante. Na busca por uma especialização,<br />

ela fez vários cursos na instituição e se<br />

sentiu muito honrada de contribuir para a realização<br />

de uma das mais belas festas que já<br />

viu. “Eu sempre fui curiosa e procuro aprender<br />

mais a cada dia”. No Pan, Assumpção trabalhou<br />

na decoração de espumas das alegorias<br />

e na confecção de mais de 50 fantasias diferentes.<br />

“O nosso trabalho é muito importante<br />

para a apresentação. Cada detalhe importa: o<br />

corte, a costura, a decoração. Não pode haver<br />

falhas. Quan<strong>do</strong> vi a apresentação no Maracanã,<br />

cheguei a ser atendida pela equipe médica,<br />

porque minha pressão aumentou de tanta<br />

emoção. Foi muito bom saber que fazia parte<br />

daquele projeto”.<br />

Para a presidente da Amebras, Célia Domingues,<br />

o Pan foi um marco e provou que o<br />

País tem profissionais aptos a trabalhar na<br />

produção de grandes eventos. “O trabalho de<br />

‘Carnaval’ não é apenas no Carnaval. Temos<br />

A experiência <strong>do</strong>s<br />

carnavalescos foi<br />

utilizada na produção<br />

das alegorias e<br />

fantasias da cerimônia<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

32


de aproveitar a mão-de-obra especializada<br />

e gerar emprego o ano to<strong>do</strong>”, esclarece. O<br />

projeto foi marcante também para jovens<br />

universitários <strong>do</strong> curso técnico de Gestão <strong>do</strong><br />

Carnaval, ofereci<strong>do</strong> pela Universidade Estácio<br />

de Sá, instituição privada de ensino superior<br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro. Eles estagiaram em<br />

sua área de formação, produção e gestão de<br />

eventos artísticos e carnavalescos, conhecen<strong>do</strong><br />

de perto os basti<strong>do</strong>res de um grande<br />

evento. Alguns, pela primeira vez.<br />

Para Carolina Dornelles, 26 anos, o estágio<br />

no Barracão foi uma oportunidade de expandir<br />

seus conhecimentos e trabalhar próximo<br />

a profissionais que admira, como Rosa<br />

Magalhães e Rossy Amoe<strong>do</strong>. Experiente em<br />

costura e decoração, Carolina teve no Pan<br />

a chance de aprender uma nova técnica<br />

carnavalesca: a escultura. A estudante trabalhou<br />

na confecção da alegoria vedete da<br />

cerimônia de abertura: o jacaré de 35 metros<br />

que representava parte da diversidade<br />

da fauna brasileira. “Eu acompanhei a construção<br />

<strong>do</strong> jacaré desde o ferro. Toda a cerimônia<br />

foi linda, mas, quan<strong>do</strong> o jacaré entrou<br />

no estádio se movimentan<strong>do</strong>, me joguei no<br />

chão e comecei a chorar. Foi lin<strong>do</strong>! Preten<strong>do</strong><br />

ir a Parintins conhecer melhor a técnica de<br />

movimentação da alegoria”. A experiência<br />

no Pan lhe rendeu novos convites de trabalho<br />

e hoje atua como assistente de produção<br />

<strong>do</strong> carnavalesco Milton Cunha. “A cerimônia<br />

de abertura foi uma vitrine de talentos. Muitos<br />

que participaram da produção <strong>do</strong> evento<br />

se encaminharam para seus setores. Boa<br />

parte <strong>do</strong> que vivo profissionalmente hoje é<br />

devi<strong>do</strong> a meu estágio no Pan. Foi o ponto de<br />

partida”, avalia.<br />

O trabalho nos três barracões da Cidade <strong>do</strong><br />

Samba era incessante e acompanha<strong>do</strong> de<br />

perto pela cria<strong>do</strong>ra. No local, centenas de<br />

máquinas de costura davam forma e vida aos<br />

desenhos traça<strong>do</strong>s. No Maracanã, o correcorre<br />

também era enorme. Os cerca de 5 mil<br />

voluntários que participariam da cerimônia<br />

– dançarinos, ginastas e profissionais de artes<br />

circense e dramática – repetiam as mar-<br />

33<br />

Foto: Ronal<strong>do</strong> Smoleanschi / CO-Rio


cações da coreografia no grama<strong>do</strong> <strong>do</strong> estádio.<br />

O trabalho exigia dedicação de to<strong>do</strong>s os<br />

envolvi<strong>do</strong>s. Nilson Silva, de 27 anos, enfrentava<br />

to<strong>do</strong>s os dias uma hora e meia de ônibus<br />

de Campo Grande, zona oeste <strong>do</strong> Rio, até o<br />

Maracanã.<br />

Os ensaios eram exaustivos. Cada passo era<br />

repeti<strong>do</strong> infinitas vezes. Tanto esforço teve<br />

sua compensação: o dançarino acredita que<br />

alcançou aprimoramento profissional. Estudante<br />

<strong>do</strong> último ano de educação física, Nilson<br />

tem duas paixões: a dança, que praticava<br />

há um ano, e o esporte. O Pan foi uma rara<br />

oportunidade de uni-las. “Foi cansativo, mas<br />

valeu a pena. Participar da cerimônia <strong>do</strong> Pan<br />

foi maravilhoso. Profissionalmente, me deu<br />

outra visão da dança. Nunca tinha me apresenta<strong>do</strong><br />

em um espaço tão amplo quanto o<br />

Maracanã, com marcação e com tantos outros<br />

participantes. Sem falar da emoção de<br />

me apresentar no maior estádio <strong>do</strong> Brasil”,<br />

relembra.<br />

Ainda com to<strong>do</strong>s os esforços, o pessoal<br />

aloca<strong>do</strong> no Núcleo de Criação e Gerenciamento<br />

era insuficiente para conduzir toda a<br />

produção. Mais <strong>do</strong>is convênios foram celebra<strong>do</strong>s<br />

entre Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e CO-Rio<br />

para ampliar as equipes de produção. Um<br />

(036/2007) para contratação de mão-de-obra<br />

para as cerimônias de abertura e encerramento,<br />

no valor total de R$ 9.195.689,99, em<br />

maio; e outro (055/2007), em junho, no valor<br />

de R$ 2.082.154,05, para as demais cerimônias:<br />

boas-vindas, premiação e produção <strong>do</strong>s<br />

esportes. Foi a primeira revisão orçamentária<br />

oficial na área de Cerimônias. A Mon<strong>do</strong>, que<br />

ao entrar no projeto já havia aumenta<strong>do</strong> seu<br />

time em cerca de 70%, continuou contratan<strong>do</strong><br />

e, ao término <strong>do</strong> trabalho, tinha uma equipe<br />

cerca de 90% maior que a planejada inicialmente.<br />

Foram contrata<strong>do</strong>s carrega<strong>do</strong>res,<br />

puxa<strong>do</strong>res de alegorias, maquia<strong>do</strong>res, cenógrafos,<br />

entre outros.<br />

Após os Jogos, todas as alegorias produzidas<br />

para as cerimônias foram <strong>do</strong>adas para escolas<br />

de samba <strong>do</strong> grupo de Acesso <strong>do</strong> Rio.<br />

34<br />

Foto: Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil Fotos: Ronal<strong>do</strong> Smoleanschi / CO-Rio


A força da trilha sonora<br />

E<br />

nquanto isso, o Estádio <strong>do</strong> Maracanã<br />

passava por uma verdadeira revolução<br />

para receber a Cerimônia<br />

de Abertura. Cerca de mil metros<br />

quadra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> grama<strong>do</strong> central foram retira<strong>do</strong>s<br />

para receber o palco principal. Foram montadas<br />

estruturas de sustentação de iluminação nas<br />

marquises superiores e pontes provisórias em<br />

cima <strong>do</strong> fosso que separa a platéia <strong>do</strong> campo.<br />

As pontes permitiam a movimentação cênica<br />

<strong>do</strong>s dançarinos durante a apresentação. Mais<br />

de 500 profissionais trabalharam na instalação<br />

técnica de luz, som e palco no estádio. A parte<br />

interna também sofreu modificações. No túnel<br />

de acesso ao grama<strong>do</strong> foram ergui<strong>do</strong>s 40<br />

camarins para os artistas. Um grande guarda<br />

roupa foi construí<strong>do</strong> para alocar adereços e figurinos.<br />

No local, havia um serviço de provas de<br />

roupas e ajustes, além da troca de figurino <strong>do</strong><br />

elenco durante a cerimônia.<br />

Longe <strong>do</strong> grande palco, travava-se uma verdadeira<br />

luta contra o relógio. Alê Siqueira comandava<br />

toda a produção musical <strong>do</strong> evento, também<br />

financiada pela União. Em estúdios, os artistas<br />

convida<strong>do</strong>s para se apresentar registravam suas<br />

vozes. Além <strong>do</strong> curto tempo para concretizar to<strong>do</strong>s<br />

os playbacks, a equipe de direção musical<br />

sofria para conciliar a agenda <strong>do</strong>s intérpretes<br />

com os dias de gravação no estúdio. “A gente<br />

passou muitas noites sem <strong>do</strong>rmir e horas em estúdio<br />

para garantir a qualidade técnica na parte<br />

musical das cerimônias. Os artistas também cooperaram<br />

bastante”, diz Alê Siqueira.<br />

Os Jogos ganharam uma trilha sonora exclusiva.<br />

“Viva essa energia”, de Arnal<strong>do</strong> Antunes e<br />

Liminha, foi a música-tema de um repertório<br />

que contemplou várias manifestações populares.<br />

Inclusive, o desfile protocolar <strong>do</strong>s atletas<br />

recebeu um toque especial. Os mais de 5 mil<br />

competi<strong>do</strong>res entraram no Maracanã ao som de<br />

11 chorinhos tradicionais, entre eles “Apanhei-te<br />

cavaquinho”, de Ernesto Narazeth; “Tico-tico no<br />

fubá”, de Zequinha de Abreu; “Noites cariocas”<br />

e “Assanha<strong>do</strong>”, ambas de Jacob <strong>do</strong> Ban<strong>do</strong>lim.<br />

Os chorinhos ganharam arranjos singulares,<br />

um medley com toques de samba, de funk e<br />

de música eletrônica. A iluminação também foi<br />

um recurso cênico importante. Uma infinidade<br />

de cores dava mais vida à já bela apresentação.<br />

Cerca de <strong>do</strong>is mil spots de luz reproduziram diversos<br />

cenários na noite de inverno carioca. Um<br />

teci<strong>do</strong> em tons pastel foi estendi<strong>do</strong> no grama<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> estádio e grande parte <strong>do</strong> público compareceu<br />

à festa vestin<strong>do</strong> uma peça de roupa em tom<br />

claro. A idéia era que a iluminação da cerimônia<br />

interagisse com a platéia. O efeito <strong>do</strong>s feixes<br />

<strong>do</strong>s canhões de luz que refletiam no teci<strong>do</strong><br />

claro foi surpreendente. Os 90 mil presentes se<br />

tornaram mais um elemento cênico que compunha<br />

a apresentação, que aliava a diversidade da<br />

natureza e da cultura brasileira à modernidade.<br />

To<strong>do</strong>s os equipamentos eram aciona<strong>do</strong>s automaticamente<br />

pelo computa<strong>do</strong>r. “Contamos a<br />

relação entre o homem e a natureza com o uso<br />

da tecnologia”, explicou Luiz Stein.<br />

A energia conduziu o enre<strong>do</strong> da cerimônia <strong>do</strong><br />

Pan. O espetáculo se iniciava com o nascer <strong>do</strong><br />

sol e o desabrochar das exuberantes fauna e flora<br />

brasileiras. Os raios solares, ao bater no mangue,<br />

moldavam o barro, dan<strong>do</strong> os contornos da<br />

vegetação nacional. Ao som de Villa-Lobos, foi<br />

apresenta<strong>do</strong> um Brasil que vibra to<strong>do</strong>s os meses<br />

<strong>do</strong> ano. Um Brasil <strong>do</strong> sol, da alegria, das cores,<br />

<strong>do</strong> verde-amarelo. No decorrer da festa, o verde<br />

das florestas e o amarelo <strong>do</strong> sol cedem espaço<br />

para o azul das águas. Mares, rios e lagoas são<br />

representa<strong>do</strong>s alegoricamente como elementos<br />

primordiais da vida, força motriz de um país<br />

continental, fonte de inspiração folclórica e elo<br />

entre o norte e sul. O Rio Amazonas deságua<br />

no mar e nas águas da Praia de Copacabana,<br />

berço da bossa-nova, ícone brasileiro, local da<br />

diversão, <strong>do</strong> riso e da brincadeira infantil.<br />

O sol aos poucos se recolhe e o dia dá lugar<br />

à noite. Adriana Calcanhoto canta para acalmar<br />

os pesadelos, os me<strong>do</strong>s, e espantar os monstros<br />

da noite. Depois da noite escura, cria-se o<br />

sonho. Os obstáculos são supera<strong>do</strong>s e vem a<br />

celebração de um país inteiro nas mais diversas<br />

manifestações culturais: maracatu, frevo, boibumbá.<br />

As festas chegam para libertar, para<br />

descansar o homem da árdua luta. É o gigante<br />

Brasil que se une no estádio <strong>do</strong> Maracanã para<br />

festejar os Jogos Pan-americanos.<br />

35


A Pira: a Liquigás forneceu 261<br />

toneladas de gás para alimentar<br />

o sol <strong>do</strong> Pan-americano<br />

Foto: Luciana Vermell / FIA<br />

36


A energia <strong>do</strong> sol, o símbolo <strong>do</strong> Pan<br />

O<br />

sol, símbolo <strong>do</strong>s XV Jogos Panamericanos,<br />

foi a fonte de inspiração<br />

da equipe de cenografia<br />

ao criar o palco da cerimônia de<br />

abertura e a Pira Pan-americana. Foram planeja<strong>do</strong>s<br />

também efeitos especiais para marcar<br />

a união entre o fogo e a água no momento<br />

em que a pira fosse acesa. As idéias da<br />

equipe de criação eram inova<strong>do</strong>ras e aliavam<br />

elementos da natureza à modernidade, em<br />

sintonia com o restante <strong>do</strong> projeto. Porém,<br />

novamente, a equipe artística esbarrava na<br />

questão financeira. Não havia previsão orçamentária<br />

para estes itens, que chegavam a<br />

R$ 7 milhões. Faltava verba para fazer o sol<br />

brilhar. Do projeto básico da pira, cerca de<br />

R$ 900 mil estavam garanti<strong>do</strong>s com a efetivação<br />

<strong>do</strong> convênio de janeiro que subsidiava<br />

o Núcleo de Gerenciamento, mas o valor<br />

era insuficiente para a dimensão da festa. A<br />

expectativa de captação de patrocínio para<br />

financiar o valor restante da Pira Pan-americana,<br />

cerca de R$ 3 milhões, só foi viabilizada<br />

um mês antes <strong>do</strong> evento.<br />

O governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro sinalizou<br />

que não poderia arcar com a produção<br />

<strong>do</strong>s palcos, elementos cenográficos<br />

e gera<strong>do</strong>res de energia necessários para a<br />

operação. Com a ameaça de faltar um cenário<br />

para apresentação <strong>do</strong>s artistas e, principalmente,<br />

o elemento onde seria abrigada a<br />

Chama Pan-americana, um sinal de alerta foi<br />

da<strong>do</strong> pela equipe. Para solucionar a questão,<br />

foi determinante a integração entre os governos<br />

federal e estadual. Existia a previsão de<br />

repasse de R$ 17 milhões da União ao Esta<strong>do</strong><br />

para execução de peças de comunicação<br />

e marketing <strong>do</strong>s Jogos.<br />

Para garantir as cerimônias, as duas partes<br />

acordaram que o governo federal realocasse<br />

parte desta verba, R$ 10 milhões, para<br />

a construção da pira e <strong>do</strong>s três palcos – o<br />

central, o da pira e o da orquestra –, além<br />

de outra série de adequações que precisava<br />

ser feita no Maracanã. Entre a idéia inicial e<br />

a concepção final <strong>do</strong> palco, foram três meses<br />

de estu<strong>do</strong>. Já a pira levou cinco meses<br />

para ficar pronta. A estrutura foi construída<br />

pela mesma empresa australiana que desenvolveu<br />

as peças de Sydney, em 2000, e<br />

de Atenas, em 2004. Para diminuir o custo,<br />

o grande objeto foi coloca<strong>do</strong> próximo ao público,<br />

ao invés de no topo, como tradicionalmente<br />

é feito. Sua imponência e seu calor<br />

foram senti<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong>s que compareceram<br />

ao Maracanã.<br />

A parceria com o governo estadual também<br />

foi crucial para garantir o abastecimento<br />

contínuo da chama durante os Jogos. O<br />

Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> intermediou contato<br />

entre o CO-Rio e a Liquigás, subsidiária da<br />

Petrobras. Nas negociações, ficou defini<strong>do</strong><br />

que o Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio e o Comitê<br />

Organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Jogos encontrariam<br />

um local na cidade em que a empresa possa<br />

expor a pira como uma instalação artística<br />

permanente, um eterno presente à população<br />

<strong>do</strong> Rio.<br />

A Liquigás investiu em tubulações, equipamentos<br />

de segurança, vaporiza<strong>do</strong>res, reservatórios<br />

móveis estacionários, sistemas de<br />

combate a incêndio e vários outros acessórios<br />

que possibilitaram a construção <strong>do</strong><br />

equipamento. Para manter a chama acesa<br />

durante as duas semanas <strong>do</strong> Pan, foram usadas<br />

261 toneladas de gás, irradia<strong>do</strong> a uma<br />

temperatura que variava de 100 a 400ºC. “Foi<br />

muito positiva a participação da Liquigás<br />

nos Jogos. Nos sentimos orgulhosos de estar<br />

presentes na realização <strong>do</strong> maior evento<br />

esportivo das Américas, os jogos Pan-americanos<br />

e os Jogos Parapan-americanos, e<br />

por manter acesa a chama, símbolo máximo<br />

da competição, por to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pan”,<br />

disse Antônio Rubens da Silva Silvino, presidente<br />

da empresa.<br />

O governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> também auxiliou na<br />

administração <strong>do</strong> cronograma das modificações<br />

realizadas no estádio e <strong>do</strong>s ensaios <strong>do</strong>s<br />

voluntários. Para isso, algumas partidas <strong>do</strong><br />

Campeonato Brasileiro tiveram suas datas e<br />

locais altera<strong>do</strong>s, em acor<strong>do</strong> com a Confederação<br />

Brasileira de Futebol (CBF).<br />

37


O espetáculo de fogos<br />

T<br />

radicionalmente, as festas de abertura<br />

e encerramento de grandes<br />

eventos esportivos são marcadas<br />

por grandes queimas de fogos de<br />

artifício. E os Jogos Pan-americanos Rio 2007<br />

proporcionaram o maior espetáculo pirotécnico<br />

já produzi<strong>do</strong> em solo brasileiro. Três toneladas<br />

de artefatos colori<strong>do</strong>s imprimiram no<br />

céu carioca desenhos e imagens repletas de<br />

luz e magia. Os disparos <strong>do</strong>s fogos eram feitos<br />

em harmonia com a apresentação cenográfi -<br />

ca que acontecia no grama<strong>do</strong> e com os timbres<br />

das músicas. O “grand finale” pôde ser<br />

acompanha<strong>do</strong> de qualquer ângulo pelo público<br />

presente. Foi armada uma cadeia de fogos<br />

especiais nos três níveis <strong>do</strong> anel <strong>do</strong> estádio <strong>do</strong><br />

Maracanã: teto, com 60 segmentos, um a cada<br />

12 metros; grama<strong>do</strong>, com 36 pontos de lançamento;<br />

e palco central, com fogos em 51 posições.<br />

A ordem de disparo foi comandada de<br />

mesas digitais, através de softwares especiais.<br />

No total, foram feitos 11 mil disparos.<br />

Para desenvolver essa alegoria pirotécnica,<br />

foram contratadas duas grandes empresas: a<br />

espanhola Ricasa e a paulista New Fireworks.<br />

A firma européia foi responsável pelo sistema<br />

eletrônico e pelos softwares que davam os<br />

38


coman<strong>do</strong>s. E, em conjunto com a brasileira, trabalhou<br />

na produção e no acompanhamento da<br />

montagem <strong>do</strong>s equipamentos e artefatos, bem<br />

como na execução e supervisão de todas as<br />

etapas <strong>do</strong> show de pirotecnia. Esta parceria permitiu<br />

que as empresas trocassem informações e<br />

experiências na execução e produção de espetáculos<br />

desse porte. “A estrutura <strong>do</strong> Maracanã<br />

proporciona muitas possibilidades para queima<br />

de fogos. É um cenário simétrico e muito bonito”,<br />

diz Cristina Tibério, representante da New<br />

Fireworks <strong>do</strong> Brasil. O manuseio <strong>do</strong>s artefatos<br />

também recebeu atenção especial. To<strong>do</strong>s os<br />

técnicos brasileiros e estrangeiros envolvi<strong>do</strong>s<br />

no evento pirotécnico eram detentores de certifica<strong>do</strong>s<br />

internacionais e de comprovada experiência<br />

na atividade. Além disso, to<strong>do</strong> o processo<br />

de montagem, teste e operação <strong>do</strong> aparato contou<br />

com acompanhamento e permissões <strong>do</strong>s<br />

órgãos competentes das esferas federais, estaduais<br />

e municipais e das áreas responsáveis<br />

pela segurança <strong>do</strong>s Jogos. Os recursos para o<br />

show pirotécnico foram garanti<strong>do</strong>s pelo Ministério<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, através <strong>do</strong> convênio 065/2007,<br />

no valor de R$ 1.260.422,00, celebra<strong>do</strong> em 26<br />

de junho de 2007 com o CO-Rio. O governo <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> arcou com as despesas de fabricação<br />

<strong>do</strong>s fogos de artifício.<br />

Foto: Streeter Lecka / Getty Images<br />

39


O efeito das alegorias e,<br />

no detalhe, a cobra que<br />

foi reconstruída dias<br />

antes da abertura <strong>do</strong> Pan<br />

Foto: Luciana Vermell / FIA<br />

40


A logística<br />

O<br />

empenho e a determinação de<br />

to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s fizeram com<br />

que o projeto de cerimônias obtivesse<br />

notáveis avanços. No fi -<br />

nal de junho, to<strong>do</strong>s os fi gurinos e adereços<br />

estavam prontos. Faltava transferi-los <strong>do</strong>s<br />

galpões da Cidade <strong>do</strong> Samba para estocálos<br />

no Maracanã. O trajeto era curto, apenas<br />

sete ruas separavam a origem e o destino <strong>do</strong><br />

material. Mas no caminho ocorreram muitos<br />

imprevistos.<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que ocorre no Carnaval, quan<strong>do</strong><br />

as ruas são fechadas para a passagem <strong>do</strong>s<br />

carros alegóricos, a ida das grandes alegorias<br />

da Cidade <strong>do</strong> Samba ao complexo <strong>do</strong> Maracanã<br />

não contava com nenhum esquema especial<br />

de trânsito. O transporte era feito no início<br />

da madrugada. Para manter o sigilo, os carros<br />

eram cobertos com lona preta.<br />

O curioso esquema chamou a atenção de uma<br />

patrulha policial. A autoridade deu ordens para<br />

parar o caminhão que transportava alguns <strong>do</strong>s<br />

“burrinhos”, elementos cenográficos das festas<br />

populares, na rua José Eugênio, a menos<br />

de um quilômetro <strong>do</strong> estádio. Sem nenhum<br />

<strong>do</strong>cumento que comprovasse sua vinculação<br />

com as cerimônias <strong>do</strong> Pan, os “burrinhos”<br />

quase foram apreendi<strong>do</strong>s pelos policiais. Por<br />

mais que o condutor tentasse explicar, os policiais<br />

militares exigiam a nota fiscal da alegoria<br />

para liberá-lo. “Obviamente não existe nota fiscal<br />

de carro alegórico. Existem notas <strong>do</strong> arame,<br />

das fitas, <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s, das rodas, de to<strong>do</strong><br />

material que foi utiliza<strong>do</strong> para confeccioná-lo”,<br />

diz Jacqueline Barros, assistente da Gerência<br />

de Cerimônias da Sepan. A equipe <strong>do</strong> Ministério<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> acionou a Força Nacional de<br />

Segurança, a Polícia Federal e o Coman<strong>do</strong><br />

Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro (CMRJ). Muitos telefonemas<br />

depois, os burrinhos puderam seguir<br />

seu rumo, agora escolta<strong>do</strong>s pela mesma<br />

patrulha que os detivera. Para evitar outros<br />

trasntornos, um selo Rio 2007 foi cria<strong>do</strong> para<br />

os caminhões.<br />

O transporte das alegorias era feito em marcha<br />

lenta. Apesar da atenção, uma das cobras<br />

utilizadas no segmento da natureza bateu de<br />

frente com um poste. Com a batida, parte da<br />

imensa fantasia se quebrou, perden<strong>do</strong> a cabeça.<br />

Um grande corre-corre se fez para ressuscitar<br />

a alegoria.<br />

Foto: Ronal<strong>do</strong> Smoleanschi / CO-Rio<br />

41


Lega<strong>do</strong> de conhecimento<br />

U<br />

ma das maiores difi culdades enfrentadas<br />

pelas equipes que trabalharam<br />

na produção das cerimônias<br />

foi o distanciamento entre<br />

os executores <strong>do</strong> projeto e o CO-Rio. A área<br />

de cerimônia no Comitê estava subordinada<br />

à área funcional de marketing. Esta, por<br />

sua vez, tinha sob sua responsabilidade uma<br />

série de projetos e serviços direciona<strong>do</strong>s ao<br />

Pan. Desta forma, a equipe de Scott Givens,<br />

contratada inicialmente como consultora,<br />

passou também a executar o projeto. Com a<br />

chegada de Vitório Moraes ao CO-Rio, a interlocução<br />

entre a entidade e governo federal<br />

melhorou, mas ainda havia outros problemas<br />

operacionais.<br />

O diálogo entre a Gerência de Cerimônias e as<br />

outras áreas <strong>do</strong> Comitê também foi, por vezes,<br />

falho e tardio. Isso ocasionou dificuldades que<br />

poderiam ser evitadas, como no fornecimento<br />

de transporte e de alimentação para os voluntários<br />

que trabalhariam na festa e na montagem<br />

de estruturas temporárias no Sambódromo, local<br />

onde foram feitos os primeiros ensaios.<br />

O atraso no recebimento <strong>do</strong> transporte pela<br />

equipe de dançarinos voluntários, por exemplo,<br />

provocou uma paralisação, que não chegou<br />

a atrapalhar a condução <strong>do</strong>s ensaios mas<br />

exigiu um trabalho de gerenciamento de crise,<br />

tiran<strong>do</strong> o foco da produção da cerimônia em<br />

si. As falhas no processo de credenciamento<br />

tiveram reflexos na área de cerimônias. Com<br />

ampla equipe envolvida no projeto e uma vasta<br />

rede de fornece<strong>do</strong>res, o número de credenciais<br />

necessárias ultrapassava sete mil.<br />

Na portaria, profi ssionais, voluntários e cargas<br />

eram barra<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong> instante, geran<strong>do</strong><br />

constrangimento e desgaste à equipe de produção,<br />

que era obrigada a se deslocar até a<br />

entrada <strong>do</strong> complexo <strong>do</strong> Maracanã para autorizar<br />

o acesso. Mesmo com o deslocamento<br />

de um núcleo de credenciamento para o<br />

Maracanã, exclusivo para a equipe de funcionários<br />

de cerimônias, a operação não foi<br />

efi ciente. Com a proximidade <strong>do</strong>s Jogos, os<br />

problemas se agravaram.<br />

O movimento de entregas de material era incessante<br />

e a carga de trabalho aumentava.<br />

Para evitar maiores confl itos, uma parceria<br />

com o coman<strong>do</strong> de segurança <strong>do</strong> complexo<br />

e a Superintendência de Desportos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro (Suderj) instituiu um esquema<br />

alternativo de acesso. Foram adquiridas<br />

pulseiras coloridas que identificavam função,<br />

dia e áreas de circulação <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s. Era<br />

mais uma demonstração da grande capacidade<br />

de improvisação da produção <strong>do</strong> evento. A<br />

dificuldade perdurou e, no dia da cerimônia de<br />

abertura, vários profissionais envolvi<strong>do</strong>s não<br />

tinham ingresso garanti<strong>do</strong> ao local.<br />

A falha atingia desde o empurra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> carro<br />

alegórico até a grande responsável pela beleza<br />

da festa. Rosa Magalhães teve dificuldades<br />

de ingressar no local. “No dia da cerimônia eu<br />

não tinha credencial e nem convite. Eu não podia<br />

sentar em lugar nenhum. Mas não queria<br />

brigar, só queria ver a festa. Qualquer lugar estaria<br />

bom para mim. Fiquei sentadinha ao la<strong>do</strong><br />

da pira”, revelou Rosa.<br />

Até no final <strong>do</strong>s preparativos a cerimônia reservou<br />

alguns imprevistos. Somente no dia da<br />

abertura, a poucas horas de a celebração começar,<br />

a equipe de produção foi avisada de<br />

que o grama<strong>do</strong> <strong>do</strong> estádio deveria ser desocupa<strong>do</strong><br />

após o término da festa. O combina<strong>do</strong><br />

inicial previa a desmontagem na manhã<br />

seguinte. Desta forma, não havia planejamento<br />

para a retirada da imensa parafernália <strong>do</strong> local<br />

ainda na sexta à noite. Apesar da surpresa,<br />

toda a desmontagem foi feita após a festa, no<br />

prazo solicita<strong>do</strong> pela Suderj.<br />

O atraso na largada para a produção das cerimônias<br />

foi, sem dúvida, o maior desafio de to<strong>do</strong>s<br />

os envolvi<strong>do</strong>s no projeto. Não raro, a concretização<br />

da festa foi posta em dúvida pelos<br />

meios de comunicação.<br />

Passa<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> dramático, com o resulta<strong>do</strong><br />

final positivo, o registro de sucesso feito pela mídia<br />

e a satisfação <strong>do</strong> público, as noites não <strong>do</strong>rmidas<br />

e o estresse vivi<strong>do</strong> em três meses de muito<br />

trabalho foram plenamente recompensa<strong>do</strong>s.<br />

42


Afinal, to<strong>do</strong>s haviam participa<strong>do</strong> da produção<br />

<strong>do</strong> mais belo show da história <strong>do</strong>s Jogos Panamericanos.<br />

“O processo foi moroso e complica<strong>do</strong>,<br />

mas a equipe tinha qualidade técnica e no<br />

final tu<strong>do</strong> deu certo.”, afirma o diretor musical<br />

Alê Siqueira. A dedicação de to<strong>do</strong>s foi essencial<br />

para a concretização <strong>do</strong> projeto. A pressão <strong>do</strong><br />

tempo foi vivida desde a linha de produção das<br />

fantasias até os produtores-executivos.<br />

A experiência gerou lega<strong>do</strong> de conhecimento a<br />

profissionais de diversas áreas e revelou capacidade<br />

de organização e amadurecimento <strong>do</strong><br />

País no segmento de concepção e produção<br />

de grandes espetáculos artísticos. Para futuras<br />

produções, como a abertura da Copa de<br />

2014 e, quem sabe, a abertura das Olimpíadas,<br />

fica uma lição: planejamento e previsão orçamentária<br />

são essenciais.<br />

Stein, Givens e Rosa:<br />

trabalho conjunto na<br />

festa que entrou para<br />

a história<br />

Foto: Ismar Ingeber / CO-Rio<br />

43


A harmonia entre as<br />

nações foi um <strong>do</strong>s temas<br />

explora<strong>do</strong>s na festa<br />

44


Encerramento<br />

A<br />

pesar de o desfecho <strong>do</strong> Pan ser<br />

uma grande festa, a nostalgia é inevitável.<br />

Clima de despedida no ar,<br />

o 29 de julho de 2007 amanheceu<br />

melancólico. Os céus cariocas se fecharam e<br />

as nuvens choraram o anuncia<strong>do</strong> fim <strong>do</strong>s XV<br />

Jogos Pan-americanos. Na cerimônia de encerramento,<br />

o Maracanã, vesti<strong>do</strong> de verdeamarelo,<br />

também chorou o trágico acidente<br />

aéreo que havia abala<strong>do</strong> o País na noite de 17<br />

de julho no Aeroporto de Congonhas, em São<br />

Paulo. Em uma singela homenagem às famílias<br />

das vítimas, a bandeira nacional foi hasteada<br />

por nove policiais militares <strong>do</strong> Corpo de<br />

Bombeiros de São Paulo que participaram <strong>do</strong><br />

resgate no local <strong>do</strong> acidente. Sob lágrimas,<br />

orações e forte emoção, o Hino Nacional foi<br />

entoa<strong>do</strong> em coro nas arquibancadas.<br />

A cerimônia de encerramento é o momento de<br />

transição para a próxima sede. Mas nem por<br />

isso é menos bela. É uma festa <strong>do</strong>s atletas, um<br />

momento para celebrar a amizade entre as nações<br />

e as conquistas durante os Jogos. Muitos<br />

desfilaram com suas medalhas no peito, orgulhosos<br />

de seus feitos. Em um misto de saudade<br />

e alegria, lágrimas e sorrisos apareciam ao<br />

mesmo tempo nos rostos <strong>do</strong>s competi<strong>do</strong>res.<br />

A cerimônia de encerramento é também uma<br />

oportunidade para o país anfitrião deixar sua<br />

marca de forma positiva e reforçar a exposição<br />

de sua imagem na lembrança de atletas, da<br />

mídia e <strong>do</strong> público. Para o Brasil, não haveria<br />

melhor forma de fechar o ciclo que se iniciou<br />

em 2002, quan<strong>do</strong> conquistou o direito de organizar<br />

os Jogos.<br />

Foto: Harry How / Getty Images<br />

Em seu discurso fi nal, Mario Vásquez Raña,<br />

presidente da Odepa, afi rmou que os XV Jogos<br />

Pan-americanos foram os melhores de<br />

toda história. E completou: “as Américas estão<br />

prontas para pleitear o direito de sediar<br />

os Jogos Olímpicos”. A descontração e a<br />

alegria <strong>do</strong>s participantes são elementos marcantes<br />

no encerramento <strong>do</strong> Pan. Se na abertura<br />

os atletas se apresentavam ao público<br />

dividi<strong>do</strong>s por nacionalidade, na cerimônia<br />

de encerramento to<strong>do</strong>s entraram juntos. DJs<br />

alternavam-se nas picapes tocan<strong>do</strong> funks ca-<br />

45


iocas, e uma seleção de intérpretes latinos<br />

se revezou no microfone: os brasileiros Lenine,<br />

Fernanda Abreu e Thalma de Freitas, o<br />

compositor uruguaio Jorge Drexler, a cantora<br />

cubana Yusa e o argentino Ramiro Mussoto,<br />

entre outros. “Na abertura, fizemos cerimônia<br />

de um Brasil acolhe<strong>do</strong>r, mostran<strong>do</strong> sua<br />

cultura e sua identidade musical. No encerramento,<br />

queríamos realizar uma comunhão<br />

pan-americana de ritmos e sons”, contou Alê<br />

Siqueira, diretor musical.<br />

O México, que abrigará<br />

o próximo Pan, recebeu<br />

homenagem especial<br />

A produção da cerimônia de encerramento<br />

também sofreu com o escasso tempo de planejamento.<br />

Sua gestação foi concebida ao<br />

mesmo tempo que a cerimônia de abertura,<br />

mas por absoluta questão de prioridade não<br />

houve ensaios até o início <strong>do</strong>s Jogos. Muito<br />

trabalho estava por vir. Enquanto cerravamse<br />

as cortinas <strong>do</strong> debute, o exército da equipe<br />

de produção iniciava uma nova batalha.<br />

Ao mesmo tempo que os atletas competiam<br />

nas piscinas, quadras e grama<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Pan,<br />

a equipe de produção de cerimônia também<br />

suava a camisa. Durante os 17 dias de<br />

competição, mais de <strong>do</strong>is mil voluntários ensaiavam<br />

as coreografi as da celebração de<br />

encerramento. O palco e a cenografi a foram<br />

remonta<strong>do</strong>s e algumas trilhas sonoras, fi nalizadas.<br />

Os artistas também foram ao estádio<br />

treinar sua participação.<br />

Ao som <strong>do</strong>s versos de Dorival Caymmi “Vamos<br />

chamar o vento, vamos chamar o vento”,<br />

a Chama Pan-americana foi se esvain<strong>do</strong> aos<br />

poucos, levada pelo sopro simbólico de duas<br />

gerações da família <strong>do</strong> compositor baiano, a<br />

neta Alice Caymmi, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> pai, Danilo.<br />

A cerimônia iniciou a contagem regressiva para<br />

o próximo Pan, a ser realiza<strong>do</strong> em Guadalajara,<br />

no México, em 2011. Aos poucos, a festa<br />

brasileira ganhou tons das terras <strong>do</strong>s mariachis<br />

e de seus grandes sombreiros. Os futuros<br />

anfitriões trouxeram 120 artistas para enfatizar<br />

que, a partir de agora, a festa é com eles. Sai<br />

de cena o Rio 2007 e entra a expectativa por<br />

Guadalajara 2011.<br />

46


47<br />

Foto: Harry How / Getty Images


A alegria no Parapan<br />

Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva lidera<br />

a entrada da delegação<br />

brasileira na cerimônia<br />

B<br />

eleza e sensibilidade. Estas palavras<br />

sintetizam e traduzem o espetáculo<br />

de abertura <strong>do</strong>s III Jogos<br />

Parapan-americanos. Atletas<br />

e público se uniram e ficaram emociona<strong>do</strong>s<br />

com um enre<strong>do</strong> que viajou pela cultura e folclore<br />

brasileiros. O Hino Nacional, executa<strong>do</strong><br />

no ban<strong>do</strong>lim de Hamilton de Holanda, marcou<br />

o início de uma festa que ficará para sempre<br />

guardada na memória <strong>do</strong>s presentes à Arena<br />

Multiuso, uma das instalações <strong>do</strong> Complexo<br />

Esportivo <strong>do</strong> Autódromo de Jacarepaguá, na<br />

zona oeste <strong>do</strong> Rio.<br />

Cerca de 200 voluntários apresentaram coreografias<br />

que uniram tecnologia, música e dança.<br />

Na abertura, as ondas das águas deram o tom.<br />

Abundante, o elemento representava o Brasil<br />

Tropical. Em seguida entra em cena o azul <strong>do</strong><br />

céu, que segun<strong>do</strong>s depois sofre uma colorida<br />

e alegre pigmentação, representan<strong>do</strong> as diversas<br />

manifestações culturais <strong>do</strong> País. A parte<br />

final <strong>do</strong> espetáculo é dedicada ao homem que<br />

sonha, que transforma e que supera os limites<br />

para expressar sua vocação.<br />

To<strong>do</strong>s os espaços da Arena Multiuso foram<br />

ocupa<strong>do</strong>s. Dez bailarinos da Companhia de<br />

dança Dani Lima escorregavam em fitas coloridas<br />

de 45 metros de altura em ousadas coreografias<br />

aéreas. Movimentos no ar, no chão,<br />

uma harmonia. O segmento artístico contou<br />

com uma alegoria humana móvel nas laterais<br />

<strong>do</strong> megapalco de 350 m², onde as cantoras<br />

Adriana Calcanhato e Daniela Mercury se<br />

apresentaram. Vinte e oito pessoas, divididas<br />

em duas arquibancadas, faziam evoluções e<br />

desenhavam elementos cênicos para a apresentação.<br />

Um momento especial foi a “Reza<br />

da Paz”, apresentada pelo Grupo Giro, com<br />

coreografia de Rosângela Bernabé. O grupo,<br />

que reúne bailarinos com e sem deficiência,<br />

provou que não há limites para o sonho.<br />

A receptividade e a alegria <strong>do</strong> povo brasileiro impressionaram<br />

os competi<strong>do</strong>res das Américas.<br />

To<strong>do</strong>s os 25 países foram aplaudi<strong>do</strong>s durante<br />

o desfile das delegações que competiram nos<br />

III Jogos Parapan-americanos. “Como bem diz<br />

a música-tema <strong>do</strong>s Jogos, estamos realmente<br />

viven<strong>do</strong> esta energia. O show foi bastante di-<br />

48


verti<strong>do</strong> e me senti muito bem no Brasil. Fui bem<br />

trata<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s aqui. Os brasileiros são muitos<br />

gentis”, destacou o joga<strong>do</strong>r de futebol de<br />

sete canadense Scott Van den Boogaard.<br />

O acendimento da Pira Parapan-americana<br />

foi um <strong>do</strong>s momentos mais tocantes da cerimônia.<br />

Um misto de emoções estampava<br />

os rostos <strong>do</strong>s atletas. “Tu<strong>do</strong> foi maravilhoso,<br />

mas a parte que mais me marcou foi a passagem<br />

da tocha. É um símbolo muito importante<br />

para nós atletas”, disse a nada<strong>do</strong>ra brasileira<br />

Tássia Fernandes. A chama foi acesa pelo<br />

ex-atleta Luiz Carlos Pereira. Com nove medalhas<br />

paraolímpicas – seis de ouro, três de prata<br />

– e três recordes mundiais na Paraolimpíada<br />

de Seul 1988, Luiz afirmou que o acendimento<br />

da Pira representou o momento mais importante<br />

de sua carreira esportiva. “Achei que não<br />

existisse emoção maior para um atleta <strong>do</strong> que<br />

ganhar a medalha de ouro. Mas hoje percebi<br />

que estava engana<strong>do</strong>. Acender a Pira foi como<br />

reacender a minha história no esporte. É importante<br />

este momento, sobretu<strong>do</strong> ao esporte<br />

paraolímpico, que muitas vezes cai no esquecimento”,<br />

lembra o esportista.<br />

A produção da cerimônia foi totalmente brasileira,<br />

com direção artística de Luiz Stein e Rosa<br />

Magalhães, direção musical de Alê Siqueira,<br />

coreografia de Dani Lima e direção geral de<br />

Leonar<strong>do</strong> Gryner. Sua concepção, criação e<br />

produção ocorreram paralelamente à construção<br />

da cerimônia de abertura <strong>do</strong> Pan. Todas<br />

as contratações foram feitas através <strong>do</strong>s mesmos<br />

convênios que subsidiaram a realização<br />

das cerimônias <strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos.<br />

Desta maneira, respeitava-se o orçamento e<br />

agilizava-se a produção. A Mon<strong>do</strong> Entretenimento,<br />

a empresa produtora <strong>do</strong> evento, a Associação<br />

de Mulheres Empreende<strong>do</strong>ras <strong>do</strong><br />

Brasil (Amebras), que confeccionou os trajes,<br />

adereços e figurinos, e a empresa responsável<br />

pela iluminação <strong>do</strong> show trabalharam nas<br />

cerimônias <strong>do</strong> Pan e <strong>do</strong> Parapan. Um exemplo<br />

de eqüidade administrativa.<br />

Fotos: Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil<br />

Acrobacias e efeitos<br />

especiais com luzes<br />

deram o tom da festa<br />

49


As brasileiras Laís (à esq.)<br />

e Jade (centro) no pódio:<br />

cerimônias de entrega de<br />

medalhas foram financiadas<br />

pelo governo federal<br />

50


As outras cerimônias<br />

A<br />

demanda e o esta<strong>do</strong> crítico da cerimônia<br />

de abertura exigiam esforço,<br />

paciência e exclusividade da<br />

equipe contratada para o Núcleo<br />

de Gerenciamento e Criação. Desta forma,<br />

paralelamente, foi contratada mão-de-obra<br />

especializada para operacionalizar as demais<br />

cerimônias: boas-vindas aos atletas, premiação<br />

aos medalhistas e produção de esportes,<br />

esta com objetivo de entreter e informar<br />

o público antes e durante os intervalos das<br />

competições. Trezentas e vinte pessoas integraram<br />

esta equipe de cerimônias. O grupo<br />

era responsável por a<strong>do</strong>tar os roteiros, som,<br />

iluminação, equipes e procedimentos planeja<strong>do</strong>s,<br />

bem como zelar para que tais cerimônias<br />

fossem preparadas de acor<strong>do</strong> com<br />

o protocolo. A Mon<strong>do</strong> Entretenimento fi cou<br />

encarregada da aquisição de itens indispensáveis<br />

ao êxito dessas cerimônias.<br />

Para a confecção de medalhas e diplomas, o<br />

governo federal seguiu a tradição de grandes<br />

eventos esportivos e fi rmou contrato com a<br />

Casa da Moeda <strong>do</strong> Brasil. A entidade foi contratada<br />

diretamente por notória especialização,<br />

porque atendia, de forma única e sem<br />

concorrência, a todas as exigências e necessidades<br />

da administração pública.<br />

Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />

Foram toma<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os cuida<strong>do</strong>s para a<br />

confecção das bandeiras nacionais, já que<br />

qualquer erro poderia gerar um problema<br />

diplomático ao País. As bandeiras utilizadas<br />

nas cerimônias foram subsidiadas pelo convênio<br />

021/2007 fi rma<strong>do</strong> entre o Ministério <strong>do</strong><br />

<strong>Esporte</strong> e o Comitê Organiza<strong>do</strong>r, em março<br />

de 2007, no valor de R$ 387.648,65 da União.<br />

Assim como a bandeira, o Hino Nacional<br />

também é um <strong>do</strong>s maiores símbolos de uma<br />

nação. Para garantir a unidade técnica e musical,<br />

to<strong>do</strong>s os hinos nacionais <strong>do</strong>s 42 países<br />

participantes, assim como o hino das organizações<br />

envolvidas, foram grava<strong>do</strong>s pela Orquestra<br />

Sinfônica Brasileira.<br />

51


Show <strong>do</strong> Afro Lata na<br />

recepção aos brasileiros<br />

na Vila Pan-americana<br />

52


Bem-vin<strong>do</strong>s, visitantes<br />

A<br />

Vila Pan-americana, casa <strong>do</strong>s atletas<br />

das 42 delegações <strong>do</strong>s Jogos<br />

Pan-americanos e das 25 <strong>do</strong>s Jogos<br />

Parapan-americanos, também<br />

foi o cenário escolhi<strong>do</strong> para dar as boasvindas<br />

aos competi<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is eventos.<br />

Era uma forma fraternal de receber e seguir<br />

o roteiro protocolar estabeleci<strong>do</strong> pela Odepa<br />

e pelo Comitê Paraolímpico das Américas<br />

(APC). O protocolo consistia em um breve<br />

discurso de boas-vindas, segui<strong>do</strong> de troca<br />

de presentes entre o prefeito da Vila, o general<br />

Paulo Roberto Laranjeiras Caldas, e os<br />

chefes de delegações. Em seguida, era executa<strong>do</strong><br />

o hino e hasteada a bandeira <strong>do</strong> país<br />

homenagea<strong>do</strong>. Assim que terminava o evento,<br />

era ofereci<strong>do</strong> um coquetel de recepção para<br />

as delegações.<br />

O Brasil não deixou de dar seu toque típico<br />

às cerimônias. Com o intuito de mostrar um<br />

pouco da cultura brasileira, a Petrobras, patrocina<strong>do</strong>ra<br />

oficial <strong>do</strong>s Jogos, trouxe o grupo<br />

cultural AfroReggae, que fez apresentações de<br />

percussão, música, circo e dança para as delegações<br />

recém-chegadas. Mariana <strong>do</strong>s Santos<br />

Silva tem 15 anos e há cinco participa <strong>do</strong><br />

grupo que surgiu em janeiro de 1993, na favela<br />

de Vigário Geral. No Pan, ela se apresentou<br />

com o conjunto de percussão forma<strong>do</strong> apenas<br />

por mulheres, Akoní, que significa mulheres<br />

corajosas e fortes na língua africana orubá.<br />

“Foi muito divertida a experiência, conhecer de<br />

pertinho os atletas e entrar na Vila Pan. Tomara<br />

as Olimpíadas aconteçam aqui, quem sabe a<br />

gente não toca lá também?”, anima-se.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

O AfroReggae surgiu depois da chacina que<br />

aconteceu na favela de Vigário Geral, com o<br />

objetivo de valorizar e divulgar a cultura negra,<br />

volta<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> para jovens liga<strong>do</strong>s em<br />

ritmos como reggae, soul e hip-hop. Atualmente,<br />

o grupo, patrocina<strong>do</strong> pela Petrobras,<br />

desenvolve diversos programas em quatro<br />

comunidades diferentes. Nas cerimônias de<br />

boas-vindas <strong>do</strong>s Jogos Parapan-americanos,<br />

grupos de voluntários de dança e música de<br />

comunidades <strong>do</strong> Rio de Janeiro também mostraram<br />

a sua arte.<br />

53


Despedida no pódio: o<br />

ministro Orlan<strong>do</strong> Silva Jr.<br />

abraça Janeth, prata no<br />

Pan, após seu último jogo<br />

pela seleção de basquete<br />

54


Foto: Francisco Medeiros / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

A premiação <strong>do</strong>s medalhistas<br />

A<br />

s cerimônias de premiação retratam<br />

o momento mais simbólico<br />

das competições esportivas. O pódio<br />

é o destino final da luta, suor e<br />

determinação de cada atleta, e a medalha é<br />

a representação desta batalha hercúlea contra<br />

os limites <strong>do</strong> corpo e da mente. Cada vitória<br />

obtida nas piscinas, quadras e grama<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

Jogos Pan e Parapan-americanos era a marca<br />

da superação, <strong>do</strong> trabalho e da dedicação <strong>do</strong>s<br />

atletas. Felicidade e extrema comoção compunham<br />

o enre<strong>do</strong> e humanizavam os protocolos<br />

das cerimônias de premiação.<br />

“Quan<strong>do</strong> eu ouvi o Hino <strong>do</strong> Brasil e coloquei a<br />

medalha no peito, me lembrei de to<strong>do</strong> o caminho<br />

percorri<strong>do</strong>. Naquele momento meu nome<br />

estava entran<strong>do</strong> para a história <strong>do</strong> boxe nacional.<br />

Ainda hoje, quan<strong>do</strong> olho a medalha em<br />

casa, bate saudade da competição e de toda<br />

a alegria de novo”, disse o boxea<strong>do</strong>r Pedro<br />

Lima. Sua vitória quebrou 44 anos de ausência<br />

de ouro brasileiro em Jogos Pan-americanos<br />

na modalidade.<br />

Dada a sua importância e visibilidade nos<br />

meios de comunicação, as cerimônias de premiação<br />

merecem cuida<strong>do</strong>s re<strong>do</strong>bra<strong>do</strong>s porque,<br />

além de envolver aspectos criativos, devem<br />

obedecer aos protocolos da Organização<br />

Desportiva Pan-americana (Odepa) e <strong>do</strong> Comitê<br />

Paraolímpico das Américas (APC) e seguir<br />

o padrão estético <strong>do</strong> Look of the Games,<br />

a programação visual desenvolvida especialmente<br />

para os Jogos. Foi criada também uma<br />

música-tema para a entrega das medalhas,<br />

produzida por Alê Siqueira. A composição trazia<br />

acordes que destacavam a vitória e a superação<br />

de limites.<br />

Depois de confirma<strong>do</strong>s os vence<strong>do</strong>res das<br />

provas, um roteiro era segui<strong>do</strong> pelas equipes<br />

de produção. Tu<strong>do</strong> no menor espaço de tempo<br />

possível: montagem da estrutura de pódio<br />

e bandeiras, separação de medalhas e hinos,<br />

impressão <strong>do</strong>s nomes <strong>do</strong>s vence<strong>do</strong>res nos<br />

diplomas, entre outros. As medalhas e os buquês<br />

foram entregues por autoridades <strong>do</strong> movimento<br />

esportivo nacional e internacional.<br />

55


Anima<strong>do</strong>res tornaram<br />

a festa <strong>do</strong> público nas<br />

instalações esportivas<br />

ainda mais vibrante<br />

56


Para animar a festa<br />

O<br />

conceito de produção <strong>do</strong>s esportes<br />

não é novo, mas o Brasil<br />

inovou ao introduzi-lo nos Jogos<br />

Pan-americanos. Para animar e<br />

envolver o público, um programa de entretenimento<br />

foi cria<strong>do</strong> pelo Núcleo de Criação e<br />

Gerenciamento de Cerimônias. Nos intervalos<br />

das competições e antes da entrega das medalhas,<br />

vários números artísticos eram apresenta<strong>do</strong>s<br />

ao público, que em muitos casos era<br />

convida<strong>do</strong> a interagir com os protagonistas. A<br />

intenção era fazer com que os especta<strong>do</strong>res<br />

fossem atraí<strong>do</strong>s para o evento. Olas com teci<strong>do</strong>s<br />

colori<strong>do</strong>s, gincanas, coreografias, anima<strong>do</strong>res<br />

fantasia<strong>do</strong>s e irreverentes, músicas<br />

empolgantes. Em algumas arenas, houve distribuição<br />

de brindes e presença da mascote<br />

Cauê. Em outras, vídeos e vinhetas eletrônicas<br />

informativas sobre o histórico <strong>do</strong> esporte e o<br />

funcionamento da instalação.<br />

No Parapan, algumas apresentações contaram<br />

com colaboração voluntária de grupos<br />

artísticos que reuniam adultos e crianças com<br />

deficiência. Poucas falhas foram identificadas<br />

nesta área. A única que merece destaque foi<br />

a constante alteração no calendário das apresentações,<br />

que oscilava muito em função <strong>do</strong>s<br />

resulta<strong>do</strong>s e da relevância das competições<br />

<strong>do</strong> dia. Isso dificultava o monitoramento pela<br />

equipe de cerimônias <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />

Para obter informações sobre mudanças na<br />

programação, era preciso fazer diversos contatos<br />

com os responsáveis no CO-Rio.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Uma empresa de consultoria americana executou<br />

o projeto. Não havia no merca<strong>do</strong> brasileiro<br />

profissionais que conhecessem as características<br />

de to<strong>do</strong>s os esportes <strong>do</strong> programa <strong>do</strong>s<br />

Jogos e a melhor maneira de apresentá-los ao<br />

público. A consultoria aju<strong>do</strong>u a especificar as<br />

necessidades, indicou empresas para participarem<br />

<strong>do</strong>s processos de seleção, colaborou<br />

com a equipe de orçamento e auxiliou na coordenação<br />

e no treinamento <strong>do</strong>s profissionais<br />

e empresas contratadas para a ação. Os custos<br />

compuseram a verba <strong>do</strong>s convênios que<br />

subsidiaram a área. Algumas das atrações de<br />

entretenimento eram voluntárias.<br />

57


Uma festa de prêmios internacionais<br />

O<br />

reconhecimento <strong>do</strong>s valores estéticos,<br />

da simbologia e da beleza<br />

das cerimônias <strong>do</strong> Pan Rio 2007<br />

passou, felizmente, a ser rotina.<br />

No dia 13 de junho de 2008, a abertura oficial<br />

<strong>do</strong>s Jogos, realizada onze meses antes no<br />

Maracanã e financiada com R$ 51 milhões <strong>do</strong><br />

Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, ganhou mais um troféu<br />

internacional. Não foi uma conquista qualquer.<br />

A diretora artística da cerimônia, Rosa Magalhães,<br />

recebeu em Nova York o prêmio<br />

de Melhor Figurino na 35ª edição <strong>do</strong> Emmy<br />

Awards. A festa concorreu também nas categorias<br />

Melhor Direção de Arte e Melhor Iluminação.<br />

Considera<strong>do</strong> o Oscar da televisão, o<br />

Emmy promove a criatividade, a diversidade,<br />

a inovação, a excelência e as novidades na<br />

área de telecomunicações. Rosa foi o único<br />

profi ssional não-americano a levar uma estatueta<br />

nesta edição.<br />

Foi o oitavo prêmio internacional da Cerimônia<br />

de Abertura. Semanas antes, ela tinha leva<strong>do</strong><br />

seis estatuetas na 29ª edição <strong>do</strong> prêmio americano<br />

Telly Awards, que escolhe as melhores<br />

produções em tevê aberta e fechada, vídeo, cinema<br />

e internet. Três delas foram de prata (top<br />

honnor), nas categorias Eventos televisiona<strong>do</strong>s<br />

ao vivo, Eventos esportivos televisiona<strong>do</strong>s e<br />

Eventos não-televisivos de esporte.<br />

Foto: Streeter Lecka / Getty Images<br />

A impressionante seqüência de conquistas foi<br />

iniciada no final de 2007, com o Sport Business<br />

ISEMS Awards, que elegeu a abertura <strong>do</strong><br />

Pan a melhor de eventos multiesportivos no<br />

mun<strong>do</strong> em 2007. O ISEMS destacou a qualidade<br />

de realização, a criatividade e o alto padrão<br />

de profissionalismo exibi<strong>do</strong>s no Maracanã. “A<br />

festa valorizou a diversidade da cultura brasileira<br />

e o espírito envolvente de nosso povo. Esses<br />

conceitos foram rapidamente percebi<strong>do</strong>s<br />

mun<strong>do</strong> afora, o que gerou to<strong>do</strong> esse reconhecimento”,<br />

avalia o secretário executivo <strong>do</strong> Pan<br />

no Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, Ricar<strong>do</strong> Leyser.<br />

58


Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Adriana Calcanhoto canta<br />

músicas infantis na cerimônia.<br />

No detalhe, Rosa Magalhães<br />

com o Emmy: reconhecimento<br />

da crítica internacional<br />

59


Medalhas e diplomas<br />

S<br />

ímbolo máximo da conquista <strong>do</strong>s<br />

atletas, as medalhas <strong>do</strong>s Jogos tiveram<br />

um desenho arroja<strong>do</strong> e inova<strong>do</strong>r.<br />

O formato geralmente arre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong><br />

foi substituí<strong>do</strong> por um trapézio, uma<br />

singela homenagem ao esforço <strong>do</strong> atleta e à<br />

capacidade de superação. A inovação também<br />

foi registrada na junção de materiais utiliza<strong>do</strong>s<br />

em sua confecção. Em torno da peça<br />

metálica foi colocada uma moldura acrílica. “O<br />

trapézio, de maneira bem simplificada, é um<br />

retângulo que busca se estender, romper os<br />

limites. E isto tem tu<strong>do</strong> a ver com os esportes<br />

de alto rendimento.”, explica Ney Valle, um <strong>do</strong>s<br />

cria<strong>do</strong>res da peça, ao la<strong>do</strong> de Claúdia Gamboa<br />

e Beatriz Abreu, da Dupla Design.<br />

As medalhas <strong>do</strong> Pan trouxeram cunhadas de<br />

um la<strong>do</strong> a logomarca <strong>do</strong> Rio 2007 em alto relevo<br />

e, <strong>do</strong> outro, a expressão “XV Jogos Panamericanos”<br />

(em português, espanhol e inglês),<br />

a data <strong>do</strong> evento e a chancela da Odepa.<br />

O mesmo padrão foi a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> nas medalhas <strong>do</strong><br />

Parapan, com a substituição da entidade e <strong>do</strong><br />

nome <strong>do</strong> evento esportivo. O modelo <strong>do</strong> Parapan<br />

precisava, no entanto, de instrumentos<br />

especiais de cunhagem para gravar as inscrições<br />

em braile.<br />

A produção das peças <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is eventos demandava<br />

alto grau de detalhamento e complexidade<br />

técnica. Além de estu<strong>do</strong>s para aliar<br />

<strong>do</strong>is materiais tão distintos, era preciso inserir<br />

elementos e sinais de segurança para<br />

garantir sua autenticidade e evitar possíveis<br />

falsifi cações. Conscientes da importância da<br />

operação e de que qualquer falha poderia<br />

prejudicar a credibilidade <strong>do</strong> País, o governo<br />

federal e o CO-Rio convidaram a Casa da<br />

Moeda <strong>do</strong> Brasil (CMB) para cunhar e produzir<br />

as medalhas e os diplomas <strong>do</strong> Pan e <strong>do</strong><br />

Parapan. O contrato administrativo 29/2007,<br />

foi assina<strong>do</strong> entre o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

e a CMB no início de 2007, no valor de R$<br />

2.044.605,73.<br />

As medalhas e os diplomas foram retira<strong>do</strong>s da<br />

Casa da Moeda sob acompanhamento <strong>do</strong> Ministério<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e <strong>do</strong> CO-Rio e entregues<br />

aos coordena<strong>do</strong>res de cada uma das instalações<br />

com escoltas da Força Nacional de Segurança.<br />

Toda a operação de distribuição e<br />

guarda <strong>do</strong> material era de responsabilidade <strong>do</strong><br />

Comitê. No total, foram produzi<strong>do</strong>s 20.432 medalhas<br />

e 11.680 diplomas, sen<strong>do</strong>:<br />

<br />

de ouro, 860 de prata e 952 de bronze);<br />

<br />

(613 de ouro, 613 de prata e 634 de bronze);<br />

<br />

<br />

<br />

no Pan;<br />

<br />

no Parapan.<br />

Os diplomas de premiação <strong>do</strong>s atletas foram<br />

confecciona<strong>do</strong>s em papel fi ligrafa<strong>do</strong> da Casa<br />

da Moeda, com marca d´água, tinta ultravioleta<br />

e gravação em chapa quente com película<br />

prateada. O nome <strong>do</strong> atleta vence<strong>do</strong>r era<br />

impresso após confi rmação da vitória pela<br />

equipe de tecnologia, e o diploma era entregue<br />

posteriormente, junto com a embalagem<br />

das medalhas.<br />

Quantidade das peças<br />

PAN PARAPAN TOTAL<br />

Unidades Unidades Unidades<br />

Medalhas 15.422 5.010 20.432<br />

Diplomas 6.956 4.724 11.680<br />

60


As brasileiras da ginástica<br />

no topo <strong>do</strong> pódio: farta<br />

distribuição de medalhas<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Metais cobiça<strong>do</strong>s<br />

Como foram feitas as medalhas <strong>do</strong>s Jogos Pan e Parapan-americanos<br />

As medalhas <strong>do</strong>s Jogos foram<br />

produzidas pela Casa da Moeda<br />

<strong>do</strong> Brasil. Forjadas em liga<br />

de bronze, apresentaram um<br />

desenho arroja<strong>do</strong> e inova<strong>do</strong>r.<br />

Em torno da parte metálica foi<br />

colocada uma moldura plástica.<br />

A integração destes elementos<br />

simboliza a união, ideal máximo<br />

<strong>do</strong> esporte.<br />

Foram produzidas 4.532 medalhas<br />

de premiação (ouro, prata e bronze)<br />

e 15,9 mil unidades<br />

de participação para os Jogos Pan<br />

e Parapan-americanos.<br />

61


O Pan presta solidariedade<br />

às vítimas <strong>do</strong> acidente aéreo<br />

ocorri<strong>do</strong> em Congonhas<br />

no dia 17 de julho:<br />

bandeiras a meio mastro<br />

Foto: André Valentin / CO-Rio<br />

62


As bandeiras de todas as nações<br />

A<br />

Bandeira Nacional é um <strong>do</strong>s símbolos<br />

máximos da soberania de<br />

um país. Suas cores, traça<strong>do</strong>s e<br />

desenhos retratam em cada detalhe<br />

a história e as tradições de um povo. A<br />

Bandeira <strong>do</strong> Brasil conta a formação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

soberano brasileiro. O aclama<strong>do</strong> verde-amarelo<br />

é herança dinástica, advinda da<br />

Casa Real de Bragança, da qual fazia parte<br />

o impera<strong>do</strong>r D. Pedro I, e da Casa Real <strong>do</strong>s<br />

Habsburg, à qual pertencia a imperatriz D. Leopoldina.<br />

Consideradas símbolos das lutas e<br />

vitórias gloriosas na defesa da Pátria, as cores<br />

<strong>do</strong> Império foram mantidas mesmo após<br />

a proclamação da República. Porém, no lugar<br />

<strong>do</strong> brasão imperial, foi impresso o azul celeste<br />

com as estrelas que brilhavam no céu <strong>do</strong><br />

dia 15 de novembro de 1889.<br />

Assim como a Bandeira <strong>do</strong> Brasil, todas as<br />

flâmulas <strong>do</strong>s países, <strong>do</strong>s comitês olímpicos e<br />

das organizações envolvidas nos Jogos carregam<br />

consigo respeito e simbolismo. Para<br />

evitar incidente diplomático, a confecção das<br />

bandeiras deve ocorrer com muita atenção<br />

ao rigor <strong>do</strong> padrão de suas cores e formas.<br />

Por isso, o CO-Rio, responsável por prover as<br />

bandeiras <strong>do</strong> evento, tomou cuida<strong>do</strong>s na seleção<br />

da empresa fornece<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> material. Primeiro,<br />

ficou defini<strong>do</strong> que todas as bandeiras<br />

deveriam ser produzidas por um único fornece<strong>do</strong>r.<br />

A empresa selecionada foi a fluminense<br />

Air Show Sports incumbida de fornecer bandeiras<br />

<strong>do</strong> Brasil, <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro,<br />

<strong>do</strong> Município <strong>do</strong> Rio de Janeiro, <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos, de<br />

cada país participante, <strong>do</strong> Comitê Olímpico Internacional<br />

(COI), <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico Internacional<br />

(IPC), da Organização Desportiva<br />

Pan-americana (Odepa), <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico<br />

das Américas (APC) e da Associação das<br />

Confederações Desportivas Pan-americanas<br />

(Acodepa), num total de 2.932 unidades de diversos<br />

tamanhos.<br />

O contrato foi viabiliza<strong>do</strong> por verba federal,<br />

através <strong>do</strong> convênio nº 21/2007 entre o CO-<br />

Rio e o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, que repassou<br />

R$ 387.648,65. A produção das bandeiras<br />

passou por rigoroso processo de avaliação e<br />

aprovação. Foram confecciona<strong>do</strong>s modelos<br />

de cada flâmula para avaliar teci<strong>do</strong>, tamanho,<br />

identificação das cores e o desenho de cada<br />

uma para primeira análise. Depois de aprovadas,<br />

foram encaminhadas para cada Comitê<br />

Olímpico Nacional e organizações multiesportivas.<br />

Só depois de chanceladas é que iriam<br />

para a linha de fabricação. Já em solo brasileiro,<br />

cada entidade fez uma última verificação<br />

para que as mesmas pudessem finalmente ser<br />

usadas nos Jogos. Elas foram utilizadas nas<br />

cerimônias de abertura, encerramento, premiação<br />

e boas vindas. As flâmulas também<br />

compunham a decoração das instalações esportivas<br />

e das mesas <strong>do</strong>s chefes de cada Comitê<br />

Olímpico e das organizações desportivas<br />

internacionais. Elas são produzidas em tamanhos<br />

diferentes por orientação <strong>do</strong>s protocolos<br />

olímpico e internacional.<br />

Um clima de melancolia e tristeza chegou à<br />

festa <strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos. O acidente<br />

com o avião da TAM, no dia 17 de julho,<br />

no aeroporto de Congonhas, em São Paulo,<br />

causou comoção. O presidente Luiz Inácio<br />

Lula da Silva decretou luto oficial de três dias<br />

em respeito às 199 vítimas <strong>do</strong> maior desastre<br />

da história da aviação brasileira. Nas instalações<br />

<strong>do</strong>s Jogos, todas as bandeiras foram erguidas<br />

a meio mastro. Nenhuma flâmula pôde<br />

ser hasteada acima da brasileira em solo nacional.<br />

Dentro das arenas de competição, uma<br />

faixa preta compôs o uniforme <strong>do</strong>s joga<strong>do</strong>res<br />

das equipes brasileiras.<br />

Em todas as cerimônias de premiação realizadas<br />

durante o luto, as bandeiras foram hasteadas<br />

até o topo e, em seguida, baixadas a<br />

meio mastro. Infelizmente uma outra tragédia<br />

fez baixar a bandeira de um país participante.<br />

Em 15 de agosto, durante as competições <strong>do</strong><br />

Parapan-americano, um terremoto de grandes<br />

proporções matou mais de 500 pessoas no<br />

Peru. Foi uma das maiores catástrofes naturais<br />

ocorridas na América <strong>do</strong> Sul nos últimos<br />

cem anos. Em homenagem às suas vítimas, o<br />

país vizinho determinou o hasteamento parcial<br />

de sua flâmula.<br />

63


O PARAPAN RIO 2007<br />

Quan<strong>do</strong> a eficiência e a auto-estima<br />

jogam juntas. E vencem<br />

P<br />

ela primeira vez, as lições de superação <strong>do</strong>s 1.115 atletas de<br />

25 países <strong>do</strong>s Jogos Parapan-americanos tiveram como palco<br />

as mesmas estruturas <strong>do</strong> Pan. Pela primeira vez, o Parapan foi<br />

disputa<strong>do</strong> logo após o Pan. Pela primeira vez todas as provas<br />

foram classificatórias para as Paraolímpiadas. Pela primeira vez, os brasileiros<br />

atingiram o topo <strong>do</strong> quadro de medalhas da competição, que foi<br />

financiada pelo governo federal. Foram oito dias inesquecíveis. O relatório<br />

final <strong>do</strong>s III Jogos Parapan-americanos Rio 2007 foi aprova<strong>do</strong> com louvor<br />

na reunião <strong>do</strong> Conselho Executivo <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico Internacional<br />

(IPC), realizada em Pequim em setembro de 2008. A iniciativa <strong>do</strong> Brasil foi<br />

classificada como “histórica” pelo presidente <strong>do</strong> IPC, Philip Craven, que<br />

acrescentou: “O sucesso da competição é um incentivo para que to<strong>do</strong>s os<br />

continentes sigam este exemplo”.<br />

A organização e a<br />

boa infra-estrutura <strong>do</strong><br />

Parapan impressionaram<br />

os atletas estrangeiros<br />

64


65<br />

Foto: Alex Ferro / CO-Rio


Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />

66


Uma lição de igualdade<br />

O<br />

esporte revela heróis, eterniza í<strong>do</strong>los<br />

e não se cansa de dar exemplos.<br />

Garra, perseverança, luta e<br />

dedicação são atributos fundamentais<br />

para quem o vive com intensidade.<br />

Entre os dias 12 e 19 de agosto de 2007, o Rio<br />

de Janeiro transformou-se em um palco ilumina<strong>do</strong><br />

para o desfile dessas virtudes e valores.<br />

Nesse perío<strong>do</strong> foi disputada a terceira edição<br />

<strong>do</strong>s Jogos Parapan-americanos, a primeira da<br />

história realizada na mesma cidade, nas mesmas<br />

instalações e imediatamente após o Pan.<br />

As imagens da vitória absoluta da efi ciência ficarão<br />

guardadas na memória <strong>do</strong>s brasileiros<br />

e estrangeiros que acompanharam a competição.<br />

Ten<strong>do</strong> como cenário uma das mais belas paisagens<br />

<strong>do</strong> planeta, o Rio de Janeiro, as 25 delegações<br />

participantes promoveram um espetáculo<br />

de união, igualdade e respeito. Mais <strong>do</strong><br />

que receber, o Brasil deu aquele abraço nos<br />

1.115 atletas das mais diferentes origens, religiões<br />

e nacionalidades. To<strong>do</strong>s com um único<br />

desejo: celebrar o esporte e a paz universal.<br />

Nos sete dias de disputa, a platéia vibrou a<br />

cada ponto e a cada medalha conquistada. O<br />

verde-amarelo defendi<strong>do</strong> nas arenas esportivas<br />

<strong>do</strong> Parapan trouxe alegria, entusiasmo, e<br />

fez a sociedade refletir sobre a questão <strong>do</strong> deficiente<br />

no Brasil.<br />

O Parapan provou que, independentemente <strong>do</strong><br />

tamanho da dificuldade, o que faz a diferença<br />

é a auto-estima e a capacidade de sonhar. Em<br />

2007, o Brasil acreditou e escreveu seu nome<br />

na história <strong>do</strong> movimento paraolímpico internacional.<br />

Com fortes investimentos, patrocínios,<br />

convênios e apoios <strong>do</strong> governo federal, o País<br />

organizou uma competição praticamente sem<br />

erros e, ao final, viu seus atletas conquistarem<br />

um inédito primeiro lugar geral no quadro de<br />

medalhas, com 228 medalhas – 83 ouros, 68<br />

pratas e 77 bronzes.<br />

Novos í<strong>do</strong>los: Jogos<br />

apresentaram ao País<br />

craques como Bill,<br />

<strong>do</strong> Futebol de 5<br />

67


O esporte como reabilitação<br />

A<br />

origem <strong>do</strong> paraolimpismo remonta<br />

à luta de uma legião de veteranos<br />

vitima<strong>do</strong>s pela Segunda Guerra<br />

Mundial para se adaptar à nova<br />

condição. Muitos combatentes sofreram lesões<br />

na coluna vertebral e ficaram paraplégicos<br />

ou tetraplégicos. Era preciso reaprender<br />

a viver. Este desafio motivou o neurocirurgião<br />

alemão Ludwig Guttmann a utilizar o esporte<br />

como instrumento de reabilitação médica e<br />

social <strong>do</strong>s veteranos de guerra. No início <strong>do</strong><br />

século 20 também houve atividades esportivas<br />

para deficientes auditivos e iniciação em natação<br />

e atletismo para deficientes visuais. Mas<br />

o alemão Guttmann foi o primeiro a promover<br />

competições entre pessoas com deficiência.<br />

Tu<strong>do</strong> começou no Centro Nacional de Lesiona<strong>do</strong>s<br />

Medulares de Stoke Mandeville, uma<br />

pequena e simpática vila no sudeste da Inglaterra.<br />

Com apenas 16 veteranos de guerra, a<br />

primeira competição para atletas com deficiência<br />

foi organizada na cidade, no dia 29 de<br />

julho de 1948, não por acaso a mesma data<br />

da cerimônia de abertura das Olimpíadas de<br />

Londres. Quatro anos depois, os atletas holandeses<br />

também passaram a competir em<br />

Stoke Mandeville. Assim surgia o movimento<br />

Reabilita<strong>do</strong> pelo<br />

esporte, Ariosval<strong>do</strong><br />

Silva conquistou<br />

<strong>do</strong>is ouros e uma<br />

prata no Parapan<br />

internacional, hoje denomina<strong>do</strong> movimento<br />

paraolímpico. A primeira Paraolimpíada foi realizada<br />

em Roma, em 1960. Desde Seul, em<br />

1988, ocorrem no modelo que conhecemos<br />

hoje, logo após os Jogos Olímpicos e na mesma<br />

cidade-sede. Pequim recebeu a 13ª edição<br />

da Paraolímpiada.<br />

O esporte paraolímpico chegou ao Brasil em<br />

1958. No dia 1º de abril daquele ano, no Rio<br />

de Janeiro, o cadeirante Robson Sampaio de<br />

Almeida, em parceria com Al<strong>do</strong> Miccolis, fun<strong>do</strong>u<br />

o Clube <strong>do</strong> Otimismo. Em julho <strong>do</strong> mesmo<br />

ano, o também cadeirante Sérgio Seraphin<br />

Del Grande criou o Clube <strong>do</strong>s Paraplégicos<br />

de São Paulo. Eles tiveram a idéia de trazer<br />

o esporte paraolímpico para o Brasil quan<strong>do</strong><br />

foram se tratar de lesões em hospitais <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Robson e Sérgio tiveram a<br />

oportunidade de presenciar a prática esportiva<br />

de pessoas em cadeiras de rodas, principalmente<br />

no basquete.<br />

No caso de Del Grande, quem mais o incentivou<br />

foi Jeyne Kellog, atleta <strong>do</strong> time Pan Am Jets,<br />

versão paraolímpica da equipe de basquete<br />

Harlem Globe Troters, conhecida no mun<strong>do</strong><br />

inteiro pelos malabarismos e acrobacias rea-<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

68


Surge o Parapan<br />

liza<strong>do</strong>s em partidas de exibição. Ao longo <strong>do</strong>s<br />

anos, o esporte foi crescen<strong>do</strong> e Associações<br />

Nacionais foram sen<strong>do</strong> criadas, passan<strong>do</strong> a<br />

atender às necessidades em todas as áreas<br />

de defi ciência. Na década de 90, o desporto<br />

paraolímpico brasileiro ganhou uma entidade<br />

para integrar e organizar suas atividades.<br />

Funda<strong>do</strong> em 1995, o Comitê Paraolímpico<br />

Brasileiro (CPB) tem por missão consolidar o<br />

movimento paraolímpico no Brasil e buscar<br />

o pleno desenvolvimento e a difusão <strong>do</strong><br />

esporte de alto rendimento para pessoas<br />

com defi ciência.<br />

A<br />

primeira competição paraolímpica<br />

das Américas foi disputada em<br />

1967, em Winnipeg, no Canadá.<br />

Apenas seis países participaram.<br />

E só houve provas para cadeirantes. O ano<br />

de 1995 foi marcante para o movimento no<br />

continente. Três Parapans segui<strong>do</strong>s ocorreram<br />

na Argentina: o de Cadeira de Rodas,<br />

em setembro, em Buenos Aires, o para Cegos,<br />

em novembro, na mesma cidade, e o<br />

<strong>do</strong>s defi cientes mentais, em dezembro, em<br />

Mar del Plata. Os primeiros Jogos Parapanamericanos<br />

ofi ciais e reconheci<strong>do</strong>s pelo Comitê<br />

Paraolímpico Internacional (IPC, na sigla<br />

em inglês) realizaram-se apenas em 1999,<br />

na Cidade <strong>do</strong> México. E foram reconheci<strong>do</strong>s<br />

desta forma porque, pela primeira vez nas<br />

Américas, uma única competição reuniu atletas<br />

com diferentes tipos e graus de comprometimento<br />

físico-motor. Foram mais de mil<br />

competi<strong>do</strong>res, vin<strong>do</strong>s de 20 países. Quatro<br />

modalidades estavam em disputa: atletismo,<br />

natação, basquete e tênis de mesa.<br />

Esta foi também a primeira competição organizada<br />

após a criação <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico<br />

das Américas (APC, na sigla em inglês), em<br />

1997. O comitê é hoje a entidade máxima <strong>do</strong><br />

desporto paraolímpico no continente e teve<br />

papel fundamental na integração e desenvolvimento<br />

<strong>do</strong> esporte adapta<strong>do</strong> na região. Mar<br />

del Prata foi o cenário da segunda edição, em<br />

2003. Atletas de 14 delegações competiram<br />

nos nove esportes que compunham a grade:<br />

atletismo, natação, basquete em cadeira<br />

de rodas, voleibol senta<strong>do</strong>, bocha, hipismo<br />

(adestramento), esgrima, tênis em cadeira de<br />

rodas e ciclismo.<br />

Atletas de vários países<br />

na Vila: o movimento<br />

mostra força continental<br />

Foto: Al<strong>do</strong> Dias / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

69


Um novo modelo para as Américas<br />

O<br />

ano de 2007 cravou o nome <strong>do</strong><br />

Brasil na história <strong>do</strong> movimento<br />

paraolímpico internacional. Ao realizar<br />

os III Jogos Parapan-americanos<br />

seguin<strong>do</strong> o modelo da Paraolimpíada,<br />

ou seja, abrigan<strong>do</strong> essas disputas nas mesmas<br />

instalações e imediatamente após a disputa<br />

de sua vertente olímpica, o País inaugurou um<br />

novo conceito e estabeleceu novos caminhos<br />

para o esporte adapta<strong>do</strong> nas Américas. O inequívoco<br />

sucesso da iniciativa, elogiada por entidades<br />

internacionais, inspirou Guadalajara,<br />

no México, sede <strong>do</strong> próximo Pan, em 2011, a<br />

trilhar o mesmo caminho. O governo mexicano,<br />

o IPC e o Comitê Organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Pan de 2011<br />

assinaram carta de intenção para organizar o<br />

Parapan de Guadalajara nos moldes das Paraolimpíadas<br />

– ou, como se pode dizer a partir<br />

de agora, nos moldes <strong>do</strong> Rio 2007.<br />

O sucesso <strong>do</strong> Parapan brasileiro nasceu da<br />

união de várias forças: governos, entidades<br />

paraolímpicas, organiza<strong>do</strong>res e voluntários.<br />

Mais de 30 mil pessoas estiveram envolvidas<br />

direta ou indiretamente na organização <strong>do</strong> Parapan.<br />

Público e atletas foram um espetáculo à<br />

parte e garantiram um colori<strong>do</strong> to<strong>do</strong> especial.<br />

