Volume 2 - Ministério do Esporte

de insumos como tecidos, fitas crepe, arame
e alguns itens curiosos, que revelam a capacidade
de criação e improvisação do artista
brasileiro, como tela de galinheiro, catraca de
caminhão e mola de Chevette, carro da General
Motors que deixou de ser fabricado no meio
da década de 90.
A segunda frente trataria dos convênios com o
CO-Rio, os que envolveriam o maior volume de
recursos para as maiores contratações. Essas
decisões traçaram novo rumo na execução do
projeto de cerimônias dos Jogos. A iniciativa
causou alguns desentendimentos no início do
processo. Havia entre os organizadores a preocupação
de que a participação ativa do governo
federal, por intermédio da Sepan, sobretudo
na área de execução orçamentária, não
garantisse a agilidade necessária para prover
as contratações indispensáveis no curto espaço
de tempo que restava. Esse temor surgiu
em função da série de normas e procedimentos
legais que regem e controlam a utilização
de verbas públicas. Porém, ao longo do projeto,
esta imagem foi sendo desconstruída e
logo se viu que a decisão foi acertada.
A Sepan tinha foco na gestão dos recursos fi -
nanceiros. Todas as compras e contratações
eram avaliadas e toda a verba investida no
projeto passava pelos sistemas de controle
do governo. “A partir do momento em que não
repassamos o dinheiro integralmente, como
era desejo do CO-Rio, a Sepan trouxe para si
também a responsabilidade da execução. Mas
precisávamos ter segurança quanto à dinâmica
do projeto”, ressalta a gerente Gabriela
Santoro. Para não ultrapassar ainda mais os
limites orçamentários, a Secretaria sempre
orientava a equipe do Comitê a determinar
prioridades e procurar soluções adequadas à
verba disponível. Vários cortes de gastos foram
feitos. Apesar de algum desgaste, essas
reduções sempre eram discutidas e aprovadas
pela equipe de produção.
A compra do material utilizado para a movimentação
do Boi Bumbá é um exemplo curioso
desta nova forma de gerenciamento. A
equipe de Scott Givens reclamava a necessidade
da importação de bicicletas de alta tecnologia.
A idéia era extrair as rodas e instalar
no Boi, o que, segundo ele, tornaria a alegoria
mais leve e fácil de manobrar. Pelos cálculos
da equipe seriam necessárias 35, a um valor
que provocaria significativo acréscimo no já
apertado orçamento das cerimônias. Neste
momento, a capacidade de improvisação e a
criatividade do brasileiro se fizeram presentes
mais uma vez. Com ferro-velho (molas de Chevette,
rodas de carros antigos e catracas de
caminhão), foi desenvolvido todo o mecanismo
de movimentação do Boi Bumbá.
Na festa, a opção mostrou-se efi ciente, bela
e, sobretudo, menos onerosa. “Existia aquela
velha noção de que o que vem de fora é
melhor. Mas a importação provou-se completamente
desnecessária. O brasileiro é
assim, um povo criativo que tem soluções
baratas e originais para qualquer obstáculo
que se apresenta”, disse Jacqueline Barros,
assistente da Gerência de Cerimônias
do Ministério.
Para Alicia Ferreira, produtora associada do
CO-Rio para cerimônia, o intercâmbio de experiência
entre a equipe estrangeira e a brasileira
que participaram da cerimônia de abertura
trouxe grande aprendizado a todos. “Os
estrangeiros conheceram uma nova forma de
produzir grandes espetáculos. O Brasil tem
tecnologia especializada, principalmente na
indústria do Carnaval. A maior parte da cerimônia
de abertura foi elaborada com base em
tecnologia local.”
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