Volume 2 - Ministério do Esporte

Operação de guerra
C
om orçamento aprovado e parte
da verba liberada, uma verdadeira
operação de guerra foi arquitetada
para produzir todas as cerimônias
a tempo. Foi instalado um quartel general no
estacionamento do estádio do Maracanã – espaço
cedido pelo governo do Estado do Rio de
Janeiro. Mais de 250 pessoas trabalharam dia
e noite no local. Não se poderia perder mais
um segundo sequer, sob pena do comprometimento
definitivo do projeto. Faltavam pouco
mais de 100 dias para se iniciar o maior evento
esportivo das Américas e pouco tinha sido
executado até então.
O projeto da cerimônia de abertura era o mais
crítico. A situação era alarmante em determinadas
áreas. Na área musical era difícil conciliar
a concorrida agenda dos artistas com a
gravação da trilha sonora da festa. Na área de
figurinos e adereços, ainda não haviam sido
confeccionados mais de 50 protótipos, o que
era fundamental para testar a funcionalidade
da criação e orçar a produção dos figurinos e
adereços dos mais de 7 mil itens previstos.
O volume e o detalhamento desta área eram
gigantescos e, apesar da ânsia de trabalhar,
alguns obstáculos ainda se colocavam no caminho
da produção e barravam o avanço do
projeto. A compra fragmentada era uma delas.
A riqueza de detalhes das alegorias e dos
adereços exigia aquisição de uma infinidade
de produtos, por vezes únicos, artesanais, encontrados
somente em um ou dois fornecedores,
e fabricados em pequena escala. Esse
fato comprometia a aplicação dos princípios
administrativos aos quais o Ministério do Esporte
e seus contratados estavam sujeitos,
como a busca de cotação no mercado e análise
de preço.
Apesar de dificultar o trabalho da produção,
o respeito às exigências técnicas e legais foi
seguido. A Gerência de Cerimônias da Sepan
manteve uma boa interlocução com o Tribunal
de Contas da União (TCU), e muitas reuniões
foram realizadas no decorrer do processo.
Duas auditoras acompanhavam o processo e
chegaram a visitar o Maracanã algumas vezes
para fiscalizar a evolução do trabalho. Os principais
questionamentos do Tribunal eram sobre
a contratação direta da Mondo e a importação
de consultores internacionais. Também é importante
ressaltar que a montagem do quadro
funcional era responsabilidade do Comitê, que
a Sepan avaliou como necessária em virtude
da qualificação dos profissionais indicados e
de não haver no mercado nacional especialistas
com experiência e conhecimento na área.
O caráter peculiar da produção das cerimônias
também promoveu situações distintas na
negociação com os fornecedores de matériaprima
e equipamentos para os eventos. De
um lado estavam empresas de grande porte e
com situação financeira mais robusta – fornecedores
do palco, energia elétrica, iluminação,
entre outros itens. De outro, pequenos empreendedores,
que trabalham no varejo.
As demandas burocráticas da administração
pública exigem documentação e prazos por
vezes longos para concretizar os pagamentos.
Com os fornecedores maiores, não havia
grandes difi culdades, à medida que muitos
já estavam habituados aos trâmites legais e
tinham condições econômicas para gerenciar
a espera do acerto fi nanceiro. Porém, os
menores não tinham estrutura para trabalhar
com faturamento, o que inviabilizaria a aquisição
de alguns itens previstos na produção,
sobretudo os utilizados na confecção dos
adereços artísticos. Muitas vezes a demanda
consumia todo o estoque disponível de um
determinado fornecedor.
O preço dos produtos a serem adquiridos para
as cerimônias também mereceu atenção especial.
Como era pública a urgência – o Pan
se aproximava e muitos fornecedores detinham
a exclusividade do material –, os preços
solicitados eram, por vezes, muito acima dos
cobrados pelo mercado. Iniciou-se então um
trabalho de conscientização sobre a importância
da colaboração de todos para que o Brasil
apresentasse um grande espetáculo aos olhos
do mundo. Foi informado também que o proje-
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