Nas arenas, estádios e piscinas, a edição <strong>do</strong><br />

Rio abrigou competições acirradas. Pela primeira<br />

vez, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e Canadá enviaram<br />

seus atletas de elite. O Brasil veio com força<br />

total. Soma-se ainda o México, que conquistou<br />

o primeiro lugar nas duas edições anteriores e<br />

era considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s favoritos para subir ao<br />

lugar mais alto <strong>do</strong> pódio.<br />

As estruturas e os serviços presta<strong>do</strong>s foram<br />

de alto nível. O diretor técnico <strong>do</strong> Comitê<br />

Paraolímpico Internacional, Xavier Gonzáles,<br />

elogiou: “Espero que o México siga o exemplo<br />

e se comprometa a realizar um Parapan<br />

tão espetacular quanto o <strong>do</strong> Rio. Espero que<br />

o Rio seja o princípio e não o fim”, analisa<br />

ele. Gonzáles teve papel decisivo em outra<br />

conquista: a decisão <strong>do</strong> IPC de considerar<br />

todas as provas <strong>do</strong> Parapan <strong>do</strong> Rio como<br />

classificatórias para os Jogos Paraolímpicos<br />

de Pequim 2008.<br />

70


A exemplo <strong>do</strong> Rio,<br />

Guadalajara, próxima<br />

sede <strong>do</strong>s Jogos, também<br />

organizará o Parapan<br />

Foto: Panoramic Images / Getty Images<br />

71


O BRASIL NA HISTÓRIA DO PARAPAN-AMERICANO<br />

CIDADE DO MÉXICO 1999<br />

2º<br />

LUGAR<br />

180<br />

MEDALHAS<br />

MAR DEL PLATA 2003<br />

2º<br />

LUGAR<br />

164<br />

MEDALHAS<br />

RIO DE JANEIRO 2007<br />

1º<br />

LUGAR<br />

MEDALHAS<br />

92 Ouro<br />

55 Prata<br />

33 Bronze<br />

80 Ouro<br />

53 Prata<br />

31 Bronze<br />

83 Ouro<br />

77 Bronze<br />

Foto: Francisco Medeiros / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Com oito medalhas, o nada<strong>do</strong>r<br />

Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva brilhou nas<br />

piscinas <strong>do</strong> Maria Lenk<br />

72


Um palco nobre para o Parapan<br />

O<br />

espetáculo assisti<strong>do</strong> no mês de<br />

agosto de 2007 começou a ser<br />

idealiza<strong>do</strong> antes mesmo de o Brasil<br />

oficializar sua candidatura para<br />

ser a sede <strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos. Em<br />

2001, foi realiza<strong>do</strong> um primeiro contato entre o<br />

Comitê de Candidatura, o embrião <strong>do</strong> CO-Rio,<br />

e o CPB. A intenção era avaliar a possibilidade<br />

de realizar o Parapan no Brasil e firmar uma<br />

parceria para encontrar o caminho mais viável<br />

para se concretizar esse sonho. A receptividade<br />

foi imediata. Era a oportunidade ideal<br />

para desenvolver o esporte adapta<strong>do</strong> no País<br />

e de popularizar a sua prática. A intenção era<br />

despertar a atenção das pessoas com deficiência<br />

para suas potencialidades, minimizar o<br />

preconceito e promover a inclusão social. No<br />

mesmo ano, Carlos Roberto Osório, que viria<br />

a ser secretário geral <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r,<br />

participou da Assembléia Geral <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico<br />

das Américas. Na ocasião, fez uma<br />

exposição sobre o interesse <strong>do</strong> Comitê de<br />

Candidatura de organizar o Parapan, caso o<br />

Rio vencesse a disputa. Estava plantada a semente<br />

que transformou o conceito <strong>do</strong>s Jogos<br />

Parapan-americanos no continente.<br />

Em agosto de 2002, a Cidade Maravilhosa<br />

conquista o direito de abrigar o Pan de 2007. A<br />

alegria pela vitória foi seguida pela certeza de<br />

que havia muito trabalho pela frente. No caso<br />

<strong>do</strong> Parapan, havia um complica<strong>do</strong>r. Em 2002,<br />

apenas uma competição nestes moldes havia<br />

si<strong>do</strong> organizada nas Américas, o Parapan<br />

da Cidade <strong>do</strong> México, em 1999. Não existia,<br />

portanto, um modelo a ser copia<strong>do</strong> e nenhum<br />

parâmetro comparativo para ser aprimora<strong>do</strong>,<br />

como no Pan. O grande quebra-cabeça <strong>do</strong><br />

Parapan começaria <strong>do</strong> zero. Neste momento,<br />

a parceria com as entidades paraolímpicas foi<br />

de extrema importância. Era preciso fazer um<br />

levantamento de números, definir o programa<br />

esportivo e até mesmo o número de atletas e<br />

equipes que disputariam cada modalidade. As<br />

soluções para estas e outras questões foram<br />

estudadas e sugeridas pelo CPB e APC.<br />

A relação <strong>do</strong> movimento paraolímpico com os<br />

organiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s Jogos foi cordial. O APC<br />

detinha vaga no Conselho Executivo <strong>do</strong> CO-<br />

Rio, órgão que reunia representantes <strong>do</strong>s governos,<br />

<strong>do</strong> Comitê Olímpico Brasileiro (COB)<br />

e das confederações desportivas. Porém, a<br />

participação <strong>do</strong> APC dentro <strong>do</strong> conselho era<br />

apenas consultiva.<br />

O CO-Rio foi dividi<strong>do</strong> em onze gerências. Cada<br />

uma tinha o seu gestor. Não havia uma exclusiva<br />

para o Parapan. O movimento tinha suas<br />

demandas coordenadas pela gerência de <strong>Esporte</strong>s,<br />

numa área funcional denominada Integração<br />

Parapan. Essa estrutura, que na avaliação<br />

de dirigentes <strong>do</strong> APC não tinha autonomia<br />

e poder hierárquico iguais aos das gerências,<br />

fazia a interlocução com as outras áreas. Com<br />

o crescimento das demandas e serviços <strong>do</strong><br />

Pan, se tornou um projeto acopla<strong>do</strong> ao evento<br />

anterior. Só em abril de 2007, por sugestão<br />

<strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, foi criada no CO-Rio<br />

uma gerência específica para o Parapan. Ricar<strong>do</strong><br />

Gomes, especialista em organização de<br />

eventos, assumiu a área.<br />

Apesar <strong>do</strong> inegável sucesso <strong>do</strong> Parapan Rio<br />

2007, o APC espera que o modelo de execução<br />

e gerenciamento seja repensa<strong>do</strong> caso o<br />

Brasil conquiste o direito de abrigar os Jogos<br />

Olímpicos. Para a instituição, a nomeação de<br />

um gestor específico desde o início <strong>do</strong> planejamento<br />

seria a melhor forma de conduzir o<br />

projeto, pois possibilitaria uma melhor interação<br />

com as outras gerências gerais <strong>do</strong> comitê<br />

organiza<strong>do</strong>r e facilitaria resoluções <strong>do</strong>s<br />

problemas. Uma competição paraolímpica<br />

tem peculariedades técnicas que devem ser<br />

consideradas, como acessibilidade e a avaliação<br />

funcional. No caso da Paraolimpíada, as<br />

demandas são consideravelmente maiores, à<br />

medida que é a maior competição <strong>do</strong> desporto<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Na China o programa teve 20<br />

modalidades e a participação de 147 países.<br />

“Se formos vitoriosos para abrigar os Jogos<br />

Olímpicos, o esporte paraolímpico certamente<br />

terá uma gerência própria, com a estrutura<br />

necessária para desenvolver um espetáculo<br />

esportivo à altura da sua importância”, afi rma<br />

o presidente <strong>do</strong> COB e <strong>do</strong> CO-Rio, Carlos Arthur<br />

Nuzman.<br />

73


Foto: Francisco Medeiros / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Lula, o ministro <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Orlan<strong>do</strong> Silva Jr. e a então ministra<br />

<strong>do</strong> Turismo Marta Suplicy na Vila.<br />

No detalhe, a bola <strong>do</strong> Futebol de 5<br />

feita em projeto social <strong>do</strong> Ministério<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e usada no Parapan<br />

Foto: Al<strong>do</strong> Dias / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

74


Governo federal põe recursos<br />

N<br />

ão faltou dedicação no governo<br />

federal para garantir o bom funcionamento<br />

<strong>do</strong> Parapan. Na segunda<br />

revisão orçamentária <strong>do</strong>s<br />

Jogos, encaminhada pelo CO-Rio em abril<br />

de 2005, a União propôs assumir o financiamento<br />

específico da competição. Para<br />

tanto, incluiu em seu orçamento a verba<br />

global de R$ 60 milhões para a sua realização.<br />

Empregar a mesma qualidade técnica<br />

<strong>do</strong> Pan ao Parapan, valorizar a igualdade<br />

e promover a cidadania eram as metas <strong>do</strong><br />

Plano Estratégico de Ações Governamentais<br />

(PAG), o conjunto de diretrizes, investimentos<br />

e medidas desenvolvidas pela administração<br />

pública federal para aplicação<br />

nos Jogos Rio 2007.<br />

Além de tratar com o mesmo cuida<strong>do</strong>, o<br />

plano permitiu economia de despesas em<br />

diversas áreas, já que a maior parte das necessidades<br />

<strong>do</strong> Parapan havia si<strong>do</strong> cumprida<br />

na preparação <strong>do</strong> Pan. Sen<strong>do</strong> assim, as<br />

responsabilidades de financiamento e de<br />

gerenciamento no Pan-americano também<br />

foram compartilhadas no Parapan.<br />

R$ 1.875.480,06, celebra<strong>do</strong> com o Comitê<br />

em junho de 2007, atendeu à demanda<br />

de pessoal em várias áreas funcionais da<br />

gerência de Serviços <strong>do</strong>s Jogos e foi fundamental<br />

para a continuação <strong>do</strong> trabalho<br />

destas áreas durante o Parapan. Há de se<br />

destacar também a decisiva participação<br />

<strong>do</strong> Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e da prefeitura <strong>do</strong><br />

Rio de Janeiro.<br />

Para a União, a realização <strong>do</strong> Parapan contribuía<br />

para fomentar o debate público sobre<br />

o tema da inclusão social <strong>do</strong>s deficientes<br />

no País. Desde a escolha <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />

como sede <strong>do</strong>s Jogos Parapan-americanos,<br />

o governo federal realizou ações para<br />

desenvolver o movimento paraolímpico e<br />

divulgá-lo à sociedade.<br />

A Lei de Incentivo Fiscal para o <strong>Esporte</strong> e<br />

o financiamento <strong>do</strong>s atletas sem patrocínio<br />

beneficia<strong>do</strong>s pela Bolsa-Atleta são algumas<br />

ações <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> para possibilitar<br />

que um número cada vez maior de<br />

atletas possa conquistar grandes vitórias<br />

no cenário <strong>do</strong> esporte paraolímpico.<br />

Vários convênios e contratações foram feitos<br />

para as duas competições. A confecção<br />

de medalhas e diplomas pela Casa da<br />

Moeda <strong>do</strong> Brasil, o seguro <strong>do</strong>s Jogos, feito<br />

pela Caixa Econômica Federal, o contrato<br />

<strong>do</strong>s serviços logísticos com os Correios e<br />

o acor<strong>do</strong> de ceder combustíveis da Petrobras<br />

para o abastecimento da frota foram<br />

efetua<strong>do</strong>s para os <strong>do</strong>is eventos. A mesma<br />

lógica orientou as contratações de serviços<br />

adquiri<strong>do</strong>s de empresas privadas, como a<br />

importação de equipamentos <strong>do</strong> controle<br />

anti<strong>do</strong>ping e de materiais esportivos, o pagamento<br />

de árbitros, serviços de traduções,<br />

realizações de cerimônias e operações da<br />

Vila, como lavanderia, alimentação, hotelaria<br />

e governança.<br />

Outra importante ação <strong>do</strong> governo federal<br />

foi o financiamento da contratação da força<br />

de trabalho e de coordena<strong>do</strong>res técnicos<br />

<strong>do</strong> CO-Rio. O Convênio 061/2007, de<br />

Os joga<strong>do</strong>res de futebol de 5, disputa<strong>do</strong> por<br />

deficientes visuais, chutaram, driblaram e<br />

marcaram gols no Parapan com bolas confeccionadas<br />

por presidiários e mora<strong>do</strong>res<br />

de áreas de risco social cadastra<strong>do</strong>s nos<br />

programas Pintan<strong>do</strong> a Liberdade e Pintan<strong>do</strong><br />

a Cidadania, que estão entre os mais importantes<br />

<strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />

As bolas, que têm guizos sonoros para orientar<br />

os joga<strong>do</strong>res, são homologadas pela Federação<br />

Internacional de <strong>Esporte</strong>s para Cegos<br />

(IBSA). “Além da função social, o material<br />

contribui para o desenvolvimento <strong>do</strong> futebol<br />

para cegos no Brasil”, afi rmou o técnico da<br />

equipe brasileira, Antônio de Pádua. O Parapan<br />

foi também o momento ideal para desenvolver<br />

vários projetos inclusivos e estabelecer<br />

parcerias para outros, como o Programa<br />

Nacional de Acessibilidade em Aeroportos,<br />

da Infraero, e o Programa de Inclusão Digital,<br />

<strong>do</strong> Ministério das Comunicações.<br />

75


O Brasil em braile<br />

A<br />

s principais atrações turísticas brasileiras<br />

foram divulgadas, em braile,<br />

pelo Ministério <strong>do</strong> Turismo no estande<br />

Brasil Sensacional, monta<strong>do</strong> na<br />

Vila Parapan-americana. Uma parceria entre<br />

o Ministério <strong>do</strong> Turismo e o Instituto Benjamin<br />

Constant, tradicional instituição de ensino para<br />

deficientes visuais, <strong>do</strong> Rio de Janeiro, possibilitou<br />

a confecção de folderes em português,<br />

espanhol e inglês. O sistema braile é forma de<br />

escrita para pessoas com defi ciência visual.<br />

De acor<strong>do</strong> com Paula Sanches, coordena<strong>do</strong>ra<br />

das ações <strong>do</strong> MTur nos Jogos Pan e Parapan<br />

Rio 2007, a parceria foi fundamental para<br />

ampliar e fortalecer a estratégia de divulgação<br />

<strong>do</strong>s destinos turísticos nacionais. “Essa ação<br />

soma-se, ainda, ao esforço <strong>do</strong> governo brasileiro<br />

de bem receber to<strong>do</strong>s os atletas participantes<br />

<strong>do</strong>s Jogos. Ele também é um turista e<br />

queremos que volte e indique o Brasil como<br />

destino turístico”, observa.<br />

76


O atleta mexicano Kevin<br />

Cruz lê em braile publicação<br />

sobre turismo no Brasil<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

77


Foto: Al<strong>do</strong> Dias / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Amauri Ribeiro,<br />

ouro <strong>do</strong> vôlei em<br />

Barcelona 92, hoje<br />

treina o vôlei senta<strong>do</strong>,<br />

que, no Parapan,<br />

obteve vaga para<br />

Pequim<br />

78


Uma ponte Rio-Pequim<br />

O<br />

pioneirismo brasileiro no desporto<br />

adapta<strong>do</strong> não se limitou a<br />

realizar o Parapan no modelo já<br />

consagra<strong>do</strong> das Paraolimpíadas.<br />

Também pela primeira vez, to<strong>do</strong> o programa<br />

<strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos foi classifi catório<br />

para os Jogos Paraolímpicos. A estratégia<br />

fazia parte <strong>do</strong> projeto de fortalecer a competição<br />

realizada em solo brasileiro e de contribuir<br />

para fi xar os Jogos Parapan-americanos<br />

como um importante marco no calendário<br />

esportivo internacional.<br />

Pela primeira vez, atletas renoma<strong>do</strong>s e campeões<br />

paraolímpicos elevariam o nível de<br />

competição <strong>do</strong> Parapan. Sen<strong>do</strong> assim, o Comitê<br />

Paraolímpico das Américas – com apoio<br />

<strong>do</strong>s governos e <strong>do</strong> CO-Rio – iniciou um árduo<br />

trabalho de articulação política junto ao<br />

Comitê Paraolímpico Internacional (IPC) e às<br />

confederações internacionais que administram<br />

o desporto adapta<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong>. “Realizar<br />

o Parapan não é uma das obrigações<br />

determinadas pela Odepa para a realização<br />

<strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos. Então, precisávamos<br />

convencer os organiza<strong>do</strong>res de Guadalajara<br />

(próxima cidade a sediar o Pan, em<br />

2011) que o Parapan é uma competição de<br />

alto nível para que eles se interessassem em<br />

organizá-la também. E uma disputa de alto<br />

nível se faz com uma boa estrutura e equipes<br />

principais, que só viriam se ele fosse qualifi<br />

catório para os Jogos de Pequim”, explica<br />

Andrew Parsons, presidente <strong>do</strong> APC.<br />

Foi um grande desafi o convencer os dirigentes<br />

de confederações internacionais de que<br />

o Parapan <strong>do</strong> Rio era um grande momento e<br />

que merecia apoio institucional. As negociações<br />

para conseguir o apoio da comunidade<br />

esportiva duraram um ano. Neste perío<strong>do</strong>, foi<br />

apresenta<strong>do</strong> o investimento brasileiro para<br />

realizá-lo e a estrutura colocada à disposição<br />

– entre serviços previstos, instalações esportivas<br />

e não esportivas, enfi m, to<strong>do</strong> o necessário<br />

para que os Jogos fossem um marco<br />

no esporte internacional. Números totais de<br />

atletas no continente, a falta de apoio fi nanceiro<br />

e a necessidade de desenvolvimento <strong>do</strong><br />

esporte adapta<strong>do</strong> nas Américas também foram<br />

argumentos defendi<strong>do</strong>s nos encontros.<br />

A maioria <strong>do</strong>s mundiais paraolímpicos cobra<br />

taxas caras de participação e, para muitos<br />

comitês paraolímpicos de países das Américas,<br />

ainda é difícil participar de competições<br />

em outros continentes. O Parapan oferecia<br />

passagens, hospedagem, alimentação<br />

e isenção nas taxas de inscrição das modalidades.<br />

Assim, para muitos, tornou-se uma<br />

oportunidade acessível de conquistar uma<br />

vaga para Pequim. Paralelamente, foi realiza<strong>do</strong><br />

um trabalho conjunto entre IPC, APC e<br />

os Comitês Paraolímpicos <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

e <strong>do</strong> Canadá, duas potências esportivas<br />

<strong>do</strong> paraolimpismo, para que enviassem seus<br />

atletas de ponta ao Rio.<br />

Doze infl uentes confederações internacionais<br />

receberam pedi<strong>do</strong>s para incluir o Rio de Janeiro<br />

na rota de Pequim: Atletismo, Futebol<br />

de 5, Futebol de 7, Judô, Halterofi lismo, Natação,<br />

Tênis de Mesa, Tênis em Cadeira de<br />

Rodas, Voleibol Senta<strong>do</strong>, Basquete em Cadeira<br />

de Rodas, Bocha e Goalball. Apenas as<br />

duas últimas modalidades não atenderam às<br />

solicitações <strong>do</strong> APC e, em função de sua decisão,<br />

foram retiradas <strong>do</strong> programa fi nal <strong>do</strong>s<br />

Jogos Parapan-americanos.<br />

Paralelamente, o governo federal atuava na<br />

promoção e na divulgação <strong>do</strong>s Jogos no<br />

continente. Entre as iniciativas para mobilizar<br />

a comunidade esportiva e ampliar informações,<br />

o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, o CO-Rio e o<br />

Ministério <strong>do</strong> Turismo convidaram <strong>do</strong>is atletas<br />

mundialmente conheci<strong>do</strong>s para serem os<br />

embaixa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Parapan: o nada<strong>do</strong>r peruano<br />

Jimmy Eulert e a nada<strong>do</strong>ra canadense<br />

Stephanie Dixon. Um <strong>do</strong>s objetivos da ação,<br />

além de promover o evento nos respectivos<br />

países, era estimular a vinda de seus compatriotas<br />

para competir no Brasil. Aos 55 anos,<br />

<strong>do</strong>no de cinco medalhas e com participação<br />

em três Paraolímpiadas, Eulert é <strong>do</strong>s mais<br />

experientes atletas peruanos em atividade e<br />

desfruta de grande prestígio em toda a América<br />

<strong>do</strong> Sul.<br />

79


A seleção <strong>do</strong> futebol de 7,<br />

<strong>do</strong> capitão Leandro Marinho,<br />

também carimbou seu<br />

passaporte para Pequim 2008<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

80


A escolha de uma atleta canadense também<br />

não foi por acaso. Historicamente, os<br />

atletas e países da América <strong>do</strong> Norte têm<br />

participação pequena em Jogos Parapanamericanos.<br />

A própria Dixon, ganha<strong>do</strong>ra<br />

de 15 medalhas paraolímpicas, nunca havia<br />

disputa<strong>do</strong> um Parapan.<br />

Feliz por ser escolhida para levar a mensagem<br />

aos atletas de seu país, Dixon ressaltou<br />

a importância <strong>do</strong> respeito à diversidade e a<br />

possibilidade de as pessoas concretizarem<br />

seus sonhos. “Formar um atleta paraolímpico<br />

ou olímpico não é um processo que ocorre<br />

da noite para o dia. A chave para o sucesso<br />

é ter oportunidade e também a confi ança <strong>do</strong>s<br />

outros em sua capacidade. É sempre mais<br />

fácil concretizar seus sonhos quan<strong>do</strong> acreditam<br />

em você”.<br />

Dixon pôde ver de perto o esforço brasileiro<br />

para construir o sonho paraolímpico.<br />

Ela esteve no País antes <strong>do</strong>s Jogos e viu a<br />

construção de instalações e a montagem de<br />

serviços. Tanto esforço teve recompensa.<br />

Piscinas, tatames, grama<strong>do</strong>s e quadras brasileiros<br />

receberam com orgulho a elite paraolímpica<br />

continental. O APC acredita que 75%<br />

<strong>do</strong>s atletas que estiveram no Parapan vieram<br />

atrás da vaga paraolímpica.<br />

OS EMBAIXADORES DO PARAPAN<br />

Jimmy Eulert ganhou cinco medalhas em Jogos<br />

Paraolímpicos na classe S3. A primeira foi o ouro<br />

em Atlanta 1996, nos 50m livre. Quatro anos mais<br />

tarde, em Sydney 2000, o nada<strong>do</strong>r conquistou o<br />

ouro nos 50m livre e a prata nos 50m costas. Em<br />

Atenas 2004, Jimmy levou o bronze nas duas<br />

provas: 50m livre e 50m costas. O Rio 2007 foi<br />

a sua terceira participação em Jogos Parapanamericanos.<br />

Ele também esteve nos Jogos <strong>do</strong><br />

México 1999 e de Mar del Plata 2003.<br />

Stephanie Dixon é uma das principais atletas<br />

paraolímpicas <strong>do</strong> Canadá e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A nada<strong>do</strong>ra<br />

conquistou cinco medalhas de ouro<br />

nos Jogos Paraolímpicos de Sydney 2000<br />

(100m livre, 400m livre, 400m costas, 4x100m<br />

livre e 4x100m misto) e uma de ouro nos Jogos<br />

Paraolímpicos de Atenas 2004 (100m costas),<br />

estabelecen<strong>do</strong> novo recorde mundial da prova.<br />

No Campeonato Mundial de Natação de<br />

2002, em Mar del Plata (Argentina), Dixon conquistou<br />

mais três medalhas de ouro (50m livre,<br />

400m livre e 100m costas). A atleta compete<br />

nas classes S9, SB8 e SM9.<br />

Nada<strong>do</strong>ra canadense<br />

Stephanie Dixon<br />

recebeu certifica<strong>do</strong> de<br />

<br />

das mãos <strong>do</strong> presidente<br />

<strong>do</strong> Comitê Paraolímpico<br />

das Américas,<br />

Andrew Parsons,<br />

em solenidade na<br />

Vila Pan-americana em<br />

março de 2007<br />

Photocamera/COB<br />

81


Acesso livre<br />

O<br />

respeito às necessidades especiais<br />

<strong>do</strong>s atletas com deficiência<br />

foi amplamente discuti<strong>do</strong> e analisa<strong>do</strong><br />

pelo Comitê Organiza<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong>s Jogos, que trabalhou em parceria com entidades<br />

ligadas ao desporto adapta<strong>do</strong>. “Antes<br />

de as instalações serem construídas, precisávamos<br />

garantir que elas fossem acessíveis.<br />

Além disso, consultamos o Comitê Paraolímpico<br />

sempre que foi preciso. Tínhamos o mesmo<br />

objetivo, de realizar algo marcante”, afirmou<br />

Agberto Guimarães, gerente de <strong>Esporte</strong>s <strong>do</strong><br />

CO-Rio.<br />

Seguin<strong>do</strong> as normas da Associação Brasileira<br />

de Normas Técnicas (ABNT), todas as instalações<br />

esportivas e não esportivas <strong>do</strong> Parapan<br />

foram desenhadas desde a planta até o telha<strong>do</strong><br />

para garantir o pleno acesso de público<br />

e competi<strong>do</strong>res. A Arena Multiuso, palco da<br />

cerimônia de abertura <strong>do</strong> Parapan e das disputas<br />

de basquete em cadeiras de rodas, foi<br />

desenhada com 32 lugares na platéia para uso<br />

de cadeirantes e 24 lugares para pessoas com<br />

mobilidade reduzida, além de receber 33 sanitários<br />

adapta<strong>do</strong>s. Com 45 metros de altura e<br />

três pavimentos, o local também contou com<br />

dez eleva<strong>do</strong>res equipa<strong>do</strong>s com faixas táteis,<br />

oito escadas com corrimão, faixa de alerta nos<br />

degraus, quatro rampas com baixa inclinação<br />

(8,5%), corrimão com duas alturas e sinais<br />

de alerta indican<strong>do</strong> seu início e fim. Para as<br />

competições não houve necessidade de mudanças,<br />

à medida que o basquete em cadeira<br />

de rodas é joga<strong>do</strong> em quadras de dimensões<br />

iguais às <strong>do</strong> tradicional.<br />

Nos mesmos moldes da Arena, o Maria Lenk<br />

também teve adaptações com sinalizações táteis.<br />

Foram construídas três rampas de acesso,<br />

duas para o público e uma para os atletas,<br />

com inclinação de 7%, faixas de alerta no piso<br />

indican<strong>do</strong> seu início e fim e corrimão com duas<br />

alturas. Para chegar às arquibancadas e assistir<br />

aos atletas saltarem nas piscinas, oito eleva<strong>do</strong>res<br />

e oito escadas com corrimão e sinais de<br />

alerta no piso facilitavam o acesso às pessoas<br />

com deficiência. Também foram reserva<strong>do</strong>s 22<br />

lugares a cadeirantes e construí<strong>do</strong>s 27 sanitários<br />

adapta<strong>do</strong>s no local. No Estádio João Havelange,<br />

o Engenhão, ocorreram as disputas<br />

de atletismo (pista e campo), modalidade que<br />

abriga grande público, sobretu<strong>do</strong> pelo fato de<br />

o Brasil ter grandes nomes de destaque no esporte.<br />

Foram planeja<strong>do</strong>s onze grandes eleva<strong>do</strong>res,<br />

quatro rampas de acesso, 250 lugares<br />

para cadeirantes em plataformas espalhadas<br />

pelas arquibancadas, 60 lugares para pessoas<br />

com deficiência e construção de sanitários<br />

adapta<strong>do</strong>s em to<strong>do</strong>s os setores.<br />

O Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro recebeu<br />

as partidas <strong>do</strong> futebol de 7, para paralisa<strong>do</strong>s<br />

cerebrais, e <strong>do</strong> futebol de 5, para pessoas<br />

com deficiência visual. O local teve suas arquibancadas<br />

tomadas pelo público durante o<br />

Parapan. As provas aconteceram no mesmo<br />

campo das disputas <strong>do</strong> hóquei sobre grama<br />

<strong>do</strong> Pan. No local, foram necessárias importantes<br />

alterações, como o redimensionamento<br />

<strong>do</strong> campo. Para a disputa de futebol de cinco,<br />

houve a troca de traves de gol. Ainda foi feita<br />

a colocação de redes laterais, com 1,2m de altura,<br />

que impedem a saída da bola <strong>do</strong> campo<br />

durante o jogo. Ali foram instala<strong>do</strong>s banheiros<br />

químicos adapta<strong>do</strong>s. O Riocentro foi o local<br />

das competições de judô, tênis de mesa,<br />

voleibol senta<strong>do</strong> e halterofilismo. Já o Clube<br />

Marapendi recebeu as disputas de tênis em<br />

cadeiras de rodas. As duas instalações contaram<br />

com banheiros químicos adapta<strong>do</strong>s e<br />

tiveram adaptações provisórias.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

82


Começa a festa<br />

P<br />

ara atender às necessidades <strong>do</strong>s<br />

atletas competi<strong>do</strong>res desde o momento<br />

em que desembarcassem<br />

em solo brasileiro, foi monta<strong>do</strong> um<br />

esquema nos aeroportos internacionais Antônio<br />

Carlos Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro,<br />

e André Franco Montoro (Cumbica), em São<br />

Paulo, que recebeu muitas delegações estrangeiras<br />

em conexão. Além de adaptações<br />

físicas, funcionários da Infraero, <strong>do</strong> Comitê<br />

Organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Jogos (CO-Rio) e da comunidade<br />

aeroportuária participaram de workshop<br />

de Atendimento a Pessoas com Deficiência ou<br />

Mobilidade Reduzida.<br />

No Galeão, 686 colabora<strong>do</strong>res foram prepara<strong>do</strong>s,<br />

sen<strong>do</strong> 191 da Infraero, 76 <strong>do</strong> CO-Rio e 419<br />

funcionários <strong>do</strong>s aeroportos que lidavam com o<br />

público. Em São Paulo, aproximadamente 300,<br />

entre eles profissionais da Infraero, de empresas<br />

aéreas, apoio e concessionários, participaram<br />

<strong>do</strong> treinamento. Os participantes receberam<br />

instruções sobre técnicas específicas de recepção<br />

ao passageiro com deficiência e manuseio<br />

de equipamentos, principalmente cadeira de rodas.<br />

Foram ensina<strong>do</strong>s procedimentos de transferência<br />

de pessoas com paraplegia, tetraplegia<br />

e amputa<strong>do</strong>s por profissionais <strong>do</strong> Hospital Sarah<br />

Kubitscheck, referência na América Latina<br />

no atendimento a pessoas com problemas neurológicos<br />

ou motores. Para identificar possíveis<br />

falhas nos processos de embarque e de desembarque<br />

<strong>do</strong>s atletas e testar situações especiais<br />

que requerem esses passageiros, em agosto<br />

de 2007, foi realizada uma simulação para corrigir<br />

possíveis equívocos e preparar o aeroporto<br />

<strong>do</strong> Galeão. No Parapan, to<strong>do</strong> o treinamento de<br />

transporte e serviços mostrou-se eficiente. Uma<br />

das provas de fogo foi a recepção à delegação<br />

venezuelana, que, com mais de 200 atletas,<br />

chegou de surpresa em plena madrugada. Para<br />

atender ao aumento <strong>do</strong> fluxo de passageiros<br />

<strong>do</strong> Galeão, também foi criada uma força-tarefa<br />

entre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária<br />

(Anvisa) e as vigilâncias estadual e municipal.<br />

O trabalho foi direciona<strong>do</strong>, principalmente,<br />

aos vôos internacionais que traziam turistas e<br />

delegações esportivas estrangeiras. O mesmo<br />

trabalho aconteceu no Pan. Além de prestar informações,<br />

o reforço visou agilizar a liberação<br />

de bagagens.<br />

Na inspeção das bagagens, a força-tarefa tinha<br />

atenção especial para com os medicamentos,<br />

equipamentos médicos, artigos de higiene<br />

pessoal, produtos e substâncias químicas, entre<br />

outros. Em março de 2007, os chefes das<br />

delegações receberam cartilhas com orientações<br />

sobre os procedimentos exigi<strong>do</strong>s pela<br />

legislação sanitária brasileira para a entrada<br />

desses produtos no Brasil.<br />

O médico-chefe de cada delegação ficou responsável<br />

pela guarda e utilização <strong>do</strong>s produtos,<br />

que só poderiam ser utiliza<strong>do</strong>s pelos<br />

atletas que disputavam o Parapan. Ele deveria<br />

informar à Anvisa que medicamento trazia e<br />

qual a sua prescrição. “A norma evita riscos<br />

à saúde pública, já que exige a comunicação<br />

prévia para a entrada <strong>do</strong>s produtos no País e<br />

proíbe a entrada de outros que não são permiti<strong>do</strong>s”,<br />

explica a gerente da Anvisa Oacy de<br />

Mello Tole<strong>do</strong>. Outra atribuição da equipe foi<br />

verificar se o viajante apresentou febre, vômito,<br />

diarréia ou outros sintomas de <strong>do</strong>enças<br />

durante o vôo, evitan<strong>do</strong> epidemias no País. Os<br />

fiscais também conferiram a validade <strong>do</strong> Certifica<strong>do</strong><br />

Internacional de Vacinação (CIV).<br />

Da esq. para a dir., cadeirantes na área especial<br />

da Arena Multiuso e cenas <strong>do</strong> treinamento e da<br />

recepção aos atletas <strong>do</strong> Parapan<br />

83<br />

Fotos: Arquivo / Infraero


Adapdações especiais na<br />

Vila: piso nivela<strong>do</strong> para<br />

não causar dificuldade<br />

Foto: AGENCO<br />

0,90<br />

VARANDA<br />

5,50m²<br />

SALA<br />

22,00m²<br />

0,80 1,20<br />

0,80<br />

0,80<br />

1,50<br />

1,50<br />

VAR.<br />

3,26m²<br />

0,94<br />

QUARTO<br />

10,95m²<br />

0,98<br />

1,50<br />

BANHº<br />

5,83m²<br />

QUARTO<br />

9,80m²<br />

0,90<br />

0,94<br />

Garantir bem-estar e autonomia aos participantes<br />

<strong>do</strong>s III Jogos Parapan-americanos era<br />

questão-chave da organização. A Vila, casa<br />

<strong>do</strong>s atletas durante a competição, foi totalmente<br />

projetada para atender às necessidades <strong>do</strong>s<br />

competi<strong>do</strong>res. Os apartamentos tinham portas<br />

mais largas e banheiro adapta<strong>do</strong> com barras<br />

de apoio, torneiras em formato de alavancas<br />

e vasos sanitários mais altos em relação ao<br />

solo. A disposição <strong>do</strong>s móveis também levou<br />

em consideração o conforto <strong>do</strong> atleta cadeirante.<br />

A distância entre camas, guarda-roupas,<br />

mesas e cadeiras permitia giros de 360º graus<br />

da cadeira de rodas nos cômo<strong>do</strong>s <strong>do</strong> imóvel.<br />

No total, foram construí<strong>do</strong>s 112 apartamentos<br />

especialmente planeja<strong>do</strong>s para receber as estrelas<br />

<strong>do</strong> esporte parapan-americano.<br />

A casa parapan-americanaAssim eram os apartamentos da Vila<br />

HALL<br />

1,94m²<br />

84


A Vila se adapta ao Parapan<br />

C<br />

om o término <strong>do</strong> Pan, a Vila Panamericana<br />

passou a chamar-se Vila<br />

Parapan-americana. A mudança já<br />

estava programada, assim como<br />

o projeto arquitetônico <strong>do</strong> local, que durante<br />

sete dias seria a casa <strong>do</strong>s atletas <strong>do</strong> Parapan.<br />

No total, foram 112 apartamentos construí<strong>do</strong>s<br />

com adaptações capazes de atender 448 cadeirantes.<br />

To<strong>do</strong>s foram hospeda<strong>do</strong>s nos seis<br />

primeiros andares <strong>do</strong>s edifícios, para facilitar<br />

o trânsito das cadeiras de rodas. Eleva<strong>do</strong>res<br />

foram equipa<strong>do</strong>s com teclas em braile e sinal<br />

sonoro para pessoas com deficiência visual.<br />

Os atletas <strong>do</strong> Parapan também tiveram algumas<br />

facilidades como controle remoto para o<br />

aparelho de ar condiciona<strong>do</strong> e 60 voluntários<br />

que se revezavam em três turnos para atender<br />

seus pedi<strong>do</strong>s e deixar a estada <strong>do</strong>s competi<strong>do</strong>res<br />

mais agradável.<br />

Na área residencial, procurou-se nivelar to<strong>do</strong> o<br />

piso para não causar dificuldades aos atletas.<br />

Também foram instaladas rampas largas em<br />

vários pontos da Vila. Bocas-de-lobo pré-moldadas<br />

com a superfície perfurada para evitar<br />

que as cadeiras de rodas ficassem presas foram<br />

espalhadas por toda a área da Vila, assim<br />

como telefones públicos ajusta<strong>do</strong>s para cadeirantes<br />

e sinalização no piso para deficientes<br />

visuais. Corrimãos na área interna, sanitários<br />

adapta<strong>do</strong>s e puxa<strong>do</strong>res de portas eram outros<br />

equipamentos indispensáveis à segurança e<br />

ao conforto <strong>do</strong>s atletas. Cada detalhe foi milimetricamente<br />

pensa<strong>do</strong> para evitar falhas. Um<br />

grupo de cadeirantes voluntários, acompanha<strong>do</strong>s<br />

por técnicos, realizou simula<strong>do</strong> no local<br />

poucos dias antes da abertura da Vila.<br />

O teste foi importante para verificar eventuais<br />

problemas que dificultassem o deslocamento<br />

<strong>do</strong>s atletas com deficiência. Mesmo com<br />

to<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> na fase de preparação, algumas<br />

falhas técnicas foram detectadas após o início<br />

<strong>do</strong>s Jogos. Um exemplo foi a necessidade<br />

de colocação de outra rampa de acesso ao<br />

restaurante. A que havia si<strong>do</strong> construída não<br />

atendia inteiramente o fluxo de pessoas que<br />

passavam pelo local. O incômo<strong>do</strong> foi leva<strong>do</strong><br />

Foto: Arquivo / FIA<br />

Rampas especiais<br />

garantiram o trânsito<br />

seguro <strong>do</strong>s cadeirantes<br />

85


aos organiza<strong>do</strong>res e o governo federal se incumbiu<br />

da construção de uma similar de madeira<br />

para melhorar a circulação.<br />

Várias estruturas de apoio ao Pan continuaram<br />

a funcionar no Parapan: policlínica, academia<br />

de ginástica, centro ecumênico e o restaurante.<br />

Esses locais também foram estrutura<strong>do</strong>s de<br />

acor<strong>do</strong> com as normas da ABNT. No restaurante,<br />

foram incluí<strong>do</strong>s cardápios em braile em<br />

três idiomas – inglês, espanhol e português. O<br />

restaurante da Vila contou, desde o início <strong>do</strong><br />

Pan, com mesas em altura ideal para cadeirantes,<br />

piso totalmente plano e liso, altura ideal<br />

das passa-bandejas, sinalização e iluminação<br />

adequadas para deficientes visuais. “Esse espaço<br />

na Vila Parapan-americana é um exemplo<br />

de que você pode montar um restaurante<br />

e projetá-lo com acessibilidade para to<strong>do</strong>s. A<br />

partir <strong>do</strong> momento em que você determina as<br />

ações adequadas e o respeito apropria<strong>do</strong>, isso<br />

permite que a pessoa seja auto-suficiente”, explica<br />

Mauricio Romanato, gestor <strong>do</strong> contrato<br />

<strong>do</strong> restaurante no Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />

A Vila também abriu áreas para novos serviços.<br />

Dois ônibus adapta<strong>do</strong>s, com portas largas<br />

e piso rebaixa<strong>do</strong> e área interna suficiente<br />

para dez cadeirantes, garantiram o deslocamento<br />

<strong>do</strong>s atletas no interior <strong>do</strong> con<strong>do</strong>mínio.<br />

O atendimento foi feito 24 horas por dia, mas<br />

com freqüência variável e ajustada às demandas<br />

das delegações. Também foi cria<strong>do</strong> um telecentro<br />

que oferecia serviços de telecomunicações<br />

adapta<strong>do</strong>s às necessidades das mais<br />

diversas deficiências e, como de praxe em disputas<br />

competitivas paraolímpicas, foi instalada<br />

uma oficina para reparos e consertos de próteses,<br />

órteses e cadeiras de rodas.<br />

Fotos: Arquivo / FIA<br />

Adaptações:<br />

portas mais largas<br />

para passagem<br />

da cadeira de rodas<br />

e, no detalhe,<br />

painel <strong>do</strong>s eleva<strong>do</strong>res<br />

em braile<br />

86


Foto: Arquivo Jornal da Vila Pan-americana / CO-Rio<br />

Oficina de reparos<br />

Mais de 350 atendimentos<br />

foram realiza<strong>do</strong>s<br />

na oficina de reparos<br />

A diferença<br />

entre Órtese e Prótese<br />

Órtese: aparelhos ou dispositivos<br />

ortopédicos de uso provisório,<br />

destina<strong>do</strong>s a alinhar, prevenir ou<br />

corrigir deformidades ou melhorar<br />

a capacidade funcional das partes<br />

móveis <strong>do</strong> corpo.<br />

M<br />

ontada pela Associação Brasileira<br />

de Ortopedia Técnica<br />

(Abotec), a ofi cina para reparos<br />

e consertos de próteses, órteses<br />

e cadeiras de rodas realizou 350 atendimentos.<br />

Também foram instala<strong>do</strong>s mais<br />

quatro pontos de atendimento de emergência<br />

nos seguintes locais de competição: Arena<br />

Multiuso, Riocentro, Estádio João Havelange<br />

e Clube Marapendi.<br />

Prótese: componente artificial que<br />

substitui o órgão ou sua função.<br />

Quan<strong>do</strong> uma pessoa perde algum<br />

membro <strong>do</strong> corpo, no lugar é posta<br />

uma prótese mecânica que responde<br />

a qualquer impulso nervoso.<br />

Fabricantes de componentes e acessórios<br />

equiparam a oficina, e foram feitas algumas<br />

<strong>do</strong>ações de próteses, muletas e cadeiras de<br />

rodas. To<strong>do</strong> o trabalho foi gratuito, com exceção<br />

das peças que tiveram de ser substituídas.<br />

Neste caso, a oficina cobrava o preço de<br />

custo <strong>do</strong> material.<br />

87


Inclusão digital<br />

A<br />

tecnologia pode agregar, trazer<br />

oportunidades e oferecer novas<br />

formas de comunicação às pessoas<br />

com deficiência. Os Jogos Parapan-americanos<br />

apresentaram uma grande<br />

oportunidade para testar um <strong>do</strong>s maiores programas<br />

de inclusão digital <strong>do</strong> País.<br />

Três telecentros equipa<strong>do</strong>s com telefonia para<br />

deficientes auditivos e visuais e cadeirantes<br />

e computa<strong>do</strong>res com acesso à internet para<br />

pessoas com deficiência visual e cadeirantes,<br />

foram instala<strong>do</strong>s na Vila Parapan-americana,<br />

no Riocentro e no Estádio João Havelange. “O<br />

respeito às diferenças é marca importante <strong>do</strong><br />

governo brasileiro e o acesso à comunicação<br />

faz parte deste processo. Viabilizar a implantação<br />

<strong>do</strong>s telecentros foi uma forma de oferecer<br />

conforto e facilidade de comunicação aos participantes<br />

<strong>do</strong>s Jogos”, enfatiza o ministro <strong>do</strong><br />

<strong>Esporte</strong>, Orlan<strong>do</strong> Silva Jr.<br />

Totalmente cego há 13 anos, o nada<strong>do</strong>r venezuelano<br />

Cristobal Chilan acessou diariamente<br />

seu e-mail e entrou em programas de batepapo<br />

virtual para contar à sua melhor amiga<br />

as novidades de sua primeira experiência em<br />

um Parapan. Para pessoas com defi ciência<br />

visual como Chilan, o centro ofereceu computa<strong>do</strong>res<br />

com o software DOS-VOX, desenvolvi<strong>do</strong><br />

pela Universidade Federal <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro (UFRJ), que transformam palavras<br />

faladas em palavras escritas na telinha <strong>do</strong><br />

computa<strong>do</strong>r.<br />

Os telecentros também ofereceram softwares<br />

que ampliam as letras e produzem resposta<br />

audível aos textos apresenta<strong>do</strong>s nas telas para<br />

quem tem visão parcial. “No Parapan, estive<br />

sempre em contato com o mun<strong>do</strong>. Achei incrível<br />

encontrar isso aqui, porque na Venezuela<br />

trabalho justamente com inclusão digital de<br />

deficientes visuais, ensinan<strong>do</strong>-os a usar um<br />

programa similar a esse”, disse Chilan, elogian<strong>do</strong><br />

ainda a iniciativa <strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>res de<br />

oferecer revistas escritas em braile.<br />

Apesar de o Parapan não contar com a participação<br />

de atletas com deficiência auditiva,<br />

também foram instala<strong>do</strong>s Terminais Telefônicos<br />

para Sur<strong>do</strong>s (TTS). A iniciativa foi viabilizada<br />

por parceria entre os ministérios <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

e das Comunicações, a empresa de telefonia<br />

Oi e a empresa de tecnologia da informação<br />

Atos Origin, com apoio <strong>do</strong> CO-Rio e da Fundação<br />

Getúlio Vargas.<br />

Telefones para<br />

sur<strong>do</strong>s (à dir.) e o<br />

venezuelano Chilan<br />

no computa<strong>do</strong>r<br />

adapta<strong>do</strong> para<br />

deficientes visuais<br />

Foto: Al<strong>do</strong> Dias / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

88


OS EQUIPAMENTOS<br />

DOS TELECENTROS<br />

Vila Pan-americana<br />

25 computa<strong>do</strong>res, impressora<br />

em braile, impressora multifuncional,<br />

cinco terminas telefônicos para sur<strong>do</strong>s<br />

(TTS) e 21 pontos de internet<br />

Centro de Convenções Riocentro<br />

cinco computa<strong>do</strong>res, impressora<br />

multifuncional, três TTS e cinco<br />

pontos de internet<br />

Estádio João Havelange<br />

cinco computa<strong>do</strong>res, impressora<br />

multifuncional, três TTS e cinco<br />

pontos de internet<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

89


A Caixa ofereceu serviços<br />

bancários na Vila. Acesso<br />

aos cadeirantes garanti<strong>do</strong><br />

pela rampa<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

90


Patrocínio e parcerias<br />

O<br />

Parapan foi apoia<strong>do</strong> e financia<strong>do</strong><br />

pelo governo federal e por importantes<br />

parceiros. Mas alguns<br />

problemas, na avaliação <strong>do</strong> Comitê<br />

Paraolímpico das Américas (APC), prejudicaram<br />

parte <strong>do</strong> planejamento da área de<br />

marketing <strong>do</strong>s Jogos Parapan-americanos.<br />

Na opinião <strong>do</strong>s dirigentes <strong>do</strong> comitê, poderia<br />

ter havi<strong>do</strong> um esforço maior na venda de cotas<br />

de patrocínio <strong>do</strong> Parapan, sobretu<strong>do</strong> junto<br />

aos patrocina<strong>do</strong>res que apoiaram o plano<br />

<strong>do</strong> Pan. O bem-sucedi<strong>do</strong> modelo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong><br />

no Pan, que previa, além <strong>do</strong> investimento na<br />

competição esportiva, o financiamento da<br />

delegação brasileira por to<strong>do</strong> o ciclo olímpico,<br />

incluin<strong>do</strong> Pequim 2008, também não se repetiu<br />

no Parapan. “Faltou uma coordenação da<br />

área de marketing como um to<strong>do</strong>. Poderia ter<br />

havi<strong>do</strong> um pouco mais de empenho na busca<br />

de patrocínios para o Parapan. Na avaliação<br />

<strong>do</strong> APC, isso infelizmente não ocorreu”, opina<br />

Parsons. Presta<strong>do</strong>ra de serviços médicos<br />

oficiais no Pan, a Golden Cross não realizou o<br />

mesmo trabalho no Parapan. O acréscimo de<br />

equipamentos e serviços médicos não previstos<br />

no contrato original entre a segura<strong>do</strong>ra<br />

médica e o CO-Rio tornou comercialmente<br />

inviável a operação no Parapan.<br />

A Caixa Econômica Federal investiu R$ 3 milhões<br />

e tornou-se patrocina<strong>do</strong>ra exclusiva. A<br />

estatal financia o Comitê Paraolímpico Brasileiro<br />

(CPB) desde 2004. Em 2008 renovou seu<br />

contrato de patrocínio com o Comitê e investiu<br />

R$ 6,5 milhões na preparação para os Jogos<br />

Paraolímpicos de Pequim. A parceria foi<br />

traduzida na melhor campanha brasileira em<br />

Paraolimpíadas, com a conquista de 47 medalhas<br />

(16 de ouro, 14 de prata e 17 de bronze). A<br />

fábrica de material esportivo Olympikus também<br />

apoiou o Parapan, vestin<strong>do</strong> a delegação<br />

brasileira. A marca forneceu uniformes para os<br />

competi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> atletismo, basquete em cadeira<br />

de rodas, futebol de 5, futebol de 7, halterofilismo,<br />

tênis em cadeira de rodas, tênis de<br />

mesa e vôlei senta<strong>do</strong>. Foram produzidas em<br />

torno de 18 mil peças, entre roupas e calça<strong>do</strong>s<br />

de competição e pódio, para atender os cerca<br />

de 600 integrantes da delegação.<br />

Atendimento médico<br />

A<br />

Secretaria Estadual de Saúde fez<br />

um acor<strong>do</strong> com a Defesa Civil e o<br />

Corpo de Bombeiros, que disponibilizou<br />

equipamentos médicos<br />

(entre eles aparelhos de raio-X e ambulâncias)<br />

e recursos humanos para atendimento<br />

durante o Parapan. No Complexo Esportivo<br />

de Deo<strong>do</strong>ro, a assistência ficou sob responsabilidade<br />

<strong>do</strong> Exército Brasileiro. Os medicamentos<br />

foram cedi<strong>do</strong>s pelas secretarias<br />

municipais de Saúde de Niterói e <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro. A Policlínica montada na Vila Parapan-americana,<br />

assim como no Pan, teve<br />

serviços de emergência, fisioterapia, o<strong>do</strong>ntologia,<br />

raio-X, ultrassonografia, farmácia e<br />

atendimento médico em diversas especialidades.<br />

A unidade dispunha de um serviço de<br />

apoio de ambulâncias, com unidades móveis<br />

de terapia intensiva, e de uma rede de hospitais<br />

de referência e clínicas credenciadas,<br />

que seriam aciona<strong>do</strong>s em situações em que<br />

houvesse necessidade de atendimentos mais<br />

específicos e complexos. Além <strong>do</strong>s postos<br />

públicos de atendimento, cada instalação esportiva,<br />

durante os horários de treinos oficiais<br />

e competição, dispunha de um posto médico<br />

para atletas e oficiais e outro para dirigentes<br />

e especta<strong>do</strong>res. Uma ambulância, com unidade<br />

de terapia intensiva, ficava disponível<br />

para, em caso de necessidade, fazer a transferência<br />

de integrantes das delegações para<br />

a Policlínica da Vila Parapan-americana (somente<br />

para atletas) ou para um hospital público<br />

situa<strong>do</strong> próximo <strong>do</strong> local da ocorrência.<br />

PROGRAMA DE ATENDIMENTO<br />

MÉDICO DO CO-RIO<br />

Atendimento médico incluin<strong>do</strong> cirurgias<br />

de emergência e tratamento intensivo<br />

em um <strong>do</strong>s hospitais de referência<br />

Atendimento médico na Policlínica<br />

para aqueles com credencial de acesso<br />

à Zona Residencial da Vila<br />

Atendimento médico nas instalações <strong>do</strong>s Jogos<br />

Remoção de emergência<br />

Tratamento e exames em clínicas especializadas<br />

Medicamentos<br />

91


Comunidade integrada<br />

O<br />

rganizar uma grande disputa esportiva<br />

não se limita à construção<br />

de instalações. Várias diretrizes<br />

conduziam as ações governamentais<br />

durante os anos que precederam o<br />

Parapan. Investir na formação de professores<br />

e profissionais de educação física foi uma<br />

das estratégias <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> para<br />

promover a inclusão social e a quebra de preconceitos<br />

em relação às pessoas com deficiências.<br />

A construção de uma ação de cunho<br />

educacional era, portanto, essencial para estimular<br />

o debate e criar condições para que as<br />

próximas gerações naturalmente convivam e<br />

respeitem as diferenças. Nascia, assim, o projeto<br />

Comunidade Integrada ao Parapan.<br />

Em julho de 2007, foi celebra<strong>do</strong> o convênio<br />

089/2007, no valor de R$ 1.006.378,15, entre<br />

o CO-Rio e o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>. O planejamento<br />

e a execução <strong>do</strong> projeto ficaram sob<br />

a responsabilidade <strong>do</strong> Instituto para o Desenvolvimento<br />

da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente pela<br />

Cultura e o <strong>Esporte</strong> (Idecace). O projeto incluía<br />

quatro atividades: promoção de seminário<br />

para professores, visita de atletas paraolímpicos<br />

a 30 escolas e comunidades, distribuição<br />

de cartilhas para professores e estudantes e<br />

ida de alunos da rede pública de ensino às<br />

competições <strong>do</strong> Parapan.<br />

O objetivo era possibilitar a vivência e a aproximação<br />

de professores e alunos com o desporto<br />

paraolímpico. A professora de educação<br />

física Rosana Chalfunde, da escola Embaixa<strong>do</strong>r<br />

João Neves da Fontoura, em Rocha Miranda,<br />

zona Norte <strong>do</strong> Rio, ficou satisfeita com<br />

o novo aprendiza<strong>do</strong>. “Aprender como lidar e<br />

qual a melhor maneira de incluir uma criança<br />

com deficiência na aula é importante. As atividades<br />

exigem adaptações, porque o processo<br />

de aprendizagem deles é diferente”, disse. Conhecer<br />

a trajetória de superação de pessoas<br />

com deficiência e promover o encontro entre<br />

os heróis <strong>do</strong> esporte e crianças e a<strong>do</strong>lescentes<br />

também é uma forma de combater o preconceito<br />

e lutar por uma sociedade mais justa.<br />

Cerca de 60 atletas paraolímpicos visitaram<br />

dezenas de escolas e organizações não governamentais<br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro antes da realização<br />

<strong>do</strong> Parapan.<br />

A iniciativa foi aprovada por mora<strong>do</strong>res e atletas.<br />

A velocista Sheila Finder visitou a ONG<br />

Projeto Celas (Cidadania, <strong>Esporte</strong> e Lazer Social)<br />

na comunidade de Turiaçu, na zona norte<br />

<strong>do</strong> Rio, e destacou o papel da escola e <strong>do</strong>s<br />

professores para aproximar as crianças da<br />

prática esportiva. “Muitas vezes os alunos<br />

com deficiência ficam isola<strong>do</strong>s. Na minha época,<br />

não havia profissionais nas escolas para<br />

atender as nossas demandas e necessidades.<br />

Hoje, percebemos um esforço em se criar<br />

um ambiente escolar mais agradável a essas<br />

crianças. É importante que elas conheçam os<br />

benefícios <strong>do</strong> esporte e, sobretu<strong>do</strong>, que reconheçam<br />

ser capazes de praticá-lo”, atesta<br />

Finder. Jacy Fonseca, mora<strong>do</strong>r de Turiaçu, pai<br />

de um jovem deficiente de 16 anos, afirma que<br />

as crianças aprenderam bastante com a visita.<br />

“Eles (os atletas) são exemplos. As pessoas<br />

com deficiência não precisam ter me<strong>do</strong> de sair<br />

às ruas. Somente o convívio vai diminuir o preconceito”,<br />

acredita.<br />

O caminho inverso também foi percorri<strong>do</strong>:<br />

meninos e meninas foram aos Jogos. Cerca<br />

de 10 mil estudantes lotaram ginásios e está-<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

92


dios durante as provas <strong>do</strong><br />

Parapan e deram muito apoio e incentivo<br />

aos atletas. Com o contato, as crianças<br />

mudaram o conceito que tinham em<br />

relação às pessoas com deficiência. “No<br />

começo, os alunos ficavam assusta<strong>do</strong>s<br />

quan<strong>do</strong> os atletas caíam, mas logo se<br />

maravilhavam com a agilidade com que eles<br />

levantavam”, disse, depois de um jogo de<br />

basquete, a professora Lilia Rocha, da escola<br />

Carlos Delga<strong>do</strong> de Carvalho, que atende 470<br />

crianças <strong>do</strong> Recreio, na zona oeste <strong>do</strong> Rio.<br />

Para atingir maior número de escolas, também<br />

foram distribuídas cinco mil cartilhas em formato<br />

de revista na rede pública de ensino <strong>do</strong><br />

Rio de Janeiro. A cartilha, para professores,<br />

conta a evolução <strong>do</strong> movimento paraolímpico<br />

no Brasil e no mun<strong>do</strong>, explica detalhes de cada<br />

esporte e a classificação funcional <strong>do</strong>s atletas<br />

por tipo e nível de deficiência, além de conter<br />

sugestões de atividades em sala de aula para<br />

levar as crianças a refletirem sobre o universo<br />

da pessoa com deficiência e sua inclusão na<br />

sociedade. Também foram produzidas 9.450<br />

cartilhas em formato de gibi colori<strong>do</strong>, contan<strong>do</strong><br />

a história das mascotes <strong>do</strong> Parapan e mostran<strong>do</strong><br />

personagens com diferentes deficiências.<br />

O material explicava as modalidades <strong>do</strong>s<br />

Jogos, e fez sucesso entre a garotada.<br />

Páginas da cartilha para professores e <strong>do</strong> gibi<br />

para estudantes distribuí<strong>do</strong>s no Projeto (no alto),<br />

que realizou um seminário (foto 1)<br />

e visitas de atletas como Rosinha (foto 2),<br />

Edênia Garcia (foto 3) e Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva (foto 4)<br />

a escolas públicas <strong>do</strong> Rio<br />

93


Conquistas em to<strong>do</strong>s os campos<br />

C<br />

om a realização <strong>do</strong>s Jogos no Rio<br />

de Janeiro, foi escrita uma nova e<br />

importante página <strong>do</strong> esporte paraolímpico.<br />

O Parapan teve alto índice<br />

técnico. Dezoito recordes mundiais foram<br />

quebra<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> que o evento foi o ponto<br />

alto <strong>do</strong> calendário de 2007. Pela primeira vez, o<br />

Brasil terminou a competição no topo <strong>do</strong> quadro<br />

geral de medalhas. Um resulta<strong>do</strong> histórico,<br />

com 228 medalhas, sen<strong>do</strong> 83 de ouro, 68 de<br />

prata e 77 de bronze. Dos medalhistas brasileiros<br />

classifica<strong>do</strong>s para Pequim 2008, muitos se<br />

tornaram favoritos para brigar pelo pódio das<br />

Paraolimpíadas. E uma nova geração se forma.<br />

Uma parcela da delegação teve sua primeira<br />

oportunidade de participar de uma grande<br />

competição internacional. O nada<strong>do</strong>r paulista<br />

Daniel Dias foi um deles. Logo no seu primeiro<br />

Parapan, conquistou oito medalhas de ouro,<br />

tornan<strong>do</strong>-se recordista absoluto da competição<br />

e novo í<strong>do</strong>lo <strong>do</strong> esporte brasileiro.<br />

O desempenho de Dias aju<strong>do</strong>u o País a fechar<br />

os Jogos na liderança no quadro geral de medalhas<br />

e confirmou o crescimento brasileiro no<br />

universo paraolímpico. As últimas campanhas<br />

<strong>do</strong> País no desporto adapta<strong>do</strong> são impressionantes.<br />

O Brasil ficou em primeiro lugar no<br />

Campeonato Mundial de Atletismo de Cegos,<br />

realiza<strong>do</strong> em agosto de 2008, em São Paulo.<br />

Na natação, os resulta<strong>do</strong>s nos <strong>do</strong>is últimos<br />

campeonatos mundiais também comprovam o<br />

desenvolvimento técnico da equipe brasileira.<br />

Em 2005, o Brasil ficou em 10º lugar na classificação<br />

geral. Em 2006, subiu para a 5ª colocação.<br />

Dos 229 atletas que representaram o Brasil no<br />

Parapan, 103 eram beneficia<strong>do</strong>s com o programa<br />

Bolsa Atleta, iniciativa <strong>do</strong> governo federal<br />

que garante recursos para competi<strong>do</strong>res que<br />

não têm contratos de patrocínio. O número<br />

corresponde a 45% <strong>do</strong> total da delegação brasileira<br />

no Parapan. Edilson Alves, diretor técnico<br />

<strong>do</strong> CPB, confirma que o apoio federal teve<br />

importante papel no crescimento <strong>do</strong> desporto<br />

adapta<strong>do</strong>, pois permitiu maior planejamento<br />

e execução de projetos e melhor treinamento<br />

<strong>do</strong>s atletas.<br />

Foto: Al<strong>do</strong> Dias / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

94


95<br />

Cerca de 10 mil alunos da rede<br />

de ensino <strong>do</strong> Rio acompanharam<br />

as competições, junto com seus<br />

professores, em projeto financia<strong>do</strong><br />

pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>


Em seu primeiro Parapan,<br />

Daniel Dias conquistou oito<br />

ouros. No detalhe, a alegria<br />

da criança no encontro com<br />

a velocista Sheila Finder<br />

Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

96


“A maior parte da delegação vive <strong>do</strong> esporte.<br />

Muitos recebem patrocínio ou recursos <strong>do</strong><br />

programa <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>. A parceria<br />

com a Caixa Econômica Federal e a verba<br />

da Lei Agnelo/Piva também criaram condições<br />

melhores”, argumenta Edilson.<br />

Além <strong>do</strong> lega<strong>do</strong> esportivo, os Jogos <strong>do</strong> Rio<br />

deixaram uma importante herança para a sociedade<br />

brasileira. O Parapan colocou a questão<br />

<strong>do</strong>s deficientes definitivamente na agenda<br />

nacional. “O exemplo <strong>do</strong>s nossos atletas é<br />

um estímulo para que a pessoa com deficiência<br />

possa conquistar mais qualidade de vida.<br />

O Parapan chama a atenção para que sejam<br />

ampliadas as políticas públicas na área”, diz o<br />

ministro Orlan<strong>do</strong> Silva Jr..<br />

Para Vital Severino Neto, presidente <strong>do</strong> CPB, o<br />

maior lega<strong>do</strong> <strong>do</strong> Parapan foi a criação de um<br />

novo ambiente para que a sociedade e as autoridades<br />

considerem o esporte paraolímpico<br />

de outra forma. “Muitos não acreditavam que<br />

esporte paraolímpico pudesse prender a atenção<br />

<strong>do</strong> público. Provou-se exatamente o contrário”,<br />

afirma o dirigente.<br />

O Parapan foi divulga<strong>do</strong> nos noticiários televisivos<br />

e as competições foram transmitidas<br />

ao vivo pelo SporTV, canal a cabo das Organizações<br />

Globo. A exposição <strong>do</strong> movimento<br />

esportivo paraolímpico e das conquistas <strong>do</strong>s<br />

atletas também promete sensibilizar um público<br />

especial: a própria pessoa com defi ciência.<br />

Pela tevê e pelas manchetes de jornais, elas<br />

acompanharam as vitórias e o exemplo de vida<br />

de pessoas que, como elas, têm limitações,<br />

mas não estão impedidas de viver.<br />

A atleta Roseane <strong>do</strong>s Santos, a Rosinha, <strong>do</strong><br />

arremesso de peso e dar<strong>do</strong>, acredita que os<br />

deficientes possam se espelhar nos atletas e<br />

perceber que podem levar uma vida sem limitação:<br />

“Quan<strong>do</strong> perdi uma das pernas, a reação<br />

foi me isolar. Depois que descobri o esporte,<br />

percebi que poderia ser feliz e minha vida mu<strong>do</strong>u<br />

para melhor”. Andrew Parsons, <strong>do</strong> APC,<br />

avisa que este movimento cria uma nova demanda:<br />

crianças com deficiências que devem<br />

ser incluídas nas atividades esportivas. “Hoje,<br />

elas sabem em quem se espelhar. Não precisa<br />

querer ser um Ronaldinho Gaúcho. Pode querer<br />

ser um Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva ou uma Terezinha<br />

Guilhermina, por exemplo”. O governo federal<br />

reconhece que é preciso formar profissionais<br />

qualifica<strong>do</strong>s nas escolas. Para isso, o Ministério<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> firmou parceria com o Comitê<br />

Paraolímpico Brasileiro (CPB) e secretarias de<br />

educação municipais e estaduais para desenvolver<br />

o programa Paraolímpicos <strong>do</strong> Futuro.<br />

O projeto leva informações e treina professores<br />

de educação física para identifi car crianças<br />

e jovens promissores dentro <strong>do</strong> movimento<br />

paraolímpico e incentivar alunos com deficiência<br />

a praticar esporte. Segun<strong>do</strong> pesquisa feita<br />

pelo CPB com atletas inscritos no Circuito<br />

Loterias Caixa Brasil Paraolímpico em 2005, o<br />

principal campeonato <strong>do</strong> gênero no País, mais<br />

de 80% só tomaram conhecimento da categoria<br />

na idade adulta, quan<strong>do</strong> passaram a freqüentar<br />

uma entidade voltada a pessoas com<br />

deficiência.<br />

Com pouco mais de um ano, o projeto Paraolímpicos<br />

<strong>do</strong> Futuro chegou a 519 municípios<br />

em sete esta<strong>do</strong>s e atingiu 3.593 professores.<br />

Também fizeram parte da ação o I Campeonato<br />

Paraolímpico Escolar Brasileiro de Atletismo<br />

e Natação, em outubro de 2006, em Fortaleza,<br />

e o II Campeonato Paraolímpico Escolar Brasileiro,<br />

em Brasília, em 2007, que incluiu duas<br />

modalidades: tênis de mesa em cadeira de<br />

roda e goalball.<br />

Outra parceria firmada entre o Ministério e o<br />

CPB que visa ao desenvolvimento <strong>do</strong> esporte<br />

adapta<strong>do</strong> e a busca de novos talentos foi a realização<br />

<strong>do</strong> II Campeonato Paraolímpico Universitário,<br />

em São Paulo, em 2007. Quem se<br />

classifica entre os três primeiros nos esportes<br />

individuais ou está entre os 24 melhores em<br />

esportes coletivos nos campeonatos estudantis<br />

e universitários pode pleitear uma bolsaatleta.<br />

Certo é que ainda é ce<strong>do</strong> para dimensionar<br />

o impacto produzi<strong>do</strong> pelo Parapan nos<br />

brasileiros e no País: ele causou um choque de<br />

cidadania e de igualdade poucas vezes visto.<br />

97


O que eles disseram <strong>do</strong> Parapan<br />

Foto: Divulgação / IPC<br />

Vital Severino Neto,<br />

Presidente <strong>do</strong> Comitê<br />

Paraolímpico Brasileiro (CPB)<br />

“A organização <strong>do</strong> Parapan Rio 2007 esteve<br />

nivelada a eventos como Paraolimpíadas de Atlanta,<br />

Sydney e Atenas. Eu não recebi nenhum tipo de<br />

reclamação contundente quanto à estrutura da Vila<br />

nem <strong>do</strong> transporte nem das instalações esportivas.<br />

Não tenho dúvida de que o Brasil instituiu um novo<br />

modelo. O Parapan criou um diferencial, é um marco<br />

no movimento paraolímpico internacional. Mu<strong>do</strong>use<br />

o paradigma <strong>do</strong> esporte”.<br />

Xavier González,<br />

Diretor executivo <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico<br />

Internacional (IPC)<br />

“A realidade superou o sonho. Sabia que as<br />

instalações e a organização seriam de alto nível,<br />

mas fatos como a participação <strong>do</strong> público, por<br />

exemplo, fizeram deste um Parapan muito especial.<br />

Ninguém esperava tu<strong>do</strong> o que aconteceu durante<br />

os sete dias de competição”.<br />

Foto: Divulgação / CPB<br />

Foto: Divulgação / CO-Rio<br />

Alberto Martins da Costa<br />

Chefe de missão <strong>do</strong> Brasil<br />

“Foram os melhores Jogos Parapan-americanos da<br />

história em termos de organização, de instalações<br />

e de recebimento das delegações. Foi uma grande<br />

lição que o Brasil pôde dar aos países das Américas<br />

e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sobre a organização de uma disputa<br />

dessa magnitude. Foi jogada a semente para que<br />

possamos continuar fazen<strong>do</strong> competições desse<br />

nível nas Américas. Este Parapan teve nível de<br />

Jogos Paraolímpicos”.<br />

98


Foto: Divulgação / CO-Rio<br />

Carlos Arthur Nuzman,<br />

Presidente <strong>do</strong> CO-Rio<br />

“Podemos afirmar que vivemos um momento<br />

histórico. Escrevemos uma das páginas mais<br />

importantes <strong>do</strong> esporte brasileiro e isso foi<br />

reconheci<strong>do</strong> internacionalmente, por atletas, por<br />

dirigentes e pela própria mídia”.<br />

Rob Needham<br />

Chefe de missão <strong>do</strong> Canadá<br />

“O nível de serviço esteve muito bom.<br />

As instalações foram muito bem construídas.<br />

O ambiente da Vila aju<strong>do</strong>u nossos atletas mais<br />

jovens a conhecerem como funciona uma<br />

disputa multiesportiva. Essa experiência será<br />

bastante útil para os Jogos Paraolímpicos de<br />

Pequim 2008”.<br />

Eduar<strong>do</strong> Obregón,<br />

Chefe de missão<br />

da delegação <strong>do</strong> México<br />

“O Parapan-americano foi magnífico. O Rio nos<br />

surpreendeu com Jogos extraordinários e instalações<br />

muito boas. Estamos contentes e agradeci<strong>do</strong>s<br />

por esta recepção. O que mais me agra<strong>do</strong>u foi o<br />

comportamento e a atitude das pessoas, o carinho<br />

que o público teve com o México”.<br />

Andrew Parsons,<br />

Presidente <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico<br />

das Américas (APC)<br />

“Um <strong>do</strong>s lega<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio 2007 será a continuidade<br />

<strong>do</strong> modelo Pan/Parapan, em Guadalajara 2011. Já<br />

foi assina<strong>do</strong> um memoran<strong>do</strong> de intenção no qual a<br />

cidade mexicana se compromete a realizar também<br />

os Jogos Parapan-americanos”.<br />

Foto: Divulgação / APC<br />

99


Os esportes <strong>do</strong>s Jogos<br />

O<br />

s esportes paraolímpicos têm<br />

grande semelhança com seus<br />

correspondentes olímpicos, com<br />

a particularidade da classificação<br />

funcional de cada competi<strong>do</strong>r. Esse critério é<br />

estabeleci<strong>do</strong> pelo nível de comprometimento<br />

que a deficiência impõe a cada um e tem por<br />

objetivo promover uma competição mais justa.<br />

Os atletas pertencem a seis grupos:<br />

1) atleta com paralisia cerebral<br />

2) atleta com lesão medular/poliomielite<br />

3) atleta com amputação<br />

4) atleta com deficiência visual<br />

5) atleta com deficiência mental<br />

6) Les autres (em português – os outros),<br />

termo francês para classificar to<strong>do</strong>s<br />

os atletas com alguma deficiência de<br />

mobilidade não incluída nos grupos acima<br />

A classificação para pessoas com deficiência<br />

visual é clínica. Já para os demais atletas, é<br />

funcional, porque analisa a potencialidade de<br />

movimento para um determina<strong>do</strong> esporte. A<br />

avaliação considera critérios físicos e técnicos.<br />

A classe em que o atleta está incluí<strong>do</strong> pode ser<br />

revista ao longo de sua carreira, seja em decorrência<br />

da evolução das condições motoras<br />

ou de alterações nas regras.<br />

Atletismo<br />

O atletismo é o esporte que agrega mais participantes<br />

no mun<strong>do</strong>. Praticam essa modalidade<br />

atletas com deficiência motora ou visual.<br />

São realizadas provas de pista e de campo.<br />

As adaptações das provas variam de acor<strong>do</strong><br />

com a deficiência <strong>do</strong>s atletas. Nas corridas, os<br />

competi<strong>do</strong>res cegos são acompanha<strong>do</strong>s por<br />

um guia, que tem a função de orientá-los sobre<br />

as delimitações da pista. As pessoas que<br />

sofreram amputação nas pernas podem usar<br />

próteses especiais e as que apresentam maior<br />

dificuldade de locomoção competem em cadeiras<br />

de três rodas.<br />

As classes <strong>do</strong> atletismo são:<br />

1- F (field, campo em inglês) para as provas de<br />

arremessos, lançamentos e saltos<br />

F11 a F13: atletas cegos e com deficiência visual<br />

F20: atletas com deficiência mental<br />

F32 a F38: atletas com paralisia cerebral<br />

F40: anões<br />

A classificação funcional é determinada por<br />

números. Quanto maior for este número, menor<br />

será o grau de comprometimento motor ou<br />

visual <strong>do</strong> atleta. A classe é precedida pela letra<br />

<strong>do</strong> esporte (em inglês). Natação, por exemplo,<br />

recebe a letra S de “swimming”. Para algumas<br />

modalidades, também existe uma classificação<br />

que utiliza a inicial da deficiência: B<br />

de blind (cego) para deficiência visual, sen<strong>do</strong><br />

dividi<strong>do</strong>s em B1 para atletas cegos, B2 para<br />

os que enxergam vultos e B3 para quem identifica<br />

algumas imagens; A para pessoas com<br />

amputação, cujos graus vão de A2 a A6, com<br />

subclassificações; e C para paralisia cerebral,<br />

varian<strong>do</strong> de C2 a C4 para cadeirantes e<br />

C5 a C8 para deficientes com capacidade de<br />

locomoção. Confira as dez modalidades <strong>do</strong>s<br />

III Jogos Parapan-americanos.<br />

F41 a F46: atletas com amputação<br />

F51 a F58: cadeirantes<br />

2 - T (track, pista em inglês) para provas<br />

de velocidade, meio fun<strong>do</strong>, fun<strong>do</strong> e<br />

revezamento<br />

T11 a T13: atletas cegos e com deficiência visual<br />

T32 a T38: atletas com paralisia cerebral<br />

(de 32 a 34 cadeirantes e<br />

de 35 a 38 andantes)<br />

T42 a T46: atletas com amputação<br />

T51 a T54: cadeirantes<br />

100


Foto: Francisco Medeiros / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Basquete em cadeira de rodas<br />

Foi o primeiro esporte adapta<strong>do</strong> pratica<strong>do</strong> no Brasil<br />

e uma das modalidades que mais atraem público nas<br />

competições internacionais. O jogo é disputa<strong>do</strong> apenas<br />

por atletas com deficiência físico-motora, sob as regras<br />

adaptadas da Federação Internacional de Basquete<br />

Ama<strong>do</strong>r (Fiba). A quadra e a tabela têm as mesmas<br />

dimensões <strong>do</strong> basquete convencional. Os joga<strong>do</strong>res de<br />

cada equipe recebem classificação funcional que varia<br />

de 1 a 4,5 pontos. Quanto menor é o comprometimento,<br />

maior será a pontuação. Para manter o equilíbrio das<br />

partidas, a soma de pontos da classifi cação funcional<br />

<strong>do</strong>s atletas que estiverem em quadra não pode, em nenhum<br />

momento <strong>do</strong> jogo, ultrapassar 14 pontos. A equipe<br />

masculina <strong>do</strong> Brasil ganhou a medalha de bronze no Parapan<br />

Rio 2007.<br />

Voleibol senta<strong>do</strong><br />

O vôlei paraolímpico é joga<strong>do</strong> com o atleta senta<strong>do</strong> no<br />

piso. A distinção em relação ao vôlei olímpico se dá basicamente<br />

pelas dimensões reduzidas da quadra: 10m<br />

x 6m com a rede medin<strong>do</strong> 1,15m de altura para o vôlei<br />

masculino e 1,05m no feminino, enquanto no olímpico<br />

a quadra mede 18m x 9m e a rede tem altura de 2,43m<br />

para homens ou 2,24m para mulheres. O sistema de pontuação<br />

é o mesmo e as regras <strong>do</strong> esporte sofrem apenas<br />

pequenas mudanças. O bloqueio de saque é permiti<strong>do</strong><br />

e to<strong>do</strong>s os joga<strong>do</strong>res devem manter, pelo menos, uma<br />

parte <strong>do</strong> corpo sempre em contato com o chão. No vôlei<br />

senta<strong>do</strong>, os atletas têm deficiência físico-motora. A<br />

maioria <strong>do</strong>s praticantes tem algum membro amputa<strong>do</strong>.<br />

A equipe brasileira foi ouro no Rio 2007.<br />

Futebol de 5<br />

O futebol de 5 é pratica<strong>do</strong> por atletas com defi ciência<br />

visual. Cada equipe é formada por cinco joga<strong>do</strong>res – um<br />

goleiro, o único que enxerga perfeitamente, e quatro joga<strong>do</strong>res<br />

de linha, que atuam com vendas nos olhos para<br />

que atletas com diferentes níveis de deficiência visual<br />

estejam em igualdade de condições. A modalidade é<br />

praticada a céu aberto, para que o ruí<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong> pela<br />

acústica <strong>do</strong> ginásio não confunda os joga<strong>do</strong>res. As dimensões<br />

<strong>do</strong> campo são de 40m x 20m e o jogo tem duração<br />

de 50 minutos (<strong>do</strong>is tempos de 25). Próximas às linhas<br />

laterais existem duas redes de 1,20m de altura, que<br />

impedem que a bola saia <strong>do</strong> campo. A bola tem guizos<br />

internos que produzem efeitos sonoros para orientar os<br />

atletas. A seleção brasileira é campeã mundial, paraolímpica<br />

e parapan-americana da modalidade.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> Foto: Francisco Medeiros / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

101


Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Futebol de 7<br />

O futebol de 7 é disputa<strong>do</strong> por atletas com paralisia cerebral.<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que o nome sugere, a paralisia<br />

cerebral provoca deficiência motora, e não mental. Os<br />

joga<strong>do</strong>res de futebol de 7 têm baixo comprometimento<br />

motor. Mas em todas as equipes deve haver pelo menos<br />

um atleta com um comprometimento maior. Se não houver<br />

joga<strong>do</strong>r nessa condição, a equipe deve jogar com<br />

seis integrantes. A dimensão <strong>do</strong> campo é de 75m x 55m,<br />

com balizas de 5m x 2m. A duração da partida é de 60<br />

minutos, dividi<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is tempos de 30, e segue regras<br />

da Fifa, com pequenas modificações. Não há regra de<br />

impedimento, e a cobrança <strong>do</strong> lateral pode ser feita com<br />

apenas uma das mãos. O futebol de 7 brasileiro foi campeão<br />

em Atenas e no Parapan Rio 2007.<br />

Judô<br />

No judô, atletas cegos ou deficientes visuais se enfrentam<br />

no tatame seguin<strong>do</strong> as mesmas regras de competição<br />

da Federação Internacional de Judô, com pequenas<br />

adaptações. Os atletas iniciam a luta com os oponentes<br />

cada um seguran<strong>do</strong> o quimono (traje de combate <strong>do</strong> ju<strong>do</strong>ca)<br />

<strong>do</strong> outro. A luta é interrompida quan<strong>do</strong> os oponentes<br />

perdem o contato. Não há punições para quem sai da<br />

área de combate. Ju<strong>do</strong>cas de três categorias participam:<br />

B1 (cegos), B2 (percepção de vulto) e B3 (definição de<br />

imagem). No Parapan Rio 2007, a equipe brasileira somou<br />

três ouros, <strong>do</strong>is no feminino e um no masculino.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Foto: Divulgação / CPB<br />

Halterofilismo<br />

O halterofilismo é pratica<strong>do</strong> por atletas com paralisia cerebral,<br />

lesão medular, amputação de membros inferiores<br />

e outras deficiências. Dividi<strong>do</strong>s por categoria de peso (10<br />

no total), os atletas competem deita<strong>do</strong>s durante a prova.<br />

Enquanto a modalidade olímpica desenvolve a explosão<br />

e o arranque, o levantamento de peso paraolímpico estimula<br />

a força. O tempo para conclusão da apresentação<br />

é de <strong>do</strong>is minutos. Vence quem conseguir a maior soma<br />

de pesos em três levantamentos. O Brasil garantiu um<br />

ouro no Rio 2007 na categoria masculino leve.<br />

102


Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Tênis de mesa<br />

As competições de tênis de mesa estão divididas basicamente<br />

entre andantes e cadeirantes. As partidas podem<br />

ser individuais ou em duplas. Atletas com todas as<br />

deficiências competem neste esporte, com exceção <strong>do</strong>s<br />

cegos. São dividi<strong>do</strong>s em 11 classes funcionais. As regras<br />

nas competições paraolímpicas são praticamente as<br />

mesmas <strong>do</strong> esporte convencional, com sutis alterações<br />

para os atletas em cadeira de rodas, principalmente no<br />

que se refere à distância entre os suportes da mesa e os<br />

atletas. As 11 medalhas de ouro conquistadas pelo Brasil<br />

no Rio 2007 ajudaram a posicionar o País em primeiro no<br />

quadro da modalidade à época.<br />

Natação<br />

Homens e mulheres com deficiência físico-motora e visual<br />

disputam as provas de natação, que podem ser individuais<br />

ou em revezamento. As competições vão de 50m<br />

a 800m nos quatro estilos: livre, peito, costas e borboleta.<br />

Não é permiti<strong>do</strong> o uso de próteses ou qualquer outro<br />

aparato. As regras são similares à sua versão olímpica,<br />

com adaptações – em especial com relação às largadas,<br />

viradas e chegadas. Os nada<strong>do</strong>res cegos recebem aviso<br />

<strong>do</strong> treina<strong>do</strong>r quan<strong>do</strong> estão se aproximan<strong>do</strong> das bordas<br />

da piscina. Eles são dividi<strong>do</strong>s nas classes: S1 a S10<br />

(atletas com deficiência físico-motora); S11 a S13 (atletas<br />

cegos e com deficiência visual); e S14 (atletas com<br />

deficiência mental). O Brasil conquistou 39 medalhas de<br />

ouro no Rio 2007.<br />

Tênis em cadeira de rodas<br />

O tênis em cadeira de rodas é a modalidade <strong>do</strong> esporte<br />

paraolímpico que mais tem cresci<strong>do</strong> nos últimos anos. As<br />

regras aplicadas às competições paraolímpicas são praticamente<br />

as mesmas <strong>do</strong> tênis. As diferenças são em relação<br />

ao toque da bola no piso, que pode ser duplo, e às<br />

adaptações <strong>do</strong>s equipamentos <strong>do</strong>s tenistas. As cadeiras<br />

de rodas são feitas de materiais leves e as raquetes têm<br />

uma tira lateral que lhes confere maior durabilidade. O<br />

tênis em cadeira de rodas é pratica<strong>do</strong> por atletas que têm<br />

perda de função parcial ou total de uma ou ambas as pernas,<br />

ou ainda, na chamada categoria Quad, quan<strong>do</strong> têm<br />

ao menos três membros afeta<strong>do</strong>s. Mais um ouro para o<br />

Brasil foi conquista<strong>do</strong> nesta modalidade no Rio 2007.<br />

Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />

103


O BALANÇO DO PARAPAN<br />

Os números, o quadro de medalhas<br />

e os recordes mundiais quebra<strong>do</strong>s<br />

na melhor edição <strong>do</strong>s Jogos<br />

Parapan-americanos da história.<br />

QUADRO COMPLETO DE MEDALHAS DO PARAPAN<br />

País Ouro Prata Bronze Total<br />

1 Brasil 83 68 77 228<br />

2 Canadá 49 37 26 112<br />

3 Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s 37 44 36 117<br />

4 México 37 43 37 117<br />

5 Cuba 28 21 11 60<br />

6 Argentina 7 16 30 53<br />

7 Venezuela 5 10 15 30<br />

8 Peru 3 1 0 4<br />

9 Colômbia 2 5 9 17<br />

10 Jamaica 1 2 2 5<br />

11 Porto Rico 1 1 2 4<br />

12 Equa<strong>do</strong>r 1 0 2 3<br />

13 Costa Rica 0 1 2 3<br />

14 Chile 0 1 2 3<br />

15 Panamá 0 1 0 1<br />

16 Uruguai 0 1 0 1<br />

17 Paraguai 0 0 1 1<br />

18 El Salva<strong>do</strong>r 0 0 1 1<br />

19 Guatemala 0 0 0 0<br />

20 Honduras 0 0 0 0<br />

21 Nicarágua 0 0 0 0<br />

22 Suriname 0 0 0 0<br />

23 Granada 0 0 0 0<br />

24 Haiti 0 0 0 0<br />

25 República Dominicana 0 0 0 0<br />

104


RECORDES MUNDIAIS SUPERADOS NO PARAPAN-AMERICANO<br />

Data Gênero <strong>Esporte</strong> Prova Atleta Classe País Recorde<br />

13/08 F Atletismo<br />

Lançamento de dar<strong>do</strong><br />

F33/34/52/53<br />

Esther Rivera Robles F53 MEX 18m87cm<br />

13/08 M Atletismo 100m t11 Lucas Pra<strong>do</strong> T11 BRA 11s29<br />

14/08 M Atletismo<br />

15/08 F Atletismo<br />

16/08 M Atletismo<br />

16/08 M Atletismo<br />

Lançamento de disco<br />

F54-56<br />

Arremesso de peso<br />

F55-58<br />

Arremesso de peso<br />

F53-55<br />

Arremesso de peso<br />

F53-55<br />

Leonar<strong>do</strong> Díaz Aldana F56 CUB 39m90cm<br />

Angeles Ortiz F58 MEX 10m23cm<br />

Scott Winkler F54 USA 10m23cm<br />

Mauro Máximo de Jesus F53 MEX 8m55cm<br />

14/08 F Halterofilismo<br />

Peso leve aberto<br />

- 52kg<br />

Amalia Perez – MEX 130,5Kg<br />

13/08 M Natação 100m borboleta s10 André Brasil S10 BRA 57s55<br />

13/08 M Natação 50m na<strong>do</strong> livre s4 Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva S4 BRA 34s69<br />

14/08 M Natação<br />

150m medley<br />

Individual sm4<br />

Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva SM4 BRA 2min32s57<br />

15/08 M Natação 200m na<strong>do</strong> livre s4 Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva S4 BRA 2min51s81<br />

15/08 M Natação 100m na<strong>do</strong> livre s10 André Esteves S10 BRA 52s35<br />

15/08 F Natação 400m na<strong>do</strong> livre s13 Valérie Grand Maison S13 CAN 4min36s51<br />

15/08 M Natação 200m na<strong>do</strong> livre s4 Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva S4 CAN 2min50s30<br />

15/08 M Natação 200m na<strong>do</strong> livre s5 Daniel Dias S5 BRA 2min37s72<br />

16/08 M Natação 50m borboleta s4 Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva S4 BRA 44s41<br />

16/08 M Natação<br />

200m medley<br />

Individual sm10<br />

Benoit Huot SM10 CAN 2min14s57<br />

16/08 M Natação 50m borboleta s4 Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> Silva S4 BRA 42s18<br />

NÚMEROS DO PARAPAN<br />

LOCAIS DE COMPETIÇÃO E CERIMÔNIAS DO PARAPAN<br />

29.939 credenciais validadas<br />

1.115 atletas participaram da maior competição<br />

671 oficiais<br />

106 dirigentes e delega<strong>do</strong>s técnicos<br />

brasileiros e estrangeiros<br />

358 juízes e árbitros coordenan<strong>do</strong> as disputas<br />

5.000 voluntários<br />

1.518 colabora<strong>do</strong>res (força de trabalho <strong>do</strong> CO-Rio)<br />

8.316 terceiriza<strong>do</strong>s atuan<strong>do</strong> como fornece<strong>do</strong>res em geral<br />

9.269 integrantes <strong>do</strong>s três níveis de governo<br />

980 funcionários da Caixa Econômica Federal<br />

357 jornalistas de imprensa escrita, de seis países<br />

750 profissionais de Rádio e TV<br />

280 mil especta<strong>do</strong>res<br />

Evento<br />

Cerimônia de abertura<br />

Atletismo<br />

Basquete<br />

Futebol de 5<br />

Futebol de 7<br />

Halterofilismo<br />

Judô<br />

Natação<br />

Tênis em cadeira de rodas<br />

Tênis de mesa<br />

Voleibol senta<strong>do</strong><br />

Cerimônia de encerramento<br />

Local<br />

Arena Multiuso<br />

Estádio João Havelange<br />

Arena Multiuso<br />

Complexo Esportivo de<br />

Deo<strong>do</strong>ro<br />

Complexo Esportivo de<br />

Deo<strong>do</strong>ro<br />

Riocentro – Pavilhão 3A<br />

Riocentro – Pavilhão 4A<br />

Parque Aquático Maria Lenk<br />

Marapendi Country Club<br />

Riocentro – Pavilhão 4B<br />

Riocentro – Pavilhão 3B<br />

Vila Parapan-americana<br />

105


AS INSTALAÇÕES<br />

ESPORTIVAS<br />

Oito novas arenas<br />

permanentes, cinco outras<br />

totalmente modernizadas<br />

e instalações provisórias<br />

de alto padrão. O Pan<br />

transforma o Rio de Janeiro<br />

em <strong>do</strong>no de uma das mais<br />

modernas plataformas<br />

esportivas <strong>do</strong> planeta<br />

106


O Complexo Esportivo de<br />

Deo<strong>do</strong>ro, o Parque<br />

Aquático Maria Lenk, a<br />

Arena Provisória <strong>do</strong> Vôlei,<br />

o Estádio Olímpico João<br />

Havelange, a Arena<br />

Multiuso e o Maracanã<br />

(em senti<strong>do</strong><br />

horário a partir<br />

<strong>do</strong> alto, à esq.):<br />

novos projetos<br />

e reformas que mudaram<br />

a realidade esportiva<br />

<strong>do</strong> Rio e a <strong>do</strong> País<br />

Foto: Divulgação / Prefeitura <strong>do</strong> Rio<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Foto: Donald Miralle / Getty Images<br />

107


108


109


110


111


Um investimento inédito em 50 anos<br />

O<br />

s lega<strong>do</strong>s mais importantes deixa<strong>do</strong>s<br />

pelos Jogos Pan-americanos<br />

Rio 2007 são as oito instalações<br />

permanentes construídas e as cinco<br />

reformadas no Rio de Janeiro. Não bastasse<br />

a magnitude <strong>do</strong> feito, ele se torna ainda mais<br />

importante quan<strong>do</strong> se constata que, no Brasil,<br />

nada de tão inova<strong>do</strong>r havia si<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> em<br />

matéria de equipamentos esportivos desde os<br />

anos 50, com a construção <strong>do</strong> Estádio Mário<br />

Filho, ou simplesmente Maracanã, que se tornou<br />

verdadeiro cartão-postal <strong>do</strong> País. Ainda na<br />

década de 50, havia si<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> o Conjunto<br />

Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, em<br />

São Paulo, composto por <strong>do</strong>is ginásios poliesportivos,<br />

um estádio com pista de atletismo,<br />

conjunto aquático e o Palácio <strong>do</strong> Judô. Em<br />

1963, o Pan realiza<strong>do</strong> na capital paulista deixou<br />

como lega<strong>do</strong> seis prédios da Vila Pan-americana,<br />

que hoje forma o Conjunto Residencial da<br />

Universidade de São Paulo (Crusp), piscina e<br />

quadras que agora compõem o Centro de Práticas<br />

Esportivas da USP (Cepeusp).<br />

Na opinião da maioria de atletas, técnicos, jornalistas<br />

e dirigentes, brasileiros e estrangeiros<br />

que atuaram no Pan, o conjunto ergui<strong>do</strong> para<br />

o evento é comparável ao das melhores plataformas<br />

esportivas internacionais. “A magnífi ca<br />

infra-estrutura constitui um importante lega<strong>do</strong><br />

para o Rio e o Brasil”, disse o presidente<br />

da Organização Desportiva Pan-Americana<br />

(Odepa), Mario Vásquez Raña. “As instalações<br />

esportivas e a Vila <strong>do</strong> Pan são de primeiro<br />

mun<strong>do</strong>”, declarou a ex-nada<strong>do</strong>ra Patrícia<br />

Amorim, que integrou delegações brasileiras<br />

em Olimpíadas e outras competições e hoje<br />

é verea<strong>do</strong>ra carioca. “Não foram medi<strong>do</strong>s esforços.<br />

Estou encantada, com uma impressão<br />

maravilhosa”, completou.<br />

Alguns palcos de competição tornaram-se<br />

referência internacional no mun<strong>do</strong> esportivo,<br />

como o Centro Nacional de Hipismo, o Centro<br />

Nacional de Tiro Esportivo (ambos no Complexo<br />

de Deo<strong>do</strong>ro), o Estádio João Havelange<br />

e a Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s (composta da Arena<br />

Olímpica, <strong>do</strong> Parque Aquático Maria Lenk e <strong>do</strong><br />

Velódromo da Barra). “É a melhor infra-estrutura<br />

esportiva que eu já vi em Pan-americanos”,<br />

declarou Julio Maglione, membro <strong>do</strong> corpo<br />

executivo <strong>do</strong> Comitê Olímpico Internacional<br />

(COI) e presidente <strong>do</strong> Comitê de Coordenação<br />

da Odepa e <strong>do</strong> Comitê Olímpico Uruguaio. “A<br />

qualidade é excelente”, resumiu Felipe Muñoz,<br />

presidente <strong>do</strong> Comitê Olímpico Mexicano.<br />

Para analisar o processo de construção das<br />

instalações, é preciso levar em conta a mudança<br />

de escopo <strong>do</strong> projeto: o que estava previsto<br />

no <strong>do</strong>ssiê de candidatura era diferente <strong>do</strong> que<br />

foi executa<strong>do</strong>. Após a escolha <strong>do</strong> Rio como cidade-sede<br />

<strong>do</strong>s Jogos, os organiza<strong>do</strong>res optaram<br />

por fazer “o melhor Pan da História”, como<br />

costumava-se dizer, e a área de instalações,<br />

naturalmente, foi uma das que mais sofreram<br />

alterações. O estádio de atletismo previsto para<br />

10 mil pessoas no <strong>do</strong>ssiê de candidatura, por<br />

exemplo, foi substituí<strong>do</strong> pelo João Havelange,<br />

capaz de abrigar 45 mil torce<strong>do</strong>res.<br />

A grande mudança <strong>do</strong> projeto inicial para patamares<br />

de excelência internacional fez com que<br />

o planejamento de instalações fosse refeito a<br />

partir de 2003, desta vez com a consultoria da<br />

empresa australiana MI Associates, contratada<br />

para conduzir o processo em conjunto com<br />

o Comitê Organiza<strong>do</strong>r Rio 2007 (CO-Rio). O<br />

governo federal fez convênios com a prefeitura<br />

e o governo estadual para repassar recursos<br />

que seriam fundamentais na conclusão de instalações<br />

importantes, como o Maria Lenk, o<br />

Maracanã e o Maracanãzinho.<br />

Nenhuma das obras das instalações permanentes<br />

seguiu o ritmo deseja<strong>do</strong> pelos governos<br />

nem terminou no prazo estipula<strong>do</strong> no planejamento<br />

<strong>do</strong> CO-Rio. “Todas deveriam ficar prontas<br />

de três a quatro meses antes <strong>do</strong>s Jogos<br />

para treinar as equipes que iriam operá-las.<br />

Assim, é mais provável que os Jogos aconteçam<br />

com tranqüilidade”, explica o australiano<br />

John Baker, arquiteto contrata<strong>do</strong> pela MI Associates.<br />

Os motivos para a demora vão desde<br />

o grande volume de exigências burocráticas<br />

de diversos órgãos, passan<strong>do</strong> por problemas<br />

operacionais das empreiteiras até disputas judiciais<br />

em torno da posse de terrenos ou de<br />

112


autorizações <strong>do</strong> Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico<br />

e Artístico Nacional (Iphan). Cada obra tem<br />

seu histórico particular de dificuldades.<br />

As instalações temporárias também sofreram<br />

com o não-cumprimento de prazos. Neste<br />

caso, o principal motivo foi a inexperiência<br />

<strong>do</strong> CO-Rio: os projetos eram elabora<strong>do</strong>s pelo<br />

Comitê, que os repassava aos governos, responsáveis<br />

por licitá-los. Mas a falta de especificações<br />

motivou a intervenção <strong>do</strong>s entes governamentais<br />

para que os editais tivessem os<br />

parâmetros mínimos necessários exigi<strong>do</strong>s, o<br />

que atrasou o processo (detalhes mais adiante).<br />

O adiamento, embora não tenha causa<strong>do</strong> prejuízos<br />

na área de instalações, prejudicou o<br />

treinamento das equipes e a montagem <strong>do</strong>s<br />

sistemas de tecnologia. O tempo foi curto<br />

para corrigir eventuais falhas de projetos. O<br />

não-cumprimento <strong>do</strong>s cronogramas também<br />

produziu desconfiança na opinião pública. O<br />

temor era o de passar pelo constrangimento<br />

de não ver os espaços prontos a tempo. Mas<br />

a insegurança acabou nas semanas anteriores<br />

aos Jogos, na medida em que as plataformas<br />

eram entregues. Brasileiros e estrangeiros<br />

constataram, então, que o Pan deixaria como<br />

principal herança um <strong>do</strong>s mais modernos conjuntos<br />

de equipamentos esportivos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

capaz de gerar ganhos não só para o treinamento<br />

de atletas como para a realização de<br />

diversos eventos nacionais e internacionais.<br />

As reações durante o Campeonato Mundial Militar<br />

de Pentatlo Moderno, um <strong>do</strong>s eventos-teste<br />

<strong>do</strong> Pan, realiza<strong>do</strong> no Complexo de Deo<strong>do</strong>ro<br />

em maio de 2007, por exemplo, ilustram esta<br />

mudança de visão. “As instalações são excepcionais,<br />

a iluminação <strong>do</strong> tiro está excelente. Na<br />

natação, o bloco é extremamente bem feito e a<br />

piscina, toda nivelada”, elogiou a pernambucana<br />

Yane Marques, campeã na categoria Open.<br />

“Os alvos de tiro são eletrônicos e, na esgrima,<br />

eu nunca tinha visto um painel tão completo<br />

como o que transmite os resulta<strong>do</strong>s”, acrescentou<br />

a atleta. “Fiquei impressiona<strong>do</strong> com o<br />

que é ofereci<strong>do</strong> em Deo<strong>do</strong>ro para a prática <strong>do</strong><br />

hipismo. Ainda não tinha visto nada igual”, elogiou,<br />

na mesma competição, o gaúcho Daniel<br />

<strong>do</strong>s Santos.<br />

“O governo federal construiu em Deo<strong>do</strong>ro um<br />

conjunto esportivo moderno, à altura das grandes<br />

competições mundiais. Para que tu<strong>do</strong><br />

desse certo na época <strong>do</strong> Pan, os testes feitos<br />

durante o Mundial Militar de Pentatlo Moderno<br />

foram decisivos. O CO-Rio teve, naquele momento,<br />

a oportunidade de avaliar os pontos positivos<br />

da estrutura que estava sen<strong>do</strong> oferecida<br />

e, eventualmente, ajustar possíveis falhas que<br />

fossem registradas, a tempo para corrigi-las<br />

para o Pan.”, explica o secretário <strong>do</strong> Ministério<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> para os Jogos, Ricar<strong>do</strong> Leyser.<br />

Até mesmo na reabertura <strong>do</strong> Maracanãzinho,<br />

que causou muita preocupação por causa <strong>do</strong><br />

atraso nas obras, as avaliações de atletas e<br />

técnicos beiraram a euforia. O ginásio foi reinaugura<strong>do</strong><br />

em junho para o evento-teste Desafio<br />

Internacional de Voleibol Feminino, entre<br />

Brasil e Sérvia. “Na Itália, onde jogo, não existe<br />

um ginásio com estas dimensões. Este é<br />

hoje um <strong>do</strong>s melhores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”, animou-se<br />

a brasileira Sheilla. “Fico muito orgulhoso de<br />

voltar ao ginásio e vê-lo desta forma”, declarou<br />

o técnico da seleção feminina brasileira,<br />

José Roberto Guimarães. “Só vi algo deste<br />

nível no Japão”, afirmou a capitã da seleção<br />

sérvia, Jelena Nikolic.<br />

Para o presidente <strong>do</strong> CO-Rio, Carlos Arthur<br />

Nuzman, as instalações são um <strong>do</strong>s mais importantes<br />

lega<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Jogos: “Nos últimos<br />

50 anos, nenhuma cidade brasileira recebeu<br />

um conjunto de plataformas esportivas ao<br />

menos próximo deste. Alguns esportes, como<br />

hóquei sobre grama, tiro esportivo e ciclismo,<br />

nem sequer contavam com um local próprio<br />

de disputa no País”.<br />

113


As instalações se tornam olímpicas<br />

O<br />

custo estima<strong>do</strong> para as construções<br />

sofreu ao menos três ajustes<br />

ao longo da preparação <strong>do</strong>s<br />

Jogos. No <strong>do</strong>ssiê revisa<strong>do</strong> em fevereiro<br />

de 2003, estava estima<strong>do</strong> em R$ 333<br />

milhões. Quatro anos depois, em fevereiro de<br />

2007, por ocasião da assinatura da Matriz de<br />

Responsabilidades, chegava a R$ 1,5 bilhão<br />

(ver capítulo A Atuação <strong>do</strong> Governo Federal e<br />

a Evolução <strong>do</strong> Orçamento). Ao final, o custo de<br />

construções, reformas e operações durante o<br />

Pan e o Parapan fechou em torno de R$ 1,6<br />

bilhão. Hoje, algumas instalações estão praticamente<br />

prontas caso o Rio venha a abrigar<br />

os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, como<br />

o Centro Nacional de Tiro Esportivo Tenente<br />

Guilherme Paraense, o Centro Nacional de Hipismo<br />

General Eloy Menezes, o Maracanãzinho<br />

e a Arena Olímpica.<br />

Algumas dessas instalações foram projetadas<br />

para atender às exigências olímpicas e carecem<br />

apenas de ajustes já previstos, como a<br />

ampliação da capacidade de público, caso <strong>do</strong><br />

Estádio João Havelange, construí<strong>do</strong> para 45 mil<br />

pessoas mas com previsão de aumento para<br />

60 mil, ou adaptações das áreas operacionais.<br />

A decisão de conferir aos Jogos um nível internacional<br />

de excelência elevou os custos das<br />

obras, mas foi também uma das responsáveis<br />

pelo fato de a competição ter si<strong>do</strong> considerada<br />

pelo próprio presidente da Odepa, Mario Vásquez<br />

Raña, “a melhor da história”, e por ter deixa<strong>do</strong><br />

ao Rio um parque de instalações que o<br />

credencia para se tornar cidade-sede de uma<br />

futura realização <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos. “Em<br />

2003, quan<strong>do</strong> começamos a executar o planejamento,<br />

pensamos: se é necessário e inevitável<br />

investir em instalações esportivas – e não<br />

somos um país com facilidade para financiar<br />

a renovação desses parques –, por que não<br />

fazer essas plataformas com padrão internacional,<br />

como gostam de definir alguns? Até<br />

porque tínhamos pouco, quase nada à época”,<br />

justifica Nuzman. No <strong>do</strong>ssiê de candidatura<br />

aprova<strong>do</strong> pela Odepa em 2002 constavam 23<br />

instalações, conforme quadro a seguir, que<br />

mostra onde seria realiza<strong>do</strong> o Pan.<br />

INSTALAÇÕES PREVISTAS NO DOSSIÊ<br />

Complexo Esportivo <strong>do</strong> Autódromo<br />

Arena Multiuso – Basquete e ginástica rítmica<br />

Estádio de Atletismo – Atletismo<br />

Parque Aquático – Natação e na<strong>do</strong> sincroniza<strong>do</strong><br />

Velódromo – Ciclismo de pista<br />

Autódromo Nelson Piquet – Ciclismo de estrada<br />

Complexo Esportivo <strong>do</strong> Riocentro<br />

Badminton, boxe, esgrima, judô, levantamento de peso, lutas, taekwon<strong>do</strong> e tênis de mesa<br />

Cidade <strong>do</strong> Rock<br />

Beisebol, softbol e tiro com arco<br />

Estádio de Remo da Lagoa<br />

Canoagem de velocidade e remo<br />

Quinta da Boa Vista<br />

Canoagem slalom<br />

114


Parque Natural Municipal <strong>do</strong> Mendanha<br />

Ciclismo de mountain bike<br />

Complexo Esportivo <strong>do</strong> Maracanã<br />

Estádio <strong>do</strong> Maracanã – Futebol, cerimônias de abertura e encerramento e chegada da maratona<br />

Ginásio <strong>do</strong> Maracanãzinho<br />

Vôlei<br />

Parque Aquático Júlio Delamare<br />

Saltos ornamentais e pólo aquático<br />

Estádio de Moça Bonita (Bangu)<br />

Futebol<br />

Estádio Ítalo del Cima (Campo Grande)<br />

Futebol<br />

Centro de Futebol Zico (CFZ)<br />

Futebol e hóquei sobre grama<br />

Complexo Esportivo Miécimo da Silva<br />

Ginástica artística e handebol<br />

Vila Militar de Deo<strong>do</strong>ro<br />

Hipismo e tiro esportivo<br />

Colégio Militar<br />

Pentatlo moderno<br />

Clube Marapendi<br />

Tênis<br />

Arena <strong>do</strong> Posto 6<br />

Triatlo<br />

Marina da Glória<br />

Vela<br />

Arena de Copacabana<br />

Vôlei de Praia<br />

Vila Pan-americana<br />

Inicialmente localizada na Avenida Salva<strong>do</strong>r Allende<br />

115


Com o tempo, foram feitos ajustes, e um<br />

<strong>do</strong>s motivos foi a já citada mudança de escopo<br />

<strong>do</strong> projeto. Alguns equipamentos fi caram<br />

acanha<strong>do</strong>s demais para o padrão que<br />

se pretendia. Outra razão foram as alterações<br />

na relação de modalidades tradicionalmente<br />

feitas pela Odepa até o fechamento<br />

<strong>do</strong> programa defi nitivo. Uma delas saiu<br />

<strong>do</strong> programa em 2005, a canoagem slalom,<br />

e outras oito entraram: ciclismo BMX, ginástica<br />

de trampolim, futsal, caratê, patinação<br />

artística, squash, esqui aquático e<br />

maratona aquática. Isso também provocou<br />

impacto no orçamento previsto inicialmente.<br />

O objetivo <strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>res de manter as<br />

mesmas modalidades <strong>do</strong> programa de Pequim<br />

2008 foi conquista<strong>do</strong>, à exceção da<br />

canoagem slalom. Outros locais chegaram a<br />

ser cogita<strong>do</strong>s, mas foram excluí<strong>do</strong>s no processo<br />

de ajuste, caso <strong>do</strong> Estádio <strong>do</strong> Olaria<br />

(futebol), <strong>do</strong> Estádio de São Januário (futebol),<br />

<strong>do</strong> Sambódromo (ciclismo BMX), da Escola<br />

Naval e da Sociedade Hípica Brasileira<br />

(pentatlo moderno). Veja abaixo como fi cou:<br />

RELAÇÃO FINAL DE INSTALAÇÕES<br />

Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro<br />

Centro Nacional de Hipismo – Hipismo<br />

Centro Nacional de Tiro Esportivo – Tiro esportivo<br />

Centro de Hóquei sobre Grama – Hóquei sobre grama<br />

Centro de Pentatlo Moderno – Pentatlo moderno<br />

Centro de Tiro com Arco – Tiro com arco<br />

Complexo Esportivo <strong>do</strong> Maracanã<br />

Estádio <strong>do</strong> Maracanã – Cerimônias de abertura e encerramento e futebol<br />

Ginásio <strong>do</strong> Maracanãzinho - Vôlei<br />

Parque Aquático Júlio Delamare - Pólo aquático<br />

Complexo Esportivo <strong>do</strong> Riocentro<br />

Pavilhão 2 – Boxe e levantamento de peso<br />

Pavilhão 3A – Esgrima, ginástica rítmica e ginástica de trampolim<br />

Pavilhão 3B – Futsal e handebol<br />

Pavilhão 4A – Judô, lutas e taekwon<strong>do</strong><br />

Pavilhão 4B – Badminton e tênis de mesa<br />

Estádio João Havelange<br />

Atletismo e futebol<br />

116


Complexo Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s (antigo Complexo Esportivo <strong>do</strong> Autódromo)<br />

Arena Olímpica (Arena Multiuso) – Basquete e ginástica artística<br />

Parque Aquático Maria Lenk – Natação, na<strong>do</strong> sincroniza<strong>do</strong> e saltos ornamentais<br />

Velódromo – Ciclismo de pista e patinação em velocidade<br />

Complexo Esportivo Miécimo da Silva<br />

Futebol, caratê, patinação artística e squash<br />

Estádio de Remo da Lagoa<br />

Canoagem e remo<br />

Clube Marapendi<br />

Tênis<br />

Marina da Glória<br />

Vela<br />

Arena de Copacabana<br />

Vôlei de praia<br />

Arena <strong>do</strong> Posto 6<br />

Triatlo e maratona aquática<br />

CFZ<br />

Futebol<br />

Morro <strong>do</strong> Outeiro<br />

Ciclismo de mountain bike e BMX<br />

Cidade <strong>do</strong> Rock<br />

Beisebol e softbol<br />

Parque <strong>do</strong> Flamengo<br />

Ciclismo de estrada e maratona<br />

Clube <strong>do</strong>s Caiçaras<br />

Esqui aquático<br />

Barra Bowling<br />

Boliche<br />

117


118


Do papel para a realidade<br />

O<br />

primeiro passo para a construção<br />

de uma instalação era a definição<br />

sobre quem arcaria com os custos<br />

da obra e, na etapa seguinte,<br />

a forma como estes equipamentos seriam<br />

financia<strong>do</strong>s pelos responsáveis. No caso <strong>do</strong><br />

governo federal, se o faria por meio de contrato<br />

(licitação), convênio (com terceiros) ou<br />

destaque de crédito (transferência para outros<br />

órgãos federais).<br />

O Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> acabou utilizan<strong>do</strong> os<br />

três tipos de financiamento: celebrou convênios<br />

com a prefeitura e o governo estadual;<br />

fez transferências de recursos para o Exército<br />

via Ministério da Defesa; e conduziu licitações<br />

para a construção <strong>do</strong> Complexo Esportivo de<br />

Deo<strong>do</strong>ro e para a montagem de instalações<br />

temporárias.<br />

No caso das construções permanentes, após<br />

a apresentação de um esboço pelo Comitê<br />

Organiza<strong>do</strong>r Rio 2007 (CO-Rio), ficava a cargo<br />

<strong>do</strong>s entes governamentais decidirem a contratação<br />

das empresas que fariam o projeto básico.<br />

Em seguida, contratavam a construtora<br />

que desenvolveria o projeto executivo e realizaria<br />

a obra. No caso das instalações temporárias,<br />

a elaboração <strong>do</strong>s projetos básicos ficava<br />

a cargo <strong>do</strong> CO-Rio, mas a contratação das<br />

construtoras também era feita pelos governos.<br />

O então ministro <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> Agnelo<br />

Queiroz, o ex-comandante militar <strong>do</strong> Leste<br />

general Domingos Cura<strong>do</strong> e o presidente<br />

<strong>do</strong> COB, Carlos Arthur Nuzman, lançam<br />

a pedra fundamental <strong>do</strong> Complexo de<br />

Deo<strong>do</strong>ro, em 20/03/2006: início de uma<br />

nova fase para várias modalidades<br />

Foto: Divlugação / CO-Rio<br />

A diferença entre o Rio 2007 e os Jogos Panamericanos<br />

que o antecederam é o modelo de<br />

contratação das empresas responsáveis pela<br />

construção das instalações temporárias. “Em<br />

Winnipeg 1999, o governo repassava o dinheiro<br />

para o comitê, que contratava os serviços.<br />

Desta forma, o contrata<strong>do</strong> respondia diretamente<br />

ao comitê, o que lhe dava mais flexibilidade<br />

para fazer mudanças no projeto. Depois<br />

o comitê prestava contas para os governos”,<br />

explica Mario Cilenti, subsecretário geral <strong>do</strong><br />

CO-Rio que trabalhou nas três edições anteriores<br />

<strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos e nas duas<br />

últimas <strong>do</strong>s Jogos da Comunidade Britânica.<br />

119


O governo federal investe nas obras<br />

O<br />

Plano Estratégico de Ações Governamentais<br />

(PAG), lança<strong>do</strong> em<br />

junho de 2006, explica o objetivo<br />

<strong>do</strong> governo federal ao investir nas<br />

instalações <strong>do</strong>s Jogos: <strong>do</strong>tar o Brasil de uma<br />

infra-estrutura esportiva por meio da construção<br />

e adequação de equipamentos modernos<br />

e de nível internacional. O <strong>do</strong>cumento previa<br />

que os investimentos federais fossem feitos<br />

em três áreas: na construção <strong>do</strong> Complexo<br />

Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro e <strong>do</strong> Parque<br />

Aquático Maria Lenk, esta última<br />

obra tocada pela Prefeitura por meio de<br />

convênio com o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>;<br />

na aquisição e fornecimento de bens e<br />

serviços necessários ao atendimento<br />

de atletas e oficiais hóspedes na Vila<br />

Pan-americana, contemplan<strong>do</strong> hotelaria,<br />

alimentação, lavanderia e outros; e<br />

na aquisição e locação de bens e serviços<br />

para instalações temporárias em<br />

modalidades como vôlei de praia, triatlo,<br />

hipismo, hóquei sobre grama e tiro<br />

esportivo, assim como em locais não<br />

esportivos, como hotéis, aeroportos e<br />

centros de operações <strong>do</strong> evento.<br />

O Parque Maria Lenk,<br />

obra tocada pela prefeitura<br />

por meio de convênio com<br />

o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

no Complexo <strong>do</strong> Maracanã, a cargo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Além disso, fez aportes para incumbências<br />

<strong>do</strong> município, como obras e melhorias na<br />

infra-estrutura <strong>do</strong> entorno da Vila Pan-americana,<br />

incluin<strong>do</strong> implantação de sistema viário,<br />

construção de estação de tratamento de rio e<br />

recuperação <strong>do</strong> Canal <strong>do</strong> Anil, e arcou com o<br />

custeio de serviços de água, gás, energia elétrica<br />

e outros.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

No entanto, em 2007, a União incorporou<br />

outras obrigações, como auxílio financeiro<br />

para o término de obras e serviços<br />

Medi<strong>do</strong>res<br />

de gás da Vila<br />

Pan-americana<br />

Foto: Arquivo / FIA<br />

120


DIVISÃO DOS RECURSOS APLICADOS PELO GOVERNO FEDERAL EM INSTALAÇÕES<br />

R$ 141,7 milhões no Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro (inclui obras complementares <strong>do</strong> Exército,<br />

aquisição de obstáculos <strong>do</strong> hipismo, homologações, insumos e outros itens);<br />

R$ 93,2 milhões na Vila Pan-americana (direito de uso sobre os imóveis,<br />

governança, lavanderia e restaurante);<br />

R$ 45 milhões em convênio com a prefeitura para obras de infra-estrutura no entorno da Vila Pan-americana<br />

R$ 189,3 milhões em financiamento da Caixa Econômica Federal para a construção da Vila;<br />

R$ 60,5 milhões em instalações temporárias;<br />

R$ 3,228 milhões em custeio de serviços de concessionárias;<br />

R$ 174,6 milhões em instalações sob responsabilidade de outros entes governamentais<br />

FINANCIAMENTO FEDERAL PARA INSTALAÇÕES DO ESTADO E DA PREFEITURA<br />

Construção <strong>do</strong> Parque Aquático da Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s<br />

no Autódromo<br />

Convênio com Prefeitura<br />

<strong>do</strong> Rio (08/2007)<br />

R$ 60 milhões<br />

Importação da pista permanente <strong>do</strong> Velódromo Convênio com COB R$ 2.113.288,19<br />

Complexo Maracanã / Maracanãzinho: realização de obras de<br />

infra-estrutura e instalação de equipamentos no Complexo;<br />

instalação <strong>do</strong> sistema de ar condiciona<strong>do</strong>, de placares<br />

eletrônicos (principais e auxiliares), escadas rolantes e cadeiras<br />

retráteis, entre outros itens<br />

Overlays (instalações temporárias) no complexo <strong>do</strong> Maracanã,<br />

Estádio de Remo da Lagoa e Clube <strong>do</strong>s Caiçaras<br />

Dois convênios<br />

com Governo<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<br />

Convênio com Governo<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<br />

R$ 99.935.672,41<br />

R$ 12.631.456,97<br />

Total R$ 174.680.417,57<br />

Para erguer as instalações temporárias sob<br />

sua responsabilidade, o governo federal<br />

gastou R$ 60,5 milhões por meio de licitação.<br />

O serviço incluiu a montagem e a desmontagem<br />

de tendas, tabla<strong>do</strong>s, assentos,<br />

vestiários, banheiros químicos, entre outros,<br />

e ainda móveis, aparelhos de ar condiciona<strong>do</strong>,<br />

sinalizações para o especta<strong>do</strong>r<br />

e programação visual <strong>do</strong> evento. Algumas<br />

exigiam estruturas mais complexas, como<br />

as Arenas de Copacabana e <strong>do</strong> Posto 6 e<br />

os overlays <strong>do</strong> Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro.<br />

Outras eram compostas basicamente<br />

<strong>do</strong> “Look of the Games”, ou seja, cartazes,<br />

banners e outras peças de comunicação<br />

visual. O Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> firmou convênio<br />

(80/2007) para custear os overlays a<br />

cargo <strong>do</strong> governo estadual no valor de R$<br />

19.136.864,33 – R$ 12.631.456,97 da União e<br />

o restante em contrapartida <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

INSTALAÇÕES TEMPORÁRIAS CUSTEADAS PELA UNIÃO NOS SEGUINTES LOCAIS<br />

Praia de Copacabana (vôlei de praia e maratona aquática)<br />

Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro<br />

UAC (Centro de Uniforme e Credenciamento), no Barra Shopping<br />

GCT (Garagem Central), na Av. Ayrton Senna<br />

MOC (Centro Principal de Operações), na sede <strong>do</strong> COB<br />

Aeroportos <strong>do</strong> Rio de Janeiro: Galeão e Santos Dumont; de São Paulo: Cumbica (Guarulhos) e Congonhas;<br />

e de Belém – to<strong>do</strong>s locais de desembarque ou conexão de participantes <strong>do</strong>s Jogos<br />

Hotéis Windsor, Sheraton e Royalty, na Barra da Tijuca<br />

121


EXEMPLOS DE ITENS DE INSTALAÇÕES TEMPORÁRIAS (OVERLAYS)<br />

CONTRATADOS PELO GOVERNO FEDERAL<br />

Aparelhos de ar condiciona<strong>do</strong> de tipos diferentes<br />

Assentos plásticos<br />

Arquibancadas em estruturas tubulares<br />

Banheiros químicos de vários tipos, inclusive<br />

adapta<strong>do</strong>s para deficientes<br />

Revestimento de piso com brita<br />

Cerca alta com fechamento em tela de arame<br />

Cercas de vários tipos<br />

Contêineres de diversos tipos, modelos e tamanhos<br />

Divisórias de diversos tipos,modelos e tamanhos<br />

Forros em placas<br />

Mastros de diversos tipos<br />

Ferros a vapor 110V<br />

Armários de diversos tipos e modelos<br />

Bancos de madeiras de diversos tipos e modelos<br />

Banquetas<br />

Balcões de recepção<br />

Bebe<strong>do</strong>uros<br />

Beliches<br />

Biombos<br />

Cabideiros de diversos tipos<br />

Cadeiras de diversos tipos e modelos<br />

Cofres em aço<br />

Claviculários (porta-chaves)<br />

Coolers<br />

Estantes de vários tipos<br />

Escaninhos<br />

Espelho<br />

Flip-charts (quadros magnéticos)<br />

Aparelhos de frigobar de 90 litros<br />

Organiza<strong>do</strong>res de filas<br />

Geladeiras de vários modelos e tamanhos<br />

Arquivos com gavetas<br />

Guarda-volumes de diversos tipos<br />

Luminárias diversas<br />

Lixeiras de diversos tipos e modelos<br />

Macas médicas<br />

Mesas de diversos tipos,modelos e utilidades<br />

Organiza<strong>do</strong>res de <strong>do</strong>cumentos<br />

Poltronas de diversos tipos e modelos<br />

Pranchetas<br />

Quadros de cortiça<br />

Quadros brancos<br />

Relógios de parede<br />

Racks para TV de diversos tipos<br />

Sofás de 2 lugares de diversos tipos e modelos<br />

Telas de projeção<br />

Ventila<strong>do</strong>res<br />

Pisos de diversos tipos e materiais<br />

Porta palete (tipo estante)<br />

Tabla<strong>do</strong>s de madeira de diversos tipos e tamanhos<br />

Tendas de diversos tipos, modelos e tamanhos<br />

Vasos de plantas<br />

Adesivos de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />

Backdrops (painéis)<br />

Bandeiras<br />

Banners de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />

Blimps (balões promocionais)<br />

Bóias<br />

Fitas de rede de vôlei de diversos tipos<br />

Lonas de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />

Guarda-sóis<br />

Kit para estande de informação<br />

ELEMENTOS DE SINALIZAÇÃO E AMBIENTAÇÃO<br />

Mecanismo para hasteamento de bandeiras:<br />

bases e mastros<br />

Painéis de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />

Placas de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />

Pódios<br />

Pórticos de diversos tipos e tamanhos<br />

Prismas<br />

Protetores de postes de vôlei<br />

Saias p/ arquibancada e mesas<br />

de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />

Tótens de diversos tipos, materiais e tamanhos<br />

122


Monitoramento das instalações<br />

O<br />

governo federal decidiu entrar<br />

com força no financiamento de<br />

obras e serviços <strong>do</strong> governo <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> e da prefeitura quan<strong>do</strong><br />

o monitoramento da agência implementa<strong>do</strong>ra<br />

Fundação Instituto de Administração (FIA),<br />

contratada pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, detectou<br />

que havia atrasos em certos cronogramas,<br />

e que as partes então responsáveis por aqueles<br />

itens não estavam em condições de cumprir<br />

to<strong>do</strong>s os compromissos estabeleci<strong>do</strong>s.<br />

Na festa de lançamento da mascote <strong>do</strong> Pan,<br />

em 13 de julho de 2006, o presidente da República<br />

afirmou que o compromisso <strong>do</strong> governo<br />

federal com o Pan era total e<br />

determinou que o Ministério<br />

acompanhasse diariamente<br />

o andamento <strong>do</strong>s preparativos,<br />

ressaltan<strong>do</strong> que uma<br />

boa organização <strong>do</strong>s Jogos<br />

credenciaria o País a receber<br />

outros eventos internacionais.<br />

Na época, ele realçou<br />

que o governo precisaria fazer uma fiscalização<br />

de lupa para acompanhar diariamente o<br />

que estava faltan<strong>do</strong>, para que não houvesse<br />

efeito negativo para o Brasil caso algum objetivo<br />

não fosse cumpri<strong>do</strong> no prazo e a contento.<br />

A partir disso, o ministro <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, Orlan<strong>do</strong><br />

Silva Júnior, confirmou a decisão de reforçar as<br />

equipes de trabalho <strong>do</strong> Ministério. “A decisão<br />

é ampliar as equipes para que, na reta final,<br />

consigamos fazer com que os Jogos aconteçam<br />

conforme recomen<strong>do</strong>u o presidente Lula”.<br />

Neste contexto, a FIA teve amplia<strong>do</strong> seu escopo<br />

contratual de monitoramento <strong>do</strong> masterplan<br />

das instalações, abrangen<strong>do</strong> também:<br />

Atesta<strong>do</strong><br />

de vistoria<br />

na Vila Pan<br />

Obras e serviços nas instalações<br />

esportivas e<br />

não-esportivas sob responsabilidade<br />

<strong>do</strong>s governos<br />

estadual e municipal;<br />

Implantação de serviços<br />

de restaurante, mobiliário,<br />

hotelaria, governança e la-<br />

Planos de acompanhamento de contratos <strong>do</strong> Centro de Tiro Esportivo<br />

123


vanderia na Vila Pan-americana; Fornecimento<br />

de instalações temporárias para Copacabana,<br />

Deo<strong>do</strong>ro, aeroportos, Centro Principal de Operações,<br />

Centro de Operações Tecnológicas,<br />

Centro Principal de Logística e Centro Principal<br />

de Transportes. Essa ação <strong>do</strong> governo federal<br />

foi de fundamental importância para o cumprimento<br />

das entregas sem prejuízo da realização<br />

<strong>do</strong>s Jogos. Mesmo com atraso nos cronogramas,<br />

esse monitoramento geral das instalações<br />

permitiu a visualização <strong>do</strong>s entraves e<br />

pendências críticas de cada obra, possibilitan<strong>do</strong><br />

agilidade na tomada de decisões.<br />

A consultoria FIA disponibilizou equipes de<br />

campo para visitas previamente agendadas<br />

com os respectivos responsáveis, a to<strong>do</strong>s os<br />

locais envolvi<strong>do</strong>s com o evento, para a coleta<br />

de da<strong>do</strong>s físicos e financeiros das instalações<br />

esportivas e não-esportivas em desenvolvimento,<br />

fornecen<strong>do</strong> apoio ao planejamento.<br />

Mensalmente era emiti<strong>do</strong> um Relatório Gerencial<br />

de Evolução das Instalações conten<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s<br />

gerais como situação, avanço físico (em<br />

porcentagens acumuladas para os serviços<br />

envolvi<strong>do</strong>s), comparativo entre o previsto e o<br />

realiza<strong>do</strong>, início e término, situação <strong>do</strong>s projetos,<br />

<strong>do</strong>cumentação entregue, pendências existentes,<br />

providências necessárias e previsão de<br />

entregas, ocorrências, intervenções a<strong>do</strong>tadas,<br />

datas-limite, relatório fotográfico de avanço de<br />

serviços e croquis de implantação.<br />

Com as informações de acompanhamento<br />

<strong>do</strong> avanço físico, foi elabora<strong>do</strong> um rigoroso<br />

controle de prazos no qual se registravam os<br />

principais motivos de atrasos, as intervenções<br />

gerenciais a<strong>do</strong>tadas, os responsáveis, os registros<br />

gera<strong>do</strong>s pelas ações e os reflexos no planejamento<br />

inicial previsto, buscan<strong>do</strong> a retomada<br />

e a manutenção <strong>do</strong> andamento normal <strong>do</strong>s<br />

contratos, monitoran<strong>do</strong>-os conforme os cronogramas<br />

defini<strong>do</strong>s no planejamento geral, para<br />

detectar previamente os principais elementos<br />

que poderiam comprometer as entregas.<br />

A cada 30 dias, eram feitos sobrevôos em todas<br />

as instalações para registro fotográfico da<br />

evolução panorâmica das obras, com os quais<br />

se produziram mapas de acompanhamento.<br />

Esses relatórios de controle ficaram disponíveis<br />

na intranet à qual tinham acesso todas as equipes<br />

envolvidas com a preparação <strong>do</strong>s Jogos –<br />

não só <strong>do</strong> governo federal, como da prefeitura,<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, <strong>do</strong> Tribunal de Contas da União e<br />

da Controla<strong>do</strong>ria Geral da União. Além disso,<br />

foram semanalmente colhi<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, in loco,<br />

sobre o andamento das obras realizadas em 25<br />

locais por 11 consórcios de empreiteiras.<br />

No final de 2006, foi a<strong>do</strong>tada uma ferramenta<br />

gerencial de monitoramento, o Project Builder,<br />

que permitia acesso remoto de terceiros, via<br />

internet, à base de da<strong>do</strong>s, mesma ferramenta<br />

utilizada pela Secretaria <strong>do</strong> Pan na Prefeitura<br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro, uniformizan<strong>do</strong> a geração<br />

de base de conhecimento <strong>do</strong>s Jogos. Conseqüentemente,<br />

to<strong>do</strong>s puderam acompanhar a<br />

evolução <strong>do</strong>s cronogramas físico-financeiros a<br />

partir de seus próprios computa<strong>do</strong>res e gabinetes<br />

de trabalho.<br />

Relatórios fotográficos de evolução das obras<br />

no Complexo de Deo<strong>do</strong>ro e mapa da situação<br />

na primeira quinzena de junho de 2007<br />

124


125


126


127


As instalações permanentes<br />

O<br />

poder público das três esferas arcou<br />

com to<strong>do</strong>s os gastos das instalações<br />

esportivas permanentes,<br />

e os prédios da Vila Pan-americana<br />

foram ergui<strong>do</strong>s em parceria da Caixa Econômica<br />

Federal – que financiou quase a totalidade<br />

da construção – com a iniciativa privada, representada<br />

pela construtora Agenco. União, Esta<strong>do</strong><br />

e prefeitura investiram na construção de oito<br />

instalações e na reforma de cinco já existentes.<br />

Os projetos destes equipamentos foram desenvolvi<strong>do</strong>s<br />

por empresas contratadas pelos<br />

governos. Já o CO-Rio trabalhou como um<br />

consultor nas obras, fazen<strong>do</strong> a ponte com as<br />

federações internacionais esportivas, que forneciam<br />

as especificações técnicas necessárias<br />

para a adequação <strong>do</strong> projeto às modalidades<br />

de competição. O objetivo deste modelo era<br />

garantir que as instalações atenderiam às necessidades<br />

de seu usuário nos Jogos, ou seja,<br />

o Comitê, e que corresponderiam às especificações<br />

exigidas. Algumas foram homologadas<br />

por técnicos indica<strong>do</strong>s pelas federações internacionais<br />

que vieram ao Brasil especialmente<br />

para a tarefa. No caso <strong>do</strong> Estádio João Havelange,<br />

por exemplo, um consultor da Federação<br />

Internacional de Atletismo participou até da<br />

elaboração <strong>do</strong> projeto básico. A construção <strong>do</strong><br />

Centro Nacional de Hipismo também foi acompanhada<br />

de perto por pessoas indicadas pelas<br />

federações das duas modalidades que nele seriam<br />

praticadas (hipismo e pentatlo moderno).<br />

Outras instalações foram homologadas pelo<br />

delega<strong>do</strong> técnico indica<strong>do</strong> pela Odepa dias<br />

antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s Jogos. Uma dificuldade<br />

comum a vários equipamentos esportivos foi<br />

a ausência de know-how para alguns deles<br />

no Brasil. É o caso de obras complexas como<br />

a cobertura metálica <strong>do</strong> Estádio João Havelange,<br />

que teve supervisão de uma empresa<br />

de engenharia portuguesa responsável pela<br />

montagem da cobertura <strong>do</strong> Estádio da Luz,<br />

em Lisboa. Outros exemplos são o Centro de<br />

Hóquei sobre Grama de Deo<strong>do</strong>ro, o primeiro<br />

campo deste esporte em solo brasileiro, e o<br />

Velódromo da Barra, o primeiro coberto e com<br />

pista de madeira no País.<br />

As instalações temporárias<br />

N<br />

a maioria <strong>do</strong>s casos, o nível das<br />

instalações temporárias, chamadas<br />

de overlays, foi elogia<strong>do</strong>, e<br />

deve-se registrar que não houve<br />

nenhum problema com os locais sob responsabilidade<br />

<strong>do</strong> governo federal. Mas houve<br />

contratempos em outros locais durante<br />

o Pan. O caso mais sério, em que o calendário<br />

esportivo chegou a ser afeta<strong>do</strong>, foi o<br />

da Cidade <strong>do</strong> Rock. Também houve problemas<br />

menos sérios no Morro <strong>do</strong> Outeiro e nas<br />

montagens <strong>do</strong>s estádios de Remo da Lagoa<br />

e João Havelange.<br />

Os projetos básicos das montagens provisórias<br />

começaram a ser desenvolvi<strong>do</strong>s pelo CO-<br />

Rio em junho de 2005, com consultoria da MI<br />

Associates, e foram submeti<strong>do</strong>s aos governos<br />

em maio de 2006. A área funcional de Instalações<br />

<strong>do</strong> Comitê não tinha experiência na elaboração<br />

de editais de licitações, o que, em<br />

geral, resultou em projetos que não atendiam<br />

às especificações necessárias. Técnicos <strong>do</strong>s<br />

governos precisaram dar ao grupo noções<br />

para a elaboração desse tipo de <strong>do</strong>cumento.<br />

Os projetos passaram por vários ajustes. “Foi<br />

fundamental o apoio <strong>do</strong>s governos nesta seara”,<br />

reconhece Luís Henrique Ferreira, gerente<br />

de Instalações <strong>do</strong> CO-Rio.<br />

Os três entes governamentais e o Comitê discutiram<br />

as alterações até setembro de 2006,<br />

no caso <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e da União, e até dezembro<br />

de 2006, no caso da prefeitura. Começaram<br />

então os processos de licitação para<br />

escolher as empreiteiras. Depois das concorrências,<br />

o CO-Rio pediu um prazo para que<br />

suas áreas funcionais – usuários das instalações<br />

durante os Jogos – solicitassem mais<br />

ajustes. Só a partir da versão final <strong>do</strong> projeto,<br />

elaborada pela equipe de Instalações<br />

<strong>do</strong> Comitê, as obras poderiam começar.<br />

“Projetar uma instalação temporária para os<br />

Jogos não é como projetar um edifício. Não<br />

basta pensar, criar e desenhar”, explica John<br />

Baker. “Toda área funcional determina seu nível<br />

de serviço. O projeto da instalação tem<br />

de vir daí. Entregar a <strong>do</strong>cumentação para os<br />

governos requer que as necessidades das<br />

128


áreas estejam no projeto. Se estas áreas não<br />

estiverem atendidas pelas pessoas corretas,<br />

problemas aparecerão”, explica. Ou seja, os<br />

profissionais das áreas funcionais determinam<br />

o que é necessário nas instalações e, a partir<br />

daí, os arquitetos desenvolvem os projetos<br />

para entregá-los aos governos. Como no Rio<br />

2007 houve atraso na contratação de pessoal,<br />

as áreas funcionais só puderam contar já próximo<br />

<strong>do</strong>s Jogos com a maioria de seu quadro,<br />

e, à medida que iam sen<strong>do</strong> absorvi<strong>do</strong>s pelo<br />

Comitê, os recém-contrata<strong>do</strong>s solicitavam novas<br />

mudanças nos projetos. Além disso, a falta<br />

de integração entre as áreas fazia com que a<br />

equipe de Instalações não recebesse de forma<br />

correta as necessidades <strong>do</strong>s usuários.<br />

Para Luís Henrique Ferreira, os prazos também<br />

devem ser revistos porque, argumenta,<br />

se os profissionais <strong>do</strong> Comitê tivessem si<strong>do</strong><br />

contrata<strong>do</strong>s com mais antecedência e em<br />

maior número, como previsto no planejamento<br />

inicial, haveria a possibilidade, ao menos na<br />

teoria, de os projetos finais serem concluí<strong>do</strong>s<br />

antes. As solicitações se estenderam até as<br />

vésperas <strong>do</strong>s Jogos, causan<strong>do</strong> atrasos no início<br />

das montagens. No caso <strong>do</strong>s overlays <strong>do</strong><br />

governo federal, a versão final de alguns projetos<br />

chegou em maio de 2007 e de outros, em<br />

junho. Mesmo assim, o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

foi o primeiro a encerrar sua licitação e contratar<br />

os serviços de montagens temporárias, em<br />

janeiro de 2007. “O ideal seria que as versões<br />

finais <strong>do</strong>s projetos ficassem prontas em abril<br />

e, a partir daí, houvesse apenas mudanças extremamente<br />

importantes”, acredita Baker. “O<br />

problema é que o CO-Rio não atendia às especificações<br />

mínimas solicitadas pelo Ministério<br />

para que o fornece<strong>do</strong>r, já contrata<strong>do</strong>, executasse<br />

os projetos de instalações provisórias”,<br />

explica Luiz Custódio Orro de Freitas, gerente<br />

de Instalações <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>. Ele<br />

diz que vários detalhamentos técnicos – como<br />

o projeto elétrico e as planilhas quantitativas<br />

de materiais e equipamentos que seriam utilizadas<br />

nestas instalações – chegavam incompletos<br />

ou erra<strong>do</strong>s. “Entre janeiro e junho, foram<br />

produzidas oito versões <strong>do</strong>s projetos, o que<br />

atrasou a montagem”, conta. Ele lembra que<br />

enviou ao CO-Rio modelos de como detalhar<br />

estas especificações.<br />

Ao pedir a contratação de contêineres para a<br />

instalação de escritórios temporários, o CO-<br />

Rio não detalhava, por exemplo, que estas<br />

estruturas deveriam ter abertura para ar-condiciona<strong>do</strong>,<br />

tomadas, janelas, piso e iluminação<br />

adequada. A falta de especificação dificultava<br />

a tomada de preços e, ainda que levada adiante,<br />

resultaria em contratações deficientes,<br />

abaixo <strong>do</strong>s padrões mínimos de qualidade e<br />

segurança exigi<strong>do</strong>s neste tipo de serviço. No<br />

caso acima, o equipamento recebeu nova especificação<br />

e, após ser analisa<strong>do</strong> pela equipe<br />

técnica <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, ficou assim:<br />

contêiner tipo escritório, de 2,40m x 3,00m,<br />

com uma porta, janela e suporte de ar-condiciona<strong>do</strong>,<br />

piso emborracha<strong>do</strong>, antiderrapante<br />

tipo Plurigoma, na cor preta, com iluminação<br />

e instalações elétricas de uso geral e índice de<br />

iluminação de 450 a 500 lux. Os erros se repetiam<br />

em especificações mais simples, como<br />

a da solicitação de uma “mesa re<strong>do</strong>nda para<br />

reunião”. “Qual o diâmetro? De que material?<br />

Sem estes da<strong>do</strong>s era impossível licitar”, explica<br />

Luiz Custódio: “Se a especificação de uma<br />

mesa pode atravancar uma licitação, imagine<br />

dezenas de projetos”.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Instalações temporárias<br />

para o Tiro com Arco,<br />

no Complexo de Deo<strong>do</strong>ro<br />

129


A preparação das instalações temporárias<br />

O<br />

fato de o CO-Rio elaborar os projetos<br />

<strong>do</strong>s overlays e os governos<br />

serem responsáveis pela contratação<br />

das empresas e pelo acompanhamento<br />

das obras provocou desgastes,<br />

assim como na contratação de outros serviços.<br />

Alguns atrasos foram causa<strong>do</strong>s porque<br />

as vence<strong>do</strong>ras das licitações tinham dificuldade<br />

em lidar com os pedi<strong>do</strong>s de modificações<br />

feitos a elas pelo Comitê. Isso foi soluciona<strong>do</strong><br />

quan<strong>do</strong> o CO-Rio passou a enviar os pedi<strong>do</strong>s<br />

aos governos e estes resolviam as alterações<br />

com os contrata<strong>do</strong>s. “As contratações das<br />

empresas que executam as obras de instalações<br />

temporárias devem ser feitas pelo Comitê”,<br />

acredita Luís Henrique Ferreira. Segun<strong>do</strong><br />

ele, dessa forma, o Comitê teria maior poder<br />

de decisão para mudar os projetos e mais agilidade<br />

para contratação das empreiteiras, por<br />

se tratar de uma empresa privada.<br />

“Se fizéssemos de novo,<br />

seríamos mais atentos<br />

saben<strong>do</strong> o tempo que se<br />

leva no Brasil, com o processo<br />

burocrático <strong>do</strong>s governos,<br />

para se fazer algo.<br />

É preciso começar antes.<br />

Temos de garantir flexibilidade<br />

para as mudanças<br />

nos projetos. Mas as<br />

mudanças precisam ser<br />

controladas. E o Comitê<br />

deve gerenciar essas alterações”,<br />

acredita John<br />

Baker. Ele lembra que, nos<br />

Jogos Olímpicos, o COI<br />

exige alterações na legislação<br />

<strong>do</strong> país para contornar<br />

entraves burocráticos,<br />

mas a Odepa não, pois o<br />

Pan é menos complexo.<br />

“Sydney aprovou uma lei<br />

para transformar um processo<br />

governamental que<br />

levava meses em uma semana.<br />

Em Jogos Olímpicos,<br />

é uma exigência <strong>do</strong><br />

COI”, explica.<br />

No entanto, Ricar<strong>do</strong> Leyser, <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong><br />

<strong>Esporte</strong>, defende o modelo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>. “Os projetos<br />

<strong>do</strong>s overlays eram incipientes, incompletos,<br />

necessitavam de detalhamento independentemente<br />

de quem fosse contratar. Se os<br />

governos tivessem repassa<strong>do</strong> os recursos em<br />

forma de convênios, o CO-Rio teria ti<strong>do</strong> mais<br />

trabalho na prestação de contas, em virtude<br />

das minúcias da lei e <strong>do</strong>s valores envolvi<strong>do</strong>s, o<br />

que requereria grande número de funcionários<br />

na tarefa”. Para ele, a idéia de que o CO-Rio<br />

teria mais liberdade para fazer mudanças nos<br />

projetos se tivesse contrata<strong>do</strong> as montagens<br />

é improcedente. “Se o Comitê contratasse<br />

diretamente, também não poderia mexer nos<br />

projetos porque eles foram executa<strong>do</strong>s com<br />

dinheiro público”. Leyser avalia que, no final,<br />

“as exigências da legislação conduziram ao<br />

aprimoramento <strong>do</strong> processo”. Ele lembra que<br />

o acompanhamento permanente <strong>do</strong>s técnicos<br />

130


<strong>do</strong> Tribunal de Contas da União também colaborou<br />

para agilizar os trabalhos e esclarecer<br />

as equipes <strong>do</strong> CO-Rio e <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

sobre o melhor procedimento a ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>.<br />

Nas quatro páginas a seguir, ateste, no<br />

gráfico da Arena de Vôlei de Praia, os vários<br />

itens a serem cumpri<strong>do</strong>s na montagem de uma<br />

instalação provisória.<br />

A Arena de Vôlei de Praia em construção (abaixo),<br />

e, à dir., de cima para baixo, os gera<strong>do</strong>res de<br />

energia e uma das salas da instalação de triatlo<br />

(fotos 1 e 2), banheiros químicos (foto 3), sala <strong>do</strong><br />

Gerenciamento Central de Transporte (foto 4) e<br />

vista áerea <strong>do</strong>s overlays <strong>do</strong> Centro de Distribuição<br />

de Uniformes e Credenciamento (foto 5)<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Fotos: Arquivo / FIA<br />

131


A complexa<br />

tarefa de montar<br />

as instalações<br />

temporárias<br />

As tarefas de montar e equipar o interior das<br />

instalações temporárias (overlays) com toda a<br />

aparelhagem e o mobiliário indispensáveis ao<br />

seu pleno funcionamento estiveram entre as<br />

mais desafia<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos<br />

Rio 2007. A quantidade e a variedade de itens,<br />

somadas às dimensões e divisões <strong>do</strong>s espaços,<br />

132


geraram uma demanda de trabalho extremamente complexa para o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>,<br />

os fornece<strong>do</strong>res e os profissionais da montagem. Para fazer a licitação <strong>do</strong>s itens de<br />

montagens provisórias, o Ministério necessitava de especificações detalhadas <strong>do</strong> Comitê<br />

Organiza<strong>do</strong>r, que tinha carência de pessoal apto a executar esse trabalho. O exemplo<br />

abaixo, que toma como base a Arena <strong>do</strong> Vôlei de Praia, instalação temporária erguida<br />

pelo governo federal na Praia de Copacabana com mais de 100 salas de trabalho e áreas<br />

de competição, e duas de suas subdivisões, ilustra com precisão essa complexidade.<br />

133


134


135


A energia elétrica<br />

O<br />

planejamento para fornecer energia<br />

elétrica na intensidade necessária<br />

deveria ter recebi<strong>do</strong> atenção<br />

maior <strong>do</strong> CO-Rio. O relatório<br />

final da Fundação Instituto de Administração<br />

(FIA), contratada pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>,<br />

afirma que a falta de energia foi uma “falha recorrente”.<br />

Ricar<strong>do</strong> Trade, gerente de Serviços<br />

<strong>do</strong>s Jogos <strong>do</strong> CO-Rio, diz que “num próximo<br />

evento, deveríamos criar uma área funcional<br />

somente para energia”.<br />

A quantidade de energia necessária era muito<br />

maior que a prevista pelo Comitê. Por orientação<br />

<strong>do</strong> governo federal, através <strong>do</strong> gerente<br />

de Instalações Luiz Custódio Orro de Freitas, o<br />

Comitê contratou a Light, empresa concessionária<br />

de energia elétrica no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro, para que fossem instaladas redes de<br />

transmissão de energia “festiva”, ou seja, pequenas<br />

redes de energia provisória com baixo<br />

custo de implantação, para disponibilizar a<br />

energia necessária em vários locais. A iniciativa<br />

foi viabilizada por meio de convênio entre o<br />

Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e o CO-Rio. Com custo<br />

mais barato, as ligações foram feitas em diversos<br />

locais de competição e não-competição<br />

<strong>do</strong>s Jogos onde o governo federal havia instala<strong>do</strong><br />

montagens provisórias, como o Complexo<br />

de Deo<strong>do</strong>ro, a Arena <strong>do</strong> Vôlei de Praia, a<br />

Vila Pan-americana (apartamentos, restaurante,<br />

terminal de ônibus e toda a zona internacional),<br />

o estacionamento da frota da Família<br />

Pan (GCT) na avenida Ayrton Senna, o Centro<br />

de Distribuição de Uniformes e Credenciamento<br />

(UAC) no Barra Shopping, e até na sede <strong>do</strong><br />

Comitê Organiza<strong>do</strong>r, onde funcionou o Centro<br />

Principal de Operações (MOC), além <strong>do</strong>s hotéis<br />

oficiais e alguns aeroportos. A rápida intervenção<br />

da concessionária para atender à<br />

solicitação contou com a contribuição <strong>do</strong> iatista<br />

Lars Grael, consultor da Light e medalhista<br />

olímpico em Seul 1988 e Atlanta 1996.<br />

Nas instalações em que não havia possibilidade<br />

técnica de prover a energia festiva ou onde<br />

a competição era de curta duração, como no<br />

caso <strong>do</strong> Posto 6 em Copacabana (triatlo e maratona<br />

aquática), a solução mais econômica<br />

foi instalar grupos gera<strong>do</strong>res. Para os III Jogos<br />

Parapan-americanos, foram mantidas as<br />

linhas de fornecimento extras instaladas nos<br />

locais <strong>do</strong> Pan que serviriam àquela competição.<br />

“A economia foi significativa, visto que o<br />

custo da energia disponibilizada diretamente<br />

pela concessionária é menor <strong>do</strong> que o custo<br />

da energia fornecida por grupo gera<strong>do</strong>r, o qual<br />

necessita de equipe de manutenção 24 horas,<br />

responsável pelo abastecimento de óleo diesel,<br />

troca de óleo lubrificante, troca de filtros,<br />

além de caminhões para o transporte de combustível.”,<br />

explica Luiz Custódio.<br />

A Vila Pan-americana<br />

iluminada à noite e, no<br />

detalhe, instalação de<br />

rede provisória: energia<br />

adicional para o Pan<br />

Fotos: Divulgação / AGENCO<br />

136


As adaptações para o Parapan<br />

Devi<strong>do</strong> ao subdimensionamento da demanda<br />

de energia elétrica, nos <strong>do</strong>is primeiros dias<br />

<strong>do</strong>s Jogos foram registra<strong>do</strong>s transtornos na<br />

Vila Pan-americana, no Centro Principal de<br />

Imprensa (MPC) e no Centro Internacional de<br />

Transmissão (IBC), ambos no Riocentro, sen<strong>do</strong><br />

que neste caso houve quedas de transmissões<br />

de TV por alguns minutos. Na Vila Pan-americana,<br />

semanas antes <strong>do</strong> Pan, face à falta de<br />

energia elétrica para acionar to<strong>do</strong>s os eleva<strong>do</strong>res<br />

simultaneamente durante os serviços de<br />

instalação da infra-estrutura de hotelaria, foi<br />

Estádio João Havelange – Atletismo<br />

Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s:<br />

Arena Olímpica – Basquete em cadeira de rodas<br />

Parque Aquático Maria Lenk – Natação<br />

Complexo Esportivo <strong>do</strong> Riocentro:<br />

Pavilhão 3 – Bocha e halterofilismo<br />

Pavilhão 4 – Judô e tênis de mesa<br />

Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro:<br />

Centro de Hóquei sobre Grama – Futebol de 5 e futebol de 7<br />

Complexo Miécimo da Silva – Goalball<br />

Clube Marapendi – Tênis em cadeira de rodas<br />

necessário transportar armários, camas, colchões,<br />

ar condiciona<strong>do</strong> e outros equipamentos<br />

pelas escadas. O fornecimento de energia<br />

é tão complexo e determinante nos grandes<br />

eventos esportivos que o Comitê Olímpico Internacional,<br />

perceben<strong>do</strong> que havia problemas<br />

se repetin<strong>do</strong> em diversas ocasiões, realizou<br />

seminário a respeito para orientar os organiza<strong>do</strong>res<br />

de Jogos Olímpicos a darem atenção<br />

específica ao tema, inclusive crian<strong>do</strong> áreas<br />

funcionais próprias na estrutura organizativa<br />

<strong>do</strong>s eventos.<br />

E<br />

m março de 2006, foi apresenta<strong>do</strong> em reunião <strong>do</strong> Conselho Executivo <strong>do</strong> CO-Rio um<br />

programa <strong>do</strong>s Jogos Parapan-Americanos com 12 modalidades esportivas em oito instalações.<br />

Com a retirada de duas modalidades – bocha e goalball – em junho de 2006<br />

e a exclusão das instalações sob responsabilidade <strong>do</strong> governo estadual <strong>do</strong> programa,<br />

o evento terminou disputa<strong>do</strong> com dez modalidades em seis instalações, todas previamente testadas<br />

e aprovadas pelos usuários <strong>do</strong> Pan.<br />

Abaixo, instalações que, em março de 2006, seriam usadas no Parapan, ainda sem mudanças:<br />

Complexo Esportivo <strong>do</strong> Maracanã:<br />

Ginásio <strong>do</strong> Maracanãzinho – Vôlei senta<strong>do</strong><br />

Ao final, foram utiliza<strong>do</strong>s os seguintes equipamentos:<br />

Estádio João Havelange: Atletismo<br />

Arena Olímpica: Basquete em cadeira de rodas e cerimônia de abertura<br />

Parque Aquático Maria Lenk: Natação<br />

Complexo Esportivo <strong>do</strong> Riocentro: Halterofilismo (pavilhão 3A), judô (4A)<br />

e tênis de mesa e vôlei senta<strong>do</strong> (pavilhão 4B)<br />

Centro de Hóquei sobre Grama: Futebol de 5 e futebol de 7<br />

Clube Marapendi: Tênis em cadeira de rodas<br />

Vila Pan-americana: cerimônia de encerramento<br />

137


Instalações sob responsabilidade federal<br />

O<br />

primeiro passo para a construção<br />

<strong>do</strong> Complexo de Deo<strong>do</strong>ro foi estabelecer<br />

uma parceria com o Exército,<br />

administra<strong>do</strong>r da área. Em<br />

julho de 2004, um termo de cooperação entre<br />

Exército, Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e CO-Rio previa<br />

as instalações permanentes para hipismo e tiro<br />

esportivo, além de outra temporária para tiro<br />

com arco. Havia a previsão de se fazer um hotel<br />

para árbitros e um alojamento para trata<strong>do</strong>res<br />

de animais, que não foram construí<strong>do</strong>s “por<br />

questão de prioridade orçamentária”, segun<strong>do</strong><br />

o secretário Ricar<strong>do</strong> Leyser. Por outro la<strong>do</strong>, não<br />

estavam previstos o Centro de Hóquei sobre<br />

Grama e a piscina <strong>do</strong> pentatlo moderno.<br />

Neste perío<strong>do</strong>, a Comissão Regional de Obras<br />

da 1ª Região Militar (CRO 1), chefiada à época<br />

pelo coronel Galvani Cavalcante, assessorou o<br />

CO-Rio na definição <strong>do</strong> plano geral <strong>do</strong> Complexo,<br />

e elaborou, com o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>,<br />

as diretrizes técnicas para subsidiar a licitação,<br />

que contratou a Engesolo para produzir<br />

o projeto básico <strong>do</strong> local. A CRO 1 também<br />

participou da comissão especial de licitação<br />

que contratou a construtora para executar as<br />

obras em to<strong>do</strong> o complexo. Durante as obras,<br />

esta Comissão <strong>do</strong> Exército, já então chefiada<br />

pelo coronel Alberto Tavares da Silva, manteve<br />

uma equipe permanente de nove profissionais,<br />

coordenada pelo capitão e engenheiro militar<br />

Ademar Barros Moura Filho, para apoiar o Ministério<br />

na fiscalização das atividades. Em paralelo,<br />

a CRO 1 desenvolveu e executou com<br />

o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> os projetos básicos,<br />

O Complexo Esportivo<br />

de Deo<strong>do</strong>ro<br />

Vista aérea <strong>do</strong> Complexo<br />

Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro<br />

em construção: imagens<br />

detalhadas de cada<br />

instalação (fotos abaixo)<br />

2<br />

1<br />

Campos de Hóquei sobre Grama 2 Centro Nacional de Hipismo<br />

3<br />

138<br />

Centro Nacional<br />

de Tiro Esportivo


3<br />

5<br />

4<br />

1<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

4 Piscina <strong>do</strong> Pentatlo Moderno<br />

5<br />

Estande provisório de Tiro com Arco<br />

139


licitações e obras para o cercamento e outras<br />

adaptações no complexo, além de fazer<br />

interlocução entre as empresas contratadas<br />

e os organiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong> evento.<br />

A parceria foi fundamental. Algumas outras<br />

iniciativas, principalmente de melhorias viárias<br />

e aquisição de materiais e equipamentos<br />

de manutenção, também ficaram a cargo <strong>do</strong><br />

Ministério da Defesa, que recebeu recursos<br />

<strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>. Os repasses incluíram<br />

ainda a reforma <strong>do</strong> antigo estande<br />

de tiro, desloca<strong>do</strong> para área adjacente, e a<br />

compra de equipamentos para o hospital da<br />

Vila Militar. A decisão de que essas obras ficassem<br />

a cargo <strong>do</strong> Exército se deveu ao fato<br />

de que, já que a unidade é administrada por<br />

aquela força e bastante utilizada para os esportes<br />

pratica<strong>do</strong>s por militares, seria mais<br />

conveniente que o próprio Exército desenvolvesse<br />

os projetos conforme sua padronização<br />

e suas demandas.<br />

O projeto básico<br />

E<br />

m março de 2005, a empresa Engesolo<br />

venceu a licitação para fazer<br />

o projeto básico <strong>do</strong> Complexo<br />

Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro, que à<br />

época contaria apenas com as instalações<br />

de hipismo, tiro esportivo e tiro com arco. O<br />

projeto básico foi entregue em setembro <strong>do</strong><br />

mesmo ano. Ainda em 2005, decidiu-se que<br />

o local seria palco também das competições<br />

de hóquei sobre grama, impossibilita<strong>do</strong> de se<br />

realizar no Parque <strong>do</strong> Flamengo por dificuldades<br />

de aprovação <strong>do</strong> projeto junto a órgãos<br />

ambientais e <strong>do</strong> patrimônio histórico, e <strong>do</strong><br />

pentatlo moderno, antes abriga<strong>do</strong> na Escola<br />

Naval e na Sociedade Hípica Brasileira.<br />

Os projetistas de Deo<strong>do</strong>ro trabalharam diretamente<br />

com o CO-Rio e a MI Associates na<br />

elaboração <strong>do</strong> projeto, inclusive na localização<br />

de cada instalação dentro <strong>do</strong> complexo.<br />

A colaboração foi importante para garantir<br />

que Deo<strong>do</strong>ro estivesse dentro <strong>do</strong>s padrões<br />

COMPLEXO ESPORTIVO DE DEODORO R$<br />

Contrato com Engesolo para elaboração <strong>do</strong> projeto básico<br />

3,461 milhões<br />

Contrato com Camargo Corrêa para construção <strong>do</strong> complexo<br />

126,691 milhões<br />

Contrato com Engesolo para gerenciamento das obras<br />

2,035 milhões<br />

Convênio com CO-Rio para homologação <strong>do</strong> CNTE (78/2007)<br />

283 mil<br />

Convênio com CO-Rio para construção de obstáculos <strong>do</strong> hipismo (54/2007)<br />

Convênio com CO-Rio para provisão de insumos para o restaurante (66/2007)<br />

<strong>do</strong>s trata<strong>do</strong>res de cavalos<br />

Destaque de crédito orçamentário ao Ministério da Defesa para obras iniciais de adaptação<br />

Destaque à Universidade Federal Rural <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />

para programa de descarrapatização<br />

Destaque ao Ministério da Defesa para obras complementares*<br />

Destaque ao Ministério da Defesa para construção de novo estande de tiro militar para fuzil;<br />

e aquisição de aparelhos de raio-X e respectivos revela<strong>do</strong>res para o hospital veterinário<br />

Serviços públicos para custeio das instalações<br />

469 mil<br />

130 mil<br />

1,572 milhão<br />

183 mil<br />

4,002 milhões<br />

1,885 milhão<br />

990 mil<br />

Restauração <strong>do</strong> campo de pólo em Deo<strong>do</strong>ro<br />

55 mil<br />

Total<br />

141,7 milhões<br />

* Muro, cercamento, proteção visual das pedanas de tiro ao prato, reforma da cozinha e <strong>do</strong> refeitório, aquisição de equipamentos para operação<br />

<strong>do</strong>s centros esportivos, implantação de clínica veterinária e alojamento de trata<strong>do</strong>res em contêineres.<br />

140


determina<strong>do</strong>s pelo CO-Rio. O arquiteto<br />

Bruno Campos, contrata<strong>do</strong> pela Engesolo<br />

para elaborar o projeto básico, diz que<br />

a demora <strong>do</strong> Comitê em enviar os projetos<br />

das instalações temporárias para o local<br />

causou dificuldades.<br />

Para projetar as instalações permanentes,<br />

Campos precisava da definição <strong>do</strong>s overlays.<br />

“Como algumas instalações temporárias<br />

seriam acopladas às permanentes, uma<br />

coisa dependia da outra. Na época <strong>do</strong> projeto<br />

básico o CO-Rio ainda não tinha definição<br />

das temporárias. Isso prejudicou meu<br />

trabalho. Repensamos tu<strong>do</strong> depois que o<br />

Comitê viu que havia dimensiona<strong>do</strong> mal as<br />

coisas no final de 2005”, diz o arquiteto. Segun<strong>do</strong><br />

Bruno Campos, “o conceito usa<strong>do</strong><br />

em Deo<strong>do</strong>ro foi o de conferir uma unidade<br />

ao conjunto de instalações, responden<strong>do</strong><br />

a problemas semelhantes de forma semelhante,<br />

manten<strong>do</strong> a idéia de um complexo<br />

em vez de cinco centros isola<strong>do</strong>s”.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

As condições climáticas <strong>do</strong> local e as particularidades<br />

das instalações esportivas,<br />

que necessitavam de grandes vãos livres<br />

e de isolamento termo-acústico, sugeriram<br />

um tipo de sistema construtivo onde<br />

a cobertura se des<strong>do</strong>bra em forro, e este<br />

se des<strong>do</strong>bra em parede, geran<strong>do</strong> uma série<br />

de elementos contínuos de forte impacto<br />

visual, mas de fácil construção e<br />

manutenção. Além disso, foi emprega<strong>do</strong><br />

o conceito de “solar passivo”, ou seja, os<br />

edifícios conseguem regular a temperatura<br />

entre extremos durante o dia e à noite,<br />

e o conforto térmico interno é manti<strong>do</strong>, o<br />

que diminui a necessidade de aparelhos<br />

de ar-condiciona<strong>do</strong>.<br />

A obra foi uma das representantes brasileiras<br />

na VI Bienal Ibero-americana de Arquitetura<br />

e Urbanismo, em Lisboa, em 2008.<br />

Embora não tenha venci<strong>do</strong> a premiação<br />

em sua categoria, a participação na bienal<br />

trouxe reconhecimento internacional e motivou<br />

reportagens em revistas especializadas,<br />

como a argentina Summa+.<br />

Na foto ao alto, uma cena <strong>do</strong> hipismo em Deo<strong>do</strong>ro. Nas<br />

seguintes, a clínica veterinária montada provisoriamente<br />

em contêineres no complexo para o Pan-americano<br />

141<br />

Fotos: Sergio Santrovits


A construção <strong>do</strong> Complexo de Deo<strong>do</strong>ro<br />

E<br />

m maio de 2006, a empreiteira Camargo<br />

Corrêa venceu a licitação para<br />

desenvolver o projeto executivo e<br />

construir as instalações permanentes<br />

de Deo<strong>do</strong>ro. A empresa foi contratada por<br />

R$ 76 milhões e o custo final da obra ficou em<br />

R$ 126.690.891,46. A montagem <strong>do</strong> canteiro de<br />

obras foi iniciada em junho de 2006, com previsão<br />

de conclusão em um ano. No entanto, as<br />

licenças ambientais e autorizações da prefeitura<br />

ainda não haviam si<strong>do</strong> expedidas. “Percebemos<br />

que a emissão de licenças estava muito incipiente.<br />

Colocamos na proposta que seria necessário<br />

um perío<strong>do</strong> de 15 dias, mas o processo levou<br />

<strong>do</strong>is meses”, conta o engenheiro Luiz Sérgio de<br />

Araújo, contrata<strong>do</strong> pela Camargo Corrêa para<br />

gerenciar a obra. “A prefeitura foi o órgão que<br />

mais demorou para emitir as licenças”, diz. Ele<br />

admite a dificuldade inicial para captar mão-deobra.<br />

“Aumentamos o efetivo conforme conseguíamos<br />

as aprovações necessárias. Se tivéssemos<br />

coloca<strong>do</strong> 100 ou 200 pessoas a mais no<br />

início, talvez fosse mais tranqüilo. A partir de dezembro<br />

de 2006, a situação foi resolvida. Chegamos<br />

a ter 1,8 mil pessoas trabalhan<strong>do</strong>”, afirma.<br />

Na opinião de Márcio Collet, consultor da FIA<br />

responsável por monitorar a obra, um ano era<br />

tempo suficiente para a execução. “A licitação<br />

foi concluída a tempo de a construção estar<br />

pronta até junho de 2007”, diz Collet. Outro fator<br />

que causou atrasos, além de acréscimo no<br />

valor, foi a necessidade de homologação por<br />

parte das entidades esportivas internacionais.<br />

Nas suas visitas às obras, os técnicos pediram<br />

muitas mudanças de projeto. “A relação<br />

com as federações internacionais gerou dificuldades,<br />

porque elas não estão acostumadas<br />

com o processo público de aprovação”, diz<br />

Luiz Sérgio de Araújo. Mas <strong>do</strong>is eventos-teste<br />

realiza<strong>do</strong>s no local antes <strong>do</strong>s Jogos, o Campeonato<br />

Pan-americano de Tiro com Arco, em<br />

novembro de 2006, e o Campeonato Mundial<br />

Militar de Pentatlo Moderno, em maio de 2007,<br />

ajudaram a agilizar o passo: “A realização <strong>do</strong>s<br />

eventos acelerou o ritmo de conclusão da<br />

obra”, afirma José Roberto Gnecco, gerente<br />

de <strong>Esporte</strong>s da Secretaria <strong>do</strong> Pan no Ministério<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Vista aérea das obras<br />

<strong>do</strong> Centro Nacional<br />

<br />

da foto, no alto, a<br />

pista de cross country<br />

142


143


A valorização da região de Deo<strong>do</strong>ro<br />

P<br />

ara instalar o complexo esportivo,<br />

o governo federal escolheu um terreno<br />

<strong>do</strong> Exército, na Vila Militar de<br />

Deo<strong>do</strong>ro, bairro da zona oeste da<br />

cidade. Assim, estariam garantidas questões<br />

como segurança, já que o Ministério da Defesa<br />

ocupa e zela pelo espaço, e seriam evita<strong>do</strong>s<br />

procedimentos burocráticos relaciona<strong>do</strong>s<br />

ao terreno, pertencente à União. Os Jogos deixaram<br />

um importante lega<strong>do</strong> em Deo<strong>do</strong>ro: os<br />

centros nacionais de Hipismo e Tiro Esportivo<br />

são duas das instalações mais modernas <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> para estas modalidades, o Centro de<br />

Hóquei sobre Grama também deixou como<br />

herança <strong>do</strong>is campos para um esporte que<br />

até o Rio 2007 ainda era incipiente no Brasil e,<br />

para o pentatlo moderno, foi construída uma<br />

piscina olímpica no complexo. Para o ministro<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, Orlan<strong>do</strong> Silva Jr., a escolha de<br />

Deo<strong>do</strong>ro foi acertada. Segun<strong>do</strong> o ministro, o<br />

Instituto Pereira Passos, da Prefeitura <strong>do</strong> Rio,<br />

classifica a região como importante para a expansão<br />

da cidade. “A decisão de valorizar Deo<strong>do</strong>ro<br />

foi fundamental pela expansão urbana<br />

<strong>do</strong> Rio, além de serem as Forças Armadas um<br />

segmento que, historicamente, foi fundamental<br />

para o desenvolvimento <strong>do</strong> esporte no País”.<br />

No <strong>do</strong>ssiê de candidatura, revisa<strong>do</strong> pela primeira<br />

vez em fevereiro de 2003, o custo estima<strong>do</strong><br />

era de R$ 51 milhões, com a previsão de<br />

que seriam disputa<strong>do</strong>s ali apenas hipismo, tiro<br />

esportivo e tiro com arco. Quatro anos depois,<br />

na Matriz de Responsabilidades, saltou para<br />

R$ 106 milhões, com a inclusão <strong>do</strong>s outros<br />

<strong>do</strong>is esportes. Ao final, a construção e a manutenção<br />

<strong>do</strong> complexo ficaram em R$ 141,7 milhões,<br />

incluin<strong>do</strong> itens de infra-estrutura da Vila<br />

Militar. O valor foi dividi<strong>do</strong> em três contratos,<br />

três convênios com o CO-Rio, três destaques<br />

orçamentários para o Ministério da Defesa e<br />

um para a Universidade Federal Rural <strong>do</strong> Rio<br />

de Janeiro. A forma de administração e o custeio<br />

<strong>do</strong> Complexo estão sen<strong>do</strong> ajusta<strong>do</strong>s entre<br />

o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e o Exército, levan<strong>do</strong><br />

em conta o termo de cooperação de 2004,<br />

mas, no que se refere à qualidade das instalações,<br />

Deo<strong>do</strong>ro só recebeu elogios. A amazona<br />

canadense Jill Henselwood, ouro no salto<br />

individual no Pan, elogiou o Centro Nacional<br />

de Hipismo: “A instalação está fabulosa, a arena<br />

é ótima. Os designers da pista estão entre<br />

os melhores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”. O brasileiro Rodrigo<br />

Pessoa considerou as instalações <strong>do</strong> hipismo<br />

de “primeiríssima” qualidade: “O local é superior<br />

a instalações olímpicas que conheci, como<br />

as de Atlanta e Atenas. A infra-estrutura tem<br />

nível de excelência, todas as baias estão ótimas<br />

e, na arena, o piso é especial e muito bem<br />

drena<strong>do</strong>, pode chover aqui antes da competição<br />

que meia hora depois já está pronto para<br />

saltar”, avaliou. Neco, treina<strong>do</strong>r da equipe de<br />

saltos <strong>do</strong> Brasil, também fi cou impressiona<strong>do</strong><br />

com o Centro de Hipismo e foi taxativo: “Essas<br />

instalações são as melhores que existem no<br />

mun<strong>do</strong>. O terreno, a pista, as condições, tu<strong>do</strong><br />

tem padrão internacional”. Ouro em Winnipeg<br />

1999, ele começou a montar 62 anos atrás na<br />

Escola de Equitação <strong>do</strong> Exército, que fica no<br />

mesmo local onde a hípica foi construída. “Fiquei<br />

emociona<strong>do</strong> ao voltar e presenciar toda<br />

essa evolução”.<br />

O consultor John Baker faz coro: “O governo<br />

federal se comprometeu a construir instalações<br />

de primeiro nível. O centro de tiro esportivo<br />

é um <strong>do</strong>s melhores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. O de hipismo<br />

é bom porque concentra tu<strong>do</strong> num lugar<br />

só e pode ser expandi<strong>do</strong>”. O norte-americano<br />

Eli Bremer, ouro no pentatlo moderno no Rio<br />

2007, ficou “impressiona<strong>do</strong> com o Complexo.<br />

Já havia esta<strong>do</strong> no Brasil duas vezes antes<br />

para competir, mas desta vez acho que o país<br />

se superou na qualidade das instalações”.<br />

144


O centro de tiro em construção e<br />

abaixo, da esq. para dir., a pista<br />

<strong>do</strong> cross country, uma ponte<br />

construída em Deo<strong>do</strong>ro, um<br />

detalhe da obra <strong>do</strong> tiro e uma geral<br />

das instalações de hóquei e da<br />

piscina <strong>do</strong> pentatlo<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

145


Instalações <strong>do</strong> Centro Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro<br />

Centro Nacional de Hipismo General Eloy Menezes<br />

Na pista, aprovada<br />

com louvor pelo<br />

delega<strong>do</strong> técnico,<br />

620 toneladas de<br />

caulim brasileiro<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

Exímio cavaleiro, o general Eloy Menezes<br />

participou de três Olimpíadas e foi diversas<br />

vezes campeão brasileiro de salto e<br />

concurso completo. Nos Jogos Olímpicos<br />

de Helsinque, em 1952, conquistou o quarto<br />

lugar por equipes e individual. Foi presidente<br />

<strong>do</strong> Conselho Nacional de Desportos e<br />

comandante da Escola de Equitação <strong>do</strong><br />

Exército. Foi também atleta de vôlei, basquete,<br />

pentatlo e futebol – neste último esporte,<br />

chegou a defender o Vasco da Gama.<br />

HIPISMO<br />

Saltos é a categoria mais conhecida deste<br />

esporte – cuja Federação Internacional nasceu<br />

em 1921 –, na qual o vence<strong>do</strong>r é aquele que<br />

percorrer um trajeto determina<strong>do</strong> no menor<br />

tempo possível, derrubar o menor número de<br />

obstáculos ou somar mais pontos. Na categoria<br />

adestramento, juízes avaliam as performances<br />

nos movimentos obrigatórios e na coreografi a<br />

livre e determinam o vence<strong>do</strong>r. Já a disputa<br />

<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> concurso completo de equitação<br />

(CCE) dura três dias e envolve adestramento,<br />

quatro etapas de prova de fun<strong>do</strong> e saltos.<br />

146


O<br />

Centro Nacional de Hipismo foi<br />

construí<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> como base as<br />

instalações de hipismo já existentes<br />

na Vila Militar. Foram erguidas<br />

uma arena principal para saltos e<br />

adestramento e mais duas pistas de areia<br />

planas, uma área de estábulos com baias<br />

para 180 animais – muito elogiada pela Federação<br />

Eqüestre Internacional (FEI) –, uma área<br />

de compostagem (processamento de dejetos<br />

orgânicos, feito em parceria com a Embrapa)<br />

e uma pista de cross-country de 5,7 mil metros.<br />

O refeitório, com capacidade para 120<br />

pessoas, foi reforma<strong>do</strong>. Para os Jogos, foram<br />

erguidas, em instalações temporárias, uma<br />

clínica veterinária e um alojamento para trata<strong>do</strong>res<br />

e veterinários, com capacidade para<br />

hospedar 150 pessoas.<br />

Para James Wolff, chefe da delegação americana<br />

de hipismo, o Centro está entre os melhores<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e não tem concorrente na<br />

América Latina: “Foi realiza<strong>do</strong> um trabalho<br />

fantástico aqui. O Brasil está de parabéns. As<br />

instalações são de nível olímpico”, elogiou. Na<br />

pista de saltos da arena principal, acima da<br />

manta capaz de drenar a água das chuvas, foi<br />

implantada mistura de areia, poliéster e caulim<br />

(um extrato mineral). Este solo argiloso possui<br />

densidade ideal para que não se prejudique<br />

nem a performance <strong>do</strong>s cavaleiros nem os<br />

tendões <strong>do</strong>s cavalos. No Brasil, só existe semelhante<br />

na Sociedade Hípica Paulista.<br />

Embora um consultor indica<strong>do</strong> pela Federação<br />

Eqüestre Internacional tenha recomenda<strong>do</strong><br />

que o caulim fosse importa<strong>do</strong> da França, o<br />

Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, após verificar que o similar<br />

nacional é compatível com as exigências<br />

das entidades esportivas da modalidade, sem<br />

qualquer prejuízo para o nível das instalações,<br />

decidiu adquirir as 620 toneladas necessárias<br />

no Brasil, que, aliás, é exporta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> produto.<br />

O projeto foi orça<strong>do</strong> em R$ 4,5 milhões,<br />

incluin<strong>do</strong> a preparação e a aplicação da areia<br />

na arena principal. A pista foi aprovada com<br />

louvor pelo delega<strong>do</strong> técnico da competição.<br />

Representante da Federação Eqüestre Internacional,<br />

Leopol<strong>do</strong> Palácios declarou: “A ins-<br />

147<br />

Saltos em Deo<strong>do</strong>ro:<br />

um centro à altura <strong>do</strong><br />

talento <strong>do</strong>s brasileiros<br />

Foto: Arquivo / Exército Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>


talação está muito boa, em nível olímpico. É<br />

um lega<strong>do</strong> para o País”.<br />

PLANTA DO CENTRO NACIONAL DE HIPISMO<br />

O governo federal ainda importou 1.520 varas,<br />

2.850 ganchos e 19 placares para o Centro<br />

Nacional de Hipismo. O Ministério obteve<br />

economia signifi cativa na construção <strong>do</strong>s<br />

obstáculos das pistas de saltos, cross-country<br />

e pentatlo moderno. A empreiteira havia<br />

apresenta<strong>do</strong> orçamento de mais de R$ 1 milhão<br />

para confecção <strong>do</strong>s 43 obstáculos, mas<br />

o Ministério celebrou um convênio, em junho<br />

de 2007, com o CO-Rio, que os adquiriu por<br />

R$ 469.248,76.<br />

3<br />

Arena <strong>do</strong> hipismo<br />

No caso da pista de cross-country, a Camargo<br />

Corrêa teve de refazer uma parte <strong>do</strong><br />

trabalho para atender às normas das federações<br />

internacionais, segun<strong>do</strong> Odílio Ferreira,<br />

engenheiro contrata<strong>do</strong> pela Engesolo para<br />

fi scalização das obras, o que atrasou a construção.<br />

“Ajustes foram feitos às vésperas <strong>do</strong>s<br />

Jogos. Acho que isso se deu também pelo<br />

ineditismo da obra”, diz o fi scal. Técnicos<br />

da Federação Eqüestre Internacional acompanharam<br />

o projeto desde o início e aprovaram<br />

o resulta<strong>do</strong> fi nal, apesar da preocupação<br />

com a demora.<br />

1<br />

“A instalação é muito boa. Os brasileiros estiveram<br />

muito próximos <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos,<br />

principalmente em termos de equipamentos<br />

esportivos”, afi rma a diretora de eventos da<br />

Federação, Catrin Norinder.<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

1<br />

Baias <strong>do</strong> Centro de Hipismo<br />

148


CONTEMPLANDO A PISTA DE CROSS COUNTRY<br />

2<br />

Pista de cross country<br />

3<br />

2<br />

149


Centro Nacional de<br />

Tiro Esportivo Tenente<br />

Guilherme Paraense<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

A mais moderna instalação<br />

<strong>do</strong> gênero no continente<br />

possui isolamento acústico<br />

Natural de Belém <strong>do</strong> Pará, o tenente Guilherme<br />

Paraense (1884-1968) foi um grande<br />

atira<strong>do</strong>r militar de armas curtas e o primeiro<br />

brasileiro a receber uma medalha olímpica de<br />

ouro. Nos Jogos da Antuérpia, em 1920, levou<br />

duas medalhas: ouro na prova de revólver,<br />

com 274 pontos, e bronze por equipe, na<br />

prova de pistola livre. De volta ao Brasil, foi<br />

homenagea<strong>do</strong> pelo então presidente Epitácio<br />

Pessoa. Em 1922, nos Jogos Atléticos Sulamericanos,<br />

realiza<strong>do</strong>s em comemoração<br />

ao centenário da Independência <strong>do</strong> Brasil,<br />

ganhou mais um ouro na prova de revólver.<br />

A equipe brasileira, formada por Paraense,<br />

Tenente Ferraz e Afrânio Costa, sagrou-se<br />

campeã. No Brasil, venceu seis campeonatos<br />

nacionais. O campeão aban<strong>do</strong>nou o esporte<br />

na década de 30.<br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

TIRO ESPORTIVO<br />

O esporte compreende três modalidades:<br />

tiro ao prato (que se subdivide em fossa<br />

olímpica, <strong>do</strong>ublé e skeet), tiro com carabina (ar<br />

comprimi<strong>do</strong> e fogo central) e tiro com pistola. As<br />

duas últimas compreendem tiros a distâncias<br />

de 10m, 25m e 50m. Nas duas últimas, os<br />

atira<strong>do</strong>res tentam acertar um alvo em círculos<br />

concêntricos, e cada um tem pontuação<br />

diferente. Vence quem somar mais pontos. No<br />

tiro ao prato, o atleta precisa acertar e quebrar<br />

um pedaço visível <strong>do</strong> alvo. Ganha quem somar<br />

mais pontos – cada prato vale um.<br />

150


O<br />

Centro Nacional de Tiro Esportivo<br />

está ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Centro de Tiro <strong>do</strong><br />

Exército, onde treinou o próprio<br />

Guilherme Paraense. Considera<strong>do</strong><br />

o melhor <strong>do</strong> gênero na América Latina, o centro<br />

possui formato constante, retangular, conferin<strong>do</strong><br />

modernidade e harmonia visual ao projeto. Os<br />

estandes são to<strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>s por uma longa<br />

passarela, por onde o público pode circular. Nas<br />

laterais, vidros lamina<strong>do</strong>s verdes dão charme e<br />

proteção térmica e acústica, além de promover<br />

maior segurança. A instalação é dividida em<br />

duas partes: uma de 14,8 mil metros quadra<strong>do</strong>s<br />

para as provas de tiro esportivo, disputadas em<br />

instalações cobertas; e outra de 36,4 mil metros<br />

quadra<strong>do</strong>s, para as provas de tiro ao prato,<br />

disputadas ao ar livre. A área de tiro esportivo<br />

conta com estandes para provas de 10m, 25m e<br />

50m com armas de ar comprimi<strong>do</strong>, além de um<br />

estande para as finais. Já a área de tiro ao prato<br />

conta com três pedanas e é dividida em <strong>do</strong>is espaços:<br />

o de finais e o de provas classificatórias.<br />

O centro é multiuso, com isolamento acústico. O<br />

estande de 10 metros é climatiza<strong>do</strong>. A estrutura<br />

foi homologada pela Federação Internacional<br />

de Tiro Esportivo. Como as normas internacionais<br />

orientam para a construção de acor<strong>do</strong> com<br />

a posição <strong>do</strong> sol em cada hemisfério, o centro<br />

foi construí<strong>do</strong> com a frente para a Avenida Brasil.<br />

No hemisfério sul a instalação deve ficar no<br />

senti<strong>do</strong> norte-sul. Para que a visão <strong>do</strong> trânsito<br />

da avenida não prejudicasse a concentração, foi<br />

a<strong>do</strong>tada uma proteção para as pedanas <strong>do</strong> tiro<br />

ao prato, o que ocasionou um custo adicional.<br />

A União financiou a homologação através de<br />

convênio (78/2007) com o CO-Rio no valor de<br />

R$ 291.430,61. Os alvos eletrônicos das provas<br />

de 10m de ar comprimi<strong>do</strong> são importa<strong>do</strong>s<br />

da Suíça. O governo federal importou ainda<br />

210 jogos de postos e 10 pesos de gatilho. No<br />

Pan, a prova de esgrima <strong>do</strong> pentatlo moderno<br />

foi disputada numa instalação temporária<br />

construída dentro <strong>do</strong> centro. “Quan<strong>do</strong> Guilherme<br />

Paraense conquistou a medalha de ouro,<br />

em 1920, já se sonhava com isso. O centro tem<br />

padrão de primeiro mun<strong>do</strong>”, diz o presidente<br />

da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo,<br />

Frederico Costa.<br />

155<br />

De cima para baixo, um<br />

monitor de controle, os<br />

alvos de 25 e 50 metros,<br />

a pedana <strong>do</strong> tiro ao<br />

prato e vista geral <strong>do</strong><br />

estande de 10 metros<br />

Foto: Alex Ferro / CO-Rio Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>


TECNOLOGIA A SERVIÇO<br />

DE TIROS PRECISOS<br />

O Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro, construí<strong>do</strong> para o Rio 2007 com recursos<br />

<strong>do</strong> governo federal, abriga uma das mais modernas instalações <strong>do</strong> esporte no<br />

mun<strong>do</strong>, o Centro Nacional de Tiro Esportivo Tenente Guilherme Paraense<br />

O TIRO AO PRATO - FOSSA OLÍMPICA E FOSSA DOUBLÉ<br />

<br />

ão<br />

ões de tiros À<br />

e abaixo <strong>do</strong><br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

COMO FUNCIONAM<br />

AS MÁQUINAS LANÇADORAS<br />

DE PRATO NO TIRO<br />

<br />

<br />

cada<br />

<br />

capta<strong>do</strong>r de voz <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

máquina de pratos<br />

<br />

<br />

<br />

Casa alta<br />

Casa baixa<br />

152


O TIRO AO PRATO SKEET<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Casa alta<br />

1<br />

Prato<br />

VISTA FRONTAL DA PEDANA<br />

8<br />

2 6<br />

3 5<br />

4<br />

7<br />

Casa baixa<br />

3<br />

2<br />

1<br />

Casa alta<br />

15m<br />

Fossa olímpica<br />

1<br />

Fossa <strong>do</strong>ublé<br />

VISTA SUPERIOR<br />

DA PEDANA<br />

2<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

dist<br />

4 3<br />

8<br />

5<br />

Opera<strong>do</strong>r<br />

4<br />

5<br />

Posições<br />

<strong>do</strong>s atira<strong>do</strong>res<br />

6<br />

7<br />

Posição<br />

<strong>do</strong> atira<strong>do</strong>r<br />

Posição da máquina<br />

lança<strong>do</strong>ra de prato<br />

Prato<br />

entre 2,9 metros e 3,6 metros<br />

Casa baixa<br />

15m<br />

10m<br />

Linha <strong>do</strong> solo<br />

153<br />

Linha <strong>do</strong> solo


2m<br />

Para cada<br />

posição<br />

de tiro, três<br />

máquinas<br />

lança<strong>do</strong>ras<br />

de pratos são<br />

posicionadas<br />

em linha,<br />

abaixo <strong>do</strong> nível<br />

<strong>do</strong> solo<br />

Ângulo<br />

máximo: 45º<br />

154


FOTO AÉREA DO<br />

ESTANDE DE TIRO<br />

As instalações de tiro ao prato são equipadas<br />

com 53 máquinas lança<strong>do</strong>ras de pratos, todas<br />

de última geração, compradas para os Jogos<br />

Pan-americanos com investimentos <strong>do</strong> governo<br />

federal. São 45 instaladas no final das pedanas<br />

(quinze em cada uma), três casas baixas e três casas<br />

altas (um par em cada pedana) e duas para reserva<br />

PLANTA DO ESTANDE<br />

Tiro ao alvo<br />

10 m<br />

50 m<br />

25 m<br />

Finais<br />

50 m<br />

Pedanas de classificação<br />

Pedana para<br />

disputas finais<br />

Avenida Brasil<br />

155


Centro de Pentatlo<br />

Moderno Coronel<br />

Eric Tinoco Marques<br />

Foto: Arquivo / FIA<br />

A piscina exclusiva<br />

<strong>do</strong> centro de pentatlo<br />

foi elogiada pelos atletas<br />

Natural de Niterói, Rio de Janeiro, o coronel<br />

Eric Tinoco Marques (1919-1976) ganhou<br />

uma das duas medalhas de ouro <strong>do</strong> Brasil<br />

na modalidade de pentatlo moderno em<br />

Pan-americanos. Subiu ao ponto mais alto<br />

<strong>do</strong> pódio em 1951, na primeira edição <strong>do</strong>s<br />

Jogos Pan-americanos da história, em Buenos<br />

Aires – o segun<strong>do</strong> ouro veio no Pan de<br />

Chicago, em 1959, com Wenceslau Marques.<br />

No ano seguinte, representou o País nas<br />

Olimpíadas de Helsinque, onde conquistou<br />

a 29ª colocação. Foi instrutor da Escola de<br />

Educação Física <strong>do</strong> Exército e, mais tarde, seu<br />

comandante. Como diretor <strong>do</strong> Departamento<br />

de Educação Física <strong>do</strong> Ministério da Educação<br />

e Cultura, foi um <strong>do</strong>s responsáveis pela<br />

construção <strong>do</strong> estádio de atletismo Célio<br />

Cordeiro de Barros, anexo ao Maracanã.<br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

PENTATLO MODERNO<br />

Este esporte, um <strong>do</strong>s mais completos e<br />

exigentes <strong>do</strong> conjunto pan-americano, de<br />

origem militar, é disputa<strong>do</strong> no Brasil desde<br />

1922. Compõe-se de cinco modalidades: tiro,<br />

esgrima, natação, hipismo (saltos) e atletismo<br />

(corrida). As provas ocorrem ao longo de um<br />

dia. Nas três primeiras disputas, os atletas<br />

somam pontos que definem a ordem de<br />

largada para a corrida de 3.000 metros, cujo<br />

vence<strong>do</strong>r leva a medalha de ouro. O pentatlo<br />

moderno também e disputa<strong>do</strong>, em alto nível,<br />

em competições militares por to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong><br />

156


N<br />

o início da preparação <strong>do</strong>s Jogos,<br />

as disputas <strong>do</strong> pentatlo não<br />

estavam previstas para Deo<strong>do</strong>ro;<br />

seriam realizadas na Escola Naval<br />

e na Sociedade Hípica <strong>do</strong> Rio. Mas, como<br />

o governo federal havia se comprometi<strong>do</strong> a<br />

construir na Vila Militar outras instalações que<br />

integram o pentatlo (hipismo e tiro esportivo),<br />

o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> aceitou a sugestão <strong>do</strong><br />

CO-Rio de transferir esta modalidade para Deo<strong>do</strong>ro.<br />

A mudança gerou economia de custos<br />

para o Comitê Organiza<strong>do</strong>r.<br />

O Centro de Pentatlo Moderno possui piscina<br />

olímpica e aquecida na qual foram disputadas<br />

as provas de natação de 200m na<strong>do</strong> livre,<br />

uma das cinco modalidades deste esporte. A<br />

piscina é mais um lega<strong>do</strong> para o Rio, especialmente<br />

para a zona oeste, que recebe um<br />

pólo de treinamento aquático de alto padrão.<br />

É também uma herança para os militares que<br />

não participam de competições olímpicas mas<br />

praticam a modalidade como tarefa das Forças<br />

Armadas.<br />

Homologada pela Federação Internacional de<br />

Natação (Fina) e apta a sediar provas internacionais<br />

de natação, a piscina é equipada com<br />

os mais modernos recursos para competições<br />

e reconhecida como classe-1 da Fina. Possui,<br />

por exemplo, uma estrutura quebra-ondas,<br />

que permite que as ondas geradas pelos movimentos<br />

<strong>do</strong>s atletas caiam em uma calha lateral,<br />

não interferin<strong>do</strong>, assim, no desempenho<br />

durante a prova.<br />

Já o tiro, a esgrima, o hipismo e a corrida tiveram<br />

palco nas outras dependências <strong>do</strong> Complexo<br />

de Deo<strong>do</strong>ro. A estrutura conta ainda com<br />

vestiários, sanitários e cobertura. De acor<strong>do</strong><br />

com o presidente da Confederação Brasileira<br />

de Pentatlo Moderno (CBPM), Hélio Meirelles<br />

Car<strong>do</strong>so, as novas estruturas representam um<br />

salto para o desenvolvimento da modalidade<br />

no País: “O pentatlo moderno passa a ter <strong>do</strong>is<br />

momentos na história: um antes e outro depois<br />

da inauguração <strong>do</strong> Complexo Esportivo de Deo<strong>do</strong>ro.<br />

Poucas confederações no mun<strong>do</strong> têm<br />

condições de dispor de instalações com este<br />

nível de qualidade”. O Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

também custeou a aquisição de 20 espadas,<br />

20 pistolas de ar comprimi<strong>do</strong> e 9 pistas de alumínio<br />

para a prática <strong>do</strong> Pentatlo em Deo<strong>do</strong>ro<br />

durante e depois <strong>do</strong>s Jogos.<br />

Uma das modalidades <strong>do</strong><br />

pentatlo, a esgrima foi<br />

disputada no estande de<br />

10 metros <strong>do</strong> Tiro Esportivo<br />

157<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>


PLANTA DO PARQUE AQUÁTICO DO CENTRO DE PENTATLO MODERNO<br />

158


A piscina, o corre<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong>s vestiários e os<br />

banheiros adapta<strong>do</strong>s<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> Foto: Arquivo FIA<br />

159


Centro de Hóquei sobre Grama<br />

Sargento João Carlos de Oliveira<br />

Foto: Wilson Dias / ABr<br />

O campo <strong>do</strong> centro:<br />

o primeiro <strong>do</strong> País<br />

com medidas oficiais<br />

Menino pobre de Pindamonhangaba, interior<br />

de São Paulo, de frentista de posto de<br />

gasolina, João <strong>do</strong> Pulo (1954-1999), como era<br />

conheci<strong>do</strong>, tornou-se um <strong>do</strong>s maiores atletas<br />

de salto triplo em to<strong>do</strong>s os tempos. Aos 21<br />

anos, bateu o recorde mundial da modalidade,<br />

com um salto de 17,89m, durante os Jogos<br />

Pan-americanos <strong>do</strong> México, em 1975. A<br />

marca só seria vencida dez anos depois, em<br />

Indianápolis. Levou o bronze nas Olimpíadas<br />

de Montreal, em 1976, e de Moscou, em 1980.<br />

Em Pan-americanos, ganhou medalha de ouro<br />

no salto em distância, em Porto Rico, 1979, e<br />

no México, em 1975. Aos 27 anos, em 1981,<br />

teve a carreira interrompida por um trágico<br />

acidente de carro que levou à amputação<br />

da perna direita. João <strong>do</strong> Pulo morreu<br />

aos 44 anos, vítima de cirrose hepática.<br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

HÓQUEI SOBRE GRAMA<br />

Como no futebol, <strong>do</strong>is times de 11<br />

joga<strong>do</strong>res tentam marcar o maior<br />

número possível de gols, mas aqui as<br />

partidas são divididas em <strong>do</strong>is tempos<br />

de 35 minutos.<br />

160


OS CAMPOS DE HÓQUEI SOBRE GRAMA<br />

DO COMPLEXO DE DEODORO<br />

O Complexo de Deo<strong>do</strong>ro abrigou cinco modalidades nos Jogos Pan-americanos Rio<br />

2007: tiro com arco, hipismo, tiro esportivo, pentatlo moderno e hóquei sobre<br />

grama. Os equipamentos de ponta e a infra-estrutura formam o grande lega<strong>do</strong><br />

deixa<strong>do</strong> neste espaço construí<strong>do</strong> com investimentos <strong>do</strong> governo federal.<br />

Uma das partes mais importantes da herança é a instalação de hóquei<br />

sobre grama, a primeira <strong>do</strong> País a contar com um campo de dimensões<br />

oficiais. Os eficientes sistemas de drenagem <strong>do</strong>s campos de jogo e<br />

de treinamento estão entre os destaques deste espaço. Entenda<br />

como eles funcionam:<br />

Sub-base asfáltica impermeável (asfalto CBUQ)<br />

(diam. <strong>do</strong> agrega<strong>do</strong> 8 a 12 mm)<br />

Lastro de brita nº 1 com imprimação ligante<br />

(diam. da brita 12 a 25 mm)<br />

7cm<br />

10 cm<br />

direção da água<br />

Grama<strong>do</strong> sintético<br />

(padrão IHF)<br />

VISTA FRONTAL<br />

(escoamento da água<br />

para a canaleta com<br />

inclinação de 2%)<br />

Areia especial compactada<br />

15 a<br />

20 cm<br />

Solo natural existente<br />

Canaleta de<br />

drenagem<br />

(15 a 20 cm)<br />

NO CAMPO DE JOGO*<br />

O perímetro <strong>do</strong> campo, de 100,5 metros de comprimento por 61,5<br />

metros de largura, é envolvi<strong>do</strong> por uma canaleta de 15 a 20 centímetros. O<br />

piso, de grama sintética, é levemente mais alto no centro (uma inclinação de<br />

2%, imperceptível na prática) para que a água escorra até a canaleta pela força<br />

da gravidade. Abaixo <strong>do</strong> grama<strong>do</strong> há, nesta ordem, uma camada de asfalto<br />

impermeável (7 cm), uma de brita (10 cm) e uma de areia especial compactada (15 a<br />

20 cm). Como a camada logo abaixo <strong>do</strong> grama<strong>do</strong> é impermeável, a água corre para a<br />

canaleta e, dali, segue até o reservatório.<br />

* desenho com corte transversal <strong>do</strong> campo<br />

100,5 metros<br />

VISTA<br />

SUPERIOR<br />

61,5 metros<br />

NO CAMPO DE AQUECIMENTO**<br />

Neste caso, o sistema a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> é o de drenagem subterrânea <strong>do</strong> tipo espinha de peixe.<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que ocorre no campo principal, aqui a água atravessa o piso de<br />

grama<strong>do</strong> sintético, a camada de areia (70 cm), a de brita (30 cm) e também uma<br />

manta de teci<strong>do</strong> especial, o bidim, que funciona como filtro, impedin<strong>do</strong> que ela<br />

chegue às canaletas com partículas sólidas. Inclinadas para facilitar o<br />

escoamento, num desenho que lembra uma espinha de peixe, as<br />

canaletas secundárias desembocam no ramo central, maior, que remete<br />

ao reservatório. “Os campos de hóquei são molha<strong>do</strong>s para que o<br />

disco deslize com facilidade e rapidez nos jogos. O sistema<br />

impermeável foi utiliza<strong>do</strong> no campo oficial porque mantém o<br />

piso úmi<strong>do</strong> por mais tempo, o que não é tão necessário no<br />

espaço de aquecimento, com 91 metros de comprimento<br />

por 55 metros de largura”, explica o gerente de<br />

instalações <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> durante o Pan,<br />

Luiz Custódio de Freitas.<br />

Grama<strong>do</strong> sintético<br />

Neste sistema<br />

a água segue para<br />

as canaletas<br />

91 metros<br />

Camada<br />

de areia<br />

(70 cm)<br />

Camada<br />

de brita<br />

(30 cm)<br />

55 metros<br />

Caimento 1%<br />

Caimento 1%<br />

Ramo central - caimento 1%<br />

Caimento 1%<br />

Caimento 1%<br />

161<br />

canaleta<br />

Manta de teci<strong>do</strong><br />

especial, o bidim,<br />

que funciona<br />

como filtro<br />

** desenho com corte transversal e vista superior <strong>do</strong> esquema espinha de peixe


O<br />

s campos de hóquei sobre grama<br />

<strong>do</strong> Complexo de Deo<strong>do</strong>ro são os<br />

primeiros e ainda únicos oficiais<br />

<strong>do</strong> Brasil. Este centro é composto<br />

por <strong>do</strong>is campos revesti<strong>do</strong>s de grama sintética<br />

importada da Itália – um seco e outro irriga<strong>do</strong><br />

– e vestiários. A grama é constantemente molhada<br />

para reduzir o atrito entre o atleta e o solo<br />

e fazer com que a bola deslize com velocidade.<br />

Para tanto, foi instala<strong>do</strong> no local um sistema de<br />

irrigação com canhões d’água que alcançam<br />

toda a dimensão <strong>do</strong> campo. Abaixo da grama,<br />

foi aplicada uma borracha especial, que possui<br />

shockpad, ou seja, absorve impacto. Para que<br />

não se formem poças, o campo é ligeiramente<br />

abobada<strong>do</strong>, e a água escorre para os la<strong>do</strong>s.<br />

A instalação recebeu muitos elogios, mas também<br />

algumas críticas em relação ao grama<strong>do</strong>.<br />

“A qualidade <strong>do</strong> piso irriga<strong>do</strong>, a borracha, o<br />

amortecimento são ótimos. Mas o grama<strong>do</strong><br />

enrugou um pouco”, diz o diretor técnico da<br />

Confederação Brasileira de Hóquei sobre Grama,<br />

Cláudio Rocha. Por isso, durante o Pan, a<br />

empresa que montou o campo manteve <strong>do</strong>is<br />

funcionários para grampear a parte afetada.<br />

Depois <strong>do</strong>s Jogos, a empresa reaplicou a cola<br />

no grama<strong>do</strong>, solucionan<strong>do</strong> definitivamente o<br />

problema. Para a prática deste esporte, o governo<br />

federal importou 2.518 tacos, 2.500 bolas<br />

e 18 protetores pélvicos. A iluminação e as<br />

arquibancadas eram temporárias, apenas para<br />

os Jogos.<br />

Diversas adaptações permitiram que a instalação<br />

fosse utilizada para a disputa de futebol<br />

de 5 e futebol de 7 durante os Jogos Parapanamericanos.<br />

Em visita a Deo<strong>do</strong>ro, o secretário<br />

geral <strong>do</strong> Comitê Paraolímpico Internacional e o<br />

diretor técnico da entidade se mostraram satisfeitos<br />

com o local escolhi<strong>do</strong> para sediar as<br />

modalidades <strong>do</strong> esporte. Eles aprovaram o terreno<br />

plano <strong>do</strong> Complexo, que facilita o acesso<br />

de deficientes físicos. Durante o Parapan,<br />

o Centro de Hóquei sobre Grama foi uma das<br />

instalações que mais reuniram especta<strong>do</strong>res.<br />

PLANTA DO CENTRO DE HÓQUEI SOBRE GRAMA<br />

162


O campo principal<br />

adapta<strong>do</strong> para<br />

o Parapan e o<br />

moderno sistema de<br />

irrigação da grama.<br />

<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

163


Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Centro de<br />

Tiro com Arco<br />

P<br />

rovisórias durante os Jogos Panamericanos,<br />

as instalações para a<br />

disputa de tiro com arco podem ser<br />

recolocadas sempre que necessário,<br />

uma vez que as obras de infra-estrutura<br />

realizadas no local (iluminação, instalação<br />

elétrica e hidráulica e to<strong>do</strong> o sistema viário de<br />

acesso) permitem novas montagens a qualquer<br />

momento.<br />

PLANTA DO CENTRO DE TIRO COM ARCO<br />

O diretor técnico da Confederação Brasileira<br />

de Tiro com Arco (CBTArco), Eros Fauni, elogiou:<br />

“Esta prova pode ser realizada em nível<br />

olímpico”. Em novembro de 2006, foi o local<br />

escolhi<strong>do</strong> para a Copa Pan-americana de Tiro<br />

com Arco, um evento-teste que serviu para<br />

atestar a qualidade da estrutura.<br />

O tiro com arco é pratica<strong>do</strong> com equipamentos<br />

de última geração. As 750 flechas importadas<br />

pelo governo federal são de alumínio e carbono<br />

que, devi<strong>do</strong> a sua resistência e precisão de<br />

vôo, permitem um equilíbrio perfeito. Foram<br />

adquiri<strong>do</strong>s também 400 alvos e 115 arcos de<br />

última geração.<br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

TIRO COM ARCO<br />

É disputa<strong>do</strong> em duas categorias,<br />

individual e por equipes, na distância<br />

de 70 metros em relação ao alvo (dez<br />

círculos concêntricos com diâmetro<br />

de 1,22 metro). O círculo <strong>do</strong> meio vale<br />

dez pontos, e os outros um ponto<br />

a menos cada, a partir <strong>do</strong> centro.<br />

Nas eliminatórias, 36 flechas são<br />

disparadas por competi<strong>do</strong>r, em séries<br />

de seis flechas. Vence o atleta que<br />

somar o maior número de pontos.<br />

164


Vista áerea <strong>do</strong><br />

centro e detalhe<br />

<strong>do</strong>s alvos e<br />

da competição<br />

Fotos: Arquivo / FIA<br />

165


Arena <strong>do</strong> Vôlei de Praia<br />

Fotos: Alex Ferro / CO-Rio<br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

VÔLEI DE PRAIA<br />

A modalidade foi reconhecida pela<br />

Federação Internacional de Vôlei em<br />

1986, mas só entrou para a lista de<br />

esportes <strong>do</strong> Pan-Americano em 1999.<br />

Possui estrutura de jogo idêntica à <strong>do</strong><br />

vôlei de quadra, mas apenas duas duplas<br />

disputam três sets – os <strong>do</strong>is primeiros,<br />

até 21 pontos, e em caso de empate a<br />

briga é prorrogada até que uma dupla<br />

abra <strong>do</strong>is pontos de vantagem. O último<br />

set chega a 15, com a mesma regra se<br />

houver empate no 14º ponto.<br />

A<br />

montagem da Arena de Copacabana<br />

foi facilitada pelo fato de o<br />

Brasil ter experiência neste tipo de<br />

instalação. Em relação a Santo Domingo<br />

2003, constitui-se um grande avanço:<br />

naqueles Jogos a estrutura <strong>do</strong> vôlei de praia<br />

foi erguida em uma arena de touros desativada.<br />

Já no Rio 2007, incluía uma arena principal,<br />

duas secundárias e uma de aquecimento – na<br />

praia, é claro. A arena oferecia conforto à torcida<br />

(<strong>do</strong>is telões de alta definição de 24 metros<br />

quadra<strong>do</strong>s e sonorização na área de especta<strong>do</strong>res,<br />

entre outros equipamentos) e mais de<br />

100 salas de apoio, incluin<strong>do</strong> centro médico,<br />

sala de imprensa e local para operações de<br />

segurança. E era equipada com placares e<br />

sistema de cronometragem. Além de instalar<br />

100 aparelhos de ar condiciona<strong>do</strong>, o governo<br />

federal importou mil bolas de vôlei, 16 postes<br />

e 8 cadeiras de árbitros. A arena principal<br />

comportou 5.381 lugares, com espaço para<br />

cadeirantes na primeira fila da arquibancada, e<br />

contou também com banheiros químicos, vários<br />

deles adapta<strong>do</strong>s para deficientes. Voluntários<br />

ajudavam pessoas com dificuldades de<br />

locomoção. “Foi melhor <strong>do</strong> que to<strong>do</strong>s os outros<br />

torneios internacionais. No voleibol, desde<br />

as competições de 1993 e 1995, as arenas de<br />

praia <strong>do</strong> Brasil são as melhores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”, diz<br />

Ary Graça, presidente da Confederação Brasileira<br />

de Vôlei. Para Larissa, brasileira tricampeã<br />

mundial e medalha de ouro no Rio 2007,<br />

foi “o melhor <strong>do</strong> Pan. Nem no Circuito Mundial<br />

eu e Juliana jogamos num espaço tão grande”.<br />

166


No senti<strong>do</strong> horário,<br />

um jogo oficial, uma<br />

vista <strong>do</strong> complexo<br />

com a quadra de<br />

aquecimento e,<br />

abaixo, uma geral<br />

da arena. No detalhe,<br />

o espaço adapta<strong>do</strong><br />

para cadeirantes<br />

Fotos: Alex Ferro / CO-Rio<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

167


168


Arena <strong>do</strong> Posto 6<br />

C<br />

ada modalidade foi disputada em<br />

um só dia e requeria pequenas<br />

estruturas de apoio, montadas no<br />

canteiro central da Avenida Atlântica<br />

e à beira da praia de Copacabana, de mo<strong>do</strong><br />

que o público pôde assistir sem aquisição de<br />

ingressos. As instalações incluíam, por exemplo,<br />

1.000 assentos, 7,8 mil metros de cerca e<br />

1,3 mil metros de tabla<strong>do</strong> de madeira, além da<br />

ambientação <strong>do</strong> local, o “Look of the games”.<br />

Para o consultor australiano John Baker, a estrutura<br />

foi um sucesso porque permitiu boa<br />

participação popular. “O triatlo e a maratona<br />

aquática funcionaram muito bem. Houve bastante<br />

público”, diz.<br />

MODALIDADES DISPUTADAS<br />

TRIATLO<br />

A prova que reúne natação, ciclismo e<br />

atletismo foi criada na década de 70,<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Em Jogos Pan-<br />

Americanos, o percurso é o seguinte:<br />

1,5 km de natação, 40 km de ciclismo e<br />

10km de corrida, nesta ordem. Ganha<br />

o atleta que completar toda a prova em<br />

primeiro lugar.<br />

Foto: Divulgação / CO-Rio<br />

MARATONA AQUÁTICA<br />

Este esporte fez sua estréia em Pan-<br />

Americanos no Rio 2007, incluí<strong>do</strong><br />

pela Organização Desportiva Pan-<br />

Americana (Odepa) em 2005. Nos<br />

mundiais, as provas, disputadas no<br />

mar, são divididas entre 5km, 10km<br />

e 25km. Para o Pan, foi escolhida a<br />

modalidade de 10km, sem baterias<br />

eliminatórias, para as competições<br />

masculina e feminina.<br />

169


PLANTA DA ARENA DO POSTO 6<br />

170


171


Instalações sob responsabilidade <strong>do</strong> governo estadual<br />

172


Complexo Esportivo<br />

<strong>do</strong> Maracanã<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

O estádio, o ginásio e o<br />

parque aquático: obras<br />

iniciadas em 1999<br />

173


C<br />

artão-postal <strong>do</strong> Rio de Janeiro e<br />

<strong>do</strong> Brasil, o Estádio Mário Filho, ou<br />

simplesmente Maracanã, é a principal<br />

instalação <strong>do</strong> complexo, que<br />

compreende ainda o Ginásio Gilberto Car<strong>do</strong>so<br />

(o Maracanãzinho), o Parque Aquático Júlio<br />

Delamare e o Estádio de Atletismo Célio de<br />

Barros – to<strong>do</strong>s administra<strong>do</strong>s pela Superintendência<br />

de Desportos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />

(Suderj). Para os Jogos, as instalações,<br />

exceto a última, passaram por reformas que se<br />

constituíram em importantes lega<strong>do</strong>s para a<br />

cidade e o País. Os trabalhos foram custea<strong>do</strong>s<br />

pelo governo estadual, mas o ritmo das obras<br />

só acelerou no início <strong>do</strong> mandato <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r<br />

Sérgio Cabral, em janeiro de 2007, graças<br />

a convênios firma<strong>do</strong>s com o governo federal.<br />

Na Matriz de Responsabilidades, de fevereiro<br />

de 2007, o custo estima<strong>do</strong> estava em R$ 264<br />

milhões e acabou fechan<strong>do</strong> em R$ 265,2 milhões<br />

incluin<strong>do</strong> estruturas de apoio e identidade<br />

visual. O complexo esportivo, sobretu<strong>do</strong> o<br />

Estádio Mário Filho, tem um histórico de obras<br />

de modernização desde a década de 90. Em<br />

setembro de 1999, para receber o Mundial de<br />

Clubes da Fifa, que se realizaria quatro meses<br />

depois, obras da construtora Varca Scatena<br />

reforçaram a estrutura <strong>do</strong> Estádio <strong>do</strong> Maracanã<br />

e <strong>do</strong> Célio de Barros.<br />

Na virada para o mandato da governa<strong>do</strong>ra<br />

Rosinha Matheus, em 2002, a obra mu<strong>do</strong>u de<br />

escopo, já que o Rio ganhara o direito de abrigar<br />

os Jogos Pan-americanos Rio 2007. Mas<br />

a construtora foi à falência, deixan<strong>do</strong> as obras<br />

inacabadas. Em novembro de 2004, o governo<br />

estadual liberou recursos para que um consórcio<br />

forma<strong>do</strong> por três grandes empreiteiras<br />

– Odebrecht, OAS e Andrade Gutierrez – concluísse<br />

a reforma. Em junho <strong>do</strong> ano seguinte,<br />

as obras foram retomadas e tiveram conclusão<br />

às vésperas <strong>do</strong>s Jogos.<br />

O Parque Aquático Julio Delamare foi reinaugura<strong>do</strong><br />

em agosto de 2006, celebra<strong>do</strong> como<br />

a primeira instalação <strong>do</strong> Pan a ser entregue,<br />

apesar de alguns ajustes ainda terem si<strong>do</strong> feitos<br />

até o início <strong>do</strong> evento. A obra <strong>do</strong> Maracanãzinho<br />

só foi reiniciada em novembro de 2006,<br />

porque o governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> não dispunha<br />

de recursos suficientes para reformar to<strong>do</strong> o<br />

complexo ao mesmo tempo.<br />

O cenário só mu<strong>do</strong>u a partir <strong>do</strong>s convênios assina<strong>do</strong>s<br />

com o governo federal em 2007. Pelo<br />

primeiro deles (13/2007), de fevereiro, foram<br />

libera<strong>do</strong>s R$ 30 milhões da União, com contrapartida<br />

de R$ 10 milhões <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, para a<br />

compra de diversos equipamentos e aparelhos<br />

e realização de pequenas obras. Em abril de<br />

2007, um segun<strong>do</strong> convênio (48/2007) destinou<br />

outros R$ 87,5 milhões (R$ 69,9 milhões<br />

da União e R$ 17,5 milhões <strong>do</strong> governo estadual)<br />

para concluir as obras tanto no estádio<br />

quanto no ginásio.<br />

O Estádio <strong>do</strong> Maracanã recebeu as cerimônias<br />

de abertura e encerramento <strong>do</strong>s Jogos e<br />

o torneio de futebol; o Maracanãzinho abrigou<br />

as partidas de vôlei; e o Parque Aquático Júlio<br />

Delamare, as de pólo aquático. Já a área<br />

<strong>do</strong> Estádio Célio de Barros foi utilizada como<br />

“common <strong>do</strong>main” – local com tendas de patrocina<strong>do</strong>res,<br />

lojas de produtos oficiais e bares<br />

para lazer <strong>do</strong> torce<strong>do</strong>r. A idéia <strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>res<br />

era fazer com que o público chegasse mais<br />

ce<strong>do</strong> aos eventos esportivos para aproveitar a<br />

infra-estrutura oferecida, o que facilitava sua<br />

alocação dentro das instalações <strong>do</strong> complexo<br />

e aliviava a pressão sobre o trânsito das re<strong>do</strong>ndezas<br />

<strong>do</strong> complexo <strong>do</strong> Maracanã.<br />

O esquema de trânsito da Secretaria Municipal<br />

de Transportes e <strong>do</strong> CO-Rio nos arre<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> Maracanã, que incluiu o fechamento<br />

de ruas <strong>do</strong> entorno, foi o mais elogia<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

Jogos. A entrada <strong>do</strong> público se dava por <strong>do</strong>is<br />

acessos – no Estádio Célio de Barros e na<br />

área conhecida como Rampa <strong>do</strong> Bellini. O esquema<br />

especial se mostrou eficaz sobretu<strong>do</strong><br />

nas cerimônias de abertura e encerramento.<br />

O estádio de futebol mais importante <strong>do</strong> Brasil,<br />

174


Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Estádio Mário Filho<br />

onde alguns <strong>do</strong>s melhores joga<strong>do</strong>res e times<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> já duelaram, começou a ser ergui<strong>do</strong><br />

em 1948 e foi inaugura<strong>do</strong> em 1950, para<br />

a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> daquele ano. Na época, a<br />

simples idéia de uma construção deste porte,<br />

para abrigar 183 mil pessoas, causava polêmica<br />

entre os políticos. “Acreditar no estádio é<br />

acreditar no Brasil”, dizia o jornalista <strong>do</strong>no <strong>do</strong><br />

Jornal <strong>do</strong>s Sports, que, por ter si<strong>do</strong> o principal<br />

incentiva<strong>do</strong>r da obra, tem hoje seu nome em<br />

letras garrafais, no alto, à entrada <strong>do</strong> “Maraca”,<br />

apeli<strong>do</strong> carinhoso da<strong>do</strong> pelos cariocas: Estádio<br />

Mário Filho. A palavra Maracanã é oriunda<br />

<strong>do</strong> rio de mesmo nome, que passava na região<br />

onde hoje está o campo.<br />

Para revitalizar este cartão-postal <strong>do</strong> País e<br />

deixá-lo apto a receber público de eventos importantes<br />

como o Mundial de Clubes da Fifa<br />

de 2000 e os Jogos Pan-americanos Rio 2007,<br />

as obras foram iniciadas em 1999, com a instalação<br />

de assentos plásticos e outras adequações.<br />

As principais intervenções para os Jogos<br />

foram o rebaixamento <strong>do</strong> campo em 1,60m e a<br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

FUTEBOL<br />

<strong>Esporte</strong> mais popular <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

organiza<strong>do</strong> e sistematiza<strong>do</strong> na Inglaterra<br />

no século 19, o futebol estreou<br />

oficialmente em Jogos Olímpicos em<br />

1908 e está no Pan-americano desde<br />

sua primeira edição, em 1951.<br />

Reforma para o<br />

Pan revitalizou<br />

importante cartãopostal<br />

<strong>do</strong> País<br />

criação da “platéia inferior” no lugar da antiga<br />

“geral”. Desta forma, to<strong>do</strong>s os lugares passaram<br />

a ser senta<strong>do</strong>s, como exige a Fifa. Com as<br />

mudanças, a capacidade <strong>do</strong> estádio caiu para<br />

91 mil lugares.<br />

Além da estrutura, foram reforma<strong>do</strong>s a tribuna<br />

de imprensa, os vestiários, banheiros e bares.<br />

No Museu <strong>do</strong> Futebol, agora há oito escadas<br />

rolantes. Os antigos placares foram substituí<strong>do</strong>s<br />

por outros três digitais, de 16m x 1,2m, e<br />

<strong>do</strong>is telões de 10m x 6m foram instala<strong>do</strong>s atrás<br />

das balizas. O fornecimento e a instalação <strong>do</strong>s<br />

placares e das escadas rolantes, bem como<br />

diversas obras para conclusão das reformas<br />

no Complexo, foram garanti<strong>do</strong>s pelos convênios<br />

13/2007 e 48/2007, entre União e Esta<strong>do</strong>.<br />

175


Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />

Ginásio Gilberto<br />

Car<strong>do</strong>so, o<br />

Maracanãzinho<br />

O mais tradicional ginásio<br />

<strong>do</strong> País: atrasos no início,<br />

mas, depois, muitos elogios<br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

Foto: Donald Miralle / Getty Images<br />

VÔLEI<br />

Uma rede separa duas equipes de seis<br />

atletas, que disputam partidas de melhorde-cinco<br />

sets. Os quatro primeiros sets vão<br />

a 25 pontos (em caso de empate, o jogo é<br />

prorroga<strong>do</strong> até que um time abra vantagem<br />

de <strong>do</strong>is pontos) e o último, até 15 (e aqui<br />

vale a mesma regra em caso de empate). Se<br />

uma equipe ganhar os três primeiros sets,<br />

o jogo acaba aí. Para pontuar, os joga<strong>do</strong>res<br />

precisam fazer com que a bola caia no<br />

campo adversário dan<strong>do</strong> nela, no máximo,<br />

três toques, além <strong>do</strong> contato <strong>do</strong> bloqueio.<br />

Para isso, os atletas não podem dar <strong>do</strong>is<br />

toques consecutivos na bola.<br />

176


P<br />

ode-se dizer que o ginásio <strong>do</strong> Maracanãzinho<br />

está para o vôlei, o segun<strong>do</strong><br />

esporte mais popular <strong>do</strong> Brasil,<br />

assim como o estádio <strong>do</strong> Maracanã<br />

está para o futebol. Equipamento histórico e ícone<br />

<strong>do</strong> esporte nacional, a arena para jogos de futebol<br />

de salão, handebol, basquete e, claro, vôlei<br />

foi palco de momentos emocionantes, como o<br />

Mundialito de 1982, que registrou pela primeira<br />

vez o saque “jornada nas estrelas”, <strong>do</strong> joga<strong>do</strong>r<br />

Bernard Razjman, na vitória brasileira sobre o<br />

poderoso time da então União Soviética por 3<br />

sets a 2. Longe da seara, mas não menos importante<br />

para o País, o Festival Internacional da<br />

Canção, que lotou o Maracanãzinho entre 1966<br />

e 1972, revelou compositores como Chico Buarque,<br />

Caetano Veloso, Tom Jobim, Geral<strong>do</strong> Vandré<br />

e Gilberto Gil, entre muitos outros. O ginásio<br />

ainda foi palco <strong>do</strong> Campeonato Mundial de<br />

Basquete Masculino em 1963 e Mundial de Vôlei<br />

Masculino em 1990. Inaugura<strong>do</strong> em 1954, foi batiza<strong>do</strong><br />

um ano depois com o nome de Gilberto<br />

Car<strong>do</strong>so – presidente <strong>do</strong> Clube de Regatas Flamengo<br />

morto no próprio ginásio, vítima de um<br />

infarto durante uma emocionante final <strong>do</strong> campeonato<br />

de basquete. Nota-se que o Maracanãzinho<br />

merecia, e ganhou, uma reforma à sua<br />

altura para os Jogos Pan-americanos Rio 2007.<br />

Embora tenha si<strong>do</strong> a obra mais atrasada no<br />

cronograma <strong>do</strong> evento, seu resulta<strong>do</strong> final foi<br />

um <strong>do</strong>s mais elogia<strong>do</strong>s. O próprio Bernard,<br />

estrela da geração medalha de prata em Los<br />

Angeles, 1984, atestou: “Está tu<strong>do</strong> perfeito. O<br />

Brasil conta, agora, com uma estrutura moderna<br />

que não deixa nada a desejar a nenhum<br />

ginásio <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”. Na reinauguração, em 30<br />

de junho de 2007, o atleta repetiu o saque “jornada<br />

nas estrelas” durante os intervalos da<br />

partida de vôlei feminino entre Brasil e Sérvia,<br />

vencida pelas brasileiras por 3 sets a 1.<br />

O novo piso da arena principal, construí<strong>do</strong><br />

com alta tecnologia, possui um sistema flutuante<br />

em madeira maciça flexível com amortece<strong>do</strong>res<br />

para absorver impactos – estes dispositivos<br />

são diferencia<strong>do</strong>s para áreas sujeitas<br />

às maiores concentrações de carga (garrafão<br />

no basquete e linha de 3 metros no vôlei).<br />

O placar eletrônico pesa 1.800 quilos e foi monta<strong>do</strong><br />

com peças importadas da China e <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Na quadra, o assoalho tem<br />

elevada resistência a desgastes, com brilho<br />

defini<strong>do</strong> para diminuir o reflexo da luz e realçar<br />

a demarcação das linhas para partidas de<br />

futebol de salão, vôlei, basquete e handebol,<br />

seguin<strong>do</strong> as normas das federações esportivas<br />

destas modalidades. Iluminação, acústica<br />

e ar-condiciona<strong>do</strong> foram planeja<strong>do</strong>s para garantir<br />

conforto e segurança ao público e aos<br />

atletas. Os equipamentos instala<strong>do</strong>s geram<br />

1.700 toneladas de refrigeração e asseguram<br />

temperatura constante, em torno de 24º C, que<br />

permite a alta performance <strong>do</strong>s joga<strong>do</strong>res e a<br />

comodidade <strong>do</strong> público.<br />

As obras de reforma <strong>do</strong> Maracanãzinho foram<br />

iniciadas em 2003, e a instalação foi a que<br />

mais sofreu com a falência da construtora Varca<br />

Scatena e a falta de recursos até 2006. O<br />

ginásio foi, dentro <strong>do</strong> Complexo, a instalação<br />

que teve o cronograma mais defasa<strong>do</strong>. Em janeiro<br />

de 2007, menos de 10% da reforma havia<br />

si<strong>do</strong> executada. Só com a assinatura de <strong>do</strong>is<br />

convênios com o governo federal (13/2007 e<br />

48/2007) foi possível finalizá-la. “O desafio<br />

maior <strong>do</strong> governo estadual foi o Maracanãzinho.<br />

Havia um bom volume de obra para ser<br />

feito em to<strong>do</strong> o Complexo <strong>do</strong> Maracanã e que<br />

cabia no cronograma, porém faltava dinheiro<br />

para pagar as contas. Em janeiro de 2007 já se<br />

estudavam outras alternativas para abrigar o<br />

vôlei”, conta o ex-secretário estadual de Turismo,<br />

<strong>Esporte</strong> e Lazer Eduar<strong>do</strong> Paes, que assumiu<br />

naquele mês e deixou o governo em junho<br />

de 2008.<br />

Com a verba da União, foram instala<strong>do</strong>s o<br />

sistema de ar condiciona<strong>do</strong> central, o placar<br />

eletrônico, quatro placares auxiliares e 6,3 mil<br />

cadeiras retráteis, entre outros equipamentos.<br />

Por fim, o resulta<strong>do</strong> agra<strong>do</strong>u a gregos e troianos:<br />

“Não esperávamos encontrar algo assim<br />

no Brasil. É um espaço com qualidade comparável<br />

à <strong>do</strong>s melhores ginásios da Europa. O<br />

Maracanãzinho será um convite para que equipes<br />

internacionais venham jogar no Brasil”, resume<br />

a ponta-de-rede Paula Pequeno.<br />

177


Parque Aquático Júlio Delamare<br />

C<br />

onstruí<strong>do</strong> em 1978 ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Estádio<br />

Mário Filho e reforma<strong>do</strong> especialmente<br />

para os Jogos Panamericanos<br />

Rio 2007, o Parque<br />

Aquático Júlio Delamare, um <strong>do</strong>s maiores <strong>do</strong><br />

gênero da América Latina, foi a primeira instalação<br />

a ser reinaugurada para os Jogos, em<br />

2006. O parque leva o nome de um jornalista<br />

esportivo morto em 1973, grande incentiva<strong>do</strong>r<br />

de sua construção, e possui uma piscina olímpica<br />

para competição, uma coberta para aquecimento<br />

e um tanque para saltos com profundidade<br />

de cinco metros.<br />

Grandes nomes da natação brasileira começaram<br />

sua carreira no Delamare, como Fernan<strong>do</strong><br />

Scherer, o “Xuxa”, e Gustavo Borges. Para os<br />

Jogos, as arquibancadas receberam assentos<br />

plásticos. Visan<strong>do</strong> a prática <strong>do</strong> esporte, o governo<br />

federal ainda importou 800 bolas e 8 travas<br />

antimarola. “Foi uma boa instalação para o<br />

pólo aquático, sen<strong>do</strong> muito positivo que todas<br />

as partidas tenham si<strong>do</strong> disputadas no mesmo<br />

local. No entanto, a iluminação não era ótima<br />

e, ao entardecer, a visibilidade não foi perfeita.<br />

Não obstante, isso foi supera<strong>do</strong> pela incrível<br />

torcida que lotou a instalação”, diz Guillermo<br />

Martínez, cubano, delega<strong>do</strong>-técnico indica<strong>do</strong><br />

pela Federação Internacional de Natação (Fina).<br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

PÓLO AQUÁTICO<br />

O esporte pode ser considera<strong>do</strong> uma versão<br />

aquática <strong>do</strong> futebol, com <strong>do</strong>is times de sete<br />

joga<strong>do</strong>res, entre eles um goleiro, que se<br />

enfrentam numa piscina, onde disputam a<br />

bola sem poder tocar os pés no chão ou a<br />

mão na borda. Ganha a equipe que marcar<br />

mais gols, em quatro quartos de sete<br />

minutos cada.<br />

As arquibancadas <strong>do</strong><br />

parque receberam novos<br />

assentos para o Pan<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

178


Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

O belo clube recebeu<br />

estruturas temporárias<br />

financiadas pelo<br />

Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Foto: Donald Miralle / Getty Images<br />

Clube <strong>do</strong>s Caiçaras<br />

Ú<br />

ltima instalação acrescentada ao<br />

programa <strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos,<br />

o Clube <strong>do</strong>s Caiçaras serviu<br />

de apoio às operações para a<br />

disputa <strong>do</strong> esqui aquático, realizada na própria<br />

Lagoa Rodrigo de Freitas. Uma estrutura temporária<br />

dentro <strong>do</strong> clube particular, custeada<br />

pelo governo estadual por meio de repasse <strong>do</strong><br />

Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, continha basicamente<br />

tendas de arbitragens e cronometragem, banheiros<br />

químicos e instalações elétricas.<br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

ESQUI AQUÁTICO<br />

Slalom, salto de rampa e truques são<br />

as três principais provas <strong>do</strong> esporte.<br />

Na primeira, o atleta usa os <strong>do</strong>is pés<br />

sobre um esqui, liga<strong>do</strong> por uma corda à<br />

lancha, e completa um percurso na água<br />

delimita<strong>do</strong> por bóias. A corda é reduzida a<br />

cada bóia ultrapassada. Vence aquele que<br />

completar mais bóias com a menor corda.<br />

Na categoria truques, o competi<strong>do</strong>r tem<br />

duas séries de 20 segun<strong>do</strong>s para executar<br />

manobras que valem pontos. No salto<br />

sobre rampa são utiliza<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is esquis,<br />

e vence quem saltar mais longe e ainda<br />

continuar esquian<strong>do</strong> após a queda. As<br />

categorias também podem ser realizadas<br />

na modalidade descalço, ou seja, sem<br />

esquis. Há ainda o wakeboard, inspira<strong>do</strong><br />

no surfe e no skate, com pranchas<br />

parecidas com as de snowboard.<br />

179


MODALIDADES DISPUTADAS<br />

Reformas no estádio<br />

incluíram a dragagem<br />

de parte da Lagoa<br />

Rodrigo de Freitas<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

REMO<br />

Neste esporte, rema<strong>do</strong>res, com um<br />

remo em cada mão, competem dividi<strong>do</strong>s<br />

por raias, em águas calmas. Ganha o<br />

barco que cumprir em menor tempo a<br />

distância, em linha reta, de 2 quilômetros.<br />

As embarcações podem ter um, <strong>do</strong>is,<br />

quatro ou oito componentes, além <strong>do</strong><br />

timoneiro, integrante responsável por<br />

orientar a equipe. Há disputas femininas<br />

e masculinas.<br />

CANOAGEM<br />

A modalidade é disputada em Panamericanos<br />

desde 1967 e consiste na<br />

disputa em canoa e caiaque, em águas<br />

calmas (para canoagem de velocidade) e<br />

turbulentas (para canoagem slalom). No<br />

Rio 2007, somente a primeira categoria foi<br />

disputada. Nela, um, <strong>do</strong>is ou quatro atletas<br />

conduzem barcos separa<strong>do</strong>s por raias nas<br />

distâncias de 500 metros e 1.000 metros.<br />

Os competi<strong>do</strong>res, apoia<strong>do</strong>s em um joelho,<br />

usam barcos abertos e com remos com<br />

lâmina em apenas um la<strong>do</strong>.<br />

180


Estádio de Remo da Lagoa<br />

A<br />

ssim como a reforma <strong>do</strong> Maracanãzinho,<br />

as obras no Estádio de<br />

Remo da Lagoa só entraram em<br />

ritmo acelera<strong>do</strong> com a mudança de<br />

mandato no governo estadual, em janeiro de<br />

2007. No plano original, a empresa Glen, que<br />

recebeu <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> a concessão da área em<br />

1996, faria obras de reforma e poderia explorar<br />

o local como complexo de lazer, com cinema,<br />

restaurantes e lojas. No entanto, disputas judiciais<br />

entre a empresa e grupos contrários ao<br />

uso da área para atividades de lazer geraram<br />

sucessivos embargos na Justiça.<br />

Já em 2007, a Procura<strong>do</strong>ria Geral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

obteve um acor<strong>do</strong> para que as obras de<br />

adequação aos Jogos fossem autorizadas.<br />

Com isso, a Glen fez a reforma <strong>do</strong>s blocos I<br />

(arquibancadas, calçadão, estacionamento, ciclovia,<br />

iluminação, torre de juízes e banheiros<br />

para o público) e III (terraço utiliza<strong>do</strong> para garagens<br />

de barcos), além de participar <strong>do</strong> custeio<br />

da instalação. A Empresa de Obras Públicas<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> (Emop) executou a construção <strong>do</strong><br />

bloco II. Ainda assim, as obras no local, que é<br />

tomba<strong>do</strong>, sofreram embargo de 15 dias pelo<br />

Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico<br />

Nacional (Iphan), por causa de atraso na entrega<br />

de <strong>do</strong>cumentação que regularizava o andamento<br />

<strong>do</strong>s trabalhos.<br />

As intervenções para o remo e a canoagem<br />

incluíram a dragagem <strong>do</strong> perímetro da Lagoa<br />

que foi utiliza<strong>do</strong> durante as competições. A<br />

nova raia tem <strong>do</strong>is quilômetros de extensão,<br />

108 metros de largura e 3,1 metros de profundidade,<br />

dentro das medidas exigidas pelas<br />

normas internacionais de remo e canoagem.<br />

Foram adquiridas raias Albano com parti<strong>do</strong>res<br />

automáticos e cronometragem eletrônica,<br />

importadas da Hungria – o mesmo modelo<br />

utiliza<strong>do</strong> com sucesso nas Olimpíadas de Atenas<br />

2004 e que também foi usa<strong>do</strong> nos Jogos<br />

de Pequim 2008. Além disso, houve compra<br />

de <strong>do</strong>is catamarãs e cinco barcos para juízes<br />

de prova e instalação de mais 19 deques e<br />

píeres. Para as disputas de remo e canoagem<br />

nos Jogos, o governo federal importou 38<br />

barcos, 278 remos, 20 simula<strong>do</strong>res, 25 canoas<br />

e 52 caiaques.<br />

Durante o Rio 2007, o Estádio de Remo sofreu<br />

problemas na montagem de instalações provisórias,<br />

que não resistiram a ventanias mais<br />

fortes. No entanto, não houve prejuízo para a<br />

competição porque o incidente se deu num intervalo<br />

entre as provas de remo e canoagem.<br />

O estádio foi uma das instalações que contaram<br />

com evento-teste. Programa<strong>do</strong> inicialmente<br />

para outubro de 2006, foi disputa<strong>do</strong> em<br />

abril de 2007.<br />

A nova raia tem<br />

<strong>do</strong>is quilômetros<br />

de extensão e 108<br />

metros de largura<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

181


Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />

Instalação a cargo <strong>do</strong> setor priva<strong>do</strong><br />

182


Barra Bowling<br />

A<br />

s pequenas adaptações para os Jogos<br />

Pan-americanos feitas no Barra<br />

Bowling, um centro de boliche priva<strong>do</strong>,<br />

foram custeadas pelo próprio<br />

administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> espaço. O local conta com<br />

20 modernas pistas para a prática <strong>do</strong> esporte,<br />

de acor<strong>do</strong> com as normas estabelecidas pela<br />

federação internacional, além de restaurante,<br />

bar e outros serviços.<br />

A instalação fica dentro <strong>do</strong> maior shopping da<br />

cidade, o BarraShopping, muito próxima à Vila<br />

Pan-americana, o que facilitou a mobilidade e<br />

a segurança <strong>do</strong>s atletas. Porém, devi<strong>do</strong> à pequena<br />

área para especta<strong>do</strong>res, no Barra Bowling<br />

as competições não permitiram acesso<br />

de público, apenas de credencia<strong>do</strong>s.<br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

Barra Bowling:<br />

20 modernas<br />

pistas reformadas<br />

pelo próprio<br />

administra<strong>do</strong>r<br />

priva<strong>do</strong><br />

BOLICHE<br />

O objetivo <strong>do</strong> joga<strong>do</strong>r é derrubar o maior<br />

número de pinos em cinco lances. A bola<br />

deve correr pela pista sem cair no espaço<br />

das laterais, as canaletas. O atleta deve<br />

arremessar a bola sem ultrapassar a<br />

linha de falta, no início da pista, para não<br />

invalidar o lance. Cada jogada permite<br />

que o atleta atire a bola duas vezes. Se<br />

derrubar to<strong>do</strong>s os dez pinos na primeira<br />

tentativa, terá feito o chama<strong>do</strong> “strike”,<br />

que duplica os pontos da próxima jogada,<br />

e não precisa de mais um arremesso. Se<br />

to<strong>do</strong>s os pinos forem derruba<strong>do</strong>s nas<br />

duas jogadas, o competi<strong>do</strong>r terá feito um<br />

“spare”, e os pontos marca<strong>do</strong>s no primeiro<br />

arremesso serão duplica<strong>do</strong>s também.<br />

Vence o joga<strong>do</strong>r que fi zer mais pontos.<br />

183


Instalações sob responsabilidade da prefeitura <strong>do</strong> Rio<br />

Estádio João Havelange<br />

Formas imponentes e cobertura metálica<br />

Foto: Roberto Rosa / Odebrecht<br />

184


MODALIDADES DISPUTADAS<br />

FUTEBOL<br />

O Engenhão e o Maracanã abrigaram as<br />

principais partidas da modalidade nos<br />

Jogos Pan-americanos.<br />

ATLETISMO<br />

A história deste esporte se confunde com<br />

a própria história <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos.<br />

Centenas de anos antes de Cristo, o homem<br />

já disputava corridas, saltos e arremessos.<br />

Hoje, o atletismo se des<strong>do</strong>brou em provas de<br />

pista (de velocidade, meia e longa distância,<br />

revezamento, com barreiras e obstáculos),<br />

de salto (em distância, em altura, triplo e<br />

com vara), de arremesso (de peso, de disco,<br />

de dar<strong>do</strong> e de martelo), de rua (maratonas e<br />

marchas) e combina<strong>do</strong> (heptatlo e decatlo).<br />

185


186


Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

O<br />

imponente estádio de forma ovalada<br />

e cobertura metálica suspensa<br />

em um conjunto de quatro<br />

grandes arcos tubulares de aço,<br />

com <strong>do</strong>is metros de diâmetro cada, surpreende<br />

pela beleza plástica e grandiosidade. O<br />

Estádio Olímpico João Havelange, hoje mais<br />

conheci<strong>do</strong> como Engenhão, nasceu junto com<br />

a idéia de se fazer <strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos<br />

Rio 2007 o melhor Pan da história. Quan<strong>do</strong> se<br />

optou por conferir nível internacional às instalações,<br />

a prefeitura aban<strong>do</strong>nou o projeto original<br />

de um estádio de atletismo para 10 mil<br />

pessoas no Autódromo de Jacarepaguá. Decidiu<br />

erguer uma arena para 45 mil pessoas, em<br />

Engenho de Dentro, bairro da zona norte da<br />

cidade. A escolha <strong>do</strong> local se justifica porque<br />

levou o evento esportivo mais importante das<br />

Américas a uma área carente de investimentos<br />

públicos. Além disso, o estádio está próximo<br />

à Linha Amarela, importante eixo viário <strong>do</strong> Rio<br />

de Janeiro, e a poucos metros da rede urbana<br />

de trens. Uma passarela liga diretamente a estação<br />

Engenho de Dentro ao Engenhão. “Valeu<br />

a pena construir ali porque revitalizamos a<br />

região”, explica o ex-secretário municipal de<br />

Obras Eider Dantas.<br />

A cobertura<br />

metálica de 4,2 mil<br />

toneladas: obra<br />

recebeu elogios<br />

em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong><br />

Inicia<strong>do</strong> em 1995, quan<strong>do</strong> o local de construção<br />

ainda não estava defini<strong>do</strong>, o projeto contemplava<br />

apenas a prática <strong>do</strong> futebol. Mais<br />

tarde, quan<strong>do</strong> o Rio de Janeiro lançou a candidatura<br />

às Olimpíadas de 2004, os arquitetos<br />

Carlos Porto, Gilson Lopes, José Ferreira<br />

Gomes e Geral<strong>do</strong> Lopes acrescentaram uma<br />

pista de atletismo. A principal inspiração e influência<br />

estética <strong>do</strong> grupo para a criação <strong>do</strong><br />

Engenhão foi um projeto de Oscar Niemeyer<br />

para o Estádio Mário Filho, o Maracanã. Em<br />

1941, Niemeyer participou de Concurso Público<br />

para o Estádio Nacional, mas perdeu.<br />

Impressiona no desenho <strong>do</strong> arquiteto para o<br />

“Maraca” o grande e único arco de concreto<br />

que sustenta, por cabos, o balanço da cobertura.<br />

“Eu tinha muito forte na cabeça o projeto<br />

<strong>do</strong> Oscar. O Engenhão tem uma cara lúdica,<br />

de movimento. Traduz na leveza da cobertura<br />

a dinâmica <strong>do</strong> esporte”, conta Carlos Porto. Ao<br />

la<strong>do</strong> de Paulo Casé, Porto e Gilson foram tam-<br />

187


ém responsáveis pelo projeto das três instalações<br />

da Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s: Arena Olímpica,<br />

Parque Aquático Maria Lenk e Velódromo<br />

da Barra. “As quatro instalações têm bases<br />

sólidas e coberturas suspensas, leves, sobre a<br />

estrutura”, explica Porto.<br />

Fases da construção e,<br />

na foto 4, o estádio com a<br />

pista externa no mesmo<br />

senti<strong>do</strong> da interna<br />

O estádio, construí<strong>do</strong> com blocos de concreto<br />

pré-molda<strong>do</strong> de até 80 toneladas, pode ser<br />

amplia<strong>do</strong> de 45 mil para 60 mil lugares, para<br />

uso durante a Copa de 2014 ou em Olimpíada.<br />

Em função de já ter as fundações e a cobertura<br />

prontas, o custo de adequações para eventos<br />

maiores será bastante reduzi<strong>do</strong>. Possui quatro<br />

saídas, e o tempo de esvaziamento é de aproximadamente<br />

dez minutos. O terreno ganhou<br />

ainda um edifício-garagem com 1,6 mil vagas<br />

e uma pista de atletismo de aquecimento, bastante<br />

elogiada pela Associação Internacional<br />

das Federações de Atletismo (Iaaf). A estrutura<br />

ocupa 47% da área <strong>do</strong> terreno e foi projetada<br />

em seis níveis principais. Os quatro setores <strong>do</strong><br />

estádio podem ser acessa<strong>do</strong>s por quatro conjuntos<br />

de rampas independentes, o que permite<br />

controle das torcidas.<br />

O custo estima<strong>do</strong> para a construção <strong>do</strong> estádio<br />

de atletismo, para 10 mil pessoas –, no<br />

<strong>do</strong>ssiê revisa<strong>do</strong> em fevereiro de 2003, era de<br />

R$ 76 milhões. Na Matriz de Responsabilidades,<br />

de fevereiro de 2007, já com a inclusão<br />

das mudanças <strong>do</strong> projeto que ampliou sua capacidade<br />

de público e a capacidade para abrigar<br />

outras modalidades esportivas, passou<br />

para R$ 316 milhões de reais. Ao final, fechou<br />

em R$ 318,357 milhões. A maior parte <strong>do</strong> terreno<br />

pertencia à Rede Ferroviária Federal (RFF-<br />

SA) e estava avaliada em R$ 400 mil quan<strong>do</strong><br />

foi cedida à prefeitura. A pedra fundamental<br />

foi lançada em dezembro de 2003 e a obra,<br />

concluída em junho de 2007. Como em muitas<br />

construções <strong>do</strong>s Jogos, houve atrasos, em<br />

função da necessidade da retirada de vagões<br />

de trem aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s no local, a remoção <strong>do</strong><br />

Museu <strong>do</strong> Trem e o remanejamento de uma<br />

antiga adutora, com 80 centímetros de diâmetro<br />

e 900 metros de extensão, que atravessava<br />

o terreno, passan<strong>do</strong> por baixo <strong>do</strong> local em que<br />

ficaria o campo de futebol. A nova adutora, em<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

188


tubos de ferro fundi<strong>do</strong>, foi implantada no subsolo<br />

das ruas <strong>do</strong> entorno <strong>do</strong> estádio.<br />

A cobertura metálica <strong>do</strong> estádio, de 4,2 mil toneladas,<br />

foi executada por empreiteiras brasileiras,<br />

mas supervisionada por uma empresa<br />

portuguesa que já havia participa<strong>do</strong> da construção<br />

<strong>do</strong> Estádio da Luz, em Lisboa. A idéia<br />

é de quatro arcos metálicos que sustentam<br />

uma cobertura circular, também metálica, que<br />

por sua vez envolve todas as arquibancadas.<br />

A pista de atletismo, de 8.316 metros quadra<strong>do</strong>s,<br />

teve de ser adquirida duas vezes, de acor<strong>do</strong><br />

com o prefeito César Maia. “Compramos<br />

a pista e a federação internacional nos comunicou<br />

que havia uma melhor. Compramos<br />

outra e instalamos a anterior na Vila Olímpica<br />

de Mato Alto”, conta. Nas instalações <strong>do</strong> João<br />

Havelange foram registra<strong>do</strong>s pequenos incidentes,<br />

como a queda de um muro pouco antes<br />

<strong>do</strong> início <strong>do</strong> Parapan e de uma tenda de<br />

overlay sobre um carro, ainda durante os Jogos<br />

Pan-americanos. Após o evento, o estádio<br />

foi arrenda<strong>do</strong> por 20 anos para um consórcio<br />

forma<strong>do</strong> pelo Botafogo de Futebol e Regatas e<br />

<strong>do</strong>is parceiros estrangeiros e tem si<strong>do</strong> usa<strong>do</strong><br />

para partidas de futebol, o que assegura administração<br />

permanente e uso contínuo e isenta<br />

o poder público <strong>do</strong>s custos de manutenção.<br />

César Moreno, delega<strong>do</strong> técnico da Iaaf nos<br />

Jogos Pan-americanos Rio 2007 e Olímpicos<br />

de Atenas 2004 e Pequim 2008, compara o<br />

Engenhão aos estádios usa<strong>do</strong>s nos últimos<br />

quatro Pan-americanos e afirma: “Este foi<br />

o melhor. O <strong>do</strong> Canadá era muito velho, não<br />

se ajustava às normas de que precisávamos.<br />

Exatamente o contrário aconteceu em Santo<br />

Domingo: o estádio não estava pronto quan<strong>do</strong><br />

começaram os Jogos. Em Mar del Plata,<br />

era muito pequeno e ficou pronto no início <strong>do</strong><br />

evento. No Brasil, estava termina<strong>do</strong> e é de padrão<br />

internacional. É uma instalação de primeiro<br />

nível”. Em dezembro de 2007, a revista Sport<br />

Business International destacou a arquitetura<br />

“incomum” <strong>do</strong> Engenhão e elegeu o estádio<br />

como uma das 10 melhores instalações esportivas<br />

inauguradas em 2007, em quesitos que<br />

vão de design inova<strong>do</strong>r à funcionalidade.<br />

O prédio administrativo <strong>do</strong><br />

estádio (no alto) e detalhes<br />

<strong>do</strong>s vestiários, entre eles o<br />

símbolo <strong>do</strong> Pan nas torneiras<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

189


Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s<br />

O<br />

complexo Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s,<br />

construí<strong>do</strong> na área <strong>do</strong> Autódromo<br />

Nelson Piquet, em Jacarepaguá,<br />

compreende algumas das instalações<br />

mais elogiadas por atletas e público<br />

nos Jogos Pan e Parapan-americanos, onde<br />

foram disputadas oito modalidades. A participação<br />

<strong>do</strong> governo federal foi determinante<br />

para viabilizar o conjunto. Do custo final de<br />

R$ 84,9 milhões <strong>do</strong> Parque Aquático Maria<br />

Lenk, R$ 60 milhões foram repassa<strong>do</strong>s pelo<br />

Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> à prefeitura em forma<br />

de convênio. A construção <strong>do</strong> Velódromo, ao<br />

custo final de R$ 14,1 milhões, também teve<br />

aporte federal para a importação da pista,<br />

por meio de convênio com o Comitê Olímpico<br />

Brasileiro no valor de R$ 2,1 milhões. Vale<br />

mencionar que no plano original <strong>do</strong>s Jogos o<br />

Velódromo seria provisório, mas, em virtude<br />

de o País não contar com instalação desse<br />

nível para o ciclismo, optou-se por construí-lo<br />

em definitivo. Soman<strong>do</strong>-se ao custo da Arena<br />

Olímpica – de R$ 127,4 milhões –, no total,<br />

a Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s custou R$ 233,2<br />

milhões, contra R$ 113 milhões previstos no<br />

<strong>do</strong>ssiê revisa<strong>do</strong> em fevereiro de 2003 e R$<br />

204 milhões na Matriz de Responsabilidades,<br />

quatro anos depois.<br />

A intenção inicial da prefeitura era de que o<br />

consórcio Rio Sport Plaza, vence<strong>do</strong>r de licitação<br />

em sistema de concessão feita em<br />

2004, erguesse o conjunto de instalações e,<br />

em troca, ganhasse o direito de explorar o<br />

local por 50 anos – renováveis por mais 50.<br />

Entre os compromissos assumi<strong>do</strong>s pelo<br />

consórcio, estava também o de construção<br />

de um novo autódromo no município, em<br />

substituição àquele que seria transforma<strong>do</strong><br />

em Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s. No entanto, o<br />

grupo forma<strong>do</strong> pelas empresas Odebrecht,<br />

Camargo Corrêa, Logos Engenharia e Rio Sport<br />

Plaza Gerenciamento, depois de anunciar investimentos<br />

de R$ 450 milhões, desistiu da<br />

obra, em novembro de 2005. “Chegaram a<br />

O Maria Lenk, em primeiro<br />

plano, a Arena e o Velódromo<br />

ao fun<strong>do</strong>: distância entre eles<br />

preserva traça<strong>do</strong> original <strong>do</strong><br />

Autódromo de Jacarepaguá<br />

fazer uma apresentação para a Odepa, mas<br />

quatro ou cinco meses depois aban<strong>do</strong>naram<br />

o barco”, diz o prefeito César Maia.<br />

Sem a participação da iniciativa privada, o poder<br />

público arcou com a construção de to<strong>do</strong><br />

o complexo. Para isso, foram feitas novas licitações<br />

para cada uma das instalações em<br />

2006, ano em que as obras começaram: a<br />

Arena Olímpica, em abril; o Parque Aquático<br />

Maria Lenk, em maio; e o Velódromo, em novembro.<br />

Como a prefeitura não dispunha de<br />

recursos para a totalidade das obras, em ja-<br />

190


Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

neiro de 2006 o prefeito César Maia pediu a<br />

colaboração <strong>do</strong> governo federal em audiência<br />

da qual participaram a ministra-chefe da Casa<br />

Civil, Dilma Rousseff, e os então ministros <strong>do</strong><br />

<strong>Esporte</strong>, Agnelo Queiroz, e da Fazenda, Antonio<br />

Palloci. A União assegurou repasse para a<br />

construção <strong>do</strong> Parque Aquático Maria Lenk e a<br />

importação da pista <strong>do</strong> velódromo. E, ao final,<br />

o complexo Cidade <strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s ficou como<br />

lega<strong>do</strong> para a cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro.<br />

E para o País também, é preciso dizer, já que<br />

o velódromo, por exemplo, que nos planos iniciais<br />

seria uma instalação temporária, hoje não<br />

só é permanente como é o único no Brasil capaz<br />

de sediar competições internacionais. Antes<br />

de escolher o consórcio Rio Sport Plaza, a<br />

prefeitura enfrentou a oposição de entidades<br />

ligadas à Confederação Brasileira de Automobilismo,<br />

que temiam a descaracterização <strong>do</strong><br />

Autódromo Nelson Piquet. O projeto original,<br />

no qual as instalações estavam mais próximas<br />

umas das outras, teve de ser altera<strong>do</strong> para<br />

preservar o traça<strong>do</strong> da pista <strong>do</strong> autódromo.<br />

Além disso, a prefeitura se comprometeu a revitalizar<br />

o local.<br />

191


Arena Olímpica <strong>do</strong> Rio<br />

B<br />

atizada inicialmente de Arena Multiuso,<br />

a Arena Olímpica <strong>do</strong> Rio é um<br />

<strong>do</strong>s três únicos ginásios climatiza<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> Brasil. Os outros são o Maracanãzinho<br />

e o Complexo Miécimo da Silva,<br />

também utiliza<strong>do</strong>s nos Jogos Pan-americanos.<br />

O alto nível da Arena, que se tornou referência<br />

no gênero para a América Latina, surpreendeu<br />

brasileiros e estrangeiros, especialmente encanta<strong>do</strong>s<br />

com inovações como as arquibancadas<br />

retráteis, que permitem a variação de público<br />

entre 12 mil e 15 mil pessoas. O ginásio<br />

foi escolhi<strong>do</strong> para a cerimônia de abertura <strong>do</strong>s<br />

Jogos Parapan-americanos, e mostrou que<br />

pode ser usa<strong>do</strong> para fins diversos. Em setembro<br />

de 2007, a Arena abrigou o Campeonato<br />

Mundial de Judô. Logo depois, foi arrendada<br />

pela empresa GL Events, até 2016, e já foi palco<br />

de shows musicais. “A Arena é de primeiro<br />

mun<strong>do</strong>. A estrutura <strong>do</strong> Pan <strong>do</strong> Rio não deixou<br />

nada a desejar em relação a outras competições<br />

internacionais das quais já participei na<br />

Europa, Ásia e América Central”, atesta Diego<br />

Hypolito, bicampeão mundial na ginástica artística<br />

e ganha<strong>do</strong>r de duas medalhas de ouro<br />

nos Jogos Pan-americanos Rio 2007.<br />

MODALIDADES DISPUTADAS<br />

GINÁSTICA ARTÍSTICA<br />

Em competições individuais ou por<br />

equipes, este esporte compreende seis<br />

provas para homens (salto, cavalo, argolas,<br />

barra fixa, paralelas e solo) e quatro para<br />

mulheres (salto, traves, paralelas e solo).<br />

Juízes atribuem notas à execução e aos<br />

movimentos. Quan<strong>do</strong> o atleta incorpora<br />

outros elementos além <strong>do</strong>s obrigatórios,<br />

pode ganhar pontos extras.<br />

BASQUETE<br />

Inventa<strong>do</strong> no Canadá, em 1891, o basquete<br />

é disputa<strong>do</strong> por duas equipes de cinco<br />

joga<strong>do</strong>res, que buscam obter o maior<br />

número de pontos ao fazer a bola passar<br />

pela cesta adversária: tiros livres valem um<br />

ponto, arremessos de pequena e média<br />

distância valem <strong>do</strong>is, e arremessos de longa<br />

distância, três pontos. As partidas têm<br />

duração de 40 minutos.<br />

PLANTA DA<br />

ARENA OLÍMPICA<br />

192


A Arena em três<br />

momentos: em<br />

construção (detalhe),<br />

no basquete e abaixo,<br />

com as cadeiras<br />

retráteis recolhidas<br />

para dar espaço<br />

à ginástica (setas)<br />

Fotos: Alex Ferro / CO-Rio<br />

Foto: Bruno Carvalho / ME<br />

193


Parque Aquático<br />

Maria Lenk<br />

Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />

194


MODALIDADES DISPUTADAS<br />

NATAÇÃO<br />

Em piscinas olímpicas, de 50m e<br />

oito raias, os nada<strong>do</strong>res disputam<br />

provas individuais e de revezamento,<br />

nas modalidades livre, peito, costas<br />

e borboleta. Os percursos a serem<br />

completa<strong>do</strong>s variam de 50m a<br />

1.500m. Para vencer, é preciso passar<br />

por eliminatórias, semifinais e finais.<br />

NADO SINCRONIZADO<br />

Disputa<strong>do</strong> pela primeira vez em Pan-<br />

Americanos em 1955, este esporte é<br />

um <strong>do</strong>s poucos restritos a mulheres.<br />

As competições de elementos<br />

obrigatórios e livres são em solos,<br />

duetos ou equipes de oito, e avaliadas<br />

por juízes que dão notas para técnica<br />

e criatividade.<br />

SALTOS ORNAMENTAIS<br />

Atletas realizam acrobacias no ar,<br />

saltan<strong>do</strong> de plataformas de 10m ou<br />

trampolins de 3m para depois entrar<br />

na água suavemente e com elegância.<br />

Conforto, segurança<br />

e beleza na instalação<br />

que entrou para a<br />

história da natação<br />

sul-americana<br />

195


PLANTA DO PARQUE AQUÁTICO MARIA LENK<br />

C<br />

onstruí<strong>do</strong> especialmente para os<br />

Jogos Pan-americanos, o Maria<br />

Lenk – cujo nome homenageia<br />

a primeira mulher sul-americana<br />

a competir em uma Olimpíada, em 1932 – é<br />

hoje a mais moderna instalação para esportes<br />

aquáticos de alto rendimento da América Latina.<br />

O Parque é parcialmente coberto e composto<br />

por duas piscinas olímpicas, uma para<br />

competições e outra para aquecimento, e um<br />

tanque de saltos ornamentais com até 30 metros<br />

de profundidade. A iluminação e o sistema<br />

de cronometragem são de última geração, e<br />

há bombas propulsoras para ajudar os atletas<br />

a emergir depois <strong>do</strong> salto. Nas arquibancadas,<br />

a cobertura e o isolamento térmico garantem o<br />

conforto <strong>do</strong> público. O governo federal investiu<br />

R$ 60 milhões em sua construção.<br />

Para os Jogos Parapan-americanos, foram<br />

necessárias adaptações temporárias, já que o<br />

Comitê Paraolímpico Internacional, em uma de<br />

suas últimas visitas de inspeção, demonstrou<br />

preocupação com a acessibilidade, principalmente<br />

na passagem <strong>do</strong>s atletas da piscina<br />

de aquecimento para a principal. O delega<strong>do</strong>-técnico<br />

indica<strong>do</strong> pela Federação Internacional<br />

de Natação (Fina), o cubano Guillermo<br />

Martínez, não poupou elogios ao Parque: “O<br />

Maria Lenk é, sem dúvida, um <strong>do</strong>s complexos<br />

aquáticos mais belos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e reúne to<strong>do</strong>s<br />

os requisitos para se organizar eventos deste<br />

tipo. Foi concebi<strong>do</strong> de forma muito prática,<br />

o que facilita a movimentação de atletas, oficiais<br />

e especta<strong>do</strong>res”. O presidente da Fina, o<br />

argelino Mustapha Larfaoui, concorda: “É um<br />

projeto fantástico. Trata-se de uma excelente<br />

oportunidade para os atletas e para a juventude<br />

brasileira”. O Maria Lenk entrou para a<br />

história da natação sul-americana depois da<br />

realização <strong>do</strong> Rio 2007, pois foi em sua piscina<br />

principal que o nada<strong>do</strong>r brasileiro Thiago<br />

Pereira bateu o recorde de medalhas de ouro<br />

em um Pan-americano: oito. Toda a equipe de<br />

natação brasileira deu seu show particular no<br />

Parque Aquático.<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

196


No fun<strong>do</strong> da piscina (em<br />

destaque), as saídas de ar que<br />

impulsionam o atleta de volta à<br />

tona. Na segunda foto, a bomba<br />

propulsora que gera o fluxo<br />

de ar. Em seguida, o eleva<strong>do</strong>r<br />

da plataforma e o parque em<br />

construção<br />

197


Velódromo da Barra<br />

Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />

198


O<br />

Velódromo é a única instalação <strong>do</strong><br />

gênero coberta no Brasil. A pista,<br />

também a única de pinho siberiano<br />

no País, foi importada da Holanda<br />

por meio de um convênio entre governo<br />

federal e o Comitê Olímpico Brasileiro, ao<br />

custo de R$ 2,1 milhões para a União. O pinho<br />

siberiano é um material de alta durabilidade e<br />

excelente acabamento, utiliza<strong>do</strong> nos principais<br />

equipamentos que servem a eventos esportivos<br />

internacionais <strong>do</strong> ciclismo. Na cobertura<br />

<strong>do</strong> Velódromo foram aplicadas telhas translúcidas,<br />

que fornecem maior incidência de luz<br />

natural por mais tempo e economizam energia.<br />

A instalação apresentou problemas apenas<br />

no evento-teste feito pela prefeitura, em 11<br />

de julho de 2007, quan<strong>do</strong> uma pequena parte<br />

<strong>do</strong> teto cedeu com o peso da chuva. Resolvi<strong>do</strong><br />

o problema, o funcionamento foi bom durante<br />

os Jogos. “As inclinações são perfeitas e a<br />

bicicleta se comporta muito bem nesta superfície.<br />

É realmente uma pista de altíssimo nível,<br />

de padrão internacional”, garante Maria Luisa<br />

Calle, colombiana, bronze no ciclismo de pista<br />

nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e ouro<br />

nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo<br />

2003 e <strong>do</strong> Rio 2007.<br />

MODALIDADES DISPUTADAS<br />

CICLISMO DE PISTA<br />

Em número de provas, o ciclismo de pista é<br />

a maior categoria <strong>do</strong> ciclismo (que pode ser<br />

disputa<strong>do</strong> ainda no BMX, estrada e mountain<br />

bike): reúne dez categorias diferentes, em<br />

individual e por equipes, de velocidade,<br />

contra o relógio e perseguição.<br />

A pista, de pinho<br />

siberiano, foi<br />

adquirida pelo<br />

governo federal<br />

PATINAÇÃO DE VELOCIDADE<br />

Também conheci<strong>do</strong> como corrida de<br />

patins, este esporte pode ser disputa<strong>do</strong><br />

individualmente ou em duplas, por homens<br />

e mulheres.<br />

199


PLANTA DO VELÓDROMO DA BARRA DA TIJUCA<br />

200


Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

201


MODALIDADES DISPUTADAS<br />

O Riocentro<br />

BOXE<br />

Sete séculos antes de Cristo, este<br />

esporte já era popular. Em Olimpíadas<br />

e Pan-americanos, as lutas se dão em<br />

três rounds de três minutos, com os<br />

atletas muni<strong>do</strong>s de luvas, sapatilhas e<br />

protetores bucais, genitais e de cabeça.<br />

Há 12 categorias, segun<strong>do</strong> o peso <strong>do</strong>s<br />

competi<strong>do</strong>res. O vence<strong>do</strong>r pode sair por<br />

nocaute ou pontos.<br />

LEVANTAMENTO DE PESO<br />

As 15 categorias, definidas pelo peso <strong>do</strong>s<br />

atletas, são disputadas em três provas.<br />

Em duas delas o competi<strong>do</strong>r deve colocar<br />

o peso acima da cabeça: no arranque,<br />

com um movimento, e no arremesso, com<br />

<strong>do</strong>is. A terceira prova é a soma <strong>do</strong>s pontos<br />

nas duas primeiras. Vence quem levantar<br />

mais peso.<br />

TAEKWONDO<br />

Há quatro categorias, definidas pelo<br />

peso <strong>do</strong>s atletas. Muni<strong>do</strong>s de protetores<br />

de cabeça, tórax e abdômen, tentam<br />

acertar chutes ou socos. Em lutas de três<br />

rounds de três minutos, pode-se vencer<br />

por nocaute ou pontos.<br />

GINÁSTICA DE TRAMPOLIM<br />

O ginasta salta de uma tela de nylon<br />

até atingir cerca de 6 metros de altura<br />

e executa 20 elementos técnicos.<br />

O vence<strong>do</strong>r é defini<strong>do</strong> por oito juízes.<br />

Foto: Divulgação / COB<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

O Riocentro abrigou <strong>do</strong>ze modalidades<br />

<strong>do</strong> Pan e quatro <strong>do</strong> Parapan em seus<br />

cinco pavilhões, e também comportou a<br />

instalação <strong>do</strong>s centros de Imprensa e de<br />

Televisão <strong>do</strong>s Jogos<br />

ESGRIMA<br />

Em combates individuais e por<br />

equipes, o atleta usa espada,<br />

florete e sabre e tenta tocar o<br />

adversário sem ser toca<strong>do</strong>. Fios<br />

e roupas liga<strong>do</strong>s a um sistema<br />

eletrônico contam os toques.<br />

Nas provas eliminatórias, ganha<br />

o atleta que der cinco toques<br />

no adversário ou ficar quatro<br />

minutos sem ser toca<strong>do</strong>. Nas<br />

semifinais e finais, o número de<br />

toques sobe para 15, e o tempo,<br />

para nove minutos.<br />

FUTSAL<br />

Este esporte nasceu na década de 40,<br />

em quadras de basquete da Associação<br />

Cristã de Moços, em São Paulo. Em<br />

1955, ocorreu o primeiro torneio da<br />

modalidade, no Rio. Em 2002, foi<br />

incluí<strong>do</strong> nos Jogos Sul-americanos<br />

realiza<strong>do</strong>s no Brasil e, em 2007, estreou<br />

em Pan-americanos. Versão <strong>do</strong> futebol<br />

jogada em quadra, as partidas de 40<br />

minutos são disputadas por equipes de<br />

cinco joga<strong>do</strong>res. Vence quem marcar<br />

mais gols. Até pouco tempo atrás era<br />

chama<strong>do</strong> de futebol de salão.<br />

202


C<br />

omposto de cinco pavilhões, o<br />

Riocentro foi sede de 12 modalidades<br />

esportivas nos Jogos Pan-<br />

Americanos e quatro no Parapan.<br />

No local também foram construí<strong>do</strong>s o Centro<br />

Principal de Imprensa (MPC) e o Centro Internacional<br />

de Transmissão (IBC). A prefeitura cedeu<br />

a exploração <strong>do</strong> Riocentro por 50 anos, em<br />

março de 2006, à empresa multinacional GL<br />

Events, que, em troca, executou obras de melhoria<br />

especialmente para o evento – instalação<br />

de ar-condiciona<strong>do</strong>, rede sem fio e câmeras de<br />

monitoramento e a construção de uma estação<br />

de tratamento de esgoto – e montou equipamentos<br />

provisórios para os Jogos.<br />

O custo estima<strong>do</strong> no <strong>do</strong>ssiê revisa<strong>do</strong> em fevereiro<br />

de 2003 era de R$ 29 milhões, e na<br />

Matriz de Responsabilidades, de fevereiro de<br />

2007, R$ 76,4 milhões. Ao final, ficou em R$<br />

90.185.804,20, incluin<strong>do</strong> estruturas de apoio,<br />

arca<strong>do</strong>s pela GL Events. Na fase de planejamento,<br />

o MPC e o IBC estavam previstos para<br />

funcionar no Pólo de Cine e Vídeo <strong>do</strong> Rio, também<br />

na Barra, mas ainda em novembro de<br />

2004 decidiu-se que ficariam no Riocentro, o<br />

que permitiu aos jornalistas trabalharem mais<br />

perto <strong>do</strong>s locais de disputa de grande parte<br />

das modalidades esportivas (detalhes mais<br />

adiante, neste capítulo).<br />

LUTAS<br />

Na greco-romana, o luta<strong>do</strong>r só usa<br />

braços e tronco. Na livre, o uso das<br />

pernas é permiti<strong>do</strong>. Se não houver<br />

imobilização na luta, ela é decidida por<br />

pontos.<br />

TÊNIS DE MESA<br />

Um ou <strong>do</strong>is atletas, separa<strong>do</strong>s numa<br />

mesa por uma rede, competem em<br />

sets de 11 pontos, rebaten<strong>do</strong> pequenas<br />

bolas com raquetes.<br />

JUDÔ<br />

Luta<strong>do</strong>res usam a força para derrubar o<br />

adversário, sem chutar ou socar. A vitória<br />

pode se dar com golpes como o ippon,<br />

que derruba ou imobiliza o oponente.<br />

BADMINTON<br />

Dois atletas rebatem uma peteca,<br />

separa<strong>do</strong>s por uma rede de 1,55m <strong>do</strong> chão,<br />

em melhor-de-três sets de 21 pontos.<br />

HANDEBOL<br />

Duas equipes de seis atletas disputam<br />

partidas de 30 minutos cada e tentam<br />

marcar, com a mão, os gols.<br />

GINÁSTICA RÍTMICA<br />

Só mulheres disputam a modalidade,<br />

que possui elementos <strong>do</strong> balé. São<br />

utilza<strong>do</strong>s a fita, a corda, a bola e o arco.<br />

203


PLANTA DO RIOCENTRO<br />

Fotos: Divulgação / CO-Rio<br />

204


Fotos: Divulgação / CO-Rio<br />

Da esq. para a dir. em senti<strong>do</strong><br />

anti-horário, tênis de mesa,<br />

ginástica artística, esgrima,<br />

futsal, boxe e badminton<br />

205


Clube Marapendi<br />

Cinco novas quadras de saibro para o Pan<br />

Foto: Alex Ferro / CO-Rio<br />

206


O<br />

Clube Marapendi foi escolhi<strong>do</strong><br />

como sede das partidas de tênis<br />

por ser tradicionalmente usa<strong>do</strong><br />

para disputas da Copa Davis.<br />

Para os Jogos, foram construídas uma quadra<br />

central de saibro e outras quatro menores<br />

– duas de jogo e duas de aquecimento. O<br />

projeto <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r sofreu ajustes<br />

porque as quadras estavam na posição errada<br />

em relação ao sol. Houve ainda problemas<br />

judiciais causa<strong>do</strong>s por empresas que contestaram<br />

a licitação, concluída em fevereiro<br />

de 2007, para a escolha da responsável pela<br />

montagem da instalação. Além das quadras,<br />

foi construí<strong>do</strong> um novo acesso na rua interna<br />

para os atletas <strong>do</strong> Parapan, e os vestiários e<br />

alambra<strong>do</strong>s já existentes foram reforma<strong>do</strong>s.<br />

Toda a infra-estrutura temporária necessária<br />

foi implantada, incluin<strong>do</strong> banheiros químicos,<br />

tendas, mobiliário, comunicação visual (“Look<br />

of the games”) e instalações prediais. Durante<br />

os Jogos Pan-americanos, a operação no<br />

Marapendi ocorreu sem problemas, mas, nos<br />

últimos dias, a chuva ininterrupta na cidade<br />

causou adiamento de algumas partidas, algo<br />

que inclusive costuma ocorrer nas grandes<br />

competições mundiais de tênis. A final <strong>do</strong> torneio<br />

de simples masculina teve de ser transferida<br />

para uma quadra fechada, em um clube<br />

particular próximo.<br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

TÊNIS<br />

Pode ser individual ou em duplas, e os<br />

atletas, cada um de um la<strong>do</strong> da quadra<br />

dividida por uma rede baixa, usam raquetes<br />

para jogar a bola de um la<strong>do</strong> a outro – cada<br />

vez que ultrapassa a rede, a bola só pode<br />

quicar no chão uma vez. O objetivo <strong>do</strong>s<br />

joga<strong>do</strong>res, em partidas de melhor de três ou<br />

cinco sets, é evitar que o adversário consiga<br />

rebater a bolinha. Há diferentes tipos de piso<br />

para a prática <strong>do</strong> esporte: grama, saibro,<br />

cimento, sintético e carpete.<br />

207


Marina da Glória<br />

Marina: disputa judicial<br />

superada para dar todas as<br />

condições aos veleja<strong>do</strong>res<br />

208


D<br />

esde 1999, a prefeitura já alimentava<br />

o sonho de construir um centro<br />

náutico na Marina da Glória, mas<br />

nunca obteve autorização <strong>do</strong> Instituto<br />

<strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional<br />

(Iphan). Com a inclusão <strong>do</strong> local no programa<br />

<strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos Rio 2007, o poder<br />

público municipal retomou o projeto e, em<br />

agosto de 2005, prorrogou por 50 anos a concessão<br />

à Nova Marina, que terminaria em 2006.<br />

Em troca, a empresa realizaria as obras para o<br />

Pan, entre elas uma garagem de barcos.<br />

Iniciada sob liminar, a construção foi novamente<br />

interrompida por ordem <strong>do</strong> Iphan, em setembro<br />

de 2006 – o órgão apresentou resistência<br />

à altura da garagem. A disputa judicial se<br />

arrastou por meses, com sucessivos embargos,<br />

e o CO-Rio chegou a estudar outros locais<br />

para abrigar a competição de vela <strong>do</strong> Pan,<br />

como o Iate Clube <strong>do</strong> Rio de Janeiro e a Escola<br />

Naval. O Ministério Público Federal firmou<br />

acor<strong>do</strong> com o Comitê Organiza<strong>do</strong>r e definiu<br />

que os barcos de competição seriam abriga<strong>do</strong>s<br />

em uma estrutura já existente na Marina.<br />

A decisão atendeu às exigências <strong>do</strong> Iphan. O<br />

custo estima<strong>do</strong> da obra no <strong>do</strong>ssiê revisa<strong>do</strong> em<br />

fevereiro de 2003 era de R$ 2 milhões e, na<br />

Matriz de Responsabilidades, quatro anos depois,<br />

R$ 42 milhões. Uma vez que o projeto<br />

de instalação permanente não foi concluí<strong>do</strong>, o<br />

custo terminou em R$ 2,3 milhões, incluin<strong>do</strong> a<br />

montagem das instalações temporárias, e foi<br />

assumi<strong>do</strong> pela concessionária <strong>do</strong> local.<br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

Foto: Divulgação / RC&VB<br />

VELA<br />

Em raias delimitadas por bóias, as<br />

competições de vela podem ser fleet race,<br />

de to<strong>do</strong>s contra to<strong>do</strong>s, e match race, de <strong>do</strong>is<br />

barcos por vez. As onze categorias variam<br />

de acor<strong>do</strong> com o tipo de embarcação. Vence<br />

o atleta que somar os melhores resulta<strong>do</strong>s<br />

nas regatas de cada disputa.<br />

209


Complexo Miécimo da Silva<br />

Miécimo: público<br />

numeroso nas<br />

quatro modalidades<br />

durante to<strong>do</strong><br />

o Pan. No detalhe,<br />

as quadras, piscina e<br />

o campo <strong>do</strong> complexo<br />

210


U<br />

m estádio com pista de atletismo,<br />

uma piscina e um ginásio refrigera<strong>do</strong><br />

compõem o Miécimo da<br />

Silva, construí<strong>do</strong> em 1997, que já<br />

abrigou várias disputas internacionais, como o<br />

Mundial de Goalball e a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de<br />

Natação, além de eventos nacionais relevantes,<br />

como jogos das seleções de vôlei e futsal.<br />

E quan<strong>do</strong> não é utiliza<strong>do</strong> para estes fins, o<br />

complexo atende, por semana, cerca de 16 mil<br />

crianças e jovens que praticam gratuitamente<br />

21 modalidades esportivas. Para os XV Jogos<br />

Pan-americanos Rio 2007, a prefeitura fez melhorias<br />

no campo, trocou os refletores de iluminação<br />

e reformou as arquibancadas, entre<br />

outros serviços. No ginásio, substituiu o piso e<br />

parte <strong>do</strong> telha<strong>do</strong>.<br />

MODALIDADES DISPUTADAS<br />

FUTEBOL<br />

O complexo abrigou várias partidas<br />

intermediárias e algumas decisivas desta<br />

modalidade<br />

CARATÊ<br />

Na versão moderna desta luta nascida no<br />

Japão, no século 18, os atletas devem evitar<br />

chutes e socos que causem ferimentos<br />

no adversário. Há duas modalidades:<br />

kumite, de combate um a um, e kata,<br />

onde os atletas sozinhos executam golpes<br />

buscan<strong>do</strong> a perfeição.<br />

PATINAÇÃO ARTÍSTICA<br />

Derivada da patinação no gelo, esta<br />

modalidade esportiva pode ser disputada<br />

por homens e mulheres, individualmente<br />

ou em duplas mistas. Os atletas “dançam”,<br />

executan<strong>do</strong> elementos artísticos, e são<br />

avalia<strong>do</strong>s e recebem notas de juízes.<br />

Quanto mais perfeitos, graciosos e leves<br />

forem os movimentos apresenta<strong>do</strong>s, mais<br />

altas serão suas notas.<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

SQUASH<br />

Inspira<strong>do</strong> no tênis, o squash moderno<br />

nasceu na Penitenciária de Fleet Debtor, em<br />

Londres, no início <strong>do</strong> século 19. Os atletas,<br />

muni<strong>do</strong>s de raquetes, ficam de frente para<br />

uma parede, na qual rebatem uma bola,<br />

sempre tentan<strong>do</strong> impedir que o adversário<br />

rebata na seqüência antes que a bola pingue<br />

duas vezes no chão. Em partidas de melhor<br />

de cinco games, com nove pontos cada, um<br />

atleta só pontua quan<strong>do</strong> saca.<br />

211


Fotos: Jeff Gross / Getty Images<br />

Prova de ciclismo<br />

<strong>do</strong> Pan e, acima, a<br />

chegada da maratona<br />

212


Parque <strong>do</strong> Flamengo<br />

MODALIDADES DISPUTADAS<br />

N<br />

o local foi montada uma instalação<br />

provisória que serviu de chegada<br />

para a maratona e atendeu<br />

bem às necessidades <strong>do</strong>s Jogos.<br />

A escolha <strong>do</strong> Parque foi muito elogiada, principalmente<br />

pelo visual, com o Pão de Açúcar ao<br />

fun<strong>do</strong>. A largada das competições aconteceu<br />

na Praia de São Conra<strong>do</strong>, que também abrigou<br />

uma estrutura pequena. “O percurso da<br />

maratona foi belo, não poderia ter si<strong>do</strong> melhor.<br />

Foi uma decisão certa não chegar ao estádio,<br />

como acontece normalmente, e ter a meta na<br />

Praia <strong>do</strong> Flamengo. Os atletas ficaram encanta<strong>do</strong>s<br />

com o percurso”, conta César Moreno,<br />

delega<strong>do</strong>-técnico de atletismo nos Jogos<br />

Pan-americanos Rio 2007 e nos Jogos Olímpicos<br />

de Atenas 2004 e Pequim 2008.<br />

MARATONA<br />

Nesta modalidade <strong>do</strong> atletismo, vence o<br />

atleta que percorrer em menor tempo os<br />

42.195 metros da prova.<br />

CICLISMO DE ESTRADA<br />

Em Pan-americanos, na modalidade<br />

clássica, os homens correm 156 km, e as<br />

mulheres, 78 km, competin<strong>do</strong> la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>.<br />

Quem completar a prova em primeiro<br />

lugar vence. Já na categoria contra o<br />

relógio, 19,5 km para as mulheres e 40<br />

km para os homens – aqui, cada ciclista<br />

larga de uma plataforma, em intervalos<br />

regulares de um minuto.<br />

213<br />

A instalação <strong>do</strong><br />

Parque abrigou vários<br />

overlays, entre eles<br />

uma arquibancada<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>


Morro <strong>do</strong> Outeiro<br />

Foto: Harry How / Getty Images<br />

Outeiro: apesar das<br />

chuvas, a pista foi<br />

elogiada pelos atletas<br />

E<br />

mbora tenha si<strong>do</strong> bem adapta<strong>do</strong><br />

para os Jogos, o Morro <strong>do</strong> Outeiro,<br />

um terreno priva<strong>do</strong>, sofreu com<br />

chuvas intermitentes nas semanas<br />

anteriores ao evento. O terreno encharcou, o<br />

que prejudicou o aspecto visual. Ainda assim,<br />

os atletas elogiaram as pistas. Para o delega<strong>do</strong><br />

técnico da competição de ciclismo, Iverson<br />

Ladewig, “o grande problema foi a chuva. A<br />

pista de BMX não ficou 100%, mas o resulta<strong>do</strong><br />

foi bom, to<strong>do</strong>s gostaram. A pista de mountain<br />

bike também foi bastante elogiada”, diz. Já a<br />

imprensa apontou defeitos como a ausência<br />

de assentos para os torce<strong>do</strong>res apesar de os<br />

ingressos mostrarem lugares numera<strong>do</strong>s. Os<br />

organiza<strong>do</strong>res tentaram contornar a questão<br />

autorizan<strong>do</strong> crianças a sentarem nos lugares<br />

reserva<strong>do</strong>s para as delegações, o que gerou<br />

protestos de oficiais.<br />

MODALIDADES DISPUTADAS<br />

CICLISMO BMX<br />

Versão <strong>do</strong> motocross, adaptada para a<br />

bicicleta, trata-se de uma corrida em pistas<br />

na qual os atletas têm de superar saltos e<br />

obstáculos.<br />

MOUNTAIN BIKE<br />

Nesta prova, chamada de cross-country,<br />

os ciclistas precisam enfrentar caminhos<br />

estreitos de terra e pedra.<br />

214


Centro de Futebol<br />

Zico - CFZ<br />

O<br />

CFZ não recebeu intervenção<br />

específica para os Jogos; foram<br />

utilizadas suas instalações usadas<br />

habitualmente para treinos e<br />

partidas. Chegou a ser cogita<strong>do</strong> para sediar<br />

as competições de hóquei sobre grama, mas<br />

acabou abrigan<strong>do</strong> algumas partidas de futebol<br />

de menor público. A 10 km da Vila Pan-americana,<br />

o CFZ, cria<strong>do</strong> em 1996 pelo ex-joga<strong>do</strong>r<br />

da seleção brasileira e <strong>do</strong> Flamengo Zico, e<br />

sede de um clube de futebol <strong>do</strong> mesmo nome,<br />

possui um campo em dimensões oficiais e outros<br />

<strong>do</strong>is para aquecimento.<br />

MODALIDADE DISPUTADA<br />

FUTEBOL<br />

As confortáveis instalações <strong>do</strong> Centro<br />

de Futebol Zico (CFZ), no bairro de<br />

Jacarepaguá, zona oeste <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro, abrigou algumas partidas <strong>do</strong>s<br />

torneios de futebol <strong>do</strong>s Jogos Panamericanos<br />

Rio 2007.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

CFZ: boa estrutura<br />

para jogos de futebol<br />

<strong>do</strong> Pan-americano<br />

215


Cidade <strong>do</strong> Rock<br />

A<br />

Cidade <strong>do</strong> Rock foi a instalação<br />

que mais sofreu problemas: a drenagem<br />

não funcionou de forma<br />

adequada, fazen<strong>do</strong> com que vários<br />

jogos fossem adia<strong>do</strong>s; as estruturas temporárias<br />

não resistiram ao vento forte, o que também<br />

deixou a instalação inutilizável em alguns<br />

dias; e a falta de proteção nas arquibancadas<br />

fez com que alguns torce<strong>do</strong>res fossem atingi<strong>do</strong>s<br />

por bolas. O torneio de softbol chegou<br />

a ter a última rodada cancelada porque não<br />

havia condições de jogo.<br />

A cargo da prefeitura, a Cidade <strong>do</strong> Rock foi<br />

concluída sem projeto executivo: “Se tivesse<br />

si<strong>do</strong> feito, teríamos nota<strong>do</strong> que o nível <strong>do</strong><br />

campo era inferior ao <strong>do</strong> arruamento interno,<br />

o que prejudicou a drenagem”, justifica Luís<br />

Henrique Ferreira, gerente de Instalações <strong>do</strong><br />

Comitê Organiza<strong>do</strong>r. A licitação começou em<br />

dezembro de 2006: uma antecedência maior<br />

poderia ter antecipa<strong>do</strong> os problemas causa<strong>do</strong>s<br />

pela chuva e o vento.<br />

O secretário geral <strong>do</strong> CO-Rio, Carlos Roberto<br />

Osório, culpa o atraso na licitação e a empreiteira<br />

que executou a obra: “A única que não<br />

ficou no padrão que projetamos foi a Cidade<br />

<strong>do</strong> Rock. A licitação se deu tardiamente, e a<br />

empresa vence<strong>do</strong>ra era tecnicamente fraca.<br />

A prefeitura não teve tempo de corrigir, aditivar<br />

o contrato ou penalizar a empresa”, afirma<br />

MODALIDADES DISPUTADAS<br />

Osório, lembran<strong>do</strong> que o CO-Rio ainda contratou<br />

um consultor cubano para tentar amenizar<br />

os problemas de drenagem. “Tu<strong>do</strong> o que<br />

ele pôde corrigir, que era aparente, corrigiu. O<br />

problema é que só se detecta a gravidade <strong>do</strong><br />

problema num incidente de forte chuva. Se o<br />

terreno fosse bom, a empresa podia ser ruim.<br />

Mas a empresa e o terreno eram ruins”.<br />

A prefeitura argumenta que o projeto elabora<strong>do</strong><br />

pelo CO-Rio estava caro demais e que<br />

tomou a decisão correta ao exigir cortes. “A<br />

Cidade <strong>do</strong> Rock e o Morro <strong>do</strong> Outeiro não funcionaram<br />

por uma fatalidade: as chuvas. E o<br />

Comitê pediu reforço na iluminação da Cidade<br />

<strong>do</strong> Rock em cima da hora”, afirma o então<br />

secretário municipal de Obras, Eider Dantas.<br />

Para o gerente de <strong>Esporte</strong>s <strong>do</strong> Comitê, Agberto<br />

Guimarães, houve ainda um equívoco<br />

quan<strong>do</strong> se projetou a instalação para apenas<br />

651 torce<strong>do</strong>res: “A procura foi maior que a<br />

esperada”. Os serviços executa<strong>do</strong>s na Cidade<br />

<strong>do</strong> Rock incluíram a demolição de pisos<br />

de concreto e asfalto, drenagem <strong>do</strong> terreno,<br />

movimento de terra com acerto <strong>do</strong> terreno,<br />

construção de campo de grama<strong>do</strong>, iluminação<br />

com postes e refletores e montagem de<br />

arquibancadas, entre outros. A iluminação<br />

também deixou a desejar, o que levou o CO-<br />

Rio a desistir de realizar partidas noturnas de<br />

beisebol. O projeto foi feito com o campo na<br />

rotação errada e teve de ser refeito.<br />

BEISEBOL<br />

Duas equipes de nove joga<strong>do</strong>res se revezam<br />

na defesa, quan<strong>do</strong> arremessam a bola, e no<br />

ataque, rebaten<strong>do</strong> com o bastão. O time<br />

que está no ataque tenta marcar pontos –<br />

conquista<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> um joga<strong>do</strong>r consegue<br />

chegar à base principal depois de passar<br />

pela primeira, segunda e terceira bases. Se<br />

três de seus joga<strong>do</strong>res forem elimina<strong>do</strong>s,<br />

volta para a defesa. O objetivo é marcar o<br />

maior número de pontos.<br />

SOFTBOL<br />

Pratica<strong>do</strong> apenas por mulheres, o softbol<br />

tem as mesmas regras básicas <strong>do</strong> beisebol,<br />

mas se difere nas dimensões da bola, maior,<br />

e <strong>do</strong> campo, menor. O arremesso nesta<br />

modalidade também é diferente, porque<br />

deve ser feito de baixo para cima.<br />

216


Foto: Alex Ferro / CO-Rio Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

O campo de beisebol<br />

(acima) e um <strong>do</strong>s jogos<br />

<strong>do</strong>s brasileiros no Pan<br />

217


Redação confortável,<br />

salas de entrevista<br />

e restaurante: MPC<br />

recebeu inúmeros<br />

elogios de jornalistas<br />

Fotos: Divulgação / CO-Rio<br />

218


MPC e IBC: conforto e tecnologia para a imprensa<br />

Q<br />

G <strong>do</strong>s 1.394 profissionais de mídia<br />

escrita que retiraram suas credenciais,<br />

o MPC (<strong>do</strong> inglês Main Press<br />

Center, ou Centro Principal de Imprensa),<br />

funcionan<strong>do</strong> num pavilhão de 13.500<br />

m² abriga<strong>do</strong> no Riocentro, na zona oeste <strong>do</strong><br />

Rio de Janeiro, esteve à altura <strong>do</strong>s centros de<br />

imprensa instala<strong>do</strong>s em Jogos Olímpicos, a<br />

julgar pelos elogios de jornalistas <strong>do</strong> Brasil e<br />

<strong>do</strong> exterior.<br />

Possuía uma redação com lugares disponíveis<br />

para 564 profissionais na sala de trabalho e 42<br />

escritórios aluga<strong>do</strong>s pelo Comitê Organiza<strong>do</strong>r<br />

para diversos órgãos de imprensa. Duas salas<br />

para entrevistas coletivas, posto médico, cafeteria,<br />

<strong>do</strong>is restaurantes, lanchonete e armários<br />

garantiram o conforto e a segurança <strong>do</strong>s usuários.<br />

“Já estive em 12 jogos Olímpicos e este<br />

Centro de Imprensa foi o mais confortável em<br />

que trabalhei numa competição multiesportiva”,<br />

garante Bob Condron, diretor de imprensa<br />

<strong>do</strong> Comitê Olímpico <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

Na sala de trabalho e nos escritórios, televisões<br />

transmitiam ao vivo a programação <strong>do</strong>s<br />

Jogos. “Tinha tu<strong>do</strong> que tem um MPC das<br />

Olimpíadas. A maior parte <strong>do</strong> que ouvi foi de<br />

elogios, principalmente pelo tamanho da instalação<br />

e as opções da área de alimentação”,<br />

conta o gerente <strong>do</strong> MPC, Marcelo Fefer.<br />

A montagem foi financiada pela concessionária<br />

<strong>do</strong> complexo <strong>do</strong> Riocentro GL Events. “Os<br />

serviços para a imprensa foram excelentes.<br />

Transmiti minhas reportagens com rapidez e<br />

não tive problemas de conexão”, diz Mariano<br />

Ryan, jornalista envia<strong>do</strong> especial <strong>do</strong> diário argentino<br />

Clarín para a cobertura <strong>do</strong>s Jogos Rio<br />

2007. Para Eduar<strong>do</strong> Tironi, editor-executivo <strong>do</strong><br />

diário Lance!, “os serviços, tanto para a imprensa<br />

quanto para o público, tiveram um bom<br />

nível de eficiência e organização”.<br />

Nos 7.500 m 2 <strong>do</strong> pavilhão 1 <strong>do</strong> Riocentro, funcionou<br />

o International Broadcasting Center<br />

(IBC), o Centro Internacional de Transmissões,<br />

que abrigou a International Sports Broadcasting<br />

(ISB), emissora anfitriã <strong>do</strong>s Jogos, e as<br />

emissoras de rádio e TV detentoras <strong>do</strong>s direitos<br />

de transmissão das competições (12 nacionais<br />

e 10 internacionais).<br />

Cerca de 4 mil profissionais da área foram credencia<strong>do</strong>s<br />

– a emissora gera<strong>do</strong>ra, a ISB, empregou<br />

900 pessoas nos estúdios e nas instalações<br />

para garantir a geração recorde de 850<br />

horas de transmissão em alta definição para<br />

150 países de quatro continentes.<br />

A ISB transmitiu ao vivo de 15 instalações e<br />

gravou competições em 12. Mais de 20 trailers<br />

e 10 unidades móveis foram utiliza<strong>do</strong>s<br />

na operação, que gerou 50 sinais simultâneos<br />

monitora<strong>do</strong>s em televisões de plasma no<br />

IBC. Foram utiliza<strong>do</strong>s, no local, 70 quilômetros<br />

de cabo. Tal aparato sobrecarregou a energia<br />

elétrica disponível, chegan<strong>do</strong> a derrubar a<br />

transmissão de algumas emissoras por alguns<br />

instantes nos primeiros dias <strong>do</strong>s Jogos, problema<br />

resolvi<strong>do</strong> rapidamente pela organização.<br />

Os profissionais que trabalharam no IBC utilizaram<br />

os serviços de alimentação disponíveis<br />

no MPC. Mas no IBC também houve serviços<br />

diversos. O pavilhão foi equipa<strong>do</strong> com banco,<br />

agência <strong>do</strong>s Correios, agência de viagens e<br />

uma loja de conveniência.<br />

219


As instalações não-esportivas<br />

A<br />

organização <strong>do</strong>s Jogos contou com<br />

instalações operacionais de papel<br />

determinante no bom andamento<br />

das competições e em outras atividades.<br />

Boa parte delas teve sua estrutura<br />

bancada pelo governo federal e algumas, inclusive,<br />

tiveram uma parte ou a totalidade de<br />

suas montagens provisórias (overlays) incluída<br />

no mesmo contrato das instalações temporárias<br />

esportivas <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> (CR<br />

01/2007): o caso <strong>do</strong> Centro Principal de Operações<br />

(MOC), <strong>do</strong> Centro de Uniforme e Credenciamento<br />

(UAC), da garagem central (GCT), <strong>do</strong>s<br />

aeroportos e da Vila.<br />

Em geral – com algumas variações dependen<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> local –, os overlays eram compostos de<br />

tendas, divisórias, móveis, carpetes, computa<strong>do</strong>res,<br />

geladeiras, ar-condiciona<strong>do</strong>, instalações<br />

elétricas, banners e cartazes de divulgação e<br />

peças de sinalização, o chama<strong>do</strong> “Look of the<br />

games”.<br />

Centro de Uniforme e Credenciamento<br />

(UAC)<br />

Funcionou em instalações temporárias de 4,5<br />

mil m² nos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Barra Shopping, na Barra<br />

(foto abaixo). O centro de compras, em troca da<br />

cessão <strong>do</strong> espaço, ganhou o status de “shopping<br />

oficial” <strong>do</strong> Pan. O espaço teve a montagem<br />

financiada pelo governo federal e concentrou<br />

a emissão de 118 mil credenciais ativadas<br />

e a distribuição de mais de 400 mil itens de<br />

uniformes e outros produtos para funcionários,<br />

jornalistas e terceiriza<strong>do</strong>s.<br />

Centro de Segurança <strong>do</strong>s Jogos (COS)<br />

Sede das operações de segurança, o COS,<br />

no prédio da Central <strong>do</strong> Brasil, foi implanta<strong>do</strong><br />

pelo Ministério da Justiça. Por uma decisão estratégica<br />

da Secretaria Nacional de Segurança<br />

Pública (Senasp), responsável pelo projeto<br />

de segurança <strong>do</strong>s Jogos, as operações foram<br />

centralizadas no edifício onde fica a sede <strong>do</strong><br />

órgão, no Centro da cidade. O Centro de Segurança<br />

<strong>do</strong>s Jogos ficou como lega<strong>do</strong> para a<br />

segurança pública <strong>do</strong> Rio.<br />

Armazém Central de Logística<br />

Abriga<strong>do</strong> no galpão da Base de Abastecimento<br />

da Marinha, em Ramos, zona norte da cidade,<br />

era forma<strong>do</strong> por equipes de logística,<br />

que contavam ainda com mais <strong>do</strong>is depósitos<br />

de apoio <strong>do</strong> COB (foto ao la<strong>do</strong>). Foram gastos<br />

UAC: financia<strong>do</strong> pelo<br />

governo federal, emitiu<br />

milhares de credenciais e<br />

distribuiu mais de 400 mil<br />

itens de uniformes<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

220


A Central <strong>do</strong> Brasil<br />

abrigou o Centro<br />

de Segurança <strong>do</strong>s<br />

Jogos (COS)<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

R$ 600 mil para adequação <strong>do</strong> Armazém, recursos<br />

transferi<strong>do</strong>s pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

ao Ministério da Defesa, por meio de destaque<br />

orçamentário. O armazém esteve equipa<strong>do</strong><br />

com tratores, empilhadeiras, guindastes e equipamentos<br />

manuais de movimentação de carga,<br />

além de frota de transporte composta por<br />

caminhões-baú, caminhões-guincho, utilitários<br />

diversos, vans e motocicletas. Mais de 600 toneladas<br />

de materiais esportivos e encomendas<br />

foram entregues em segurança. A tarefa ficou a<br />

cargo da CorreiosLog, contratada pelo Ministério<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> por R$ 15.990.171,00.<br />

Garagem Central (GCT)<br />

Para abrigar a frota de veículos utilizada pelos<br />

vários setores responsáveis pela organização<br />

<strong>do</strong>s Jogos, o governo federal montou toda a<br />

estrutura temporária para o funcionamento de<br />

uma garagem central (foto ao la<strong>do</strong>). Um terreno<br />

de 45 mil m 2 foi cedi<strong>do</strong> pelo shopping Via<br />

Parque, na Avenida Ayrton Senna, próximo à<br />

Vila. Ali, onde também há um kartódromo, o<br />

Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> instalou tendas, mesas e<br />

computa<strong>do</strong>res. E também fez adequação das<br />

instalações elétricas, inclusive instalan<strong>do</strong> mais<br />

O Armazém Central de<br />

Logística foi reforma<strong>do</strong><br />

com recursos da União<br />

Garagem Central de Transporte: 45 mil metros<br />

quadra<strong>do</strong>s em ponto estratégico da cidade para<br />

o fluxo <strong>do</strong>s veículos usa<strong>do</strong>s no Pan<br />

221


Foto: Claudia Gonçalves / Infraero<br />

de 360 tomadas de diversos tipos, boa parte<br />

para que motoristas e supervisores pudessem<br />

recarregar os celulares e rádios. O local favoreceu<br />

a logística, já que a garagem estava situada<br />

exatamente na região onde se realizaram<br />

cerca de 60% das competições.<br />

Aeroportos<br />

Os <strong>do</strong>is aeroportos <strong>do</strong> Rio – Internacional Tom<br />

Jobim (Galeão), a 20 km <strong>do</strong> Centro, e Santos<br />

Dumont, na região central da cidade – receberam<br />

cartazes, banners e outras peças de<br />

promoção e sinalização <strong>do</strong>s Jogos, além de<br />

equipes especialmente encarregadas de receber<br />

a Família Pan e Parapan-americana. No<br />

Galeão, o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> se encarregou<br />

de fazer adequações das instalações elétricas<br />

e montou salas de receptivo a atletas e delegações.<br />

Com recursos <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Turismo<br />

(R$ 107 milhões) e da Infraero (R$ 58 milhões),<br />

o Santos Dumont teve uma ala completamente<br />

reformada antes <strong>do</strong> Pan. O terminal de passageiros<br />

foi amplia<strong>do</strong> em mais de mil metros<br />

quadra<strong>do</strong>s, o que deixou a área de embarque<br />

três vezes maior.<br />

Centro de Operações Tecnológicas (TOC)<br />

Uma sala de 1.680 m², dentro de um shopping<br />

na Barra da Tijuca, região que concentrou cerca<br />

de 60% das competições, era o coração<br />

das operações de tecnologia. Implanta<strong>do</strong> com<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Reforma <strong>do</strong> Santos Dumont:<br />

terminal de passageiros<br />

ganhou mais de 1000m 2 com<br />

reforma para o Pan<br />

222


ecursos <strong>do</strong> governo federal, possuía 180 postos<br />

de trabalho e 16 mil metros de cabeamento<br />

elétrico, além de um videowall (telão de alta<br />

definição) que monitorava e transmitia continuamente<br />

as operações <strong>do</strong> evento e imagens das<br />

instalações esportivas e não-esportivas (ver<br />

capítulo Tecnologia).<br />

Centro Principal de Operações (MOC)<br />

O objetivo <strong>do</strong> MOC (a sigla vem <strong>do</strong> inglês Main<br />

Operation Center, ou Centro Principal de Operações),<br />

que ocupava uma sala de 300m² na<br />

sede <strong>do</strong> Comitê Olímpico Brasileiro (COB), na<br />

Barra da Tijuca, era dar respostas rápidas a<br />

toda e qualquer crise durante os Jogos (foto<br />

ao la<strong>do</strong>). Integra<strong>do</strong> por 75 pessoas <strong>do</strong> CO-Rio<br />

e <strong>do</strong>s três níveis de governo, incluin<strong>do</strong> representantes<br />

<strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> (Sepan),<br />

da Secretaria Nacional de Segurança Pública<br />

(Senasp), Defesa Civil e Instituto Nacional de<br />

Meteorologia, funcionava 20 horas por dia. Pode-se<br />

dizer que o MOC era o centro nervoso<br />

<strong>do</strong> Pan, onde situações críticas que poderiam<br />

prejudicar o bom andamento <strong>do</strong> evento eram<br />

analisadas para posteriores tomadas de decisões.<br />

Pela primeira vez uma estrutura deste<br />

tipo foi montada em Pan-americanos. Antes de<br />

entrar em operação, o CO-Rio coman<strong>do</strong>u uma<br />

simulação, durante 30 horas, na qual analisou<br />

730 problemas “reais”, <strong>do</strong>s mais simples aos<br />

mais complexos, vivi<strong>do</strong>s em Jogos Olímpicos.<br />

Até uma ameaça de bomba foi simulada. Durante<br />

os Jogos, nenhum evento grave foi registra<strong>do</strong>,<br />

mas a equipe estava preparada para dar<br />

respostas rápidas.<br />

O TOC abrigava toda a integração<br />

tecnológica <strong>do</strong> evento<br />

O MOC era o centro nervoso <strong>do</strong>s Jogos<br />

Foto: Divulgação / Atos Origin<br />

Foto: Divulgação / Modulo<br />

Hotéis<br />

O Windsor Barra, onde o CO-Rio fez uso de<br />

280 apartamentos, ganhou status de hotel ofi -<br />

cial <strong>do</strong> Pan e foi sede da Organização Desportiva<br />

Pan-Americana (Odepa) durante o evento.<br />

A Odepa fez ali sua XLV Assembléia Geral.<br />

Para isso, o governo federal proveu mobiliário,<br />

tabla<strong>do</strong>s, geladeiras e outros itens requeri<strong>do</strong>s.<br />

Uma infra-estrutura de apoio aos Jogos também<br />

foi montada nos hotéis Sheraton da Barra<br />

e Royalty, em Copacabana. Ambos hospedaram<br />

dirigentes de organismos esportivos internacionais<br />

e árbitros.<br />

O Windsor Barra, junto com o Sheraton<br />

e o Royalty, foi um <strong>do</strong>s hotéis oficiais<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

223


A VILA PAN-AMERICANA<br />

Com boa localização, conforto e serviços<br />

eficientes, o complexo financia<strong>do</strong> pelo governo<br />

federal impressiona e recebe elogios de atletas<br />

e dirigentes internacionais<br />

Foto: AGENCO<br />

224


O<br />

projeto da Vila Pan-americana<br />

foi claramente inspira<strong>do</strong> em vilas<br />

olímpicas, em to<strong>do</strong>s os setores,<br />

e seguiu os padrões <strong>do</strong> Comitê<br />

Olímpico Internacional: a disposição <strong>do</strong>s<br />

edifícios, as áreas internas de convivência <strong>do</strong><br />

con<strong>do</strong>mínio, o nível e a variedade de serviços<br />

ofereci<strong>do</strong>s. Por isso, tornou-se uma das instalações<br />

mais elogiadas <strong>do</strong> evento. Estrategicamente<br />

localizada, a Vila esteve próxima,<br />

num raio de 10 quilômetros, de onde foram<br />

disputadas pelo menos 60% das provas panamericanas,<br />

<strong>do</strong> Centro Principal de Imprensa<br />

(MPC) e <strong>do</strong> Centro Internacional de Transmissões<br />

(IBC).<br />

O conjunto, com seus<br />

1.480 apartamentos:<br />

vendas em tempo recorde<br />

225


O sucesso pode ser comprova<strong>do</strong> por declarações<br />

de atletas e dirigentes e da imprensa especializada,<br />

que em coro elogiaram as instalações.<br />

O presidente da Organização Desportiva<br />

Pan-americana (Odepa) disse que “foi qualificada<br />

como a melhor Vila até agora, incluin<strong>do</strong><br />

Jogos Olímpicos. Isso nos deu uma segurança<br />

muito grande. Quan<strong>do</strong> o atleta compete satisfeito<br />

com o local onde está hospeda<strong>do</strong>, consegue<br />

atingir seu melhor resulta<strong>do</strong>”, avaliou Mário<br />

Vásquez Raña. A opinião foi compartilhada<br />

pelo presidente da Comissão de Coordenação<br />

para os Jogos, o uruguaio Julio Maglione, que<br />

chegou a comparar a Vila Pan-americana <strong>do</strong><br />

Rio à Vila Olímpica de Pequim 2008: “Faço<br />

parte da comissão que acompanhou as obras<br />

em Pequim e notei semelhanças entre a Vila <strong>do</strong><br />

Rio e a <strong>do</strong>s chineses”.<br />

Os edifícios que alojaram as delegações e a<br />

área de convivência foram construí<strong>do</strong>s em<br />

parceria com a iniciativa privada e depois tornaram-se<br />

um moderno conjunto residencial, a<br />

exemplo da Vila Olímpica de Barcelona 1992.<br />

A construtora Agenco, que recebeu financiamento<br />

da Caixa Econômica Federal no valor<br />

de R$ 189,3 milhões e complementou o valor<br />

da obra em cerca de R$ 15 milhões, vendeu<br />

quase to<strong>do</strong>s os 1.480 apartamentos <strong>do</strong>s 17<br />

prédios antes mesmo da realização <strong>do</strong>s Jogos,<br />

sen<strong>do</strong> que 1.350 foram vendi<strong>do</strong>s em um<br />

só dia, um recorde no merca<strong>do</strong> imobiliário brasileiro.<br />

O modelo se mostrou acerta<strong>do</strong> porque<br />

o valor investi<strong>do</strong> pela Caixa retornará aos cofres<br />

públicos quan<strong>do</strong> os mutuários terminarem<br />

de pagar as prestações.<br />

O Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> fi cou responsável<br />

pelos serviços dentro Vila, inclusive o fornecimento<br />

<strong>do</strong> mobiliário <strong>do</strong>s apartamentos e a<br />

governança e lavanderia, além da montagem<br />

<strong>do</strong> restaurante e de diversas instalações temporárias,<br />

exceto tendas. A Prefeitura <strong>do</strong> Rio<br />

de Janeiro, responsável pela infra-estrutura<br />

viária interna e no entorno, não teve recursos<br />

para executar todas as obras – que incluíam<br />

pavimentação, construção das redes<br />

de drenagem de águas pluviais e de iluminação<br />

pública, instalação de áreas ajardinadas<br />

em ruas internas da Vila e construção<br />

de uma Unidade de Tratamento de Rio, no<br />

Arroio Fun<strong>do</strong>. O Município chegou a iniciar<br />

as obras, mas acabou interrompen<strong>do</strong>-as, o<br />

que retar<strong>do</strong>u a conclusão <strong>do</strong>s serviços. Para<br />

evitar maiores problemas, o governo federal<br />

decidiu colaborar com aporte viabiliza<strong>do</strong> por<br />

meio de convênio entre o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

e a prefeitura para que as obras fossem<br />

concluídas. Por isso, a participação <strong>do</strong> governo<br />

federal foi decisiva para a viabilização da<br />

Vila. De parte <strong>do</strong> Ministério, foram feitos <strong>do</strong>is<br />

contratos e <strong>do</strong>is convênios, que permitiram<br />

a operação <strong>do</strong> local, como segue descrito<br />

abaixo. Excluem-se desta lista a montagem e<br />

o custeio das instalações temporárias, inseri<strong>do</strong>s<br />

em contrato específi co para montagem<br />

das estruturas provisórias sob responsabilidade<br />

<strong>do</strong> governo federal:<br />

QUANTO O GOVERNO FEDERAL INVESTIU NA VILA<br />

Construção da Vila Financiamento da Caixa Econômica Federal R$ 189.300.000,00<br />

Contrato 009/2007<br />

Consórcio Interamericano<br />

Contrato 022/2007<br />

Comissaria Rio<br />

Convênio 171/2004<br />

CO-Rio<br />

Convênio 012/2007<br />

Prefeitura <strong>do</strong> Rio<br />

Prestação de serviços especializa<strong>do</strong>s de implementação de hotelaria<br />

temporária na Vila Pan-americana<br />

Contratação de empresa para serviços especializa<strong>do</strong>s de fornecimento de<br />

alimentação, instalações e gestão <strong>do</strong> restaurante da Vila Pan-americana<br />

Assegurar a utilização, nas épocas próprias, mediante concessão de direito<br />

real de uso, das instalações e dependências da Vila Pan-americana<br />

Intervenções e obras de infra-estrutura<br />

viária e urbanização da Vila Pan-americana<br />

R$ 31.886.145,39<br />

R$ 36.324.861,90<br />

R$ 24.999.639,00<br />

R$ 45.359.629,43<br />

Total R$ 327.870.275,72<br />

226


moradia e alimentação <strong>do</strong>s atletas, mas também<br />

como espaço de convivência, a Vila hospe<strong>do</strong>u<br />

7.776 pessoas durante o Pan e 2.003<br />

no Parapan. Para cuidar de tamanha grandiosidade,<br />

a instalação tinha um prefeito, o general-de-divisão<br />

da reserva Paulo Laranjeira,<br />

responsável por tu<strong>do</strong> o que acontecia na Vila,<br />

que estava dividida em três áreas:<br />

Zona Residencial<br />

Aqui ficaram hospeda<strong>do</strong>s os atletas e oficiais,<br />

numa área total de 91.774 m², e abriga<strong>do</strong>s<br />

os escritórios <strong>do</strong>s comitês olímpicos<br />

nacionais. Ao fun<strong>do</strong>, um terminal de ônibus<br />

permitia que as delegações se locomovessem<br />

sem precisar passar por outros ambientes<br />

ao entrar ou sair. A Zona Residencial<br />

estava dividida em <strong>do</strong>is grandes parques,<br />

América <strong>do</strong> Norte e América <strong>do</strong> Sul, separa<strong>do</strong>s<br />

pela Via América Central. Em cada<br />

um <strong>do</strong>s 3.888 quartos, ficaram aloja<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />

residentes. No Parapan, foram utiliza<strong>do</strong>s os<br />

seis blocos de duas suítes. “A Vila está muito<br />

boa, os apartamentos são amplos e confortáveis”,<br />

elogiou a atleta Laís Souza, da<br />

seleção brasileira de ginástica artística.<br />

Por dentro da VilaDesenvolvida para servir não só como local de<br />

Zona Internacional<br />

Área destinada, principalmente, à convivência.<br />

Ali, a Petrobras, com estande próprio,<br />

promoveu uma agenda cultural com nove<br />

apresentações musicais e exibição de seis<br />

filmes nacionais. No Parapan, uma oficina de<br />

reparo de próteses, órteses e cadeiras de rodas<br />

foi erguida pela Associação Brasileira de<br />

Ortopedia Técnica, que fez 350 atendimentos.<br />

E no lugar <strong>do</strong> estande da Petrobras, os ministérios<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e das Comunicações montaram<br />

um telecentro para o acesso de pessoas<br />

com deficiência à Internet. Com horário de<br />

funcionamento entre nove da manhã e meianoite,<br />

a zona internacional abrigou lojas e inúmeros<br />

serviços.<br />

Zona Operacional<br />

Tinha acesso restrito: abrigava o Centro Regional<br />

de Segurança, a central de tecnologia,<br />

o escritório de suporte para credenciamento,<br />

o centro de operações de lixo e os<br />

depósitos e áreas de logística. Para deslocamento<br />

interno <strong>do</strong>s atletas pelo interior da<br />

Vila, foram disponibiliza<strong>do</strong>s ônibus, que no<br />

Parapan estavam adapta<strong>do</strong>s para o uso de<br />

pessoas com deficiência.<br />

ZONA RESIDENCIAL<br />

Restaurante, com 2.250 lugares, aberto 24 horas por dia<br />

Salas de apoio e escritórios para os organiza<strong>do</strong>res<br />

Academia de ginástica, de 600 m², aberta diariamente das seis da manhã às onze da noite.<br />

Estava equipada com 100 máquinas, entre aparelhos de musculação e de treinamento<br />

cardiovascular, <strong>do</strong>is mil quilos de halteres, pesos e barras, além de saunas masculina e feminina<br />

Centro ecumênico com capacidade para 48 pessoas e seis sessões diárias de cinco religiões,<br />

para católicos, espíritas, islâmicos, judeus e protestantes<br />

Discoteca, com funcionamento das sete às onze da noite, que fez bastante sucesso entre os atletas<br />

Policlínica médica, equipada e operada pela Golden Cross (no Pan) e pelo Corpo de Bombeiros (no<br />

Parapan), sempre com <strong>do</strong>is médicos de plantão na emergência, quatro no ambulatório, <strong>do</strong>is dentistas,<br />

um técnico de raio-x, um técnico de laboratório e um farmacêutico. Entre os atendimentos ofereci<strong>do</strong>s<br />

estavam os de ortopedia, po<strong>do</strong>logia, fisioterapia, o<strong>do</strong>ntologia, massagem terapêutica, clínica geral,<br />

ginecologia, medicina esportiva, farmácia, exames de laboratório, radiografias e ultra-som<br />

Para o lazer, no térreo de cada prédio havia uma sala de tv<br />

(com acesso a canais a cabo), piscina e ciclovia<br />

A cada <strong>do</strong>is blocos, uma sala com 16 terminais de computa<strong>do</strong>res e acesso à internet<br />

Máquina de gelo capaz de produzir 150 quilos por hora estava disponível em cada<br />

um <strong>do</strong>s 17 blocos de apartamentos. O equipamento foi altamente utiliza<strong>do</strong> pelos atletas<br />

227


ZONA INTERNACIONAL<br />

Lanchonete Bob’s<br />

Agência da Caixa Econômica Federal (com serviços de câmbio, transferência para outros países,<br />

cobrança de cheques e cheques de viagem, serviços de dinheiro em espécie e caixas automáticos)<br />

Agência <strong>do</strong>s Correios (com serviços automáticos completos,<br />

serviço expresso nacional e internacional, filatelia e venda de selos)<br />

Centro telefônico da Oi (com cabines telefônicas para chamadas locais, interestaduais<br />

e internacionais e venda de cartões para telefones públicos)<br />

Cyber-café com acesso à internet (serviço pago)<br />

Loja de serviços de fotografi a (com venda de filmes, máquinas de fotografias<br />

e outros materiais, revelações, reproduções e ampliações)<br />

Loja de produtos oficiais <strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos e III Jogos Parapan-americanos (souvenir)<br />

Loja de artigos esportivos<br />

Agência de viagens, com venda de passagens, pacotes e outros serviços<br />

Lavanderia (serviço pago), com serviços especiais, além <strong>do</strong>s ofereci<strong>do</strong>s pela Vila<br />

Loja de consertos de roupas da Olympikus<br />

Floricultura com serviço de entrega, inclusive no exterior<br />

Quiosque de bilheteria para venda de ingressos <strong>do</strong>s Jogos<br />

Salão de beleza e um mini-spa<br />

Loja de conveniência<br />

Salão de jogos<br />

Estande monta<strong>do</strong> pelos ministérios <strong>do</strong> Turismo e <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> para divulgação <strong>do</strong> turismo nacional<br />

Foto: AGENCO<br />

Trânsito de veículos reduzi<strong>do</strong><br />

para garantir silêncio e<br />

manter boa a qualidade <strong>do</strong> ar<br />

228<br />

VILA PAN-AMERICANA E O OSCAR<br />

DA CONSTRUÇÃO CIVIL<br />

O projeto da Vila Pan-americana recebeu,<br />

em 5 de setembro de 2006, o “Oscar”<br />

da construção civil na categoria Marketing<br />

e Comercialização, o Prêmio Master<br />

Imobiliário, conferi<strong>do</strong> pelo Secovi-SP<br />

e pelo FIBCI. No total, foram premia<strong>do</strong>s<br />

15 projetos de to<strong>do</strong> o País.


AGENCO<br />

229


230<br />

Foto: AGENCO


A construção<br />

O<br />

modelo de financiamento da Vila é<br />

um exemplo a ser segui<strong>do</strong>. No final<br />

de 2002, por ser <strong>do</strong>na <strong>do</strong> local escolhi<strong>do</strong><br />

para abrigar a instalação,<br />

a construtora Agenco foi convidada pelos organiza<strong>do</strong>res<br />

a construir o conjunto de prédios.<br />

A princípio, seriam ergui<strong>do</strong>s 25, mas o CO-Rio<br />

chegou à conclusão de que 17 prédios seriam<br />

suficientes. Em novembro de 2004, a Caixa<br />

Econômica Federal aprovou o financiamento de<br />

R$ 189,3 milhões, com recursos <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> de<br />

Amparo ao Trabalha<strong>do</strong>r. Dez meses depois, a<br />

empreiteira iniciou a venda <strong>do</strong>s apartamentos:<br />

em um só dia, foram vendidas 1.350 unidades,<br />

segun<strong>do</strong> Sérgio Goldberg, diretor da Agenco.<br />

“O projeto tinha predica<strong>do</strong>s expressivos. To<strong>do</strong>s<br />

os apartamentos eram suítes. O financiamento<br />

da Caixa foi um atrativo forte. Colocamos no<br />

projeto equipamentos urbanos que davam ao<br />

con<strong>do</strong>mínio o que havia de mais completo. E<br />

também teve o fato de os Jogos serem um pouco<br />

mágicos. Compran<strong>do</strong> os apartamentos, as<br />

pessoas estariam viabilizan<strong>do</strong> o Pan”, acredita.<br />

Para que a Vila ficasse à disposição <strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong>s Jogos durante dez meses,<br />

de fevereiro a dezembro de 2007, o Ministério<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, através de convênio com o CO-<br />

Rio, pagou R$ 24.999.639 à construtora pelo<br />

chama<strong>do</strong> “direito real de uso” pelo perío<strong>do</strong>.<br />

Assim, impediu que o valor fosse repassa<strong>do</strong><br />

aos mutuários. O con<strong>do</strong>mínio foi entregue ao<br />

CO-Rio em fevereiro de 2007. Além da verba<br />

<strong>do</strong> financiamento da Caixa, a Agenco investiu<br />

R$ 15 milhões na construção. A idéia inicial<br />

da construtora era erguer um shopping center<br />

em frente aos prédios, onde ficaria a zona<br />

internacional. No entanto, em janeiro de 2007,<br />

a prefeitura vetou definitivamente o projeto. O<br />

CO-Rio, então, teve de desenvolver um projeto<br />

alternativo, e a zona internacional foi construída<br />

em instalações temporárias.<br />

Os atrasos nas obras de infra-estrutura viária<br />

comprometeram o nível de serviço da Vila nos<br />

dias anteriores à abertura ofi cial. Outra questão<br />

que prejudicou a operação foi um equívoco<br />

no cálculo de energia. Segun<strong>do</strong> estimativa<br />

<strong>do</strong> CO-Rio, seria necessário 1,5 megawatt,<br />

mas o ideal, na verdade, seriam 4,5 megawatts,<br />

consideran<strong>do</strong>-se que houve acréscimo<br />

em função da montagem de estruturas temporárias<br />

na zona internacional. “No início de<br />

junho, o CO-Rio comunicou que precisaria de<br />

mais energia elétrica <strong>do</strong> que o estima<strong>do</strong>. Sugerimos<br />

procurar a Light, que vende energia<br />

festiva nesses casos. Decidimos fazer então<br />

um convênio com o Comitê para a aquisição<br />

desse serviço”, conta o gerente de Engenharia<br />

da Secretaria <strong>do</strong> Comitê de Gestão Federal<br />

Rio 2007 (Sepan/ME), Luiz Custódio<br />

Orro – energia festiva é o apeli<strong>do</strong> que se dá<br />

à rede provisória, momentânea, executada<br />

pelas fornece<strong>do</strong>ras de energia elétrica para<br />

fornecer energia em lugares onde não há. O<br />

convênio 084/2007, de R$ 3.241.639,29, para<br />

cobrir custos de energia elétrica, água e gás<br />

da Vila e de outras 21 instalações, foi assina<strong>do</strong><br />

em 10 de julho de 2007, entre o CO-Rio e<br />

o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />

Fotos: AGENCO<br />

231


Mobiliário, governança e lavanderia<br />

P<br />

ara fornecer e montar o mobiliário<br />

de 1.480 apartamentos, com seus<br />

3.888 quartos, e ainda administrar<br />

os serviços <strong>do</strong> dia-a-dia de 7.776<br />

pessoas, o governo federal contratou, por<br />

R$ 31.886.145,39, o Consórcio Interamericano<br />

(CR 009/2007). No escopo da licitação, concluída<br />

no início de 2007, estavam incluí<strong>do</strong>s o<br />

fornecimento e a montagem <strong>do</strong>s móveis para<br />

os prédios residenciais, desde camas e armários<br />

até aparelhos de ar condiciona<strong>do</strong>, lâmpadas<br />

e persianas. Constavam também das obrigações<br />

contratuais a instalação e operação de<br />

nove postos de lavanderia nos subsolos <strong>do</strong>s<br />

blocos residenciais para atender os atletas e<br />

demais membros de delegações – as roupas<br />

de cama e de banho foram higienizadas em<br />

OS NÚMEROS DA VILA<br />

1.610.280 copos descartáveis<br />

271.080 rolos de papel higiênico<br />

271.080 sabonetes<br />

79.200 cabides<br />

107.392 sacos de lixo<br />

8.066 travesseiros<br />

15.568 fronhas<br />

31.136 lençóis<br />

21.654 lâmpadas incandescentes<br />

toneladas de roupas e enxoval<br />

117 lavadas nas lavanderias da Vila e<br />

em terceirizadas<br />

4.022 aparelhos de ar condiciona<strong>do</strong><br />

15.649<br />

chaves para as portas<br />

<strong>do</strong>s apartamentos<br />

4.866<br />

camas com 2 metros<br />

de comprimento<br />

3.180<br />

camas com 2,20 metros<br />

de comprimento<br />

1.514 purifica<strong>do</strong>res de água<br />

4.000 persianas<br />

958 mesas plásticas<br />

6.584 cadeiras empilháveis<br />

4.034 armários altos<br />

3.990 mesas de cabeceira<br />

117.000 lavagens de roupas e enxovais<br />

lavanderias externas à Vila. O consórcio forneceu<br />

também o serviço de governança, que<br />

incluiu mão-de-obra e material de reposição,<br />

como sabonetes e papéis higiênicos. Os setores<br />

de mobiliário, governança e lavanderia<br />

empregaram 590 pessoas diretamente e 1.180<br />

indiretamente. Como não poderia deixar de<br />

ser, em se tratan<strong>do</strong> da Vila Pan-americana que<br />

recebeu o maior número de residentes na história<br />

<strong>do</strong>s Jogos, os números da governança<br />

são grandiosos.<br />

O consórcio contrata<strong>do</strong> forneceu o serviço dentro<br />

<strong>do</strong> prazo estipula<strong>do</strong>, apesar de prejudica<strong>do</strong><br />

por alguns atrasos nas obras, como explica o<br />

gerente <strong>do</strong> contrato, Denner James Armanhe,<br />

da Sepan/ME: “Os apartamentos começaram<br />

a ser mobilia<strong>do</strong>s em março, e havia dificuldade<br />

de acesso a alguns porque as obras viárias não<br />

estavam concluídas”. O atraso na provisão de<br />

serviços de concessionárias públicas também<br />

prejudicou o trabalho das empresas, e algumas<br />

dificuldades foram sen<strong>do</strong> detectadas enquanto<br />

as delegações iam chegan<strong>do</strong>, ainda antes <strong>do</strong><br />

início das competições.<br />

No caso <strong>do</strong> mobiliário, o único problema registra<strong>do</strong><br />

foi a quebra de algumas camas, no<br />

entanto, menos de 1% <strong>do</strong> total destes móveis<br />

quebrou. Nestes casos, o consórcio providenciava<br />

o conserto ou a substituição. O projeto<br />

previa a compra de camas que suportassem<br />

até 160 kg, e as empresas, por medida<br />

de segurança, adquiriram camas capazes de<br />

agüentar até 200 kg. Mesmo assim, verificaram-se<br />

problemas, geralmente decorrentes<br />

de uso inadequa<strong>do</strong>.<br />

As roupas sujas <strong>do</strong>s atletas eram colocadas,<br />

por eles mesmos, em sacos apropria<strong>do</strong>s. Uma<br />

etiqueta marcava o número <strong>do</strong> apartamento.<br />

Nas lavanderias, as roupas eram lavadas<br />

dentro <strong>do</strong>s próprios sacos, o que facilitava a<br />

identificação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>nos <strong>do</strong>s uniformes limpos.<br />

Levar e buscar as roupas deveria ser tarefa<br />

<strong>do</strong>s voluntários: “Mas este trabalho teve de ser<br />

feito pelos próprios funcionários da lavanderia<br />

em alguns momentos, pelo acúmulo de trabalho<br />

<strong>do</strong>s voluntários”, lembra Denner James.<br />

232


O CONFORTO DOS ATLETAS<br />

duas camas<br />

um armário de duas portas<br />

três luminárias <strong>do</strong>is travesseiros<br />

ar condiciona<strong>do</strong> quatro fronhas<br />

duas colchas<br />

quatro lençóis superiores<br />

<strong>do</strong>is cobertores quatro lençóis inferiores<br />

20 cabides um espelho<br />

uma lixeira<br />

uma cortina<br />

quatro toalhas de banho um cria<strong>do</strong>-mu<strong>do</strong><br />

233<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>


234


O restaurante<br />

O<br />

restaurante da Vila Pan-americana,<br />

com 6,8 mil m² e 2.250 lugares,<br />

inteiramente custea<strong>do</strong> pela<br />

União, foi uma das instalações<br />

mais elogiadas pelos atletas <strong>do</strong>s Jogos. A<br />

missão da empresa Comissaria Rio, contratada<br />

por R$ 36.324.861,90 (CR 022/2007), era a<br />

de servir pensão completa: café da manhã, almoço,<br />

jantar e serviço 24 horas, durante to<strong>do</strong><br />

o evento. Aberto dez dias antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s<br />

Jogos Pan-americanos, o restaurante funcionou<br />

graças ao trabalho de 1.065 funcionários e<br />

60 voluntários, em revezamento de três turnos.<br />

Para to<strong>do</strong>s os gostos:<br />

400 opções de prato foram<br />

servidas durante os Jogos.<br />

No detalhe, Luiz Incao, que<br />

comandava a cozinha <strong>do</strong><br />

restaurante da Vila<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

A cozinha, pilotada pelo chef Luiz Incao, <strong>do</strong><br />

restaurante Copacabana Palace, no Rio, preparou<br />

receitas de um cardápio varia<strong>do</strong>, basea<strong>do</strong><br />

no conceito de internacionalidade, para<br />

agradar a to<strong>do</strong>s os paladares de 42 países. E<br />

ainda aproveitou para divulgar a culinária brasileira.<br />

As 400 opções de pratos continham informações<br />

calóricas e variavam durante sete dias<br />

no almoço e jantar, o que permitiu aos atletas<br />

estabelecer o modelo de dieta que melhor conviesse<br />

à sua modalidade, à sua preparação e<br />

à sua orientação nutricional. O uso de aditivos<br />

para facilitar o cozimento ou alterar a textura<br />

ou sabor <strong>do</strong>s alimentos foi veda<strong>do</strong>, assim<br />

como temperos e aromatizantes não puderam<br />

ser utiliza<strong>do</strong>s em excesso, exceto nos pratos<br />

típicos. O esquema de auto-serviço permitia<br />

que o cliente consumisse em todas as ilhas<br />

de atendimento (saladas, massas, grelha<strong>do</strong>s<br />

e mix) quantas vezes desejasse, num perío<strong>do</strong><br />

de cinco horas para cada refeição. Durante a<br />

madrugada, o restaurante continuava aberto,<br />

e quem chegasse podia se servir de lanches<br />

frios, queijos, pães, frutas, sobremesas. É claro<br />

que nestes horários a freqüência diminuía, mas<br />

durante as refeições <strong>do</strong> dia o restaurante nunca<br />

serviu menos de duas mil pessoas – e chegou<br />

a ter pico de oito mil. Um sucesso absoluto.<br />

Outros números dão mostras de o quanto o<br />

restaurante da Vila agra<strong>do</strong>u a seus clientes: a<br />

média mínima ingerida pelos atletas por refeição<br />

era de um quilo de comida. Até a chamada<br />

‘junkie food’ fez sucesso entre os esportistas,<br />

de quem se imagina preferir os pratos balan-<br />

235


cea<strong>do</strong>s: pizzas, hambúrgueres, batatas fritas,<br />

catchup, e outros condimentos não ficaram de<br />

la<strong>do</strong> no restaurante. Além disso, a água foi preterida<br />

por café, refrigerante e sucos. Da chegada<br />

<strong>do</strong> alimento à Vila até sua apresentação<br />

nos oito balcões disponíveis, foram segui<strong>do</strong>s<br />

à risca procedimentos rigorosos de higiene.<br />

“Nosso foco principal foi a segurança alimentar.<br />

Queríamos atender a demanda de cardápio<br />

para satisfazer a to<strong>do</strong>s os atletas, observan<strong>do</strong><br />

as necessidades protéicas”, explica o gerente<br />

<strong>do</strong> contrato <strong>do</strong> restaurante, Maurício Romanato,<br />

da Secretaria <strong>do</strong> Comitê de Gestão Federal<br />

Rio 2007 (Sepan/ME).<br />

Nas ilhas batizadas de mix, chefs de cozinha<br />

convida<strong>do</strong>s, com apoio de associações de<br />

classes ligadas ao setor de restaurantes <strong>do</strong> Rio<br />

e <strong>do</strong> Brasil, mostraram seus <strong>do</strong>tes. O objetivo<br />

era divulgar a culinária nacional e associá-la<br />

a eventos de grande porte, permitin<strong>do</strong> que<br />

chefes renoma<strong>do</strong>s tivessem oportunidade de<br />

apresentar seu trabalho ao público esportivo<br />

e criar uma relação sócio-econômico-cultural<br />

entre o esporte, o turismo e a gastronomia.<br />

A iniciativa partiu <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Turismo<br />

(ver capítulo Impacto Econômico), e cada<br />

ilha teve seus cardápios impressos em braile<br />

e nas três línguas ofi ciais <strong>do</strong>s Jogos (português,<br />

inglês e espanhol).<br />

Uma parceria <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r com a<br />

Associação Brasileira das Indústrias de Panificação<br />

(Abip) permitiu fornecimento gratuito de<br />

pão, que saía sempre fresquinho <strong>do</strong>s fornos da<br />

cozinha. Por isso, a padaria foi a grande estrela<br />

<strong>do</strong> restaurante: atingiu a marca recorde de 2,7<br />

milhões de pães servi<strong>do</strong>s. Os atletas consumiram,<br />

em média, 304 quilos de pães por dia, ou<br />

111 quilos por pessoa por ano. Para se ter uma<br />

idéia, a Organização Mundial de Saúde (OMS)<br />

recomenda 60 quilos per capita/ano, e no Brasil<br />

este consumo é de 33 quilos.<br />

O projeto da instalação temporária, desenvolvi<strong>do</strong><br />

pela área de Alimentação <strong>do</strong> CO-Rio, sofreu<br />

alterações <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> a partir<br />

de janeiro de 2007. No início, teria oito mil metros<br />

quadra<strong>do</strong>s, mas ajustes feitos pela Sepan<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

236


permitiram a redução <strong>do</strong> tamanho para 6,8 mil<br />

metros quadra<strong>do</strong>s. A elaboração <strong>do</strong> projeto<br />

considerou o rigoroso sistema de segurança<br />

institucional que permeia eventos desta natureza.<br />

A estocagem, a produção e a oferta de<br />

variedade e quantidade de alimentos tinham<br />

de atender os padrões de segurança, nutrição<br />

e qualidade adequa<strong>do</strong>s a um projeto desta<br />

magnitude. Além disso, o projeto precisava estar<br />

alinha<strong>do</strong> com a mão-de-obra disponível no<br />

merca<strong>do</strong> brasileiro, com experiência e conhecimento<br />

para operar uma estrutura dessa dimensão.<br />

Minimizar acidentes de trabalho, e atender<br />

ao sistema viário e a to<strong>do</strong> o processo de logística<br />

e abastecimento da Vila também estavam no<br />

escopo. “O pessoal utiliza<strong>do</strong> pela Comissaria<br />

era altamente qualifica<strong>do</strong>”, analisa Romanato.<br />

Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Não ficaram de fora <strong>do</strong> projeto detalhes que<br />

fizeram a diferença no que diz respeito ao conforto,<br />

como as condições ideais de iluminação<br />

e refrigeração, por exemplo. A aparelhagem de<br />

ar condiciona<strong>do</strong> possuía um sistema altamente<br />

elabora<strong>do</strong> que regulava a temperatura dentro<br />

da tenda <strong>do</strong> restaurante de acor<strong>do</strong> com a<br />

temperatura externa. A própria tenda era feita<br />

de lona especial e o teto, branco, foi rebaixa<strong>do</strong>,<br />

para ampliar a sensação de aconchego.<br />

No chão, piso antiderrapante. A luminosidade<br />

foi pensada para que o atleta tivesse o mínimo<br />

de estresse: as cores brancas suavizaram<br />

a demanda por iluminação elétrica, e a quantidade<br />

desta era calculada por pequenos aparelhos<br />

chama<strong>do</strong>s de “luxímetro” (importantes<br />

também para garantir que a luz não agredisse<br />

atletas com deficiência visual).<br />

Noventa por cento <strong>do</strong>s equipamentos utiliza<strong>do</strong>s<br />

no restaurante foram adquiri<strong>do</strong>s pela Comissaria<br />

dentro <strong>do</strong> contrato com o Ministério<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e, posteriormente, <strong>do</strong>a<strong>do</strong>, o que<br />

fez com que uma instalação 100% temporária<br />

deixasse um importante lega<strong>do</strong> (ver capítulo<br />

Lega<strong>do</strong> Social). Funcionários terceiriza<strong>do</strong>s, voluntários<br />

e homens da Força Nacional usaram<br />

outro restaurante, também opera<strong>do</strong> pela empresa.<br />

Nos <strong>do</strong>is locais, a Comissaria Rio avalia<br />

ter servi<strong>do</strong> até 17 mil pessoas num único dia.<br />

Os números impressionam.<br />

O RESTAURANTE EM NÚMEROS<br />

2.250 lugares<br />

305 mil refeições servidas<br />

2,7 milhões de pães<br />

30 toneladas de frutas<br />

150 toneladas de verduras e legumes<br />

726 mil ovos<br />

19 toneladas de arroz<br />

9,5 toneladas de feijão<br />

120 toneladas de carnes vermelhas,<br />

brancas e pesca<strong>do</strong>s<br />

90 toneladas de massas<br />

4 toneladas de leite condensa<strong>do</strong><br />

25 mil tortas<br />

330 mil discos de pizza<br />

237


A beleza que fez a diferença<br />

C<br />

ombinar conforto, beleza e funcionalidade<br />

em um único projeto<br />

arquitetônico é tarefa bem mais<br />

complexa <strong>do</strong> que se imagina. Mas,<br />

no caso da Vila Pan-americana Rio 2007, esse<br />

desafio foi venci<strong>do</strong> com louvor. A qualidade<br />

<strong>do</strong>s materiais, a variedade de áreas de serviços<br />

e o espaço não foram os únicos fatores<br />

valoriza<strong>do</strong>s por atletas, dirigentes e pelo merca<strong>do</strong>.<br />

A Vila conquistou seus freqüenta<strong>do</strong>res e mora<strong>do</strong>res<br />

também por causa <strong>do</strong>s traços elegantes,<br />

da harmonia de tons suaves em suas paredes<br />

e das amplas áreas de lazer. Um conjunto estético<br />

à altura da beleza da cidade que o abriga,<br />

o Rio de Janeiro.<br />

Destaques <strong>do</strong> projeto, os grama<strong>do</strong>s e jardins<br />

receberam oito esculturas em aço <strong>do</strong> artista<br />

plástico Nuno Ferraz, inspiradas em esportes<br />

como natação, atletismo, vôlei, basquete, futebol,<br />

vela e judô.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Nuno usou 2,5 toneladas de aço nas peças.<br />

A maior, Velas ao Vento, pesa 500 quilos e<br />

tem cinco metros de altura. “Foi extremamente<br />

gratificante incorporar meu trabalho a esse<br />

complexo arquitetônico deslumbrante que é a<br />

Vila”, elogia Ferraz. “Procurei homenagear os<br />

atletas, sobretu<strong>do</strong> nos momentos de vitória”,<br />

completa o artista plástico. Detalhes <strong>do</strong> projeto<br />

nas próximas páginas.<br />

Um <strong>do</strong>s blocos de prédios<br />

da Vila Pan-americana,<br />

com um jardim em primeiro<br />

plano e uma das oito<br />

esculturas em aço <strong>do</strong><br />

artista plástico Nuno Ferraz<br />

238


Fotos: Divulgação / AGENCO<br />

239


240


Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Os jardins, a piscina (à esq.),<br />

o lago (acima, à esq.), as<br />

cores e os contornos suaves<br />

<strong>do</strong> projeto: combinação de<br />

eficiência e apuro estético<br />

241


SEGURANÇA<br />

A TODA PROVA<br />

Com integração entre forças,<br />

projetos sociais e inteligência,<br />

o Ministério da Justiça garantiu<br />

a tranqüilidade <strong>do</strong> Pan<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

242


O novo modelo passa no teste<br />

A<br />

segurança das autoridades e <strong>do</strong>s<br />

demais participantes <strong>do</strong>s grandes<br />

encontros internacionais realiza<strong>do</strong>s<br />

no Brasil sempre foi entregue, por<br />

tradição, ao Exército.<br />

A Conferência das Nações Unidas para o Meio<br />

Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco 92, que<br />

na ocasião reuniu o maior número de chefes<br />

de esta<strong>do</strong> e de governo da história, é apenas<br />

um <strong>do</strong>s grandes exemplos em que isso ocorreu.<br />

Com a eficiência habitual, os militares garantiram<br />

um ambiente tranqüilo neste e em to<strong>do</strong>s<br />

os outros eventos.<br />

Por isso, era previsível, até mesmo natural,<br />

que a decisão <strong>do</strong> governo federal de entregar<br />

a coordenação dessa tarefa, nos Jogos Pan e<br />

Parapan-americanos, ao Ministério da Justiça<br />

e não às Forças Armadas, causasse, no início,<br />

alguma dúvida em parte da opinião pública.<br />

Mas os resulta<strong>do</strong>s positivos e a inexistência na<br />

prática de uma ocorrência relevante relacionada<br />

ao Rio 2007 provaram que a decisão foi<br />

acertada. A tese a<strong>do</strong>tada foi a de que a lógica<br />

<strong>do</strong> policiamento deveria ser condizente com as<br />

políticas federais descritas no Sistema Único<br />

de Segurança Pública (Susp).<br />

Na prática, os Jogos serviram como palco<br />

para o início da implantação <strong>do</strong> projeto de segurança<br />

cidadã, desenvolvi<strong>do</strong> pelo Ministério<br />

da Justiça a partir <strong>do</strong> início <strong>do</strong> primeiro mandato<br />

<strong>do</strong> presidente Lula.<br />

As ações incluíam<br />

manobras ousadas<br />

como desembarques<br />

em estádios e ro<strong>do</strong>vias<br />

Um <strong>do</strong>s principais defensores da nova política,<br />

Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa, titular da Secretaria Nacional<br />

de Segurança Pública (Senasp) no perío<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Pan e hoje diretor geral da Polícia Federal,<br />

explica como funcionou o sistema. “Os Jogos<br />

deram visibilidade a um trabalho de articulação<br />

da segurança que vínhamos realizan<strong>do</strong>. Mostrou<br />

que nossas idéias são viáveis: integrar as<br />

instituições <strong>do</strong>s três níveis de administração<br />

e equilibrar prevenção e repressão, trazen<strong>do</strong><br />

conceitos novos como menos letalidade,<br />

polícia não fortemente armada dentro das<br />

instalações e policiamento intenso, com visi-<br />

243


ilidade, mas sem agressividade. “Não agredimos<br />

a rotina da cidade, ninguém se sentiu<br />

sob intervenção militar policial. Fizemos uma<br />

política de relacionamento. O aparato estava<br />

a postos, mas não agrediu nem constrangeu o<br />

cidadão”, explica ele, que foi também responsável<br />

pela área de segurança nos Jogos.<br />

O novo esquema foi batiza<strong>do</strong> por Corrêa de<br />

“amigável”. No palco <strong>do</strong>s Jogos, foram ensaia<strong>do</strong>s<br />

os primeiros movimentos <strong>do</strong> Programa<br />

Nacional de Segurança Pública com Cidadania<br />

(Pronasci), lança<strong>do</strong> formalmente em<br />

20 de agosto de 2007, dia seguinte ao das<br />

últimas disputas <strong>do</strong> Parapan. Hoje, o Pronasci<br />

investe na combinação de políticas de prevenção<br />

e de contenção da violência, através<br />

de ações sociais.<br />

Na avaliação de José Hilário de Medeiros, coordena<strong>do</strong>r<br />

geral de Ações de Segurança Integrada<br />

<strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos, o Brasil<br />

“quebrou um paradigma” ao realizar programas<br />

para comunidades carentes. “Fomos à<br />

África <strong>do</strong> Sul apresentar esse modelo. As lideranças<br />

comunitárias trabalharam com a Secretaria<br />

Nacional de Segurança Pública para<br />

trazer sensação de segurança para a cidade.<br />

Primeiro tentamos respeitar o cidadão carioca,<br />

para depois receber bem os estrangeiros”.<br />

O Comitê Olímpico Internacional (COI) exige<br />

das cidades-sede de grandes eventos que o<br />

modelo de segurança a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> inclua lega<strong>do</strong>s<br />

sociais e desenvolvimento da cooperação entre<br />

polícia e população. Segun<strong>do</strong> Corrêa, nenhum<br />

outro país havia executa<strong>do</strong> esse modelo:<br />

“O Brasil foi o único que preencheu toda a lista<br />

de exigências <strong>do</strong> COI”.<br />

A política de segurança cidadã não excluiu,<br />

claro, as técnicas e estratégias tradicionais<br />

de repressão. E, dentro delas, o setor de inteligência<br />

foi prioriza<strong>do</strong>. O governo federal,<br />

através <strong>do</strong> Ministério da Justiça, investiu<br />

R$ 563,137 milhões, destes, R$ 208 milhões<br />

apenas em tecnologia da informação e comunicação<br />

via rádio, que ficaram como lega<strong>do</strong><br />

para o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro. A Força Nacional<br />

de Segurança foi amplamente utilizada<br />

para aumentar o número de policiais nas ruas<br />

durante os Jogos. Posto em prática, o projeto<br />

da Senasp, executa<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os órgãos<br />

envolvi<strong>do</strong>s, deu certo. E o Brasil pode se orgulhar<br />

da proeza – conter a violência em perío<strong>do</strong>s<br />

de competições esportivas internacionais<br />

não é tarefa simples. Na França, o Rally Paris<br />

Dakar, por exemplo, foi cancela<strong>do</strong> em 2008,<br />

pela primeira vez na história, por motivos de<br />

segurança. Diante de algumas ameaças terroristas,<br />

não haveria como garantir a integridade<br />

<strong>do</strong>s atletas.<br />

No Pan <strong>do</strong> Rio de Janeiro, o resulta<strong>do</strong> ficou<br />

ainda melhor <strong>do</strong> que se esperava, e alguns<br />

fatos comprovam a tese. O mais relevante:<br />

os crimes na região metropolitana da cidade,<br />

<strong>do</strong>na de um <strong>do</strong>s maiores índices de violência<br />

das Américas, caíram drasticamente durante o<br />

perío<strong>do</strong> das competições. Segun<strong>do</strong> o Instituto<br />

de Segurança Pública (ISP), a capital teve queda<br />

em 11 <strong>do</strong>s 16 índices, na comparação com<br />

o mês anterior. O total de roubos caiu 14,3%, e<br />

o registro de maior queda se refere ao roubo<br />

em transporte coletivo: 50,1%.<br />

No Esta<strong>do</strong>, o índice de roubos de veículos caiu<br />

20,9%, e os de pedestres, 11,6%. “Em 33 anos<br />

de polícia nunca vi algo pareci<strong>do</strong>. Passamos<br />

um fim de semana inteiro sem um homicídio.<br />

Foi espetacular”, diz o coronel Samuel Dionizio,<br />

subcomandante da Polícia Militar <strong>do</strong> Rio<br />

de Janeiro. O planeja<strong>do</strong>r das ações de segurança,<br />

major Luciano Souza, da Força Nacional,<br />

resume: “Nosso sucesso se deve à priorização<br />

da tranqüilidade na cidade e não apenas<br />

dentro das instalações. Assim deixamos um<br />

lega<strong>do</strong> e justificamos o investimento público”.<br />

244


O trabalho <strong>do</strong> Ministério da Justiça<br />

A<br />

dimensão e a localização da Eco 92<br />

eram completamente distintas das<br />

apresentadas pelos Jogos Panamericanos.<br />

Na Eco, os três mil<br />

participantes e todas as atividades estavam<br />

concentra<strong>do</strong>s na Barra da Tijuca e no Aterro<br />

<strong>do</strong> Flamengo. No caso <strong>do</strong> Pan, as competições<br />

estariam espalhadas por várias regiões<br />

da cidade e o número de visitantes chegaria<br />

a quase oito mil, se soma<strong>do</strong>s apenas atletas e<br />

comissões técnicas.<br />

O ex-secretário da Senasp Luiz Fernan<strong>do</strong><br />

Corrêa lembra que, para fazer com que o Ministério<br />

da Justiça tomasse para si a responsabilidade<br />

pela segurança <strong>do</strong>s Jogos, foi necessário<br />

invocar a própria política <strong>do</strong> governo<br />

federal para a área. “Estávamos legitima<strong>do</strong>s<br />

pelo próprio governo a sair pelo Brasil pregan<strong>do</strong><br />

aquelas idéias”, lembra Corrêa. “Eu tinha<br />

um programa da Força Nacional e um exercício<br />

de mobilização, integração e cooperação<br />

federativa. Precisava então agregar recursos e<br />

intensificar as práticas rotineiras da Secretaria.<br />

Isso significou uma dedicação exclusiva por<br />

causa da demanda <strong>do</strong>s Jogos”, afirma Corrêa.<br />

A decisão de a<strong>do</strong>tar o novo caminho na área<br />

de segurança foi sacramentada em dezembro<br />

de 2005. Por isso, as compras de equipamentos<br />

e outros despachos só puderam ser<br />

realiza<strong>do</strong>s a partir de janeiro de 2006, um ano<br />

e meio antes da competição, o que, na avaliação<br />

de muitos <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s com a segurança<br />

<strong>do</strong>s Jogos, mostrou-se um prazo curto.<br />

A lentidão <strong>do</strong> segun<strong>do</strong>, terceiro e demais escalões<br />

<strong>do</strong>s órgãos de segurança para executar<br />

as ações causou atrasos em alguns procedimentos.<br />

Um deles foi o treinamento de policiais<br />

para a utilização de equipamentos de última<br />

geração adquiri<strong>do</strong>s. “O que realmente nos<br />

atrapalhou foi o processo de convencimento<br />

<strong>do</strong>s órgãos. Teríamos anda<strong>do</strong> mais rápi<strong>do</strong> se a<br />

liberação <strong>do</strong>s recursos tivesse mais velocidade”,<br />

avalia o secretário.<br />

Algumas políticas vinham sen<strong>do</strong> articuladas<br />

com antecedência, sobretu<strong>do</strong> em relação ao<br />

planejamento das ações. O programa <strong>do</strong>s<br />

guias cívicos, principal pilar <strong>do</strong> projeto de segurança<br />

cidadã, começou a ser idealiza<strong>do</strong> em<br />

2005, antes até da oficialização <strong>do</strong> convênio<br />

com o Programa das Nações Unidas para o<br />

Desenvolvimento (Pnud). A parceria foi fundamental<br />

para a realização deste e de mais sete<br />

programas da Secretaria. A Agência Brasileira<br />

de Inteligência (Abin), facilitada pelo fato<br />

de possuir atuação de natureza independente,<br />

também trabalhava na parte que lhe cabia<br />

desde 2003.<br />

Foto: Wilson Dias / Agência Brasil<br />

Treinamento com arma<br />

não letal para os Jogos:<br />

segurança sem abuso<br />

de atos violentos<br />

245


A Senasp articula os diversos órgãos de segurança<br />

A<br />

principal função da Secretaria Nacional<br />

de Segurança Pública (Senasp)<br />

no planejamento das operações<br />

de segurança <strong>do</strong>s Jogos foi a<br />

de articular as diferentes instituições, que até<br />

então pouco travavam contato entre si, <strong>do</strong>s<br />

três níveis de governo – estadual, municipal e<br />

federal. Para integrá-los, a Secretaria concebeu<br />

e formou uma espécie de conselho, um<br />

comitê de planejamento da segurança <strong>do</strong>s<br />

Jogos, forma<strong>do</strong> por representantes indica<strong>do</strong>s<br />

por cada órgão. Reuni<strong>do</strong> sob a orientação da<br />

Senasp, o comitê realizou o planejamento macro<br />

da segurança <strong>do</strong>s Jogos, em reuniões periódicas,<br />

desde o início de 2006.<br />

A Secretaria distribuiu incumbências e, a partir<br />

daí, os representantes planejaram suas próprias<br />

ações, com liberdade e autonomia, para<br />

cumprir as missões estabelecidas. O coronel<br />

Samuel Dionizio, da Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro, que esteve à frente das operações <strong>do</strong><br />

esta<strong>do</strong> durante o Pan, elogia a pouca interferência<br />

da Secretaria nas funções de cada órgão:<br />

“Era um trabalho conjunto. Usamos a meto<strong>do</strong>logia<br />

de deixar cada equipe desenvolver<br />

seu trabalho. E isso só pôde ser feito porque<br />

a Senasp ditou quem faria e o quê. E em momento<br />

algum ela influenciou na nossa atuação.<br />

Confiou no trabalho que estava sen<strong>do</strong> feito.<br />

Credito a esta atuação da Secretaria Nacional<br />

de Segurança Pública o sucesso da segurança<br />

<strong>do</strong> Pan. Infelizmente, alguém precisa gerir as<br />

vaidades. E um <strong>do</strong>s papéis fundamentais da<br />

Secretaria foi este”.<br />

A tarefa de estimular o diálogo entre as diferentes<br />

forças de segurança é complexa e<br />

requer habilidade, já que se trata de tentar<br />

quebrar barreiras culturais arraigadas, como<br />

a pouca relação, e em alguns casos até desavenças,<br />

que estes poderes mantêm entre<br />

si. Além disso, há também outro componente<br />

histórico: o temor que estas instituições sentem<br />

de serem invadidas em suas atribuições. A<br />

estratégia <strong>do</strong> governo de desembarcar no Rio<br />

a Força Nacional de Segurança poderia gerar<br />

preocupações desta natureza e ainda arranhar<br />

vaidades. Não é exagero dizer, portanto, que<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

a Secretaria cumpriu com maestria a função<br />

à qual se propôs para os Jogos, já que as rivalidades<br />

foram eliminadas e o planejamento,<br />

realiza<strong>do</strong> com sucesso. Para Rival<strong>do</strong> Barbosa,<br />

chefe de Inteligência da Polícia Civil <strong>do</strong> Rio e<br />

representante da corporação no conselho de<br />

planejamento, o grande lega<strong>do</strong> deixa<strong>do</strong> pelos<br />

Jogos foi a aproximação entre policiais militares<br />

e civis no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro: “A<br />

ligação que fiz com a Polícia Militar não tem<br />

preço. Agora, para sentar e conversar ficou<br />

muito mais fácil. Hoje a gente sabe que supera<br />

qualquer divergência e entra em acor<strong>do</strong>.”<br />

246


Agentes de vários<br />

esta<strong>do</strong>s trabalharam<br />

juntos nos centros<br />

A tese que norteou o organograma <strong>do</strong> Centro<br />

de Operações de Segurança <strong>do</strong>s Jogos era a<br />

de um sistema de coordenação no qual cada<br />

órgão assumia o coman<strong>do</strong> da operação que<br />

lhe cabia, ten<strong>do</strong> os outros como apoio, sempre<br />

sob a chefia da Senasp. Na prática, em caso<br />

de uma catástrofe ambiental, por exemplo, a<br />

Secretaria de Defesa Civil assumiria a operação,<br />

poden<strong>do</strong> ditar ações à Polícia Militar.<br />

Em outro exemplo, o mesmo se daria no caso<br />

de um seqüestro com reféns envolven<strong>do</strong> atletas,<br />

no qual a chefia ficaria a cargo da Polícia<br />

Federal, auxiliada pelas outras forças. A base<br />

teórica deste méto<strong>do</strong> inova<strong>do</strong>r está descrita no<br />

Sistema Único de Segurança Pública, o principal<br />

plano <strong>do</strong> governo federal para o setor, que,<br />

como o próprio nome diz, prega a ação coordenada<br />

das instituições de segurança. “Eu<br />

tenho por norma um entendimento: o serviço<br />

público é uno. Dividimos em União, Esta<strong>do</strong> e<br />

município por uma questão de organização.<br />

Então a idéia foi mostrar que o serviço único<br />

de segurança estava posto para os Jogos Pan<br />

e Parapan. Essa foi a mudança de conceito”,<br />

conclui Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa.<br />

247


A Força em ação:<br />

segurança interna<br />

das instalações<br />

Foto: Al<strong>do</strong> Dias / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

248


Principais missões <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s<br />

SECRETARIA DE ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA<br />

Coordenar as várias atividades relacionadas à segurança física e ao patrimônio das instalações<br />

e locais de eventos e proteger autoridades, atletas e público através das ações <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s<br />

no programa de segurança <strong>do</strong>s Jogos;<br />

Controlar e dar soluções para as ações preventivas, emergenciais, reativas e repressivas;<br />

Atuar como interlocutor entre os participantes de toda a operação;<br />

Apoiar, com recursos operacionais, a programação produzida pelo CO-Rio<br />

e suas eventuais modificações;<br />

Promover e assegurar a participação cidadã e transparente das instituições de segurança <strong>do</strong><br />

esquema elabora<strong>do</strong> para os Jogos;<br />

Assegurar a redução da violência, interferin<strong>do</strong> o mínimo possível no cotidiano da cidade.<br />

POLÍCIA FEDERAL<br />

Realizar ações de prevenção e informação de antiterrorismo<br />

e ações táticas de contra-terrorismo;<br />

Gerenciar crises em ocorrências com reféns envolven<strong>do</strong> autoridades, dirigentes e atletas em<br />

edificações, aeronaves, embarcações, trens, metrô e veículos;<br />

Coordenar ocorrências e/ou atenta<strong>do</strong>s com explosivos e/ou incendiários;<br />

Coordenar a segurança de autoridades, dirigentes e atletas;<br />

Coordenar ações de polícia marítima e de fronteiras;<br />

Estabelecer delegacias fi xas e móveis nas áreas de interesse;<br />

FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA<br />

Apoiar os órgãos de segurança na prevenção e/ou restabelecimento da ordem,<br />

em caso de atenta<strong>do</strong>s, catástrofes ou ocorrências em geral que extrapolem a capacidade<br />

operativa destas instituições;<br />

Garantir a segurança da comitiva da Tocha Pan-americana durante seu deslocamento<br />

pelas 26 capitais, Distrito Federal e demais cidades <strong>do</strong> país, sempre interagin<strong>do</strong><br />

com os outros órgãos de segurança envolvi<strong>do</strong>s;<br />

Garantir a segurança no interior da Vila Pan-americana;<br />

Garantir a segurança interna das instalações <strong>do</strong>s locais de competição, não-competição,<br />

hospedagem e eventos, dentro <strong>do</strong>s limites legais;<br />

Controlar o acesso de veículos e pessoas aos locais de competição e afins: os especta<strong>do</strong>res<br />

devem passar por rigorosa revista, com uso de magnetômetros, detectores de metal portáteis,<br />

raios-X de esteira, detectores de radiação, de explosivos e substâncias tóxicas e/ou revistas de<br />

itens carrega<strong>do</strong>s nas mãos;<br />

Garantir a segurança <strong>do</strong> público interno nos locais de interesse;<br />

Inspecionar to<strong>do</strong>s os alimentos, materiais ou equipamentos que entraram nas áreas<br />

consideradas críticas, como a Vila, os centros de operações de transmissão de rádio e TV, o<br />

Centro de Imprensa e os hotéis oficiais;<br />

Atuar em outras situações não descritas, de acor<strong>do</strong> com sua capacidade e atribuição legal,<br />

mediante a determinação da Senasp e/ou <strong>do</strong> Centro de Operações de Segurança <strong>do</strong>s Jogos.<br />

Fonte: Relatório das Atividades de Segurança no Pan, Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />

249


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />

Controlar as divisas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> município da capital fluminense,<br />

exceto no caso das ro<strong>do</strong>vias federais;<br />

Gerir ocorrências com reféns, em conjunto com a Polícia Civil, desde que não envolvam<br />

dignitários, dirigentes e atletas sob a proteção da Polícia Federal;<br />

Fazer o policiamento ostensivo e preservar a ordem pública nas áreas externas aos locais de<br />

competição, não competição, hospedagem, eventos e treinamentos;<br />

Fazer o policiamento ostensivo e preservar a ordem pública nos corre<strong>do</strong>res viários de acesso<br />

aos complexos esportivos, áreas de eventos oficiais, treinamento e hospedagem;<br />

Fazer o policiamento ostensivo e preservar a ordem pública na orla e em pontos turísticos;<br />

Agir, se necessário, para ocupar e conter áreas especiais, como comunidades carentes e imediações,<br />

onde haja qualquer atuação <strong>do</strong> narcotráfico capaz de intervir na segurança <strong>do</strong>s Jogos;<br />

Fazer o policiamento ostensivo e preservar a ordem pública nas áreas externas aos pontos<br />

sensíveis e críticos, em especial no tocante aos sistemas de telecomunicações e de<br />

fornecimento de energia, iluminação, gás e abastecimento de água;<br />

Fazer o policiamento ostensivo e preservar a ordem pública na rede ferroviária,<br />

em terminais ro<strong>do</strong>viários e no entorno <strong>do</strong>s aeroportuários;<br />

Promover ações preventivas e repressivas, em articulação com a Secretaria de Esta<strong>do</strong><br />

de Administração Penitenciária, com vistas aos estabelecimentos prisionais e delegacias<br />

concentra<strong>do</strong>ras de presos, em conjunto com a Polícia Civil;<br />

Empregar efetivos operacionais aerotransporta<strong>do</strong>s;<br />

A<strong>do</strong>tar procedimentos para atender situações de emprego de forças de reação,<br />

em planejamento conjunto com a Força Nacional de Segurança Pública.<br />

POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />

Gerir ocorrências com reféns, em conjunto com a Polícia Militar, desde que não envolvam<br />

dignitários, dirigentes e atletas sob a proteção da Polícia Federal;<br />

Fazer o policiamento ostensivo e preservar a ordem pública na orla e pontos turísticos;<br />

Reprimir a venda de ingressos (cambistas) nos locais de competição;<br />

Estabelecer delegacias móveis nas áreas de interesse;<br />

Realizar o monitoramento criminal específico volta<strong>do</strong> às regiões <strong>do</strong>s Jogos;<br />

Realizar perícia técnico-científica com rapidez e eficácia;<br />

Promover ações preventivas e repressivas, em articulação com a Secretaria de Esta<strong>do</strong><br />

de Administração Penitenciária, com vistas aos estabelecimentos prisionais e delegacias<br />

concentra<strong>do</strong>ras de presos, em conjunto com a Polícia Militar;<br />

Empregar efetivos operacionais aerotransporta<strong>do</strong>s;<br />

A<strong>do</strong>tar procedimentos para atender situações de emprego de forças de reação,<br />

em planejamento conjunto com a Força Nacional de Segurança Pública;<br />

Remover cadáveres em decurso de tempo a não prejudicar<br />

as operações de segurança <strong>do</strong>s Jogos.<br />

Fonte: Relatório das Atividades de Segurança no Pan, Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />

250


POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL<br />

Controlar as divisas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> município da capital fluminense<br />

nas ro<strong>do</strong>vias federais;<br />

Realizar ações de segurança e controle nas mesmas ro<strong>do</strong>vias;<br />

Escoltar delegações e dignitários para os locais de hospedagem, embarque,<br />

treinamento, competição, não competição e pontos turísticos;<br />

Disponibilizar bate<strong>do</strong>res para casos de deslocamentos de emergências<br />

das instituições envolvidas no esquema de segurança <strong>do</strong>s Jogos.<br />

Fonte: Relatório das Atividades de Segurança no Pan, Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />

As escoltas das delegações<br />

foram feitas pela Polícia<br />

Ro<strong>do</strong>viária Federal<br />

Foto: Arquivo / Senasp<br />

251


SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA CIVIL<br />

Gerir o Centro Estadual de Administração de Desastres, engloban<strong>do</strong><br />

os planos de contingência relaciona<strong>do</strong>s com os locais <strong>do</strong>s Jogos;<br />

A<strong>do</strong>tar medidas de prevenção, preparação e resposta relacionadas aos complexos esportivos;<br />

Promover ações de prevenção e combate a incêndios urbanos e florestais que venham a<br />

comprometer a segurança <strong>do</strong>s Jogos, incluin<strong>do</strong> o suprimento de água para tal;<br />

Realizar perícias em operações próprias <strong>do</strong> Corpo de Bombeiros Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro (CBMERJ), bem como em ações integradas com outros órgãos;<br />

Coordenar operações com produtos perigosos, inclusive a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong><br />

providências cabíveis à interface com outros órgãos no caso de ações<br />

envolven<strong>do</strong> agentes químicos, biológicos, radiológicos e nucleares;<br />

Atuar em conexão com o departamento de saúde <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para garantir<br />

que as estratégias de reação de emergência <strong>do</strong>s Jogos sejam coordenadas<br />

com hospitais e outros órgãos de atendimento médico;<br />

Remover cadáveres em decurso de tempo a não prejudicar<br />

as operações de segurança <strong>do</strong>s Jogos;<br />

Agir em integração com a Defesa Civil <strong>do</strong> Município no cumprimento de suas atribuições.<br />

CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />

A<strong>do</strong>tar medidas de prevenção, preparação e resposta relacionadas aos complexos esportivos;<br />

Fazer operações de busca, salvamento e resgate, incluin<strong>do</strong> matas e florestas,<br />

com eventual emprego de cães fareja<strong>do</strong>res;<br />

Realizar operações aéreas de buscas resgates, salvamentos<br />

e combate a incêndios com asa fixa e rotativa;<br />

Agir preventivamente no combate a incêndios urbanos e florestais que viessem<br />

a comprometer a segurança <strong>do</strong>s Jogos, incluin<strong>do</strong> o suprimento de água para tal;<br />

Coordenar operações com produtos perigosos, inclusive a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> providências<br />

cabíveis à interface com outros órgãos no caso de ações envolven<strong>do</strong> agentes químicos,<br />

biológicos, radiológicos e nucleares;<br />

Realizar socorro de emergências médicas dentro de suas atribuições legais;<br />

Atuar em conexão com o departamento de saúde <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para garantir que as<br />

estratégias de reação de emergência <strong>do</strong>s Jogos fossem coordenadas com hospitais<br />

e outros órgãos de atendimento médico;<br />

Prevenir e resgatar afoga<strong>do</strong>s nas praias.<br />

Fonte: Relatório das Atividades de Segurança no Pan, Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />

252


DEFESA CIVIL DO MUNICÍPIO<br />

Monitorar as áreas de interesse com emprego de equipes operacionais<br />

e com a utilização <strong>do</strong> Centro de Controle Operacional, sob a coordenação<br />

<strong>do</strong> Centro de Operações de Segurança <strong>do</strong>s Jogos;<br />

Intensificar as vistorias técnicas em locais de interesse que pudessem oferecer riscos,<br />

interditan<strong>do</strong> as áreas, se fosse o caso;<br />

Verificar permanentemente com a rede municipal de saúde a quantidade<br />

de leitos disponíveis para o atendimento de vítimas;<br />

Estabelecer intenso contato com os órgãos de meteorologia para saber<br />

da possibilidade de um evento e sua amplitude, possibilitan<strong>do</strong> a tomada de medidas<br />

pertinentes a fim de se anular ou minimizar seus efeitos;<br />

Realizar o reconhecimento <strong>do</strong> local de desastre verifi can<strong>do</strong> a possibilidade de ocorrências de<br />

novos fatos adversos, acionan<strong>do</strong>, através <strong>do</strong> Centro de Operações de Segurança <strong>do</strong>s Jogos,<br />

a Secretaria de Esta<strong>do</strong> de Defesa Civil (CBMERJ), em caso de vítimas, e a Polícia Militar, com<br />

vista à alocação de policiamento ostensivo no local;<br />

Acionar órgãos municipais e de apoio para a a<strong>do</strong>ção de medidas como a instalação<br />

de abrigos provisórios, se fosse o caso;<br />

Articular com a Secretaria de Esta<strong>do</strong> de Defesa Civil, através<br />

<strong>do</strong> Centro de Operações de Segurança <strong>do</strong>s Jogos, caso os problemas apresenta<strong>do</strong>s<br />

não fossem sana<strong>do</strong>s com os meios disponíveis.<br />

SECRETARIA MUNICIPAL DE TRANSPORTES (E CET-RIO)<br />

Planejar as operações de trânsito em nível municipal em torno das instalações<br />

e corre<strong>do</strong>res viários, incluin<strong>do</strong> bloqueios necessários;<br />

Reprimir o transporte público irregular, em especial nos corre<strong>do</strong>res viários<br />

e imediações <strong>do</strong>s perímetros de segurança;<br />

Designar e fiscalizar as áreas de estacionamento regulamentadas<br />

e de guarda<strong>do</strong>res credencia<strong>do</strong>s.<br />

GUARDA MUNICIPAL<br />

Praticar ações gerais de controle urbano nas imediações das instalações,<br />

orla e pontos turísticos;<br />

Praticar ações gerais de controle e fiscalização de trânsito;<br />

Apoiar a repressão ao comércio ambulante nas imediações <strong>do</strong>s perímetros<br />

de segurança para evitar aglomerações de pessoas;<br />

Apoiar a Secretaria Municipal de Transportes no cumprimento de suas atribuições nos Jogos.<br />

Fonte: Relatório das Atividades de Segurança no Pan, Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />

253


Foto: Marcos Tristão / Agência O Globo<br />

Ações específicas<br />

Operações Especiais de antiterrorismo e<br />

contraterrorismo e ação antibomba<br />

A Senasp estu<strong>do</strong>u as questões políticas <strong>do</strong>s 41<br />

países estrangeiros participantes <strong>do</strong>s XV Jogos<br />

Pan-americanos, com a cooperação <strong>do</strong>s<br />

seus respectivos órgãos e agências internacionais<br />

de inteligência. A partir das informações<br />

colhidas, traçou-se uma análise de risco de<br />

atenta<strong>do</strong>s terroristas em solo brasileiro. Segun<strong>do</strong><br />

José Hilário, coordena<strong>do</strong>r de Ações de Segurança<br />

Integrada <strong>do</strong>s Jogos, “o país está prepara<strong>do</strong><br />

para qualquer situação desta natureza”.<br />

No caso de um eventual ataque terrorista durante<br />

a competição, seriam empregadas no combate<br />

as unidades especiais <strong>do</strong> Departamento<br />

de Polícia Federal (Coman<strong>do</strong> de Operações Táticas<br />

– COT), da Força Nacional de Segurança<br />

Pública (Força de Resposta Rápida – FRR), da<br />

Polícia Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro (Batalhão<br />

de Operações Especiais – Bope) e da<br />

Polícia Civil <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro (Coordena<strong>do</strong>ria<br />

de Recursos Especiais – Core). Para<br />

prevenir o terrorismo e os atenta<strong>do</strong>s à bomba,<br />

a Senasp realizou as seguintes tarefas: aquisição<br />

de equipamentos, atualização e uniformização<br />

de <strong>do</strong>utrina, criação de um novo modelo<br />

de procedimentos antibomba para grandes<br />

eventos, capacitação e atualização de pessoal<br />

e multiplica<strong>do</strong>res, modernização tecnológica<br />

uniformizada, cooperação, integração e coordenação<br />

de órgãos de segurança. To<strong>do</strong>s os<br />

locais <strong>do</strong>s Jogos foram vistoria<strong>do</strong>s.<br />

Durante as competições, as varreduras em instalações<br />

e veículos de transporte <strong>do</strong>s atletas<br />

ficou a cargo da Comissão Nacional de Energia<br />

Nuclear (CNEN), Polícia Federal e da equipe<br />

de cães fareja<strong>do</strong>res, sempre com o suporte<br />

da Força Nacional de Segurança Pública.<br />

Patrulhamento aéreo<br />

A Força Nacional de Segurança Pública coordenou<br />

as ações de segurança aérea. Os cor-<br />

254


e<strong>do</strong>res da Região Metropolitana <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />

não foram modifica<strong>do</strong>s, porém to<strong>do</strong>s os<br />

aviões e helicópteros que sobrevoaram a cidade<br />

durante o evento foram identifica<strong>do</strong>s pelas<br />

características da aeronave, situação legal, tripulação<br />

e passageiros. Sobre os equipamentos<br />

esportivos foram criadas áreas de exclusão e<br />

de sobrevôo restrito, nas quais só eram permitidas<br />

aeronaves autorizadas.<br />

Os Jogos possibilitaram que, pela primeira vez,<br />

fossem postas em prática as definições estabelecidas<br />

pelo Conselho Aeropolicial – que reúne,<br />

desde 2005, profissionais <strong>do</strong>s departamentos<br />

de aviação estaduais, responsáveis por elaborar<br />

uma política de gestão unificada na área de<br />

policiamento aéreo e a<strong>do</strong>tar padrões comuns<br />

a to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s. As sete novas aeronaves<br />

adquiridas para a segurança aérea da competição<br />

foram escolhidas pelo Conselho, numa<br />

demonstração prática da integração desenhada<br />

pelo Sistema Único de Segurança Pública<br />

(Susp) e promovida pela Senasp. Outros seis<br />

helicópteros foram incorpora<strong>do</strong>s ao efetivo <strong>do</strong><br />

patrulhamento aéreo nos Jogos, pertencentes<br />

à Polícia Federal, Polícia Ro<strong>do</strong>viária Federal e<br />

instituições de segurança pública <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Ao to<strong>do</strong>, 13 aeronaves patrulharam o espaço<br />

aéreo <strong>do</strong> Rio de Janeiro durante o Pan.<br />

As atribuições da Secretaria nas operações<br />

de aviação incluíam o policiamento ostensivo<br />

e investigativo; ações de inteligência; apoio<br />

a cumprimento de manda<strong>do</strong> judicial; controle<br />

de tumultos, distúrbios e motins; escoltas<br />

e transporte de dignitários, presos, valores e<br />

cargas; transporte de enfermos e órgãos humanos<br />

e resgate; busca, salvamento terrestre<br />

e aquático; controle de tráfego ro<strong>do</strong>viário,<br />

ferroviário e urbano; prevenção e combate a<br />

incêndios; patrulhamentos urbano, rural, ambiental,<br />

litorâneo e de fronteiras; e outras operações<br />

autorizadas pela Agência Nacional de<br />

Aviação Civil (Anac).<br />

Cães fareja<strong>do</strong>res<br />

Através <strong>do</strong> Programa Nacional de Cães Fareja<strong>do</strong>res,<br />

a Secretaria promoveu cursos de<br />

especialização para mais de 150 agentes de<br />

segurança pública de 22 esta<strong>do</strong>s brasileiros.<br />

Em junho de 2007, sete agentes estiveram no<br />

Canadá para aprender a atuar com o animal.<br />

Para os XV Jogos, o Rio de Janeiro recebeu<br />

120 cães, 12 deles <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s pelo Canadá e Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s e outros oriun<strong>do</strong>s das Polícias Civil,<br />

Militar e Ro<strong>do</strong>viária Federal, além <strong>do</strong> Corpo de<br />

Bombeiros. O trabalho <strong>do</strong>s fareja<strong>do</strong>res incluiu<br />

varreduras para identificar explosivos e drogas<br />

em diversas instalações esportivas e não esportivas,<br />

além de busca e resgate de pessoas.<br />

O apoio às instituições segun<strong>do</strong> demanda<br />

específica de cada órgão por cães de faro e o<br />

planejamento e a execução destas atividades<br />

ficaram a cargo da Senasp.<br />

Proteção radiológica e nuclear<br />

O trabalho de prevenção, identificação e resposta<br />

a eventuais incidentes com materiais ra-<br />

Foto: Isaac Amorim / Ministério da Justiça<br />

As varreduras em<br />

busca de explosivos<br />

e drogas foram feitas<br />

com 120 animais<br />

255


dioativos e nucleares contou com 240 profissionais<br />

da Comissão Nacional de Energia Nuclear<br />

(CNEN), que atuaram no controle de acesso<br />

de pessoas, veículos e cargas às instalações<br />

esportivas. Foram disponibiliza<strong>do</strong>s 230 equipamentos<br />

portáteis, que medem a intensidade e<br />

o grau de risco, mapeiam áreas e a <strong>do</strong>sagem<br />

de emissão de radiação e identificam fontes de<br />

emissão em grandes áreas. Cerca de 600 homens<br />

da Força Nacional e da Polícia Civil <strong>do</strong><br />

Rio de Janeiro e 140 peritos da Polícia Federal<br />

foram treina<strong>do</strong>s para detectar resíduos radioativos<br />

e responder a situações emergenciais. A<br />

capacitação foi semelhante à realizada para as<br />

Olimpíadas de 2004, na Grécia, e para a Copa<br />

<strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de 2006, na Alemanha. A inclusão <strong>do</strong><br />

sistema na segurança <strong>do</strong>s Jogos foi resulta<strong>do</strong><br />

de um acor<strong>do</strong> de cooperação entre a CNEN, <strong>do</strong><br />

Ministério da Ciência e Tecnologia, e a Agência<br />

Internacional de Energia Atômica (AIEA).<br />

Proteção para os esportes aquáticos<br />

A Comissão Nacional de Segurança Pública<br />

<strong>do</strong>s Portos, Terminais e Vias Navegáveis (Conportos)<br />

foi incorporada ao Centro de Coman<strong>do</strong><br />

e Controle, para fazer a segurança das áreas<br />

marítimas e no porto <strong>do</strong> Rio de Janeiro durante<br />

os Jogos. A Conportos articulou as diversas<br />

forças de segurança responsáveis pelos Jogos<br />

dentro <strong>do</strong> porto carioca e atuou no reforço à<br />

proteção <strong>do</strong>s locais de competição de modalidades<br />

aquáticas.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Aulas de combate ao<br />

terrorismo fizeram<br />

parte da preparação<br />

256


Coordena<strong>do</strong> pela Abin,<br />

o CIJ reuniu 27 órgãos<br />

e 250 policiais<br />

Foto: Arquivo / Senasp<br />

Os centros de inteligência e de segurança<br />

T<br />

oda a estrutura de operações de segurança<br />

<strong>do</strong>s Jogos, coordenada pelo<br />

Ministério da Justiça, através da Secretaria<br />

Nacional de Segurança Pública,<br />

foi composta de quatro grandes centros<br />

de gerenciamento e oito centros regionais, que<br />

reuniam os órgãos de segurança, inteligência e<br />

defesa civil das três esferas de governo.<br />

A hierarquia de coman<strong>do</strong> e controle comportou<br />

três níveis: principal, regional e local. Cerca<br />

de 600 policiais foram treina<strong>do</strong>s para a operação<br />

<strong>do</strong> Centro de Coman<strong>do</strong> e Controle e <strong>do</strong>s<br />

centros regionais e locais de segurança.<br />

INSTITUIÇÕES INTEGRANTES DO COS<br />

Centro de Operações de Segurança <strong>do</strong>s<br />

Jogos (COS)<br />

O coração da segurança no Pan-americano fi -<br />

cou no COS, que iniciou os trabalhos em fins<br />

de junho de 2007. Responsável pela gestão<br />

integrada de to<strong>do</strong> o sistema disponível para<br />

o setor, ele atuou em conjunto com o Centro<br />

de Inteligência <strong>do</strong>s Jogos (CIJ) e o Centro de<br />

Logística de Segurança <strong>do</strong>s Jogos (CLSJ),<br />

manten<strong>do</strong> ainda estreita relação com o Centro<br />

de Coman<strong>do</strong> de Operações da Secretaria Estadual<br />

de Segurança Pública e demais órgãos<br />

e instituições de segurança e inteligência e a<br />

Força Nacional. Comanda<strong>do</strong> pelo atual chefe<br />

Secretaria Nacional de Segurança Pública, Agência Brasileira de Inteligência,<br />

Polícia Federal, Polícia Ro<strong>do</strong>viária Federal, Polícia Militar, Polícia Civil,<br />

Força Nacional de Segurança Pública, Guarda Municipal,<br />

Corpo de Bombeiros, Defesa Civil <strong>do</strong> Rio de Janeiro, Secretaria Municipal<br />

de Transportes/CET-Rio, Comissões Especiais: Antibomba,<br />

Conportos, Aeropolicial e Cães Fareja<strong>do</strong>res.<br />

257


da Força Nacional, coronel Luiz Antônio Ferreira,<br />

o COS também cui<strong>do</strong>u <strong>do</strong>s oito centros<br />

regionais.<br />

Centro de Inteligência <strong>do</strong>s Jogos (CIJ)<br />

Unidade central <strong>do</strong> sistema de inteligência, sob<br />

o coman<strong>do</strong> da Agência Brasileira de Inteligência<br />

(Abin), reuniu 27 órgãos e abrigou cerca de<br />

250 servi<strong>do</strong>res, em regime de turnos, durante<br />

24 horas por dia – além de outros 300 agentes<br />

em campo. O assessor de planejamento<br />

da Abin, Luiz Alberto Salaberry, elogia a “altíssima<br />

excelência, o grande nível tecnológico<br />

e a interligação com parceiros de to<strong>do</strong> o País<br />

proporciona<strong>do</strong>s pelo CIJ”.<br />

O Centro, localiza<strong>do</strong> no bairro <strong>do</strong> Santo Cristo,<br />

região central da cidade, estava interliga<strong>do</strong><br />

com o Centro de Inteligência e Serviços Estrangeiros,<br />

no Recreio <strong>do</strong>s Bandeirantes, na<br />

zona oeste, que por sua vez mantinha comunicações<br />

com 80 serviços estrangeiros parceiros<br />

da Abin. O CIJ ficou como lega<strong>do</strong> para<br />

o Rio de Janeiro, mas seu braço estrangeiro,<br />

monta<strong>do</strong> especialmente para os Jogos, foi desativa<strong>do</strong>.<br />

Entre suas atribuições estava a de<br />

fazer o levantamento de ameaças aos Jogos,<br />

coletar, registrar, analisar e sintetizar informações.<br />

Para Rival<strong>do</strong> de Araújo, chefe de Inteligência<br />

da Polícia Civil <strong>do</strong> Rio de Janeiro, “o CIJ<br />

funcionou muito bem. As informações chegavam<br />

e eram processadas ao mesmo tempo por<br />

vários órgãos de inteligência. O ideal era que<br />

tivéssemos isso para sempre, que sentassem,<br />

diariamente, representantes da Polícia Militar,<br />

Polícia Federal, Abin, Polícia Civil para cuidar<br />

das atividades <strong>do</strong> dia a dia”.<br />

Centro de Inteligência e Serviços Estrangeiros<br />

(Cises)<br />

Instala<strong>do</strong> no Recreio <strong>do</strong>s Bandeirantes e controla<strong>do</strong><br />

pela Abin, tinha como “objetivo principal<br />

atender às necessidades <strong>do</strong> CIJ no tocante<br />

a informações e acompanhamento <strong>do</strong>s indivíduos<br />

e organizações estrangeiros, com atuação<br />

em seus respectivos territórios, nas áreas<br />

de terrorismo, crime organiza<strong>do</strong> e movimentos<br />

reivindicatórios e de pressão, que representas-<br />

INSTITUIÇÕES INTEGRANTES DO CIJ<br />

Secretaria Nacional de Segurança Pública,<br />

Agência Brasileira de Inteligência, Polícia Federal,<br />

Polícia Ro<strong>do</strong>viária Federal, Marinha, Exército, Aeronáutica,<br />

Secretaria <strong>do</strong> Comitê de Gestão Federal Rio 2007 (Sepan/ME),<br />

Infraero, Ministério das Relações Exteriores, Banco Central,<br />

Ministério das Comunicações, Delegacia Regional <strong>do</strong> Trabalho (RJ),<br />

Superintendência da Receita Federal (RJ),<br />

Conselho de Controle de Atividades Financeiras,<br />

Furnas Centrais Elétricas, Agência Nacional de Vigilância Sanitária,<br />

Secretaria de Segurança Pública (RJ),<br />

Secretaria de Esta<strong>do</strong> de Administração Penitenciária (RJ),<br />

Ministério Público, Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal,<br />

Companhia de Engenharia de Tráfego (RJ),<br />

Coordena<strong>do</strong>ria Municipal de Defesa Civil (RJ),<br />

Polícia Militar, Polícia Civil e Opera<strong>do</strong>r Nacional <strong>do</strong> Sistema Elétrico.<br />

258


sem ameaças reais ou potenciais à segurança<br />

<strong>do</strong>s Jogos”, segun<strong>do</strong> relatório produzi<strong>do</strong> pela<br />

própria Agência.<br />

Centro Logístico de Segurança <strong>do</strong>s Jogos<br />

(CLSJ)<br />

Locais de obtenção, transporte, suprimento e<br />

armazenamento <strong>do</strong>s equipamentos e materiais<br />

envolvi<strong>do</strong>s com a segurança <strong>do</strong>s Jogos, os 36<br />

centros instala<strong>do</strong>s em parceria com as forças<br />

públicas da Secretaria de Segurança Pública<br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro atuaram em estreita ligação<br />

com o COSJ e o CIJ. Entre suas atribuições estavam<br />

o treinamento <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s equipamentos<br />

e materiais e sua conservação e manutenção.<br />

Centros Regionais de Segurança <strong>do</strong>s Jogos<br />

(CRSJ)<br />

Oito centros regionais, subordina<strong>do</strong>s ao<br />

COSJ, cuidaram da segurança ao re<strong>do</strong>r das<br />

instalações esportivas: na Barra da Tijuca, os<br />

centros Autódromo, Ayrton Senna e Vila Panamericana;<br />

os demais estiveram sedia<strong>do</strong>s em<br />

Copacabana, Campo Grande, Aterro <strong>do</strong> Flamengo,<br />

Maracanã e Vilas Especiais (Aeroporto<br />

Tom Jobim, Linha Amarela e Linha Vermelha).<br />

Além de coordenar os Centros Locais de Segurança<br />

das instalações <strong>do</strong>s Jogos, os Centros<br />

Regionais faziam, por exemplo, o monitoramento<br />

das câmeras externas; a avaliação<br />

das condições de tráfego viário nos corre<strong>do</strong>res<br />

primários e rotas alternativas; a primeira<br />

resposta inerente às ações policiais, de defesa<br />

civil, controle urbano e de trânsito no entorno<br />

das instalações de interesse e nos corre<strong>do</strong>res<br />

primários e secundários.<br />

Centros Locais de Segurança <strong>do</strong>s Jogos<br />

(CLocSJ)<br />

Estes eram os órgãos operacionais de segurança<br />

<strong>do</strong>s locais de competição e não-competição<br />

<strong>do</strong>s Jogos, subordina<strong>do</strong>s aos Centros<br />

Regionais de Segurança das suas regiões e<br />

responsáveis por gerir o sistema de segurança,<br />

coordenar as atividades <strong>do</strong>s órgãos públicos<br />

e empresas privadas de segurança dentro<br />

destas instalações e cuidar, entre outras coisas,<br />

da estrutura de acesso de pessoas, veículos<br />

e cargas.<br />

Módulos Operacionais de Coman<strong>do</strong> (MOC)<br />

Cria<strong>do</strong>s pela Polícia Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<br />

de Janeiro, os 14 módulos abrigaram efetivo<br />

de policiais extraordinário e exclusivo para os<br />

Jogos. Dez deles foram instala<strong>do</strong>s dentro <strong>do</strong>s<br />

Batalhões de Botafogo, Méier, Bangu, Ilha <strong>do</strong><br />

Governa<strong>do</strong>r, Jacarepaguá, Copacabana, Maré,<br />

Leblon e Tijuca, que recebeu <strong>do</strong>is módulos, já<br />

que a região concentrava a maior parte das atividades<br />

<strong>do</strong>s Jogos.<br />

O Regimento de Cavalaria Enyr Cony <strong>do</strong>s Santos,<br />

o Batalhão de Polícia Ro<strong>do</strong>viária e o Batalhão<br />

de Policiamento em Vias Especiais abrigaram<br />

outros três módulos. Cada um contava<br />

com um comandante, uma estrutura de apoio<br />

e supervisores.<br />

Centro de Coman<strong>do</strong> e Controle<br />

O novo sistema de monitoramento implanta<strong>do</strong><br />

pela Senasp no Rio de Janeiro foi to<strong>do</strong> basea<strong>do</strong><br />

em experiências de outros países que<br />

já realizaram grandes eventos, como Austrália<br />

e Alemanha.<br />

No prédio da Central <strong>do</strong> Brasil, onde funciona<br />

a Secretaria Estadual de Segurança Pública,<br />

mais de 100 computa<strong>do</strong>res foram usa<strong>do</strong>s no<br />

controle de imagens, da<strong>do</strong>s e voz; programas<br />

de informática permitiram o rastreamento de<br />

veículos, localização de ocorrências policiais,<br />

processamento de da<strong>do</strong>s sobre pessoas,<br />

processos criminais e transmissão de da<strong>do</strong>s;<br />

e 1.800 locais de jogos, vias e pontos críticos<br />

foram monitora<strong>do</strong>s durante os Jogos Panamericanos.<br />

O Centro, que ficou como lega<strong>do</strong> para o Esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro, possui o sistema de<br />

interceptação telefônica mais avança<strong>do</strong> da<br />

América Latina.<br />

259


Anuncia<strong>do</strong> em solenidade conjunta pela Senasp e a Secretaria Estadual de Segurança Pública,<br />

no dia 26 de junho de 2007, no Rio de Janeiro, o plano básico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para o policiamento de<br />

segurança para os XV Jogos Pan-americanos incluía as seguintes medidas práticas:<br />

Interrupção de to<strong>do</strong>s os cursos, férias e licenças <strong>do</strong>s policiais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro;<br />

Remanejamento de policiais de outras áreas <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>;<br />

3.224 policiais militares em regime extraordinário para o Pan: 217 oficiais e 3.007<br />

praças, sen<strong>do</strong> 2.595 da região metropolitana e 412 <strong>do</strong> interior. Esses se uniram aos 5.539<br />

já atuantes, num total de 8.763 na capital;<br />

4.764 policiais civis, mais de 40% de seu quadro: destes, 4.261 nas delegacias de polícia,<br />

61 no Centro de Operações de Segurança <strong>do</strong>s Jogos, 42 nas delegacias <strong>do</strong>s Juiza<strong>do</strong>s<br />

Especiais Criminais, 330 nos órgãos de perícia e 70 no setor de inteligência;<br />

24 horas de ação;<br />

A Polícia Militar realizaria o policiamento de praia, aéreo, marítimo, motoriza<strong>do</strong> e monta<strong>do</strong>;<br />

O Batalhão de Operações Especiais (Bope) só atuaria em casos específicos,<br />

como invasão da Vila <strong>do</strong> Pan ou assaltos com reféns;<br />

Reforço nos túneis da cidade com o Grupamento Tático de Motociclistas (GTM)<br />

e Grupo Tático Especial em Motopatrulha (GTEM);<br />

30 homens <strong>do</strong> Batalhão de Choque prontos para agir em tempo integral<br />

nos complexos <strong>do</strong> Maracanã e Engenhão;<br />

Alta tecnologia a serviço da segurança<br />

O projeto de tecnologia para a segurança, elabora<strong>do</strong><br />

e implementa<strong>do</strong> pelo governo federal<br />

e deixa<strong>do</strong> como lega<strong>do</strong> para o Rio de Janeiro,<br />

custou R$ 208 milhões. Uma das principais<br />

ferramentas instaladas foi o Sistema Único de<br />

Comunicação, rede que integra informações de<br />

200 órgãos – entre os quais 28 bancos de da<strong>do</strong>s<br />

criminais, de processos legais e registros<br />

de automóveis, acessível de 350 das viaturas<br />

adquiridas para os Jogos. Além disso, outros<br />

350 policiais possuíam terminais de mão.<br />

O sistema opera por meio de uma rede sem fio<br />

com transmissão criptografada, integran<strong>do</strong> os<br />

da<strong>do</strong>s com voz e imagens, entre elas as produzidas<br />

por 1.500 novas câmeras instaladas<br />

nos locais de competição e em pontos estratégicos<br />

da cidade. Um software inteligente analisa<br />

as imagens e reconhece várias situações<br />

suspeitas. Dada a geografia da cidade, 1.227<br />

antenas de rádio tiveram de ser instaladas na<br />

maior parte <strong>do</strong> perímetro urbano.<br />

Em outros pontos, carros tinham as chapas<br />

fotografadas e instantaneamente consultadas<br />

na relação de veículos rouba<strong>do</strong>s. Além disso,<br />

mil veículos a serviço das delegações foram<br />

equipa<strong>do</strong>s com sistema de rastreamento por<br />

satélite.<br />

No coman<strong>do</strong> central da segurança <strong>do</strong> Pan, era<br />

possível observá-los numa tela, localiza<strong>do</strong>s no<br />

mapa da cidade. Para fazer funcionar o sistema<br />

de tecnologia de segurança, foram necessários,<br />

ao to<strong>do</strong>, 1.600 computa<strong>do</strong>res, 36 locais<br />

260


Nas viaturas, acesso<br />

direto ao sistema de<br />

informação integra<strong>do</strong><br />

Fotos: Arquivo / Senasp<br />

de recepção e transmissão de sinais, além<br />

de 12 centrais de da<strong>do</strong>s.<br />

Um sistema de rádio digital e criptografa<strong>do</strong>,<br />

que ficou como lega<strong>do</strong> para o Esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro, permite que nove instituições<br />

de segurança diferentes falem entre<br />

si sem que haja interferências – custou<br />

R$ 48 milhões aos cofres da Secretaria<br />

Nacional de Segurança Pública (Senasp).<br />

O equipamento codifica as mensagens,<br />

permitin<strong>do</strong> que apenas os envolvi<strong>do</strong>s na<br />

operação compreendam as conversas travadas<br />

entre os órgãos de segurança <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.<br />

Quem não possui o código de acesso<br />

ouve apenas chia<strong>do</strong>s. Além <strong>do</strong> sistema de<br />

rádio, outras centenas de equipamentos<br />

foram adquiridas.<br />

261


A Agência Brasileira de Inteligência<br />

A<br />

Agência Brasileira de Inteligência<br />

teve papel fundamental na segurança<br />

<strong>do</strong>s Jogos, coordenan<strong>do</strong> as<br />

atividades <strong>do</strong> setor de inteligência<br />

a partir <strong>do</strong> CIJ. O planejamento começou a ser<br />

realiza<strong>do</strong> ainda em 2003, quatro anos antes<br />

da competição.<br />

Era preciso dar início à tarefa com muita antecedência<br />

porque o órgão tinha a função de<br />

municiar a própria Secretaria Nacional de Segurança<br />

Pública (Senasp) com informações<br />

para que esta pudesse planejar como e onde<br />

atuar, concentrar esforços, traçar estratégias.<br />

O Ministério da Justiça, por meio da Senasp,<br />

investiu R$ 28.316.534,00 na Agência, mas a<br />

liberação <strong>do</strong>s recursos foi tardia, na avaliação<br />

de Luiz Alberto Salaberry, assessor de planejamento<br />

<strong>do</strong> órgão. “Checamos muitas coisas<br />

sem os recursos <strong>do</strong> Pan. Abrimos oportunidades<br />

para servi<strong>do</strong>res da Senasp se especializarem<br />

e visitamos países para refinar o modelo<br />

de inteligência <strong>do</strong>s Jogos. Investimos no Brasil<br />

to<strong>do</strong>. Um ano e três meses foi um tempo curto<br />

para tu<strong>do</strong> isso. Mas compensamos a demora<br />

priorizan<strong>do</strong> o evento na agenda da Abin”.<br />

O “Relatório fi nal da Abin sobre as ações relativas<br />

aos XV Jogos Pan-americanos e III<br />

Jogos Parapan-americanos Rio 2007” informa<br />

que, “por intermédio <strong>do</strong> Departamento de<br />

Operações de Inteligência, a Agência, desde<br />

o primeiro semestre de 2003, desenvolveu<br />

ações operacionais em to<strong>do</strong> o território nacional,<br />

em especial no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro,<br />

com o objetivo de detectar, identifi car,<br />

acompanhar e neutralizar possíveis ações de<br />

pessoas, grupos ou organizações que pudessem<br />

ameaçar a segurança das delegações<br />

ou os locais de realização das provas, ações<br />

que adquiriram caráter sistemático durante a<br />

realização <strong>do</strong>s Jogos”.<br />

Em 2005, a equipe, que agregava funcionários<br />

de todas as áreas da Abin, produziu o primeiro<br />

Relatório de Avaliação de Risco, a linha-mestre<br />

de to<strong>do</strong> o planejamento da área de segurança.<br />

Mais tarde, foram feitas outras quatro reavaliações,<br />

e a última foi emitida em 30 de junho de<br />

2007, às vésperas <strong>do</strong>s Jogos.<br />

Outros estu<strong>do</strong>s deram origem ao Relatório de<br />

Avaliação de Riscos <strong>do</strong>s Locais de Treinamento,<br />

que assinalou os alvos prioritários, identificou<br />

vulnerabilidades e ameaças e propôs medidas<br />

de prevenção. “Em 2004 e 2005, avançamos<br />

em definir a meto<strong>do</strong>logia, após pesquisa em<br />

âmbito internacional. Escolhemos a australiana<br />

e neozelandesa, já testada em grandes<br />

eventos, entre eles os Jogos de Atenas 2004,<br />

Salt Lake City 2002 e Turim 2006. Pegamos<br />

ferramentas usadas na Austrália e nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s e adequamos ao caso brasileiro. Aqui,<br />

o risco terrorista não é a principal ameaça, e<br />

sim o crime organiza<strong>do</strong>. Outros instrumentos<br />

foram agrega<strong>do</strong>s para dar um retrato real da<br />

situação brasileira, para um evento no Rio, que<br />

tem especificidades bem diferentes de outros<br />

ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”, conta Salaberry.<br />

A Abin também rastreou todas as pessoas<br />

com acesso às áreas esportivas ou de risco,<br />

através <strong>do</strong> sistema Infoseg – cria<strong>do</strong> em 2004<br />

para integrar da<strong>do</strong>s e informações de segurança<br />

pública, justiça e fiscalização de to<strong>do</strong><br />

o País, em um total de 105 mil candidatos a<br />

credenciais. O poder de veto cabia apenas à<br />

Senasp e ao CO-Rio.<br />

Em novembro de 2006, o órgão promoveu um<br />

encontro de trabalho com a presença de representantes<br />

de 42 Serviços de Inteligência<br />

estrangeiros, pertencentes aos países integrantes<br />

da Odepa, “para estreitar cooperação<br />

e trocar informações. Ademais, foram realizadas<br />

palestras para a sensibilização de segmentos<br />

priva<strong>do</strong>s importantes, como o setor<br />

hoteleiro <strong>do</strong> Rio de Janeiro, e treinamento de<br />

situações de rotina e emergência”, detalha o<br />

relatório da Abin.<br />

Entre 1º de julho e 19 de agosto, portanto antes,<br />

durante e depois <strong>do</strong>s Jogos, foram produzi<strong>do</strong>s<br />

mais de 500 relatórios que apontavam as áreas<br />

críticas, ameaças e níveis de risco, para orientar<br />

a Senasp sobre onde o coman<strong>do</strong> da segurança<br />

deveria concentrar seu maior esforço.<br />

262


O importante apoio <strong>do</strong> CO-Rio<br />

T<br />

en<strong>do</strong> como modelo histórico o uso das<br />

Forças Armadas em grandes eventos<br />

no País, o Comitê montou uma equipe<br />

formada por oficiais da reserva <strong>do</strong><br />

Exército, com o apoio <strong>do</strong> Ministério da Defesa,<br />

para cuidar da segurança <strong>do</strong>s Jogos. Paralelamente,<br />

recomen<strong>do</strong>u à prefeitura a contratação,<br />

em 2003, da consultoria da empresa australiana<br />

Intelligent Risks (IR). “Vivíamos um momento<br />

pós-11 de setembro, este era um tema muito<br />

delica<strong>do</strong>. A IR foi responsável pelo setor nos<br />

Jogos de Sydney e fez o projeto <strong>do</strong> Pan ten<strong>do</strong><br />

aquela Olimpíada como modelo”, conta Carlos<br />

Roberto Osório, secretário geral <strong>do</strong> CO-Rio. O<br />

planejamento proposto tratava da segurança<br />

interna das instalações, <strong>do</strong> deslocamento de<br />

atletas, <strong>do</strong> credenciamento, mas, naturalmente,<br />

não apresentava detalhes sobre o policiamento<br />

na cidade, a cargo <strong>do</strong> poder público.<br />

A entrada <strong>do</strong> Ministério da Justiça, através da<br />

Secretaria Nacional de Segurança Pública, na<br />

preparação <strong>do</strong>s Jogos, com a aposta no modelo<br />

de segurança cidadã, inicialmente causou insegurança<br />

no Comitê. “Mas quan<strong>do</strong> eles começaram<br />

a entender, depois <strong>do</strong>s debates sobre a<br />

questão, e com o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> apoian<strong>do</strong><br />

a decisão, tu<strong>do</strong> começou a fluir e passaram<br />

a nos apoiar”, lembra Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa.<br />

Segun<strong>do</strong> o então secretário nacional de Segurança<br />

Pública, o planejamento anterior <strong>do</strong> CO-<br />

Rio, realiza<strong>do</strong> pela consultoria IR, teve utilidade,<br />

“porque ali está a memória <strong>do</strong>s grandes eventos,<br />

<strong>do</strong>s planos de segurança de outros Jogos,<br />

mas sempre com o foco de contemplar só as<br />

competições”.<br />

Rival<strong>do</strong> de Araújo, chefe de inteligência da Polícia<br />

Civil e representante da corporação no comitê<br />

da Senasp, critica o projeto inicial <strong>do</strong> Comitê:<br />

“A dinâmica da segurança pública estava<br />

estabelecida por afinidade, ou seja, na mesma<br />

área de proteção ficavam os hotéis e os aeroportos,<br />

por exemplo, que estão em lugares muito<br />

distantes. São batalhões e delegacias distintos.<br />

Quan<strong>do</strong> esta idéia chegou à Senasp, nós<br />

criticamos e sugerimos que se delimitassem as<br />

áreas de proteção por território. Assim foi feito”,<br />

conta Rival<strong>do</strong>. Para o coordena<strong>do</strong>r José Hilário,<br />

logo no início, o Comitê se mostrou satisfeito<br />

com as novas propostas e manteve excelente<br />

relação com a Senasp.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Treinamento para os Jogos:<br />

projeto de segurança <strong>do</strong><br />

governo federal teve a<br />

colaboração <strong>do</strong> CO-Rio<br />

263


A Força Nacional de Segurança<br />

O<br />

uso da Força Nacional de Segurança<br />

Pública nos Jogos<br />

também fez parte <strong>do</strong> projeto<br />

da Senasp de aproveitar os<br />

Jogos Pan-americanos para pôr em prática<br />

to<strong>do</strong>s os aspectos <strong>do</strong> Sistema Único de Segurança<br />

Pública (SUSP), que traça as diretrizes<br />

de política pública <strong>do</strong> governo federal para a<br />

área. Fundada em 2004, a Força é um programa<br />

de cooperação federativa. Seu efetivo é integra<strong>do</strong><br />

por policiais militares cedi<strong>do</strong>s pelos 26<br />

esta<strong>do</strong>s e o Distrito Federal e submeti<strong>do</strong>s a um<br />

programa de padronização de procedimentos<br />

para dar apoio às instituições de segurança de<br />

qualquer unidade da federação quan<strong>do</strong> requisita<strong>do</strong>s.<br />

Das oito atribuições da corporação no<br />

Rio de Janeiro já listadas anteriormente, houve<br />

três principais tarefas, segun<strong>do</strong> o coronel Luiz<br />

Antônio Ferreira, comandante da Força. Ele<br />

menciona o policiamento interno das instalações<br />

esportivas e não esportivas, a coordenação<br />

das escoltas de autoridades e a operação<br />

para asfixiar o crime organiza<strong>do</strong> no Complexo<br />

<strong>do</strong> Alemão, na zona norte da cidade.<br />

A tarefa <strong>do</strong> policiamento interno das instalações<br />

é a que mais se aproxima <strong>do</strong> foco deste<br />

relatório por ser uma ação diretamente relacionada<br />

aos Jogos. Apesar de problemas pontuais,<br />

principalmente liga<strong>do</strong>s a falhas no credenciamento<br />

feito pelo CO-Rio, a Força Nacional<br />

foi bem-sucedida. Não houve registro de abusos<br />

por parte <strong>do</strong>s solda<strong>do</strong>s e nem ocorrências<br />

graves dentro das instalações causadas por<br />

falhas nos procedimentos.<br />

A Força Nacional atuou nas instalações com<br />

o conceito inova<strong>do</strong>r de não-letalidade, cuja<br />

aplicação em larga escala no País é outra diretriz<br />

de política pública <strong>do</strong> governo federal<br />

para a área. Ela utilizou instrumentos como<br />

sprays de pimenta, espingardas com munição<br />

de borracha, armas de ar comprimi<strong>do</strong>, granadas<br />

de efeito moral, gás lacrimogêneo. Uma<br />

das dificuldades deste processo, que exige<br />

a mudança de mentalidade <strong>do</strong>s policiais, foi<br />

conscientizar os agentes da importância de se<br />

atuar apenas com armamentos não letais. Nos<br />

diversos treinamentos promovi<strong>do</strong>s, eles foram<br />

submeti<strong>do</strong>s aos efeitos das armas e descobriram<br />

que o objetivo de conter a violência pode<br />

ser plenamente atingi<strong>do</strong> com o uso correto<br />

destas ferramentas.<br />

A granada de luz e som, por exemplo, é um<br />

dispositivo de borracha – cuja espoleta sai antes<br />

de ser detona<strong>do</strong>, para não correr o risco de<br />

ferir ninguém com o impacto – capaz de ensurdecer<br />

e cegar temporariamente pelo barulho e<br />

luz intensa que emite. Agentes também aprenderam<br />

a utilizar as espingardas com munição<br />

de borracha: para que não seja fatal, é preciso<br />

atirar da cintura para baixo e a mais de 20 metros<br />

de distância.<br />

Seis mil policiais da Força foram desloca<strong>do</strong>s<br />

para o Rio. A princípio seriam 10 mil. “Decidimos<br />

investir mais em inteligência, com ações<br />

estruturantes, assim seriam necessários menos<br />

homens”, explica o coordena<strong>do</strong>r de Segurança<br />

<strong>do</strong>s Jogos, José Hilário de Medeiros. A<br />

tropa de elite também cui<strong>do</strong>u, com sucesso,<br />

<strong>do</strong> revezamento da Tocha Pan-americana nas<br />

51 localidades por onde passou.<br />

Policiamento interno<br />

Os solda<strong>do</strong>s da Força utilizaram armas letais<br />

e fardas militares apenas ao re<strong>do</strong>r das instalações.<br />

Nos acessos de público e no interior,<br />

usaram armamento não letal e vestiram uniformes<br />

semelhantes aos de outros participantes<br />

da organização <strong>do</strong> evento: uma camisa preta<br />

com a logomarca <strong>do</strong>s Jogos.<br />

Para o ex-secretário nacional de Segurança<br />

Pública e atual diretor da Polícia Federal, Luiz<br />

Fernan<strong>do</strong> Corrêa, uma das maiores dificuldades<br />

foi mudar a mentalidade <strong>do</strong>s policiais. Mas<br />

ele acredita que o objetivo foi alcança<strong>do</strong>: “O<br />

primeiro problema para o policial é não operar<br />

com a farda militar. Para eles foi duro. Mas é<br />

um padrão internacional: a roupa diferenciada<br />

que usavam lá dentro e a ausência de arma.<br />

Se um policial não estiver com a arma letal na<br />

cintura, não se entende policial. Ali não era o<br />

caso, com to<strong>do</strong>s aqueles controles. Nós tínhamos<br />

resposta letal em to<strong>do</strong>s eles, só não precisava<br />

estar visível”, explica o ex-secretário.<br />

264


Foto: Isaac Amorim / Ministério da Justiça<br />

O preparo da Força<br />

Nacional garantiu<br />

a segurança nas<br />

instalações<br />

265


Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Além <strong>do</strong> policiamento em si, a Força Nacional<br />

também fazia nas instalações o controle<br />

de acesso de veículos e inspecionava a entrada<br />

de suprimentos, alimentos, materiais e<br />

equipamentos.<br />

Entre os equipamentos de alta tecnologia usa<strong>do</strong>s<br />

para inspecionar tu<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s que entravam<br />

nas instalações esportivas ou não <strong>do</strong>s<br />

Jogos, o mais curioso talvez seja o caminhão<br />

HCVM, um <strong>do</strong>s 109 aparelhos de raios-X utiliza<strong>do</strong>s.<br />

Trata-se <strong>do</strong> maior e mais moderno caminhão<br />

escaner <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e único na América<br />

Latina capaz de identificar, em 30 segun<strong>do</strong>s,<br />

indícios de bombas, drogas, armas ou produtos<br />

químicos explosivos em contêineres de 40<br />

pés. Durante a competição, foram utiliza<strong>do</strong>s<br />

mais de 100 caminhões com alimentos e outras<br />

cargas, destinadas à Vila Pan-americana e às<br />

instalações esportivas, sempre monitora<strong>do</strong>s.<br />

Apenas três situações exigiram a intervenção<br />

da Força nas instalações: no dia 22 de julho,<br />

a platéia <strong>do</strong> Riocentro testemunhou uma briga<br />

entre dirigentes <strong>do</strong> judô de Brasil e Cuba<br />

e outra entre atletas de handebol de Brasil<br />

266


Checagem de credenciais<br />

Os policiais da Força Nacional enfrentaram<br />

dificuldades nas instalações devi<strong>do</strong><br />

a problemas no credenciamento realiza<strong>do</strong><br />

pelo Comitê Organiza<strong>do</strong>r (ver capítulo Tecnologia).<br />

A princípio, os agentes deveriam<br />

atuar apenas como apoio para os responsáveis<br />

pela checagem de credenciais. Mas<br />

<strong>do</strong>is fatores fizeram com que os próprios<br />

policiais assumissem a tarefa: a falta de<br />

pessoal qualifica<strong>do</strong> e o temor da Secretaria<br />

Nacional de Segurança Pública de que<br />

eventuais falhas humanas diminuíssem o<br />

nível de segurança <strong>do</strong> evento.<br />

Maior e mais moderno caminhão<br />

escaner <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> aju<strong>do</strong>u a garantir<br />

a segurança <strong>do</strong>s Jogos, identifican<strong>do</strong><br />

eventual existência de armas, drogas,<br />

bombas ou produtos químicos; também<br />

monitorou caminhões de suprimentos<br />

que entravam na Vila<br />

e Argentina. Seis dias depois, o Maracanãzinho<br />

foi palco de protestos de torce<strong>do</strong>res<br />

contraria<strong>do</strong>s com a troca de horário de uma<br />

partida de vôlei.<br />

Sobre as duas ocasiões, o coordena<strong>do</strong>r José<br />

Hilário analisa que a Força teve atuação exemplar,<br />

inclusive no incidente <strong>do</strong> Maracanãzinho,<br />

em que os policiais foram critica<strong>do</strong>s pela imprensa<br />

por terem utiliza<strong>do</strong> spray de pimenta<br />

contra os manifestantes: “A atuação da Força<br />

Nacional foi um êxito e exemplar em to<strong>do</strong>s estes<br />

casos”, enfatizou Hilário.<br />

A maioria <strong>do</strong>s encarrega<strong>do</strong>s não conhecia<br />

bem a credencial, um <strong>do</strong>cumento elabora<strong>do</strong><br />

com uma escala complexa de siglas e cores,<br />

de alta tecnologia. Mas aprenderam na prática,<br />

ao longo <strong>do</strong>s Jogos. Além disso, o CO-Rio<br />

não entregou credenciais a tempo para to<strong>do</strong>s,<br />

e muitos tiveram de circular pelas instalações<br />

com um <strong>do</strong>cumento provisório, o que difi cultava<br />

ainda mais o trabalho de identificação. A<br />

situação das credenciais provisórias foi atenuada,<br />

mas sua regularização só se deu após<br />

pressões da Senasp. “Nossa preocupação<br />

era mostrar para o mun<strong>do</strong> que o Brasil tinha<br />

capacidade de garantir a segurança. Quan<strong>do</strong><br />

chegou num momento crítico, endurecemos:<br />

‘Não vai entrar se não estiver com credencial,<br />

não interessa quem seja’”, lembra Luiz Fernan<strong>do</strong><br />

Corrêa.<br />

Escolta<br />

Na escolta <strong>do</strong>s ônibus <strong>do</strong>s atletas e carros<br />

com dirigentes e autoridades, a Força trabalhou<br />

diretamente com a Polícia Federal, Polícia<br />

Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro e a<br />

Polícia Ro<strong>do</strong>viária Federal.<br />

Nos primeiros dias, a operação foi prejudicada<br />

pelo atraso <strong>do</strong> CO-Rio no envio de informações<br />

sobre deslocamento das delegações.<br />

O problema foi resolvi<strong>do</strong> rapidamente:<br />

“As planilhas de escolta vinham com atraso, o<br />

que nos fazia precisar de mais homens. Mas<br />

isso foi ajusta<strong>do</strong> logo no início”, lembra o coronel<br />

Samuel Dionizio, da PM.<br />

267


Foto: Ana Branco / Agência O Globo<br />

Mais de 5 mil policiais<br />

federais atuaram na<br />

segurança <strong>do</strong>s Jogos<br />

268


A Polícia Federal e suas atribuições<br />

A<br />

Polícia Federal (PF) foi a última instituição<br />

a aderir de maneira mais<br />

incisiva na preparação <strong>do</strong>s Jogos,<br />

em novembro de 2006. Até então,<br />

poucas demandas da PF haviam si<strong>do</strong> repassadas<br />

à Senasp. Uma das conseqüências da<br />

demora foi que se tornou o último órgão a receber<br />

recursos <strong>do</strong> orçamento <strong>do</strong>s Jogos para<br />

a segurança, em março e abril de 2007.<br />

A responsabilidade pelo planejamento das<br />

operações deste órgão ficou a cargo de sua<br />

Coordena<strong>do</strong>ria Geral de Defesa Institucional<br />

(CGDI). Para o chefe da coordena<strong>do</strong>ria, delega<strong>do</strong><br />

Daniel Sampaio, o motivo da demora da<br />

PF em aderir ao plano foi o “excesso de atribuições”<br />

da instituição.<br />

Algumas obrigações <strong>do</strong> órgão não foram postas<br />

em prática porque os Jogos transcorreram<br />

com tranqüilidade no quesito segurança, como<br />

a atuação em ocorrências com explosivos ou<br />

crises de reféns. A PF atuou com mais ênfase<br />

na segurança de autoridades, dirigentes e<br />

atletas e na coordenação das ações de polícia<br />

marítima e de fronteiras, incluin<strong>do</strong> a recepção<br />

no Aeroporto Internacional Tom Jobim, além<br />

de varreduras antibomba nas instalações esportivas<br />

e não esportivas.<br />

Se tivesse entra<strong>do</strong> com mais antecedência<br />

e de forma mais ativa nos Jogos, a Polícia<br />

Federal poderia ter se planeja<strong>do</strong> melhor.<br />

É o que explica o coordena<strong>do</strong>r geral de Defesa<br />

Institucional: “Entramos tardiamente, mas buscamos<br />

capacitar nosso pessoal. Promovemos<br />

cursos em cinco regiões <strong>do</strong> País. Quase to<strong>do</strong>s<br />

os policiais envolvi<strong>do</strong>s participaram <strong>do</strong> curso<br />

de segurança de dignitários. Tivemos de treinar<br />

agentes no manejo de fuzil e pistola”, diz<br />

Daniel Sampaio.<br />

Outra conseqüência é que a PF não conseguiu<br />

comprar alguns <strong>do</strong>s equipamentos que pretendia.<br />

A solução, segun<strong>do</strong> o delega<strong>do</strong> Sampaio,<br />

foi redistribuir armamentos <strong>do</strong>s próprios<br />

policiais para os que atuariam nos Jogos. A<br />

demora fez com que ficasse fora <strong>do</strong> planejamento<br />

um local de trabalho para os policiais<br />

federais na Vila Pan-americana. Os agentes foram<br />

aloja<strong>do</strong>s em contêineres cujas condições<br />

foram alvo de protesto de entidades de classe<br />

ligadas aos policiais.<br />

Cerca de 3 mil policiais federais realizaram<br />

mais de 80 mil operações de transporte durante<br />

os Jogos, entre deslocamento de delegações<br />

e autoridades. E outros 3 mil agentes<br />

estiveram envolvi<strong>do</strong>s em ações de inteligência,<br />

combate ao terrorismo e antibomba.<br />

Segurança de dignitários<br />

Foram utiliza<strong>do</strong>s 658 policiais federais na segurança<br />

<strong>do</strong>s dignitários. Cada ônibus de delegação<br />

levava <strong>do</strong>is agentes a bor<strong>do</strong>. Além<br />

disso, foram destaca<strong>do</strong>s policiais para acompanhar<br />

as autoridades mais visadas.<br />

Quatro mil viagens de atletas foram realizadas<br />

com segurança. Houve uma ameaça de bomba<br />

contra o ônibus de uma equipe americana de<br />

futebol, e os policiais conduziram o veículo ao<br />

estádio até concluírem que a ameaça era falsa.<br />

Imigração<br />

Uma área foi isolada no Aeroporto Internacional<br />

Tom Jobim para receber atletas e demais participantes<br />

<strong>do</strong>s Jogos. A operação foi realizada<br />

em conjunto pela Polícia Federal e o CO-Rio. O<br />

atleta passava pela imigração, realizan<strong>do</strong> procedimentos<br />

diferentes <strong>do</strong>s outros passageiros,<br />

e em seguida se encaminhava para outra sala,<br />

onde já recebia sua credencial antes de ser leva<strong>do</strong><br />

para o ônibus. O procedimento foi bastante<br />

elogia<strong>do</strong>. A única dificuldade encontrada<br />

por quem o operava era a mesma que enfrentaram<br />

os policiais responsáveis pelas escoltas:<br />

as delegações nem sempre informavam ao<br />

CO-Rio o horário correto de chegada de seus<br />

vôos, o que influenciava toda a operação.<br />

269


Os agentes treinaram<br />

o uso de armas não-letais,<br />

como granadas de luz e som,<br />

que não foram utilizadas<br />

durante os Jogos<br />

270


Antiterrorismo e inteligência<br />

O<br />

s Jogos passaram incólumes<br />

por ameaças e atenta<strong>do</strong>s terroristas<br />

de qualquer natureza. Como<br />

parte das ações antiterrorismo,<br />

foram realiza<strong>do</strong>s treinamentos na Espanha e<br />

em Portugal, com homens <strong>do</strong> Coman<strong>do</strong> de<br />

Operações Táticas da PF e <strong>do</strong> Batalhão de<br />

Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar<br />

<strong>do</strong> Rio. Técnicos de Alemanha, França e Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s foram trazi<strong>do</strong>s ao Brasil para ministrar<br />

cursos.<br />

To<strong>do</strong>s os locais de eventos, hotéis, carros e<br />

ônibus utiliza<strong>do</strong>s por atletas e autoridades foram<br />

vistoria<strong>do</strong>s por uma equipe de 250 peritos<br />

e de cães fareja<strong>do</strong>res. Entre as ações planejadas,<br />

apenas o processo de varredura das<br />

instalações enfrentou algumas complicações.<br />

No planejamento ideal, haveria em todas elas<br />

o lock-<strong>do</strong>wn, dia em que o local ficaria fecha<strong>do</strong><br />

para a operação. A partir da sua reabertura,<br />

apenas credencia<strong>do</strong>s poderiam entrar. Mas a<br />

medida não foi possível de ser concretizada<br />

em algumas instalações, já que operários ainda<br />

precisavam fazer os acertos finais e alguns<br />

equipamentos não haviam si<strong>do</strong> entregues.<br />

Foto: Isaac Amorim / Ministério da Justiça<br />

271


A Segurança Cidadã: ousadia que deu certo<br />

E<br />

ntusiasma<strong>do</strong> com o exemplo de<br />

Bogotá, na Colômbia, o Ministério<br />

da Justiça traçou, em 2003,<br />

um plano de políticas basea<strong>do</strong> no<br />

conceito de segurança cidadã para o Brasil.<br />

A capital colombiana implantou uma série<br />

de programas sociais e reduziu, em 13 anos<br />

(de 1993 a 2006), os índices de homicídio de<br />

94 para 17 por cem mil habitantes. Da inspiração<br />

nasceu a idéia de articular segurança<br />

e ações de inclusão social, com foco na prevenção<br />

da criminalidade.<br />

Nove programas, que contaram com o envolvimento<br />

direto de 119 comunidades carentes<br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro, foram implanta<strong>do</strong>s na<br />

cidade-sede por ocasião <strong>do</strong>s XV Jogos Panamericanos,<br />

com recursos <strong>do</strong> Ministério da<br />

Justiça. “Foi um trabalho de segurança pública<br />

envolven<strong>do</strong> as comunidades empobrecidas<br />

<strong>do</strong> entorno das instalações para reduzir a<br />

criminalidade nestes locais e, principalmente,<br />

criar um clima favorável ao Pan entre estas<br />

populações. A intenção não era fazer um tipo<br />

de policiamento de contenção, e sim trazer<br />

as comunidades para participar <strong>do</strong> evento”,<br />

explica a major Claudete Lehmkuhl, coordena<strong>do</strong>ra<br />

<strong>do</strong>s Projetos Especiais de Segurança<br />

para os Jogos.<br />

Os programas, abriga<strong>do</strong>s no Projeto Medalha<br />

de Ouro – Construin<strong>do</strong> Convivência e Segurança<br />

Cidadã, previam a capacitação de policiais<br />

comunitários, promoção de competições<br />

esportivas para jovens carentes, readequação<br />

de espaços urbanos e melhorias de infra-estrutura<br />

de áreas de vulnerabilidade social, entre<br />

outras atividades. Mas o maior e principal<br />

pilar foi o chama<strong>do</strong> Guias Cívicos. Este e outros<br />

oito projetos só se transformaram em realidade<br />

graças ao convênio firma<strong>do</strong> entre a Senasp<br />

e o Programa das Nações Unidas para o<br />

Desenvolvimento (Pnud), assina<strong>do</strong> em agosto<br />

de 2006 com término em 31 de dezembro de<br />

2007, depois <strong>do</strong>s Jogos. “Não poderia acabar<br />

com o Pan porque se trata de um trabalho<br />

lento e gradual, que deixará um importante<br />

lega<strong>do</strong>. E queremos que continue depois”,<br />

diz a major Claudete. Outras instituições foram<br />

parceiras da Senasp, como o Instituto de<br />

Segurança Pública (ISP), o Serviço de Apoio<br />

às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o<br />

Serviço Social da Indústria (Sesi), seguin<strong>do</strong> a<br />

filosofia de gestão descentralizada <strong>do</strong> Pronasci,<br />

que pretende fomentar contratos, acor<strong>do</strong>s,<br />

convênios e consórcios com esta<strong>do</strong>s, municípios,<br />

organizações não governamentais e organismos<br />

internacionais.<br />

A implantação <strong>do</strong>s programas nas 119 comunidades<br />

escolhidas começou em 2006, mas<br />

as discussões, idéias e os planejamentos foram<br />

iniciadas um ano antes. “Temos situação<br />

crítica no Rio. O Pan não teria condições de<br />

resolver os problemas sociais da cidade. Por<br />

isso escolhemos este circuito. E sempre dissemos<br />

para as comunidades que, através <strong>do</strong>s<br />

Jogos, as populações carentes conseguiriam<br />

um avanço na inclusão social. Eles se sentiram<br />

envolvi<strong>do</strong>s na ação pan-americana. Trabalharam<br />

na preparação e durante a competição,<br />

orientan<strong>do</strong> turistas nos espaços de eventos<br />

esportivos e não esportivos, como hotéis e<br />

pontos turísticos. Os guias cívicos estavam em<br />

toda a cidade. Isso é prevenção da violência”,<br />

explica José Hilário, coordena<strong>do</strong>r de Ações de<br />

Segurança Integrada <strong>do</strong> Pan.<br />

A decisão <strong>do</strong> presidente Luiz Inácio Lula da<br />

Silva, em dezembro de 2005, de deixar a cargo<br />

<strong>do</strong> Ministério da Justiça a responsabilidade<br />

pela segurança <strong>do</strong>s Jogos veio depois <strong>do</strong>s primeiros<br />

passos da Senasp para travar contato<br />

com as comunidades carentes da cidade-sede.<br />

Segun<strong>do</strong> Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa, o diálogo<br />

com as lideranças comunitárias independia da<br />

opção pela Secretaria, já que a implantação da<br />

Segurança Cidadã no Rio se daria de qualquer<br />

forma: “Tínhamos a obrigação institucional de<br />

fazer isso andar, coordenan<strong>do</strong> ou não o Pan,<br />

porque nós tínhamos de implementar a política.<br />

Queríamos utilizar o Pan como facilita<strong>do</strong>r<br />

da política pública”. Em dezembro de 2007,<br />

apresenta<strong>do</strong> pelo presidente <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> Rio 2007, Carlos Arthur Nuzman, o<br />

Programa de Segurança Cidadã para os Jogos<br />

foi elogia<strong>do</strong> na abertura <strong>do</strong> I Fórum Mundial<br />

Paz e <strong>Esporte</strong>, em Mônaco.<br />

272


O projeto Brigada<br />

Socorrista formou<br />

1,2 mil jovens<br />

Foto: Arquivo / Senasp<br />

273


Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

Lega<strong>do</strong> social: 10.500<br />

jovens passaram pelo<br />

curso de formação de<br />

Guias Cívicos<br />

274


O papel fundamental <strong>do</strong> Pnud<br />

S<br />

em o convênio firma<strong>do</strong> entre o Programa<br />

das Nações Unidas para o<br />

Desenvolvimento (Pnud) e o Ministério<br />

da Justiça, através da Secretaria<br />

Nacional de Segurança Pública (Senasp),<br />

não haveria o Projeto Medalha de Ouro<br />

– Construin<strong>do</strong> Convivência e Segurança Cidadã.<br />

A parceria, firmada em 7 de agosto de<br />

2006, no valor de R$ 52,1 milhões, financiou os<br />

programas sociais no Rio e expirou no final de<br />

2007. “O propósito fundamental de um plano<br />

de segurança para os Jogos é a garantia da<br />

segurança de atletas e visitantes durante a sua<br />

permanência na cidade. No entanto, este projeto<br />

pretende ir além deste objetivo imediato:<br />

o governo federal, em articulação com os governos<br />

estadual e municipal, pretende aproveitar<br />

o imenso potencial simbólico e mobiliza<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong>s Jogos para promover um plano dirigi<strong>do</strong> a<br />

melhorar as condições de convivência e segurança<br />

no Rio de Janeiro, de forma sustentável<br />

– ou seja, antes, durante e depois <strong>do</strong>s Jogos<br />

– a partir <strong>do</strong> conceito de Segurança Cidadã”,<br />

justifica o Projeto de Cooperação Técnica <strong>do</strong><br />

Pnud com o Ministério da Justiça.<br />

O organismo da ONU monitorou os programas,<br />

e a gestão e execução ficaram a cargo<br />

da Senasp. Houve demora na assinatura <strong>do</strong><br />

convênio e, depois, na liberação da verba pelo<br />

Ministério. Com os recursos disponibiliza<strong>do</strong>s,<br />

uma equipe montada pela Senasp foi instalada<br />

no Rio de Janeiro, sob o coman<strong>do</strong> da major<br />

Claudete Lehmkuhl, coordena<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s Projetos<br />

Especiais de Segurança para os Jogos,<br />

para cuidar da implantação <strong>do</strong>s projetos – com<br />

a supervisão de José Hilário de Medeiros.<br />

Entre os integrantes <strong>do</strong> time de policiais e servi<strong>do</strong>res<br />

públicos de to<strong>do</strong> o Brasil, estavam<br />

representadas diversas instituições, como<br />

Polícia Federal, Ro<strong>do</strong>viária Federal, Polícias<br />

Militares de outros esta<strong>do</strong>s. No auge da execução<br />

<strong>do</strong> plano, o grupo chegou a 80 pessoas.<br />

Após o fim da competição e até o final de 2007,<br />

este número caiu para 20.<br />

Os projetos foram implementa<strong>do</strong>s simultaneamente,<br />

mas a execução começou pelo Guias<br />

Cívicos, o maior. A última revisão de orçamento<br />

apresentada pelo Pnud detalha o total de gastos:<br />

PRODUTO<br />

Valor aprova<strong>do</strong> no<br />

BRA/06/019<br />

275<br />

Valor altera<strong>do</strong> nesta<br />

Revisão Substantiva<br />

Guias Cívicos R$ 19.500.000,00 R$ 19.225.651,00<br />

Espaços Urbanos Seguros R$ 1.360.000,00 R$ 4.740.000,00<br />

Brigada Socorrista R$ 5.461.800,00 R$ 4.000.000,00<br />

Atenção aos Menores de Rua R$ 4.480.000,00 R$ 3.080.000,00<br />

Atenção às Famílias R$ 4.615.100,00 R$ 4.615.100,00<br />

Gestores em Segurança Cidadã<br />

Capacita<strong>do</strong>s<br />

R$ 4.730.000,00 R$ 4.113.149,00<br />

Olimpíada Carioca R$ 3.910.000,00 R$ 2.910.000,00<br />

Polícia Comunitária R$ 3.930.000,00 R$ 3.200.000,00<br />

Produto Monitora<strong>do</strong> e avalia<strong>do</strong> R$ 1.710.000,00 R$ 3.406.000,00<br />

Intercâmbios na área de segurança de<br />

grandes eventos realiza<strong>do</strong>s<br />

R$ 407.000,00<br />

Subtotal R$ 49.696.900,00 R$ 49.696.900,00<br />

Taxa administrativa <strong>do</strong> Pnud (5%) R$ 2.049.474,00 R$ 2.049.474,00<br />

Total R$ 52.181.745,00 R$ 52.181.745,00<br />

Fonte: Revisão Substantiva <strong>do</strong> Projeto de Cooperação Técnica <strong>do</strong> Pnud/Ministério da Justiça.


Abertura da Olimpíada<br />

Carioca reuniu mora<strong>do</strong>res<br />

de 85 comunidades<br />

Foto: Divulgação / Senasp<br />

276


O Projeto Medalha de Ouro<br />

O<br />

Projeto Medalha de Ouro – Construin<strong>do</strong><br />

Convivência e Segurança<br />

Cidadã, coluna vertebral da política<br />

de segurança para os Jogos,<br />

é um programa desenvolvi<strong>do</strong> pelo Ministério<br />

da Justiça no Rio de Janeiro por meio da Secretaria<br />

Nacional de Segurança Pública (Senasp)<br />

com o apoio <strong>do</strong>s seguintes parceiros:<br />

Poder Judiciário, Secretaria de Esta<strong>do</strong> de Segurança<br />

Pública, Ministério Público, Defensoria<br />

Pública e Secretaria de Assistência Social<br />

e Direitos Humanos <strong>do</strong> Rio de Janeiro.<br />

“A partir <strong>do</strong>s projetos sociais, abrimos a porta<br />

da cidadania para as comunidades carentes<br />

<strong>do</strong> entorno <strong>do</strong>s equipamentos <strong>do</strong>s Jogos.<br />

Aproveitamos o momento de mobilização em<br />

torno da competição para fazer inclusão social,<br />

capacitar os jovens em noções de ética,<br />

inglês e turismo, fazer com que ele conhecesse<br />

a própria cidade”, resume Corrêa.<br />

O ponto de partida para a efetivação desta política<br />

foi a aproximação entre o poder institucional<br />

e 155 líderes comunitários das favelas.<br />

Era preciso inaugurar uma relação de proximidade<br />

entre os <strong>do</strong>is atores <strong>do</strong> processo. Seleciona<strong>do</strong>s<br />

pela equipe da Senasp em janeiro<br />

de 2006, foram encaminha<strong>do</strong>s para o curso<br />

de Mediação Pacífica de Conflitos e passaram<br />

a trabalhar em conjunto com a Senasp.<br />

“Eles são o grande alicerce <strong>do</strong>s projetos. Trabalhamos<br />

como um conselho, com reuniões<br />

periódicas. Durante a implantação <strong>do</strong>s programas,<br />

nossas propostas eram maleáveis às<br />

sugestões deles. A gente abria para o debate<br />

sobre como executar”, explica a major Claudete<br />

Lehmkuhl.<br />

Os líderes fi caram responsáveis por indicar,<br />

dentro das suas comunidades, os jovens<br />

carentes aptos a participar <strong>do</strong>s cursos, de<br />

acor<strong>do</strong> com os critérios estabeleci<strong>do</strong>s pela<br />

Senasp, como ser alfabetiza<strong>do</strong> e estar preferencialmente<br />

em situação de risco. Os alunos<br />

<strong>do</strong> projeto Guias Cívicos receberam bolsasauxílio<br />

no valor de R$ 175,00 por mês cursa<strong>do</strong><br />

e os seleciona<strong>do</strong>s para trabalhar durante<br />

os Jogos contaram com novas parcelas deste<br />

valor.<br />

Em alguns casos, houve atrasos de até três<br />

meses nos pagamentos, o que fez centenas<br />

de jovens aban<strong>do</strong>narem os cursos. Em muitos<br />

casos, a demora se deu porque os alunos<br />

demoraram para apresentar os <strong>do</strong>cumentos<br />

exigi<strong>do</strong>s e resolver questões burocráticas,<br />

como a abertura de conta em banco, por<br />

exemplo. A seguir, detalhes sobre os cursos<br />

promovi<strong>do</strong>s pela Secretaria Nacional de Segurança<br />

Pública:<br />

Mediação de conflitos<br />

O programa capacitou 200 pessoas no curso<br />

Resolução Pacífica de Conflitos e Casos Reais<br />

Supervisiona<strong>do</strong>s e no Treinamento em Mediação<br />

com Ênfase em Direito. Entre os alunos,<br />

estiveram juízes, promotores, gestores estaduais<br />

e municipais, policiais civis e militares,<br />

líderes comunitários, defensores públicos e<br />

guardas municipais. Foram implanta<strong>do</strong>s três<br />

núcleos provisórios de mediação pacífica de<br />

conflitos, entre os dias 19 e 29 de julho, em locais<br />

de grande aglomeração: nos estádios <strong>do</strong><br />

Maracanã e Engenhão e no Riocentro.<br />

A principal função <strong>do</strong>s integrantes destes núcleos<br />

era facilitar a dissolução de problemas<br />

e desafogar o trabalho das polícias, fazen<strong>do</strong><br />

com que as partes chegassem pacificamente<br />

a um acor<strong>do</strong>, sem recorrer ao sistema legal.<br />

Os novos especialistas foram convoca<strong>do</strong>s pelo<br />

governo federal para instalar outros 23 núcleos,<br />

to<strong>do</strong>s nas proximidades de favelas da Região<br />

Metropolitana <strong>do</strong> Rio de Janeiro, através de um<br />

convênio entre o Pnud, o Ministério Público <strong>do</strong><br />

Rio de Janeiro e a Defensoria Pública <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Este projeto serviu de laboratório para a implantação<br />

em grande escala no País <strong>do</strong> sistema de<br />

núcleos de mediação pacífica de conflitos.<br />

Guias cívicos<br />

Foram abertas 10,5 mil vagas para a formação<br />

de guias cívicos em 119 comunidades carentes,<br />

concluíram os cursos cerca de 8 mil<br />

e, destes, 6,5 mil fizeram estágio operacional<br />

277


durante os Jogos, atuan<strong>do</strong> como guias turísticos<br />

na cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro. O públicoalvo<br />

<strong>do</strong> projeto eram jovens de 16 a 24 anos,<br />

que tiveram aulas de ética e cidadania, turismo<br />

e línguas (inglês ou espanhol), em curso<br />

com duração de quatro meses. A intenção da<br />

Senasp foi capacitar e dar experiência a estes<br />

jovens para facilitar sua entrada no merca<strong>do</strong><br />

de trabalho. Duzentos guias cívicos também<br />

viajaram por 16 capitais e outras 12 cidades<br />

<strong>do</strong> Brasil participan<strong>do</strong> <strong>do</strong> revezamento da Tocha<br />

Pan-americana Rio 2007.<br />

Brigadas Socorristas<br />

O curso de combate a incêndio, defesa civil e<br />

primeiros socorros, com duração de três semanas,<br />

foi realiza<strong>do</strong> em parceria com o Senai,<br />

o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil. Atingiu<br />

1,2 mil mora<strong>do</strong>res de comunidades carentes,<br />

entre 18 e 28 anos, que trabalharam voluntariamente<br />

durante o Pan como brigadistas nas<br />

instalações esportivas e não esportivas.<br />

Mas o enfoque principal foi habilitar estes mora<strong>do</strong>res<br />

a socorrer e prestar os primeiros atendimentos<br />

às vítimas de calamidades, como<br />

deslizamento, alagamento etc. em suas comunidades.<br />

Para isso, receberam uniformes e outros<br />

materiais de instrução <strong>do</strong> Corpo de Bombeiros.<br />

Cada aluno recebeu uma bolsa-auxílio<br />

de R$ 175,00.<br />

Durante a cerimônia de formatura <strong>do</strong> grupo,<br />

em junho de 2007, no Rio de Janeiro, o então<br />

secretário nacional de Segurança Pública,<br />

Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa, frisou que o principal<br />

objetivo <strong>do</strong> projeto era a inclusão social: “Para<br />

nós, da Secretaria Nacional, mais <strong>do</strong> que o aspecto<br />

técnico, o nosso processo é de inclusão<br />

social. E isso pode ser feito através da capacitação<br />

dessas pessoas. Ao mesmo tempo<br />

que capacitamos, fazemos também inclusão<br />

social, dentro de um projeto de segurança cidadã”,<br />

disse.<br />

O cadastro <strong>do</strong>s participantes <strong>do</strong> programa foi<br />

disponibiliza<strong>do</strong> para o Corpo de Bombeiros,<br />

Defesa Civil e a Federação das Indústrias <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro (Firjan), para que sejam<br />

aproveita<strong>do</strong>s em outros eventos. Logo depois,<br />

os brigadistas foram convida<strong>do</strong>s a atuar<br />

no Campeonato Mundial de Judô, em setembro<br />

de 2007, também no Rio de Janeiro.<br />

Espaços Urbanos Seguros<br />

O projeto capacitou mil jovens e adultos de 18<br />

a 45 anos, das comunidades <strong>do</strong> entorno <strong>do</strong>s<br />

equipamentos <strong>do</strong> Pan, em técnicas de construção<br />

civil e eletricidade. A principal intenção<br />

foi prepará-los para prestar serviços em suas<br />

próprias comunidades, ensinan<strong>do</strong> ofícios de<br />

pedreiro, arma<strong>do</strong>r de estruturas, carpinteiros,<br />

pintor, instalações hidráulicas e elétricas, ladrilheiro,<br />

entre outros. Cem líderes comunitários<br />

também participaram de oficinas, com aulas<br />

de gestão e desenho urbano, planejamento e<br />

desenvolvimento de projetos, empreende<strong>do</strong>rismo,<br />

entre outras disciplinas, durante <strong>do</strong>is<br />

meses e meio, para aprenderem sobre ocupação<br />

<strong>do</strong> espaço urbano.<br />

Depois de dez oficinas ministradas pelo Serviço<br />

Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai),<br />

os líderes foram estimula<strong>do</strong>s a escolher<br />

uma área degradada de suas comunidades<br />

para desenvolver um projeto urbanístico sempre<br />

com vistas à redução da criminalidade.<br />

Atenção e Proteção às Famílias<br />

Através deste programa, cerca de 4 mil famílias<br />

das 119 comunidades <strong>do</strong> Projeto Medalha<br />

de Ouro, a maioria com histórico de violência<br />

<strong>do</strong>méstica, uso de drogas e vulnerabilidade<br />

econômica, foram orientadas por especialistas<br />

para aprender a lidar com estes problemas.<br />

Outras mil famílias freqüentaram encontros<br />

promovi<strong>do</strong>s pelo Programa Educacional de<br />

Resistência às Drogas (Proerd), cujo objetivo<br />

foi estimular o diálogo entre pais e filhos, fortalecer<br />

os laços de confiança mútua e contribuir<br />

para a solução de problemas familiares visan<strong>do</strong><br />

à prevenção e redução <strong>do</strong> uso de drogas e<br />

da violência. Para a tarefa, 70 policiais militares<br />

foram treina<strong>do</strong>s.<br />

Em paralelo a estas ações, um convênio firma<strong>do</strong><br />

entre a Senasp e o Serviço Brasileiro de<br />

Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae),<br />

278


O Projeto Medalha de<br />

Ouro investiu em nove<br />

programas sociais<br />

Foto: Arquivo / Senasp<br />

em agosto de 2007, permitiu capacitar as famílias<br />

em técnicas de empreende<strong>do</strong>rismo. O projeto<br />

recebeu investimento de R$ 225.865,56<br />

para inserir mil famílias no curso Aprender a<br />

Empreender. O objetivo foi capacitar mora<strong>do</strong>res<br />

de comunidades carentes para questões<br />

relacionadas à gestão e ao funcionamento de<br />

pequenos negócios e dar oportunidade de<br />

acesso a micro crédito, pela Caixa Econômica<br />

Federal, aos participantes <strong>do</strong> curso.<br />

Atenção e Proteção a Crianças e Jovens<br />

Para fortalecer a rede de atendimento às crianças<br />

e jovens carentes, sem vínculo com a família<br />

e a comunidade, a Senasp organizou um<br />

concurso público destina<strong>do</strong> às instituições<br />

governamentais e não-governamentais que<br />

lidam com a questão no Rio de Janeiro para<br />

escolher projetos específicos volta<strong>do</strong>s para a<br />

população de rua. Vinte e <strong>do</strong>is projetos destas<br />

instituições foram seleciona<strong>do</strong>s e beneficia<strong>do</strong>s<br />

279


para serem desenvolvi<strong>do</strong>s no âmbito da realização<br />

<strong>do</strong>s XV Jogos Pan-americanos.<br />

Como parte da mesma política, a Senasp realizou<br />

o seminário “Tecen<strong>do</strong> a Rede – Fazen<strong>do</strong><br />

Agora, Pensan<strong>do</strong> no Futuro”, em julho de 2007,<br />

no Rio de Janeiro, com a participação de entidades,<br />

líderes comunitários, representantes<br />

da sociedade civil, Justiça, conselhos de direitos<br />

(Conanda, CEDCA, CMDCA), conselhos<br />

tutelares, Defensoria Pública, profissionais das<br />

áreas de Saúde, Educação, Assistência Social<br />

e Segurança Pública.<br />

Polícia Comunitária<br />

A Senasp tem como meta habilitar 2 mil<br />

profissionais no Rio de Janeiro em policiamento<br />

comunitário, e, até o final <strong>do</strong>s Jogos, 770<br />

policiais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> haviam si<strong>do</strong> capacita<strong>do</strong>s. A<br />

finalidade <strong>do</strong> curso, realiza<strong>do</strong> em parceria com<br />

o Instituto de Segurança Pública (ISP), é orientar<br />

e estimular os policiais a interagirem com<br />

as comunidades, promoven<strong>do</strong> um ambiente<br />

de confiança mútua entre as corporações e a<br />

população, para prevenir a violência e reduzir<br />

os índices de criminalidade.<br />

Dois tipos de cursos foram promovi<strong>do</strong>s no Rio<br />

no ano de 2007: “Promotor de Polícia Comunitária”,<br />

que visou profissionais de segurança, e<br />

“Capacitação para Lideranças e Integrantes de<br />

Conselhos Comunitários”. Em junho de 2007, a<br />

Secretaria também elaborou o Seminário Panamericano<br />

de Polícia Comunitária e Segurança<br />

Cidadã, com a participação de representantes<br />

da sociedade civil organizada, lideranças, estudiosos<br />

e autoridades relacionadas à temática<br />

da segurança pública. O objetivo foi debater<br />

políticas <strong>do</strong> gênero no Brasil.<br />

Olimpíada Carioca<br />

Em parceria com o Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, através<br />

da Superintendência de Juventude da<br />

Secretaria de Esta<strong>do</strong> de Assistência Social<br />

e Direitos Humanos, a Senasp promoveu,<br />

de julho a novembro de 2007, uma Olimpíada<br />

disputada por 4.496 jovens de 85 comunidades<br />

<strong>do</strong> Rio (que abrangem 160 bairros),<br />

com idades entre 14 e 17 anos. Entre os participantes,<br />

400 defi cientes físicos, em atletismo<br />

e natação. Os a<strong>do</strong>lescentes disputaram<br />

várias modalidades, como futebol soçaite,<br />

futsal, voleibol, vôlei de praia, basquetebol,<br />

atletismo, e ainda freqüentaram ofi cinas culturais.<br />

Mora<strong>do</strong>res de diversas comunidades<br />

formaram equipes únicas, na tentativa de estimular<br />

a amizade e a convivência social entre<br />

habitantes de regiões diferentes.<br />

O torneio teve como objetivo principal aliar a<br />

prática de esportes à cidadania e à inclusão.<br />

Para isso, as competições foram realizadas<br />

em áreas públicas e tiveram as regras tradicionais<br />

modificadas como, por exemplo, jogos<br />

de futebol sem juiz, com as normas acordadas<br />

entre os participantes antes da partida. Os<br />

“atletas” podiam freqüentar treinos facultativos<br />

semanais.<br />

Gestores em Segurança Cidadã<br />

Cerca de 3.200 profissionais de segurança pública<br />

de to<strong>do</strong> o País foram capacita<strong>do</strong>s neste<br />

programa, que promoveu cursos de temáticas<br />

variadas. Os 1.348 policiais federais e 328 policiais<br />

estaduais que participaram <strong>do</strong> curso de<br />

Segurança de Dignitários fizeram a proteção<br />

de autoridades brasileiras e estrangeiras durante<br />

os Jogos.<br />

Na área de Prevenção ao Terrorismo, mais de<br />

1.300 agentes aprenderam técnicas de prevenção<br />

e controle de ameaças nucleares, bombas<br />

e explosivos. O programa também preparou<br />

policiais civis e militares de vários esta<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> País para o combate ao tráfico de armas,<br />

munições e explosivos. Mais de 100 agentes<br />

aprenderam ainda a formular e aplicar políticas<br />

públicas de segurança.<br />

280


O orçamento da segurança<br />

O<br />

s<br />

recursos <strong>do</strong> governo federal foram repassa<strong>do</strong>s pelo Ministério da Justiça à Secretaria<br />

Nacional de Segurança Pública que, por sua vez, os encaminhou aos órgãos envolvi<strong>do</strong>s<br />

na preparação da segurança <strong>do</strong>s Jogos, como a Abin (Ver quadro Aplicação<br />

<strong>do</strong>s Recursos da Abin). O Ministério gastou R$ 563 milhões:<br />

Tecnologia da informação: R$ 160 milhões;<br />

Radiocomunicação: R$ 48 milhões;<br />

Programas especiais de prevenção: R$ 52,181 milhões;<br />

Veículos e aeronaves: R$ 122 milhões;<br />

Armamento letal e não letal: R$ 14 milhões;<br />

Uniformes, suprimentos, custeio, móveis, material de informática,<br />

equipamentos para bombeiros etc.): R$ 167 milhões.<br />

APLICAÇÃO DOS RECURSOS DA ABIN<br />

DESCRIÇÃO<br />

VALOR<br />

1. Aquisição de material permanente R$ 9.079.634<br />

1.1 Veículos operacionais R$ 2.188.964<br />

1.2 Equipamentos de comunicação, áudio, vídeo e foto R$ 2.072.052<br />

1.3 Mobiliário R$ 115.487<br />

1.4 Equipamentos de informática R$ 4.703.131<br />

2. Atividades de inteligência R$ 9.488.793<br />

3. Capacitação de pessoas R$ 394.140<br />

4. Segurança da Informação e das Comunicações R$ 684.927<br />

5. Adequação da infra-estrutura tecnológica <strong>do</strong> CIJ e da Abin R$ 7.974.543<br />

5.1 Projetos básicos R$ 28.515<br />

5.2 Adequação da infra-estrutura – rede estruturada e elétrica R$ 1.939.100<br />

5.3 Aquisição de ativos de rede R$ 6.006.928<br />

6. Segurança corporativa R$ 694.497<br />

Total R$ 28.316.534<br />

281


Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

282


Os lega<strong>do</strong>s<br />

Herança imaterial<br />

Os mais importantes lega<strong>do</strong>s da operação de<br />

segurança nos XV Jogos Pan-americanos Rio<br />

2007 não podem ser medi<strong>do</strong>s por números:<br />

a integração entre agentes e diversas forças<br />

de segurança e a experiência adquirida na organização<br />

de um grande evento. “Saímos <strong>do</strong><br />

Pan com uma bagagem muito maior”, atesta<br />

o coordena<strong>do</strong>r de Segurança <strong>do</strong>s Jogos, José<br />

Hilário de Medeiros. Além da Secretaria Nacional<br />

de Segurança Pública, todas as outras<br />

instituições envolvidas aprenderam, pois tiveram<br />

funcionários participan<strong>do</strong> ativamente <strong>do</strong><br />

planejamento.<br />

A Polícia Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro, por exemplo,<br />

aproveitou a oportunidade para treinar<br />

seus jovens oficiais, que ainda têm pela frente<br />

muitos anos de carreira. Quan<strong>do</strong> a Secretaria<br />

requisitou um representante da PM para participar<br />

da comissão de planejamento <strong>do</strong>s Jogos,<br />

em 2006, a corporação indicou o Major<br />

Luciano de Souza em vez de um coronel que<br />

estivesse perto de se aposentar.<br />

“O lega<strong>do</strong> da cultura de realizar grandes<br />

eventos é uma coisa boa. O major que tem 15<br />

anos de serviço ainda estará na ativa quan<strong>do</strong><br />

realizarmos a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de 2014. Escolhemos<br />

os mais novos para deixar a cultura<br />

com eles porque ainda têm 15, 20 anos de<br />

polícia”, explica o coronel Samuel Dionízio.<br />

Outros lega<strong>do</strong>s imateriais podem ser adiciona<strong>do</strong>s<br />

à lista:<br />

Depois <strong>do</strong> Pan, o Rio<br />

de Janeiro her<strong>do</strong>u mais<br />

de 500 viaturas e outros<br />

tipos de veículos<br />

283


Integração entre as forças de segurança<br />

Uma das mais importantes diretrizes para a<br />

segurança <strong>do</strong> País estabelecida pelo governo<br />

federal foi posta em prática, com sucesso,<br />

durante os Jogos Pan-americanos Rio 2007.<br />

Pela primeira vez, órgãos de segurança das<br />

três esferas federativas – União, esta<strong>do</strong> e município<br />

– trabalharam em conjunto: a parceria<br />

nascida durante o Pan entre policiais que executam<br />

funções semelhantes em corporações<br />

distintas é um <strong>do</strong>s mais importantes lega<strong>do</strong>s<br />

imateriais <strong>do</strong>s Jogos. A partir dali, o diálogo<br />

e a interação entre órgãos de inteligência, repressão,<br />

administração penitenciária, forças<br />

militares, civis e federais, tão necessários para<br />

o sucesso de operações de segurança, tornou-se<br />

mais rápi<strong>do</strong>, fácil e menos rui<strong>do</strong>so. E<br />

não se dissipará tão ce<strong>do</strong>. Mesmo dentro <strong>do</strong><br />

Rio não havia integração tão intensa entre as<br />

polícias Civil e Militar. Nos próximos eventos,<br />

e até nas tarefas <strong>do</strong> dia-a-dia, terão chances<br />

muito maiores de trabalhar integra<strong>do</strong>s.<br />

O Brasil adquiriu respeito internacional na<br />

área de segurança para grandes eventos<br />

A Abin afirma ter desenvolvi<strong>do</strong> uma meto<strong>do</strong>logia<br />

própria de análise de riscos que já foi<br />

objeto de estu<strong>do</strong> em outros países. O assessor<br />

de planejamento da agência, Luiz Alberto<br />

Sallaberry, conta que representantes <strong>do</strong>s<br />

serviços secretos da China e <strong>do</strong> México vieram<br />

ao Brasil para conhecer a participação da<br />

Abin nos Jogos. “Estivemos duas vezes em<br />

Pequim a convite <strong>do</strong> serviço chinês e participamos<br />

<strong>do</strong>s Jogos Olímpicos de 2008, a convite<br />

deles, cooperan<strong>do</strong> na área de Inteligência”,<br />

informou Sallaberry.<br />

O ex-secretário nacional de Segurança Pública<br />

Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa visitou os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

já como diretor da Polícia Federal e constatou o<br />

respeito adquiri<strong>do</strong> pelo Brasil na área. “Tivemos<br />

conversas reservadas com países de maior risco<br />

e o plano foi aprova<strong>do</strong>. A referência da minha<br />

imagem lá (nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s) ainda é essa:<br />

os Jogos Pan-americanos e o nível de segurança<br />

que o Brasil propiciou inclusive para os<br />

norte-americanos. Eles disseram: ‘Vocês não<br />

fizeram nada que nós não faríamos’”, afirma.<br />

O efeito multiplica<strong>do</strong>r da Força Nacional<br />

Na raiz da criação da Força Nacional de Segurança<br />

está a tese de que os policiais que integram<br />

a corporação, depois de participarem de<br />

treinamentos e grandes operações em várias<br />

partes <strong>do</strong> País, levam o que aprenderam para<br />

seus colegas nos esta<strong>do</strong>s. Trata-se <strong>do</strong> efeito<br />

multiplica<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s<br />

pelos agentes da Força.<br />

Uma vez em suas regiões, estes policiais tendem<br />

a manter a conduta exemplar porque, se<br />

cometerem algum desvio ou arbitrariedade,<br />

não serão convoca<strong>do</strong>s novamente. Por ocasião<br />

<strong>do</strong>s Jogos Pan-americanos não foi diferente:<br />

“Um importante lega<strong>do</strong> que podemos<br />

destacar é a qualificação <strong>do</strong> efetivo durante o<br />

Pan”, afirma o comandante da Força, coronel<br />

Luiz Antônio Ferreira. E na eventual realização<br />

de um próximo grande evento como os Jogos,<br />

o Brasil contará com a mão-de-obra de agentes<br />

policiais já experientes.<br />

Criação de canal de interlocução com as<br />

comunidades carentes <strong>do</strong> Rio<br />

A capacitação de 155 líderes comunitários de<br />

119 favelas <strong>do</strong> Rio de Janeiro e a estreita ligação<br />

entre eles e a Secretaria Nacional de<br />

Segurança Pública, relação esta promovida<br />

no âmbito <strong>do</strong>s Jogos, legaram ao Governo Federal<br />

um canal que, ainda que não possa ser<br />

considera<strong>do</strong> permanente – porque precisa ser<br />

estimula<strong>do</strong> frequentemente para ser manti<strong>do</strong>,<br />

é de fundamental utilidade para a efetivação<br />

da política de Segurança Cidadã.<br />

Lega<strong>do</strong>s materiais<br />

No dia 13 de novembro de 2007, o ministro da<br />

Justiça, Tarso Genro, anunciou oficialmente<br />

o que ficaria no Rio como lega<strong>do</strong> material da<br />

segurança nos Jogos: entre os equipamentos,<br />

mais de 500 viaturas e outros tipos de veículos,<br />

armamentos letais e não letais, coletes, capacetes,<br />

material de perícia, uniformes, mais de<br />

1.300 câmeras <strong>do</strong> sistema de segurança e rádios<br />

comunica<strong>do</strong>res criptografa<strong>do</strong>s que, para<br />

o coronel Samuel Dionizio, são algumas das<br />

melhores aquisições: “É um <strong>do</strong>s sistemas de<br />

rádio mais avança<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”.<br />

284


Entre os mais importantes lega<strong>do</strong>s da segurança<br />

<strong>do</strong> evento para o Rio e para o País está<br />

a área de tecnologia. Para o coordena<strong>do</strong>r de<br />

segurança <strong>do</strong>s Jogos, José Hilário, o Centro de<br />

Coman<strong>do</strong> e Controle, que também ficou no Rio,<br />

“é o mais moderno da América Latina”. O Centro<br />

de Inteligência <strong>do</strong>s Jogos (CIJ) se tornou a<br />

sede da Superintendência da Abin no Esta<strong>do</strong>.<br />

A integração <strong>do</strong>s sistemas de monitoramento<br />

de câmeras muda a forma como se fazia este<br />

tipo de controle na cidade. “Antes havia uma individualização<br />

destes equipamentos, a Defesa<br />

Civil, a Polícia Militar, a CET-Rio, por exemplo,<br />

trabalhavam individualmente”, explica Hilário.<br />

Em entrevista ao “Jornal <strong>do</strong> Brasil” em maio<br />

de 2008, o secretário de Segurança Pública <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame,<br />

destacou a importância <strong>do</strong>s equipamentos<br />

herda<strong>do</strong>s. “O material de inteligência está<br />

funcionan<strong>do</strong> 100%. São softwares de cruzamento<br />

de da<strong>do</strong>s e de informações, um banco<br />

de da<strong>do</strong>s de inquéritos e processos judiciais.<br />

As grandes operações vistas por aí vêm desta<br />

inteligência. Planejamos antes <strong>do</strong> Pan que<br />

estes equipamentos viessem de acor<strong>do</strong> com<br />

nossa necessidade para depois <strong>do</strong>s Jogos”,<br />

disse Beltrame.<br />

Nos quadros a seguir, é possível comprovar<br />

que, para além de realizar a elogiada segurança<br />

<strong>do</strong> Rio 2007, o governo federal, aproveitan<strong>do</strong><br />

a oportunidade <strong>do</strong> evento esportivo,<br />

incrementou e modernizou instituições de<br />

segurança na cidade-sede e em to<strong>do</strong> o País.<br />

Os equipamentos e aparelhagens usa<strong>do</strong>s nos<br />

Jogos tiveram por destino <strong>do</strong>tar as polícias e<br />

outras forças de segurança com infra-estrutura<br />

nova, complementar e adequada, como aeronaves<br />

e veículos, armamentos e munições,<br />

equipamentos de perícia e prevenção, radiocomunica<strong>do</strong>res,<br />

redes de internet banda larga,<br />

uniformes e coletes, materiais e acessórios especiais<br />

e móveis, entre inúmeros outros, que<br />

foram redistribuí<strong>do</strong>s após o evento.<br />

Dos cerca de 1.600 computa<strong>do</strong>res utiliza<strong>do</strong>s<br />

na montagem <strong>do</strong> sistema de segurança <strong>do</strong><br />

Pan, por exemplo, 1.000 ficaram com a Secretaria<br />

Nacional de Segurança Pública (Senasp)<br />

para seu próprio aparelhamento ou para distribuição<br />

entre outros órgãos da União; 200 computa<strong>do</strong>res<br />

serviram para equipar a nova sede<br />

da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no<br />

Rio; 80 foram destina<strong>do</strong>s à Polícia Civil <strong>do</strong> Rio,<br />

que também recebeu cinco notebooks; e outros<br />

sete ficaram com o Centro de Formação<br />

Aeropolicial <strong>do</strong> Brasil (Cefaer). Mais informações<br />

no capítulo sobre Tecnologia.<br />

A seguir, exemplos da distribuição, feita para<br />

órgãos de segurança federais, para o Esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro e para os demais 26 esta<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> Brasil e o Distrito Federal.<br />

Foto: Arquivo / Senasp<br />

O moderno Centro de<br />

Inteligência: nova sede<br />

da Abin no esta<strong>do</strong><br />

285


PRINCIPAIS ITENS DE SEGURANÇA DOS JOGOS RIO 2007<br />

Item *<br />

Quantitativo<br />

Armamento letal (carabina, pistola, fuzil, munição, etc.) 1.655.137<br />

Uniformes, peças (fardamentos, camisetas, botas, coldres, etc.) 85.205<br />

Armamento não letal (granadas, cartuchos, sprays, etc.) 25.077<br />

Veículos (incluem-se microônibus, furgões, ambulâncias, utilitários, motocicletas e vans) 1.805<br />

Equipamentos para cães de faro (canil, holofote, protetor auricular, chaves, marretas, alicates, etc.) 810<br />

Mobília (mesas, cadeiras, armários, estantes, colchões, etc.) 21.347<br />

Algema plástica descartável 20.000<br />

Radiocomunica<strong>do</strong>r 15.446<br />

Colete balístico 11.600<br />

Capacetes 1.500<br />

Equipamentos para bombeiros (mangueiras, extintores de incêndio, desfi brila<strong>do</strong>res, colares cervicais, nadadeiras,<br />

óculos de proteção solar, cordas, acessórios especiais, etc.)<br />

6.608<br />

Lanterna tática 3.000<br />

Bastão antitumulto 3.000<br />

Luva de proteção 1.000<br />

Equipamentos antibomba 423<br />

Detector de metal móvel (raquetes) 437<br />

Detector de metal fi xo (pórticos) 359<br />

Detector de metais portátil antibomba 70<br />

Sistema de inspeção por raio-X 153<br />

Estação de radiocomunicação ERB (fi xas, portáteis e transportáveis) 22<br />

Aeronaves 7<br />

Equipamentos de controle de acessos 949<br />

Microscópio para comparação balística com sistema de captura de imagens 3<br />

Simula<strong>do</strong>r sintético de vôo para aviões 1<br />

Bloquea<strong>do</strong>r de radiofreqüência de celulares ou outros aparelhos que utilizem ondas de rádio 1<br />

Fonte: Secretaria Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça - Senasp/MJ<br />

* Consultar também o item sobre computa<strong>do</strong>res no capítulo de Tecnologia<br />

EXEMPLOS DE LEGADOS PARA O RIO DE JANEIRO, POR INSTITUIÇÃO<br />

Secretaria de Segurança <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro - SESEG/RJ<br />

17 veículos, 82 radiocomunica<strong>do</strong>res, 12 estações de radiocomunicação,<br />

7 redes de banda larga, 70 subsistemas de da<strong>do</strong>s móveis<br />

Polícia Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro - PMERJ<br />

100 mil munições, 5.360 armamentos não letais, 3.429 coletes, 800 pistolas, 200 carabinas, 276 veículos,<br />

3.956 radiocomunica<strong>do</strong>res, 1 subsistema de gestão de incidentes<br />

Polícia Civil <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro - PCERJ<br />

30 mil munições, 174 veículos, 1.560 radiocomunica<strong>do</strong>res, 300 pistolas, 985 coletes, 50 capacetes,<br />

83 equipamentos antibomba, 70 equipamentos para bombeiros (acessórios para mergulho)<br />

Corpo de Bombeiros Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro - CBMERJ<br />

6.200 equipamentos para bombeiros (mangueiras, extintores de incêndio, desfi brila<strong>do</strong>res, acessórios etc),<br />

1.206 radiocomunica<strong>do</strong>res, 39 veículos, 9.500 peças de uniformes, 1 subsistema de gestão de incidentes<br />

Superintendência de Telecomunicações <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio - Detel/RJ<br />

554 radiocomunica<strong>do</strong>res<br />

Defesa Civil <strong>do</strong> Município <strong>do</strong> Rio de Janeiro - DCMRJ<br />

349 radiocomunica<strong>do</strong>res, 6 veículos<br />

Companhia de Engenharia de Tráfego - CET-Rio<br />

19 radiocomunica<strong>do</strong>res, 3 veículos<br />

Guarda Municipal <strong>do</strong> Rio de Janeiro - GM-Rio<br />

1.037 radiocomunica<strong>do</strong>res, 23 veículos<br />

Fonte: Secretaria Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça - Senasp/MJ.<br />

286


EXEMPLOS DE LEGADOS DISTRIBUÍDOS PARA OUTROS ESTADOS<br />

Item *<br />

Quantitativo<br />

Algemas 6.900<br />

Munições 3.540<br />

Radiocomunica<strong>do</strong>res 2.548<br />

Uniformes, peças 1.035<br />

Veículos 690<br />

Aeronaves 6<br />

Equipamentos para cães de faro (canil, holofote, protetor auricular, etc.) 539<br />

Coletes balísticos 345<br />

Bastões antitumulto 345<br />

Kits táticos operacionais (granadas, cartuchos, munições e projetéis não letais)<br />

260 (10 por esta<strong>do</strong>, exceto Rio)<br />

Equipamentos aeropoliciais 255<br />

Cones de sinalização 150<br />

Detectores de metal móveis (raquetes) 96<br />

Detectores de metal fi xos (pórticos) 84<br />

Sistemas de inspeção raio-X 56<br />

Equipamentos de controle de acessos 232<br />

Binóculos 30<br />

Eletroeletrônicos (cardioversor, oxímetro, bomba de infusão) 18<br />

Megafones 15<br />

Equipamentos de bombeiros (desencarcera<strong>do</strong>res) 15<br />

Subsistemas de vigilância por câmeras 3<br />

Subsistemas de gestão de incidentes 1<br />

Fonte: Secretaria Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça - Senasp/MJ.<br />

* Consultar também o item sobre computa<strong>do</strong>res no capítulo de Tecnologia<br />

INSTITUIÇÕES FEDERAIS CONTEMPLADAS<br />

Departamento de Polícia Federal, Ministério da Justiça - DPF/MJ<br />

600 coletes balísticos, 407 detectores de metais, 172 equipamentos antibomba, 133 veículos, 59 sistemas de inspeção raio-X,<br />

40 subsistemas de da<strong>do</strong>s móveis, 1 subsistema de controle de acesso, 466 equipamentos de controle de acessos<br />

Departamento de Polícia Ro<strong>do</strong>viária Federal, Ministério da Justiça - DPRF/MJ<br />

29 mil munições, 4.269 peças de uniformes, 1.458 radiocomunica<strong>do</strong>res, 230 veículos, 198 detectores de metais, 100 carabinas,<br />

575 armamentos não letais, 1.640 móveis, 40 subsistemas de da<strong>do</strong>s móveis, 229 equipamentos de controle de acessos<br />

Força Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça - FNSP/MJ<br />

1 helicóptero esquilo, 1.491.000 munições, 2.150 pistolas, 1.227 carabinas, 15.335 armamentos não letais, 69.021 peças de uniformes,<br />

2.621 radiocomunica<strong>do</strong>res, 13.100 algemas, 180 subsistemas de da<strong>do</strong>s móveis, 192 veículos, 6.241 coletes, 1.450 capacetes,<br />

19.460 móveis, 221 equipamentos para cães de faro, 168 equipamentos antibomba, 35 megafones, 1.000 luvas, 3.000 lanternas,<br />

2.655 bastões antitumulto, 3 estações de radiocomunicação<br />

Secretaria Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça - SENASP/MJ<br />

1.220 uniformes, 55 radiocomunica<strong>do</strong>res, 15 detectores de metais, 7 sistemas de inspeção raio-X, 14 veículos,<br />

20 subsistemas de da<strong>do</strong>s móveis, 5 estações de radiocomunicação, 22 equipamentos de controle de acessos<br />

Centro de Formação Aeropolicial <strong>do</strong> Brasil, Ministério da Justiça - CEFAer/MJ<br />

1 simula<strong>do</strong>r sintético de vôo para aviões, 160 móveis, 8 veículos<br />

Fonte: Secretaria Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça - Senasp/MJ.<br />

287


Entrevista – Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa<br />

Qual foi o grande sucesso <strong>do</strong> planejamento<br />

de segurança no Pan?<br />

Os conceitos da política de segurança <strong>do</strong> governo<br />

federal foram aplica<strong>do</strong>s, e isto foi realmente<br />

um sucesso. Colocamos em prática o<br />

que até então era uma tese. O Pan deu visibilidade<br />

para o trabalho de integração que o<br />

governo vinha promoven<strong>do</strong>, mostrou que era<br />

viável unir policiais de to<strong>do</strong> o País e <strong>do</strong>s três<br />

níveis de administração pública. Além disso,<br />

fomos muito felizes no casamento entre prevenção<br />

e repressão e ainda trouxemos novos<br />

conceitos de policiamento, como a polícia não<br />

armada nos locais de competição. Investimos<br />

em um policiamento intenso, com visibilidade,<br />

mas sem agressividade, e em ações de relacionamento<br />

com a população. Não interferimos<br />

na rotina da cidade. O aparato estava a postos<br />

sem constranger o cidadão. Em paralelo,<br />

construímos canais de diálogo com as comunidades<br />

carentes, envolvemos estas populações<br />

em ações de prevenção da violência. Ou seja,<br />

o Pan nos deu a oportunidade de materializar<br />

nossa política de segurança.<br />

A segurança cidadã é um <strong>do</strong>s principais<br />

pilares desta política?<br />

Sim. É política pública: criar lideranças e canais<br />

de diálogo Esta<strong>do</strong>-cidadão. O jovem carente se<br />

sentiu parte <strong>do</strong> Pan. Um <strong>do</strong>s nossos objetivos<br />

era fazer com que ele pensasse: “Estou nesse<br />

processo”. Essa é a grande lição que os Jogos<br />

deixam para a segurança pública. As pessoas<br />

se preocupam com os lega<strong>do</strong>s de equipamentos,<br />

mas o avanço na relação Esta<strong>do</strong>-cidadão<br />

foi fundamental. A tranqüilidade que vivemos<br />

em relação à segurança passou por isso, além<br />

<strong>do</strong> aparato policial. A população se sentiu parte<br />

da festa. O conceito tradicional era de exclusão<br />

e de contenção, canhões nas ruas. Quebramos<br />

este paradigma. E o ministro da Justiça, Tarso<br />

Genro, lançou o Programa Nacional de Segurança<br />

Cidadã (Pronasci), que traz os mesmos<br />

projetos. As metas <strong>do</strong> Pronasci são infinitamente<br />

maiores que 10,5 mil guias cívicos. As<br />

lideranças que formamos serão aproveitadas,<br />

porque já mantêm uma relação de confiança<br />

com o Esta<strong>do</strong>.<br />

Pode-se dizer que a tarefa mais difícil da<br />

Senasp foi integrar as forças policiais?<br />

Quan<strong>do</strong> se fala em integração e trabalho articula<strong>do</strong>,<br />

fala-se em questões culturais, como as<br />

brigas históricas entre policiais militares e civis<br />

em to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s. As instituições têm me<strong>do</strong><br />

de se sentirem invadidas nas suas atribuições.<br />

Era preciso habilidade para conduzir este processo.<br />

Nos Jogos, além de agentes de to<strong>do</strong>s<br />

os esta<strong>do</strong>s, trouxemos um fator novo: a Força<br />

Nacional. Sempre que atuamos com a Força,<br />

por exemplo, a PM local se sente desprestigiada.<br />

Para lidar com isso, reunimos especialistas<br />

e previmos todas as missões que teríamos<br />

no Pan-americano. Depois, distribuímos estas<br />

missões, usan<strong>do</strong> a idéia de força-tarefa. Pedi<br />

para a Secretaria de Segurança <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Rio um representante da PM e um da Polícia<br />

Civil, com capacidade de planejamento. Eu disse:<br />

“Não vou intervir. Vocês nos dizem o que<br />

é um grande evento no Rio e vamos agregar<br />

Foto: Arquivo / Senasp<br />

Secretário nacional de Segurança Pública à época<br />

<strong>do</strong>s Jogos, Luiz Fernan<strong>do</strong> Corrêa foi o principal<br />

responsável pelo planejamento e pela execução<br />

das ações de segurança. Defensor ferrenho<br />

da idéia de que não basta combater a violência, é<br />

preciso preveni-la, implantou a Segurança Cidadã,<br />

enfrentou e venceu o desafio de integrar órgãos e<br />

agentes de várias instituições e partes <strong>do</strong> País e<br />

aju<strong>do</strong>u a garantir um Pan seguro. Gaúcho saí<strong>do</strong> das<br />

hostes da Polícia Federal, instituição da qual hoje é<br />

diretor geral, diz que o Brasil está prepara<strong>do</strong> para<br />

qualquer evento esportivo internacional: “Formamos<br />

um banco de talentos”.<br />

288


a experiência e a capacidade da União para<br />

colaborar”. Pessoas que antes se olhavam<br />

com desconfiança viraram uma grande família.<br />

Não falamos em coman<strong>do</strong>, e sim em sistema<br />

e coordenação. Havia uma sala de coman<strong>do</strong> e<br />

controle com representantes de todas as instituições<br />

e alguém com poder para tomar decisões.<br />

Tenho por norma que o serviço público é<br />

uno. Dividimos em União, Esta<strong>do</strong> e município<br />

por uma questão de organização. Mas o cidadão<br />

não abre a Constituição para saber a quem<br />

recorrer. Ele quer segurança e pronto, não interessa<br />

se é Guarda Civil, Bombeiro, PM, ele<br />

quer o serviço. Temos que nos entender assim.<br />

A idéia foi mostrar que o serviço único de segurança<br />

estava posto para os Jogos. Esta foi a<br />

mudança de conceito. O pessoal envolvi<strong>do</strong> entendeu<br />

que é possível trabalhar junto. Cada um<br />

tem seu papel. Jamais arranhamos atribuições.<br />

Para o senhor, os R$ 563 milhões investi<strong>do</strong>s<br />

na segurança, assim como os lega<strong>do</strong>s<br />

deixa<strong>do</strong>s para o Rio e o País, foram suficientes?<br />

Na hora de planejar, to<strong>do</strong>s tentam solucionar<br />

seus problemas históricos. Mas trouxemos<br />

para a realidade não só o objetivo de <strong>do</strong>tar as<br />

instituições com o necessário para cumprir seu<br />

papel dentro <strong>do</strong> plano, como também deixar<br />

um lega<strong>do</strong> sistêmico. A idéia era deixar o País<br />

mobilizável e com as instituições mais capacitadas.<br />

Por exemplo: o Rio tem agora um <strong>do</strong>s<br />

mais modernos sistemas de rádio <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Para 2014, será preciso acrescentar poucas<br />

coisas. Era preciso não apenas fazer um plano<br />

para garantir os Jogos, mas deixar um lega<strong>do</strong><br />

que continuasse a servir para a prestação <strong>do</strong><br />

serviço de segurança. Depois, garantimos uma<br />

melhor prestação no serviço rotineiro. Sempre<br />

é necessário investir. Quanto mais gastarmos,<br />

melhor. Mas foi suficiente. Além da preocupação<br />

<strong>do</strong> gasto sistêmico, tínhamos que demonstrar<br />

uma capacidade de execução que<br />

credenciasse o Brasil para os próximos grandes<br />

eventos. Eram jogos continentais, demos<br />

um tratamento de Olimpíadas. Isso chamou a<br />

atenção de vários países. Tivemos conversas<br />

reservadas com países de maior risco e o plano<br />

foi aprova<strong>do</strong>. Visitei os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e a<br />

referência da minha imagem lá ainda são os<br />

Jogos e o nível de segurança que o Brasil propiciou.<br />

Eles me disseram: “Vocês não fizeram<br />

nada que nos não faríamos”.<br />

Qual foi sua maior dificuldade como planeja<strong>do</strong>r<br />

e executor <strong>do</strong> plano de segurança?<br />

Lidar com a demora na liberação de recursos.<br />

Esse é o embate mais difícil para qualquer<br />

gestor público. A dificuldade burocrática nos<br />

consome. As ordens empacavam. Perdemos<br />

quase um semestre na burocracia e com licitações<br />

mais complexas. Se a máquina tivesse<br />

imediatamente passa<strong>do</strong> a cumprir a determinação<br />

<strong>do</strong> presidente da República, nosso prazo<br />

teria si<strong>do</strong> mais folga<strong>do</strong>. Mas superamos com a<br />

dedicação <strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>res.<br />

Como avalia a atuação da Agência Brasileira<br />

de Informação (Abin)?<br />

O papel da Abin foi muito importante. É o órgão<br />

através <strong>do</strong> qual o Brasil fala para o mun<strong>do</strong>,<br />

com as agências de inteligência internacionais.<br />

Foi uma instituição parceira de primeira hora e<br />

teve papel fundamental, mobilizan<strong>do</strong> a inteligência<br />

<strong>do</strong>s países participantes. Promovemos<br />

um encontro na cidade de Teresópolis, no Rio,<br />

onde estiveram presentes todas as agências<br />

que mantinham a Abin informada. O órgão<br />

nos apresentava relatórios de análise de risco<br />

e pautava a nossa orientação. É difícil o reconhecimento<br />

público para a área de inteligência,<br />

mas quem é <strong>do</strong> ramo sabe como é importante.<br />

Tanto que se gastou um bom dinheiro na estrutura<br />

<strong>do</strong> Centro de Inteligência <strong>do</strong>s Jogos, um<br />

importante lega<strong>do</strong> para o Rio.<br />

O que o senhor faria diferente em um<br />

possível grande evento que o País venha a<br />

abrigar?<br />

Apenas planejaria com mais antecedência para<br />

fazer melhor. Mas agora temos experiência e conhecimento.<br />

Este é um importante lega<strong>do</strong>: uma<br />

massa crítica espalhada pelo País. Tínhamos<br />

até guardas municipais de São Paulo, Recife,<br />

Porto Alegre, policiais militares, civis, ro<strong>do</strong>viários,<br />

agentes de to<strong>do</strong> o Brasil fazen<strong>do</strong> de tu<strong>do</strong><br />

nesse planejamento. Se o País precisar daqui a<br />

dez meses, temos um banco de talentos.<br />

289


CIDADE MARAVILHOSA.<br />

E PROTEGIDA POR TERRA, CÉU E MAR<br />

N<br />

enhum<br />

incidente de violência abalou os XV Jogos Pan-americanos. Graças ao planejamento e<br />

à execução das ações de segurança, comanda<strong>do</strong>s pelo Ministério da Justiça através da Secretaria<br />

Nacional de Segurança Pública (Senasp), a Família Pan-americana viveu no Rio de Janeiro<br />

dias de absoluta tranqüilidade.<br />

Como aborda<strong>do</strong>, o clima de confraternização foi garanti<strong>do</strong> pelo zelo ininterrupto de milhares de policiais,<br />

vin<strong>do</strong>s de to<strong>do</strong> o País, muni<strong>do</strong>s de equipamentos e sistemas de informação de alta tecnologia. Nenhuma<br />

área de interesse para o evento, por onde circularam atletas, público e delegações, escapou <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s<br />

das dezenas de centros de segurança instala<strong>do</strong>s e equipa<strong>do</strong>s pelo governo federal. Como resulta<strong>do</strong>, quedas<br />

nos índices de criminalidade durante os Jogos. A seguir, o esquema de operações.<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

290


Avaliação<br />

O QUE DEU CERTO<br />

11 <strong>do</strong>s 16 índices de violência caíram na capital em relação<br />

ao mês anterior aos Jogos;<br />

O sucesso <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong> CIJ provou o acerto <strong>do</strong> modelo utiliza<strong>do</strong>.<br />

A ação foi bem coordenada entre inteligência e órgãos de repressão;<br />

A inauguração, na prática, <strong>do</strong> modelo de Segurança Cidadã, deu certo.<br />

O conceito teve excelente aceitação, em face <strong>do</strong>s bons resulta<strong>do</strong>s da segurança nos Jogos, junto à sociedade e a<br />

outros países. Os projetos sociais formaram milhares de mora<strong>do</strong>res de comunidades carentes;<br />

Os equipamentos adquiri<strong>do</strong>s, embora com atraso, são de última geração, fato aponta<strong>do</strong> por profissionais da<br />

segurança pública envolvi<strong>do</strong>s com a preparação <strong>do</strong>s Jogos;<br />

A atuação da Força Nacional durante os Jogos foi bem-sucedida;<br />

A integração, inédita até então, entre os diferentes órgãos e instituições<br />

de segurança pública <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro e <strong>do</strong> País<br />

ocorreu sem ruí<strong>do</strong>s ou interferências.<br />

O QUE PODERIA SER MELHOR<br />

Os atrasos de até três meses nos pagamentos <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong>s cursos de Guias Cívicos levaram à desistência de<br />

muitos. Dos 10,5 mil alunos, 6,5 mil foram habilita<strong>do</strong>s a trabalhar durante os Jogos;<br />

A Abin só começou a receber os recursos a partir <strong>do</strong> primeiro trimestre de 2006. A Agência considerou curto o<br />

tempo de um ano e meio antes <strong>do</strong>s Jogos para executar compras e ampliar operações;<br />

A falta de pessoal contrata<strong>do</strong> pelo CO-Rio, responsável pela checagem<br />

das credenciais nas instalações, causou problemas nos primeiros dias. A Força Nacional assumiu a tarefa, que não<br />

era dela, para garantir a segurança <strong>do</strong>s locais. Mas não estava treinada nem preparada para a função.<br />

SUGESTÕES<br />

É necessário entrar na fase de execução, no mínimo,<br />

quatro anos antes <strong>do</strong> evento. As compras, segun<strong>do</strong> José Hilário de Medeiros, devem começar, pelo menos,<br />

<strong>do</strong>is anos antes, para que as pessoas sejam treinadas adequadamente;<br />

Para eventos futuros, o coordena<strong>do</strong>r de Segurança <strong>do</strong>s Jogos<br />

também recomenda que se “redistribuam delegacias e aumente o policiamento comunitário”;<br />

Aumenta cada vez mais o número de adeptos da tese de que, nas áreas internas das instalações, a segurança<br />

deve ser privada, assim como em cinemas, teatros e casas de shows.<br />

A medida desoneraria o poder público, que fi caria com a atuação em escala reduzida,<br />

e não eliminada por completo, no caso de grandes eventos;<br />

É preciso que os órgãos de segurança sejam consulta<strong>do</strong>s sobre os locais onde se pretendem construir<br />

equipamentos esportivos porque, eventualmente, o espaço urbano ao re<strong>do</strong>r da instalação precisa ser<br />

readequa<strong>do</strong> para dar condições de acesso aos agentes e equipamentos<br />

de segurança em caso de emergência;<br />

O ideal é que o planejamento logístico seja feito em conjunto<br />

com o de segurança desde o início, para que ajustes de última hora não sejam necessários;<br />

Os uniformes das polícias podem ser readequa<strong>do</strong>s.<br />

“Houve uma evolução da sociedade e temos uma polícia com o fardamento inadequa<strong>do</strong> para determina<strong>do</strong>s<br />

locais, como, por exemplo, o coturno dentro das instalações”, conclui José Hilário;<br />

Para Daniel Sampaio, da Polícia Federal, a instituição precisa estar melhor preparada para grandes eventos.<br />

“Trabalhamos na base <strong>do</strong> improviso”. Por isso, sugere que seja criada<br />

uma unidade de grandes eventos dentro da PF, “assim teremos estrutura e conhecimento sobre como fazer.<br />

Planejaremos com antecedência”, diz.<br />

295


3<br />

CENTROS REGIONAIS<br />

Complexo Esportivo<br />

Miécimo da Silva<br />

Subordina<strong>do</strong>s ao COS, monitoravam<br />

e garantiam a segurança das<br />

proximidades de todas as instalações<br />

A - Copacabana<br />

B - Campo Grande<br />

C - Vila <strong>do</strong> Pan<br />

D - Avenida Ayrton Senna, 2001<br />

E - Autódromo<br />

F - Aterro<br />

G - Maracanã<br />

H - Linha Vermelha, KM 6<br />

I - Recreio <strong>do</strong>s Bandeirantes<br />

B<br />

MÓDULOS OPERACIONAIS DE COMANDO<br />

Instala<strong>do</strong>s dentro <strong>do</strong>s batalhões de Polícia<br />

Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro, eram forma<strong>do</strong>s<br />

por equipes de policiais designa<strong>do</strong>s para<br />

cuidar apenas das ocorrências<br />

relacionadas aos Jogos<br />

1 - Botafogo<br />

2 - Méier<br />

3 - Bangu<br />

4 - Ilha <strong>do</strong><br />

Governa<strong>do</strong>r<br />

5 - Jacarepaguá<br />

6 - Copacabana<br />

7 - Maré<br />

8 - Leblon<br />

9 - Tijuca<br />

Parque Nacional<br />

da Pedra Branca<br />

Centro de Inteligência<br />

e Serviços Estrangeiros<br />

(Cises)<br />

A Abin controlava este<br />

centro, responsável por<br />

informações sobre<br />

indivíduos e organizações<br />

estrangeiros nas áreas de<br />

terrorismo, crime<br />

organiza<strong>do</strong> e outras<br />

ameaças à segurança<br />

<strong>do</strong>s Jogos<br />

Centro de<br />

Futebol Zico<br />

I<br />

Av. das<br />

Américas<br />

292<br />

RECREIO DOS<br />

BANDEIRANTES


Av. Brasil<br />

Clube<br />

Marapendi<br />

DEODORO<br />

Es<br />

Ha<br />

5<br />

Linha Amarela<br />

Floresta da Tijuca<br />

R<br />

Morro<br />

<strong>do</strong> Outeiro<br />

E<br />

C<br />

Av. Salva<strong>do</strong>r<br />

Allende<br />

Complexo<br />

Esportivo<br />

Riocentro<br />

Cidade<br />

<strong>do</strong> Rock<br />

Complexo Cidade<br />

<strong>do</strong>s <strong>Esporte</strong>s<br />

BARRA DA TIJUCA<br />

D<br />

Barra Bowling<br />

Av. Lúcio Costa<br />

293


Aeroporto<br />

Internacional<br />

Linha Vermelha<br />

ILHA DO GOVERNADOR<br />

4<br />

Centro de Coman<strong>do</strong><br />

e Controle<br />

Av. Brasil<br />

Linha Amarela<br />

Estádio João<br />

Havelange<br />

7<br />

H<br />

Centro de Inteligência<br />

<strong>do</strong>s Jogos (CIJ)<br />

Coordena<strong>do</strong> pela Agência<br />

Brasileira de Informações<br />

(Abin), reuniu 27 órgãos<br />

públicos e abrigou cerca<br />

de 250 profissionais, em<br />

regime de <strong>do</strong>is turnos,<br />

24 horas por dia<br />

Ponte Rio-Niterói<br />

No prédio da Central <strong>do</strong><br />

Brasil, onde funciona a<br />

Secretaria Estadual de<br />

Segurança Pública, foram<br />

integra<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os<br />

sistemas de monitoramento<br />

<strong>do</strong> evento. Ali estavam os<br />

computa<strong>do</strong>res usa<strong>do</strong>s<br />

no controle de imagens,<br />

da<strong>do</strong>s e voz; e funcionava<br />

o sistema de interceptação<br />

telefônica mais avança<strong>do</strong><br />

da América Latina.<br />

Por ali também passava o<br />

controle de rastreamento<br />

de veículos, ocorrências<br />

policiais e informações<br />

sobre pessoas. Câmeras<br />

monitoravam 1.800 pontos<br />

da cidade. O Centro, que<br />

continua funcionan<strong>do</strong>, foi<br />

um <strong>do</strong>s lega<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Jogos<br />

2<br />

9<br />

G<br />

MARACANÃ<br />

Complexo Esportivo<br />

<strong>do</strong> Maracanã<br />

Av.<br />

Presidente<br />

Vargas<br />

CENTRO<br />

Marina da Glória<br />

Baía de<br />

Guanabara<br />

Aeroporto<br />

Santos Dumont<br />

Centro de Operações<br />

de Segurança (COS)<br />

O C<br />

SEG<br />

NO<br />

Rua Conde<br />

de Bonfim<br />

Cristo<br />

Redentor<br />

Parque <strong>do</strong><br />

Flamengo<br />

1<br />

F<br />

Coração da segurança<br />

<strong>do</strong>s Jogos, fez to<strong>do</strong> o<br />

planejamento <strong>do</strong> evento e<br />

reunia todas as instituições<br />

brasileiras de segurança<br />

pública e Comissões<br />

Especiais: Antibombas,<br />

Conportos, Aeropolicial<br />

e de Cães Fareja<strong>do</strong>res<br />

Pão de Açúcar<br />

COPACABANA<br />

Estádio de<br />

Remo da Lagoa<br />

Clube Caiçaras<br />

6<br />

A<br />

Praia de<br />

Copacabana<br />

8<br />

Av. Niemeyer<br />

Oceano Atlântico<br />

294


A REDE DE PROTEÇÃO<br />

Programas<br />

Especiais de<br />

Prevenção:<br />

R$ 52,1<br />

milhões<br />

Veículos e<br />

aeronaves:<br />

R$ 122<br />

milhões<br />

Armamentos:<br />

R$ 14<br />

milhões<br />

1.805 veículos<br />

incluem-se microônibus, furgões, ambulâncias,<br />

utilitários, motocicletas e vans) georreferencia<strong>do</strong>s<br />

por GPS<br />

13 aeronaves<br />

(helicópteros e motoplana<strong>do</strong>res) - sen<strong>do</strong> 7 novas<br />

Mais de 20 mil agentes policiais de todas as forças<br />

15.400 rádios digitais fixos, móveis e portáteis<br />

Radiocomunicação:<br />

R$ 48 milhões<br />

Tecnologia<br />

da informação:<br />

R$ 160 milhões<br />

Uniformes,<br />

suprimentos, custeio,<br />

móveis, material de<br />

informática, equipamentos<br />

para bombeiros etc.:<br />

R$ 167 milhões<br />

120 cães fareja<strong>do</strong>res<br />

28 bancos de da<strong>do</strong>s criminais interliga<strong>do</strong>s<br />

36 locais para transmissão e recepção de sinais<br />

1.650.000 itens de armamento letal (carabina,<br />

pistola, fuzil, munição, etc.)<br />

25.000 itens de armamento não letal (granadas,<br />

cartuchos, sprays, etc.)<br />

1.600 computa<strong>do</strong>res<br />

1.227 antenas para cobertura da região<br />

metropolitana<br />

O CUSTO DA<br />

SEGURANÇA<br />

NOS JOGOS<br />

Governo<br />

Federal:<br />

R$ 563,1<br />

milhões<br />

1.500 novas câmeras<br />

de monitoramento (somadas<br />

às já existentes resultaram<br />

em 1.800 pontos)<br />

9 programas sociais<br />

de promoção<br />

da cidadania<br />

e prevenção<br />

à criminalidade<br />

A REDE DE PROTEÇÃO<br />

Centro de<br />

Operações<br />

Centro de<br />

Inteligência<br />

Centro de Logística<br />

e Segurança<br />

Autódromo Ayrton Senna Vila <strong>do</strong> Pan Copa Campo Grande Aterro Maracanã Vias expressas<br />

295


TECNOLOGIA, A DEUSA<br />

DOS JOGOS MODERNOS<br />

Na história, poucos fatores determinaram o sucesso<br />

ou o fracasso de um evento esportivo tanto quanto<br />

o aparato tecnológico. No Rio 2007, as marcas<br />

foram a eficácia e o lançamento de novos recursos.<br />

296


O ministro Orlan<strong>do</strong> Silva Jr., o presidente<br />

Lula, o governa<strong>do</strong>r Sérgio Cabral Filho<br />

e o ex-secretário de Fazenda <strong>do</strong> Rio<br />

Francisco Almeida e Silva inauguram o<br />

Centro de Operações Tecnológicas <strong>do</strong> Pan:<br />

rigor e precisão para proteger e divulgar<br />

informações <strong>do</strong>s Jogos<br />

Foto: Ricar<strong>do</strong> Stuckert / Presidência da República<br />

297


Tecnoogia e esporte: uma antiga parceria<br />

O<br />

s Jogos Olímpicos, no início, eram<br />

dedica<strong>do</strong>s a Zeus, o pai de to<strong>do</strong>s<br />

os deuses na mitologia grega.<br />

Desde o primeiro registro, que<br />

coincide com o marco zero <strong>do</strong> calendário grego<br />

(776 a.C.), os Jogos reverenciavam o templo<br />

de Olímpia – daí o nome Olimpíada. Passa<strong>do</strong>s<br />

quase três milênios, pode-se afirmar que<br />

a grande deusa <strong>do</strong>s Jogos da Era Moderna – e<br />

de to<strong>do</strong>s os eventos esportivos internacionais<br />

– é a tecnologia.<br />

Os recursos tecnológicos, <strong>do</strong>s quais poucas<br />

ações humanas escapam hoje, se aliaram ao<br />

esporte de tal forma que se tornaram inseparáveis.<br />

Determinam de forma tão direta o sucesso<br />

ou o fracasso de uma competição que a sua<br />

evolução, nas últimas décadas, coincidiu com<br />

a própria evolução <strong>do</strong> esporte. Tanto é assim<br />

que uma das mais poderosas diretorias dentro<br />

da atual estrutura <strong>do</strong> Comitê Olímpico Internacional<br />

(COI) abriga exclusivamente as tarefas<br />

relacionadas ao setor. “A tecnologia, hoje, é<br />

crucial e decisiva para o bom andamento de<br />

qualquer Olimpíada ou competição esportiva<br />

de grande porte”, atesta o presidente <strong>do</strong> COI,<br />

Jacques Rogge.<br />

A cada capítulo escrito pelo movimento olímpico<br />

ou pan-americano, surgem novos equipamentos<br />

e soluções para o setor. O mais recente<br />

lançamento foi feito nas credenciais <strong>do</strong>s<br />

Jogos Pan-americanos Rio 2007. Trata-se <strong>do</strong><br />

sistema de identificação por radiofreqüência<br />

RFID, na sigla em inglês, uma tecnologia sem<br />

fio que utiliza ondas de rádio para identificar e<br />

monitorar pessoas ou objetos.<br />

O aparelho leitor desse sistema emite ondas<br />

de rádio que ativam o chip instala<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong><br />

papel da credencial e decodifica os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

usuário em menos de um décimo de segun<strong>do</strong>.<br />

Bem mais segura <strong>do</strong> que os códigos de barra,<br />

a pequena ferramenta estreou com sucesso<br />

no Rio e foi levada, pela mesma empresa<br />

que atuou no Pan, para os Jogos Olímpicos de<br />

Pequim 2008 (ver como funciona o RFID em<br />

gráfico ao final deste capítulo). Mas a tecnologia<br />

deu sua arrancada olímpica bem antes <strong>do</strong><br />

RFID, <strong>do</strong> chip ou até mesmo <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r.<br />

Nos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna,<br />

em Atenas 1896, a busca já era percebida.<br />

Naquela edição foi disputada a primeira maratona<br />

de atletismo da história, onde se percorreu<br />

40 km em busca da glória. Quem venceu foi<br />

um pastor de ovelha e carteiro grego, Spiri<strong>do</strong>n<br />

Louis. Como não havia piscina, as provas de<br />

natação foram disputadas nas águas geladas<br />

da baía de Zea, a 13 graus Celsius, provan<strong>do</strong><br />

mais uma vez a resistência <strong>do</strong>s atletas. A medição<br />

das provas de velocidade era feita com<br />

um cronômetro. Se, em 1896, Atenas recebeu<br />

241 atletas de 14 países, nas Olimpíadas de<br />

2004 a mesma cidade se preparou para que<br />

11.099 atletas de 201 países competissem, se<br />

abrigassem, se alimentassem e se locomovessem.<br />

E foi a tecnologia que deu suporte para o<br />

funcionamento dessa engrenagem.<br />

No século 20, os Jogos foram marca<strong>do</strong>s por<br />

inovações – e o espaço de tempo entre uma<br />

e outra foi se tornan<strong>do</strong> cada vez menor. Nas<br />

Olimpíadas de 1920, um novo modelo de relógio<br />

aprimorava a contagem de tempo das provas.<br />

Os cronômetros deram lugar aos cronógrafos,<br />

relógios controla<strong>do</strong>s por botões para<br />

iniciar, parar e reiniciar o ponteiro, permitin<strong>do</strong><br />

medir até um centésimo de segun<strong>do</strong>. Em<br />

1932, a Omega, atualmente membro <strong>do</strong> Grupo<br />

Swatch, foi nomeada a primeira empresa oficial<br />

de cronometragem <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos.<br />

No mesmo ano, surgiu a Kirby camera, que<br />

simultaneamente fotografava e cronometrava<br />

a linha de chegada para indicar o tempo em<br />

cada foto.<br />

A partir daí a medição <strong>do</strong> tempo ficou cada vez<br />

mais precisa. Na década seguinte, o mecanismo<br />

de fotografia em câmera lenta foi pioneiro<br />

nos Jogos de Saint Moritz 1948, na Suíça. No<br />

mesmo ano, <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Atlântico, nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s, o cientista e matemático Claude<br />

Shannon desenvolvia o código binário. Estava<br />

lança<strong>do</strong> o desafio de transformar fórmulas matemáticas<br />

em aparelhos de computação. Não<br />

por acaso, ainda em 1948 foi desenvolvi<strong>do</strong> e<br />

testa<strong>do</strong> o primeiro protótipo de computa<strong>do</strong>r<br />

eletrônico com programa armazena<strong>do</strong>. E os<br />

298


Jogos de Londres inovaram com as primeiras<br />

transmissões ao vivo pela tevê e a estréia <strong>do</strong>s<br />

blocos de partida nas competições de natação.<br />

O Pan-americano surge justamente nesse<br />

perío<strong>do</strong> de explosão <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s recursos<br />

tecnológicos no mun<strong>do</strong>. A primeira edição, a<br />

de Buenos Aires, é disputada no mesmo ano<br />

em que o primeiro computa<strong>do</strong>r, o Univac, foi<br />

entregue ao escritório <strong>do</strong> censo <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s (1951). Seis anos depois, a empresa<br />

International Business Machines, que<br />

o mun<strong>do</strong> conhece pelas iniciais IBM, lança o<br />

Ran<strong>do</strong>m Access Method of Accounting and<br />

Control (Ramac), primeiro computa<strong>do</strong>r comercial<br />

a utilizar unidades de disco rígi<strong>do</strong><br />

com cabeças móveis. Ainda em 1957, a<br />

Digital Equipment Corporation (DEC) foi criada<br />

pelos americanos Harlan Anderson e Kenneth<br />

Olsen, engenheiros <strong>do</strong> Massachusetts Institute<br />

of Technology (MIT) que <strong>do</strong>is anos depois<br />

lançariam o primeiro minicomputa<strong>do</strong>r.<br />

O Ramac logo seria inseri<strong>do</strong> nas competições<br />

olímpicas. O computa<strong>do</strong>r foi usa<strong>do</strong> pela primeira<br />

vez nos Jogos de Inverno de Squaw Valley<br />

e nos de Verão em Roma, ambos em 1960.<br />

Neste ano, um consórcio internacional padronizou<br />

a primeira linguagem de programação<br />

de computa<strong>do</strong>res para aplicação comercial no<br />

mun<strong>do</strong>. Em Tóquio 1964, mais uma novidade:<br />

pela primeira vez contou-se com um sistema<br />

que integrava o processo de cronometragem,<br />

o Seiko Crystal Chronometer QC-951, desenvolvi<strong>do</strong><br />

pela Seiko Quartz para ser usa<strong>do</strong> nas<br />

Olimpíadas. O cronômetro era conecta<strong>do</strong> a<br />

uma impressora portátil ligada à pistola de largada<br />

e às câmeras photofinish, que fotografavam<br />

o momento de chegada.<br />

A precisão <strong>do</strong> tempo tornava-se cada vez<br />

mais essencial nas provas de velocidade, em<br />

que a diferença entre um competi<strong>do</strong>r e outro<br />

nem sempre é visível e, muitas vezes, tornase<br />

milimétrica. Os scores e recordes ganham<br />

peso e credibilidade, mas embaixo d’água ainda<br />

era necessário haver uma maneira de registrar<br />

exatamente o tempo da batida de mão<br />

<strong>do</strong>s nada<strong>do</strong>res, que àquela altura já chegavam<br />

praticamente juntos em muitas provas. Essa<br />

tecnologia chegou em 1972, nas Olimpíadas<br />

de Munique, na Alemanha. Eram plataformas<br />

com sensores de pressão. A família olímpica<br />

reunida na cidade alemã testemunhou ainda<br />

o fim da cronometragem manual. As tomadas<br />

de tempo passaram a utilizar sistema eletrônico.<br />

Nesse momento, todas as provas tinham<br />

câmeras de photofinish e surgiram aparelhos<br />

para medir os saltos.<br />

No final <strong>do</strong>s anos cinqüenta surge a primeira<br />

rede de Internet, que ficou conhecida como<br />

Advanced Research Projects Agency, ou<br />

Arpa, nascida de projetos de guerra e para a<br />

guerra. Os primeiros <strong>do</strong>cumentos oficiais sobre<br />

o assunto foram vistos em 1962, nos arquivos<br />

<strong>do</strong> MIT. Mas foi na década de 1970 que<br />

a rede tomou forma. Em dezembro de 1971,<br />

o Network Working Group (NWG) concluiu o<br />

primeiro protocolo servi<strong>do</strong>r a servi<strong>do</strong>r, chama<strong>do</strong><br />

Network Control Protocol (NCP) e, no ano<br />

seguinte, nascia o Micro Instrumentation and<br />

Telemetry Systems (MITS), primeiro microcomputa<strong>do</strong>r<br />

disponível para uso pessoal. Nos<br />

anos 1990 foi lança<strong>do</strong> o primeiro navega<strong>do</strong>r<br />

para a Internet, o que possibilitou sua expansão.<br />

Atlanta 1996 foi a primeira Olimpíada da<br />

era da grande rede.<br />

Na década de 1970, outro marco em Jogos<br />

foram as transmissões de TV, que alcançaram<br />

patamares impressionantes. Munique<br />

1972 gerou lucros de US$ 17,62 milhões<br />

com direitos de transmissão vendi<strong>do</strong>s pelo<br />

COI. Cerca de 850 milhões de especta<strong>do</strong>res<br />

acompanharam as competições naquele ano<br />

em 400 horas de programação. Na edição<br />

seguinte, a de Montreal 1976, uma nova atração<br />

contribuiu para o espetáculo <strong>do</strong> esporte<br />

e a interação <strong>do</strong> público: os placares eletrônicos,<br />

usa<strong>do</strong>s pela primeira vez para marcar<br />

tempos ao vivo. Pelo fascínio que despertava,<br />

a maravilha tecnológica dividiu atenções<br />

com a estrela desses Jogos, a genial<br />

Nadia Comaneci, uma romena de 14 anos e<br />

corpo miú<strong>do</strong> que se eternizou no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

esporte ao conquistar a primeira nota dez,<br />

a máxima, na história da ginástica olímpica.<br />

299


Foto: Michael Roger Stringer / Getty Images<br />

O cientista indiano Kapany: revolução<br />

com o protótipo da fibra ótica em 1958<br />

Estampa<strong>do</strong> nos placares eletrônicos <strong>do</strong> ginásio,<br />

o dez de Nadia correu o mun<strong>do</strong>. Não é<br />

possível imaginar os Jogos hoje sem a mobilização<br />

mundial gerada pelas transmissões<br />

ao vivo. Mas, claro, nem sempre foi assim. O<br />

primeiro registro de transmissão de Olimpíadas<br />

data de 1932, quan<strong>do</strong> a rede americana<br />

NBC resumiu em boletins noturnos de rádio os<br />

resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> dia. Nos Jogos seguintes, Berlim<br />

1936, a posição estratégica da distribuição<br />

de imagens ficou em evidência. A cineasta<br />

alemã Leni Riefenstahl, sob o coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> III<br />

Reich, filmava, durante os Jogos de Berlim, o<br />

clássico <strong>do</strong>cumentário Olímpia, com imagens<br />

de atletas em movimento. Paralelamente, era<br />

realizada a primeira transmissão de televisão<br />

das Olimpíadas em circuito fecha<strong>do</strong>. Em salas<br />

de exibição de Berlim, 162.228 alemães foram<br />

contabiliza<strong>do</strong>s. Para efeito de comparação, de<br />

acor<strong>do</strong> com o CO-Rio, mais de um milhão de<br />

especta<strong>do</strong>res assistiram ao Rio 2007.<br />

Após o intervalo forja<strong>do</strong> pela Segunda Guerra<br />

Mundial, que impediu a realização <strong>do</strong>s Jogos<br />

de 1940 e 1944, a edição de Londres 1948 reacendeu<br />

não apenas a pira olímpica, mas também<br />

a discussão sobre como seria integrada ao<br />

evento a televisão, a nova mídia que começava<br />

a tomar conta <strong>do</strong>s lares no mun<strong>do</strong>. Apenas 80<br />

mil lares britânicos recebiam sinal ao vivo e as<br />

transmisões eram restritas a um raio de 80 km<br />

em torno de Londres. Um acor<strong>do</strong> entre a BBC<br />

e o comitê londrino estabeleceu a exigência de<br />

compra de direitos de transmissão <strong>do</strong>s Jogos.<br />

300


Um casamento centenário<br />

A decisão causou polêmica. Helsinque 1952<br />

e Melbourne 1956 intensificaram os debates<br />

em torno <strong>do</strong> pagamento de taxas e da liberdade<br />

de imprensa. Em Melbourne, a NBC e a<br />

BBC chegaram a liderar um boicote internacional.<br />

O resulta<strong>do</strong> foi a venda exclusiva <strong>do</strong>s<br />

direitos para a TV britânica Canal 9, com o<br />

patrocínio de 9 mil libras da empresa Ampol.<br />

O comitê organiza<strong>do</strong>r não cede ao boicote.<br />

Outros quatro anos se passam e chegam os<br />

Jogos de Inverno de Squaw Valley, nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s, em 1960. Além da inserção <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r,<br />

a competição é marcada pela maior aceitação<br />

das taxas para TV, resultan<strong>do</strong> na primeira<br />

transmissão ao vivo da história para o veículo.<br />

A compra foi realizada pela ABC e a CBS. Mas,<br />

como relata o ex-diretor de marketing <strong>do</strong> COI<br />

Michael Payne, “a CBS ofereceu uma cobertura<br />

apenas superficial nos noticiários e se recusou<br />

a enviar um âncora esportivo para Squaw<br />

Valley”. Já nos Jogos de Verão, em Roma, no<br />

mesmo ano, a rede americana pagou US$ 400<br />

mil pelos direitos (hoje, as licenças para a América<br />

<strong>do</strong> Norte e a Europa já estão vendidas até<br />

Londres 2012). Ainda em 1960, os grava<strong>do</strong>res<br />

de vídeo foram usa<strong>do</strong>s pela primeira vez. Quatro<br />

anos mais tarde, o mun<strong>do</strong> veria os Jogos<br />

de Tóquio transmiti<strong>do</strong>s ao vivo por satélite.<br />

A televisão consolida-se com a vitrine planetária<br />

<strong>do</strong> movimento olímpico.<br />

O<br />

especta<strong>do</strong>r ávi<strong>do</strong> por mudanças<br />

sentiu novamente o impacto<br />

de uma nova mídia transforma<strong>do</strong>ra<br />

com a Internet, propagada<br />

em massa a partir <strong>do</strong>s anos 1990. Em 1984,<br />

os Jogos de Los Angeles já haviam prova<strong>do</strong> a<br />

experiência <strong>do</strong> correio eletrônico, mas a rede<br />

mundial de computa<strong>do</strong>res só entraria realmente<br />

na disputa, no auge, em Atlanta 1996, que<br />

marcou o centenário das Olimpíadas da Era<br />

Moderna. O encantamento com a nova tecnologia<br />

gerou 200 milhões de acessos ao portal<br />

oficial. A mídia tornou-se a nova parceira <strong>do</strong>s<br />

Jogos, alavancan<strong>do</strong> a venda de ingressos. Em<br />

Sydney 2000, dez por cento <strong>do</strong>s bilhetes foram<br />

vendi<strong>do</strong>s on-line. Dois anos depois, nos Jogos<br />

de Inverno de Salt Lake City, o percentual de<br />

ingressos vendi<strong>do</strong>s pela rede saltou para 80%.<br />

Vale lembrar, contu<strong>do</strong>, que a evolução da tecnologia<br />

esportiva não está restrita aos computa<strong>do</strong>res<br />

e à TV. Uniformes e equipamentos<br />

sofistica<strong>do</strong>s ganham vida a cada edição de Jogos.<br />

No mesmo ano em que se inauguravam<br />

os sistemas de resulta<strong>do</strong>s, surgiam também<br />

as primeiras varas para salto de fibra de vidro,<br />

hoje destronadas por peças ainda mais flexíveis,<br />

que provocam o efeito catapulta. Feixes<br />

de luz medem cada etapa <strong>do</strong> salto triplo e dão<br />

o alcance real <strong>do</strong> salto em altura. Nas piscinas,<br />

além das roupas revolucionárias que não<br />

absorvem água e imitam a pele de tubarão,<br />

sistemas de bombas <strong>do</strong>sa<strong>do</strong>ras de diafragma<br />

criam empuxo, através de acionamento eletromagnético,<br />

para provas de saltos ornamentais.<br />

É possível também identificar com precisão<br />

se houve uso da maioria das substâncias proibidas<br />

graças ao testes de <strong>do</strong>ping. No tênis<br />

de mesa, até as raquetes passam por testes<br />

para verificar se as colas que fixam a borracha<br />

possuem algum composto químico proibi<strong>do</strong><br />

que aumente a velocidade da bolinha. Na<br />

China, por volta de 2737 a.C. já se conheciam<br />

algumas plantas cuja mastigação, ou uso de<br />

extratos ou infusões, produziam efeitos estimulantes,<br />

mas hoje é possível saber o tipo <strong>do</strong><br />

impacto e em que grau ele pode ser tolerável.<br />

Equipamentos com espectrometria de massa<br />

produzem gráficos em terceira dimensão. E<br />

eles evoluem, acompanhan<strong>do</strong> a descoberta de<br />

novas substâncias que tentam burlar os testes.<br />

A meteorologia também agrega da<strong>do</strong>s fundamentais<br />

às competições. Nas Olimpíadas de<br />

Atenas 2004, por exemplo, um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos<br />

aponta o seguinte relato sobre as condições<br />

<strong>do</strong> vento na marina de Ágios Kosmás,<br />

lugar de disputa das regatas de vela: “às 14 horas,<br />

estará num ângulo entre 170 e 190 graus,<br />

na velocidade de 8 a 12 nós, com rajadas de<br />

bombor<strong>do</strong>, principalmente nos momentos de<br />

sol”. Além da direção e da velocidade <strong>do</strong>s ventos,<br />

a aparelhagem de medição meteorológica<br />

é capaz de fornecer precisamente da<strong>do</strong>s em<br />

curtíssimo prazo sobre temperatura e umi-<br />

301


dade <strong>do</strong> ar, radiação solar e condição<br />

de chuva. Os estu<strong>do</strong>s volta<strong>do</strong>s<br />

para maximizar as potencialidades<br />

físicas <strong>do</strong>s atletas também ganham<br />

outra dimensão com os aparelhos<br />

de medição da fisiologia <strong>do</strong>s movimentos,<br />

capazes de precisar forças<br />

exercidas e os gestos <strong>do</strong>s músculos<br />

e articulações para aprimorar a performance.<br />

A avaliação de rendimento<br />

<strong>do</strong>s atletas hoje conta com uma<br />

série de recursos capazes de testar,<br />

por exemplo, as potências aeróbica<br />

e anaeróbica, o consumo máximo de<br />

oxigênio, a mecânica <strong>do</strong>s movimentos<br />

e o desenvolvimento de massa<br />

muscular. Cada pequeno detalhe é<br />

primordial para a conquista de uma<br />

medalha.<br />

Os primeiros<br />

cronômetros e<br />

cronógrafos<br />

e o inova<strong>do</strong>r<br />

computa<strong>do</strong>r Ramac,<br />

de 1957, da IBM<br />

(no alto da página)<br />

Hoje, mais de um século depois das<br />

primeiras Olimpíadas Modernas, o<br />

potencial tecnológico em Jogos adquiriu<br />

uma dimensão tal que não se<br />

é capaz de imaginar uma competição<br />

sem equipamentos de última geração.<br />

As competições só são possíveis<br />

e confiáveis com a utilização de um<br />

aparato tecnológico seguro e preciso.<br />

No Mundial de Atletismo de 2003, o<br />

jamaicano Asafa Powell, favorito para<br />

a prova <strong>do</strong>s 100m rasos, queimou a<br />

largada e foi desclassifica<strong>do</strong>, assim<br />

como o americano Jon Drummond,<br />

que se deitou na pista, recusan<strong>do</strong>-se<br />

a sair. Só o que permite certificar se<br />

houve ou não vantagem na prova é a<br />

tecnologia. Na linha de largada estão<br />

localiza<strong>do</strong>s botões que são pressiona<strong>do</strong>s<br />

quan<strong>do</strong> os atletas dão o primeiro<br />

impulso da corrida, acionan<strong>do</strong><br />

o cronômetro. Mas existe um sistema<br />

que pára o relógio de cronometragem<br />

se o atleta produzir impulso antes de<br />

um décimo de segun<strong>do</strong> depois de o<br />

tiro de largada ser dispara<strong>do</strong>. Isso<br />

porque foi comprova<strong>do</strong> que demora<br />

pelo menos um décimo de segun<strong>do</strong><br />

para o som <strong>do</strong> tiro ser ouvi<strong>do</strong>.<br />

302


Na natação há o mesmo procedimento. Se o<br />

nada<strong>do</strong>r produz impulso no bloco de partida<br />

em menos de um décimo de segun<strong>do</strong> antes de<br />

soar a largada, ele é desclassifica<strong>do</strong> e a prova<br />

tem de ser reiniciada. Em Sydney 2000, o<br />

recordista mundial Ian Thorpe não pôde participar<br />

da competição na sua melhor prova, os<br />

400m livres, porque queimou a largada na seletiva<br />

da equipe australiana.<br />

Outro caso das piscinas preocupou a torcida,<br />

dessa vez a brasileira, que vibrava com Gustavo<br />

Borges em Barcelona 1992. Anos de treino, concentração<br />

imensa e 100 metros de na<strong>do</strong> pela<br />

frente. Na chegada, a segunda melhor marca<br />

em sua primeira Olimpíada e nenhuma comemoração.<br />

Isso porque, assim que bateu com a<br />

mão na piscina, Borges não viu o seu nome na<br />

lista de classificação, e a sensação era de não<br />

haver mérito. Mas ele, assim como to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong><br />

que assistia ao vivo à prova, se enganou. O<br />

atleta tinha, sim, leva<strong>do</strong> a prata, mas uma falha<br />

no sistema que leva os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sensor até<br />

o placar jogou água fria no campeão brasileiro<br />

e em toda a sua torcida. Assim como os botões<br />

de pressão acionam os relógios na largada,<br />

também param os cronômetros na chegada, e<br />

simultaneamente o sistema de cronometragem<br />

envia o resulta<strong>do</strong> para os painéis. Logo que o<br />

atleta tira a cabeça da água e olha para o placar,<br />

já visualiza sua posição.<br />

Além <strong>do</strong>s sensores estrategicamente localiza<strong>do</strong>s,<br />

é possível, desde as Olimpíadas de<br />

Atenas 2004, fotografar a chegada <strong>do</strong>s atletas<br />

em alta velocidade com câmeras photofinish<br />

que registram mil fotos por segun<strong>do</strong>. Os<br />

equipamentos permitem reavaliação em casos<br />

de desclassificações ou empates, evitan<strong>do</strong>,<br />

assim, discórdias como a que aconteceu em<br />

Roma, em 1960, na decisão <strong>do</strong>s 100 metros<br />

na<strong>do</strong> livre. O americano Lance Larson e o australiano<br />

John Devitt fizeram o mesmo tempo. A<br />

impressão da platéia era a de que Larson havia<br />

chega<strong>do</strong> primeiro, mas, após analisarem a<br />

prova, os juízes deram a vitória a Devitt, o que<br />

gerou revolta <strong>do</strong>s americanos. Hoje não teria<br />

discussão: as câmeras dariam o aval.<br />

Foto: Hilton Archive - Staff / Getty Images<br />

Os Jogos de inverno de<br />

Squaw Valley, em 1960:<br />

computa<strong>do</strong>res e transmissões<br />

de TV ao vivo pela primeira<br />

vez em uma Olimpíada<br />

303


Foto: Getty Images<br />

O nada<strong>do</strong>r americano Mark Spitz<br />

comemora mais uma medalha em<br />

Munique 1972: piscinas com sensores<br />

304


À procura <strong>do</strong> sistema perfeito<br />

A<br />

s inovações tornam os resulta<strong>do</strong>s<br />

cada vez mais precisos. A necessidade<br />

de sofisticação <strong>do</strong>s sistemas<br />

é proporcional à busca incessante<br />

por marcas cada vez melhores e classificações<br />

cada vez mais acirradas. A competi<strong>do</strong>ra<br />

de luge Silke Kraushaar ganhou a medalha de<br />

ouro nos Jogos de Inverno de Nagano 1998<br />

por <strong>do</strong>is milissegun<strong>do</strong>s. Mas a diferença para<br />

o segun<strong>do</strong> coloca<strong>do</strong> poderia ter si<strong>do</strong> nula se<br />

os Jogos houvessem si<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s alguns<br />

anos mais tarde.<br />

Logo depois de Nagano, foi descoberto que os<br />

sensores fotoelétricos que registravam a chegada<br />

<strong>do</strong> trenó tinham uma margem de erro de<br />

exatos <strong>do</strong>is milissegun<strong>do</strong>s. Depois da descoberta,<br />

foi feita a reengenharia <strong>do</strong>s sensores. O<br />

Comitê Olímpico Americano desenvolveu então<br />

um sistema de alta modulação com três<br />

sistemas extras, com precisão até em frações<br />

menores que meio milissegun<strong>do</strong>.<br />

Os sistemas de resulta<strong>do</strong>s são hoje o pontochave<br />

<strong>do</strong>s eventos esportivos. São eles que<br />

recebem, processam e enviam os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

Sistema de Cronometragem e Medição para a<br />

arbitragem, o público e as diferentes mídias,<br />

em tempo real. Constituem, portanto, a espinha<br />

<strong>do</strong>rsal <strong>do</strong> que é denomina<strong>do</strong> Tecnologia<br />

da Informação (TI) <strong>do</strong>s Jogos. Além <strong>do</strong>s sistemas<br />

de resulta<strong>do</strong>s, as ferramentas de processamento<br />

de informação envolvem, ainda,<br />

estruturas complexas de controle logístico,<br />

como os Sistemas de Gerenciamento <strong>do</strong>s Jogos<br />

(GMS), que executam e coordenam operações<br />

como transporte, alimentação e acomodação<br />

<strong>do</strong>s atletas, gerenciamento da força<br />

de trabalho, divulgação de boletins médicos,<br />

entre outras ações.<br />

Desde 1960, a IBM detinha o título de Parceira<br />

Mundial de Tecnologia da Informação para<br />

os Jogos Olímpicos. Mas, durante os Jogos<br />

de Atlanta 1996, a empresa quis realizar uma<br />

mudança estratégica junto ao COI. Em vez de<br />

manter o modelo de contratação de empresas<br />

diferentes via consórcio, a IBM se propôs a<br />

realizar todas as operações. Usan<strong>do</strong> a vitrine<br />

olímpica, a empresa ofereceria nesses Jogos<br />

um ambiente operacional semelhante, segun<strong>do</strong><br />

o gerente geral Dennie Welsh, “à maior cadeia<br />

de hotéis <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, à maior rede de restaurantes,<br />

ao maior hospital e a <strong>do</strong>is Super Bowls por<br />

dia, durante 17 dias”, com prazo inadiável.<br />

A idéia da IBM era fornecer soluções para o<br />

evento esportivo e provar ao mun<strong>do</strong> que, se<br />

poderia “ajudar a planejar, gerenciar e operar<br />

grande parte <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos”, também<br />

tinha condições de “oferecer a infra-estrutura<br />

de tecnologia para qualquer evento”.<br />

O Sistema Info de 1996 tinha sessenta gigabytes<br />

de armazenagem, com da<strong>do</strong>s históricos<br />

sobre Jogos Olímpicos, biografias<br />

de 10.500 atletas, cronogramas de eventos<br />

e um sistema de e-mail para 150 mil credencia<strong>do</strong>s.<br />

Para fazer ajustes nos sistemas,<br />

deveriam, no entanto, ser realiza<strong>do</strong>s testes,<br />

mas isso não foi feito. Também não foi feita<br />

uma operação que hoje se tornou padrão: a<br />

cópia back-up de da<strong>do</strong>s.<br />

O resulta<strong>do</strong> foi o mau funcionamento e a perda<br />

de controle <strong>do</strong> sistema, que produzia informações<br />

absurdas como a <strong>do</strong> joga<strong>do</strong>r de tênis de<br />

mesa com 12 centímetros de altura e salta<strong>do</strong>r<br />

de vara com 900 anos. O ju<strong>do</strong>ca peso-pesa<strong>do</strong><br />

brasileiro Aurélio Miguel, medalha de bronze<br />

nesta edição, era identifica<strong>do</strong> como <strong>do</strong> sexo<br />

feminino. Michael Payne, ex-diretor de marketing<br />

<strong>do</strong> COI, relata, em seu livro “A Virada Olímpica”,<br />

que “seis <strong>do</strong>s sete sistemas importantes<br />

cria<strong>do</strong>s pela empresa para os Jogos estavam<br />

funcionan<strong>do</strong> perfeitamente. Apenas um não<br />

funcionava. Infelizmente, era o responsável por<br />

fornecer os resulta<strong>do</strong>s à imprensa mundial”.<br />

A lição foi assimilada e, nos Jogos de Nagano<br />

1998, a IBM investiu em testes, back-up e aumento<br />

<strong>do</strong> número de funcionários. Para isso,<br />

os custos foram cinco vezes maiores <strong>do</strong> que<br />

os de Barcelona 1992. Assim, conta Payne, “o<br />

COI se convenceu de que o melhor mo<strong>do</strong> de<br />

gerenciar custos e reduzir riscos era voltar a<br />

um consórcio de tecnologia das melhores empresas,<br />

que tinham ti<strong>do</strong> sucesso comprova<strong>do</strong><br />

até Barcelona”.<br />

305


O Comitê Olímpico decidiu, então, retornar<br />

ao modelo de contratação de empresas lideradas<br />

por um integra<strong>do</strong>r de sistemas, segun<strong>do</strong><br />

Payne “muito mais eficiente em termos<br />

de custo”. O papel de integra<strong>do</strong>ra foi<br />

assumi<strong>do</strong>, a partir <strong>do</strong>s Jogos de Inverno de<br />

Salt Lake City 2002, pela empresa européia<br />

SchlumbergerSema, atual Atos Origin, que<br />

já havia si<strong>do</strong> subcontratada da IBM.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s espera<strong>do</strong>s foram atingi<strong>do</strong>s. “A<br />

equipe trabalhou 24 horas por dia. Não tínhamos<br />

espaço para erros. O inespera<strong>do</strong> também<br />

apresentava desafios”, afirmou um <strong>do</strong>s<br />

diretores da empresa, Bill Cottam. O presidente<br />

<strong>do</strong> COI, Jacques Rogge, expressou na<br />

época que a instituição estava satisfeita com<br />

a “economia operacional e de custos significativa<br />

em relação aos Jogos anteriores”.<br />

Nesse perío<strong>do</strong>, a Atos Origin entrava em<br />

cena como Parceira Mundial em Tecnologia<br />

da Informação <strong>do</strong>s Jogos Olímpicos. A<br />

empresa havia cria<strong>do</strong>, em 1989, uma área<br />

exclusivamente dedicada aos grandes eventos.<br />

Após os Jogos de Salt Lake City 2002,<br />

a Atos Origin assinou com o COI o contrato<br />

mais dura<strong>do</strong>uro de tecnologia da informação<br />

para eventos esportivos da história, cobrin<strong>do</strong><br />

os Jogos de Verão de Atenas, na Grécia, em<br />

2004; os de Inverno em Turim, na Itália, em<br />

2006; os de Verão de Pequim, na China, em<br />

2008; e de Londres, na Inglaterra, em 2012.<br />

Nos Jogos de Inverno de 2006, a tecnologia<br />

oferecida pela empresa enviou resulta<strong>do</strong>s em<br />

tempo real para a TV ofi cial em menos de 0.3<br />

segun<strong>do</strong> para 15 disciplinas, além das duas<br />

cerimônias, e para 929 terminais de Sistemas<br />

de Informação aos Comentaristas (CIS)<br />

espalha<strong>do</strong>s por 18 instalações. Além disso,<br />

a estrutura de tecnologia da informação sustentou<br />

cerca de seis milhões de requisições<br />

de informação em 806 terminais de Info2006<br />

instala<strong>do</strong>s em 39 locais de Jogos e produziu<br />

4.500 relatórios impressos.<br />

Um ano depois, para o Rio 2007, a Atos Origin<br />

Brasil assinou contrato com o governo<br />

federal no valor de R$ 141.200.000,00 para<br />

fazer a Integração de Tecnologia <strong>do</strong>s Jogos<br />

Pan e Parapan-americanos. E, como novidade,<br />

a<strong>do</strong>tou o inédito sistema de identifi cação<br />

por radiofreqüência RFID, cita<strong>do</strong> no início<br />

deste capítulo. Para Pequim 2008, a Atos Origin<br />

informa que o serviço wireless foi ofereci<strong>do</strong><br />

pela primeira vez em Jogos Olímpicos. O<br />

sistema permite que os jornalistas naveguem<br />

pelo Info2008 de seus próprios laptops.<br />

O transporte de tanta informação em Jogos<br />

só é possível graças à evolução das telecomunicações,<br />

ou seja, <strong>do</strong> transporte de uma<br />

fonte a um destino através de processos<br />

eletromagnéticos. Ao se imaginar centenas<br />

de competições realizadas simultaneamente<br />

em diversos estádios e arenas, com a<br />

complexidade que vemos hoje, questionase:<br />

como é possível que to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s de<br />

todas as provas cheguem em tempo real<br />

e com sucesso às centrais de informação,<br />

aos sites, à TV e ao público? Para responder<br />

a essa pergunta, é preciso voltar à década<br />

de 1950.<br />

306


Foto: C0-Rentmeester - Stranger / AFP<br />

A ginasta Nadia Comaneci em Montreal<br />

1976: a nota 10 da romena, a primeira<br />

da história, viajou pelo mun<strong>do</strong> e foi<br />

estampada nos placares eletrônicos,<br />

a novidade daqueles Jogos Olímpicos<br />

307


Foto: Eric Meola / Getty Images<br />

308


Fibra ótica, uma revolução<br />

E<br />

m 1958, o indiano Narinder Singh<br />

Kapany desenvolveu o protótipo<br />

de uma invenção menos espessa<br />

<strong>do</strong> que um fio de cabelo, mas<br />

de uma grandiosidade revolucionária para<br />

as comunicações à distância: a fibra ótica.<br />

Apesar de minúsculas, elas permitem o transporte<br />

de grandes volumes de informações e<br />

são ideais para sistemas que exigem altas taxas<br />

de da<strong>do</strong>s, como o sistema telefônico, a videoconferência<br />

e as redes locais (LANs), entre<br />

outros. A capacidade da fibra ótica é até um<br />

milhão de vezes maior <strong>do</strong> que o cabo metálico.<br />

Por seus filamentos de vidro ou plástico passam<br />

feixes de luz que são refleti<strong>do</strong>s inúmeras<br />

vezes através de dio<strong>do</strong> emissor de luz (LED),<br />

até alcançarem a extremidade final, envian<strong>do</strong><br />

até 10¹º bits por segun<strong>do</strong>.<br />

Além da enorme capacidade de transmissão,<br />

a fibra apresenta alta estabilidade, isolamento<br />

elétrico, baixa perda na transmissão<br />

e grande resistência. Através das fibras<br />

óticas podem ser envia<strong>do</strong>s desde arquivos<br />

com histórico sobre esportes até gráficos,<br />

imagens e sons para sites, placares, painéis<br />

e TVs. Com o contínuo rompimento de barreiras,<br />

a tecnologia vai baten<strong>do</strong> recordes e a<br />

importância <strong>do</strong>s avanços tecnológicos para<br />

os eventos esportivos internacionais tornase<br />

cada vez mais concreta. Como no esporte,<br />

o caminho da superação <strong>do</strong>s limites<br />

é irreversível e, ao mesmo tempo, sem fim.<br />

As próximas edições de Jogos certamente<br />

abrirão páginas inéditas no romance com a<br />

tecnologia, a nova deusa <strong>do</strong> Olimpo <strong>do</strong>s Jogos<br />

modernos.<br />

Fibra ótica: tecnologia multiplicou<br />

a quantidade de da<strong>do</strong>s transmiti<strong>do</strong>s.<br />

O Rio ganhou mais de 500 km<br />

de cabos com o material para o Pan<br />

309


O setor de Tecnologia <strong>do</strong> Pan Rio 2007<br />

O<br />

s fatos históricos resgata<strong>do</strong>s na<br />

primeira parte deste capítulo remetem<br />

ao fato inquestionável de<br />

que a tecnologia possui papel<br />

central e decisivo em qualquer competição<br />

esportiva de padrão internacional organizada<br />

nos dias de hoje. No caso <strong>do</strong> Pan Rio 2007,<br />

os investimentos feitos pelo governo federal<br />

e o suporte técnico forneci<strong>do</strong> ao CO-Rio<br />

pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> fizeram <strong>do</strong> setor<br />

um exemplo de eficiência, com desempenho e<br />

resulta<strong>do</strong> já assumi<strong>do</strong>s como referências para<br />

as próximas edições desses Jogos. Desde o<br />

início <strong>do</strong> planejamento, foram a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s níveis<br />

de excelência e de controle compara<strong>do</strong>s aos<br />

das melhores Olimpíadas organizadas recentemente,<br />

como Barcelona 1992, Sydney 2000<br />

e Atenas 2004.<br />

A Comissão de Tecnologia <strong>do</strong>s Jogos era formada<br />

por representantes <strong>do</strong>s três níveis de governo<br />

(União, Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio e Prefeitura) e <strong>do</strong><br />

CO-Rio. Coordenada pela Secretaria <strong>do</strong> Comitê<br />

de Gestão Federal Rio 2007 (Sepan/ME),<br />

tinha a missão de centralizar as informações e<br />

administrar os trabalhos na área. A organização,<br />

o funcionamento e o controle técnico e financeiro<br />

de uma estrutura tão complexa e multifacetada<br />

foram viabiliza<strong>do</strong>s com a a<strong>do</strong>ção da<br />

proposta <strong>do</strong> governo federal de agrupar os 23<br />

eixos de compra de equipamentos e serviços<br />

em três blocos de concorrência e de contrato:<br />

o de Integra<strong>do</strong>r de Tecnologia, o de Telecomunicações<br />

e o de Serviços de Áudio, Vídeo, TV a<br />

Cabo, Cabeamento e Complementares.<br />

Na avaliação inicial <strong>do</strong> Comitê Organiza<strong>do</strong>r,<br />

feita em 2004 a partir da Estrutura Analítica<br />

<strong>do</strong> Projeto de Tecnologia (EAP), havia 25 itens<br />

diferentes para compra ou contratação, de<br />

computa<strong>do</strong>res e softwares a serviços de áudio<br />

e vídeo, passan<strong>do</strong> por equipamentos de telefonia,<br />

serviços de tradução, celulares e fibra<br />

ótica, entre outros. Mais tarde, esses 25 itens<br />

foram transforma<strong>do</strong>s em 23. Cada um desses<br />

blocos seria atendi<strong>do</strong> por uma empresa,<br />

em um modelo sem subcontratos ou grupos<br />

priva<strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>res de serviços. To<strong>do</strong>s os<br />

compromissos seriam executa<strong>do</strong>s e administra<strong>do</strong>s<br />

pelo CO-Rio. Havia, no entanto, a preocupação,<br />

no Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, de que este<br />

primeiro modelo, com tantas frentes de ação,<br />

produzisse contratempos de administração e<br />

de logística a pouco mais de <strong>do</strong>is anos <strong>do</strong> início<br />

das disputas.<br />

Correr o risco não seria a decisão mais prudente.<br />

“O Ministério avaliou que a Sepan e o<br />

CO-Rio não teriam capacitação para fazer o<br />

papel <strong>do</strong> Integra<strong>do</strong>r. A tarefa era extremamente<br />

complexa, multifacetada, com diversidade<br />

técnica abrangente e prazos delimita<strong>do</strong>s. Exigia,<br />

portanto, um trabalho muito especializa<strong>do</strong>”,<br />

explica o assessor de Tecnologia da Sepan,<br />

Pedro Varlotta. Por isso, em abril de 2005,<br />

após estu<strong>do</strong>s e análises, o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

e o CO-Rio decidiram a<strong>do</strong>tar o modelo<br />

consagra<strong>do</strong> nas últimas competições de grande<br />

porte em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. Os 23 itens <strong>do</strong><br />

setor de Tecnologia foram agrupa<strong>do</strong>s em três<br />

grandes blocos, um deles o Integra<strong>do</strong>r de Tecnologia,<br />

que harmonizaria sozinho as ações da<br />

maior parte <strong>do</strong>s contratos e serviços <strong>do</strong> setor.<br />

Há outro da<strong>do</strong> importante: para evitar erros de<br />

cálculo e compras desnecessárias com dinheiro<br />

público, o modelo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> embutia a filosofia,<br />

igualmente nova, de contratar serviços,<br />

metas, objetivos – e não simplesmente produtos<br />

ou compras. A empresa vence<strong>do</strong>ra da licitação<br />

para o Integra<strong>do</strong>r gerenciaria os contratos<br />

com os fornece<strong>do</strong>res subcontrata<strong>do</strong>s, a <strong>do</strong><br />

segun<strong>do</strong> bloco implantaria os serviços de Telecomunicações<br />

e o terceiro seria forma<strong>do</strong> por<br />

empresas com funções compatíveis e complementares,<br />

que fornecessem todas as funções<br />

de áudio e de vídeo <strong>do</strong>s Jogos, contratadas<br />

através de licitação pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>.<br />

“Com apenas três grandes pacotes, o custo<br />

àquela altura seria menor. Além disso, não<br />

havia mesmo tempo para fazer todas aquelas<br />

contratações de forma segmentada”, pondera<br />

o gerente de Tecnologia <strong>do</strong> CO-Rio, Alexandre<br />

Techima. “Nos Jogos Olímpicos, costuma-se<br />

fazer as contratações para o aparato tecnológico<br />

com três anos e meio de antecedência.<br />

Estávamos a <strong>do</strong>is anos de um evento de grande<br />

porte”, explica.<br />

310


A reestruturação <strong>do</strong> modelo, aprovada pelo<br />

CO-Rio e avalizada pelos especialistas da empresa<br />

australiana MI Associates, que prestou<br />

consultoria para o Comitê Organiza<strong>do</strong>r, foi decisiva<br />

para o bom andamento <strong>do</strong> projeto. “A Secretaria<br />

se envolveu na execução direta. Acompanhou,<br />

organizou, adequou aos parâmetros<br />

legais e geriu o processo”, resume o secretário<br />

executivo da Sepan, Ricar<strong>do</strong> Leyser. “Hoje<br />

sabemos como estruturar estes setores para<br />

grandes eventos esportivos”, completa ele.<br />

Além <strong>do</strong> bom funcionamento de to<strong>do</strong> o setor<br />

de Tecnologia, um trabalho reconheci<strong>do</strong> por<br />

especialistas que trabalharam no Pan (ver comentários<br />

nos gráficos ao final <strong>do</strong> capítulo),<br />

alguns elementos fazem crer que o caminho<br />

segui<strong>do</strong> na implantação <strong>do</strong> sistema foi adequa<strong>do</strong>.<br />

Em uma pesquisa para cotação (RFQ,<br />

de Request for Quotation) feita pelo Ministério<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> com auxílio da Fundação Getúlio<br />

Vargas (FGV) para dar parâmetros ao edital<br />

006/2006, sobre a contratação <strong>do</strong> Integra<strong>do</strong>r,<br />

as empresas interessadas apresentaram um<br />

orçamento médio de R$ 210 milhões.<br />

Após análises de custos unitários e de melhores<br />

alternativas de projetos, a FGV conseguiu<br />

reduzir esse valor para R$ 115 milhões, que<br />

tornou-se então o valor da <strong>do</strong>tação orçamentária<br />

<strong>do</strong> Ministério para a licitação. A contratação<br />

da vence<strong>do</strong>ra, Atos Origin, ficou em R$<br />

112.998.002,00. Com aditivos no decorrer <strong>do</strong><br />

contrato, o total fechou em R$ 141.244.575,00.<br />

“Dessa forma, apenas neste contrato de tecnologia,<br />

mesmo incluin<strong>do</strong> os aditivos, o Ministério<br />

economizou R$ 68,755 milhões”, contabiliza<br />

André Brandão, da FGV. A experiência da<br />

Atos é inegável. Com 5,5 bilhões de euros de<br />

faturamento anual e 50 mil funcionários espalha<strong>do</strong>s<br />

por 40 países (2 mil deles no Brasil), a<br />

empresa tem na sua lista de serviços os Jogos<br />

Olímpicos de Sydney 2000 e Atenas 2004. E já<br />

estava contratada, à época <strong>do</strong> Pan, para Pequim<br />

2 008 e Londres 2012.<br />

O processo de contratação <strong>do</strong> consórcio vence<strong>do</strong>r<br />

da licitação para outro <strong>do</strong>s três blocos,<br />

o <strong>do</strong>s serviços de Sonorização, Vídeo, TV a<br />

Cabo e Cabeamento, foi mais um fator importante.<br />

O consórcio vence<strong>do</strong>r da licitação é forma<strong>do</strong><br />

por duas das maiores empresas desses<br />

ramos no Brasil, todas com reconhecimento<br />

internacional na realização de grandes eventos:<br />

a Gabisom Sistemas de Som e Equipamentos<br />

Musicais e a Eletromídia Comercial. O<br />

contrato, com valor inicial de R$ 52.287.383,00<br />

fechou em R$ 60.838.583,92. Importante destacar<br />

que, na primeira pesquisa de merca<strong>do</strong><br />

para esta licitação, apurou-se o valor médio de<br />

R$ 82.500.000,00, ou seja, mais de R$ 20 milhões<br />

além <strong>do</strong> efetivamente pago.<br />

Presidente Lula na inauguração<br />

<strong>do</strong> TOC: tecnologia para<br />

transmissão e segurança <strong>do</strong>s<br />

da<strong>do</strong>s foi aprovada por técnicos<br />

e profissionais de comunicação<br />

Foto: Ricar<strong>do</strong> Stuckert / Presidência da República<br />

311


Foto: Bruno Carva lho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

312


313<br />

Centro de controle <strong>do</strong> TOC:<br />

rigor e rapidez para identificar<br />

e solucionar problemas sem<br />

maiores danos


O Integra<strong>do</strong>r<br />

O êxito e a economia de recursos nas contratações<br />

motivaram uma carta em que especialistas<br />

da MI Associates, a empresa australiana<br />

de consultoria internacional contratada pelo<br />

CO-Rio, com experiência acumulada desde os<br />

Jogos de Sydney 2000, destacam, em 29 de<br />

março de 2006, o rigor e a eficiência nas definições<br />

de padrão <strong>do</strong> setor de tecnologia feitas<br />

pelo Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, a Fundação Getúlio<br />

Vargas e o CO-Rio. “Gostaríamos de congratulá-los<br />

pelo detalhamento e a <strong>do</strong>cumentação<br />

produzi<strong>do</strong>s para o Integra<strong>do</strong>r e o setor de Cronometragem<br />

e Medição. É justo dizer que esse<br />

nível de detalhamento não teve precedentes em<br />

nenhum <strong>do</strong>s eventos de que participamos, incluin<strong>do</strong><br />

os Jogos Olímpicos. Este trabalho pode<br />

significar um novo paradigma”, diz a carta.<br />

Por meio da Sepan e em parceria com a FGV<br />

e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento,<br />

o Pnud, o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

gerenciou mais de 300 projetos e subprojetos<br />

de tecnologia nos Jogos Pan e Parapan-americanos.<br />

“O Comitê de Tecnologia cria<strong>do</strong> pelo<br />

Ministério e apoia<strong>do</strong> pela FGV, através <strong>do</strong> Escritório<br />

de Projetos, viabilizou um feito inédito no<br />

País: a integração de diversos entes e esferas<br />

<strong>do</strong>s governos federal, estadual e municipal, em<br />

seus diversos níveis, além, é claro, <strong>do</strong> Comitê<br />

Olímpico Brasileiro e <strong>do</strong> CO-Rio”, resume o diretor<br />

da FGV Projetos, Cesar Cunha Campos.<br />

Nas páginas seguintes, o detalhamento <strong>do</strong>s<br />

três blocos <strong>do</strong> setor de tecnologia <strong>do</strong>s Jogos<br />

Pan e Parapan-americanos e uma seqüência de<br />

gráficos e quadros que mostram em detalhes<br />

o funcionamento de cada um desses sistemas.<br />

E<br />

ste bloco implementou e integrou<br />

to<strong>do</strong>s os sistemas e instalações tecnológicas<br />

<strong>do</strong>s Jogos, entre eles os<br />

de resulta<strong>do</strong>s, cronometragem, medição<br />

e rede. Além <strong>do</strong>s serviços de tecnologia,<br />

o Integra<strong>do</strong>r se relacionava com os fornece<strong>do</strong>res<br />

de Telecomunicações, de Áudio e Vídeo e<br />

também com técnicos <strong>do</strong> Instituto Nacional de<br />

Meteorologia (InMet), que, junto com o Centro<br />

de Hidrografia da Marinha <strong>do</strong> Brasil, forneceu<br />

informações sobre meteorologia e clima durante<br />

os Jogos. To<strong>do</strong>s esses da<strong>do</strong>s eram coloca<strong>do</strong>s<br />

no Info2007 (ver capítulo sobre Meio Ambiente).<br />

A seguir, os sistemas, equipamentos e<br />

projetos reuni<strong>do</strong>s no Integra<strong>do</strong>r. Os gráficos ao<br />

final <strong>do</strong> capítulo trazem os detalhes de funcionamento<br />

de cada um desses itens.<br />

Sistema de Gerenciamento <strong>do</strong>s Jogos<br />

(GMS) – Administrou o atendimento das necessidades<br />

<strong>do</strong>s atletas, delegações, público<br />

e imprensa. Operações de transporte, chegadas<br />

e partidas, alimentação e acomodações<br />

<strong>do</strong>s atletas, além de credenciamento, gerenciamento<br />

da força de trabalho, divulgação de<br />

boletins médicos, entre outras ações, foram<br />

executadas e coordenadas nos mais de 30 setores<br />

especializa<strong>do</strong>s que formaram o GMS.<br />

Sistemas de Cronometragem e de Medição<br />

– Faziam a apuração instantânea <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<br />

e enviavam os da<strong>do</strong>s para validação <strong>do</strong>s<br />

juízes e a divulgacão, em tempo real, nos painéis<br />

<strong>do</strong>s locais de competição, no portal ofi cial<br />

<strong>do</strong>s Jogos na internet, nos gráficos da TV anfitriã<br />

e nas redes internas Info2007 consultadas<br />

pela imprensa.<br />

Quiosques da rede interna Info2007 – Liga<strong>do</strong>s<br />

ao Sistema de Cronometragem e de<br />

Medição e disponíveis nos centros de imprensa<br />

e nas instalações, os quiosques da intranet<br />

Info2007 ofereceram uma impressionante<br />

massa de da<strong>do</strong>s sobre o Pan, o Parapan e<br />

outras competições internacionais. Em versão<br />

on-line ou impressa, ofereciam calendários,<br />

notícias, históricos e curiosidades.<br />

Centro de Operações Tecnológicas (TOC) –<br />

Tu<strong>do</strong> o que ocorreu nos Jogos foi monitora<strong>do</strong><br />

pelo Centro de Operações Tecnológicas (TOC,<br />

na sigla em inglês), um sofistica<strong>do</strong> centro de<br />

controle, em tempo real, das operações nos locais<br />

de competição e de não-competição <strong>do</strong><br />

Pan. O objetivo principal <strong>do</strong> TOC era centralizar,<br />

gerenciar e armazenar to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s de<br />

operações como cronometragem, medição e<br />

divulgação de resulta<strong>do</strong>s, transporte, alimentação,<br />

acomodações e logística <strong>do</strong>s atletas,<br />

gerenciamento da força de trabalho e boletins<br />

médicos, entre outros. Todas as operações fo-<br />

314


315<br />

A carta enviada pela<br />

MI Associates:<br />

<br />

sem precendentes nem


am acompanhadas em tempo real. Da sede <strong>do</strong><br />

TOC, na Barra da Tijuca, zona oeste <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro, as instalações eram monitoradas para<br />

relatar os problemas ou contratempos, em<br />

busca de imediata solução. Toda decisão era<br />

baseada em padrões internacionais de gestão<br />

de esporte. O centro, com 1.680 metros quadra<strong>do</strong>s,<br />

foi inaugura<strong>do</strong> em fevereiro de 2007<br />

pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula<br />

da Silva, o ministro <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>, Orlan<strong>do</strong> Silva<br />

Jr., e o governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro,<br />

Sérgio Cabral Filho.<br />

O centro nervoso <strong>do</strong> TOC era um grande videowall,<br />

que concentrava da<strong>do</strong>s de competições e<br />

imagens <strong>do</strong>s Jogos, para facilitar o monitoramento<br />

<strong>do</strong>s serviços. A demanda por soluções<br />

era apresentada no videowall através de duas<br />

cores: vermelho e amarelo. A coloração ajudava<br />

a identificar a olho nu, com facilidade, quais<br />

eram os principais focos de atuação e o tempo<br />

exigi<strong>do</strong> para a tomada de decisão. A chefe<br />

de operações da Atos Origin, Ana Men<strong>do</strong>nça,<br />

explica esse padrão, utiliza<strong>do</strong> em eventos internacionais:<br />

“O problema classifica<strong>do</strong> como vermelho<br />

tem tempo de solução curto, não pode<br />

permanecer por mais de duas horas. Para os<br />

de cor amarela, a solução precisa vir em quatro<br />

horas no máximo”, explica.<br />

TV Graphics – Quadros com da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s competi<strong>do</strong>res<br />

e resulta<strong>do</strong>s das provas, distribuí<strong>do</strong>s<br />

pela tevê anfitriã (a detentora e gera<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s<br />

sinais de transmissão; no caso <strong>do</strong> Pan, a espanhola<br />

ISB) para as demais emissoras e os<br />

painéis instala<strong>do</strong>s nos locais de competição.<br />

Centrais de Da<strong>do</strong>s Primária e Secundária<br />

(PDC e SDC) – Para garantir um sistema de<br />

armazenamento de da<strong>do</strong>s seguro, todas as informações<br />

<strong>do</strong>s Jogos foram armazenadas em<br />

um centro de processamento de da<strong>do</strong>s primário<br />

(PDC) e também em um secundário (SDC),<br />

idêntico ao original. Se algo ocorresse com o<br />

primeiro, imediatamente o segun<strong>do</strong> entraria em<br />

ação. É o princípio da redundância. Além <strong>do</strong>s<br />

resulta<strong>do</strong>s, as centrais armazenaram informações<br />

sobre atletas, imprensa, logística, especta<strong>do</strong>res<br />

e patrocina<strong>do</strong>res, entre outros.<br />

PC Factory – Unidade montada no espaço <strong>do</strong><br />

TOC para configurar cada um <strong>do</strong>s milhares de<br />

computa<strong>do</strong>res e unidades de informática utiliza<strong>do</strong>s<br />

no Pan com os programas e recursos<br />

adequa<strong>do</strong>s ao seu perfil de uso.<br />

LAB – Laboratório monta<strong>do</strong> no TOC para testar<br />

o funcionamento <strong>do</strong>s equipamentos e programas<br />

de tecnologia, incluin<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os sistemas<br />

de resulta<strong>do</strong>s e os de gerenciamento <strong>do</strong>s Jogos,<br />

como acomodação, transporte, saúde,<br />

entre outros itens.<br />

Office – Escritório no TOC para tomada de decisões<br />

da gerência geral.<br />

Escritório de Segurança da Informação –<br />

Para assegurar a segurança e a integridade das<br />

informações das centrais de da<strong>do</strong>s, foi instala<strong>do</strong>,<br />

em parceria com a Agência Brasileira de Inteligência<br />

(Abin), o Escritório de Segurança da<br />

Informação no Pan. Com sofistica<strong>do</strong>s equipamentos,<br />

os técnicos <strong>do</strong> escritório protegeram o<br />

ambiente de tecnologia <strong>do</strong>s Jogos, evitan<strong>do</strong> a<br />

invasão <strong>do</strong> sistema por hackers. É importante<br />

lembrar também a estrutura tecnológica envolvida<br />

nas ações de segurança pública, durante<br />

o Pan, pela Secretaria Nacional de Segurança<br />

Pública (Senasp), no Centro de Coman<strong>do</strong> e<br />

Controle <strong>do</strong>s Jogos, o CCCJ (detalhes no capítulo<br />

Segurança).<br />

Sistemas corporativos – Fizeram a gestão de<br />

informações <strong>do</strong> CO-Rio e prestaram suporte<br />

na área de contabilidade e de recursos humanos<br />

<strong>do</strong>s Jogos. Entre os sistemas corporativos<br />

estavam os de Contas a Receber, Contas a<br />

Pagar, Gestão de Recursos Humanos (folha de<br />

pagamento), Faturamento, Contabilidade, Estoque<br />

e Convênios.<br />

Credenciamento – Os da<strong>do</strong>s de todas as credenciais<br />

foram inseri<strong>do</strong>s com tecnologia digital.<br />

Tarjas coloridas identificavam o código de<br />

acesso – vermelho para a área operacional,<br />

azul para os setores de competição e branca<br />

para trânsito geral. Os números dispostos em<br />

cima da tarja mostravam o setor para o qual<br />

a pessoa estaria habilitada. Exemplos: qua-<br />

316


As telecomunicações<br />

tro para imprensa e cinco para a área de TV.<br />

As siglas resumiam os nomes das instalações<br />

esportivas, como AMU (Arena Multiuso), MAR<br />

(Maracanã), etc. O símbolo ∞, de infinito, permitia<br />

acesso a todas as instalações esportivas.<br />

Por fim, a composição de letras e de números<br />

informava o tipo de transporte disponível. Os<br />

voluntários e a força de trabalho, por exemplo,<br />

tinham gratuidade em ônibus e na rede de metrô<br />

da cidade através <strong>do</strong> código T5 (ver A credencial<br />

<strong>do</strong> futuro ao final deste capítulo).<br />

RFID – Este procedimento utiliza um equipamento,<br />

liga<strong>do</strong> a um software, que lê informações<br />

da credencial armazenadas em um chip,<br />

a identificação eletrônica <strong>do</strong> porta<strong>do</strong>r. A vistoria<br />

era feita cada vez que o credencia<strong>do</strong> entrava<br />

em um local <strong>do</strong>s Jogos. A tecnologia, mais<br />

segura e prática <strong>do</strong> que os códigos de barra,<br />

foi usada também para cadastrar veículos (ver<br />

quadro ao final <strong>do</strong> capítulo).<br />

E<br />

ste bloco envolveu a montagem e a<br />

operação <strong>do</strong>s sistemas de telecomunicações<br />

por rádio, da<strong>do</strong>s e voz<br />

para suporte de toda a operação <strong>do</strong>s<br />

Jogos. A empresa contratada, a Oi, forneceu<br />

rede de transmissão de da<strong>do</strong>s, fibra ótica, telefonia<br />

móvel, internet por banda larga e celular<br />

e mensagens de texto SMS, além de da<strong>do</strong>s<br />

B2B (business to business). Cinco mil terminais<br />

móveis e 4,6 mil fixos foram utiliza<strong>do</strong>s no Pan.<br />

A estratégia foi baseada na integração de serviços,<br />

o que reduziu custos e unificou as áreas<br />

de negócios. O Rio de Janeiro ganhou mais de<br />

500 quilômetros de fibra ótica, e uma rede interna<br />

de 50 quilômetros de cabos foi instalada<br />

nos espaços que abrigavam as instalações esportivas<br />

e a Vila Pan-americana.<br />

A fibra ótica foi implantada em to<strong>do</strong>s os bairros<br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro onde havia instalações<br />

esportivas e operacionais. “Ela chegou, por<br />

exemplo, ao bairro de Deo<strong>do</strong>ro, na zona oeste<br />

da cidade, onde o governo federal construiu um<br />

<strong>do</strong>s mais modernos complexos esportivos <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>. Do ponto de vista comercial, a região<br />

provavelmente não motivaria a empresa a fazer<br />

um investimento deste porte nos próximos cinco<br />

anos. Mas agora essa fibra instalada poderá<br />

atrair negócios e gerar novos empregos na<br />

área”, analisa Pedro Varlotta, da Sepan. Além<br />

disso, a cobertura da rede de telefonia móvel<br />

foi ampliada e reforçada com a instalação de 24<br />

novas Estações de Rádio Base (ERBs), 11 delas<br />

de alta potência. No Parapan, foram ofereci<strong>do</strong>s<br />

softwares, tecnologias específicas e telefones<br />

especiais para usuários com deficiência. Esses<br />

serviços ficaram entre os mais concorri<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

Jogos (ver detalhes no capítulo Parapan).<br />

A empresa contratada dedicou aos Jogos uma<br />

equipe especial de 600 pessoas (500 delas na<br />

área de operações) e um call center com 32<br />

posições simultâneas. “A Oi se orgulha de ter<br />

si<strong>do</strong> parceira <strong>do</strong> governo federal e <strong>do</strong> Comitê<br />

Organiza<strong>do</strong>r, em um esforço conjunto para<br />

que fosse possível superar to<strong>do</strong>s os obstáculos<br />

para a realização <strong>do</strong>s Jogos. O sucesso <strong>do</strong><br />

Pan era uma questão extremamente importante,<br />

por isso dedicamos equipes, investimos em<br />

equipamentos e trabalhamos la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>”, comunica<br />

a empresa em nota. “Hoje a empresa<br />

está muito mais preparada para atuar em grandes<br />

eventos. O conhecimento adquiri<strong>do</strong> c om<br />

a experiência <strong>do</strong>s Jogos, onde a empresa teve<br />

a oportunidade de trocar conhecimento com<br />

companhias estrangeiras e de vivenciar todas<br />

as etapas para a realização <strong>do</strong> projeto, foi enriquece<strong>do</strong>r<br />

e se transformou em herança”.<br />

A fornece<strong>do</strong>ra foi contratada pelo Comitê Organiza<strong>do</strong>r<br />

em dezembro de 2006, por meio<br />

<strong>do</strong> convênio 350/2006 firma<strong>do</strong> entre o Ministério<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> e o CO-Rio. O valor final <strong>do</strong><br />

convênio foi de R$ 52.069.742,67, sen<strong>do</strong> R$<br />

45.320.595,80 de investimento da União e R$<br />

6.749.146,87 de contrapartida <strong>do</strong> CO-Rio. Pioneira<br />

na prestação de serviços de convergência<br />

e de integração de telecomunicações no Brasil,<br />

a empresa oferece transmissão de voz local e<br />

em longa distância, telefonia móvel, comunicação<br />

de da<strong>do</strong>s, Internet e entretenimento. Opera<br />

em 16 esta<strong>do</strong>s das regiões Norte, Nordeste e<br />

Sudeste, e em to<strong>do</strong> o País nos merca<strong>do</strong>s corporativo<br />

e de longa distância. Além disso, cobre<br />

981 municípios com telefonia móvel.<br />

317


Imagem, Sonorização e Cabeamento<br />

T<br />

o<strong>do</strong>s os projetos relaciona<strong>do</strong>s à<br />

apresentação e à sonorização foram<br />

aloca<strong>do</strong>s neste terceiro grupo. Nos<br />

grandes espetáculos, esportivos ou<br />

não, empresas presta<strong>do</strong>ras de serviços de vídeo<br />

e de áudio costumam trabalhar em conjunto.<br />

Foi o que ocorreu no Pan. Um consórcio<br />

forma<strong>do</strong> pelas empresas GabiSom, de áudio,<br />

e Eletromídia, especializada em vídeo, venceu<br />

a licitação para este bloco. “Essa parceria foi<br />

formada porque não existe no merca<strong>do</strong> brasileiro<br />

um grupo que consiga fazer sozinho as<br />

duas coisas para um evento das dimensões <strong>do</strong><br />

Pan”, explica o coordena<strong>do</strong>r de Áudio e Vídeo<br />

da FGV, Pedro Miranda.<br />

Inicialmente, o CO-Rio previa apenas a sonorização<br />

das instalações. Mas este serviço era<br />

indispensável também para as cerimônias de<br />

abertura e de encerramento, o Centro Principal<br />

de Operações (MOC), as áreas de especta<strong>do</strong>res<br />

e de imprensa, as assembléias da<br />

Odepa, os congressos técnicos, a Vila Panamericana<br />

e os hotéis <strong>do</strong>s Jogos, entre outros<br />

locais. Além disso, não estavam na conta os<br />

telões que deveriam ser instala<strong>do</strong>s para transmitir<br />

os eventos em tempo real nos estádios,<br />

ginásios, arenas e na Praça das Bandeiras da<br />

Vila Pan-americana.<br />

Além de áudio e vídeo, que abrangiam de microfones<br />

e caixas acústicas a telões, a empresa<br />

também era responsável pelo fornecimento<br />

de cabeamento (para instalar os serviços de<br />

apresentação e sonorização nas competições)<br />

e tevês a cabo (suporte à geração <strong>do</strong> sinal da<br />

televisão oficial <strong>do</strong>s Jogos). Para a contratação<br />

<strong>do</strong>s aparelhos de comunicação de voz e<br />

de da<strong>do</strong>s a partir das instalações, foi feito termo<br />

aditivo ao contrato, o que resultou no valor<br />

final de R$ 60,838 milhões.<br />

As instalações esportivas contaram com sonorização<br />

nas áreas de especta<strong>do</strong>res, imprensa,<br />

aquecimento de atletas, convivência, VIP (PanAm)<br />

e nos sistemas da avisos sonoros. Nos<br />

locais de não-competição, o som era utiliza<strong>do</strong><br />

para entreter e envolver o público. A parte de<br />

Para atender todas as demandas, o consórcio<br />

contrata<strong>do</strong> implementou os serviços em mais<br />

de 50 locais de competição e não-competição.<br />

A GabiSom é a maior empresa de sonorização<br />

<strong>do</strong> Brasil e a quinta maior <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A Eletromídia<br />

é líder <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> nacional de painéis<br />

de Light-Emitting Diode, ou LED (ver quadro<br />

no final <strong>do</strong> capítulo). As áreas de atuação da<br />

empresa englobam mídia eletrônica e venda<br />

ou locação desses painéis luminosos.<br />

O presidente da Atos Origin,<br />

Sérgio Bartoletti (com o microfone),<br />

entre Carlos Roberto Osório, Orlan<strong>do</strong> Silva Jr. e<br />

Ricar<strong>do</strong> Leyser, na assinatura <strong>do</strong> contrato para<br />

o Integra<strong>do</strong>r: experiência na adminstração de<br />

várias frentes simultâneas de trabalho<br />

318


vídeo envolvia to<strong>do</strong>s os chama<strong>do</strong>s videoboards,<br />

ou painéis modulares de LEDs, instala<strong>do</strong>s<br />

nas áreas de competição e na Praça das Bandeiras<br />

da Vila Pan-americana. Além das imagens<br />

geradas pela emissora anfi triã (no caso,<br />

a espanhola ISB), eles exibiam replays, entretenimento<br />

e informações sobre os atletas e as<br />

provas (ver quadro ao final <strong>do</strong> capítulo).<br />

Outra tecnologia disponibilizada pelo contrato<br />

foi o CATV (Community Antena TV) ou TV<br />

a cabo, que consistia em oferecer toda a infra-estrutura<br />

de cabeamento e os aparelhos<br />

de TV para a divulgação das imagens da TV<br />

PAN, criada especialmente para os Jogos. Locutores<br />

e comentaristas também foram atendi<strong>do</strong>s<br />

por este serviço, pois tinham à disposição<br />

equipamentos de TV para acompanhar as<br />

competições. Por fim, mas não menos importante,<br />

havia os materiais e serviços envolvi<strong>do</strong>s<br />

no cabeamento estrutura<strong>do</strong> das redes de voz<br />

e de da<strong>do</strong>s em to<strong>do</strong>s os locais de competição<br />

e não-competição.<br />

O objetivo era oferecer pontos de rede e de<br />

telefone onde fosse necessário, possibilitan<strong>do</strong><br />

a comunicação de voz e de da<strong>do</strong>s. “Se considerarmos<br />

a quantidade e o porte <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res<br />

de serviços que trabalharam com o<br />

setor de Tecnologia no Pan, pode-se dizer que<br />

a relação foi eficiente e tranqüila. Em um projeto<br />

dessas dimensões, sempre é necessário<br />

corrigir rotas aqui e ali. Mas, no geral, o Ministério<br />

<strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> exerceu seu papel de cliente<br />

exigente e eles responderam com profi ssionalismo”,<br />

diz Pedro Varlotta.<br />

Foto: Arquivo / CO-Rio<br />

319


O credenciamento nos Jogos<br />

O<br />

CO-Rio, o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

(ME) e a Prefeitura <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro validaram juntos 118.322<br />

credenciais para os envolvi<strong>do</strong>s<br />

nos Jogos. Destas, 88.383 foram direcionadas<br />

ao Pan e 29.939 ao Parapan. A soma não<br />

corresponde a to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentos emiti<strong>do</strong>s,<br />

incluin<strong>do</strong> os adicionais e os inutiliza<strong>do</strong>s,<br />

mas apenas aos ativa<strong>do</strong>s no Sistema de Gerenciamento<br />

<strong>do</strong>s Jogos através da tecnologia<br />

RFID (ver texto explicativo e quadro A credencial<br />

<strong>do</strong> futuro).<br />

Nos dias anteriores ao início <strong>do</strong> Pan, o CO-Rio,<br />

que tinha a competência exclusiva de emitir<br />

credenciais, enfrentou dificuldades para preparar,<br />

ativar e entregar esses <strong>do</strong>cumentos em<br />

tempo hábil a to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s. “A demora<br />

da área para liberar os layouts no padrão – e<br />

eram 41 perfis diferentes de acesso – foi somada<br />

a outros atrasos. Na reta final, os problemas<br />

apareceram”, lembra o coordena<strong>do</strong>r<br />

Pedro Miranda, da FGV.<br />

Para auxiliar o CO-Rio, o Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

montou, na Sepan, uma estrutura de<br />

credenciamento com parte de seus funcionários<br />

e técnicos das parceiras FGV e FIA.<br />

Trabalhan<strong>do</strong> praticamente sem interrupções<br />

de jornada, o grupo emitiu 18 mil das 88.383<br />

credenciais <strong>do</strong> Pan e, depois, com mais tempo,<br />

13 mil <strong>do</strong>s 29.939 <strong>do</strong>cumentos ativa<strong>do</strong>s<br />

no Parapan.<br />

Tradução Simultânea<br />

Mesmo assim, alguns contratempos, principalmente<br />

no acesso às instalações, foram registra<strong>do</strong>s.<br />

Na avaliação <strong>do</strong> secretário Ricar<strong>do</strong><br />

Leyser, a primeira lição a ser retirada é a de<br />

que o credenciamento precisa ser profi ssionaliza<strong>do</strong><br />

caso o Rio abrigue uma Olimpíada.<br />

“Uma tarefa técnica, volumosa e detalhada<br />

como a de credenciar, com a segurança e a<br />

precisão que ela requer, deve ser entregue<br />

a profissionais e não a voluntários, como foi<br />

feito inicialmente”, resume Leyser.<br />

N<br />

os Jogos, o governo federal<br />

contratou também serviços de<br />

tradução simultânea. Para isso,<br />

foi feito um investimento de R$<br />

1,901 milhão por meio <strong>do</strong> pregão 18/2007.<br />

O trabalho gerou a infra-estrutura para traduções,<br />

em tempo real, nos congressos e<br />

assembléias <strong>do</strong>s Jogos, engloban<strong>do</strong> inglês,<br />

espanhol e português.<br />

O aparato incluiu cabines de tradução, processamento<br />

e distribuição de áudio, microfones<br />

digitais, monitores e cabos. Foram<br />

realiza<strong>do</strong>s 50 congressos no Pan e dez no<br />

Parapan, com freqüência média de setenta<br />

participantes.<br />

Nas páginas seguintes, há quadros e gráficos<br />

que trazem informações mais detalhadas<br />

sobre o setor de Tecnologia nos Jogos Pan e<br />

Parapan-americanos Rio 2007.<br />

320


Painéis instala<strong>do</strong>s<br />

no Maracanã<br />

ficaram de<br />

lega<strong>do</strong> para o<br />

esporte<br />

Foto: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

321


322


323


324


325<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

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<br />

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<br />

<br />

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<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

www.rio2007.org.br<br />

<br />

BRA<br />

CUB<br />

EUA<br />

ARG<br />

MEX<br />

BRA<br />

BRA<br />

EUA<br />

EUA<br />

CUB<br />

1m7s<br />

1m8s<br />

1m9s<br />

2m3s<br />

2m6s<br />

2m5s<br />

3m7s<br />

4m1s<br />

4m7s<br />

5m7s


326


327


4<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

328


ENTRADA<br />

E<br />

329


330


331


G<br />

<br />

<br />

332


Sistema de<br />

Gerenciamento<br />

<strong>do</strong>s Jogos<br />

(GMS)<br />

<br />

<br />

333


Fotos: Bruno Carvalho / Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong><br />

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335


336


337


338


339


340

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